Sobre os instintos
(Sociedade Espírita de Paris. - Médium, senhora Costel).
Eu te ensinarei o verdadeiro conhecimento do bem e do mal que o Espírito
confunde tão freqüentemente. O mal é a revolta dos instintos contra a
consciência, esse tato interior e delicado que é o toque moral. Quais são os
limites que os separam do bem que costeia por toda a parte? O mal não é
complexo: ele é um, e emana do ser primitivo que quer a satisfação do instinto
às expensas do dever. O instinto, primitivamente destinado a desenvolver no
homem animal o cuidado de sua conservação e de seu bem-estar, é a única
origem do mal; porque, persistindo mais violento e mais áspero em certas
naturezas, impele-os a se apoderar do que desejam ou a concentrar o que possuem.
O instinto, que os animais seguem cegamente, e que lhes é a própria virtude,
deve ser, sem cessar, combatido pelo homem que quer se elevar e substituir o
grosseiro instrumento da necessidade pelas armas finamente cinzeladas da
inteligência. Mas, pense, o instinto não é sempre mal, e, freqüentemente, a
Humanidade lhe deve sublimes inspirações, por exemplo, na maternidade e em
certos atos de devotamento, onde substitui, segura e prontamente, a reflexão.Minha filha, tua objeção é precisamente a causa do erro, na qual caem os homens prontos a menosprezarem a verdade sempre absoluta em suas conseqüências. Quaisquer que possam ser os bons resultados de uma causa má, os exemplos não devem nunca fazer concluir contra as premissas estabelecidas pela razão. O instinto é mau, porque é puramente humano e a Humanidade não deve pensar que se deve despojar, ela mesma, deixar a carne para se elevar ao Espírito; e se o mal costeia o bem, é porque seu princípio, freqüentemente, tem resultados opostos a si mesmo que o fazem menosprezar pelo homem leviano e levado pela sensação. Nada de verdadeiramente bem pode emanar do instinto: um sublime impulso não é mais o devotamento do que uma inspiração isolada não é o gênio. O verdadeiro progresso da Humanidade é a sua luta e seu triunfo contra a própria essência de seu ser. Jesus foi enviado sobre a Terra para prová-la humanamente. Pôs a descoberto, bela fonte enterrada na areia da ignorância. Não perturbeis a limpidez da divina bebida com os compostos do erro. E, crede-o, os homens que não são bons e devotados senão instintivamente, o são mal; porque sofrem uma cega dominação que pode, de repente, precipitá-los no abismo.
LÁZARO.
Nota. Apesar de todo o nosso respeito pelo Espírito de Lázaro, que nos
tem dado, tão freqüentemente, belas e boas coisas, nos permitimos não ser de sua
opinião sobre estas últimas proposições. Pode-se dizer que há duas espécies de
instintos: o instinto animal e o instinto moral. O primeiro, como o diz muito
bem Lázaro, é orgânico; é dado aos seres vivos para a sua conservação e a de sua
prole; é cego, e quase inconsciente, porque a Providência quis dar um contrapeso
à sua indiferença e à sua negligência. Não ocorre o mesmo com o instinto moral
que é o privilégio do homem; pode-se defini-lo assim: Propensão inata para
fazer o bem ou o mal; ora, essa propensão prende-se ao estado de
adiantamento, maior ou menor, do Espírito. O homem cujo Espírito já está
depurado, faz o bem sem premeditação e como uma coisa muito natural, e é por
isso que se admira sendo louvado. Não é, pois, justo dizer que "os homens que
não são bons e devotados senão instintivamente, o são mal, e sofrem uma cega
dominação que pode, de repente, precipitá-los no abismo". Aqueles que são bons e
devotados instintivamente denotam um progresso realizado; aqueles que o são com
intenção, o progresso está em vias de se cumprir, é porque há trabalho, luta,
entre dois sentimentos; no primeiro a dificuldade está vencida; no segundo, é
preciso vencê-la; o primeiro é como o homem que sabe ler e lê sem dificuldade, e
quase sem disso desconfiar; o segundo é como aquele que soletra. Um, por ter
chegado mais cedo, tem, pois, menos mérito do que o outro?Revista Espírita Fevereiro de 1862
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