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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno " Espíritos Sofredores" parte 5

Lisbeth

(Bordéus, 13 de fevereiro de 1862)
Um Espírito sofredor inscreve-se com o nome de Lisbeth.
1. - Quereis dar-nos algumas informações a respeito da vossa posição, assim como da causa dos vossos sofrimentos?
- R. Sede humilde de coração, submisso à vontade de Deus, paciente na provação, caridoso para com o pobre, consolador do fraco, sensível a todos os sofrimentos e não sofrereis as torturas que amargo.
2. - Pareceis sentir as falhas decorrentes de contrário procedimento... O arrependimento deverá dar-vos alívio?
- R. Não: - O arrependimento é inútil quando apenas produzido pelo sofrimento. O arrependimento profícuo tem por base a mágoa de haver ofendido a Deus, e importa no desejo ardente de uma reparação. Ainda não posso tanto, infelizmente. Recomendai-me às preces de quantos se interessam pelos sofrimentos alheios, porque delas tenho necessidade.
Nota - Este ensinamento é uma grande verdade; às vezes o sofrimento provoca um brado de arrependimento menos sincero, que não é a expressão de pesar pela prática do mal, visto como, se o Espírito deixasse de sofrer, não duvidaria reencetá-la. Eis por que o arrependimento nem sempre acarreta a imediata libertação do Espírito. Predispõe-no, porém, para ela - eis tudo.
É-lhe preciso, além disso, provar a sinceridade e firmeza da resolução, por meio de novas provações reparadoras do mal praticado.
Meditando-se cuidadosamente sobre todos os exemplos que citamos, encontrar-se-á nas palavras dos Espíritos mesmo dos mais inferiores profundos ensinamentos, pondo-nos a par dos mais íntimos pormenores da vida espiritual. O homem superficial pode não ver nesses exemplos mais que pitorescas narrativas; mas o homem sério e refletido encontrará neles abundante manancial de estudos.
3. - Farei o que desejais. Podereis dar-me alguns pormenores da vossa última existência corporal? Daí talvez nos advenha um ensinamento útil e assim tomareis proveitoso o arrependimento.
(O Espírito vacila na resposta, não só desta pergunta, como de algumas das que se seguem.) -
R. Tive um nascimento de elevada condição. Possuía tudo o que os homens julgam a fonte da felicidade. Rica, tornei-me egoísta; bela, fui vaidosa, insensível, hipócrita; nobre, era ambiciosa. Calquei ao meu poderio os que se me não rolavam aos pés e oprimia ainda mais os que sob eles se colocavam, esquecida de que também a cólera do Senhor esmaga, cedo ou tarde, as mais altivas frontes.
4 - Em que época vivestes? -
R. Há cento e cinqüenta anos, na Prússia.
5. - Desde então não fizestes progresso algum como Espírito?
- R. Não; a matéria revoltava-se sempre, e tu não podes avaliar a influência que ela ainda exerce sobre mim, a despeito da separação do corpo. O orgulho agrilhoa-nos a brônzeas cadeias, cujos anéis mais e mais comprimem o mísero que lhe hipoteca o coração. O orgulho, hidra de cem cabeças a renovarem-se incessantes, modulando silvos empeçonhados que chegam a parecer celeste harmonia! O orgulho - esse demônio multiforme que se amolda a todas as aberrações do Espírito, que se oculta em todos os refolhos do coração; que penetra as velas; que absorve e arrasta às trevas da eterna geena!... Oh! sim. . eterna!
Nota - Provavelmente, o Espírito diz não ter feito progresso algum, por ser a sua situação sempre penosa; a maneira pela qual descreve o orgulho e lhe deplora as conseqüências é, incontestavelmente, um progresso. Certo, quando encarnado e mesmo logo após a morte, ele não poderia raciocinar assim. Compreende o mal, o que já é alguma coisa, e a coragem e o propósito de o evitar lhe advirão mais tarde.
6. - Deus é muito bom para não condenar seus filhos a penas eternas. Confiai na sua misericórdia.
- R. Dizem que isto pode ter um termo, mas onde e quando? Há muito que o procuro e só vejo sofrimento, sempre, sempre, sempre!
7. - Como viestes hoje aqui?
- R. Conduzida por um Espírito que me acompanha muitas vezes.
- P. Desde quando o vedes, a esse Espírito? - R. Não há muito tempo.
- P. E desde quando tendes consciência das faltas que cometestes? - R. (Depois de longa reflexão.) Sim, tendes razão: foi dai para cá que principiei a vê-lo.
8. - Compreendeis agora a relação existente entre o arrependimento e o auxílio prestado por vosso protetor? Tomai por origem desse apoio o amor de Deus, cujo fim será o seu perdão e misericórdia infinitos.
- R. Oh! como desejaria que assim fosse. -Creio poder prometer no nome, aliás sacratíssimo, dAquele que jamais foi surdo à voz dos filhos aflitos.
9. - Pedi de coração e sereis ouvida.
- R. Não posso; tenho medo. - Oremos juntos, Ele nos atenderá. (Depois da prece.) Ainda estais ai? - R. Sim. Obrigada! Não me esqueçais.
10. - Vinde inscrever-vos aqui todos os dias.
- R. Sim, sim, virei sempre.
O guia do médium. - Nunca esqueçais os ensinos que bebeis nos sofrimentos dos vossos protegidos e notadamente nas suas causas, visto serem lição que a todos aproveita no sentido de se preservarem dos mesmos perigos e de idênticos castigos. Purificai os corações, sede humildes, amai-vos e ajudai-vos sem esquecerdes jamais a fonte de todas as graças, fonte inesgotável na qual podem todos saciar-se à vontade, fonte de água viva que desaltera e alimenta igualmente, fonte de vida e ventura eterna. Ide a ela, meus amigos, e bebei com fé. Mergulhai nela as vossas vasilhas, que sairão de suas ondas pejadas de bênçãos. Adverti vossos irmãos dos perigos em que podem incorrer. Difundi as bênçãos do Senhor, que se reproduzem incessantes; e quanto mais as propagardes, tanto mais se multiplicarão Está em vossas mãos a tarefa, porquanto, dizendo aos vossos irmãos - aí estão os perigos, lá os escolhos; vinde conosco a fim de os evitar; imitai-nos a nós que damos o exemplo - assim difundíreis as bênçãos do Senhor sobre os que vos ouvirem.
Abençoados sejam os vossos esforços. O Senhor ama os corações puros: fazei por merecer-lhe o amor. Saint Paulin.

sábado, 20 de outubro de 2012

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno. " Espíritos Sofredores" parte 4

