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domingo, 16 de dezembro de 2012

Os "obsessores", gente como a gente."(...)Creio que é em Emmanuel que a gente lê que o ódio é o amor que enlouqueceu.."

Os "obsessores", gente como a gente

Hermínio C. Miranda
Qualquer abordagem à complexa problemática da obsessão deve começar, a meu ver, com uma atitude preliminar de humildade e amor fraterno. Ainda que isto possa parecer mera pregação com um toque de falsa modéstia, não é nada disto. A humildade constitui ingrediente indispensável a qualquer tarefa de natureza mediúnica, dado que é ainda bastante limitado o conhecimento dessa preciosa faculdade humana. Temos de nos apresentar diante da tarefa com a honesta intenção de aprender com o seu exercício, ainda que, paradoxalmente, munidos de todo o conhecimento teórico que for possível adquirir previamente. Quando a gente pensa que já sabe tudo sobre mediunidade, eis que ela se revela sob aspectos que ainda não tínhamos percebido ou apresenta facetas desconhecidas e aparentemente inexplicáveis. É como se cada sessão tivesse uma espécie de individualidade diferente de todas as demais, ainda que semelhante em suas características básicas. tal como as pessoas, ou seja, tão iguais umas com às outras e, ao mesmo tempo, tão diferentes.
E por falar em pessoas, vamos colocar a segunda preliminar, a de que o trato com a obsessão deve ser iluminado pelo amor fraterno. Por uma razão tão simples e óbvia que parece infantil, mas que se põe como de vital importância para o bom êxito do trabalho pretendido, ou seja, a de que os espíritos são gente como a gente. E gente que sofre e que, portanto, precisa de compreensão e paciência. São pessoas em conflito consigo mesmas e, portanto, com outros, com o mundo, com a vida , com Deus e com o próprio amor. Creio que é em Emmanuel que a gente lê que o ódio é o amor que enlouqueceu.. É verdade e tanto é verdade que mesmo este amor enlouquecido ainda é amor; como temos tido oportunidade de observar tantas vezes.
Lembro-me de um caso desses em que foi por esse caminho que encontrei o acesso que buscava ao coração do manifestante enfurecido daquela noite. Sua desesperada indignação dirigia-se a uma mulher que, aparentemente, manipulara impiedosamente suas emoções no passado. Chegara para ele a hora da vingança e ele a exercia com toda a força de seu ódio, tentando convencer-se de que o fazia com o maior dos prazeres. Agora, sim, tinha-a em seu poder! Sustentava-se no rancor secular e era isso mesmo que ele dizia. Sem aquele ódio, não seria nada nem ninguém, pois aquilo acabara constituindo a razão de ser de sua existência. Em situações como essa, o ódio e o ilusório prazer da vingança funcionam como biombos atrás dos quais a gente esconde, pelo menos por algum tempo, as próprias frustrações e procura abafar a voz incorruptível da consciência. Enquanto procuramos cobrar faltas cometidas contra nós, esquecemos dos nossos crimes e afrontas à lei divina.
Esse era o cenário e esse era o drama que tínhamos diante de nós. Que estava ele na posição de um obsessor, estava. Não se importa se assim o considerássemos. A vingança, no seu entender, era direito que ninguém poderia contestar-lhe. "Ela não errou? A lei não diz que somos todos responsáveis pelos atos que praticados? E não diz mais que quem fere com a espada, com a espada será ferido? Esta aí no seu evangelho!", dizem os vitoriosos. "Ela é uma peste. Você nem imagina como aquela mulher é ruim! E agora que estou aqui, cobrando minha parte, vem vocês com peninha dela! E sabe de uma coisa? Não se meta nisso não. O caso é comigo. Deixa que eu resolvo!"
Esse é o tom. Como fazê-lo mudar, não apenas o discurso, mas o procedimento, a maneira de avaliar a situação e de redirecionar suas emoções em tumulto? E perguntam, às vezes: "Você não acha que eu tenho razão?" Até que sim, se examinarmos o problema na estreiteza do seu contexto pessoal. É compreensível o rancor, gerado por uma dolorosa decepção com a pessoa em quem confiou e à qual entregou seu próprio coração e até sua vida. Mas esse espaço mental é exíguo demais para se colocarem todos os dados do problema. A vida não é uma só, a lei não é punitiva, mas educativa, e, acima de tudo, não há sofrimento inocente, a não ser nos grandes lances do devotamento ao próximo, nas tarefas missionárias. Por outro lado, se a lei permite ou tolera a vingança, embora não a aprove jamais, é porque aquele que erra se expõe à correção. Os obsessores mais experientes, sabem que somente conseguem cobrar aquilo que têm como crédito pessoal, precisamente porque, segundo ensinou o Cristo, o "pecador se torna escravo do pecado" e não sai de lá enquanto não pagar até o último centavo, ou seja, enquanto restar um reclamo na sua própria consciência. Não é preciso que ninguém cobre, mesmo porque a dívida é com a lei, representada em cada um de nós no silêncio da intimidade, mas o vingador não quer saber de tais sutilezas.
Todo aquele que se expõe ao duro retorno do reajuste pode estar certo de haver-se atritado com alei anteriormente. A conclusão lógica e inescapável é a de que, quando o nosso querido passou pelo dissabor de uma traição ou do abandono, estava na fase de retorno, na sofrida simetria de seus equívocos anteriores. Isto, porém, nunca estamos prontos para admitir quando nos encontramos na dolorosa postura do obsessor. Achamos, então, que esta é a nossa vez. Que perdão, nada! Sempre que perdoei me dei mal, costumam dizer. Vence, no mundo, aquele que grita, impõe e domina, não o que abaixa cabeça e marca a si mesmo com o carimbo da covardia.
Em suma: o nosso querido obsessor não era diferente de nenhum de nós, ainda prisioneiros de paixões milenares que repercutem e ecoam de século em século e vão aos milênios. É um ser humano, uma pessoa, gente como a gente. O que ele deseja, embora nunca o admita espontaneamente, é que tenhamos paciência para ouvi-lo, compreendê-lo, cuidar da sua dor, ainda que, conscientemente, também não a reconheça. Por isso após todo o seu catártico destampatório, ele se mostrava convicto de estar coberto de razão e, por isso, vitorioso no seu valente debate com o grupo. Só nesse ponto, contudo, tinha alguma condição para nos ouvir. Até então fora dono absoluto da palavra, dos argumentos, da indignação, da situação, enfim. Ele perseguia a moça porque queria e porque podia fazê-lo e estamos conversados.
Estava, portanto, dando a conversa por encerrada e pronto para retomar logo sua tarefa de ficar à espreita da sua vítima, como o gato que vigia o rato, no preciso e curioso dizer de Kardec.
É nesses momentos, contudo, que a inspiração parece funcionar melhor e, por isso, nosso doutrinador comentou, como quem apenas dá conta de um fato óbvio por si mesmo: "Isto tudo quer dizer, então, que você ainda a ama, não é? Recuperado do momentâneo aturdimento, ele teve a honestidade e a bravura de reconhecer que sim, ainda a amava, a despeito de tudo. Tínhamos chegado, afinal, ao seu coração, ao âmago da sua angústia, ao núcleo de suas dores e até de suas esperanças. E mais uma vez tínhamos diante de nós não um implacável obsessor convencido do seu legítimo direito de cobrar uma falta cometida contra si mesmo, mas um ser humano igualzinho a nós, sofrido, solitário, perdido na sua dor, mas principalmente, no seu ódio que, afinal de contas, não passava de um grande e inesquecível amor enlouquecido. Pois não é isso mesmo que aconteceu com a gente? Ou já aconteceu? Não é um irmão(ou irmã) que ali está ansioso, na secreta esperança de que consigamos, afinal, convencê-lo de que ele ainda a ama? Por isso sempre digo a eles , e a mim também, que amar é um estranho verbo, porque não tem passado. Você não diz que amou alguém. Se amou mesmo, de verdade, então continua amando. Mário de Andrade dizia que amar é verbo intransitivo e tinha razão, mas é também defectivo, porque não se conjuga em tempo passado. O amor é para sempre. Por isso, também dizia Edgar Cayce que o amor não é possessivo, ele apenas é. Claro, ele é da essência de Deus e, portanto, do ser, isto é, de todos nós. E ser é verbo e é substantivo.
Foi por essas e outras que acabei descobrindo que o amor é também da essência da tarefa dita desobsessão e que prefiro conceituar como diálogo com atormentados companheiros de jornada evolutiva que, eventualmente, estejam vivendo dolorosos papéis de obsessor. Quem não se sentir em condições pessoais de ver no chamado obsessor uma pessoa humana como a gente mesmo, então deve dedicar-se a outra tarefa no grupo. A seara é imensa, não falta trabalho para ninguém. Já alertava o Cristo, ao seu tempo, que era necessário orar para que o Pai mandasse mais obreiros, sempre escassos e insuficientes. Com a sua deslumbrante lucidez, Paulo explicou para a posteridade as inúmeras tarefas à nossa disposição em qualquer grupamento humano que se propõe a servir ao próximo. É só ler, para recordar, os capítulos 12, 13, 14 da sua Primeira Epístola aos Coríntios, e que constituem o primeiro "Livro dos Médiuns" do cristianismo. Aqueles que desejarem devotar-se ao trabalho gratificante da desobsessão que leiam de maneira especial, demorada e meditada, o capítulo 13, no qual o tema tratado é o da caridade, ou seja, o amor atuante.
Por tudo isso e mais o que não ficou dito, entendo que , na tarefa chamada de desobsessão, o ingrediente básico é o amor, que sempre saberá como encontrar o que dizer ao ser humano que temos diante de nós na mesa mediúnica. Doutrinação é palavra inadequada para caracterizar esse trabalho. Que teria eu a ensinar ao companheiro ou à companheira que comparece ao grupo mediúnico? Não há como ensinar pontos doutrinários teóricos a quem está vivendo a realidade, que conhecemos mais pelo estudo do que pela vivência. Eis porque costumo dizer que muito pouco ou quase nada tenho ensinado às pessoas desencarnadas que comparecem aos nossos trabalhos mediúnicos. Em compensação, devo a todos eles ensinamentos preciosos, recortados diretamente das páginas pulsantes da vida. E por isso, nunca saberia expressar toda a minha gratidão pela oportunidade que me foi concedida de trabalhar junto dos queridos "obsessores".

