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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Conhecendo O Livro Céu e o Inferno. Cap. 5 Os Suicidas parte 2

O PAI E O CONSCRITO

No começo da guerra da Itália, em 1859, um negociante de Paris, pai de família, gozando de estima geral por parte dos seus vizinhos, tinha um filho que fora sorteado para o serviço militar. Impossibilitado de o eximir de tal serviço, ocorreu-lhe a idéia de suicidar-se a fim de o isentar do mesmo, como filho único de mulher viúva. Um ano mais tarde, foi evocado na Sociedade de Paris a pedido de pessoa que o conhecera, desejosa de certificar-se da sua sorte no mundo espiritual.
(A S. Luís.) - Podereis dizer-nos se é possível evocar o Espírito a que vimos de nos referir? - R. Sim, e ele ganhará com isso, porque ficará mais aliviado.
1. - Evocação. - R. Oh! obrigado! Sofro muito, mas... é justo. Contudo, ele me perdoará.
    Nota - O Espírito escreve com grande dificuldade; os caracteres são irregulares e mal formados; depois da palavra mas, ele pára, e, procurando em vão escrever, apenas consegue fazer alguns traços indecifráveis e pontos. É evidente que foi a palavra Deus que ele não conseguiu escrever.
2. - Tende a bondade de preencher a lacuna com a palavra que deixastes de escrever. - R. Sou indigno de escrevê-la.
3. - Dissestes que sofreis; compreendeis que fizestes muito mal em vos suicidar; mas o motivo que vos acarretou esse ato não provocou qualquer indulgência? - R. A punição será menos longa, mas nem por isso a ação deixa de ser má.
4. - Podereis descrever-nos essa punição? - R. Sofro duplamente, na alma e no corpo; e sofro neste ultimo, conquanto o não possua, como sofre o operado a falta de um membro amputado.
5. - A realização do vosso suicido teve por causa unicamente a isenção do vosso filho, ou concorreram para ele outras razões? - R. Fui completamente inspirado pelo amor paterno, porém, mal inspirado. Em atenção a isso, a minha pena será abreviada.
6. - Podeis precisar a duração dos vossos padecimentos? - R. Não lhes entrevejo o termo, mas tenho certeza de que ele existe, o que é um alivio para mim.
7. - Há pouco não vos foi possível escrever a palavra Deus, e no entanto temos visto Espíritos muito sofredores fazê-lo: será isso uma conseqüência da vossa punição? - R. Poderei fazê-lo com grandes esforços de arrependimento.
8. - Pois então fazei esses esforços para escrevê-lo, porque estamos certos de que sereis aliviado. (O Espírito acabou por traçar esta frase com caracteres grossos, irregulares e trêmulos: - Deus é muito bom.)
9. - Estamos satisfeitos pela boa-vontade com que correspondestes à nossa evocação, e vamos pedir a Deus para que estenda sobre vós a sua misericórdia. - R. Sim, obrigado.
10. - (A S. Luís.) - Podereis ministrar-nos a vossa apreciação sobre esse suicídio? - R. Este Espírito sofre justamente, pois lhe faltou a confiança em Deus, falta que é sempre punível. A punição seria maior e mais duradoura, se não houvera como atenuante o motivo louvável de evitar que o filho se expusesse à morte na guerra. Deus, que é justo e vê o fundo dos corações, não o pune senão de acordo com suas obras.
    OBSERVAÇÕES - À primeira vista, como ato de abnegação, este suicídio poder-se- ia considerar desculpável. Efetivamente assim é, mas não de modo absoluto. A esse homem faltou a confiança em Deus, como disse o Espírito S. Luís. A sua ação talvez impediu a realização dos destinos do filho; ao demais, ele não tinha a certeza de que aquele sucumbiria na guerra e a carreira militar talvez lhe fornecesse ocasião de adiantar-se. A intenção era boa, e isso lhe atenua o mal provocado e merece indulgência; mas o mal é sempre o mal, e se o não fora, poder-se-ia, escudado no raciocínio, desculpar todos os crimes e até matar a pretexto de prestar serviços.
    A mãe que mata o filho, crente de o enviar ao céu, seria menos culpada por tê-lo feito com boa intenção? Aí está um sistema que chegaria a justificar todos os crimes cometidos pelo cego fanatismo das guerras religiosas.
    Em regra, o homem não tem o direito de dispor da vida, por isso que esta lhe foi dada visando deveres a cumprir na Terra, razão bastante para que não a abrevie voluntariamente, sob pretexto algum. Mas, ao homem - visto que tem o seu livre-arbítrio - ninguém impede a infração dessa lei. Sujeita-se, porém, às suas conseqüências. O suicídio mais severamente punido é o resultante do desespero que visa a redenção das misérias terrenas, misérias que são ao mesmo tempo expiações e provações. Furtar-se a elas é recuar ante a tarefa aceita e, às vezes, ante a missão que se devera cumprir. O suicídio não consiste somente no ato voluntário que produz a morte instantânea, mas em tudo quanto se faça conscientemente para apressar a extinção das forças vitais. Não se pode tachar de suicida aquele que dedicadamente se expõe à morte para salvar o seu semelhante: primeiro, porque no caso não há intenção de se privar da vida, e, segundo, porque não há perigo do qual a Providência nos não possa subtrair, quando a hora não seja chegada. A morte em tais contingências é sacrifício meritório, como ato de abnegação em proveito de outrem. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, itens nos. 5, 6, 18 e 19.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

RENOVAÇÃO


As revelações dos Espíritos convidam naturalmente a ideais mais elevados, a propósitos
mais edificantes.
Para as inteligências realmente dispostas à renunciação da animalidade, são elas sublime
incentivo à renovação interior, modificando a estrutura fluídica do ambiente mental que
lhes é próprio.
Se a civilização exige o desbravamento da mata virgem, para que cidades educadas
surjam sobre o solo e para que estradas se rasguem soberanas, é indispensável a
eliminação de todos os obstáculos, à custa do sacrifício daqueles que devotam ao
apostolado do progresso.
A Humanidade atual, em seu aspecto coletivo, considerada mentalmente, ainda é a
floresta escura, povoada de monstruosidades.
Se nos fundamentos evolutivos da organização planetária encontramos os animais préhistóricos,
oferecendo a predominância do peso e da ferocidade sobre quaisquer outros
característicos, nos alicerces da civilização do espírito ainda perseveram os grandes
monstros do pensamento, constituídos por energias fluídicas, emanadas dos centros de
inteligência que lhes oferecem origem.
Temos, assim, dominando ainda a formação sentimental do mundo, os mamutes da
ignorância, os megatérios da usura, os iguanodontes da vaidade ou os dinossauros da
vingança, da barbárie, da inveja ou da ira.
As energias mentais do habitantes da Terra tecem o envoltório que os retém à superfície
do Globo. Raros são aqueles cuja mente vara o teto sombrio com os raios de luz dos
sentimentos sublimados que lhes fulguram no templo íntimo.
O pensamento é o gerador dos infracorpúsculos ou das linhas de força do mundo
subatômico, criador de correntes de bem ou de mal, grandeza ou decadência, vida ou
morte, segundo a vontade que o exterioriza e dirige. E a moradia dos homens ainda está
mergulhada em fluidos ou em pensamentos vivos e semicondensados de estreiteza
espiritual, brutalidade, angústia, incompreensão, rudeza, preguiça, má-vontade, egoísmo,
injustiça, crueldade, separação, discórdia, indiferença, ódio, sombra e miséria...
Com a demonstração da sobrevivência da alma, porém, a consciência humana adquire
domínio sobre as trevas do instinto, controlando a corrente dos desejos e dos impulsos,
soerguendo as aspirações da criatura para níveis mais altos.
Os corações despertados para a verdade começam a entender as linhas eternas da
justiça e do bem. A voz do Cristo é ouvida sob nova expressão na mais profunda acústica
da alma.
Quem acorda converte-se num ponto de luz no serro denso da Humanidade, passando a
produzir fluidos ou forças de regeneração e redenção, iluminando o plano mental da Terra
para a conquista da vida cósmica no grande futuro.
Em verdade, pois, nobre é a missão do Espiritismo, descortinando a grandeza da
universalidade divina à acanhada visão terrestre; no entanto, muito maior é muito mais
sublime é a missão do nosso ideal santificante com Jesus para o engrandecimento da
própria Terra, a fim de que o Planeta se divinize para o Reino do Amor Universal.