EXPROBRAÇÕES DE UM BOÊMIO
(Bordéus, 19 de abril de 1862)
Homens, meus irmãos, eu vivi só para mim e agora expio
e sofro! Conceda-vos Deus a graça de evitardes os espinhos
que ora me laceram. Prossegui na senda larga do Senhor
e orai por mim, pois abusei dos favores que Deus faculta
às suas criaturas!
“Quem sacrifica aos instintos brutos a inteligência e os
bons sentimentos que Deus lhe dá, assemelha-se ao animal
que muitas vezes se maltrata. O homem deve utilizar-se
sobriamente dos bens de que é depositário, habituando-se a
visar a eternidade que o espera, abrindo mão, por conseqüência,
dos gozos materiais. A sua alimentação deve ter por
exclusivo fim a vitalidade; o luxo deve apenas restringir-se
às necessidades da sua posição; os gostos, os pendores, mesmo
os mais naturais, devem obedecer ao mais são raciocínio;
sem o que, ele se materializa em vez de se purificar. As paixões
humanas são estreitos grilhões que se enroscam na
carne e, assim, não lhes deis abrigo. Vós não sabeis o seu
preço, quando regressamos à pátria! As paixões humanas
vos despem antes mesmo de vos deixarem, de modo a
chegardes nus, completamente nus, ante o Senhor. Ah! cobri-
vos de boas obras que vos ajudem a franquear o Espaço
entre vós e a eternidade. Manto brilhante, elas escondem as
vossas torpezas humanas. Envolvei-vos na caridade e no amor
— vestes divinas que duram eternamente.”
Instruções do guia do médium. — Este Espírito está num
bom caminho, porquanto, além do arrependimento, aduz
conselhos tendentes a evitar os perigos da senda por ele
trilhada.
Reconhecer os erros é já um mérito e um passo efetivo
para o bem: também por isso, a sua situação, sem ser venturosa,
deixa de ser a de um Espírito infeliz.
Arrependendo-se, resta-lhe a reparação de uma outra
existência. Mas, antes de lá chegar, sabeis qual a existência
desses homens de vida sensual que não deram ao Espírito
outra atividade além da invenção de novos prazeres?
A influência da matéria segue-os além-túmulo, sem
que a morte lhes ponha termo aos apetites que a sua vista,
tão limitada como quando na Terra, procura em vão os
meios de os saciar. Por não terem nunca procurado alimento
espiritual, a alma erra no vácuo, sem norte, sem
esperança, presa dessa ansiedade de quem não tem diante
de si mais que um deserto sem limites. A inexistência
das lucubrações espirituais acarreta naturalmente a nulidade
do trabalho espiritual depois da morte; e porque não
lhe restem meios de saciar o corpo, nada restará para satisfazer
o Espírito.
Daí, um tédio mortal cujo termo não prevêem e ao qual
prefeririam o nada. Mas o nada não existe... Puderam ma-
tar o corpo, mas não podem aniquilar o Espírito. Importa
pois que vivam nessas torturas morais, até que, vencidos
pelo cansaço, se decidam a volver os olhos para Deus.

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno. " Espíritos Sofredores" parte 3

AUGUSTE MICHEL
(Havre, março de 1863)
Era um moço rico, boêmio, gozando larga e exclusivamente
a vida material. Conquanto inteligente, o indiferentismo
pelas coisas sérias era-lhe o traço característico.
Sem maldade, antes bom que mau, fazia-se estimar
por seus companheiros de pândegas, sendo apontado na
sociedade por suas qualidades de homem mundano. Não
fez o bem, mas também não fez o mal. Faleceu em conseqüência
de uma queda da carruagem em que passeava.
Evocado alguns dias depois da morte por um médium que
indiretamente o conhecia, deu sucessivamente as seguintes
comunicações:
8 de março de 1863. — “Por enquanto apenas consegui
desprender-me e dificilmente vos posso falar. A queda que
me ocasionou a morte do corpo perturbou profundamente o
meu Espírito. Inquieta-me esta incerteza cruel do meu futuro.
O doloroso sofrimento corporal experimentado nada é comparativamente
a esta perturbação. Orai para que Deus me
perdoe. Oh! que dor! oh! graças, meu Deus! que dor! Adeus.”
18 de março. — “Já vim a vós, mas apenas pude falar
dificilmente. Presentemente, ainda mal me posso comunicar
convosco. Sois o único médium, ao qual posso pedir
preces para que a bondade de Deus me subtraia a esta
perturbação. Por que sofrer ainda, quando o corpo não mais
sofre? Por que existir sempre esta dor horrenda, esta angústia
terrível? Orai, oh! orai para que Deus me conceda
repouso... Oh! que cruel incerteza! Ainda estou ligado ao
corpo. Apenas com dificuldade posso ver onde devo encontrar-
me; meu corpo lá está, e por que também lá permaneço
sempre? Vinde orar sobre ele para que eu me desembarace
dessa prisão cruel... Deus me perdoará, espero. Vejo
os Espíritos que estão junto de vós e por eles posso falar-
-vos. Orai por mim.”
6 de abril. — “Sou eu quem vem pedir que oreis por
mim. Será preciso irdes ao lugar em que jaz meu corpo,
a fim de implorar do Onipotente que me acalme os
sofrimentos? Sofro! oh! se sofro! Ide a esse lugar — assim é
preciso — e dirigi ao Senhor uma prece para que me perdoe.
Vejo que poderei ficar mais tranqüilo, mas volto
incessantemente ao lugar em que depositaram o que me
pertencia.”
O médium, não dando importância ao pedido que lhe faziam
de orar sobre o túmulo, deixara de atender. Todavia, indo aí, mais
tarde, lá mesmo recebeu uma comunicação.
11 de maio. — “Aqui vos esperava. Aguardava que
viésseis ao lugar em que meu Espírito parece preso ao seu
invólucro, a fim de implorar ao Deus de misericórdia e bondade
acalmar os meus sofrimentos. Podeis beneficiar-me
com as vossas preces, não o esqueçais, eu vo-lo suplico.
Vejo quanto a minha vida foi contrária ao que deveria ser;
vejo as faltas cometidas.
“Fui no mundo um ser inútil; não fiz uso algum proveitoso
das minhas faculdades; a fortuna serviu apenas à satisfação
das minhas paixões, aos meus caprichos de luxo e
à minha vaidade; não pensei senão nos gozos do corpo, desprezando
os da alma e a própria alma. Descerá a misericórdia
de Deus até mim, pobre Espírito que sofre as conseqüências
das suas faltas terrenas? Orai para que Ele me
perdoe, libertando-me das dores que ainda me pungem.
Agradeço-vos o terdes vindo aqui orar por mim.”
8 de junho. — “Posso falar e agradeço a Deus que mo
faculta. Compreendi as minhas faltas e espero que Deus
me perdoe. Trilhai sempre na vida de conformidade com a
crença que vos alenta, porque ela vos reserva de futuro um
repouso que eu ainda não tenho. Obrigado pelas vossas
preces. Até outra vista.”
30 de julho. — “Presentemente sou menos infeliz, visto
não mais sentir a pesada cadeia que me jungia ao corpo.
Estou livre, enfim, mas ainda não expiei e preciso é que
repare o tempo perdido se eu não quiser prolongar os sofrimentos.
Espero que Deus, tendo em conta a sinceridade do
arrependimento, me conceda a graça do seu perdão. Pedi
ainda por mim, eu vo-lo suplico.
A insistência do Espírito, para que se orasse sobre o seu
túmulo, é uma particularidade notável, mas que tinha sua razão
de ser se levarmos em conta a tenacidade dos laços que ao corpo
o prendiam, à dificuldade do desprendimento, em conseqüência
da materialidade da sua existência. Compreende-se que, mais próxima,
a prece pudesse exercer uma espécie de ação magnética
mais poderosa no sentido de auxiliar o desprendimento. O costume
quase geral de orar junto aos cadáveres não provirá da intuição
inconsciente de um tal efeito? Nesse caso, a eficácia da prece
alcançaria um resultado simultaneamente moral e material.