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Justiça Humana e Justiça Divina


Rodolfo Calligaris
O capítulo II da Constituição Brasileira, que trata “dos direitos e das garantias individuais”, em seu art. 141, § 30 e 31, consagra dois princípios altamente humanitários, que vale a pena analisar e comparar com dois dogmas fundamentais das igrejas ditas cristãs.
Reza o citado § 30: “Nenhuma pena passará da pessoa do delinqüente.”
Isto quer dizer que no Brasil, como de resto em todos os países civilizados do mundo, qualquer pena (punição que o Estado impõe ao delinqüente ou contraventor, por motivo de crime ou contravenção que tenha cometido, com a finalidade de exemplá-lo e evitar a prática de novas infrações) só poderá recair sobre o culpado, não podendo, em hipótese alguma, alcançar outra(s) pessoa(s).
Exemplifiquemos: se um indivíduo cometer um crime, pelo qual seja sentenciado a uns tantos anos de prisão celular, mas venha a escapulir, sem que as autoridades policiais consigam apanhá-lo, ou faleça antes de haver cumprido toda a pena, não pode o Estado trancafiar um seu parente (filho, neto, etc.) para que cumpra ou resgate o final do castigo imposto a ele, criminoso.
Aliás, se o fizesse, passaria a si mesmo um atestado de despotismo e provocaria os mais veementes protestos, pois repugna às consciências esclarecidas admitir que “o inocente pague pelo pecador”.
Essa noção de intransferibilidade de méritos e deméritos, já a tinham os profetas do Velho Testamento. O cap. 18 de Ezequiel, v. g., versa exclusivamente esse ponto. Ali se diz que se um homem for bom e obrar conforme a equidade e a justiça, mas venha a ter algum filho ladrão, que derrame sangue ou cometa outras faltas abomináveis, este terá que arcar com as conseqüências de seus delitos, de nada lhe valendo as boas qualidades paternas.
Da mesma sorte, se um homem não guardar os preceitos divinos, se for um grande pecador, mas o filho “não fizer coisas semelhantes às que ele obrou”, não responderá pelos desacertos do pai. E conclui (v. 20):
“A alma que pecar, essa morrerá: o filho não carregará com a iniqüidade do pai, e o pai não carregará com a iniqüidade do filho; a justiça do justo será sobre ele, e a impiedade do ímpio será sobre ele.”
Claríssimo, pois não?
No entanto, tomando por base uma alegoria do Gênesis (cap. 3), cuja interpretação foge ao objetivo deste trabalho, — a Teologia engendrou e vem sustentando, através dos séculos, o dogma do “pecado original”, segundo o qual todos os homens, gerações pós gerações, inclusive aqueles que virão a nascer daqui a séculos ou milênios, são atingidos inexoravelmente por uma falta que não é sua!
Ora, mesmo que a referida alegoria bíblica (tentação de Eva e queda do homem) fosse um fato histórico, real, que culpa teríamos nós outros, da desobediência praticada por “nossos primeiros pais” num passado cuja ancianidade remonta à noite dos tempos?
Se a responsabilidade pessoal é princípio aceito universalmente; se nenhum Código Penal do mundo admite que se puna alguém por um crime praticado por seus ancestrais; como poderia Deus castigar-nos por algo de que não fomos participantes, ou melhor, que teria ocorrido quando nem sequer existíamos?
Não é possível!
Se Deus nos criasse, mesmo, com esse estigma, expondo-nos, conseqüentemente, às muitas misérias da alma e do corpo, por causa do erro de outrem, então a Justiça Divina seria menos perfeita que a justiça humana, posto que esta, como vimos, não permite tal aberração.
Como é óbvio, o Criador hão pode deixar de ser soberanamente justo e bom, pois sem esses atributos não seria Deus. E como o dogma do “pecado original” não se coaduna com a Bondade e a Justiça Divinas, não há como fugir à conclusão, de que é falso e insustentável, sendo cada um responsável apenas pelos seus próprios atos, e não pelos deslizes de’ seus avoengos, ainda que eles se chamem Adão e Eva...
(Revista Reformador de abril de 1965)

domingo, 28 de outubro de 2012

Quais são as Obras Básicas?


Paulo da Silva Neto Sobrinho
Temos percebido uma completa indefinição do que sejam, no Espiritismo, as obras básicas. Quem tiver a curiosidade de pesquisar, por exemplo na Internet, verá que a confusão se instalou no Movimento Espírita, tal qual uma nova torre de Babel.
Querem uns, inclusive, e esses não são poucos, relacioná-las a uma denominação usada por correntes religiosas apoiadas em livros sagrados, que acreditam conter as revelações divinas, quando, não sabemos o porquê, a tratam como o “Pentateuco” da Codificação. Vemos nessa atitude certa incoerência, mas como, infelizmente, muitos não conseguem se desligar do que aprenderam em suas religiões de origem, acabam, se não intencionalmente, pelo menos inconscientemente, trazendo para o nosso meio coisas nunca ditas ou mencionadas pelo Codificador.
Nem mesmo as Instituições, que se dizem representantes do Movimento Espírita, falam a mesma língua, demonstrando, a nosso ver, falta de unidade e coerência Doutrinária. Deixam-nos sem amparo para definir quais livros, publicados por Kardec, devem fazer parte do conjunto das obras básicas.
Por estar assim sem definição é que há gente que só fala, por exemplo, no livro O que é o Espiritismo, como se estivesse nele todo o corpo da Doutrina, apesar da clareza de Kardec em situá-lo como um livro que apenas “contém sumária exposição dos princípios da Doutrina Espírita, um apanhado geral desta, permitindo ao leitor apreender-lhe o conjunto dentro de um quadro restrito”. Embora reconheçamos a sua importância, principalmente, para os que não conhecem o Espiritismo, citar somente ele seria imaturo, pois aos que querem estudar a Doutrina, os outros livros também deverão ser estudados para uma visão mais ampla e, ao mesmo tempo, pormenorizada dos princípios Espíritas.
Geralmente vemos pessoas e Instituições Espíritas citando como obras básicas: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, Evangelho segundo o Espiritismo, A Gênese e O Céu e o Inferno. E, raras vezes, aparecem referências às Obras Póstumas, à Revista Espírita e ao O que é o Espiritismo?, e quando isso ocorre são colocados num segundo plano, como obras complementares, que não seria necessário, mas apenas seria bom lê-las.
Pensando nisso resolvemos, como se diz, “beber água na fonte” para ver se poderíamos encontrar essa definição no que escreveu o Codificador. Vejamos o que Kardec nos fornece como roteiro para estudo.
Em julho de 1859[i], Kardec recomenda, aos que querem se esclarecer sobre o Espiritismo, que se deve estudar primeiramente o resumo contido no livro O que é Espiritismo?, justificando:
...nesta rápida exposição fomos levados a indicar os pontos que deve, particularmente, fixar-se a atenção do observador. A ignorância dos princípios fundamentais é a causa das falsas apreciações da maioria daqueles que julgam o que não compreendem ou segundo suas idéias preconcebidas.
Na seqüência, para os que desejam saber mais, diz:
...ler-se-á O Livro dos Espíritos, onde os princípios da doutrina estão completamente desenvolvidos; depois, O Livro dos Médiuns para a parte experimental, destinado a servir de guia para aqueles que querem operar por si mesmos, como para aqueles que querem se inteirar dos fenômenos. Vêm, em seguida, as diversas obras onde estão desenvolvidas as aplicações e as conseqüências da doutrina, tais como: A Moral do Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno Segundo o Espiritismo, etc.
Voltando ao assunto, em janeiro de 1861[ii], aconselha, aos que querem adquirir as noções preliminares sobre o Espiritismo, que leiam, nesta ordem:
- O que é o Espiritismo? Esta brochura, de apenas uma centena de páginas, é somente uma exposição sumária dos princípios da Doutrina Espírita, um esboço geral que permite abarcar o conjunto sob um quadro restrito. Em poucas palavras, vê-se o objetivo e pode-se julgar sua importância. Por outro lado, nele se encontra a resposta às principais questões ou objeções que estão naturalmente dispostas a fazerem as pessoas novatas. Esta primeira leitura, que não requer senão um pouco tempo, é uma introdução que facilita um estudo mais aprofundado.
2º - O Livro dos Espíritos. Contém a doutrina completa, ditada pelos próprios Espíritos, com toda a sua filosofia e todas as suas conseqüências morais; é a revelação da destinação do homem, a iniciação à dos Espíritos e aos mistérios da vida de além-túmulo. Lendo-o, compreende-se que o Espiritismo tem objetivo sério, e não é um passatempo frívolo.
3º - O Livro dos Médiuns. Destina-se a guiar, na prática das manifestações, pelo conhecimento dos meios mais próprios para comunicar-se com os Espíritos; é um guia, seja para os médiuns, seja para os evocadores, e o complemento de O Livro dos Espíritos.
4º - A Revista Espírita. É uma coletânea variada de fatos, de explicações teóricas e de trechos destacados, que completam o que se disse das duas obras precedentes, e que lhes é, de alguma forma, a aplicação. Sua leitura pode ser feita ao mesmo tempo com elas, mas será mais proveitosa e mais inteligível sobretudo após a leitura de O Livro dos Espíritos
Isto pelo que nos concerne. Aqueles que querem tudo conhecer numa ciência, devem necessariamente ler tudo o que está escrito sobre a matéria, ou, pelo menos, as coisas principais, e não se limitar a um só autor; devem mesmo ler o pró e o contra, as críticas como também as apologias, iniciar-se nos diferentes sistemas, a fim de poderem julgar por comparação. (...)
No mês seguinte[iii], há uma importante fala de Kardec, sobre as publicações das comunicações espontâneas na Revista Espirita, que vem, com certeza, justificar o porquê da recomendação de sua leitura. Leiamos:
O que lhe dá essa opinião é que a grande quantidade de matérias, e a necessidade de coordená-las, permitem muito raramente publicar todas essas questões no número da Revista onde elas são mencionadas no boletim; mas, cedo ou tarde, nela encontram o seu lugar. Aliás, elas constituem um dos elementos essenciais das obras sobre o Espiritismo; foram aproveitadas em O Livro dos Espíritos e em O Livro dos Médiuns onde estão classificadas segundo o seu objeto, e nenhuma daquelas que são essenciais foi omitida. (...).
Ressaltamos que, segundo o próprio Kardec, as comunicações espontâneas que foram publicadas da Revista “constituem um dos elementos essenciais das obras sobre o Espiritismo”, citando os dois livros em que foram aproveitadas.
Em janeiro de 1868[iv], cerca de pouco mais de um ano antes de sua morte, Kardec reafirma, que se encontra na Revista Espírita “no estado de esboço, a maioria das idéias que estão desenvolvidas nesta última obra, conforme o fizemos com as precedentes”, considerando que “A Revista é freqüentemente, para nós, um terreno de ensaio, destinado a sondar a opinião dos homens e dos Espíritos sobre certos princípios, antes de admiti-los como partes constitutivas da Doutrina”.
Concluímos que se básico significa “que ou o que serve de base, de fundamento; basilar, fundamental” (Houaiss), então, pelo que pudemos perceber das recomendações de Kardec, teremos que discriminá-las assim: O que é o Espiritismo, O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, A Gênese, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno, A Revista Espírita, inclusive, conforme consta na RE mai/1869 (p 132). Às estas acrescentaríamos, por nossa conta, o livro Obras Póstumas, por ser uma publicação de escritos inéditos de Kardec. Se daí quiserem dividi-las em “de iniciação”, “importantes” e “complementares”, não faz a menor diferença, desde que, obviamente, a leitura de todas elas seja recomendada.
E aos que somente lêem o LE, achando que está tudo nele, transcrevemos essa fala de Kardec: “O Livro dos Espíritos não é um tratado completo do Espiritismo; não faz senão colocar-lhe as bases e os pontos fundamentais, que devem se desenvolver sucessivamente pelo estudo e pela observação” (RE 1866, p. 223).
Fev/2005.
  • [i] KARDEC, A. O que é o Espiritismo, Rio: FEB, 2001. p. 149.
  • [ii] KARDEC, A. O Livro dos Médiuns, Araras-SP: IDE, 1993, pp. 40-41.
  • [iii] KARDEC, A. Revista Espírita 1861, Araras-SP: IDE, 1993, p. 35.
  • [iv] KARDEC, A. A Gênese, Araras-SP, IDE, 1993, p. 12.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

ANTICONCEPCIONAIS E REENCARNAÇÃO


Anticoncepcionais e reencarnação

O controle da natalidade vem sendo praticado desde os primórdios dos tempos. A civilização humana sempre encontrou raízes ou ervas com as quais feiticeiros ou médicos procuravam interferir no processo da concepção ou mesmo da gestação em curso.

