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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

13- Queixas


O golfo de Corinto, na Grécia, é região de beleza ímpar. As suas águas,
em tonalidade azul-turquesa, parecem um espelho, emoldurado pelas
montanhas que lhes resguardam a tranqüilidade multimilenaria.
No monte Parnaso, em lugar de destaque, erguia-se o santuário de Delfos,
o mais importante da época, onde se cultuava Apolo, o deus da razão, da cultura,
da luz.
Na mitologia grega arcaica, Apolo era o símbolo do conhecimento,
eqüacionador dos enigmas e dos conflitos. Para o seu templo, em
conseqüência, acorriam multidões aturdidas e ansiosas em busca de
orientação, de segurança emocional, de solução para os problemas.
Psicanaliticamente, era um reduto onde nasciam as identificações
inconscientes do ser, organizadoras do eu. Ali, as sibilas, que transmitiam as
repostas do deus evocado, desempenhavam papel importante no
comportamento dos consulentes, bem como das cidades-estados que lhes
buscavam ajuda, inspiração.
Era o santuário no qual se sucediam os apelos, e se multiplicavam as
queixas dos desesperados, dos que necessitavam de soluções imediatas para
a sobrevivência moral, financeira, social, emocional...
Hoje, reduzido a escombros, ainda permanece a sua mensagem no
inconsciente da criatura, herdeira do arquétipo arcaico, que prossegue
buscando soluções fáceis, miraculosas, sem o contributo do esforço pessoal,
que deve ser desenvolvido.
Permanecendo na infância psicológica, aquele que de tudo se queixa tem
a personalidade desestruturada, permanecendo sob constantes bombardeios
do pessimismo, do azedume e dos raios destruidores da mente rebelde.
A queixa de que se faz portador é reação mental e emocional patológica,
refletindo-lhe a insegurança e a perturbação, responsáveis pelas ocorrências
negativas que procura ignorar ou escamotear.
Ocultando os conflitos perturbadores, transfere para as demais pessoas as
causas dos seus insucessos, sem conseguir enunciá-las, porque destituídas de
lógica, passando as acusações para os tempos nos quais vive, às autoridades
governamentais, à má sorte, aos fados perversos, assim acalmando-se e tornando-
se vítima, no que se compraz.
Os mitos trágicos, que remanescem no inconsciente, assomam-lhe, e
personificam-se nas criaturas, que passa a detestar ou nas circunstâncias, que
são denominadas como aziagas.
Certamente, há fatores humanos e ocasionais que respondem pelas
dificuldades e problemas humanos. São, no entanto, a fragilidade e a
insegurança do paciente que ocasionam o insucesso, que poderia ser
transformado em êxito, caso, no qual, abandonando a queixa, perseverasse na
ação bem direcionada.
Não consideramos sucesso apenas o triunfo econômico, social, político,
religioso, artístico, quase sempre responsável por expressões de profundo
desequilíbrio no comportamento, gerador de estados neuróticos e de
perturbações lastimáveis, que se agravam com as queixas.
Referimo-nos a sucesso, quando o indivíduo, em qualquer circunstância,
mantém a administração dos seus problemas com serenidade, conserva-se em
harmonia no êxito social ou na dificuldade, sem nenhuma perturbação ou
desagregação da personalidade, através dos bem aceitos recursos de evasão
da responsabilidade.
Por isso, o santuário de Delfos ensinava o conhece-te a ti mesmo como
psicoterapia relevante, e mediante esta contribuição o ser amadureceria,
crescendo interiormente, assegurando-se da sua fatalidade histórica, a
plenitude.
A queixa, como ferrugem na engrenagem do psiquismo, é cruel verdugo
de quem a cultiva.
Substitui-la pela compreensão, perante os fenômenos da vida, constitui
mecanismo valioso de saúde psicológica.
Diante de quaisquer injunções perturbadoras, o enfrentamento tranqüilo
com as ocorrências deve ser a primeira atitude a ser tomada, qual se se
buscasse Apoio — o discernimento —, deixando-se conduzir pela razão lúcida
— a sibila — e descobrisse a real finalidade de todos os fatos existenciais.

Livro: O Ser Consciente
Divaldo/Joana de Angelis.

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