Livro: Roteiro
Chico Xavier/Emmanuel

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Mapeando os males do egoísmo

ANSELMO FERREIRA VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP (Brasil)
 
 




O egoísmo só será superado quando o indivíduo buscar entender a sua realidade eminentemente espiritual
Decorridos 155 anos da publicação da primeira edição de O Livro dos Espíritos, marco inicial da era do Espírito imortal ou da imortalidade da alma, os mentores espirituais desse mundo têm apontado o egoísmo – assunto que sempre merece cuidadosa reflexão de nossa parte – como o maior entrave ao progresso humano. Nesse sentido, nos comentários referentes à pergunta nº 917 da citada obra, Allan Kardec concluiu que “O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade o é de todas as virtudes [...]”. O Codificador inferiu também que destruir uma e desenvolver a outra deve ser o objetivo de toda a criatura humana que almeja a felicidade – tanto quanto se é possível alcançá-la neste planeta – agora e no futuro.       
Basicamente, o egoísmo deriva da forte influência das coisas da matéria em nossa personalidade; por isso, é difícil eliminá-lo, mas não impossível. Explicitando mais os seus malefícios, Chico Xavier, já na condição de Espírito desencarnado, na obra que leva, aliás, o seu nome (psicografia de Carlos A. Bacelli), ponderou que “Todos os males que assolam a humanidade derivam do egoísmo; é ele o grande responsável pelos preconceitos de toda espécie – o orgulho racial, o fanatismo religioso, a ambição do poder: é ele que fomenta as guerras de extermínio, a subjugação de um povo por outro, o desequilíbrio que assola as mentes que articulam os atentados terroristas...”.
Infelizmente, nesse início de milênio, a civilização humana ainda se pauta, de maneira inequívoca, pelo comportamento egoístico, considerando que:
  • A pobreza e a desigualdade ocupam o primeiro lugar na hierarquia dos principais problemas da humanidade, segundo Koffi Annan, ex-Secretário Geral das Nações Unidas;
  • 1,4 bilhão de pessoas ainda vivem com menos de US$ 1,25 por dia;
  • 1,75 bilhão de pessoas vivem em situação de pobreza multidimensional, conceito elástico que abarca privações nas áreas da saúde, oportunidades econômicas, educação e padrões de vida;
  • 925 milhões sofrem de fome crônica;
  • 2,6 bilhões de pessoas não têm acesso a condições decentes de saneamento e 884 milhões de pessoas não têm acesso à água potável;
  • 828 milhões de pessoas nos países em desenvolvimento vivem em favelas, sem infraestruturas básicas ou inadequadas, tais como estradas, abastecimento de água encanada e eletricidade ou esgotos;
  • 796 milhões de adultos são analfabetos;
  • 8,8 milhões de crianças com menos de cinco anos de idade morrem anualmente devido a problemas de saúde evitáveis;
  • Cerca de 75% da população não está coberta por sistemas de seguridade social adequados;
  • 150 milhões de pessoas sofrem anualmente catástrofes financeiras e 100 milhões são empurradas para níveis abaixo da linha de pobreza, quando obrigadas a pagar pelos serviços de saúde.
Paulo de Tarso não condena nem demoniza o dinheiro 
Vale acrescentar ainda que, de acordo com os dados do Ministério do Trabalho & Emprego, foram resgatados 41.451 trabalhadores no Brasil entre 1995 e 2011 encontrados em situação análoga à de escravo. Pior ainda: persistem os sinais convincentes de que tal abominação ainda esteja presente no território nacional. Subjacente a grande parte dos males acima descritos, está o notório e excessivo apego ao dinheiro como forma veemente de manifestação egoística. Prova dificílima para o Espírito que, se não bem aproveitada, pode levá-lo ao abismo. Por isso, Paulo de Tarso com acerto asseverou: “Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e, nessa cobiça, alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (I Timóteo, 6: 10).
Notem que Paulo não condena, abomina ou demoniza o dinheiro. Como pessoa inteligente, ele certamente sabia da importância desse elemento material para o adequado funcionamento das sociedades humanas. Ainda hoje precisamos ardentemente do       papel-moeda para o nosso sustento, preservação e equilíbrio econômico mundial. De fato, estamos ainda muito longe de vivermos numa economia baseada, por exemplo, no bônus-hora. Mas é previsível que à medida que avançarmos nas coisas do espírito, menos relevância o dinheiro terá em nossas vidas.
Tecendo outras relevantes considerações, o Espírito Emmanuel, na obra Caminho, Verdade e Vida (psicografia de Francisco C. Xavier), enfatiza, por sua vez, que o dinheiro que conquistamos pelos caminhos retos, abençoado pela claridade divina, é um amigo que nos busca a orientação sadia e a utilização humanitária. Mas o sábio mentor adverte igualmente: “Responderás a Deus pelas diretrizes que lhe deres e ai de ti se materializas essa força benéfica no sombrio edifício da iniquidade”.
Desse modo, possuir o dinheiro, em si, não é algo negativo; no entanto, as finalidades para as quais o direcionamos impactarão fortemente o nosso futuro. Por isso, o Espírito Emmanuel, em O Evangelho segundo o Espiritismo, observa que: “O egoísmo, chaga da humanidade, tem que desaparecer da Terra, a cujo progresso moral obsta. O egoísmo é, pois, o alvo para o qual todos os verdadeiros crentes devem apontar suas armas, dirigir suas forças, sua coragem [...]”. Afinal, a maioria de nós traz em si, de maneira muito nítida ainda, essa nódoa. O próprio estilo de vida que adotamos – consumista e eminentemente voltado para a aquisição e o acúmulo de bens materiais em detrimento dos bens espirituais (virtudes) – favorece, como abordamos antes, o comportamento egoístico. 
Há pessoas incapazes de sacrificar-se pelo próximo 
Emmanuel esclarece a necessidade de “[...] Que cada um, portanto, empregue todos os esforços a combatê-lo em si, certo de que esse monstro devorador de todas as inteligências, esse filho do orgulho é o causador de todas as misérias do mundo terreno. É a negação da caridade e, por conseguinte, o maior obstáculo à felicidade dos homens”. Emmanuel conclui o seu elevado pensamento externando o seguinte: “É... por essa lepra que se deve atribuir o fato de não haver ainda o cristianismo desempenhado por completo a sua missão [...]”. Desafortunadamente, continuamos a não entender que devemos nos empenhar para gerar bem-estar para todos e não apenas para alguns grupos.
Por fim, ele nos conclama a expulsarmos o egoísmo da Terra para que ela possa ascender na hierarquia dos mundos. Mas a condição sine qua non para que tal objetivo seja alcançado é expulsarmos esse sentimento pernicioso de nossos corações. Depreende-se, assim, que este é o único caminho para alcançarmos a maturidade espiritual.
O Espírito Irmão José, na obra Vigiai e Orai (psicografia de Carlos A. Bacelli), aborda outros aspectos inerentes ao sentimento de egoísmo que merecem igualmente reflexão de todos nós. Segundo esse sábio mentor, “Existem pessoas que não são capazes de sacrificar-se por ninguém”. De fato, é imperioso reconhecer que, às vezes, tais pessoas estão sob o nosso teto na condição de filho(a), marido ou esposa, ou até mesmo como mãe ou pai espalhando energias malsãs. “Não são capazes de deixar de ir a uma festa, para atender um amigo”, pondera o citado mentor. Seguindo essa linha de raciocínio, diríamos que as pessoas portadoras de tal perfil raramente saem da sua zona de conforto e, quando o fazem, estão claramente imbuídas de mau humor ou de interesse pessoal. Aliás, é altamente desagradável constatar que muitos pacientes internados em hospitais com doenças graves ficam sem visitas ou aguardam até um ano pela passagem de parentes.