Mesmo aqueles casais avessos aos processos artificiais frequentemente optam por "métodos naturais", evitando relacionamento sexual nos dias férteis e objetivando o mesmo resultado: a limitação da natalidade.

Teoricamente, em todos os casais haveria uma possibilidade de número maior de filhos, caso não houvesse alguma forma de controle ou planejamento familiar. Essa constatação nos leva a crer que há, na quase totalidade dos casais, alguma interferência, por livre iniciativa, sobre a natalidade de seus filhos.

Em face do exposto, o bom senso nos leva a posicionar realisticamente, sem no entanto perdermos a visão idealística. Nós, seres humanos, já conquistamos o direito da liberdade de decidir, evidentemente com a responsabilidade assumida pelo livre arbítrio. O Homo Sapiens já possui a possibilidade de escolher a rota de seu progresso, acelerando ou reduzindo a velocidade de seu desenvolvimento espiritual. Somos os artífices da escultura de nosso próprio destino.

Nas informações que são colhidas, psicográfica ou psicofonicamente, os Espíritos nos expõem a respeito da planificação básica de nossa vida aqui na Terra, projeto desenvolvido antes de reencarnarmos. Se é verdade que os detalhes serão aqui por nós construídos, certamente o plano geral foi anteriormente elaborado no Mundo Espiritual, frequentemente com nossa aquiescência. Dessa planificação básica, consta o número de filhos.

Se um determinado casal deveria receber 4 filhos na sua romagem reencarnatória e não o fez, pelo uso das pílulas anticoncepcionais ou outro método bloqueador da concepção, ficará com a carga de responsabilidade a ser cumprida. Não se permitiu a complementação da tarefa a que se propôs antes de renascer.

A grande questão que surge é com relação às consequências advindas da decisão de limitar a natalidade dos filhos. Sabemos que há, frequentemente, uma transferência do compromisso estabelecido para outra encarnação.

Sucede muitas vezes que essa decisão de postergar compromissos determina a necessidade de um replanejamento espiritual com relação àqueles designados à Reencarnação em um determinado lar. Podem os mesmos obter "novos passaportes" surgindo como netos, filhos adotivos ou outras vias de acesso elaboradas pela Espiritualidade Maior. Ocorrerá, nesses casos, a necessidade de um preenchimento da lacuna de trabalho que se criou ao se impedir a chegada de mais um filho.

O trabalho construtivo, consciente ou inconscientemente desenvolvido, para a substituição do compromisso previamente assumido, poderá compensar pelo menos parcialmente a dívida adiada. Qualquer débito cármico poderá ser sanado ou apagado por potenciais positivos, às vezes, bem diversos dos setores daqueles que originaram as reações. No entanto, o labor amoroso na área mais específica da maternidade e da infância carentes são naturalmente mais indicados para a harmonização das energias tornadas deficientes nessa área.

Se o ideal é que cumpramos o plano de vida preestabelecido, é também quase geral o fato de que neste Planeta a maioria não logra êxito na execução total de suas tarefas. Resta-nos a necessidade de consultar honestamente a consciência, pois pela intuição ou sintonia com nosso eu interno encontraremos as respostas e dúvidas (ou dívidas) particulares nesse mister.

É constatação evidente o fato de, normalmente, não nos recordarmos dos planos previamente traçados, mas é verdadeiro também que, frequentemente, fazemos "ouvido de mercador" aos avisos que nosso inconsciente nos transmite. Não esperemos respostas prontas ou transferência de decisão para quem quer que seja. Afinal, estamos ou não lutando para fugir das mensagens dogmáticas, do "isto é permitido" e "isto não é"? Cada casal deverá valorizar o mergulho em seu inconsciente, sentir, meditar, e das águas profundas de seu espírito, trazer à superfície a sua resposta...

Ricardo Di Bernardi

sábado, 29 de setembro de 2012

Civilização e reino de Deus


José Argemiro da Silveira
de Ribeirão Preto, SP
"Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, Jesus lhes respondeu: Não vem o reino de Deus com aparências exteriores"
(Lucas, 17:20)
Não se pode negar o grande progresso da ciência e da tecnologia (esta como conseqüência daquela). Esse progresso superou, e muito, os inventores e idealistas de algumas décadas atrás, que sonhavam conseguir meios de comunicação e de transportes mais eficientes, e mais rápidos para todos. O automóvel, o avião, as viagens espaciais, em tempo relativamente pequeno, realizaram feitos muito além do que sonhavam os mais otimistas dos seus idealizadores. Nas diversas outras áreas da atividade humana, como na medicina, os inventos de máquinas e utensílios para o trabalho doméstico, na indústria, e nas atividades rurais, também experimentaram o mesmo progresso. Entretanto, apesar de todos esses avanços e descobertas, o ser humano da atualidade parece não viver mais feliz, nem melhor, do que o seu antepassado. Como entender o fenômeno?
No Livro dos Espíritos, questão 793, Allan Kardec pergunta: "Por que sinal se pode reconhecer uma civilização completa?" Resposta: "Vós a reconhecereis pelo desenvolvimento moral, Acreditais estar muito adiantados por terdes feito grandes descobertas e invenções maravilhosas; porque estais melhor instalados e melhor vestidos que os vossos selvagens; mas só tereis verdadeiramente o direito de vos dizer civilizados quando houverdes banido da vossa sociedade os vícios que a desonram e quando passardes a viver como irmãos, praticando a caridade cristã. Até esse momento não sereis mais do que povos esclarecidos, só tendo percorrido a primeira fase da civilização". Allan Kardec em comentário à resposta citada considera que "a civilização tem os seus graus, como todas as coisas, Uma civilização incompleta é um estado de transição que engendra males especiais, desconhecidos no estado primitivo, mas nem por isso deixa de constituir um progresso natural, necessário, que leva consigo mesmo o remédio para aqueles males. A medida que a civilização se aperfeiçoa, vai fazendo cessar alguns dos males que engendrou, e esses males desaparecerão com o progresso moral".
A resposta esclarece bem a questão. Progredimos em determinados aspectos, mas ainda não realizamos o mesmo progresso no que se refere ao conhecimento sobre nós mesmos, e como nos relacionar uns com os outros. Ainda não nos conscientizamos que somos todos irmãos, filhos de um mesmo Pai, e que para sermos verdadeiramente civilizados e felizes precisamos nos respeitar mutuamente, cooperarmos pelo bem comum, destruindo o egoísmo e o orgulho que ainda nos dominam. Somos, pois, uma civilização incompleta. Evoluímos em parte, mas ainda não compreendemos que o mais importante é o próprio ser humano, Espírito imortal, temporariamente no plano físico em busca do seu próprio desenvolvimento. Como, disse alguém, o homem conhece mais o átomo do que a si próprio.
O Espiritismo considera de fundamental importância, para o progresso moral da humanidade, resgatar os ensinos de Jesus, em sua pureza e simplicidade primitivas. "Durante os dois mil anos que se seguiram à morte do Mestre e ao Cristianismo Primitivo, a Igreja procedeu, através de sínodos e concílios, a acréscimos de tal magnitude, que acabaram por desfigurar a doutrina original. Ela incorporou ritos, símbolos e idéias provindos do paganismo romano, do Zoroastrismo e do Mitraísmo (culto de Mitra, divindade solar persa, um dos gênios do Masdeísmo)".1 E o essencial para a nossa educação, para o desenvolvimento das potencialidades do Espírito, foi relegado a plano secundário, ou mesmo esquecido. Um exemplo disso é a lei de causa e efeito. Há várias passagens nos ensinos de Jesus, tratando desse tema: "A cada um segundo suas obras"; "Guarda a tua espada, pois todos os que pegaram na espada, da espada morrerão"; "Com a medida que medirdes os outros, sereis medidos". O apóstolo Paulo diz algo semelhante na Epístola aos Gálatas: "Não vos enganeis; Deus não se deixa escarnecer; pois tudo o que o homem semear, isso também ceifará".
Entretanto, para bem compreendermos a lei de causa e efeito, precisamos admitir e estudar outra lei importante - a reencarnação, pois só numa existência não conseguimos entender o mecanismo da lei. Daí a importância do estudo dos ensinos de Jesus, à luz da Doutrina Espírita, que nos permite melhor compreender a finalidade da vida, e o que fazer para edificação do reino de Deus em nosso íntimo.
1 - A Missão Maior do Movimento Espírita - Reformador, fevereiro/2001, pág. 24
(Jornal Verdade e Luz Nº 185 de Junho de 2001)