sábado, 13 de outubro de 2012

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno. " Sofredores" parte 2

NOVEL
O Espírito dirige-se ao médium, que em vida o conhecera.
“Vou contar-te o meu sofrimento quando morri. Meu
Espírito, preso ao corpo por elos materiais, teve grande di-

ficuldade em desembaraçar-se — o que já foi, por si, uma
rude angústia.
A vida que eu deixava aos 21 anos era ainda tão vigorosa
que eu não podia crer na sua perda. Por isso procurava
o corpo, estava admirado, apavorado por me ver perdido
num turbilhão de sombras. Por fim, a consciência do meu
estado e a revelação das faltas cometidas, em todas as minhas
encarnações, feriram-me subitamente, enquanto uma
luz implacável me iluminava os mais secretos âmagos da
alma, que se sentia desnudada e logo possuída de vergonha
acabrunhante. Procurava fugir a essa influência interessando-
me pelos objetos que me cercavam, novos, mas
que, no entanto, já conhecia; os Espíritos luminosos, flutuando
no éter, davam-me a idéia de uma ventura a que eu
não podia aspirar; formas sombrias e desoladas, mergulhadas
umas em tedioso desespero; furiosas ou irônicas
outras, deslizavam em torno de mim ou por sobre a terra a
que me chumbava. Eu via agitarem-se os humanos cuja
ignorância invejava; toda uma ordem de sensações desconhecidas,
ou antes reencontradas, invadiram-me simultaneamente.
Como que arrastado por força irresistível, procurando
fugir à dor encarniçada, franqueava as distâncias,
os elementos, os obstáculos materiais, sem que as belezas
naturais nem os esplendores celestes pudessem calmar um
instante a dor acerba da consciência, nem o pavor causado
pela revelação da eternidade. Pode um mortal prejulgar as
torturas materiais pelos arrepios da carne; mas as vossas
frágeis dores, amenizadas pela esperança, atenuadas por
distrações ou mortas pelo esquecimento, não vos darão
nunca a idéia das angústias de uma alma que sofre sem
tréguas, sem esperança, sem arrependimento.
Decorrido um tempo cuja duração não posso precisar, invejando os eleitos
cujos esplendores entrevia, detestando os maus Espíritos
que me perseguiam com remoques, desprezando os
humanos cujas torpezas eu via, passei de profundo abatimento
a uma revolta insensata.
Chamaste-me finalmente, e pela primeira vez um sentimento
suave e terno me acalmou; escutei os ensinos que
te dão os teus guias, a verdade impôs-se-me, orei; Deus
ouviu-me, revelou-se-me por sua Clemência, como já se me
havia revelado por sua Justiça.
Novel.”

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno. " Espíritos Sofredores"


Capitulo IV
Espíritos Sofredores
O Castigo
Exposição geral do estado dos culpados por ocasião da entrada no mundo dos Espíritos, ditada à Sociedade Espírita de Paris, em outubro de 1860.
"Depois da morte, os Espíritos endurecidos, egoístas e maus são logo tomados de uma dúvida cruel a respeito do seu destino, no presente e no futuro. Olham em torno de si e nada vêem que possa aproveitar ao exercício da sua maldade — o que os desespera, visto como o insulamento e a inércia são intoleráveis aos maus Espíritos.
Não levantam o olhar às moradas dos Espíritos elevados, consideram aquilo que os cerca e, então, compreendendo o abatimento dos Espíritos fracos e punidos, se agarrarão a eles como a uma presa, utilizando-se da lembrança de suas faltas passadas, que eles põem continuamente em ação pelos seus gestos ridículos.
Não lhes bastando esse motejo, atiram-se para a Terra como abutres famintos, procurando entre os homens uma alma que lhes dê fácil acesso às tentações. Encontrando-a, dela se apoderam exaltando-lhes a cobiça e procurando extinguir-lhe a fé em Deus, até que por fim, senhores de uma consciência e vendo segura a presa, estendem a tudo quanto se lhe aproxime a fatalidade do seu contágio.
O mau Espírito, no exercício da sua cólera, é quase feliz, sofrendo apenas nos momentos em que deixa de atuar, ou nos casos em que o bem triunfa do mal. Passam no entanto os séculos e, de repente, o mau Espírito pressente que as trevas acabarão por envolvê-lo; o círculo de ação se lhe restringe e a consciência, muda até então, faz-lhe sentir os acerados espinhos do remorso.
Inerte, arrastado no turbilhão, ele vagueia, como dizem as Escrituras, sentindo a pele arrepiar-se-lhe de terror. Não tarda, então, que um grande vácuo se faça nele e em torno dele: chega o momento em que deve expiar; a reencarnação aí está ameaçadora... e ele vê como num espelho as provações terríveis que o aguardam; quereria recuar, mas avança e, precipitado no abismo da vida, rola em sobressalto, até que o véu da ignorância lhe recaia nos olhos.
Vive, age, é ainda culpado, sentindo em si não sei que lembrança inquietadora, pressentimentos que o fazem tremer, sem recuar, porém, da senda do mal. Por fim extenuado de forças e de crimes, vai morrer. Estendido numa enxerga (ou num leito, que importa?!), o homem culpado sente, sob aparente imobilidade, resolver-se e viver dentro de si mesmo um mundo de esquecidas sensações. Fechadas as pupilas, ele vê um clarão que desponta, ouve estranhos sons; a alma, prestes a deixar o corpo, agita-se impaciente, enquanto as mãos crispadas tentam agarrar as cobertas... Quereria falar, gritar àqueles que o cercam: — Retenham-me! eu vejo o castigo! — Impossível! A morte sela-lhe os lábios esmaecidos, enquanto os assistentes dizem: Descansa em paz!
E contudo ele ouve, flutuando em torno do corpo que não deseja abandonar. Uma força misteriosa o atrai; vê e reconhece finalmente o que já vira. Espavorido, ei-lo que se lança no Espaço onde desejaria ocultar-se, e nada de abrigo, nada de repouso.
Retribuem-lhe outros Espíritos o mal que fez; castigado, confuso e escarnecido, por sua vez vagueia e vagueiará até que a divina luz o penetre e esclareça, mostrando-lhe o Deus vingador, o Deus triunfante de todo o mal, e ao qual não poderá apaziguar senão à força de expiação e gemidos.
Jorge."
Nunca se traçou quadro mais horrível e verdadeiro à sorte do mau: será ainda necessária a fantasmagoria das chamas e das torturas físicas?

sábado, 8 de setembro de 2012

Dois conceitos de honestidade


Autor: Deolindo Amorim – Artigo publicado no jornal “Unificação” – Ano XIII – Janeiro de 1966 – Número 154.

