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domingo, 30 de dezembro de 2012

DEUS


"Pai, santificado seja o Teu nome, venha o Teu reino". - (Lucas, 11:2)
Como definir Deus? Escasseiam-nos as palavras, vagueiam-nos as expressões, deixando-nos sem possibilidade de confïgurá-Lo em toda a Sua grandeza, em toda a Sua Majestade.

Debalde os homens procuram defini-Lo, enaltecendo Seus atributos, destacando ser Ele eterno, imutável, onipotente, onisciente, soberanamente justo e bom, completando com um interminável cortejo de qualificativos, no qual se salienta ser Ele o Criador de todas as coisas e o Arquiteto do universo e da vida.

Entretanto, a despeito de todos esses atributos, falecem-nos meios de expressar tudo aquilo que Ele realmente é, pois a pobreza da linguagem humana carece de terminologia para propiciar uma visão ampla a clara de tudo o que aureola o Seu santo nome.

Os nossos antepassados, confundindo Jeová com Deus, emprestavam-Lhe caracteres profundamente humanos, afirmando inclusive que Ele havia criado os homens à sua imagem e semelhança. Os antigos hebreus viam em Jeová - uma deidade tribal - o deus do universo e da vida, porém, aureolavam-no com propensões de natureza humana: uma entidade repleta de rancor, de parcialidade, de sentimentos de vingança, tendo mesmo chegado a promovê-Lo a "Senhor dos Exércitos", sempre pronto a fulminar com o furor de sua ira os inimigos do povo judeu, esquecendo-se de que eles também eram Seus filhos.

Em passado menos longínquo, no negro período da Idade Média, "Deus", além de ser o "Senhor dos Exércitos", transformou-se num tirano que se deleitava com o cheiro de carne assada
das vítimas da chamada "Santa Inquisição", que se comprazia con as lutas fratricidas e sanguinolentas das chamadas "santas" cruzadas, ou com o massacre indiscriminado, de supostos hereges, com maior destaque aquele ocorrido na noite de São Bartolomeu (24 de agosto de 1572), quando, na França, foram mortos cerca de 50.000 huguenotes (protestantes), dentre eles homens, mulheres e crianças.

Nos dias atuais, ainda prevalece a imagem de um "Deus" zeloso, parcial e vingativo, que continua a condenar Seus filhos às "penas eternas", a um clamoroso inferno, abominando Suas próprias criaturas, entregando-as ao domínio de um utópico Satanás chefe dos abismos infernais, como jamais o faria um pai terreno.

Debalde os materialistas apregoam que Deus não existe, pois a obra de Deus é manifesta em tudo o que existe no universo. Muitos homens dizem que Deus é a Natureza, esquecendo-se de que, na realidade, a Natureza é também uma obra de Deus.

A grandiosidade da obra de Deus se revela quando contemplamos o firmamento com os seus milhões e milhões de astros gravitando no espaço infinito, bem como a Sua criação dos reinos mineral, vegetal, animal e hominal.

Admiramos Deus quando nos revela o Seu incomensurável amor, fazendo descer à Terra o seu Filho amado, para nos trazer a imorredoura mensagem evangélica. O seu Ungido, a fim de poder consolidar, entre os homens, os Seus sublimes ensinamentos, deu a própria vida, no cimo do Calvário, abalando os corações humanos através dos séculos.

Afirmou Jesus Cristo que Deus faz o sol aquecer bons e maus,
e a chuva beneficiar justos e injustos, porque todos são Seus filhos amados, enredados num perene processo evolutivo.

Proclamou, também, o Mestre, que Deus simboliza o pai da Parábola do Filho Pródigo, sempre pronto a receber, de volta, a seu seio, o filho transviado, da mesma maneira como o bom pastor recebe com indescritível gozo as ovelhas perdidas que voltam ao aprisco.

Jesus Cristo nos revelou Deus como sendo o Pai generoso que veste os lírios dos campos e que sustenta os pássaros dos Céus, da mesma forma como provê as necessidades dos homens, que jamais devem duvidar da Sua justiça e do Seu amor paternal.

