NOS CASOS
DE ADOÇÃO
Francisco Cândido Xavier
Nossa reunião pública foi precedida de muitos comentários,
por parte de vários amigos que nos visitavam a instituição, procedentes de
cidades diversas. Parecia-nos, porém, que estavam com encontro marcado
para estudar a questão dos filhos adotivos.
As perguntas e opiniões eram de variado aspecto. “Devemos
dar conhecimento aos filhos adotivos da condição em que se encontram
conosco?”
– indagavam alguns casais.
As respostas variavam. Muitos companheiros se manifestavam
a favor da realidade clara, enquanto outros se expressavam de maneira
contrária, acreditando que a verdade devia permanecer sempre velada para
eles, de modo a que não fossem chocados negativamente.
Atingido o horário para a reunião e iniciadas as nossas
tarefas, O Evangelho Segundo o Espiritismo nos ofereceu para estudo o item
8 do capítulo XIV, em conexão com o assunto em debate.
Filhos Adotivos foi a mensagem que nosso benfeitor Emmanuel
nos trouxe no encerramento dos trabalhos.
FILHOS ADOTIVOS
Emmanuel
Filhos existem no mundo que reclamam compreensão mais
profunda para que a existência se lhes torne psicologicamente menos
difícil.
Reportamo-nos aos filhos adotivos que abordam o lar pelas
vias da provação, sem deixarem de ser criaturas que amamos
enternecidamente.
Coloquemos-nos na situação deles para mais claro
entendimento do assunto.
Muitos de nós, nas estâncias do pretérito, teremos
pisoteado os corações afetuosos que nos acolheram em casa, seja
escravizando-os aos nossos caprichos ou apunhalando-lhes a alma a golpes
de ingratidão. Desacreditando-lhes os esforços e dilapidando-lhes as
energias, quase sempre lhes impusemos aflição por reconforto, a
exigir-lhes sacrifícios até que lhes ofertamos a morte em sofrimento pelo
berço que nos deram em flores de esperança.
Um dia, no entanto, desembarcados no Mais Além, percebemos
a extensão de nossos erros e, de consciência desperta, lastimamos as
próprias faltas.
Corre o tempo e, quando aqueles mesmos espíritos queridos
que nos serviram de pais retornam à Terra em alegre comunhão afetiva,
ansiamos retomar-lhes o calor da ternura mas, nesse passo da experiência,
os princípios da reencarnação, em muitas circunstâncias, tão somente nos
permitem desfrutar-lhes a convivência na posição de filhos alheios, a fim
de aprendermos a entesourar o amor verdadeiro nos alicerces da humildade.
Reflitamos nisso. E se tens na Terra filhos por adoção,
habitua-te a dialogar com eles, tão cedo quando possível, para que se
desenvolvam no plano físico sob o conhecimento da verdade. Auxilia-os a
reconhecer desde cedo, que são agora seus filhos do coração, buscando
reajustamento afetivo no lar, a fim de que não sejam traumatizados na
idade adulta por revelações à base de violência, em que freqüentemente se
lhes acordam no ser as labaredas da afeição possessiva de outras épocas,
em forma de ciúme e revolta, inveja e desesperação.
Efetivamente, amas aos filhos adotivos com a mesma
abnegação com que te empenhas a construir a felicidade dos rebentos do
próprio sangue. Entretanto, não lhes ocultes a realidade da própria
situação para que não te oponhas à Lei de Causa e Efeito que os trouxe de
novo ao teu convívio, a fim de olvidarem os desequilíbrios passionais que
lhes marcaram a conduta em outro tempo.
Para isso, recorda que, em última instância, seja qual seja
a nossa posição nas equipes familiares da Terra, somos, acima de tudo,
filhos de Deus.
A ILUSÃO DO SANGUE
Irmão Saulo
Não é o sangue que nos irmana, mas o espírito. Os laços
consangüíneos são ilusórios e efêmeros. Kardec explica no item 8 do
capítulo XIV de O Evangelho Segundo o Espiritismo: “O corpo procede do
corpo, mas o espírito não procede do espírito, pois já existia antes da
formação do corpo. O pai não gera o espírito do filho. Fornece-lhe apenas
o envoltório corporal, mas deve ajudar o seu desenvolvimento intelectual e
moral, para fazê-la progredir”. Filhos de outros pais, procedentes de
outro sangue, podem ser muito mais ligados aos pais adotivos que os filhos
consangüíneos.
Essa é uma das razões por que os pais adotivos geralmente
não querem revelar a verdade aos filhos que adotaram. O amor paterno e
materno ressurge ante o filho que volta ao seu convívio. Mas Emmanuel
revela um dos aspectos da lei da reencarnação que exige atenção e
respeito. Os filhos que voltam ao lar por vias indiretas são espíritos em
prova e, portanto, em fase de correção moral. Precisam conhecer a sua
verdadeira situação para que a medida corretiva atinja a sua eficiência. E
se quisermos burlar a lei só poderemos acarretar-lhes maiores sofrimentos.
São muitos os dramas e muitas as tragédias ocasionadas pela
imprudência dos pais que mentiram piedosamente aos filhos adotivos. Quando
a verdade os surpreende, o choque emocional pode transtorná-los,
fazendo-os perder a oportunidade de aprendizado que muitas vezes
solicitaram com ardor na vida espiritual. Esta é uma razão nova que o
Espiritismo apresenta aos pais adotivos, quase sempre apegados apenas às
razões mundanas.
Aprendendo desde cedo a se acomodar à situação de prova em
que se encontra, o filho adotivo resigna-se a ela e aproveita a lição de
reajustamento afetivo. Amanhã voltará de novo como filho legítimo, mas já
em condições de compreender os deveres da filiação. A vida aplica sempre
com precisão os seus meios corretivos, mas nós nem sempre a ajudamos,
esquecidos de que os desígnios de Deus têm razões profundas que nos
escapam à compreensão. Se Deus nos envia um filho por via indireta,
devemos recebê-la como veio e não como desejaríamos que viesse.
Do livro "Astronautas do Além", de Francisco Cândido Xavier
e J.Herculano Pires - Espíritos diversos
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