Comemorou-se há pouco, em diversas sociedades espíritas, o centenário de mais uma obra da Codificação de Allan Kardec: “O Céu e o Inferno”, publicada em 1865, na França. É um livro pouco lido e, por isso, pouco citado no próprio meio espírita. Há, nele, entretanto, muita matéria doutrinária para estudo e meditação. Quem tiver ocasião de ler, ou reler, por exemplo, certas comunicações de espíritos desencarnados, verá que “O Céu e o Inferno” é um livro de grande utilidade, também neste ponto, justamente porque nos faz muitas advertências oportuníssimas para a vida cotidiana. São espíritos que viveram neste mundo, sofreram, cometeram os seus deslizes e, depois, vieram trazer o resultado de suas experiências, através do elemento mediúnico.

Uma das comunicações que me parecem mais significativas e mais sérias pelo seu conteúdo moral é a do espírito de José Bré, desencarnado em 1840 e evocado por sua neta, em Bordéus, no ano de 1862. Esse espírito, ao chegar à vida espiritual, teve certa surpresa, sofreu pouco, exatamente porque, na Terra, era tido por muito honesto, mas verificou, naturalmente decepcionado consigo mesmo, que o conceito de honestidade, no mundo espiritual, nem sempre coincide com o que se pensa entre nós. É uma advertência grave e sempre atual, não há dúvida. O fato de um indivíduo ser um modelo de honestidade perante os homens, segundo os padrões e as convenções terrenas, não quer dizer, em todos os casos, que esse indivíduo já esteja completamente quite com a Justiça Divina. Foi o que se deu com o espírito de José Bré, quando se viu, depois, diante de problemas de consciência, problemas que a sociedade humana desconhecia, mas que apareceram, em toda a plenitude, quando o espírito enfrentou a dura realidade do “além-túmulo”, como se costuma dizer.
Sua neta, assim que começou o diálogo com o espírito do avô, estranhou que ele estivesse sofrendo e lhe fez a seguinte pergunta: “Não vivestes sempre honestamente?” O espírito dissera, momentos antes, que estava lamentando o fato de “não ter melhor aproveitado o tempo aí na Terra”. Tal declaração causou espanto à neta de Bré, pois todos os seus conhecidos consideravam o morto um homem irrepreensível, um homem exemplar em tudo por tudo. Esperava-se, portanto, que viesse dizer, do “outro lado da vida”, que estava muito bem, estava feliz. Mas o espírito respondeu de um modo franco, dizendo a coisa como realmente deve ser dita: há um abismo entre a honestidade perante os homens e a honestidade perante Deus. É uma verdade dura, mas precisa ser repetida aos quatro ventos, porque muita gente não pensa nisto, está iludida com os aplausos humanos. Convém reproduzir as palavras do espírito, pelo menos em parte.

Não basta, para ser honesto perante Deus, ter respeitado as leis dos homens; é preciso, antes de tudo, não haver transgredido as leis divinas. Honesto aos olhos de Deus será aquele, que possuído de abnegação e amor, consagre a existência ao bem, ao progresso de seus semelhantes. Assim, o homem honesto, perante Deus, deve evitar cuidadoso as palavras mordazes, veneno oculto sob flores, que destrói reputações e acabrunha o homem, muitas vezes cobrindo-o de ridículo.

Bela e profunda lição!
O conceito de honestidade, segundo os costumes terrenos, vê a criatura humana apenas pelo lado exterior. Então, é honesto, para o mundo, todo aquele que está em dia com as suas contas, cumpre os seus deveres sociais, mantém a família, educa os filhos, paga impostos, etc., etc... Tudo isto, porém, são obrigações comezinhas. Ninguém pense que, pelo fato de cumprir todos os seus deveres humanos, que são deveres meramente rotineiros ou naturais, estão isento de prestar contas à consciência. É aí, precisamente, que está o conflito entre aquilo que se entende por honestidade, perante o mundo, e o que vem a ser a honestidade prevista nas Leis Divinas. São dois conceitos muito diferentes. O indivíduo pode ser muito bom cidadão, porque respeita as leis do Estado, atende a todas as exigências da sociedade em que vive, apresentando-se como exemplo de virtudes em sua vida exterior e, no entanto, não ser honesto em suas intenções, porque pensa mal, articula intriga e maldade, fere a reputação alheia, espalha insinuações infamantes, embora disfarçadas com palavras doces, aparentemente inocentes. Tudo isto compromete a consciência perante o julgamento divino. Mas o mundo não vê, nem pode ver os pensamentos ocultos, porque são inerentes à vida interior, que é um segredo indevassável. Enquanto isso, o indivíduo vai passando como honesto ou virtuoso, podendo, até, ser glorificado como santo aos olhos dos homens. Quando chega a hora da partida, quando se descerra o véu dos artifícios humanos, vem o julgamento da consciência, que é o nosso juiz implacável. Então, aquele que se iludira com os conceitos humanos, supondo que iria ter, no mundo espiritual, uma vida quase angelical, uma vida de felicidade completa, porque todos o tinham por honesto, vai sentir, diretamente, que a sua suposta honestidade, na Terra, de nada lhe vale, porque a Justiça Divina, que é onisciente e onipresente, não julga somente pelos atos exteriores, mas julga, antes de tudo, pelas intenções, pelos pensamentos mais ocultos, pelos sentimentos que alimentamos, embora saibamos encobri-los ou disfarçá-los na sociedade humana. O que vai pesar na balança, no fim de tudo, quando nos defrontamos com a realidade espiritual, não é o conceito de honestidade segundo os homens, mas o conceito de honestidade segundo a Justiça de Deus. É a lição, que nos fica, depois da leitura, bem meditada, de uma comunicação do teor moral e doutrinário daquela que foi dada, em Bordéus, pelo espírito de José Bré.

sábado, 25 de agosto de 2012

4a Parte Da Probição de Evocar os Mortos matéria do Livro Céu e Inferno.