No célebre colóquio com a Mulher Samaritana, Jesus Cristo sustentou que o Pai quer ser adorado em espírito pelos verdadeiros adoradores, o que implica em dizer que as adorações exteriores, ou o culto externo, são pueris e inócuos, tendo pouco ou nenhum valor aos olhos do Criador.

Afirmou, ainda, o Mestre Nazareno que somente Deus é bom, o que significa dizer que mesmo o Mestre dos Mestres se considerava distanciado da Sua perfeição.

Alguns cristãos, do início da nossa era, não sabendo como definir Deus, nem conciliar com a verdade alguns ensinamentos de Jesus Cristo, outorgaram ao Criador um aspecto tríplice, sustentando ser Ele uma entidade trina, sendo simultaneamente Pai, Filho e Espírito Santo, mesclando, assim, o que é eterno, imutável, com o que é criado e sujeito à evolução.

Deus é o nosso Pai celestial, que cobre com os Seus amor incomensurável tudo aquilo que foi por Ele criado; e, em nosso modo de ver, não existem palavras que possam expressar toda a Sua grandeza e a extensão dos Seus poder e glória.
Paulo A. Godoy

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 38

 
“Para me servir de uma expressão corrente, direi: pela sua Vontade. Nada caracteriza melhor essa vontade onipotente do que estas belas palavras da Gênese - “Deus disse: Faça-se a luz e a luz foi feita.”
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Comentários de Miramez
 
As coisas, desde os átomos até os acúmulos de galáxias, fazem-se e desfazem-se pela vontade divina, em uma ação contínua, sem que haja princípio nem fim nas deliberações humanas. Os números dominados pela inteligência humana são fracos para essa contagem de ordem transcendental, que somente opera nas linhas dos segredos de Deus. Se queres saber como Deus criou o Universo, terás de estudar a existência da própria criação e, enquanto isso não ocorre, deves contentar-te com a inspiração de Moisés, na Gênese, que ainda vigora até o presente momento: Faça-se a luz! E a luz foi feita. Gênese 1:13. É muita pretensão dos homens, mesmo dos que transitam na ciência, quererem compreender os detalhes do modo que usou a Divindade, para que tudo surgisse na extensão infinita da vida.

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 37

A.K.: Diz-nos a razão não ser possível que o Universo se tenha feito a si mesmo e que, não podendo também ser obra do acaso, há de ser obra de Deus.

Comentário de Miramez

 
É tão amplo o campo de conhecimento na Terra, que está para nascer nela um homem que conheça todas as coisas em um só conjunto de sistema doutrinário. As divisões existentes em tudo o que se sabe, são para facilitar a compreensão de tudo que se quer aprender. E neste sentido que a medicina, o direito, a mecânica, a religião e a própria cultura se dividem em variadas especialidades. Tudo se divide para ser melhor compreendido e disseminado e para entendermos melhor. Se enchêssemos um saco de letras do alfabeto, nunca entenderíamos o seu grande objetivo, ao passo que se as ordenarmos com inteligência, divididas na harmonia que a mente determina, compreenderemos a sua incomparável missão de instruir as criaturas. Deus dividiu o seu saber pelas leis que determinou, e fez nascer o universo.
 