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Aspectos Positivos do Não


CLARA NATÉRCIA
“Todo não tem uma explicação.” Tal conceito nós o lemos, há tempos, em
um livro sobre psicologia infantil, no qual o autor orientava os pais, no sentido de
que, ao negar algo à criança, não se limitassem apenas a dizer-lhe NÃO.
Segundo o psicólogo, deveriam esclarecer-lhe o porquê de sua atitude contrária,
mostrando o dano que adviria se a deixassem fazer o que quisesse. Dava,
então, alguns exemplos. Digamos que a criança se encaminha em direção à janela
e seja proibida de ter acesso ao peitoril. Cumpre dizer-lhe do perigo de uma
queda a que ela se expõe. Ao observar o pequenino com um objeto cortante ou
perfurante na mão, como se fora um brinquedo, adverti-lo do risco de se ferir pelo
mesmo. Ao se aproximar de uma mesa ao seu alcance, evitar que o faça, dandolhe
a entender que o objeto pode cair-lhe sobre o corpinho. E assim por diante. O
psicólogo tentava lembrar aos pais e educadores, em geral, que, uma vez esclarecida,
a criança pode aceitar melhor as restrições ou recusas aos seus desejos
e vontades.
Reportando-nos a essa diretriz psicológica, passamos, então, a meditar sobre
o NÃO que nos tem sido dado através da palavra divina. No Decálogo, recebido
por Moisés no alto do Monte Sinai, constatamos que, dos Dez Mandamentos,
sete registram o NÃO. Há a predominância de proibição justamente com o
precípuo escopo de preservar-nos de quedas e falências ante as leis divinas.
Pelos Dez Mandamentos, nas Tábuas da Lei, somos induzidos a uma obediência
paradoxalmente negativa, mas, no fundo, em realidade, de sentido nítida
e essencialmente positivo, imunizador, preservativo. Posterior a Moisés, Jesus,
como o Messias prometido, trouxe-nos novos rumos ao encaminhamento de
nossas vidas, asseverando que não veio destruir a Lei Divina, mas, sim, dar-lhe
cabal cumprimento, pondo-nos em consonância com as determinações supremas
do Criador.
Com a sua didática sábia, segundo depreendemos dos seus
ensinos, o Mestre enunciou, bastas vezes, o NÃO, em sentido evidentemente
positivo, resguardando-nos de riscos e perigos a que estamos sujeitos.
Não obstante, de todo advertidos e bem orientados pela Palavra do Senhor,
ainda assim sentimos dificuldades em nossa adaptação aos parâmetros dos seus
ensinos. Claudicamos, com falhas e desvios de nossa estrada redentora, a cujas
sinalizações quase sempre estamos desatentos.
O Evangelho do Senhor sofreu desvirtuamentos e interpolações que o descaracterizaram
em sua simplicidade e pureza primitivas, contribuindo assim para
que os postulantes ao discipulado cristão se perturbassem e perdessem o rumo
certo da caminhada.
Tal situação de enganos e engodos, de logros e malogros, pressentida pelo
Mestre, levou-O a tranqüilizar-nos com a promessa do advento do Consolador,
que teve os prenúncios de seus albores em 18 de abril de 1857, mediante a publicação
por Allan Kardec de “O Livro dos Espíritos”, em Paris (França).
De então por diante, as obras da Codificação Kardequiana que se lhe seguiram
deixaram-nos vislumbrar a manhã nascente em todo o esplendor de sua claridade
solar. A Nova Revelação estava, sem dúvida, estruturada em suas bases,
desfazendo as brumas e nebulosidades que encobriam os marcos e sinalizações
da estrada, sem enganos e engodos.
A Doutrina dos Espíritos proscreveu o NÃO dos seus ensinos, no nortea mento dos nossos passos?
Não, dizemos nós agora. Prescreve proibições? Sim,
só nas entrelinhas do seu contexto doutrinário-evangélico. O NÃO está imanente,
intrinsecamente nelas embutido, como pérolas ocultas nas conchas das ostras.
Faz-se mister acuidade no olhar para depreendê-lo em sua feição positiva, que
salta, então, do texto para ficar conosco, ou seja, com o nosso senso de responsabilidade,
com o nosso cérebro e coração, com a nossa mente e consciência,
enfim, com o nosso livre-arbítrio.
Nós, espiritistas, quando verdadeiramente familiarizados com os ensinos da
Doutrina dos Espíritos, é que nos proibimos de falar ou não falar, de fazer ou não
fazer, de permitir ou não permitir, de aquiescer ou não aquiescer. Assim é que
permanecemos em estágio positivo, negando o que não nos convém ou quanto
venha em sentido contrário aos princípios e preceitos do nosso aprendizado haurido
nas fontes inconcussas das obras kardequianas. Nelas o NÃO prevalece
quando podemos detectá-lo para aplicá-lo em nós mesmos.

Revista O Reformador -Setembro de 2000

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

CIÚME III



Psicogênese do Ciúme
                O espírito imaturo, vitimado por desvios de comportamentos em existências transatas, renasce assinalando o sistema emocional com as marcas infelizes disso resultantes.
                Inquieto e insatisfeito, não consegue desenvolver em profundidade a auto-estima, permanecendo em deplorável situação de infância psicológica. Mesmo quando atinge a idade adulta possui reações de insegurança e capricho, caracterizando suas dificuldades para um ajustamento equilibrado no contexto social.
                Aspira ao amor e teme entregar-se-lhe, porquanto o sentido de posse que lhe daria autoconfiança está adstrito à dominação de coisas, de pessoas e de interesses imediatistas, ambicionando transferi-lo para quem não se permitirá dominar pela sua morbidez. Quando se trata de um relacionamento com outra personalidade igualmente infantil, esta deixa-se, temporariamente, manipular-se por acomodação ou sentimento subalterno, reagindo a posteriori de maneira imprevisível.
                Em outras oportunidades permite-se conduzir, desinteressando-se das próprias aspirações, enquanto submete-se aos caprichos do dominador, resultando numa afetividade doentia, destituída de significados nobres e de vivências enriquecedoras.
                Porque a culpa se lhe encontra no íntimo, esse indivíduo não consegue decodifica-la, a fim de libertar-se, ocultando-a na desconfiança que permanece no seu inconsciente, assim experimentando tormentos e desajustes.
                Incapaz de oferecer-se em clima de tranqüilidade ao afeto, desconfia das demais pessoas, supondo que também são incapazes de dedicar-se com integração desinteressada, sem ocultar sentimentos infelizes.
                Porque não consegue manter um bom nível de auto-estíma, acredita não merecer o carinho nem o devotamento de outrem, afligindo-se, em razão do medo de perder-lhe aa companhia. Esse tormento faz-se tão cruel, que se encarrega, inconscientemente, de afastar a outra pessoa, tornando-lhe a convivência insuportável, em face da geração de contínuos conflitos que o inseguro se permite.
                A imaturidade psicológica daqueles que assim agem, torna-se tão grave, que procura justificar o ciúme como o sal do amor, como se a afetividade tivesse qualquer tipo de necessidade de conflito, de desconfiança.
                O amor nutre-se de amor e consolida-se mediante a confiança irrestrita que gera, reafirmando-o com belas vibrações de ternura e da amizade bem estruturada.
                Incapaz de enfrentar a realidade e as situações que se apresentam como necessárias ao crescimento contínuo da capacidade de discernimento e de luta, faculta-se a permanência na fantasia, no cultivo utópico da ilusão, imaginando um mundo irreal que gostaria de habitar, evitando a convivência com o destemor e o trabalho sério, de forma que se conduz asfixiado pelo que imagina em relação ao que defronta na vida real.
                Torna-se capaz de manter uma vida interior conflitiva, que mascara com sorrisos e outros disfarces, padecendo o medo e a incerteza de ser feliz.
                Sempre teme ser descoberto e conduzido à vivência dos fatos conforme são e não consoante desejaria.
                Evita diálogos profundos, receando falsear e ser identificado.
                Procedentes de uma infância, na qual teve de escamotear a verdade e disfarçar as próprias necessidades por medo de punição ou de incompreensão dos demais, atinge a idade adulta sem a libertação das inseguranças juvenis.
                Sentindo-se sempre desconsiderado, porque não consegue submeter aqueles a quem gostaria de amar-dominando, entrega-se aos ciúmes injustificáveis, nos quais a imaginação atormentada exerce uma função patológica.
                Transfere as fantasias do seu mundo íntimo para subjulgar o ser a quem diz amar.
                Atormentado pela autocompaixão, refugia-se na infelicidade, de modo a inspirar piedade, quando deveria esforçar-se para conquistar afeição; subestima-se ou sobrevaloriza-se assumindo posturas inadequadas à idade fisiológica que deveria estar acompanhada do desempenho saudável de ser psicológico maduro.
                Compara aflições alheias com as próprias, defendendo a idéia de que ninguém é fiel, pessoa alguma consegue dedicar-se a outrem sem que não mantenha sentimentos servis.
                Incapaz de afeiçoar-se pelo prazer de querer bem, portador de insatisfações em relação a si mesmo, mesquinho no que se refere à autodoação... Enxerga o amor como mecanismo de manipulação ou instrumento para conquista de valores amoedados ou de projeção política ou social sem entender que exista outra maneira de amar.
                O ciúme tem raízes no egoísmo exagerado, superável mediante trabalho de autodisciplina e entrega pessoal.
                Quanto mais o indivíduo valorizar o ego, sem administrar-lhe as heranças da inferioridade, mais se atormenta, em face da necessidade do relacionamento interpessoal que, sem a presença da afetividade, sempre torna-se frio, distante, sem sentido nem continuidade.
                Trabalhar a emoção, reflexionar em torno dos sentimentos próprios e do próximo constituem uma saudável psicoterapia para a aquisição da confiança em si mesmo e nos outros.

Do livro: CONFLITOS EXISTENCIAIS

Divaldo Pereira Franco/Joanna de Angelis

sábado, 8 de setembro de 2012

Dois conceitos de honestidade


Autor: Deolindo Amorim – Artigo publicado no jornal “Unificação” – Ano XIII – Janeiro de 1966 – Número 154.

Comemorou-se há pouco, em diversas sociedades espíritas, o centenário de mais uma obra da Codificação de Allan Kardec: “O Céu e o Inferno”, publicada em 1865, na França. É um livro pouco lido e, por isso, pouco citado no próprio meio espírita. Há, nele, entretanto, muita matéria doutrinária para estudo e meditação. Quem tiver ocasião de ler, ou reler, por exemplo, certas comunicações de espíritos desencarnados, verá que “O Céu e o Inferno” é um livro de grande utilidade, também neste ponto, justamente porque nos faz muitas advertências oportuníssimas para a vida cotidiana. São espíritos que viveram neste mundo, sofreram, cometeram os seus deslizes e, depois, vieram trazer o resultado de suas experiências, através do elemento mediúnico.

Uma das comunicações que me parecem mais significativas e mais sérias pelo seu conteúdo moral é a do espírito de José Bré, desencarnado em 1840 e evocado por sua neta, em Bordéus, no ano de 1862. Esse espírito, ao chegar à vida espiritual, teve certa surpresa, sofreu pouco, exatamente porque, na Terra, era tido por muito honesto, mas verificou, naturalmente decepcionado consigo mesmo, que o conceito de honestidade, no mundo espiritual, nem sempre coincide com o que se pensa entre nós. É uma advertência grave e sempre atual, não há dúvida. O fato de um indivíduo ser um modelo de honestidade perante os homens, segundo os padrões e as convenções terrenas, não quer dizer, em todos os casos, que esse indivíduo já esteja completamente quite com a Justiça Divina. Foi o que se deu com o espírito de José Bré, quando se viu, depois, diante de problemas de consciência, problemas que a sociedade humana desconhecia, mas que apareceram, em toda a plenitude, quando o espírito enfrentou a dura realidade do “além-túmulo”, como se costuma dizer.
Sua neta, assim que começou o diálogo com o espírito do avô, estranhou que ele estivesse sofrendo e lhe fez a seguinte pergunta: “Não vivestes sempre honestamente?” O espírito dissera, momentos antes, que estava lamentando o fato de “não ter melhor aproveitado o tempo aí na Terra”. Tal declaração causou espanto à neta de Bré, pois todos os seus conhecidos consideravam o morto um homem irrepreensível, um homem exemplar em tudo por tudo. Esperava-se, portanto, que viesse dizer, do “outro lado da vida”, que estava muito bem, estava feliz. Mas o espírito respondeu de um modo franco, dizendo a coisa como realmente deve ser dita: há um abismo entre a honestidade perante os homens e a honestidade perante Deus. É uma verdade dura, mas precisa ser repetida aos quatro ventos, porque muita gente não pensa nisto, está iludida com os aplausos humanos. Convém reproduzir as palavras do espírito, pelo menos em parte.