Capítulo XI
Da Proibição de Evocar os Mortos (continuação)
15 — Repelir as comunicações de além-túmulo seria rejeitar o poderoso meio de instrução que resulta da iniciação no conhecimento da vida futura e dos exemplos que elas nos fornecem. A experiência nos ensina, além disso, como podemos fazer o bem desviando do mal os Espíritos imperfeitos, ajudando os sofredores a se libertarem da matéria e a se melhorarem, e proibir isso seria privar as almas infelizes da assistência que lhes podemos dar. A seguinte comunicação de um Espírito resume admiravelmente os efeitos da evocação, quando praticada com uma finalidade caridosa.
Cada Espírito sofredor e desesperado vos contará a causa de sua queda, os arrastamentos a que não resistiu, e vos dirá das suas esperanças, das suas lutas, dos seus terrores. Ele vos dirá também dos seus remorsos, das suas dores, dos seus desesperos, e vos mostrará Deus, justamente irritado, punindo o culpado com toda a severidade da sua justiça.
Ao escutá-lo, sereis movidos de compaixão por ele e de temor por vós mesmos. Ao seguir os seus lamentos, vereis Deus não o perdendo de vista, esperando o pecador arrependido, abrindo os braços tão logo ele comece a avançar em sua direção. Vereis os progressos do culpado, para os quais tereis a felicidade e a glória de haver contribuído. Acompanhareis com solicitude a sua reforma; como o cirurgião acompanha a cicatrização da ferida de que cuida diariamente. (Bordeus, 1861.)(46)
O Prof. Ernesto Bozzano, apoiado especialmente em pesquisas etnológicas de Andrew Lang e Max Freedon Long, em seu livro Popoli primitivi e manifestazione supernormale, formulou a tese da origem mediúnica das religiões. Os fundamentos dessa tese são científicos e filosóficos. As pesquisas metapsíquicas e parapsicológicas vêm confirmando a sua validade ao provarem que as funções psi (ou mediúnicas) são uma faculdade humana natural. Os avanços da Ciência em nosso tempo, e particularmente os da Física — revelação da estrutura atômica da matéria, descoberta da antimatéria e aceitação teórica da existência do antiuniverso — ampliam no plano físico as conseqüências das investigações psicofisiológicas. É hoje inegável que vivemos num Universo fechado pelas limitações de nossas percepções sensoriais, mas que se abre ante as possibilidades da percepção extra-sensorial e dos novos recursos da Ciência para penetrar nos arcanos da Natureza.
Quando Pasteur descobriu o mundo invisível dos micróbios teve de lutar contra a ignorância dos doutos e sábios do tempo. Kardec é o Pasteur do Espírito — descobriu o mundo invisível dos espíritos e demonstrou que estes, à maneira das bactérias, dividem-se em benéficos e maléficos, podendo produzir infestações (que são infecções espirituais) ocasionando doenças mentais e orgânicas. Contra ele se levantaram da mesma maneira os doutos e os sábios do tempo, mas ainda mais fortemente apoiados pelos clérigos e teólogos das religiões dominantes do que no caso de Pasteur. A luta era mais difícil, porque contra Kardec se conjugavam preconceitos, superstições e interesses materiais muito maiores e mais arraigados. Mas mesmo assim a verdade não pode ser obscurecida.
Mas deixando de lado a questão científica — e também a questão filosófica, a que nem nos referimos aqui — para tratar da questão religiosa, que é o assunto deste livro, podemos assegurar que a condenação de Moisés, erroneamente aplicada ao Espiritismo, redundaria na eliminação pura e simples de todas as religiões. Porque todas elas, desde as primitivas até as mais culturalmente refinadas, apoiam-se na relação do homem com o mundo invisível e dela se alimentam. Os fatos espíritas estão na raiz e na seiva da Religião, que tem sua origem na Revelação e se desenvolve graças à seiva mediúnica da permanente comunicação dos homens com os espíritos.
A evocação — contra a qual se levantam os maiores protestos — é também uma constante na história, na teoria e na prática das religiões. Como Kardec explica, basta pensarmos num espírito para o evocarmos. Mas isso não o obriga a atender-nos. Os espíritos são mais livres do que nós, os encarnados, e a evocação é um simples apelo, nunca uma tentativa mágica de sujeitar o espírito ao homem. Ao contrário disso, há práticas religiosas em nosso tempo que pretendem sujeitar o próprio Deus às exigências formalistas e convencionais de um sacerdote. Proibir essas práticas seria mais fácil, porque são criações humanas e dependem apenas dos homens, mas proibir as evocações espíritas e as manifestações espontâneas que se dão por toda parte através da mediunidade é impossível, porque estas dependem dos espíritos, que não estão ao alcance das determinações humanas.
Além disso é preciso considerar o problema da evolução espiritual do homem, que cada dia mais o aproxima dos espíritos, abrindo-lhe as possibilidades da percepção extra-sensorial. Rompendo a clausura dos sentidos, a rede do sensório orgânico, o homem de hoje aumenta cada vez mais, e com evidente aceleração evolutiva, as suas possibilidades de comunicação com o mundo invisível. Os dois planos da vida humana — o visível e o invisível — tornam-se mais próximos e se familiarizam na proporção em que a alma (espírito encarnado) aguça as suas faculdades para uma percepção mais dinâmica e real do mundo em que vive. (N. do T.)
(46) Proibir as relações do homem com o mundo invisível é um contrasenso e revela ignorância da natureza humana e da própria História Universal. Em todos os tempos, desde os primitivos, como o atestam de maneira inegável as pesquisas paleontológicas, arqueológicas, antropológicas, etnológicas e históricas, os homens mantiveram relações com entidades espirituais, sempre considerando-as humanas, diabólicas e divinas. O que são as religiões senão as formas institucionalizadas dessas relações? O que é a Bíblia, no seu conjunto e em cada um dos seus livros, senão um testemunho maciço e imponente dessa realidade inegável? E poderemos acaso negar que os próprios Evangelhos testemunham esse fato e nos instruem a respeito da maneira por que devemos proceder nessas relações? (Veja-se I Coríntios, cap. 12 e I João 4:1-6).

3a Parte Da Probição de Evocar os Mortos matéria do Livro Céu e Inferno.