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Deus e os Deuses




Herculano Pires/ Livro: Concepção Existencial de Deus

O Deus judeu, exclusivista e autoritário, definiu-se na Bíblia com esta afirmação: Eu sou aquele que é. Os homens já percebiam, então, que a multiplicidade dos deuses era contraditória em si mesma, militava contra a idéia de Deus. Se Iavé ou Jeová se apresentava como o Único, sua posição era lógica e respondia às exigências de coerência do novo pensamento que se desenvolvia em Israel e no mundo. Mas o exclusivismo de Iavé parecia demasiado arrogante. O poder esmagador de Júpiter, que através das legiões romanas ameaçava dominar o mundo inteiro, não deixava lugar para esse deusinho petulante de uma pequena província do Império. Caberia, talvez, a Zeus, senhor do Olimpo, que levara os gregos a um desenvolvimento cultural sem precedentes, impor-se como Deus único. Mas quando o Messias judeu, Jesus de Nazaré, adoçou a arrogância judia chamando Iavé de Pai, abriu-se a possibilidade de uma aceitação universal do monoteísmo hebraico. O desenvolvimento posterior do Cristianismo, facilmente infiltrado nas populações subjugadas do Império Romano, provou a eficácia da intervenção messiânica. Todos os deuses foram perdendo os seus adeptos para aquele Deus desconhecido com o qual o Apóstolo Paulo identificara Iavé em Atenas.
Kerchensteiner, em notável estudo, analisou em nossos dias a fisiologia do mito, mostrando as leis que regem o processo mitológico. Os deuses não foram inventados pelos homens, como querem as teorias simplórias de Taylor e Spencer, ainda hoje sustentadas até mesmo pelo chamado materialismo científico. Os mitos nascem do seio da Mãe-Terra, evocados pelo coração dos homens, e sobem aos céus escalando montanhas ou nos vapores d’água que se acumulam na atmosfera. Daí a facilidade com que se tomava a nuvem por Juno ou o relâmpago por Júpiter. Da Terra-Mãe surgem as pedras e os rios, as matas e os animais e, por fim, os homens. Mas os homens trazem a idéia de Deus no coração e possuem a capacidade mental de projetar-se nas coisas e nos seres. A dinâmica do animismo primitivo gera a floração dos deuses que protegem os povos. Mas os deuses particulares, das tribos e depois das nações, nada mais são do que a fragmentação ilusória da unidade primitiva e irredutível. Assim como, partindo das coisas isoladas – a terra, a água, os vegetais, os animais, etc. – os homens vão depois descobrindo a unidade da realidade indivisível, pois a realidade é uma só, formada de inumeráveis conjuntos, assim também a multiplicidade dos deuses tribais vai aos poucos se fundindo nas pequenas unidades do sistema solar e à unificação atual do Cosmo, maiores das mitologias nacionais. O homem finito não pode conceber o infinito como uno e absoluto senão através das experiências do real. A unificação da idéia de Deus precedeu à unificação copérnica da unidade do sistema solar e a unificação atual do Cosmo, como exigência primária do desenvolvimento da razão. Por isso os gregos anteciparam o monoteísmo no plano filosófico, pelo qual Sócrates teve de pagar o preço da taça de cicuta. Mas a unidade religiosa só foi possível na reforma do Judaísmo por Jesus de Nazaré, que os gregos apoiaram chamando-o de Cristo (um nome grego) e que teve de pagar um preço mais alto com a crucificação romana. Os homens partem das coisas mínimas para chegarem pouco a pouco às máximas. O mito é, ao mesmo tempo, a projeção da alma humana nas coisas e a absorção das coisas pelo poder anímico do homem. A mitologia não foi também a invenção gratuita dos deuses pela imaginação dos homens, nem a busca de proteção ante a insegurança da vida precária, mas a tentativa necessária de racionalização do mundo. Superando o sensível da teoria platônica, os homens converteram o mundo num organismo vivo e inteligível, através dos mitos. O Olimpo se assemelhava às cortes dos Soberanos terrenos, com a hierarquia humana de funções e poderes, não por imitação, mas porque somente assim os homens poderiam compreender o mistério do mundo. Não foi o medo, mas a curiosidade que gerou os deuses. A prova histórica disso está na teoria diltheiana do caldeirão medieval, onde, só naquela fase específica da teocracia medieval a Razão se fundia numa peça única, destinada à preparação do Renascimento como Idade da Razão.