Não basta, para ser honesto perante Deus, ter respeitado as leis dos homens; é preciso, antes de tudo, não haver transgredido as leis divinas. Honesto aos olhos de Deus será aquele, que possuído de abnegação e amor, consagre a existência ao bem, ao progresso de seus semelhantes. Assim, o homem honesto, perante Deus, deve evitar cuidadoso as palavras mordazes, veneno oculto sob flores, que destrói reputações e acabrunha o homem, muitas vezes cobrindo-o de ridículo.

Bela e profunda lição!
O conceito de honestidade, segundo os costumes terrenos, vê a criatura humana apenas pelo lado exterior. Então, é honesto, para o mundo, todo aquele que está em dia com as suas contas, cumpre os seus deveres sociais, mantém a família, educa os filhos, paga impostos, etc., etc... Tudo isto, porém, são obrigações comezinhas. Ninguém pense que, pelo fato de cumprir todos os seus deveres humanos, que são deveres meramente rotineiros ou naturais, estão isento de prestar contas à consciência. É aí, precisamente, que está o conflito entre aquilo que se entende por honestidade, perante o mundo, e o que vem a ser a honestidade prevista nas Leis Divinas. São dois conceitos muito diferentes. O indivíduo pode ser muito bom cidadão, porque respeita as leis do Estado, atende a todas as exigências da sociedade em que vive, apresentando-se como exemplo de virtudes em sua vida exterior e, no entanto, não ser honesto em suas intenções, porque pensa mal, articula intriga e maldade, fere a reputação alheia, espalha insinuações infamantes, embora disfarçadas com palavras doces, aparentemente inocentes. Tudo isto compromete a consciência perante o julgamento divino. Mas o mundo não vê, nem pode ver os pensamentos ocultos, porque são inerentes à vida interior, que é um segredo indevassável. Enquanto isso, o indivíduo vai passando como honesto ou virtuoso, podendo, até, ser glorificado como santo aos olhos dos homens. Quando chega a hora da partida, quando se descerra o véu dos artifícios humanos, vem o julgamento da consciência, que é o nosso juiz implacável. Então, aquele que se iludira com os conceitos humanos, supondo que iria ter, no mundo espiritual, uma vida quase angelical, uma vida de felicidade completa, porque todos o tinham por honesto, vai sentir, diretamente, que a sua suposta honestidade, na Terra, de nada lhe vale, porque a Justiça Divina, que é onisciente e onipresente, não julga somente pelos atos exteriores, mas julga, antes de tudo, pelas intenções, pelos pensamentos mais ocultos, pelos sentimentos que alimentamos, embora saibamos encobri-los ou disfarçá-los na sociedade humana. O que vai pesar na balança, no fim de tudo, quando nos defrontamos com a realidade espiritual, não é o conceito de honestidade segundo os homens, mas o conceito de honestidade segundo a Justiça de Deus. É a lição, que nos fica, depois da leitura, bem meditada, de uma comunicação do teor moral e doutrinário daquela que foi dada, em Bordéus, pelo espírito de José Bré.

Amor filial

Por CLARA LILA GONZALEZ DE ARAÚJO
Revista o Reformador de Maio de 2009

“Sabeis os mandamentos: não cometereis adultério; não matareis; não roubareis;
não prestareis falso testemunho; não fareis agravo a ninguém; honrai a vosso
pai e a vossa mãe.” (S. Marcos, 10:19; S. Lucas, 18:20; S. Mateus, 18-19).1


A passagem acima registra o encontro de Jesus com Efraim,(2) homem de muitas posses, morador de Jerusalém, que lhe indaga sobre o que fazer para herdar a vida eterna (Mateus, 19:16; Marcos, 10:17; Lucas, 18:18).
O próspero negociante, porém, não compreendeu os ensinamentos que lhes foram transmitidos
pelo Mestre e afastou-se receoso de perder seus bens materiais; o mancebo rico não soube interpretar,
claramente, a mensagem cristã:
a capacidade de amar o próximo é o verdadeiro tesouro a conquistar.
Para se alcançar a perfeição é preciso ser devotado às criaturas e todas as ações devem ter por móvel
a caridade, feita com sinceridade de coração, porquanto penosos sacrifícios e renúncias poderão ser
exigidos daqueles que assim agem.
Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XIV, item 1, esses versículos fundamentam a reflexão
sobre quão imprescindível é o amor filial em nossas vidas e estimulam- -nos a cultivar a estima para com os
pais, de modo ainda mais rigoroso, cercando-os de carinhos e cuidados, principalmente na velhice:
O mandamento: “Honrai a vosso pai e a vossa mãe” é um corolário da lei geral de caridade e de amor ao próximo, visto que não pode amar o seu próximo aquele que não ama a seu pai e a sua mãe; mas, o termo honrai encerra um dever a mais para com eles: o da piedade filial. Quis Deus mostrar por essa forma que ao amor se devem juntar o respeito, as atenções, a submissão e a condescendência [...](3)
Allan Kardec, no referido capítulo, item 3, ressalta o descaso de certas pessoas para com os seus genitores,
negando-lhes as solicitudes necessárias ao seu conforto e consolo, e afirma categórico:
Ai, pois, daquele que olvida o que deve aos que o ampararam em sua fraqueza [...] será
punido com a ingratidão e o abandono [...](3)

Ao reencarnar, vinculamo-nos aos laços familiares que entretecemos para nós próprios, na linha
mental que caracteriza as nossas tendências, afinados, igualmente, nas atitudes e inclinações para com
todos aqueles que permanecem na mesma conjunção de débitos.
A organização do núcleo familiar tem sua origem na esfera espiritual e proporciona aos seres que
reencarnam a realização de ações conjuntas e construtivas, revigorando os elos de amor entre a parentela.
Todavia, no âmago dessas experiências, afloram ódios e ressentimentos do pretérito obscuro,
exigindo inauditos esforços dos familiares para superação desses sentimentos, hauridos do passado
distante. Certos filhos agem de forma inadequada em face das dificuldades que encontram no ambiente
doméstico, transformando-se em motivos de excessivas discórdias e aflições junto daqueles que os
acolheram no meio familiar.O problema pode ser descrito em poucas palavras: os pais, em sua maioria,
se sentem sempre comprometidos em cuidar dos filhos e estes tendem, naturalmente, a libertar-se deles.
O Espírito Emmanuel faz elucidativa análise sobre esses vínculos:
Temos assim, no grupo doméstico, os laços de elevação e alegria que já conseguimos tecer,
por intermédio do amor louvavelmente vivido, mas também as algemas de constrangimento e aversão, nas quais recolhemos, de volta, os clichês inquietantes que nós mesmos plasmamos na memória do destino
e que necessitamos desfazer, à custa de trabalho e sacrifício, paciência e humildade, recursos novos com que faremos nova produção de reflexos espirituais, suscetíveis de anular os efeitos de nossa conduta anterior, conturbada e infeliz.(4).
Mesmo variando, entre os pais, a maneira de expressar afeição na dedicação e cuidados demonstrados
aos filhos, todos se preocupam em dar-lhes atenção, o que torna essas vivências familiares enriquecidas
e caracterizadas pelo amor que os interligam e lhes permitem construir um mundo completo de experiências vitais para suas almas em reajuste. No entanto, os embaraços que podem ocorrer na criação dos filhos são previsíveis; se os pais se adaptam mal às exigências de sua função é, sem dúvida, porque encontraram no curso de sua evolução moral obstáculos que não conseguiram superar por
não terem firme a vontade. Assevera Kardec:
Alguns pais, é certo, descuram de seus deveres e não são para os filhos o que deviam ser; mas,
a Deus é que compete puni-los e não a seus filhos. Não compete a estes censurá-los, porque talvez
hajam merecido que aqueles fossem quais se mostram.[...](5)

Muitos se afastam dos pais na velhice e não zelam por eles com a devida consideração; expressam sentimentos de ingratidão sem reconhecer os sacrifícios que se impuseram para que os filhos tivessem comodidades e bem-estar.
Geralmente, sem assistência, os genitores idosos tornam-se pessoas enfermas e amarguradas;
processos degenerativos, como mal de Alzheimer, mal de Parkinson, distrofia muscular, câncer,
diabetes e outros, surgem, para alguns, no momento próprio da vida material, como impositivo
da necessidade de reabilitação do Espírito. Se os familiares, com paciência, abnegação e devotamento, não ajudarem o enfermo a sentir-se amparado nessa fase de grande testemunho, como contribuir para iluminação de todos os envolvidos na prova em curso?

Em nota à questão 917, de O Livro dos Espíritos, o insigne Codificador observa:
O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade o é de todas as virtudes.Destruir um e
desenvolver a outra, tal deve ser o alvo de todos os esforços do homem, se quiser assegurar a
sua felicidade neste mundo, tanto quanto no futuro.(6).