Irmão José observa ainda que essas pessoas são incapazes de renunciar aos seus interesses (geralmente mesquinhos e egocêntricos), de rever uma posição, de algo compartilhar e até mesmo de considerar o outro como extensão delas próprias. Por terem a mente obnubilada não conseguem vislumbrar a obrigação moral de que devemos fazer aos outros o que, fundamentalmente, desejamos para nós próprios.
De maneira geral, o egoísmo pode ser considerado como um vício. É o vício de olhar só para si, para os próprios interesses pessoais; essencialmente, é a atitude viciosa de se importar apenas consigo mesmo e ninguém mais. A propósito, vemos na atualidade jovens viciados roubando coisas de valor de seus próprios lares – agindo egoisticamente por causa da drogadição – sem se importar com a dor e decepção que geram e nem com as consequências das suas loucuras. 
A prática do bem é essencial à nossa sanidade mental 
A análise do egoísmo também comporta uma faceta coletiva. As onipresentes greves de funcionários das companhias de Metrô, ônibus, trens, hospitais e segurança públicas são alguns exemplos insofismáveis da indiferença humana. Explorando um pouco mais os pensamentos do Irmão José, ele afirma que os egoístas são os primeiros “a se valerem da generosidade alheia”. Mais ainda: “Transvestem-se de humildade, mas se rebelam quando não são atendidos de imediato”. Paradoxalmente, “Esperam dos outros o que nunca deram a ninguém”. Desse modo, esclarece com muita propriedade o Espírito Chico Xavier que só através do nosso contato com a dor dos semelhantes para não sucumbirmos às nossas insanas crises narcisísticas.  E arremata, por fim, que: “A prática do bem aos semelhantes é essencial à nossa sanidade mental”.
Cremos que vale relembrar uma passagem contida na obra Dias Venturosos do Espírito Amélia Rodrigues (psicografia de Divaldo P. Franco) que traz o pensamento do próprio Cristo acerca de tão complexo assunto. Os ensinamentos são magnificamente claros e atualizados dado que o egoísmo é endêmico. Buscaremos apresentar um pequeno resumo da lição e recomendamos ao leitor interessado em colher mais informações que as busque na luminosa obra. Posto isto, lembra a mentora do além-túmulo que naquele dia – aliás, como sempre acontecia – o sermão do mestre havia atraído imensa multidão e a “Sua mensagem carregada de ternura e de esperança convidava essencialmente os ouvintes à transformação moral”.
Os pedidos de socorro eram inúmeros e os pedintes não demonstravam atenção para o visível cansaço e desgaste do Mestre inesquecível. Aliás, Amélia Rodrigues observa com precisão que “Na sua cegueira e desconcerto moral, as criaturas nunca veem as dores dos outros, suas dificuldades e problemas, diante dos próprios desafios”. Infelizmente, tal quadro não foi dissipado haja vista que os centros espíritas recebem enorme quantidade de pessoas nesse estado d’alma. E acrescenta ainda ela: “A ânsia de os solucionar torna-as indiferentes aos testemunhos silenciosos e afligentes que vergastam aqueles a quem recorrem, sem a menor consideração”.
Jesus, no entanto, atendera a todos com atenção e compaixão “até o momento em que Simão Pedro o resgatou da massa informe e insaciável”. Decorrido um intervalo para descanso e alimentação, na habitual reunião noturna de estudos, Simão, sob o efeito de um desagradável encontro que tivera com antigo desafeto que outrora o caluniara, e sentindo-se ainda magoado e ressentido, indagou-lhe – motivado por sincero desejo de aprender – como proceder diante dos que nos prejudicam e perturbam...  
O egoísmo é responsável por males incontáveis 
Jesus, solícito, respondeu-lhe com bondade: “Simão, os verdadeiros adversários do homem não se encontram fora dele, porém em seu mundo íntimo, perseguindo e inquietando-o sem termo [...]”.
Buscando obter mais esclarecimentos, perguntou-lhe ainda Simão quais eram os inimigos íntimos que carregamos dentro de nós. O Mestre foi extremamente didático ao explicar que: “Há três inimigos ferozes no imo do ser humano, que respondem por todas as misérias que assolam a sociedade, dilacerando os tecidos sutis da alma. Trata-se do egoísmo, do orgulho e da ignorância”. Tal diagnóstico ainda prevalece, pois vemos as terríveis consequências desses elementos produzindo sofrimento e aflição diariamente.
Continuando os seus ensinamentos, Jesus aduziu o seguinte:
“O egoísmo é algoz impiedoso, que junge a sua vítima ao eito da escravidão, tornando-a infeliz.
Graças a ele predominam os preconceitos sociais, as dificuldades econômicas, os problemas de relacionamento humano... Qual uma moléstia devoradora, se instala nos sentimentos e os estrangula com a força da própria loucura.
O egoísmo é responsável por males incontáveis que devastam a humanidade. O egoísta somente pensa em si, a nada nem a ninguém respeita na sanha de amealhar exclusivamente em benefício próprio, a tudo quanto ambiciona. Faz-se avaro e perverso, porque transita insensível às necessidades alheias.
Por sua vez, o orgulho é tóxico que cega e destrói os valores morais do indivíduo, levando-o a desconsiderar as demais criaturas que o cercam. Acreditando-se excepcional e portador de valores que pensa possuir subestima tudo para sobressair onde se encontra, exibindo a fragilidade moral e as distonias nervosas de que se torna vítima indefesa.
A ignorância igualmente escraviza e torna o ser déspota, indiferente a tudo quanto não lhe diz respeito diretamente, esquecido de que todas as pessoas são membros importantes e interdependentes do organismo social”. 
Ao egoísmo se deve sobrepor a solidariedade  
Pedro desejando aprender mais perguntou ao Messias como extirpar tais males da alma e quais antídotos poderiam ser usados para eliminá-los. E Jesus ofereceu-lhe a seguinte sublime orientação:
“Ao egoísmo se deve sobrepor a solidariedade, que abre os braços à gentileza e ao altruísmo.
O coração generoso é rico de dádivas. Quanto mais as reparte, mais possui, porque se multiplicam com celeridade.
A solidariedade anula a solidão e amplia o círculo de auxílios mútuos, dignificando o ser que se eleva emocionalmente, engrandecendo a vida e a humanidade.
O orgulho cede ante a humildade, que dimensiona a pessoa com a medida exata, descobrindo-lhe o significado, a sua realidade [...].
Sem a humildade o homem se rebela, porque não reconhece a fraqueza que lhe é peculiar, nem se dá conta, conscientemente, de que logo mais será desatrelado do carro orgânico, nivelando-se a todos os demais no vaso sepulcral...
À ignorância facultam-se o conhecimento e o dileto filho do sentimento maior, que é hálito do Pai vivificando tudo e todos, origem e finalidade do Universo: o amor!
[...]
A vitória real é sempre sobre si mesmo, nas províncias da alma.
O perdão às ofensas, o respeito ao direito alheio, a beneficência e a bondade são os filhos diletos do amor-conhecimento que voa em luz com asas de caridade, tornando o mundo melhor e todos os seres felizes”.
Após as profundas elucidações, Jesus silenciou. Em seguida, pôs-se a caminhar, enquanto os demais companheiros caíam em profunda meditação. Portanto, nós espíritas deveríamos nos considerar imensamente felizes por dispor de obras como aquela acima referenciada que traz esclarecimentos e informações da fonte mais pura. Concluindo, o egoísmo só será superado quando o indivíduo buscar entender a sua realidade eminentemente espiritual. O nosso modesto conselho é para que busquemos extirpar esse mal que carregamos em nós de eras incontáveis para nos credenciarmos à felicidade eterna. 
 