A embriaguez racional, como acontece aos indivíduos na passagem da mitologia infantil para o alvorecer racional da puberdade e da adolescência, levou os homens à rebeldia dos primeiros tempos de liberdade, geradora do ateísmo e do materialismo. O desenvolvimento das Ciências segue os rumos da crise da adolescência, no esquema do famoso estudo de Maurice Debesse. Os homens do Renascimento, do Mundo Moderno e até mesmo do Mundo Contemporâneo portaram-se como adolescentes no chamado conflito de gerações. Já agora, porém, nas vésperas da Era Cósmica, os achados do Renascimento precisam ser revisados, para que a problemática humana seja respondida em termos de razão; mesmo porque é na razão que temos a imagem de Deus no homem, não em sua forma corpórea, que o assemelha aos símios. A concepção antropomórfica de Deus foi uma traquinagem da Humanidade adolescente. Essa traquinagem se justifica em seu tempo, como simples ensaio religioso para uma tentativa posterior de colocação da idéia de Deus em termos racionais. Kardec, em seu livro O Céu e o Inferno, comparando a mitologia greco-romana com a mitologia cristã, mostrou as incongruências tipicamente adolescentes da reformulação teológica da idéia de prêmio e castigo após a morte. O Céu cristão aparece ingênuo e fantasioso como um sonho de meninotes e o Inferno cristão impiedoso e injusto como uma descrição de terrores infantis. Tão mais impiedoso e desarrazoado é esse inferno do que o pagão, que chegamos a rir das graves proposições teológicas formuladas por teólogos e clérigos eminentes.
O poder temporal da Igreja, que submeteu ao seu arbítrio as cortes européias, estendendo-se depois a todas as áreas mundiais da conversão, impediu a análise dessas criações monstruosas e incentivou o desenvolvimento do ateísmo e do materialismo. O panteísmo de Espinosa foi a única reação madura aos absurdos teológicos, colocando a concepção monoteísta em termos realmente racionais. Mas a posição panteísta incide no erro de confundir a Criação com o Criador, o que diminuiu a eficácia da proposição espinosiana. O campo continuou livre para o materialismo.
Espinosa teve o mérito de desfazer o engano da concepção antropomórfica da Bíblia e substituir o símbolo da criação alegórica do homem numa proposição filosófica de integração cósmica da criatura humana. A orgulhosa pretensão de separatividade e privilégio, que ainda hoje é pregada nos seminários de várias igrejas cristãs, foi esmagada pela sua inteligência. O homem, simples modo ou afecção da substância terrena, nas muitas manifestações do poder divino, brota da natureza como todas as coisas e a ela volta com a morte. Mas nem por isso o seu panteísmo caiu no materialismo. A Natureza naturata representa a Criação, é natureza sensível. Mas por baixo do sensível existe o inteligível, que é a Natureza naturans, o próprio Deus, fonte geradora de toda a realidade. Deus é imanente no mundo e todas as coisas e todos os seres nascem dele, como as fontes e os vegetais. A exposição matemática de Espinosa em A Ética faz desse pequeno judeu excomungado o restaurador da grandeza moral e espiritual do judaísmo. Os rabinos esbravejaram nas sinagogas, mas ele arrancou da sua fé judaica independente uma contribuição heróica para a concepção existencial de Deus que apareceria mais tarde na obra de Kardec.
Na Antigüidade encontramos algumas posições que podem ser consideradas precursoras da posição espinosiana. Encontramos na China o conceito do Tao, que gerou o Taoísmo, em que o Céu é o próprio Deus e ao mesmo tempo o caminho da redenção; na Pérsia arcaica a proposição dinâmica de Zoroastro, que toma o fogo como a única imagem possível de Deus; em Pitágoras, na Grécia arcaica, a visão cósmica de um Universo integrado em que os reinos da Natureza permutam incessantemente as suas energias, inclusive o humano; e, ainda, entre os gregos a concepção isoloísta da Terra como um ser vivo e gerador de vida. A Música das Esferas, girando no Infinito, podia ser captada pelos ouvidos sensíveis e dava a essa concepção o valor estético de uma criação musical. Nenhuma dessas concepções elevadas, entretanto, conseguiu socializar-se e conquistar o povo. Foram clarões da inteligência humana que não comoveram o homem, o que Jesus de Nazaré conseguiu, transformando o mundo, não obstante as igrejas nascidas do seu pensamento o houvessem deturpado com incríveis enxertos do mais primário paganismo. O próprio Jesus foi transformado num mito em que há pinceladas fortes de Apolo e Osíris. Ritos simplórios das religiões pagãs, como as bênçãos de aspersão (de origem fálica) perderam a sua naturalidade ingênua e pura e se transformaram em ritos sofisticados e desprovidos de seu sentido genético. Igrejas pagãs foram transformadas pela força e embuste em templos cristãos, como a igreja rústica da deusa Lutécia, em Paris, sobre a qual foi erguida mais tarde a Catedral de Notre Dame, que guarda em seu porão os restos da igreja pagã.