O amor verdadeiro é uma demonstração afetuosa por quem devemos ter cuidado, respeito, responsabilidade e conhecimento de suas necessidades especiais. De acordo com Erich Fromm (1900-
-1980), um dos principais psicanalistas do século XX, [...] a satisfação no amor individual não pode ser atingida sem a capacidade de amar ao próximo, sem verdadeira humildade, coragem, fé e disciplina.(7)
Essa afirmação segue o princípio do amor amadurecido: sou amado porque amo, e não do amor
imaturo: amo porque sou amado(.8)
O amor deve ser ativo de forma a promover o desenvolvimento e a felicidade da pessoa amada; ela necessita do convívio dos outros para a amplitude de suas aptidões, para utilizar seus poderes mentais, emocionais e sensoriais, para compreender as potencialidades que lhe são inerentes, conforme as condições existenciais, principalmente as do núcleo doméstico, permitindo-lhe desenvolver essas capacidades ao máximo, desde que estimulada para isso. Estar apto a exercitar a razão e a praticar o amor, a se tornar um
ser produtivo e a considerar a vida uma bênção. Por esse motivo, os laços de família, na orientação dos Espíritos superiores, não são simples elos estabelecidos pelos costumes sociais, mas tornam-se necessários ao progresso de cada um; o resultado do relaxamento desses laços seria uma intensificação do egoísmo.(9)
Por outro lado, alguns filhos apegam-se aos pais com o intuito de obrigá-los [...] a comprar caro o que lhes
resta a viver, descarregando sobre eles o peso do governo da casa! Será então aos pais velhos
e fracos que cabe servir a filhos jovens e fortes?(10)
Alertam os benfeitores espirituais que existem indivíduos que agridem com certa frequência “os pais e buscam escravizá-los, como se os progenitores lhes constituíssem alimárias domésticas”.(11)
Reflitamos no bem a fazer por aqueles que nos permitiram retornar ao corpo de carne ou que
se transformaram em pais e mães substitutos; se nos omitirmos é possível que percamos a oportunidade
de auxiliá-los antes de partirem para o Além. Deixemos para depois, ao desencarnar, o entendimento
claro sobre os vínculos familiares que perduram em nossa existência, comungando fraternalmente com esses seres as mesmas experiências domésticas. É impossível, de imediato, compreendermos a trama do destino que a lei de ação e reação nos reservou e as circunstâncias que determinaram o retorno à Terra, junto deles. Sigamos a exortação de Jesus, que nos orienta a amar bastante, para sermos amados, principalmente aos pais que merecem particular deferência e afeto ilimitado e, ao lado deles, vivenciar situações que edificam a
sabedoria no amor filial.
Referências:
1KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro.
25. ed. de bolso. Rio de Janeiro: FEB, 2008.
Cap. 14, item 1.
2XAVIER, Francisco C. Contos desta e doutra
vida. Pelo Espírito Irmão X. 2. ed. 1.
reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 34.
3KARDEC, Allan. Op. cit., cap. 14, item 3.
4XAVIER, Francisco C. Pensamento e vida.
Pelo Espírito Emmanuel. 18. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 2008. Cap. 12, p. 56.
5KARDEC, Allan. Op. cit., cap. 14, item 3.
6______. O livro dos espíritos. Tradução
de Guillon Ribeiro. 91. ed. 1. reimp. Rio de
Janeiro: FEB, 2008. Q. 917.
7FROMM, Erich. A arte de amar. Tradução
de Milton Amado. Belo Horizonte: Editora
Itatiaia, 1995. Preâmbulo, p. 7.
8______.______. Amor entre pais e filhos,
p. 52-60.
9KARDEC, Allan. Op. cit., q. 775.
10______. O evangelho segundo o espiritismo.
Tradução de Guillon Ribeiro. 25. ed.
de bolso. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap.
14, item 3.
11XAVIER, Francisco C. Vida e sexo. Pelo
Espírito Emmanuel. 26. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 2008. Cap. 18, p. 94.
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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Falar com amor


Aylton Paiva
Incorre em culpa o homem, por estudar os defeitos alheios?
Incorrerá em grande culpa, se o fizer para os criticar e divulgar,
porque será faltar com a caridade. Se o fizer, para tirar daí proveito,
para evitá-los, tal estudo poderá ser-lhe de alguma utilidade.
Importa, porém, não esquecer que a indulgência para com os defeitos
de outrem é uma das virtudes contidas na caridade.”
(Questão 903 de O Livro dos Espíritos.)
“Ninguém sendo perfeito, seguir-se-á que ninguém tem o direito
de repreender o seu próximo?
Certamente que não é essa a conclusão a tirar-se, porquanto
cada um de vós deve trabalhar pelo progresso de todos e, sobretudo,
daqueles cuja tutela vos foi confiada. Mas, por isso mesmo, deveis
fazê-lo com moderação, para um fim útil, e não, como as mais
das vezes, pelo prazer de denegrir. Neste último caso, a repreensão
é uma maldade; no primeiro, é um dever que a caridade manda seja
cumprido com todo o cuidado possível.” (O Evangelho segundo
o Espiritismo, cap. X – Bem-aventurados os que são misericordiosos,
item 19.)

Em nossa vida social, que envolve os ambientes familiar e profissional, grupo religioso,
momentos de lazer, temos que conviver necessariamente com o próximo.
Jesus nos mandou amar o próximo como a nós mesmos, porém como amaremos o próximo quando ele fala ou tem comportamento que achamos não estar correto, quando analisados pelo princípio do direito e dever a que todos estamos submetidos? Simplesmente silenciar,
omitir-se, ainda que as suas palavras ou conduta possam prejudicar o outro?
Observamos, então, que amar o próximo estabelece ações concretas para que possamos ajudá-lo, tanto quanto a nós mesmos.
É necessário saber analisar e exercitar a crítica, e não a maledicência, para amorosamente falar com a pessoa, de forma construtiva.
Nesses momentos em que devemos exercitar a crítica, a Doutrina Espírita e a Psicologia trazem- -nos orientações oportunas a fim de que a nossa ação verdadeiramente
construa algo de bom e útil para o outro e também para nós.
Com base em onze itens extraídos de um estudo de Psicologia sobre habilidades sociais cristãs (referência ao final), podemos associar princípios espíritas a todas as situações em que a crítica for pertinente ou necessária.
Então, tendo em vista o conhecimento do Espiritismo e o conhecimento da Psicologia com
relação à crítica, deve-se, ao FAZER:
1. Dirigir-se diretamente à pessoa.
A análise e as observações que precisamos fazer a respeito de alguém devem ser feitas diretamente a ela, pelo respeito e consideração para com essa pessoa.
Fazer comentários sobre uma pessoa com outra é, na maioria das vezes, dar ensejo à maledicência e cair na famosa “fofoca”, ou seja, comentário que não deseja oferecer algo
positivo ao outro, mas denegri- -lo, rebaixá-lo numa tentativa de, falsamente, elevar a própria personalidade.
2. Referir-se ao comportamento e não à pessoa.
Quando se analisa e se faz uma crítica sobre o erro de uma pessoa, deveremos apontar o erro no seu comportamento e não fazer um julgamento negativo sobre ela.
3. Escolher a ocasião adequada.
Para que uma crítica seja bem recebida é necessário que a pessoa a quem iremos fazê-la seja respeitada.
Precisamos analisar se a ocasião é a melhor. Se não há alguém por perto, a quem não interessa o que vamos dizer. Se a pessoa já não está com o estado emocional alterado por outros problemas ou questões íntimas.
4. Controlar a emoção.
Crítica não é desabafo.
Por mais que a conduta da pessoa ou o erro que ela cometeu tenha produzido em nós algo de ruim, desde a irritação até a raiva, ao nos diri-girmos a ela precisamos ter sob controle
as nossas emoções, porque ninguém constrói nada de produtivo agredindo, ao utilizar-se da crítica.
5. Evitar produzir desconforto excessivo no interlocutor.
Se efetivamente queremos usar a crítica como forma positiva de ajudar, melhorar, aperfeiçoar o outro, deveremos não só ter o controle das emoções, como, também, usar
as palavras de forma adequada para esclarecer e orientar.
6. Ao fazer a crítica, apresentar um aspecto positivo e, em seguida, falar do comportamento inadequado.
Ao final, referir-se a outro comportamento adequado da pessoa.
É muito difícil receber uma crítica com tranqüilidade, por isso, comecemos apresentando à pessoa algo que ela tenha de bom, falando de forma autêntica e verdadeira; em seguida apresentemos a crítica.
Quando necessário, para amenizar o impacto emocional produzido, comentemos algo positivo que a pessoa também tem. Ela se tornará mais receptiva à análise feita.
7. Ao falar, ser claro e sucinto.
Quando fizermos a crítica, deveremos falar com clareza, com tranqüilidade e prender-nos estritamente ao que necessariamente tenha que ser dito naquele instante.
Ficar com circunlóquios e repetições desnecessárias acaba por irritar o interlocutor, bloqueando a sua possível receptividade.
8. Evitar estilo professoral e moralista.
Ao fazer uma crítica nunca deveremos posicionar-nos como se falássemos de cátedra ou com pretensa superioridade moral ou espiritual.
Considerando-se o erro como elemento inerente às nossas experiências
de aprendizagem, ao fazer a crítica não deveremos assumir uma postura de quem não erra nunca e já se sente como um ser perfeito.
Esse comportamento gera uma postura por parte da outra pessoa de defensibilidade e de bloqueio; ainda que a crítica seja procedente ela, mentalmente, já terá assumido
um estado mental e emocional de impermeabilidade.
9. Dar oportunidade ao outro para se justificar.
O grande avanço nas normas do Direito que regem a elaboração das leis, principalmente na área da punibilidade, foi o estabelecimento do princípio do contraditório.
Ninguém pode ser condenado se não tiver o direito de responder às acusações que lhe são imputadas, ou seja, o inarredável direito de defesa.
Da mesma forma, no relacionamento comum, quando surge um fato em que alguém é criticado, ele tem o direito de se justificar e deve ser-lhe dada a oportunidade para tal.
Se a sua argumentação justifica ou não a ocorrência, dependerá de nova
análise, podendo ser acolhida ou não.
10. Não permitir atitudes subservientes.
Como há aquelas pessoas que ao serem criticadas, no sentido de apontar-lhes erros, se irritam ou se enraivecem partindo para o ataque a fim de se defender, outras assumem
um comportamento de subserviência, ou seja, de se rebaixar, desconsiderando-se.
Adotam uma postura de “coitadinho inferior”
É preciso mostrar à pessoa o erro cometido e que se deseja apenas a sua reparação, sem que isso fira a sua dignidade e a sua auto-estima.
Às vezes esse comportamento revela uma compreensão autêntica da sua falha, mas exagerado quanto à autocrítica, outras vezes, porém,pode manifestar uma manobra para
escusar-se de encarar os próprios erros.
11. Manter contato visual sem ser intimidatório.
Ao dialogarmos com a pessoa a qual fazemos a crítica, mantenhamos
contato visual com ela, sem que ele seja intimidatório ou que a
nossa postura revele uma pretensa superioridade.
Que esse contato visual expresse compreensão, clareza e firmeza respeitosa para com a pessoa a quem estamos expressando a nossa crítica.
Finalmente, ao adotarmos o comportamento de fazer a crítica de maneira construtiva e educativa, estaremos atendendo à orientação do Mestre Jesus: “Fazei aos homens
tudo o que queirais que eles vos façam, pois é nisto que consistem a
lei e os profetas.” (Mateus, 7:12.)
“Tratai todos os homens como quereríeis que eles vos tratassem.”
(Lucas, 6:31.)
BIBLIOGRAFIA:
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1. ed.
especial. Rio de Janeiro: FEB, Parte Terceira,
cap. XII, 2005.
_____. O Evangelho segundo o Espiritismo,
3. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, cap. X,
2005.
PRETTE, Almir e Zilda. Habilidades Sociais
Cristãs, 1. ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes,
2003.