Bibliografia: 
Baccelli, C. A. (Pelo Espírito Irmão José). Vigiai e orai. 4ª edição. Uberaba: Editora Vitória, 2002, p. 169-170
Baccelli, C.A. (Pelo Espírito Francisco Cândido Xavier). O Espírito de Chico Xavier. 2ª edição. Uberaba: Liv. Espírita Edições “Pedro e Paulo”, 2004, p. 29, 122-123.
Franco, Divaldo P. (Pelo Espírito Amélia Rodrigues). (2009). Dias venturosos. 3ª edição. Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada Editora, Cap. 15, p. 91-96.
Kardec, A. O Evangelho segundo o Espiritismo.  79ª edição. Rio de Janeiro: FEB, 1980, Cap. XI, p. 197-198.
Kardec, A. O  Livro dos Espíritos. 58ª edição. Rio de Janeiro: FEB, 1983, p. 422.
Leite, F. Famílias “esquecem” idosos em hospitais. Folha de São Paulo, São Paulo, 30 abr. 2006. Folha Cotidiano, p. C1.  
Ministério do Trabalho e Emprego. Trabalho Escravo no Brasil em Retrospectiva: Referências para estudos e pesquisas. p. 7, janeiro 2012.
Disponível em: http://portal.mte.gov.br
Acesso em 8 mai 2012.
Organização Internacional do Trabalho, (2011). Piso de Proteção Social para uma Globalização Equitativa e Inclusiva. Quadro 1 - A extensão do desafio social global, p. 22.
Disponível em: http://www.oit.org.br
Acessado em 28 mar 2012.
Xavier, F.C. (Pelo Espírito Emmanuel). Caminho, verdade e vida. 7ª edição. Rio de Janeiro: FEB, 1978, Cap. 57, p. 129-130.

Fonte: Revista eletrônica O Consolador

domingo, 9 de dezembro de 2012

...A abnegação, em toda a parte, é sempre uma estrela sublime. Basta mostrar-se para que todos gravitemos em torno de sua luz...Cap. 16 Débito Alviado .

16 - DÉBITO ALIVIADO
Ação e Reação André Luiz /Chico Xavier

Em nossos estudos da lei de causa e efeito, não nos esqueceremos de Adelino
Correia, o irmão da fraternidade pura.
Na véspera de belo acontecimento que nos permitiremos narrar, visitamo-lo em
companhia de Silas, que no-lo apresentou nas atividades de um templo espírita-cristão.
Ouvimo-lo em preciosos comentários do Evangelho, sob o influxo de
iluminados instrutores, dos quais assimilava as correntes mentais com a docilidade
confiante de um homem profundamente habituado à oração.
Falara com mestria, arrancando-nos lágrimas pela emotividade com que nos
tangia as fibras mais íntimas. Singelamente trajado, denotava a condição do trabalhador
em experiências difíceis. Mas o estágio de prova a que parecia enredar-se era mais
amplo. Adelino revelava longa faixa de eczema na pele à mostra. Certa porção da
cabeça, os ouvidos e muitos pontos da face exibiam placas vermelhas, sobre as quais se
formavam diminutas vesículas de sangue, ao passo que as demais regiões da epiderme
surgiam gretadas, evidenciando uma afecção cutânea largamente cronicificada. Além
disso, acanhado e tristonho, indicava tormentos ocultos a lhe dominarem a mente.
Contudo, trazia nos olhos, maravilhosamente lúcidos, a marca da humildade. Vários
amigos espirituais assistiam-no, atentos.
Doce velhinha desencarnada abeirou-se de nós e, demonstrando gozar da
intimidade do orientador de nossas excursões, falou-lhe, afetuosa:
- Assistente amigo, venho rogar-lhe socorro em benefício da saúde de nosso
Adelino. Noto-o mais incomodado, ultimamente, pela dor das feridas não cicatrizadas...
- Sim, sim... - respondeu Silas, cordialmente - o caso dele merece de todos nós
especial carinho.
- Porque pensa ele nas necessidades dos outros, sem refletir nas necessidades
próprias... - acrescentou a anciã, comovida.
O assessor de Druso prosseguiu, com carinho:
- Dois de nossos médicos o vêm assistindo atenciosamente, quando se encontra
ausente do vaso físico por influência do sono.
E, afagando-lhe a cabeça:
- Esteja tranqüila. Correia, em breve, estará plenamente restaurado.
Os múltiplos serviços da casa desdobravam-se, eficientes, e Adelino, dentro
deles, atraía-nos a atenção pela segurança espiritual com que se conduzia.
Cercado pelas vibrações radiantes dos seus pensamentos, centralizados no santo
objetivo do bem, afigurava-se-nos um companheiro vestido de luz.
Alguns instantes após o afastamento da velhinha, apareceu-nos simpático rapaz,
igualmente já desenfaixado da matéria física, que, depois de saudar-nos, rogou,
reverente, ao nosso orientador:
- Peço vênia para solicitar-lhe valioso obséquio... – Fale sem receio.
E o jovem recém-chegado explicou, de olhos úmidos:
- Meu caro Assistente, sei que o nosso Adelino vem atravessando certa crise
financeira... Pelo muito que auxilia os outros, descura-se das suas próprias necessidades.
Pelo amparo que ele oferece constantemente à minha pobre mãe encarnada, insisto no
apoio de sua amizade para que seja favorecido. Ainda na semana passada, ouvindo as
súplicas de minha genitora viúva, em grande penúria para atender ao tratamento de dois
dos meus manos enfermos, procurei-o, em lágrimas, transmitindo-lhe apelos mentais
para que nos protegesse e, sem qualquer vacilação, acreditando obedecer aos seus
impulsos, visitou-nos a casa, entregando à minha sofredora mãezinha a importância de
que necessitava... ó meu Assistente, rogo-lhe por amor a Jesus!... Não deixe em
dificuldade quem tanto nos auxilia!...
Silas acolheu a petição com risonha benevolência e disse:
- Descansemos. Adelino permanece na rede de simpatia fraternal que teceu para
o asilo de si mesmo. Incumbem-se muitos amigos de supri-lo com os recursos
indispensáveis ao fiel desempenho da tarefa a que se dedicou
. As circunstâncias na luta
material harmonizar-se-ão em favor dele, atendendo-lhe aos méritos conquistados.
Efetivamente, o serviço espontâneo na afetuosa defesa do amigo que ali
enxergávamos, prestativo e confiante, era um tema de amizade e gratidão a estudar.
- Dir-se-ia - observou Hilário, intrigado - que todos os tarefeiros, em trânsito
nesta casa, são devedores do irmão sob nossa vista...
- Sim - aprovou Silas, paciente -, os créditos de Adelino são realmente enormes,
não obstante os débitos a que ainda está preso
... Cultiva, no entanto, a ventura de
substancializar a fé e o conhecimento superior que os Mensageiros de Jesus lhe confiam
em obras de genuíno amor fraternal, a lhe granjearem larga soma de reconhecimento.
Logo após, o mentor amigo recomendou-nos aproveitar os minutos em atuação
fraternal, no instituto evangélico em que nos abrigávamos, até que pudéssemos tomar
contacto mais amplo com o servidor, cuja existência atual se desdobrava sob os
auspícios da Mansão que nos patrocinava os estudos.
Em face da simpatia que Adelino despertava igualmente em nós, acercamo-nos
dele, a fim de ofertar-lhe, de algum modo, o contingente de nossas forças, na
movimentação dos passes magnéticos que passara agora a administrar, em favor de
alguns enfermos.

Era curioso pensar que nós mesmos, no primeiro encontro fortuito, nos
sentíamos prontos a partilhar-lhe as tarefas, tão-somente atraídos por sua irradiante
bondade.
A abnegação, em toda a parte, é sempre uma estrela sublime. Basta mostrar-se
para que todos gravitemos em torno de sua luz.