Os herdeiros do Cristianismo primitivo sufocaram as práticas mediúnicas de que o Apóstolo Paulo dá notícias em sua I Epístola aos Coríntios, asfixiaram as manifestações do espírito (o pneuma grego), introduziram altares e imagens no culto cristão e negaram o princípio da reencarnação constante de vários trechos dos Evangelhos. Ao invés de desenvolverem a concepção cristã de Deus, restabeleceram a concepção mitológica de Iavé como Deus dos Exércitos e voltaram à violência bíblica que Jesus havia substituído pelo amor e a caridade, implantando as guerras de conquista em nome do Deus judaico antigo, chegando mesmo a adotar a imagem de um Deus iracundo e cruel, vingativo e ordenador de matanças e devastações do tipo bíblico da conquista de Canaã.
O Deus mitológico dos judeus absorveu em sua concepção, como Deus do Cristianismo deformado, os deuses da Antigüidade mais violentos, num processo de sincretismo religioso até então sem precedentes. Todas essas deturpações vingaram entre as populações incultas da Europa, a partir do século IV da Era Cristã, asfixiando a essência dos ensinos renovadores do Cristo e criando condições propícias para a revolta do ateísmo e do materialismo que explodiria na Era da Razão, após a Idade Média. A unicidade de Deus, que devia ampliar e elevar o conceito de Deus no mundo, transformou-se na multiplicidade dos deuses, no politeísmo dos altares carregados de imagens destinadas à adoração dos crentes interessados em milagres e no comércio de indulgências. A Reforma do século XVI, iniciada por Lutero, com objetivo de retorno ao Cristianismo puro, foi também desfigurada pela influência de inovadores violentos, como Calvino, apegado à violência bíblica.
Apesar de todas essas deformações, o Cristianismo, particularmente após a Reforma de Lutero e a publicação dos Evangelhos em línguas populares de várias nações, contribuiu poderosamente para modificar a selvageria dos homens; porque os princípios cristãos, vividos por clérigos humildes e humanos como Francisco de Assis e outros, conseguiram tocar os corações sensíveis em todo o mundo.Victor Hugo, em seu Prefácio de Cromwell, considerado como manifesto do romantismo, traçou em pinceladas ardentes a modificação profunda que o Cristianismo conseguiu, apesar de todos os percalços, promover no pensamento europeu, com reflexos mundiais. O conceito de Deus como o Pai era tão poderoso, correspondia de tal maneira aos anseios de populações cansadas de guerras e violências, que conseguiu superar os malefícios, embora em parte, das adulterações ocorridas em dois mil anos e ainda hoje em desenvolvimento. Essa constitui uma prova altamente significativa, na dura experiência religiosa da Terra, da importância do conceito de Deus para a evolução planetária. Por isso, apesar de tudo, podemos ainda esperar que o restabelecimento progressivo, lento e difícil, da pureza dos ensinos de Jesus, juntamente com o avanço cultural e científico do nosso tempo, que leva a Ciência à necessária conversão, prepare nos próximos séculos condições mais favoráveis à espiritualização racional da Terra. A razão conturbada por tantos absurdos deverá restabelecer-se em seus fundamentos espirituais, pois quem diz razão não se refere à matéria, mas ao espírito. Apesar das confusões materialistas a respeito de cérebro e mente, já se começa a compreender essa coisa tão simples e clara: que a razão é função do espírito e, como assinalou Rhine, que o pensamento é uma energia extrafísica. Enquadrando-se nessa nova perspectiva e conceito existencial de Deus, é possível que a guerra nuclear desapareça com o advento das novas gerações, libertas dos prejuízos do passado e do presente. É sempre melhor pensar no melhor.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