Revista o Reformador-Ano 2005-outubro

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Saúde, doença, enfermidade


Marta Antunes Moura
 Organização Mundial da Saúde (OMS) é uma agência mundial especializada em saúde, fundada em 7 de abril de 1948 e subordinada à Organização das Nações Unidas, com sede em Genebra, Suíça. À época da criação da OMS, logo após a Segunda Guerra Mundial, havia a preocupação de elaborar uma definição positiva de saúde, que incluísse os aspectos alimentação, atividade física, acesso ao sistema de saúde e bem-estar social, sobretudo este, decorrente da devastação causada pela guerra e pela expectativa da paz que a Humanidade buscava.
Outros aspectos foram incorporados a essa ideia inicial: pela primeira vez uma organização internacional de saúde faz referência à saúde mental e a partir da década de 80 o sentido de ecologia foi incorporado à definição, que ficou assim: Saúde “é um estado de completo bem-estar físico, mental, social e ecológico, não consistindo somente da ausência de uma doença ou enfermidade”. 1,2,3

O fato de a Declaração da OMS considerar saúde como um estado de completo bem-estar passou a ser alvo de críticas logo que o conceito foi publicado, sendo interpretado por uma parcela de estudiosos como um ideal inatingível ou de pouca possibilidade de concretização. Supôs-se, até, que a definição conduziria a uma “medicalização” da existência humana e abusos por parte do Estado, a título de promover a saúde. Por outro lado, os defensores do conceito da OMS alegaram (e alegam) que a definição utópica de saúde é útil porque: 1o) destaca a necessidade de prevenção de doenças; 2o) considera o ser humano de forma integral; 3o) prioriza ações médicas e paramédicas, hospitalares e em nível de políticas de saúde; 4o) concede liberdade para o seu desenvolvimento em todos os níveis da organização social.2

Com base nesse referencial, no discurso de abertura das comemorações do Dia Mundial da Saúde, ocorridas em 7 de abril do ano em pauta, a OMS focaliza a saúde do idoso, assinalando que “uma boa saúde ao longo da vida pode ser acrescida de vida”.1 Destaca, igualmente, a importância de homens e mulheres idosos não só prolongarem o período de sua existência física, mas que tenham também uma vida produtiva. No final do discurso, proferido pela diretora geral da OMS, a chinesa Margaret Chan enfatiza: “no curso do século atual o mundo terá mais pessoas idosas que crianças. Teremos, então, que reinventar a velhice”.4

Durante as comemorações do Dia Mundial da Saúde, a OMS convida os profissionais de saúde e a população em geral para refletirem sobre o tipo de sociedade que está sendo construída no mundo atual. Lança um apelo aos dirigentes das nações e aos indivíduos comprometidos com os destinos da Humanidade, pedindo-lhes examinarem políticas e medidas que, efetivamente, são consideradas necessárias para adiar o envelhecimento da população e atendê-la privilegiando antes de tudo a saúde. Para se ter uma ideia geral do assunto, acredita-se que, somente na Europa, o número de pessoas com mais de 65 anos será o dobro entre 2010 e 2050.4

Faz-se necessário saber distinguir doença e enfermidade, vocábulos popularmente considerados sinônimos. O significado é diverso, não é a mesma coisa. As Ciências da Saúde designam doença como um distúrbio das funções de um órgão, da psique ou do organismo, visto como um todo, que pode estar associado a sintomas específicos. A doença é, pois, “condição de não estar bem.[...] Uma condição patológica do corpo, que apresenta um grupo de sinais e sintomas clínicos e de achados laboratoriais peculiares à condição e que classifica a condição como uma entidade anormal, diferente de outros estados orgânicos normais ou patogênicos”.5 Doença é sempre entendida como um distúrbio (patologia) tangível, que pode ser mensurado, e que é produzida por fatores externos (p. ex., infecções por microorganismos) ou por mal funcionamento interno do organismo (doenças autoimunes, metabólicas, genéticas, congênitas, traumáticas etc.), em geral revelados por sinais e sintomas. Sinais são alterações no organismo que podem indicar adoecimento, percebidas ou medidas por profissionais de saúde. Sintomas são alterações relatadas pelo paciente. Enfermidade, por outro lado, é uma manifestação individual e pessoal. Aquilo que o paciente sente ou percebe. Por exemplo: “uma pessoa pode ter uma doença séria, como a hipertensão, mas sem sentir dor ou sofrimento, e assim não estará enferma. Por outro lado, a pessoa pode estar extremamente enferma, p. ex., com histeria ou enfermidade mental, mas sem evidência de doença, segundo a avaliação das alterações patológicas do corpo”.5

Emmanuel faz os seguintes comentários a respeito do conceito de saúde:

Para o homem da Terra, a saúde pode significar o equilíbrio perfeito dos órgãos materiais; para o plano espiritual, todavia, a saúde é a perfeita harmonia da alma, para obtenção da qual, muitas vezes, há necessidade da contribuição preciosa das moléstias e deficiências transitórias na Terra.6

Segundo a Doutrina Espírita, qualquer doença ou enfermidade, por mais superficiais que sejam, têm raízes no Espírito, nas experiências vividas pelo Espírito:

As chagas da alma se manifestam através do envoltório humano. O corpo doente reflete o panorama interior do espírito enfermo. A patogenia é um conjunto de inferioridades do aparelho psíquico.7

Em outra oportunidade, Emmanuel, também nos lembra:

A doença sempre constitui fantasma temível no campo humano, qual se a carne fosse tocada de maldição; entretanto, podemos afiançar que o número de enfermidades, essencialmente orgânicas, sem interferências psíquicas, é positivamente diminuto. A maioria das moléstias procede da alma, das profundezas do ser. Não nos reportando à imensa caudal de provas expiatórias que invade inúmeras existências, em suas expressões fisiológicas, referimo-nos tão somente às moléstias que surgem, de inesperado, com raízes no coração. Quantas enfermidades pomposamente batizadas pela ciência médica não passam de estados vibratórios da mente em desequilíbrio? Qualquer desarmonia interior atacará naturalmente o organismo em sua zona vulnerável. Um experimentar-lhe-á os efeitos no fígado, outro, nos rins e, ainda outro, no próprio sangue. Em tese, todas as manifestações mórbidas se reduzem a desequilíbrio, desequilíbrio esse cuja causa repousa no mundo mental.8

Ante essas orientações, a cura das doenças e das enfermidades reside no próprio Espírito:

E é ainda na alma que reside a fonte primária de todos os recursos medicamentosos definitivos. A assistência farmacêutica do mundo não pode remover as causas transcendentes do caráter mórbido dos indivíduos. O remédio eficaz está na ação do
próprio espírito enfermiço.9

Ponderemos, contudo, que a despeito das doenças terem raízes espirituais, o homem pode e “deve mobilizar todos os recursos ao seu alcance em favor do seu equilíbrio orgânico. Por muito tempo ainda, a Humanidade não poderá prescindir da contribuição do clínico, do cirurgião, do farmacêutico, missionários do bem coletivo. O homem tratará da saúde do corpo até que aprenda a preservá-lo e defendê-lo, conservando a preciosa saúde de sua alma”.10

Sendo assim, os estados de saúde e doença estão diretamente relacionados às escolhas que o indivíduo faz, ao bom e mau uso do livre-arbítrio, uma vez que, na vida, a lei de causa e efeito funciona inexoravelmente, ainda que sempre atenuada pela misericórdia divina:

[...] é justo recordar que a criatura, durante a reencarnação, elege, automaticamente, para si mesma, grande parte das doenças que se lhe incorporam às preocupações.11

Em suma, a prevenção e o tratamento de doenças e de enfermidades restringem-se à prática do bem, que é “o único antídoto eficiente contra o império do mal em nós próprios”.12

Referências:

1WHO – Organização Mundial da Saúde. Disponível em: <http://www.who.int/en/> ou em francês: <http://www.who.int/fr/index. html>.
2DEFINIÇÕES DE SAÚDE. Disponível em: <http://www.redehumanizasus.net/3589 definicoes-de-saude>.
3CLAYTON, L. Thomas. [Visiting Scientist Harvard University School of Public Health]. Dicionário médico enciclopédico taber. Trad. Fernando Gomes do Nascimento. 17. ed. brasileira. São Paulo: Manole, 2000. p. 1.583.
4DIA MUNDIAL DA SAÚDE. Disponível em: <http://www.euro.who.int/en/who-wea r e / w h d / w o r l d - h e a l t h - d a y - 2 0 1 2 / news/news/2012/03/healthy-ageing-infocus- on-world-health-day>.
5CLAYTON, L. Thomas. [Visiting Scientist Harvard University School of Public Health]. Dicionário médico enciclopédico taber. Trad. Fernando Gomes do Nascimento. 17. ed. brasileira. São Paulo: Manole, 2000. p. 524.
6XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2011. Q. 95.
7______. ______. Q. 96.
8______. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. ed. esp. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2011. Cap. 157.
9______. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2011. Q. 96.
10______. ______. Q. 97.
11______. Religião dos espíritos. 21. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2010. Cap. Doenças escolhidas, p. 233.
12______. ______. p. 234.pe the text here