Capítulo XI
Da Proibição de Evocar os Mortos (continuação)
Tudo tinha a sua razão de ser na legislação de Moisés, porque tudo nela estava previsto, até os menores detalhes. Mas a forma e o fundo estavam de acordo com as circunstâncias em que os hebreus se encontravam. Claro que se Moisés voltasse hoje e tivesse de dar um novo código a uma nação civilizada da Europa, não recorreria mais àquele dos hebreus.
6 — Objeta-se a isso que todas as leis de Moisés foram ditadas em nome de Deus, como as recebidas no Sinai. Mas se considerarmos todas de origem divina, porque os mandamentos de Deus formam apenas o decálogo? É que se faz a distinção. Se todas emanassem de Deus, todas seriam igualmente obrigatórias. Porque, pois, não observar a todas? Porque, por exemplo, não foi observada a circunscrição que o próprio Jesus sofreu e não aboliu? Esquecem-se de que todos os legisladores antigos, para darem maior autoridade às suas leis, diziam tê-las recebido de uma divindade. Moisés, mais do que qualquer outro, necessitava desse apoio em virtude do caráter do seu povo. Se apesar disso lhe foi tão difícil fazer-se obedecer, quanto pior não seria se tivesse promulgado essas leis em seu próprio nome.
Jesus não veio modificar a lei mosaica, mas a sua lei não é hoje o código dos cristãos? Não disse ele: "Sabeis que foi dito aos antigos tal e tal coisa, mas eu vos digo esta outra coisa? Mas, assim dizendo, tocou ele na lei do Sinai? De maneira alguma, pois a sancionou e toda a sua doutrina moral não é mais do que o desenvolvimento daquela. Ora, em nenhum momento ele se refere à proibição de evocar os mortos, entretanto era essa uma questão bastante grave para que ele a tivesse omitido nas suas instruções, quando tratou de outros assuntos de natureza secundária.
7 — Em resumo, trata-se de saber se a Igreja coloca a lei mosaica acima da lei evangélica, ou melhor dito, se ela é mais Judia do que Cristã. É mesmo de se notar que de todas as religiões a que menos se opôs ao Espiritismo foi a Judia, que não invocou contra as relações com os mortos a lei de Moisés, sobre a qual entretanto se apoiam as seitas Cristãs.(44)
8 — Há outra contradição. Se Moisés proibiu a evocação dos Espíritos dos mortos, é que esses Espíritos podem manifestar-se, pois de outra maneira a sua proibição seria inútil. Se eles podiam manifestar-se no seu tempo, é claro que o podem ainda hoje. Se se trata dos Espíritos dos mortos, não são exclusivamente os demônios que se manifestam. De resto, Moisés não faz nenhuma referência a esses últimos.
É pois evidente que não se poderia apoiar logicamente na lei de Moisés nesta circunstância, pelo duplo motivo de que ela não rege o Cristianismo e não é apropriada aos costumes da nossa época. Mas, mesmo supondo-se que tenha toda a autoridade que alguns lhe dão, ela não pode, como acabamos de ver, aplicar-se ao Espiritismo.(45)
Moisés, é verdade, abrange na sua proibição a interrogação dos mortos. Mas isso apenas de maneira secundária, como um acessório das práticas de feitiçaria. A palavra interrogar, colocada ao lado das palavras adivinhos e áugures, prova que entre os hebreus as evocações constituíam um meio de adivinhação. Ora, os espíritas não evocam os mortos para obter revelações ilícitas, mas para receberem os seus conselhos e procurar o alívio dos que sofrem. É claro que se os hebreus não se tivessem servido das comunicações de além-túmulo com esse fim, longe de as proibir, Moisés as encorajaria, porque elas teriam tornado melhor o seu povo.
9 — Se alguns críticos irônicos ou mal intencionados têm apresentado as reuniões espíritas como assembléias de feitiçeiros e necromantes, e os médiuns como ledores da sorte; se, por outro lado, alguns charlatães misturam o nome do Espiritismo a práticas ridículas que ele desaprova, entretanto muita gente sabe como considerar o caráter essencialmente moral e sério das reuniões espíritas. Aliás, a doutrina escrita e divulgada por todo o mundo protesta suficientemente contra os abusos de toda espécie para que a calúnia possa recair sobre quem realmente a merece.
10 — Dizem que a evocação é uma falta de respeito para com os mortos, cujas cinzas não devemos perturbar. Quem diz isso? Os adversários dos dois campos opostos, que nesse momento se dão as mãos: os incrédulos que não crêem nas almas e os que, embora crendo, pretendem que elas não podem manifestar-se e que o demônio é quem se manifesta.
(44) Esta observação de Kardec é das mais significativas e tem a sua explicação na própria História da religião judaica, toda ela, como se vê na Bíblia, na Kabala, no Talmud e na Literatura do povo hebreu, antiga e moderna, — fundada nas manifestações espirituais. O teatro e a ficção modernas de Israel, como a antiga literatura hebraica e a moderna literatura ídiche não escapam à tradição das visões, das aparições e até mesmo das materializações, que marcam toda a cultura judaica. No próprio texto bíblico encontramos passagens em que Moisés, como no caso típico de Eldad e Medad (Números, cap.13 v. 24 a 29) se declara francamente favorável à mediunidade. Além disso, sabe-se que a tenda de Moisés era uma câmara mediúnica em que o Espírito de Jeová chegava a materializar-se. (N. do T.)
(45) As leis civis de Moisés pertencem a uma época bem definida da História, que é a das civilizações agrárias. O próprio decálogo traz as marcas dessa fase histórica e em nossos dias é divulgado com a supressão dos pormenores que o tornariam ridículo aos nossos olhos. Trata-se, pois, de legislação anacrônica. (N. do T.)

Capítulo XI
Da Proibição de Evocar os Mortos (continuação)
Quando a evocação é feita religiosamente, com o devido recolhimento; quando os Espíritos são chamados com afeto e simpatia, pelo desejo sincero de instrução e de aperfeiçoamento moral, e não por curiosidade; não se percebe o que haveria de falta de respeito, e isso tanto ao chamar as pessoas depois de mortas como durante a vida.
Mas há uma outra resposta decisiva a essa objeção. É que os Espíritos se manifestam livremente e não de maneira forçada. Eles costumam vir espontaneamente até nós, sem serem chamados, e revelam a satisfação de poderem comunicar-se com os homens, lamentando freqüentemente o esquecimento em que às vezes os deixam. Se eles fossem perturbados na sua paz ou não gostassem de ser chamados, declarariam isso ou não nos atenderiam. Desde que são livres, quando nos atendem é porque isso lhes convém.
11 — Alega-se ainda: "As almas moram no lugar que a justiça de Deus lhes determinou, seja no Inferno ou no Paraíso." Assim, as que estão no inferno não podem sair, embora toda liberdade seja dada aos demônios nesse sentido. As que estão no Paraíso acham-se inteiramente entregues à beatitude e estão muito acima dos mortais para se preocuparem conosco, sendo muito felizes para voltar a esta Terra de misérias, interessando-se pelos parentes e amigos que aqui deixaram. Essas almas seriam como os ricos que desviam a vista dos pobres, com receio de que eles lhes perturbem a digestão? Se assim fosse, elas seriam bem pouco dignas da felicidade suprema, que seria, por sua vez, o prêmio do egoísmo.
Restam aquelas que estão no Purgatório. Mas essas são almas sofredoras e têm de pensar antes de tudo na própria salvação. Dessa maneira, nenhuma delas podendo nos atender, é somente o diabo que se apresenta. Mas se elas não podem vir, não há nenhum motivo para temermos perturbar o seu repouso.
12 — Aqui se apresenta outra dificuldade. Se as almas que estão na beatitude não podem abandonar a sua morada feliz para socorrer os mortais, porque a Igreja invoca a assistência dos santos, que devem gozar da maior soma possível de beatitude? Por que aconselha ela aos fiéis que os invoquem nas doenças, aflições e para se preservarem dos flagelos? Por que, segundo ela, os santos, a própria Virgem mostram-se aos homens através de visões e fazem milagres? Eles deixam, então, o céu para vir à Terra. Se esses Espíritos que se encontram no mais alto dos céus podem deixá-lo, por que motivo os que estão mais em baixo não o poderiam?
13 —Que os incrédulos neguem a manifestação das almas, isso se concebe em razão da sua própria descrença. Mas o que estranha é ver aqueles cuja crença repousa precisamente na existência da alma e no seu futuro, se encarniçarem contra os meios de se provar que ela existe, esforçando-se por demonstrar que isso é impossível. Pareceria natural, ao contrário, que os que têm maior interesse na sua existência aceitassem com alegria e como uma graça da Providência o aparecimento dos meios de confundir os negadores por provas irrecusáveis, desde que são eles os negadores da própria religião.
Deploram essas pessoas, incessantemente, a propagação da incredulidade que aniquila o rebanho de fiéis, mas quando se lhes apresenta o mais poderoso meio de combatê-Ia, repelem-no com mais obstinação do que os próprios incrédulos. Depois, quando as provas se multiplicam a ponto de não deixarem nenhuma dúvida, recorrem como argumento supremo à proibição de tratar do assunto, e procuram para justificá-la um artigo da lei de Moisés de que ninguém se lembrava e ao qual pretendem dar, de qualquer maneira, uma aplicação que não pode ter. E ficam muito felizes com essa descoberta, sem perceberem que esse mesmo artigo constitui uma justificação da Doutrina Espírita.
14 —Todos os motivos alegados contra as relações com os Espíritos não podem suportar um exame sério. Do próprio empenho com que se entregam a essa luta pode-se deduzir que a questão envolve grandes interesses, pois do contrário não haveria tamanha insistência. Ao ver esta cruzada de todos os cultos contra as manifestações, poderíamos dizer que eles estão atemorizados. O verdadeiro motivo poderia ser o temor de que os Espíritos, demasiado clarividentes, viessem esclarecer os homens sobre os pontos que eles tentam manter na obscuridade, fazendo os homens conhecerem de maneira precisa o que se refere ao outro mundo e às verdadeiras condições para nele serem felizes ou infelizes.
É por isso que, da mesma maneira que se diz a uma criança: não vá lá porque existe um lobisomem, dizem aos homens: não evoqueis os Espíritos, pois quem atende é o Diabo. Mas não haverá dificuldade: se proibirem aos homens de evocar os Espíritos, não poderão impedir os Espíritos de virem até os homens para tirar a lâmpada debaixo do alqueire.
O culto religioso que estiver de posse da verdade absoluta nada terá a temer da luz, porque a luz fará ressaltar a verdade e o demônio não poderia prevalecer contra a verdade.