No Limiar do Amanhã / A comunicação com Deus



A comunicação com Deus

Herculano Pires

“O Espiritismo é uma doutrina racional e científica, mas adota a prece e o passe e se diz continuador do Cristianismo. Vejo nisso uma tremenda contradição. O que o senhor me diz?”
Não há contradição nenhuma. Quando o Espiritismo se diz uma doutrina racional e científica, ele se pauta através dos seus princípios. Basta ler O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, a obra fundamental do Espiritismo, para certificar-se de todas as questões científicas e de pesquisas, de acordo com os princípios da doutrina. Então, a Doutrina Espírita é realmente racional e científica.
Quanto à prece, ela não é irracional. Pode ser irracional para, por exemplo, os selvagens, que pronunciam a prece sem saber o seu significado. Assim, a formulam, impulsionados pelas emoções de momento. Mas quando uma pessoa já tem o desenvolvimento mental para entendê-la, ela é uma forma de comunicação, e a forma de comunicação não é, absolutamente, mágica ou supersticiosa. Ela existe em todos os campos.
Há dois tipos de comunicação humana:
1)    a comunicação horizontal, ou seja, no plano social, de homem para homem, entre as criaturas humanas;
2)    a comunicação vertical, isto é, com as entidades espirituais e com Deus.
O homem pode, inclusive, falar com Deus, quando dirige a Ele, por exemplo, a prece do Pai Nosso, repetindo aquelas palavras que Jesus deixou, no Evangelho. Essa comunicação é racional, pois o Pai Nosso traduz uma série de pedidos, de solicitações, que correspondem exatamente às nossas necessidades humanas. Tentamos, então, nos comunicar com Deus. E Deus nos ouve. Há essa comunicação com aquele que sabe usá-la, compreendendo o seu sentido e o seu alcance.
A prece dos espíritas não é dirigida somente a Deus, mas a todos os bons Espíritos, que podem não ser angélicos, mas são bons. São Espíritos de criaturas boas, que viveram na Terra, que vêm nos auxiliar, porque são nossos amigos. Todos nós, como dizia o apóstolo Paulo, temos as nossas testemunhas, que são os Espíritos que se aproximam de nós, os que são simpáticos a nós, por isso, vêm nos auxiliar; ou aqueles que nos detestam e que procuram nos atingir e prejudicar-nos. Mas todos eles estão à nossa volta e há aqueles que nos ajudam e nos defendem da maldade daqueles que nos detestam. Então, quando dirigimos a nossa prece a esses Espíritos, estamos quase na própria comunicação horizontal, de criatura humana para criatura humana, porque eles estão ao nosso redor e convivem conosco na Terra.
A prova de que isso não é uma superstição está, por exemplo, nas pesquisas atuais da parapsicologia, principalmente no campo da transmissão do pensamento. Por que é que a Rússia, neste momento, investiga com tanto interesse esse assunto, pois a Parapsicologia não cuida de problemas materiais, mas daqueles fenômenos paranormais, que se passam fora daquilo que é considerado material, na vida terrena? Por que os Estados Unidos empenham-se em verdadeiras campanhas, no sentido do desenvolvimento das pesquisas parapsicológicas? Por que há uma verdadeira corrida parapsicológica, entre os Estados Unidos e a União Soviética? Porque as experiências científicas já demonstraram essa coisa extraordinária, para todos aqueles que podem pensar um pouco a respeito.
A prece não é, absolutamente, um elemento mágico. É uma realidade no campo das comunicações, hoje em dia. Na Universidade de Moscou, por exemplo, a telepatia figura nas escolas de comunicação, como pertencente ao campo das comunicações biológicas.
Quanto ao passe, no Espiritismo ele não é considerado como uma varinha mágica. É como um elemento que permite a transmissão de energias vitais do passista. Essa transmissão de energias vitais está provada em pesquisas, na Rússia e Estados Unidos, sobre a aura humana e a aura das coisas, de acordo com o sentimento das criaturas, com a posição mental da pessoa, das suas emoções. Há variações não só na intensidade, como no colorido da aura.
A alma representa a energia vital do homem, que pode extravasar-se pelo corpo e que forma, então, essa aura verdadeiramente de luminosidade, em torno da pessoa. A aura existe, também, nos objetos, na pedra, no vegetal, porque todos os seres são dotados dessa energia íntima, que determina a sua expressão luminosa, além dos limites da estrutura material.
Assim, o passe é considerado uma transmissão energética, de uma pessoa para outra. Esse passe é mais poderoso quando auxiliado por uma entidade espiritual. Porque ocorreram, muitas vezes, a fraqueza das energias. Não há, portanto, nenhuma contradição no Espiritismo, ao se dizer racional e científico e admitir a prece e o passe.