Findo o serviço da noite, Silas e nós acompanhamo-lo ao reduto doméstico.
Esperava-o, no limiar, a genitora que, evidentemente, ultrapassava os sessenta
de idade.
Silas deu-se pressa em no-la apresentar, explicando:
- É nossa irmã Leontina, carinhosa mãe de Correia, mãe e amiga a tutelar-lhe a
existência.
Reparando na avançada madureza do amigo que nos tomava a atenção, meu
colega indagou:
- Adelino não é casado?
- Sim, nosso irmão é casado, mas não conta com a presença da esposa.
A resposta dava-nos a entender que o companheiro atravessava provas perante
as quais nos cabia respeitosa discrição.
E, enquanto mãe e filho se entregavam a doce entendimento, Silas fez-nos
penetrar em aposento próximo.
Junto á porta de entrada, alinhavam-se três leitos, ocupados por outras tantas
criancinhas.
Loura menina de seus nove a dez anos presumíveis, ao lado de dois petizes de
escura tez, recordava a Branca de Neve entre dois anões.
Todos dormiam, placidamente.
Afagando a boneca viva, o Assistente informou:
- Esta é Marisa, a filhinha de Correia, de quem a mãezinha se distanciou em
definitivo, há seis anos.
Designando, em seguida, os dois meninos de cor, aduziu:
- E estes pequeninos são Mário e Raul, dois enjeitados que Adelino abraçou por
filhos do coração.
Ação e Reação André Luiz
Hilário e eu, adivinhando as aflições ocultas que decerto enxameavam na
existência do chefe da casa, silenciávamos, de propósito, em reverente expectativa.
Entendendo-nos a atitude, Silas passou a falar-nos mais longamente, aclarando:
- Para exaltar o santificante esforço de um amigo, a fim de estudarmos juntos
um processo de dívida aliviada, permitimo-nos algo dizer em torno do passado recente
do companheiro que visitamos, agora empenhado ao labor do seu resgate.
Qual se quisesse centralizar os recursos da memória, emudeceu por instantes e,
finalmente, continuou:
- Em meados do século precedente, Adelino era filho bastardo de um jovem
muito rico que o recebeu das mãos da genitora escrava, que desencarnou ao trazê-lo à
luz. Martim Gaspar, o moço afazendado que lhe foi o pai solteiro, era homem de
coração enrijecido, muito cedo acostumado ao orgulho tiranizante, em face da incúria
do lar em que nascera. Abusava das donzelas cativas a seu talante e, em muitas
ocasiões, vendeu-as com os próprios filhos recém-natos para lhes não ouvir os choros e
petitórios. Temido na casa grande da qual se fizera absoluto senhor, por morte do velho
pai, que, em vão, buscara tardiamente controlar-lhe os instintos, sabia usar o tronco e o
chicote, sem qualquer compaixão. Era execrado pela maioria dos servos e bajulado de
quantos lhe obtinham os favores, a troco de lisonja servil. Entretanto, para o filho
Martim - o mesmo Adelino de agora -, a sua ternura e dedicação não mostravam
limites. Inexplicavelmente para ele mesmo, amava-o com desvelado enternecimento, a
ponto de providenciar-lhe educação esmerada na própria fazenda. Entre pai e filho
estabeleceram-se, dessa forma, os mais santos laços afetivos. Eram companheiros
inseparáveis nos jogos e nos estudos, no serviço e na caça. Foi assim que Gaspar, não
obstante cruel para com os outros rebentos da própria carne, nas senzalas sofredoras,
não hesitou em legitimá-lo como filho, perante as autoridades do tempo, tornando-o
partícipe de seu nome e de sua herança. Pai e filho contavam, respectivamente,
quarenta e três e vinte e um anos de idade, quando Gaspar, embora solteirão
amadurecido, resolveu casar-se, em grande metrópole, desposando Maria Emília,
leviana jovem de vinte primaveras que, trazida à grande casa rural, desenvolveu sobre o
enteado estranha fascinação. Martim, extremamente amado pelo genitor, atraído agora
para os encantos femininos da madrasta, passou a experimentar torturantes conflitos
sentimentais. Ele, que se julgava o melhor amigo de Gaspar, entrou a detestá-lo. Não lhe
tolerava a posse sobre a mulher que desejava, sabendo-se por ela ardentemente querido,
porquanto Maria Emília, pretextando essa ou aquela necessidade, sabia isolá-lo em
viagens diversas, nas quais lhe exacerbava a afeição juvenil. Ambos souberam furtar-se
a qualquer desconfiança e, totalmente entregue à paixão que o requestava, o jovem
Martim, desprevenido, planejou o medonho parricídio em que se enliçou, desventurado.
Sabendo o genitor acamado, em tratamento do fígado enfermo, tomou a cooperação de
dois capatazes da sua inteira confiança, Antônio e Lucidio, igualmente verdugos de
meninas cativas, e, certa noite, administrou-lhe uma poção entorpecente, com
aprovação da madrasta... Tão logo se pôs o doente a dormir, coadjuvado pelos dois
cúmplices que odiavam o patrão, espalhou substâncias resinosas no leito paterno,
simulando, logo após, o incêndio no qual o mísero Gaspar, em horríveis padecimentos,
se ausentou do corpo. Conduzido o pai ao sepulcro e apoderando-se-lhe dos haveres,
tentou a felicidade ao pé de Maria Emília; todavia, o genitor desencarnado, a inflamarse
em cólera, envolveu-o em nuvens de fluidos inflamados, contra os quais o infeliz
não possuía defesa... Apegando-se ao afeto da companheira, Martim procurou
anestesiar a consciência e esquecer... esquecer... Confiou a fazenda aos cuidados de
ambos os cúmplices do tenebroso delito e, arrimando-se à companhia da mulher,
demandou à Europa, em busca de repouso e distração. Tudo, porém, debalde... Ao fim
de cinco anos de resistência, tombou integralmente vencido, sob o jugo do Espírito
paternal que o cercava, incessantemente, apesar de invisível. Abriu-se-lhe a pele em
chaga, como se chamas ocultas o requeimassem. Circunscrito ao leito de dor e
constantemente empolgado pelo remorso, recapitulava mentalmente a morte do
genitor, em urros de martírio selvagem... Não sabia, desse modo, senão chorar, gritando
a esmo o arrependimento de que se via possuído, no que foi interpretado à conta de
louco pela própria companheira, que se dava pressa em reconhecer-lhe a suposta
alienação mental, de modo a inocentar-se perante os amigos e servidores. Foi algemado
a semelhante suplício que Martim recebeu escárnio e abandono, dentro do próprio
círculo doméstico, vindo a expirar em tremenda flagelação. Martim Gaspar, o genitor
assassinado, aguardou-o no túmulo, arrastando-o para as sombras infernais, onde passou
a exercer pavorosa vingança... O desditoso filho desencarnado sofreu terríveis
humilhações e indescritíveis tormentos, durante onze anos sucessivos, em cárceres de
treva, até que, amparado por Mensageiros de Jesus, que lhe promoveram o resgate,
ingressou em nosso instituto, ao que fui informado, em lamentável situação. Tendo
entrado em sintonia com o genitor, sequioso de vindita, através das brechas mentais do
remorso e do arrependimento tardio, foi hipnotizado por gênios perversos, que o fizeram
sentir-se dominado de chamas torturantes.
Fixada a imaginação dele em semelhante
quadro de angústia, o próprio Martim nutria com o pensamento culposo as labaredas em
que se torturava sem consumir-se, até que foi convenientemente aliviado e socorrido por
nossos instrutores, através de recursos magnéticos que lhe sanaram o doloroso
desequilíbrio. Devotou-se, então, depois de melhorado, aos serviços mais duros de
nossa organização, conquistando com o tempo apreciáveis lauréis que lhe valeram a
volta à esfera humana, com o direito de iniciar o pagamento da larga dívida em que se
onerou, desavisado. Cultuando a prece com a renovação do mundo íntimo, renasceu de
espírito inclinado à fé religiosa, ardente e operante, encontrando no Espiritismo com
Jesus, ao influxo dos amigos desencarnados que o assistem, precioso campo de
fortalecimento moral e trabalho
digno, no qual tem sabido estender, com louvável
aproveitamento das horas, o seu raio de ação no estudo edificante e na caridade pura,
atraindo em seu favor as mais amplas simpatias, por parte de irmãos encarnados e
desencarnados, que lhe devem generosidade e carinho. Atirado a imensas dificuldades
materiais, desde cedo cresceu órfão de pai, de vez que não valorizou no passado a
ternura paterna, lutando com extrema pobreza e com enfermidade constante...
Custodiado, porém, por benfeitores da nossa Mansão, foi conduzido a um templo
espírita, ainda muito jovem, onde, submetido a tratamento da epiderme esfogueada,
entrou no conhecimento de nossa Renovadora Doutrina... A leitura dos princípios
espíritas, ao sol do Evangelho do Senhor, constituiu para ele recordações naturais dos
ensinamentos assimilados em nossa casa, antes da reencarnação. Desde aí, aceitou
nobremente a responsabilidade de viver e buscou, acima de tudo, aplicar a si próprio as
diretrizes regeneradoras da fé que abraça.
Disciplinou-se. Rendeu sincero preito às suas obrigações e, não obstante os
entraves orgânicos, muito moço se dedicou às representações comerciais, de cujos
labores retira os abençoados recursos que sabe repartir com necessitados numerosos,
reservando para si tão-somente o indispensável. Não é um rico da Terra, na acepção do
conceito, mas um trabalhador da fraternidade que sabe dar o próprio coração naquilo
que distribui.
Trilhando o caminho da simplicidade e da renúncia edificante, modificou as
impressões de muitos dos companheiros de outro tempo, que, nas baixas camadas da
sombra, se lhe haviam transformado em perseguidores e desafetos, obsessores esses
que, em lhe observando os exemplos novos, se sentiam moralmente desarmados para os
conflitos que se propunham manter. É assim que não deixa de ressarcir as suas culpas,
sofrendo-lhes o gravame em si mesmo.