2a Parte Da Probição de Evocar os Mortos matéria do Livro Céu e Inferno.


Capítulo XI
Da Proibição de Evocar os Mortos (continuação)
Que esses adivinhos que estudam o céu, que contemplam os astros e contam os meses para fazer predições, que desejam revelar-vos o futuro, venham agora e vos salvem. — Eles se transformaram como em palha e o fogo os devorou; não puderam livrar suas almas das chamas ardentes; não restará do fogo em que se abrasarão nem mesmo os carvões com os quais alguém se possa esquentar, nem fogo ante o qual alguém se possa sentar. — Eis no que se transformarão todas essas coisas, às quais vos entregastes com tanto trabalho; esses comerciantes que negociaram convosco desde a vossa juventude se foram todos, um de um lado, outro de outro lado, sem que se encontre um só que vos livre dos vossos males. (Cap. XLVII, v. 13, 14, 15.)
Nesse capítulo Isaías se dirige aos babilônios, usando a figura alegórica da Virgem filha da Babilônia, filha dos Caldeus. (Vers. l.) Diz que os encantamentos não impedirão a ruína da sua monarquia. No capítulo seguinte ele se dirige diretamente aos israelitas:
Vinde aqui, vós outros, filhos de uma feiticeira, raça de um homem adúltero e de uma mulher prostituída. — Com quem divertistes? Contra quem abristes a boca e lançastes as vossas línguas perfurantes? Não sois os filhos pérfidos e os bastardos rejeitados, vós que procurais vossa consolação nos vossos deuses sob todas as árvores frondosas em que sacrificais os vossos filhos pequenos, nas torrentes, ante a rochas elevadas? — Pusestes a vossa confiança nas pedras da torrente; derramastes licores em sua honra; oferecestes sacrifícios a ela. Depois disso a minha indignação não devia explodir? (Cap. LVII, 3, 4, 5, 6.)
Estas palavras são inequívocas. Elas provam claramente que naquele tempo as evocações tinham por fim a adivinhação, fazendo-se delas um comércio. Estavam associadas às práticas mágicas e supersticiosas sendo até mesmo acompanhadas de sacrifícios humanos.
Moisés, portanto, tinha razão de proibir estas práticas, dizendo que Deus as considerava abomináveis. Aliás, essas práticas supersticiosas sobreviveram até a Idade Média, mas hoje a razão as afugentou e o Espiritismo veio demonstrar que as relações com o além-túmulo têm um sentido exclusivamente moral, consolador e portanto religioso. Desde que os espíritas não fazem sacrifícios de crianças e não derramam licores em homenagem aos deuses, desde que não interrogam os astros, nem os mortos, nem os adivinhos para conhecer o futuro que Deus prudentemente ocultou aos homens, e desde que eles repudiam toda a forma de comércio da faculdade que alguns possuem, de comunicar-se com os Espíritos, não sendo movidos por curiosidade nem por cupidez, mas por um sentimento de piedade e pelo desejo único de se instruirem e se melhorarem e de aliviarem as almas sofredoras, — a proibição de Moisés não se refere a eles de maneira alguma. Para isso é que deviam atentar os que invocam essa proibição contra os espíritas. Se eles aprofundassem melhor o sentido dessas palavras bíblicas, teriam reconhecido que não existe nenhuma analogia entre o que se passava com os hebreus e os princípios atuais do Espiritismo, tanto mais que o Espiritismo condena precisamente tudo o que dera motivo à proibição de Moisés. Mas, cegos pelo desejo de encontrar argumentos contra as idéias novas, não chegam a perceber que essas acusações soam de maneira completamente falsa.
A lei civil dos nossos dias pune os abusos que Moisés queria reprimir. Quando Moisés estabeleceu a pena de morte contra os delinqüentes, era porque necessitava de meios rigorosos para governar um povo indisciplinado. Aliás, essa pena figurava constantemente na sua legislação, porque não havia muito que escolher no tocante aos meios de repressão. Não existiam prisões nem casas de correção no deserto e seu povo não era de natureza a se atemorizar somente com as penas disciplinares. Ele não podia estabelecer as graduações penais, como fazemos em nossos dias.
É errôneo querer-se apoiar na severidade daquele castigo para provar o grau de culpabilidade da evocação dos mortos. Deveríamos, simplesmente por respeito à lei de Moisés, manter a pena capital para todos os casos em que ela a aplicava? Nesse caso, porque reviver com tanta insistência apenas esse artigo, passando em silêncio o começo do capítulo que proíbe aos padres possuir bens terrenos e participar de qualquer herança, porque o Senhor é em si mesmo a sua herança? (Ver. Deuteronômio, cap. XXVIII, v. 1 e 2.)
5 — Há duas partes distintas na lei de Moisés: a lei de Deus propriamente dita, promulgada no Monte Sinai, e a lei civil ou disciplinar apropriada aos costumes e ao caráter do povo. Uma é invariável, a outra se modifica segundo os tempos e não pode passar pelo pensamento de ninguém que tenhamos de ser governados hoje da mesma maneira que os hebreus em sua caminhada através do deserto. Assim também os capitulares de Carlos Magno não poderiam aplicar-se à França do nosso século. Quem pensaria, por exemplo, em reviver hoje este artigo da lei Mosaica: Se um boi chifrar um homem e uma mulher, que venham a morrer disso, o boi será lapidado e ninguém comerá da sua carne, mas o dono do boi será julgado inocente. (Êxodo, cap. XXI, v. 28 e seguintes.)
Este artigo que nos parece tão absurdo não tinha por objetivo punir o boi e inocentar o seu dono, pois equivalia praticamente à confiscação do animal causador do acidente para obrigar o proprietário a ter maior cuidado. A perda do boi representava a punição do dono, que devia ser bastante grave num povo de pastores, impedindo os descuidados de caírem em outra falta. Mas como ela não devia aproveitar a ninguém, era proibido comer a carne. Outros artigos estipulam penalidades para os donos responsáveis.