sábado, 1 de setembro de 2012

Lições Espirituais: Obsessão

Artigo publicado no século 18, no jornal "O Paiz", no Rio de Janeiro

Já como temos provado que do espaço nos vêm revelar espíritos, que foram nossos conhecidos em vida; que não há nisso fraudes satânicas, porque Satã é uma invenção humana, temos a questão das comunicações espíritas colocadas em condições idênticas para o materialista, para o católico, para todo ser racional, os quais não procuram fugir ao conhecimento da Verdade.
Posto isto, a Verdade das manifestações dos mortos não é hoje um mistério; é patente a quem quiser ver, como temos dito e repetido à sociedade.
O mais refratário, se fizer a experiência, será convencido, porque dia-a-dia colherá diversas provas de ser o espírito desencarnado quem se manifesta.
Por este modo, teremos provado experimentalmente: 1º) que existe o espírito; 2º) que o espírito sobrevive à morte do corpo; 3º) que, separado do corpo, continua, ou pode continuar, em constante comunicação com os vivos.
Entretanto, cumpre fazer notar que o “eu” humano, desembaraçado da prisão corpórea, adquire maior lucidez para descortinar os horizontes da criação, cada um na esfera de seu progresso.
Assim ensinam as comunicações de além-túmulo; estas mostram criaturas, que foram estúpidas e ignorantes na vida, dando, do espaço, provas de muita compreensão e saber.
As lições dos espíritos têm, pois, um alcance que não pode ser comparado ao das lições dos nossos sábios terrenos: primus, (primeiro) porque eles falam o que vêm; sécundus, (segundo) porque os sábios da Terra falam o que conjecturam.
É desnecessário dizermos que nos referimos às coisas do mundo invisível ou dos espíritos.
A palavra dos espíritos tem, portanto, tanta ou maior autoridade sobre as coisas da outra vida, como tem a do sábio sobre as coisas da Ciência que professa.
Podem, ambos, enganar-se, mas ali está o corretivo que é o criterium (critério) absoluto da Verdade.
Além de que, tratando-se de um fato que afeta, pessoalmente, todos os espíritos, isto é, o de terem eles tido mais que uma existência, seu depoimento é de visu, (por ter visto) quando o parecer do sábio é baseado em conjecturas e provas indiretas.
Se, pois, não um, porém muitos, mas se todos os espíritos afirmarem que têm tido mais de uma experiência corpórea, a lei das reencarnações tem, ipso facto, (por isso mesmo) passado pela prova experimental.
A Doutrina Espírita é a codificação dos ensinos dados aos homens pelos espíritos desencarnados, que se dizem mensageiros das Verdades prometidas pelo Cristo a seus discípulos.
Nessa Doutrina, firmada no ensino dos espíritos reveladores, está o principio da pluralidade das existências, sem a qual, como foi demonstrado no principio desta exposição, nada se pode explicar da vida humana, sem se ferirem os divinos atributos.
Daí, vem-nos um valioso testemunho, uníssono e autorizado pela superioridade dos espíritos que o deram.
Como, porém, nosso fim, hoje, não é apelar para a autoridade de quem quer que seja, mas, sim, dar uma prova experimental ao alcance de quem quiser observar, falaremos do que temos visto e pode ser visto por quem duvidar.
O estudo das obsessões, se não aceitarmos o ensino que nos vêm dar os luminares do espaço, é o que mais, eficazmente, separa a questão.
Trata-se de uma moça de família muito conhecida na grande roda da Corte, e sofre perseguição da parte de um espírito perverso, o qual a levou ao estado de loucura.
Um dia, o espírito da pobre vítima desprende-se, momentaneamente, do corpo, que jaz em sono, e vai a um Centro manifestar suas dores e pedir proteção.
Ali conta a sua história, que é a seguinte:
“Há séculos era eu uma moça cristã, devotada à caridade, por índole, e porque seguia os exemplos de meu bom pai:
Um homem (dá o nome) abusou de minha inocência, e, coagido por meu pai, reparou o mal que me fez, porém me tratou de modo a reduzir-me ao desespero.
Por fim, levou sua danação a abusar da própria filha, de minha filha, que era a minha única felicidade!
Tinha resistido a tudo; mas aquele golpe prostrou-me; arrastou-me ao suicídio.
Sofri no espaço castigos indescritíveis, até que Deus foi servido compadecer-se de mim, dando-me outra existência, para nela eu reparar as faltas do passado.
Prometi fazê-lo, mas não tive a força de cumprir o que prometi.
Degradei-me a ponto de fazer-me à favorita do rei; mas não foi isso o pior. O pior foi ter abusado de meu poder para fazer mal aos meus inimigos, e, especialmente, ao que fora meu marido.
Morri nesse estado de reincidência e sofri torturas atrozes, até que, arrependida, obtive a graça da presente encarnação para resgatar por boas obras meu negro passado.
Minha missão foi sofrer tanto quanto fiz sofrer e hoje tremo em pensar que ainda posso desfalecer”
Aquele desgraçado espírito que, sem nenhum interesse, contou-nos a história de três das suas existências corpóreas, deixou-nos consternados.
Imediatamente, o obsessor, aquele que perseguia a pobre moça, para se vingar do mal que lhe fizera a favorita, apareceu pelo mesmo médium, jurando fazer o mal à sua vitima até a morte, e dizendo a razão de tanto ódio.
O que ele contou conferia, exatamente, com o que ela havia contado!
Qual o positivista que poderá resistir a uma prova destas, e a três e quatro provas iguais, se tanto julgar preciso?
Há, por aí, mais de um grupo que faz trabalhos de obsediados.
Não faltam, pois, a quem tiver boa vontade, meios de verificar por si a exatidão de nossos estudos experimentais.
Indicamos, de preferência, os trabalhos de obsessões, porque por eles a prova é certa, visto que a obsessão é sempre obra de vingança por ofensas de uma vida anterior.
Aí, o observador não tem muito que esperar.

Aritgo escrito por Bezerra de Menezes quando ainda encarnado.

Texto retirado do site Irmã Clara


A Mediunidade e a História


Artigo publicado na Revista Internacional de Espiritismo, Novembro de 1968.

Pode a mediunidade influir na vida e nas atitudes históricas de certos homens públicos? Claro que pode. É verdade que os estudiosos e eruditos, na maioria, ainda não levaram em conta a participação do fator mediúnico na História. No entanto, há muitos fatos, e dos mais significativos, demonstrando que a mediunidade teve influência, às vezes decisiva, em determinados acontecimentos. São os tais fatores imponderáveis, a que os historiadores ainda não deram a devida importância. Mas a verdade é que alguns homens ilustres – guerreiros, condutores de massas e chefes de Estado – tiveram visões, receberam avisos do Alto, e houve casos em que, devido à interferência de espíritos, certos homens modificaram as suas posições ou tomaram outras direções, em momentos agudos da História.
Nem precisamos falar em Nabucodonosor, no Império Romano e noutras épocas da História antiga. Temos, aqui perto, um exemplo frisante: Abraham Lincoln, nos Estados Unidos. Quem é, hoje, que não sabe que o grande Presidente dos Estados Unidos fazia sessões mediúnicas no próprio Palácio? Pois bem, a mediunidade tem um papel importante na História política e social daquele país. Bastaria lembrar a repercussão que teve a Cabana do Pai Tomás na abolição da escravatura. E o Alto não trabalhou ali? Não foi um livro de inspiração extra-humana? E esse livro, ainda hoje lido e apreciado, não teve ação profunda na transformação sócio-política dos Estados Unidos?
São fatos históricos em que se verifica, de um modo bem positivo, a projeção da mediunidade, ora no encaminhamento, ora na solução de grandes crises nacionais. Muita gente nem sequer pensa nisto. E há quem diga, displicentemente, quando se fala nestas “coisas”; os espíritos, se eles existem mesmo, nada têm a ver com a História... Pois fiquem sabendo que os espíritos, os chamados mortos, tem a sua parte na formação da História.
Vejamos o caso de Lincoln. A este respeito, eu me permitiria simplesmente recomendar a leitura de um livro oportuníssimo, e que já está em circulação, graças ao louvável esforço da Casa Editora O Clarim, de Matão, Estado de São Paulo. O Livro chama-se Sessões Espíritas na Casa Branca, de autoria de Nettie Colburn Maynard e traduzido pelo nosso confrade Wallace Leal V. Rodrigues. Diversos episódios, inclusive a tragédia em que iria tombar o glorioso homem público norte-americano, foram previstos e devidamente confirmados.
O próprio ato de emancipação dos escravos, que foi, sem dúvida, um dos maiores acontecimentos, não apenas da História dos Estados Unidos, mas da própria História da América, tem relação direta com o mundo espiritual. Pouco importa que as Histórias oficiais, escritas muitas vezes para atender a convenções e conveniências, não se preocupem com este aspecto; mas o fato está documentado, e é quanto nos basta.
O livro de Nettie Colburn Maynard traz uma contribuição inestimável, porque revela particularidades impressionantes na vida de Lincoln, principalmente em sua carreira política, mostrando como essas particularidades tiveram influência no problema da escravatura e, por fim, noutras decisões notáveis. Dá, portanto, uma versão diferente de tudo quanto se escreveu, até hoje, no estilo convencional, sobre Abraham Lincoln e o seu fecundo e humanitário governo.
Não quero nem posso fazer comentários sobre o livro; em primeiro lugar, porque precisaria de muito espaço, talvez para dois ou três artigos; em segundo lugar, porque o melhor é deixar que o leitor conheça o livro e veja por si mesmo que a mediunidade é também um fator na História, queiram ou não queiram os indiferentes. Desejo, porém, pedir a atenção daqueles que vierem a ler Sessões Espíritas na Casa Branca, para a última parte, que é um trabalho de pesquisa e compilação de Wallace Leal Rodrigues.
Além de haver traduzido a obra, no que prestou excelente serviço à literatura espírita, Wallace Rodrigues ainda ofereceu uma contribuição pessoal, reunindo elemento de pesquisa histórica, demonstrando que outros presidentes dos Estados Unidos, e não apenas Lincoln, também tiveram as suas experiências mediúnicas, independentemente de suas crenças religiosas. E vem a lista, por ordem cronológica: George Washington, Millard Fillmore, W. Wilson, Roosevelt, Truman, Eisenhower. O trabalho de Wallace Rodrigues confirma, portanto, a assertiva de que a mediunidade tem influência na História.
Não seria justo registrar o aparecimento de um livro, e livro de tal ordem, sem uma referência especial à Editora. Os discípulos de Cairbar Schutel não arriaram a bandeira que ele deixou de pé, e bem alta. A Casa Editora O Clarim é uma forja de trabalho, ainda inspirada no exemplo de Cairbar. Agora mesmo, para comemorar o centenário do nascimento de Cairbar Schutel, em 22 de setembro, a Editora está lançando obras de grande utilidade. Ultimamente, saíram dois livros de Allan Kardec, aliás, bem pouco conhecidos no próprio meio espírita: Viagem Espírita em 1862 e Instruções práticas sobre as manifestações espíritas. (Este pequeno livro procedeu, O Livro dos Médiuns e, com este título, tomou feição definitiva).
Há, em Matão, um grupo de trabalhadores abnegados, um núcleo de idealistas, em cuja alma está sempre acesa a chama que Cairbar sustentou com amor, com sacrifício, com dignidade e humildade. O Brasil espírita precisa conhecer melhor a obra que se realiza em Matão. Manter uma editora espírita, nesta época, é ter muito amor à Causa.
Venho dizendo e repetindo que as editoras espíritas precisam de apoio cada vez maior, porque não são empresas comerciais no sentido comum; são organizações que têm objetivos diferentes, embora tenham à sua parte comercial, que é indispensável. É preciso ver as nossas editoras, nunca pelo lado exclusivamente comercial, que é apenas uma contingência terrena, mas pelo lado doutrinário, pelos frutos que elas espalham, instruindo, edificando, iluminando.
Em matéria editorial, no meio espírita, as edições de O Clarim já formam, hoje, um patrimônio apreciável, sobretudo pela preocupação, que sempre tiveram os seus dirigentes, de publicar a Doutrina em sua pureza, ou imprimir obras que realmente correspondem aos mais legítimos interesses da Doutrina. Uma prova disto é o fato de haver tomado a bem inspirada iniciativa de mandar traduzir e publicar Sessões Espíritas na Casa Branca. O esforço do infatigável tradutor e da Editora precisa e deve ser bem correspondido, porque é um serviço de natureza mais espiritual do que propriamente humana, uma vez que a leitura desse livro vai abrir novos rumos na alma daqueles que, ainda tendo dúvidas sobre a imortalidade espiritual, irão encontrar, na vida de Lincoln, provas convincentes de que os mortos sempre influíram e continuam influindo nos vivos.

Deolindo Amorim
Texto retirado do site Imã Clara