O texto colocado entre aspas, em seguida às perguntas,
é a resposta que os Espíritos deram. Para destacar as notas e explicações
aditadas pelo autor, quando haja possibilidade de serem confundidas com o
texto da resposta, empregou-se um outro tipo menor. Quando formam
capítulos inteiros, sem ser possível a confusão, o mesmo tipo usado para
as perguntas e respostas foi o empregado.
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Subsídios de outras Obras:
Filosofia Espírita de Miramez psicografado por João Nunes Maia
Fonte:http://www.olivrodosespiritoscomentado.com/fev4q194c.html
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Obra Básica : Livro O Céu e o Inferno: Allan Kardec
Cap. VIII Expiações Terrestres
MAX, o mendigo
Num
vilarejo da Baviera morreu, por volta do ano de 1850, um velho quase
centenário, conhecido pelo nome de pai Max. Ninguém conhecia exatamente
sua origem, pois ele não tinha família. Há cerca de meio século,
achacado por enfermidades que não lhe permitiam ganhar a vida
trabalhando, não tinha outros recursos senão a caridade pública que
dissimulava indo vender nas quintas e nos castelos almanaques e pequenos
objetos. Haviam-lhe dado o apelido de conde Max, e as crianças só o
chamavam por Senhor conde, o que o fazia sorrir sem se ofender. Por que
esse título? Ninguém poderia dizer; tornara-se um hábito. Era talvez por
causa de sua fisionomia e das suas maneiras cuja distinção contrastava
com os andrajos. Vários anos depois da morte, ele apareceu em sonho à
filha do proprietário de um dos castelos onde ele recebia hospitalidade
na estrebaria, pois não tinha domicílio próprio. Ele disse-lhe:
“Agradeço-vos por vos terdes lembrado do pobre Max em vossas preces,
pois elas foram ouvidas pelo Senhor. Desejais saber quem eu sou, alma
caridosa que vos interessastes pelo desgraçado mendigo; vou
satisfazer-vos; será para todos uma grande instrução.”
“Há
cerca de um século e meio, eu era um rico e poderoso senhor desta
região, mas vaidoso, orgulhoso e enfatuado com minha nobreza. Minha
imensa fortuna jamais serviu senão para os meus prazeres, e ela mal
bastava para isso, pois eu era jogador, devasso e passava a vida em
orgias. Meus vassalos, que eu acreditava terem sido criados para meu uso
como os animais das quintas, eram sobrecarregados de impostos e
maltratados para proverem minhas prodigalidades. Eu permanecia surdo às
queixas deles como às de todos os desgraçados, e, na minha opinião, eles
deviam considerar-se muito honrados de servir meus caprichos. Morri
numa idade pouco avançada, esgotado pelos excessos, mas sem ter
experimentado nenhuma verdadeira desgraça; tudo parecia, ao contrário,
me sorrir, de sorte que eu era aos olhos de todos um dos felizardos do
mundo: minha posição valeu-me suntuosa cerimônia fúnebre, os estroinas
lamentaram em mim o faustoso senhor, mas nenhuma lágrima foi derramada
sobre o meu túmulo, nenhuma prece do coração foi dirigida a Deus por
mim, e minha memória foi amaldiçoada por todos aqueles cuja miséria eu
aumentara. Ah! Como é terrível a maldição daqueles cuja desgraça
fizemos! Ela não cessou de retinir nos meus ouvidos durante longos anos
que me pareceram uma eternidade! E com a morte de cada uma das minhas
vítimas, era uma nova figura ameaçadora ou irônica que se erguia diante
de mim e me perseguia sem trégua, sem que eu pudesse encontrar um canto
escuro para me subtrair da sua vista! Nem um olhar amigo! Meus antigos
companheiros de devassidão, desgraçados como eu, fugiam de mim e
pareciam dizer-me com desdém: “Não podes mais pagar os nossos prazeres.”
Oh! como eu teria então pago caro por um instante de repouso, um copo
d’água para saciar a sede ardente que me devorava! Mas não possuía mais
nada, e todo o ouro que eu semeei às mancheias na terra não produziu uma única bênção, nem uma única, ouvis, minha criança!
“Enfim,
oprimido pelo cansaço, esgotado como um viajante estafado que não vê o
fim de sua estrada, gritei: “Meu Deus, tende compaixão de mim! Quando
acabará esta horrível situação?” Então uma voz, a primeira que ouvia
desde que deixara a terra, disse-me: “Quando quiseres. – O que é preciso fazer, grande Deus? respondi; dizei: submeto-me a tudo. – É preciso arrependeres-te; humilhares-te diante daqueles que humilhaste; pedir-lhes para interceder por ti, pois a prece do ofendido que perdoa é sempre agradável ao Senhor.”
Humilhei-me, pedi a meus vassalos, meus servidores, que estavam ali à
minha frente, e cujas figuras, cada vez mais benevolentes, acabaram por
desaparecer. Então, foi como uma nova vida para mim; a esperança
substituiu o desespero e agradeci a Deus com todas as forças da minha
alma. A voz me disse em seguida: “Príncipe!” e eu respondi: “Não há aqui
outro príncipe senão o Deus onipotente que humilha os soberbos.
Perdoai-me, Senhor, pois pequei; fazei de mim o servidor dos meus
servidores, se tal é a vossa vontade.”
“Alguns
anos mais tarde, nasci de novo, mas desta vez de uma família de pobres
aldeões. Meus pais morreram quando eu ainda era criança, e fiquei no
mundo sozinho e sem apoio. Ganhei a vida como pude, ora como servente de
pedreiro, ora como moço de quinta, mas sempre honestamente, pois desta
vez acreditava em Deus. Na idade de quarenta anos, uma doença
paralisou-me todos os membros, e precisei mendigar durante mais de
cinquenta anos nessas mesmas terras das quais havia sido o senhor
absoluto; receber um pedaço de pão nas propriedades que possuíra, e
onde, por uma amarga irrisão, me apelidaram senhor conde, demasiado
feliz por encontrar um abrigo na estrebaria do castelo que fora meu. No
meu sono, divertia-me a percorrer esse mesmo castelo onde reinara como
déspota; quantas vezes, nos meus sonhos, me revi ali no meio da minha
antiga fortuna! Essas visões deixavam-me ao acordar um indefinível
sentimento de amargor e de lamentos; mas jamais uma queixa escapou da
minha boca; e quando Deus quis chamar-me a si, bendisse-o por me ter
dado a coragem de suportar sem murmúrio esta longa e penosa provação
cuja recompensa recebo hoje; e vós, minha filha, bendigo-vos por terdes
orado por mim.”
Observação:
Recomendamos este fato àqueles que pretendem que os homens não teriam
mais freio se não tivessem diante deles o espectro das penas eternas, e
perguntamos se a perspectiva de um castigo como o do pai Marx é menos
feita para deter no caminho do mal do que a de torturas sem fim nas
quais já não se crê.
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