1a Parte-Da proibição de evocar os mortos matéria do Livro Céu e Inferno.


Capítulo XI
Da Proibição de Evocar os Mortos
1 —A Igreja não nega de maneira alguma a existência das manifestações. Pelo contrário, ela as admite todas, como vimos nas citações precedentes, mas atribuindo-as à intervenção exclusiva dos demônios. É por engano que alguns invocam o Evangelho para as proibir, porque o Evangelho não diz uma só palavra nesse sentido. O supremo argumento que se apresenta é a proibição de Moisés.
Eis em que termos se refere ao assunto a pastoral mencionada nos capítulos precedentes:
Não é permitido entrar em relação com eles (os Espíritos) seja imediatamente, seja por intermédio dos que os invocam e os interrogam. A lei mosaica punia com a morte essas práticas detestáveis, em uso entre os gentios. — Não procureis os mágicos, diz o livro do Levítico, e não façais aos adivinhos nenhuma pergunta, para não incorrerdes na contaminação de vos dirigirdes a eles. (Cap. XIX, v. 31.) — Se um homem ou uma mulher tem um Espírito de Píton ou de adivinhação, que sejam punidos com a morte; serão lapidados e o seu sangue cairá sobre as suas cabeças. (Cap. XX, v. 27.) E no livro do Deuteronômio: Que não haja entre vós pessoas que consultem os adivinhos, ou que observem os sonhos e os augúrios, ou que usem de malefícios, de sortilégios ou de encantamentos, ou quem consultem o Espírito de Píton e quem pratique a adivinhação ou interrogue os mortos para saber a verdade; porque o Senhor considera em abominação todas essas coisas e destruirá com a vossa chegada as nações que cometem esses crimes. (Cap. XVIII, v. 10, 11, 12.)
2 — É conveniente, para compreensão do verdadeiro sentido das palavras de Moisés, lembrar o texto completo, que foi um tanto abreviado nessas citações:
Não vos desvieis do vosso Deus para procurar os mágicos e não consulteis os adivinhos para não vos contaminardes ao vos dirigir a eles. Eu sou o Senhor vosso Deus. (Levítico, cap. XIX, v. 31.)
Se um homem ou uma mulher tem o Espírito de Píton ou um Espírito de adivinhação, que sejam punidos com a morte; eles serão lapidados e o seu sangue cairá sobre as suas cabeças. (Levítico, cap. XX, v. 27.)
Quando tiverdes entrado no país que o Senhor vosso Deus vos dará, guardai-vos de imitar as abominações daqueles povos; — E que não se encontre entre vós quem pretenda purificar seu filho ou sua filha fazendo-os passar pelo fogo ou quem consulte os adivinhos ou observe os sonhos e os augúrios, ou pratique malefícios, sortilégios e encantamentos, ou quem consulte os que têm o Espírito de Píton, e quem se ponha a adivinhar ou a interrogar os mortos para saber a verdade. — Porque o Senhor considera em abominação todas essas coisas e exterminará todos esses povos na vossa chegada, por causa dessas espécies de crimes que eles têm cometido. (Deuteronômio, cap, XVIII, v. 9, 10, 11 e 12.)
3 — Se a lei de Móisés deve ser rigorosamente observada nesse ponto, deve sê-lo igualmente sobre todos os outros, pois como seria ela boa no concernente às evocações e má no tocante a outros assuntos? É necessário ser conseqüente: se reconhecermos que essa lei não está mais de acordo com o nosso costume e a nossa época por alguns motivos, não haverá razão para que o mesmo não aconteça no tocante à proibição de que tratamos.
É necessário que nos reportemos aos motivos determinantes dessa proibição, motivos que tinham na ocasião a sua razão de ser, mas que hoje seguramente não existem mais. O legislador hebreu desejava que seu povo rompesse com todos os costumes trazidos do Egito, onde as evocações eram usadas de maneira abusiva como o provam estas palavras de Isaías: "O Espírito do Egito se aniquilará por si mesmo e eu precipitarei o seu conselho; eles consultaram os seus ídolos, os seus adivinhos, as suas pitonisas e os seus mágicos." (Cap. XIX, v. 3.)
Além disso, os israelitas não deviam contrair nenhuma aliança com as nações estrangeiras. Eles iriam encontrar as mesmas práticas entre esses povos a que se dirigiam e que deviam combater. Moisés devia, assim, por motivos políticos, inspirar ao povo hebreu a aversão por todos os seus costumes que tivessem pontos de contato com os assimilados no Egito. Para motivar essa aversão devia apresentar esses costumes como reprovados pelo próprio Deus. Eis porque ele dis se: "O Senhor considera em abominação todas essas coisas e destruirá, na vossa chegada, as nações que cometem esses crimes."
4 — A defesa de Moisés era tanto mais justificada quanto os mortos não eram evocados em virtude do respeito e da afeição por eles, nem por um sentimento de piedade, mas para fins de adivinhação, da mesma maneira que se consultavam os augúrios e os presságios, explorados pelo charlatanismo e a superstição. Por mais que fizesse, entretanto, não conseguiu arrancar do povo esses costumes que se haviam transformado em objeto de comércio, como o atestam as seguintes passagens do mesmo profeta:
E quando eles vos disserem: Consultai os mágicos e os adivinhos que murmuram nos seus encantamentos; respondei-lhes: cada povo não consulta o seu Deus? E deve-se falar aos mortos do que respeita aos vivos? (Isaías, cap. VII, v. 19.)
Sou eu que faço ver a falsidade dos prodígios da magia, que tornam insensatos os que se atrevem a adivinhar, que transtorna o Espírito dos sábios e converte em loucura a sua ciência vã. (Cap. XLIV, v. 25.)