Entretanto, pelos valores que entesoura, devotado ao bem alheio, resgata o
pretérito com o alívio possível, ganhando tempo e adquirindo novas bênçãos. Ajudando
aos outros, desbasta, dia a dia, o montante dos seus débitos, de vez que a Misericórdia
do Pai Celestial permite que os nossos credores atenuem o rigor da cobrança, sempre
que nos vejam oferecendo ao próximo necessitado aquilo que lhes devemos...
Silas confiou-se a pausa breve, mas Hilário, tanto quanto eu fascinado por sua
exposição clara e sensata, rogou, sedento de ensino:
- Continue, Assistente. Esta lição viva ilumina-nos de esperança... Como se
explica estar Adelino ganhando tempo?
Nosso amigo sorriu e acrescentou:
- Correia, que não merecia a ventura do lar tranqüilo por haver arruinado o lar
paterno, casou-se e padeceu o abandono da companheira que lhe não entendeu o
coração.
Avançando para a terna Marisa que dormia, acentuou:
- Assim, pela vida útil a que se consagra e pela caridade incessante que passou a
exercer, atraiu para junto de si, como filha da sua carne, a antiga madrasta que desviou
dos braços paternais, hoje reencarnada junto dele para reeducar-se ao calor de seus
exemplos nobres, guardando a dor de saber-se filha de pobre mulher que renegou o
tálamo conjugal, tanto quanto ela mesma o menosprezou no passado recente. Mas... não
é apenas essa a vantagem de Adelino...
Silas pousou levemente a destra nos pequenos que ressonavam e prosseguiu:
- Dedicando-se de alma e corpo à sua renovação com o Cristo, nosso amigo
recolheu como filhos adotivos os dois cúmplices do parricídio tremendo, os antigos
capatazes Antônio e Lucídio, que, abusando de humildes donzelas escravizadas, de
quem furtavam os filhinhos para exterminar ou vender, não encontraram senão o alcoice
por berço, vindo para o círculo afetivo do companheiro de outro tempo, no sangue
africano que tanto enxovalharam, de modo a lhe receberem o amparo moral à reforma
precisa.
Enquanto nos edificávamos com o precioso ensinamento, Silas observou:
- Como é fácil de reconhecer, nosso irmão, através da responsabilidade espíritacristã,
corretamente sentida e vivida, conquistou a felicidade de reencontrar os laços do
pretérito criminoso para o necessário reajuste, ao passo que, se houvesse desertado da
luta pela irreflexão da companheira ou se tivesse cerrado a porta do coração a dois
meninos infelizes, teria adiado para futuros séculos o nobre trabalho que está fazendo
agora...
Dispúnhamo-nos a formular novas indagações, mas Correia despedira-se da
mãezinha e viera ocupar um leito modesto, não longe das crianças.
Demonstrando hábitos respeitáveis, sentou-se em prece.
Foi quando Silas, recomendando-nos cooperação, abeirou-se dele e aplicou-lhe
passes magnéticos, esclarecendo-nos, logo após:
- Ainda pela utilidade que sabe imprimir aos seus dias, Adelino mereceu a
limitação da enfermidade congenial de que é portador. Tendo sofrido, por longo tempo,
o trauma perispirítico do remorso, por haver incendiado o corpo do próprio pai, nutriu
em si mesmo estranhas labaredas mentais que, como já lhes disse, o castigaram
intensamente além-túmulo... Renasceu, por isso, com a epiderme atormentada por
vibrações calcinantes que, desde cedo, se lhe expressaram na nova forma física por
eczema de mau caráter... Semelhante moléstia, em face da dívida em que se empenhou,
deveria cobrir-lhe todo o corpo, durante muitos e angustiosos lustros de sofrimento
mas, pelos méritos que ele vai adquirindo, a enfermidade não tomou proporções que o
impeçam de aprender e trabalhar, porquanto granjeou a ventura de continuar a servir,
pelo seu impulso espontâneo na plantação constante do bem.
A essa altura, talvez porque o dono da casa se dispusesse ao refúgio dos
travesseiros, o Assistente convidou-nos à retirada.
De volta à Mansão, prosseguiu nosso amável mentor tecendo brilhantes
comentários em torno do "amor que cobre a multidão dos pecados", como ensinou o
Apóstolo, quando Hilário, interpretando-me as indagações, considerou de improviso:
- Assistente, com uma elucidação assim tão clara, é justo aspiremos a saber
determinadas minudências que a ela digam respeito. Poderemos, acaso, inteirar-nos
quanto à situação de Martim Gaspar, o genitor que padeceu o martírio do fogo em sua
carne?
Porque Silas se detivesse em silêncio, meu colega continuou:
- Terá ciência do trabalho renovador de Adelino? Devotar-lhe-á, ainda,
menosprezo e ódio?
- Martim Gaspar - respondeu por fim o interlocutor -, infatigável que era na
violência, foi igualmente tocado pelos exemplos de nosso amigo. Observando-lhe a
transformação, abandonou as companhias indesejáveis a que se adaptara e rogou asilo,
em nosso instituto, vai para alguns anos, onde aceitou severas disciplinas...
- E onde se encontra agora? - insistiu Hilário, ansioso - porventura será
permitido vê-lo, para anotar-lhe as alterações?
Nesse instante, porém, varávamos a entrada do santuário de nossas obrigações,
e Silas, sem mais possibilidades de alongar-se, afagou os ombros de nosso
companheiro, dizendo:
- Acalme-se, Hilário. É possível estejamos de regresso ao assunto em breves
horas.
Despedimo-nos, conservando as anotações, à maneira de estudo interrompido,
aguardando seqüência.
No dia seguinte, porém, grata surpresa visitou-nos o coração.
Quando o relógio anunciou alta noite na extensa faixa planetária em que se
mantinha o nosso domicílio, o Assistente veio buscar-nos, prestimoso.
Demandaríamos à esfera carnal, mas, naquela hora, em companhia de Druso, o
orientador da instituição.
Regozijamo-nos, embora curiosos.
Era a primeira vez que viajaríamos junto ao grande mentor que nos conquistara
a mais ampla reverência. E, se é verdade que o privilégio nos alegrava, ao mesmo tempo
indagávamos do motivo pelo qual se ausentaria ele da casa que não lhe dispensava a
presença.
Entretanto, não houve oportunidade para longas divagações.
Em companhia de Druso, que se fazia seguir por Silas, por duas das irmãs
altamente responsáveis em serviços da Mansão e por nós outros, utilizamo-nos do meio
mais rápido para a excursão, cujo objetivo desconhecíamos, porquanto a maior
autoridade nos trabalhos normais do instituto decerto não disporia de tempo para uma
viagem que não fosse a mais curta possível.
Grande era o meu desejo de provocar o verbo do Assistente para a conversação
educativa em torno do problema que abordáramos na noite anterior; todavia, a presença
de Druso como que nos inibia a disposição de ferir qualquer tema que não partisse dele
mesmo, cuja dignidade não nos privava da expressão livre, mas nos infundia incoercível
respeito.
Foi assim que no trajeto ligeiro lhe ouvimos a conceituação oportuna e sábia,
em torno de múltiplas questões de justiça e trabalho, admirando-lhe, cada vez mais, a
cultura e a benevolência.
Espantado, no entanto, reconheci que a nossa equipe estacionou à porta do lar
de Adelino, que deixáramos na véspera.
Dois auxiliares que conhecíamos de perto esperavam-nos no limiar.
Depois de recíprocas saudações, um deles avançou para Druso e anunciou,
reverente:
- Diretor, o pequenino recém-nato estará conosco, dentro de meia hora.
O grande mentor agradeceu e convidou-nos a acompanhá-lo.
Na paisagem doméstica que nos era familiar, o relógio marcava duas horas e
vinte minutos da madrugada.
Atônitos, seguimos o orientador que tomara a vanguarda, penetrando o
aposento em que Adelino, ao que nos foi permitido supor, começava a dormir.
Druso acariciou-lhe a fronte por momentos e vimos Correia erguer-se do corpo
de carne, qual se fora movido por alavancas magnéticas poderosas, caindo nos braços
do grande orientador, à maneira de criança enternecida e feliz.
- Meu amigo - disse-lhe Druso, entre grave e terno -, chegou a hora do
reencontro...
Correia começou a chorar, aterrorizado, sem conseguir desenfaixar-se-lhe dos
braços acolhedores.
- Oremos juntos - acrescentou o bondoso amigo.
E, levantando os olhos para o Alto, sob nossa profunda atenção, Druso
suplicou:
- "Deus de Bondade, Pai de Infinito Amor, que criaste o tempo como incansável
guardião de nossas almas destinadas ao Teu seio, fortalece-nos para a renovação
necessária!... e Tu, que nos conheces os crimes e deserções, concede-nos a bênção das
dores e das horas para redimi-los, unge-nos com o entendimento de Tuas leis, para que
não repilamos as oportunidades do resgate!”
“Emprestaste-nos os tesouros do trabalho e do sofrimento, como favores de Tua
misericórdia, para que nos consagremos à reabilitação dolorosa, mas justa...”
“Nós, os prisioneiros da culpa, somos também operários de nossa libertação, ao
bafejo de Teu carinho.”
"Ó Pai, infunde-nos coragem para que nossas fraquezas sejam esquecidas,
inflama em nosso espírito o entusiasmo santo do bem, para que o mal não nos apague os
bons propósitos, e conduze-nos pelo carreiro da renunciação para que a nossa memória
não se aparte de Ti!...”
"Que possamos orar como Jesus, o Divino Mestre que nos enviaste aos
corações, a fim de que nos rendamos, de todo, aos Teus desígnios!...”
Depois de leve pausa, repetiu em pranto a prece dominical:
- "Pai Nosso, que estás nos Céus, santificado seja o Teu nome. Venha a nós o
Teu reino. Faça-se a Tua vontade, assim na Terra como nos Céus. O pão nosso de cada
dia dá-nos hoje. Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos
devedores. Não nos deixes cair em tentação e livra-nos de todo mal, porque Teus são o
reino, o poder e a glória para sempre. Assim seja.”
Quando a sua voz emudeceu, profunda emotividade exercia sobre nós
inexpressável domínio.
Reconduzido ao veículo carnal, Adelino acordou em copiosas lágrimas...
Reconhecia-se-lhe o júbilo intimo, se bem não pudesse guardar a consciência
integral da comunhão conosco.
Ação e Reação André Luiz
Findos alguns minutos de expectação, que transcorreram céleres, escutamos lá
fora o choro convulso de uma criança tenra...
Enlaçado por Druso, o dono da casa ausentou-se do leito e, incontinenti, abriu a
porta que comunicava o interior com a calçada externa, em cujas lajes, vigiado por
amigos da Mansão, pobre recém-nato vagia aflitivamente.
Tomado de surpresa, Correia ajoelhou-se, enquanto o grande orientador lhe
dizia com segurança:
- Adelino, eis o pai ofendido que, enjeitado pelo coração materno que ainda não
mereceu, vem ao encontro do filho regenerado!
Correia não lhe ouviu a palavra, na acústica da carne, mas registrou-a no templo
mental, como apelo do amor celeste que lhe trazia ao coração mais uma criança
abandonada e infeliz... Tomado de alegria, para ele inexplicável, abraçou o pequerrucho
com espontâneo gesto de amor e, após conchegá-lo de encontro ao peito, voltou para
dentro, gritando jubiloso:
- Meu filho!... meu filho!...
Silas, entre Hilário e eu, comunicou-nos, emocionado:
- Martim Gaspar retorna à experiência física, asilando-se nos braços do filho
que o desprezou.
Não tivemos, contudo, qualquer ensejo a mais dilatada conversação. Druso,
enxugando as lágrimas, advertiu-nos em voz alta, qual se estivesse falando para si
mesmo:
- Oxalá, quando estivermos de novo em pleno nevoeiro da carne, possamos,
também nós, abrir o coração ao excelso amor de Jesus, para que não venhamos a falir
nas provas necessárias!...
E havia tanto recolhimento e tanta angústia naquele olhar que nos habituara ao
mais doce enternecimento e ao mais profundo respeito que, de volta à Mansão, nenhum
de nós ousou quebrar-lhe o doloroso e expressivo silêncio.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A preguiça