No limiar do amanhã / Deus



Herculano Pires

“Ouvimos uma apresentadora de TV dizer que Deus é estático, porque é perfeito. E que toda perfeição é estática. Tenho a minha opinião, mas gostaria de ouvir a sua.”
A concepção da apresentadora, de que Deus é estático porque é perfeito, está atrelada, por assim dizer, à nossa lógica humana. Há uma lógica, determinada praticamente pelas concepções do século XVIII. Já no século XIX e nos fins do século XVIII tinha-se uma concepção diferente.
A perfeição não é estática. Perfeito não é aquilo que está acabado. Pode haver uma perfeição naquilo que está iniciado. É um início perfeito, naquilo que está em desenvolvimento, rumo àquilo que Kant chamava de “a perfectibilidade possível” de cada Ser. Assim, há na perfeição um dinamismo e uma estática. Há um dinamismo constante, porque a perfeição implica o processo de desenvolvimento das potencialidades do Ser.
No campo do homem, por exemplo, isto se torna bem claro. O homem aparece na Terra nos tempos primitivos, como selvagem, como quase um animal. Entretanto, ele traz, dentro de si, todas as potencialidades da sua perfeição. Ele é, portanto, perfeito em potência, isto é, potencialmente ele é perfeito; à proporção que se vai desenvolvendo, através das vidas sucessivas, na renovação das gerações, na humanidade, essas potencialidades vão se manifestando. Então nós dizemos: “Fulano é uma criatura imperfeita, ainda em desenvolvimento”. Mas esta é uma concepção humana. Para Deus, aquele fulano, que está em desenvolvimento, é perfeito, porque ele traz em si todos os elementos da perfeição, que estão apenas aflorando, desenvolvendo-se, maturando-se, amadurecendo, para chegar, enfim, a um ponto determinado, que nós humanos consideramos a perfeição, mas que ainda não é a perfeição, para Deus.
Para Deus, a perfeição é um incessante evoluir. Ela não está, de maneira alguma, em algo que se fez e se completou. Por isso, costumo dizer que as pessoas que dizem “Eu sou um homem que realmente me realizei”, se soubessem o que quer dizer a realização das potencialidades internas do Espírito da criatura humana, nunca usariam esta expressão. Um homem realizado, uma criatura realizada, seria uma criatura que não teria nada a realizar, não teria nada a fazer, estaria completa em si mesma.
Diz o filósofo Heidegger, uma das mais altas expressões do pensamento contemporâneo, que “o homem só está completo quando morre”. A passagem do homem pela vida é uma constante transformação, um constante evoluir. Assim, nós só podemos considerá-lo completo na morte, porque aí termina a sua vida de homem. Então este homem, que não é mais homem como criatura encarnada, mas um Espírito, irá prosseguir, continuando o desenvolvimento das suas potencialidades.
Deus é um renovador constante, incessante. Por exemplo: vamos a uma imagem que talvez nos dê uma idéia mais concreta, mais precisa disto, quando Zoroastro, na Pérsia – fundador da religião chamada, hoje, Madzeista, dando uma idéia de Deus aos seus adeptos, disse: “A única imagem possível de Deus, na Terra, é a do fogo. O fogo está continuamente se renovando, através das suas labaredas. O fogo produz a luz e afugenta as trevas, quando os selvagens precisam afugentar as feras que, no mato, os rodeiam, os rondam”.
Para Zoroastro, a única imagem perfeita de Deus é o fogo. E então, o que fizeram os homens? Passaram a usar o fogo.
Quando vemos velas acesas em algum lugar, no sentido devocional; quando vemos lâmpadas acesas, nos altares das igrejas, estamos diante de uma transposição do Zoroastrismo para outras religiões. Ou, em outras palavras, da adoração do fogo, da simbologia do fogo, presente nas manifestações religiosas.
Esta concepção de Zoroastro nos dá o exemplo concreto do que seja aquilo que poderemos imaginar como constante e incessante dinâmica da existência de Deus, se poderemos chamar assim; da sua vivência como uma inteligência, que é o centro de todo o Universo, que controla toda a movimentação dos astros, das galáxias, do espaço infinito. Deus é um dinamismo constante. Não poderia ser, portanto, estático, de maneira alguma.