CURA DO
HIDRÓPICO
Luc.
14:1-6
1.E
aconteceu que ao vir ele (Jesus) à casa de um dos chefes fariseus,no sábado,
para comer pão, este o estava observando.
2.E eis
que certo homem hidrópico estava diante dele.
3.E
respondendo Jesus falou aos doutores da lei e fariseus, dizendo: "É lícito
curar no sábado, ou não"?
4.Eles
calaram-se. E tocando, curou-o e libertou-o,
5.e a
eles disse: "qual de vós, se cair no poço um filho ou um boi,imediatamente
não o levanta, mesmo em dia de sábado"?
6.E não
puderam responder a isso.
Este
trecho e os três seguintes pertencem ao mesmo episódio: um almoço na casa "de certo
chefe fariseu" (tínos tôn archóntôn pharisaíôn), ou seja, de algum dos
membros influentes do partido, porque os fariseus jamais tiveram o que pudesse
denominar-se um "chefe" oficial. No entanto, havia vários membros do
partido que, por sua posição social, cultural, política ou financeira,
gozavam de maior prestígio, e eram considerados "archontes" (principais,
destacados, influentes, chefes etc.).
O que
convidou Jesus parece que era simpático ao Mestre, como veremos pela atenção e
delicadeza com que O trata, e pelas lições de perfeição que recebe, num
grau bem mais elevado que o da plebe.
E o convite, mesmo depois de tantas
acusações feitas a Jesus e de Suas invectivas contra os fariseus demonstra
que havia, pelo menos, admiração e desejo de aprender. Não obstante, o
anfitrião não deixa de observá-Lo.
A
expressão "comer pão" era corrente em hebraico para significar uma
refeição sem formalismo.
Ao entrar
em casa dos fariseus Jesus vê diante de si (émprosthen autoú) um
hidrópico. Dizem os hermeneutas que no oriente há mais liberdade de alguém
penetrar na casa de estranhos, do que um ocidental permitiria, e por isso o
hidrópico deve ter entrado ao ver Jesus para já dirigir-se. Mas quem nos diz que o
hidrópico era um mendigo? podia até ser um dos convidados. Nem só os mendigos
adoecem de hidropisia. Ou podia ser um dos agregados ou empregados. O texto diz
que Jesus "viu diante de si",dando a entender que o enfermo já estava
na casa. E o verbo apolyô não significa rigorosamente, nem apenas,
"despedir" (dando idéia de que se manda embora uma pessoa), mas
também "libertar".
O fato é
que Jesus aproveita o ensejo e pergunta se é licito curar no sábado,como o
fizera na sinagoga(Luc. 6:9; vol. 2) com o homem da mão atrofiada. Já fora
criticado por fazê-lo (Luc. 13:14), mas sempre ensinou que o sábado foi feito
para o homem e não o homem para o sábado (Mat. 12:8 e Luc. 6:5;vol. 2).
Como não
pudessem responder sobre a liberdade ou não do ato, o Mestre não perde tempo:
toca o enfermo, despejando sobre ele Seus poderes e Seu magnetismo
curador, e liberta-o da enfermidade; além de curá-lo, deixa-o livre. Não exige
declaração de fé, como fizera em outros casos, nem avisa quanto ao perigo
de uma recaída, se tornasse a errar. Por faltarem esses pormenores é que
preferimos traduzir apolyô por "libertar”: o curado estava libertado do
carma.
Depois
prossegue na argumentação, demonstrando aos presentes que, se eles libertam um
filho ou um boi, quando caem num poço num dia de sábado por que não poderia Ele
faze-lo a uma criatura humana? Por que um filho merece mais que um estranho?
Não sofrem ambos? E por que um boi vale mais,por ser
"nosso", do que um irmão, filho do mesmo Pai celestial ?
A
comparação já fora feita com "um boi e um asno”(Mat. 12:11; Luc. 13:15).
Agora aparece um filho ou um boi", com ótimos testemunhos (papiros 45, 75,
códices A,
B, E, G, H, L, M, S, U, V, W, gama,deltae boi” (códices sinaítico, K, X,pi, psi
e siríaca sinaítica).
O
argumento era decisivo. Nada foi dito e, parece, o fato foi bem aceito.
A lição
versa sobre o serviço aos estranhos, oposto aos do próprio círculo de
parentesco ("filho") e das propriedades ("bois"). Todos
somos UM. E não há dias nem datas prefixadas para atender aos necessitados.
Desde que se apresente a necessidade , ajuda-se, sem burocracia, sem
exigências, sem condições, com todo o amor.
Mas todos
os que entram no "Caminho" são agudam ente observados pelos profanos,
que os julgam por sua pauta humana mesquinha, e fazem questão cerrada de amoldá-los a suas formas prefabricadas,
segundo os preceitos inventados por eles como regras infalíveis, atribuindo-os
sempre a um deus que lhes está sujeito, como títere em suas mãos.
A figura
do hidrópico é típica como exemplificação, tal como fora a da "mulher
recurvada" (Luc.13:11). Aqui a imagem é tirada de um hidrópico (1).
(1) A
hidropisia é causada pelo derrame de serosidade em qualquer cavidade do corpo,
tomando nomes técnicos de acordo com o local (hidrotórax, no peito;hidrocefalia,
na cabeça; hidroftalmia, nos olhos;edema ou anasarca a total ou parcial
infiltração no tecido celular, etc.). No entanto, vulgarmente, a hidropisia é
tida como sinônimo de "barriga d'água", embora, no ventre, os médicos
a denominem oficialmente "ascite" (doença de que desencarnou o famoso
Domingos de Gusmão, fundador dos frades dominicanos (cfr. Frei Luiz de Souza,
"História de São Domingos", livro 5, cap. 38).
A
hidropisia faz inchar a parte do corpo atacada pela enfermidade. Assim, o
convencimento de ser"dono da verdade" incha o pequeno eu vaidoso
(cfr. Paulo: 1.ª Cor. 4:18, 19; 5:2; 8:1; Col. 2:18,. 1.ªTim. 3:6). Nada mais
típico para ensinar-nos que precisamos curar (sobretudo em nós mesmos!) essas hidropisias
intelectualóides, a fim de conseguir a humildade indispensável para compreender
as lições que nos são trazidas. Curada a hidropisia do orgulho, o espírito é
libertado (apolyô) e progredirá sem empecilhos
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