Revista Espírita, junho de 1858
Dissertação moral ditada por São Luís à senhorita Hermance Dufaux
(5 de maio de 1858)

l

Um homem saiu de madrugada e foi para a praça pública para ajustar trabalhadores. Ora, ele viu dois homens do povo que estavam sentados de braços cruzados. Foi a um deles e o abordou dizendo: "Que fazes tu aqui?" e este tendo respondido: "Não tenho trabalho", aquele que procurava trabalhadores lhe disse: "Tome tua enxada, e vá para o meu campo, sobre a vertente da colina, onde sopra o vento sul; cortarás a urze e revólveres o solo até que a noite chegue; a tarefa é rude, mas terás um bom salário." E o homem do povo carregou a enxada sobre os ombros, agradecendo-lho em seu coração.
O outro trabalhador, tendo ouvido isso, se ergueu do seu lugar e se aproximou dizendo: "Senhor, deixai-me também ir trabalhar em vosso campo;" e o senhor tendo dito a ambos para segui-lo, caminhou adiante para lhes mostrar o caminho. Depois, quando chegaram à beira da colina, dividiu a obra em duas partes e se foi dali.
Depois que partiu, o último dos trabalhadores que havia contratado, primeiramente pôs fogo nas urzes do lote que lhe coube em partilha, e trabalhou a terra com o ferro de sua enxada. O suor jorrou do seu rosto sob o ardor do sol. O outro o imitou primeiro murmurando, mas se cansou cedo do seu trabalho, e cravando sua enxada sob o sol, sentou-se perto, olhando seu companheiro trabalhar.
Ora, o senhor do campo veio perto da noite, e examinou a obra realizada, e tendo chamado a ele o obreiro diligente, cumprimentou-o dizendo: "Trabalhaste bem; eis teu salário," e lhe deu uma peça de prata, despedindo-o. O outro trabalhador se aproximou também e reclamou o preço de sua jornada; mas o senhor lhe disse: "Mau trabalhador, meu pão não acalmará tua fome, porque deixaste inculta a parte de meu campo que te havia confiado;" não é justo que aquele que nada fez seja recompensado como aquele que trabalhou bem; e o mandou embora sem nada lhe dar.

II

Eu vos digo, a força não foi dada ao homem, e a inteligência ao seu espírito, para que consuma seus dias na ociosidade, mas para que seja útil aos seus semelhantes. Ora, aquele cujas mãos sejam desocupadas e o espírito ocioso será punido, e deverá recomeçar sua tarefa.
Eu vos digo, em verdade, sua vida será lançada de lado como uma coisa que não foi boa em nada, quando seu tempo se tiver cumprido; compreendei isto por uma comparação. Qual dentre vós, se há em vosso pomar uma árvore que não produz bons frutos, não dirá ao seu servidor Cortai essa árvore e lançai-a ao fogo, porque seus ramos são estéreis. Ora, do mesmo modo que essa árvore será cortada por sua esterilidade, a vida do preguiçoso será posta de lado porque terá sido estéril em boas obras.

13- Queixas


O golfo de Corinto, na Grécia, é região de beleza ímpar. As suas águas,
em tonalidade azul-turquesa, parecem um espelho, emoldurado pelas
montanhas que lhes resguardam a tranqüilidade multimilenaria.
No monte Parnaso, em lugar de destaque, erguia-se o santuário de Delfos,
o mais importante da época, onde se cultuava Apolo, o deus da razão, da cultura,
da luz.
Na mitologia grega arcaica, Apolo era o símbolo do conhecimento,
eqüacionador dos enigmas e dos conflitos. Para o seu templo, em
conseqüência, acorriam multidões aturdidas e ansiosas em busca de
orientação, de segurança emocional, de solução para os problemas.
Psicanaliticamente, era um reduto onde nasciam as identificações
inconscientes do ser, organizadoras do eu. Ali, as sibilas, que transmitiam as
repostas do deus evocado, desempenhavam papel importante no
comportamento dos consulentes, bem como das cidades-estados que lhes
buscavam ajuda, inspiração.
Era o santuário no qual se sucediam os apelos, e se multiplicavam as
queixas dos desesperados, dos que necessitavam de soluções imediatas para
a sobrevivência moral, financeira, social, emocional...
Hoje, reduzido a escombros, ainda permanece a sua mensagem no
inconsciente da criatura, herdeira do arquétipo arcaico, que prossegue
buscando soluções fáceis, miraculosas, sem o contributo do esforço pessoal,
que deve ser desenvolvido.
Permanecendo na infância psicológica, aquele que de tudo se queixa tem
a personalidade desestruturada, permanecendo sob constantes bombardeios
do pessimismo, do azedume e dos raios destruidores da mente rebelde.
A queixa de que se faz portador é reação mental e emocional patológica,
refletindo-lhe a insegurança e a perturbação, responsáveis pelas ocorrências
negativas que procura ignorar ou escamotear.
Ocultando os conflitos perturbadores, transfere para as demais pessoas as
causas dos seus insucessos, sem conseguir enunciá-las, porque destituídas de
lógica, passando as acusações para os tempos nos quais vive, às autoridades
governamentais, à má sorte, aos fados perversos, assim acalmando-se e tornando-
se vítima, no que se compraz.
Os mitos trágicos, que remanescem no inconsciente, assomam-lhe, e
personificam-se nas criaturas, que passa a detestar ou nas circunstâncias, que
são denominadas como aziagas.
Certamente, há fatores humanos e ocasionais que respondem pelas
dificuldades e problemas humanos. São, no entanto, a fragilidade e a
insegurança do paciente que ocasionam o insucesso, que poderia ser
transformado em êxito, caso, no qual, abandonando a queixa, perseverasse na
ação bem direcionada.
Não consideramos sucesso apenas o triunfo econômico, social, político,
religioso, artístico, quase sempre responsável por expressões de profundo
desequilíbrio no comportamento, gerador de estados neuróticos e de
perturbações lastimáveis, que se agravam com as queixas.
Referimo-nos a sucesso, quando o indivíduo, em qualquer circunstância,
mantém a administração dos seus problemas com serenidade, conserva-se em
harmonia no êxito social ou na dificuldade, sem nenhuma perturbação ou
desagregação da personalidade, através dos bem aceitos recursos de evasão
da responsabilidade.
Por isso, o santuário de Delfos ensinava o conhece-te a ti mesmo como
psicoterapia relevante, e mediante esta contribuição o ser amadureceria,
crescendo interiormente, assegurando-se da sua fatalidade histórica, a
plenitude.
A queixa, como ferrugem na engrenagem do psiquismo, é cruel verdugo
de quem a cultiva.
Substitui-la pela compreensão, perante os fenômenos da vida, constitui
mecanismo valioso de saúde psicológica.
Diante de quaisquer injunções perturbadoras, o enfrentamento tranqüilo
com as ocorrências deve ser a primeira atitude a ser tomada, qual se se
buscasse Apoio — o discernimento —, deixando-se conduzir pela razão lúcida
— a sibila — e descobrisse a real finalidade de todos os fatos existenciais.

Livro: O Ser Consciente
Divaldo/Joana de Angelis.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

INIMIGO REAL


Emmanuel
  
Geralmente, todos os nossos adversários, no fundo, são nossos instrutores.
-0-
À maneira do martelo que, tangendo a pedra, acaba aperfeiçoando-lhe a beleza, aquele que se coloca em oposição à nossa maneira de crer, sentir ou pensar, freqüentemente é fator de estímulo à elevação de nossos dotes pessoais.
-0-
O invejoso, invariavelmente, ensina-nos a prudência, o despeitado nos induz ao aprimoramento próprio.
O caluniador nos auxilia a marchar no caminho reto e o perseguidor gratuito nos auxilia a perseverar no bem.
-0-
 Assim, então, se um inimigo poderoso devemos identificar junto de nós, na estrada do mundo - inimigo que nos arma as piores ciladas e nos constrange a cair nas mais escuras armadilhas do remorso e da dor - esse é o nosso próprio Eu, adversário terrível de nossa verdadeira felicidade, sempre imantado à concha de sombras em que se refugia, sob as paredes da indiferença.
-0-
Combatamos a nós mesmos cada dia, em nome do bem que abraçamos.
-0-
Não vale afirmar sem exemplo, nem sonhar sem trabalho.
-0-
Adquirir conhecimentos superiores para adorá-los com o incenso de nosso personalismo é transformar a vida em êxtase delituoso, quando a Terra nos pede rendimento de esforço para a obra do Bem Infinito.
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 Guerreemos o inimigo que se oculta, armado de astúcias mil na fortaleza de nossa animalidade multissecular, dando caça às suas manifestações de inferioridade, com os dissolventes da compreensão, do trabalho, da bondade e do amor e asfixiando-lhe o ignominioso comando, que tantas vezes nos tem arrojado aos despenhadeiros do crime das reparações dolorosas, ouçamos, nas torres de nossa alma, a voz do Cristo, o único mentor capaz de conduzir-nos à bênção íntima da imperecível libertação.

(De “Indulgência”, de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel)