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quarta-feira, 19 de maio de 2021

A CÓLERA..."O orgulho vos leva a vos julgardes mais do que sois, a não aceitar uma comparação que vos possa rebaixar"... /..."Dizei, pois, que o homem só permanece vicioso porque o quer, mas que aquele que deseja corrigir-se sempre o pode fazer"...

Evangelho Segundo o Espiritismo: Cap.10 Bem Aventurado os Misericordiosos.

A Cólera

Um Espírito Protetor
Bordeaux, 1863

9. O orgulho vos leva a vos julgardes mais do que sois, a não aceitar uma comparação que vos possa rebaixar, e a vos considerardes, ao contrário, de tal maneira acima de vossos irmãos, seja na finura de espírito, seja no tocante à posição social, seja ainda em relação às vantagens pessoais, que o menor paralelo vos irrita e vos fere. E o que acontece, então? Entregai-vos à cólera.

Procurai a origem desses acessos de demência passageira, que vos assemelham aos brutos, fazendo-vos perder o sangue-frio e a razão; procurai-a, e encontrareis quase sempre por base o orgulho ferido. Não é acaso o orgulho ferido por uma contradita, que vos faz repelir as observações justas e rejeitar, encolerizados, os mais sábios conselhos? Até mesmo a impaciência, causada pelas contrariedades, em geral pueris, decorre da importância atribuída à personalidade, perante a qual julgais que todos devem curvar-se.

No seu frenesi, o homem colérico se volta contra tudo, à própria natureza bruta, aos objetos inanimados, que despedaça, por não o obedecerem. Ah! Se nesses momentos ele pudesse ver-se a sangue-frio, teria horror de si mesmo ou se reconheceria ridículo! Que julgue por isso a impressão que deve causar aos outros. Ao menos pelo respeito a si mesmo, deveria esforçar-se, pois, para vencer essa tendência que o torna digno de piedade.

Se pudesse pensar que a cólera nada resolve, que lhe altera a saúde, compromete a sua própria vida, veria que é ele mesmo a sua primeira vítima. Mas ainda há outra consideração que o deveria deter: o pensamento de que torna infelizes todos os que o cercam. Se tem coração, não sentirá remorsos por fazer sofrer as criaturas que mais ama? E que mágoa mortal não sentirá se, num acesso de arrebatamento, cometesse um ato de que teria de recriminar-se por toda a vida!

Em suma: a cólera não exclui certas qualidades do coração, mas impede que se faça muito bem, e pode levar a fazer-se muito mal. Isso deve ser suficiente para incitar os esforços para dominá-la. O espírita, aliás, é incitado por outro motivo: o de que ela é contrária à caridade e à humildade cristãs.

Hahnemann
Paris, 1863

10. Segundo a idéia muito falsa de que não se pode reformar a própria natureza, o homem se julga dispensado de fazer esforços para se corrigir dos defeitos em que se compraz voluntariamente, ou que para isso exigiram muita perseverança. É assim, por exemplo, que o homem inclinado à cólera se desculpa quase sempre com o seu temperamento. Em vez de se considerar culpado, atribui a falta ao seu organismo, acusando assim a Deus pelos seus próprios defeitos. É ainda uma conseqüência do orgulho, que se encontra mesclado a todas as suas imperfeições.

Não há dúvida que existem temperamentos que se prestam melhor aos atos de violência, como existem músculos mais flexíveis, que melhor se prestam a exercícios físicos. Não penseis, porém, que seja essa a causa fundamental da cólera, e acreditai que um Espírito pacífico, mesmo num corpo bilioso, será sempre pacífico, enquanto um Espírito violento, num corpo linfático, não seria dócil. Nesse caso, a violência apenas tomaria outro caráter. Não dispondo de seu organismo apropriado à sua manifestação, a cólera seria concentrada, enquanto no caso contrário seria expansiva.

O corpo não dá impulsos de cólera a quem não os tem, como não dá outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito. Sem isso, onde estariam o mérito e a responsabilidade? O homem que é deformado não pode tornar-se direito, porque o Espírito nada tem com isso, mas pode modificar o que se relaciona com o Espírito, quando dispõe de uma vontade firme. A experiência não vos prova, espíritas, até onde pode ir o poder da vontade, pelas transformações  verdadeiramente miraculosas que se operam aos vossos olhos? 
Dizei, pois, que o homem só permanece vicioso porque o quer, mas que aquele que deseja corrigir-se sempre o pode fazer. De outra maneira, a lei do progresso não existiria para o homem.

Copyright 2004 - LAKE - Livraria Allan Kardec Editora
(Instituição Filantrópica) Todos os Direitos Reservados

Cólera: ..."A cólera é comparável a uma implosão mental de conseqüências imprevisíveis..." // ..."Pela brecha da irritação, caímos sem perceber nos mais baixos padrões vibratórios, arremessando, infelizes e incontroláveis, os raios da destruição e da morte que, partindo de nós para os outros, volvem dos outros para nós, em forma de angústia e miséria, perseguição e sofrimento"... // "Quando a tempestade da cólera explode no ambiente, despedindo granizos dilacerantes, vemo-la por antena de amor, isolando-lhes os raios..."




IMPLOSÃO  MENTAL
Emmanuel

A cólera é comparável a uma implosão mental de conseqüências imprevisíveis.

Quando te sintas sob a ameaça de semelhante flagelo, antes de falar ou escrever, usa o método conhecido de permanecer em silêncio contando até cem. Se os impulsos negativos continuam, afaste-te para um lugar à parte e faze uma oração que te reequilibre.

Notando que a medida não alcançou os fins necessários, busca um recanto da natureza, onde encontres plantas e flores, cujas emanações te balsamizem o espírito.

Na hipótese de não retornares à tranqüilidade, procura algum templo religioso e confia-te novamente à prece, esforçando-te para que a paz te fale no coração.

No entanto, se essa providência ainda falhar, dirige-te a um remédio amigo que, com certeza, te aliviará com sedativos adequados, a fim de evitares a implosão de tuas próprias forças.

Emmanuel - Do livro: Luz e Vida - Psicografia: Francisco Cândido Xavier
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UM  MINUTO  DE  CÓLERA


 Emmanuel

Um minuto de cólera pode ser uma invocação às forças tenebrosas do crime, operando a ruptura de largas e abençoadas tarefas que vínhamos efetuando na sementeira do sacrifício.

Por esse momento impensado, muitas vezes, esposamos escuros compromissos, descendo da harmonia à perturbação e vagueando nos labirintos da prova por tempo indeterminado à procura da necessária reconciliação com a vida em nós mesmos.

Pela brecha da irritação, caímos sem perceber nos mais baixos padrões vibratórios, arremessando, infelizes e incontroláveis, os raios da destruição e da morte que, partindo de nós para os outros, volvem dos outros para nós, em forma de angústia e miséria, perseguição e sofrimento.

Em muitos lances da luta evolutiva, semelhante minuto é o fator de longa expiação, na qual, no corpo de carne ou fora dele, somos fantasmas da aflição, exibindo na alma desorientada e enfermiça as chagas da loucura, acorrentados às conseqüências de nossos erros a reagirem sobre nós, à feição de arrasadora tormenta.

Se te dispões, desse modo, à jornada com  Jesus em busca da própria sublimação, aprende a dominar os próprios impulsos e elege a serenidade por clima de cada hora.

Ama e serve, perdoa e auxilia sempre, recordando que cada semente deve germinar no instante próprio e que cada fruto amadurece na ocasião adequada.

Toda violência é explosão de energia, cujos resultados ninguém pode prever.

Guardemos o ensinamento do Cristo no coração, para que o Cristo nos sustente as almas na luta salvadora em que nos cabe atingir a redenção, dia a dia.

Livro: Semeador Em Tempos Novos - Francisco Cândido Xavier


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ESTRELA   OCULTA
Emmanuel
Quando a tempestade da cólera explode no ambiente, despedindo granizos dilacerantes, vemo-la por antena de amor, isolando-lhes os raios, e se o temporal da revolta encharca os que tombam na estrada sob o visco da lama, ei-la que surge igualmente por força neutralizante, subtraindo o lodo e aclarando o caminho...

Remédio nas feridas profundas que se escondem  na alma, ante os golpes da injúria, é bálsamo invisível, lenindo toda chaga.

Socorro nobre e justo, é a luz doce da ausência ajudando e servindo onde a leviandade arroja fogo e fel.

Filha da compaixão, auxilia sem paga impedindo a extensão da maldade infeliz...

Ante a sua presença, a queixa descabida interrompe-se e pára e o verbo contundente empalidece e morre.

Onde vibra, amparando, todo ódio contém-se, e o incêndio da impiedade apaga-se de chofre...

Acessível a todos, vemo-la em toda parte, onde o homem cultive a caridade simples, debruçando-se, pura, à maneira de aroma envolvente e sublime, anulando o veneno em que a treva se nutre...

Guardemo-la conosco, onde formos chamados, sempre que o mal responde, delinqüente e sombrio, porque essa estrela oculta, ao alcance de todos, é a prece do silêncio em clima de perdão.
  
Livro Paz e Renovação. Diversos Espíritos. Psicografia Chico Xavier
 

AINDA NÃO TENDES FÉ? "Se estivermos munidos da fé racional que não consiste meramente em acreditar, mas em discernir, em ter bom ânimo e disposição firme para enfrentar a luta, estaremos em condições de receber de Jesus a ajuda e orientação necessária para que a tempestade que nos assola seja amainada.


“E levantou-se grande temporal de vento, e subiam as ondas por cima do barco, de maneira que já se enchia. E ele estava na popa dormindo sobre uma almofada, e despertaram-no, dizendo: Mestre, não se te dá que pereçamos? E ele, despertando, repreendeu o vento, e disse ao mar: aquieta-te. E o vento se aquietou e houve grande bonança. E disse-lhes: Por que sois tímidos? Ainda não tendes fé?”
(Marcos. 4:37-40)

Haveria necessidade de o Mestre fazer interromper o processo de um fenômeno
da Natureza, a fim de demonstrar a sua autoridade ou revelar o poder de que se
achava investido.

Jesus sempre foi partidário da fé espontânea e durante todo o seu Messiado nunca se preocupou com a produção de fatos retumbantes. Quando os seus discípulos pediram-lhe que fizesse descer fogo sobre uma aldeia da Samaria, que não os havia recebido, admoestou: “Não sabeis o espírito da vossa vocação”.

Quando alguns gregos e judeus proeminentes pediram-lhe que produzisse um fato sobrenatural, para que vissem e acreditassem, negou-se a dar qualquer espécie de sinal.

Pelo contrário, a sua alegria foi das mais intensas quando um centurião acreditou que bastavam algumas palavras suas, à distância, para que seu servo ficasse curado, e quando uma mulher curou-se apenas pelo leve toque em sua túnica, segundo a sua crença.

O significado da passagem evangélica narrada por Marcos é de nos ensinar que, qualquer que seja a tempestade que assolar nosso coração, bastará um apelo ao Cristo para que ela se amenize.

Por mais impetuosa que seja a tempestade que ruge dentro da nossa alma, encontraremos na vivência dos ensinamentos evangélicos o meio de fazer com que ela se aquiete.

Quem estiver prestes a sucumbir no mar encapelado da vida, ou sentir suas forças periclitar devido ao vendaval da adversidade, bastará clamar ao Mestre, e o socorro virá prontamente.

Nas pautas dos Evangelhos deparamos com promessas vivas como as que se seguem:

— Vinde a mim vós que estais sobrecarregados e eu vos aliviarei.

— Buscai antes o reino dos Céus e sua justiça, e tudo vos será dado por
acréscimo.

— Bem-aventurado aquele que sofre porque será consolado.

Somos devedores relapsos da Justiça Divina e reiteradamente fazemos uso 
do nosso livre arbítrio,escolhendo determinado gênero de vida. Muito freqüentemente tornamo-nos veículos transmissores em lamentável processo de falência, e, por isso, solicitamos a Deus nos propicie meios que nos impulsionem na trajetória evolutiva, objetivo comum de todas as almas.

Se solicitamos esses favores e Deus, devido aos imperativos das nossas provações e expiações terrenas previamente escolhidas, não no-los concede, é óbvio que uma vez açoitados pela tempestade da adversidade devemos nos lembrar da palavra do Mestre: 

“Por que sois tão tímidos? Ainda não tendes fé?”

Se estivermos munidos da fé racional que não consiste meramente em acreditar, mas em discernir, em ter bom ânimo e disposição firme para enfrentar a luta, estaremos em condições de receber de Jesus a ajuda e orientação necessária para que a tempestade que nos assola seja amainada.

Devemos fazer com que o Mestre esteja sempre atuante, imponente, vivo dentro dos nossos corações. Assim como os apóstolos acordaram-no num momento cruciante, devemos tê-lo presente todas as vezes que carecemos de sustentação.

“Pedi, e dar-se-vos-á,. buscai e encontrareis; batei, e abrirse-vos-á. Porque aquele que pede, recebe,. e o que busca, encontra, e, ao que bate, se abre” (Mateus, 7-8)
Ensinando-nos desse modo, o Mestre nos faz compreender que a Justiça Divina não é surda aos que pedem, que buscam, que batem pedindo amparo, desde que o queassim faz, seja digno de receber essas dádivas.

Nicodemos sentiu dentro de si a dúvida em tomo do renascimento do Espírito em novo corpo, e foi, altas horas da noite, solicitar a Jesus que, através do esclarecimento, amainasse aquela tempestade que ameaçava tão seriamente a sua fé.

O publicano Zaqueu, cujo coração vivia atormentado pelo sopro do remorso oriundo de usurpações cometidas, também procurou o Cristo, durante uma visita que ele fez à sua cidade, tendo o ensejo de recebê-lo em sua casa, onde, numa explosão de júbilo, prontificou-se a repartir metade dos seus bens com os pobres, amainando assim aquela tempestade que ameaçava retardar o processo evolutivo de sua alma

Maria Madalena, assolada pela tempestade das paixões terrenas, demandou o concurso do Mestre, que serenou seu coração e soergueu seu Espírito, predispondo-a para a reforma íntima.

Paulo de Tarso, envolvido pela tempestade do ódio e do fanatismo, recebeu na Estrada de Damasco o convite generoso de Jesus, transmutando-se de perseguidor implacável em defensor incondicional da Boa Nova.

Simão Pedro, atormentado pela tempestade da dúvida, defrontou-se com oepisódio da negação (João, 18:25), chorando amargamente e transformando-se num dos mais lídimos paladinos do Evangelho.

Paulo Alves de Godoy

"Os Padrões Evangélicos"

segunda-feira, 17 de maio de 2021

UM VERDADEIRO ISRAELITA: "Apresentava um Pai de misericórdia, de justiça e de amor em contraposição ao parcialíssimo Jeová, senhor dos exércitos;Não se submetia às tradições inócuas e combatia os dogmas e os ritos exteriores;

 

"Filipe achou Natanael e disse-lhe: Havemos achado aquele de que Moisés escreveu na lei e os profetas Jesus de Nazaré, filho de José. "Disse-lhe Natanael: Pode vir alguma coisa boa de Nazaré ! Disse-lhe Filipe: Vem e vê. "Jesus viu Natanaelvir ter com ele disse dele: Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo. "João, 1:45-49)


Num dos versículos acima Jesus fez franco elogio a um homem "Eis um verdadeiro israelita em quem não há mácula".


Nos Evangelhos existem raras ocorrências dessa natureza e podem ser contadas. A apologia da personalidade de Natanael foi uma das poucas.


Não iremos, entretanto, nos aprofundar no mérito deste elogio, passando a discorrer sobre outros ensinamentos ensejados pelo trecho evangélico acima.


Afirma Mateus, em seu Evangelho, que Herodes indagou dos Príncipes dos sacerdotes e dos escribas do povo, onde haverá de nascer o Cristo. E eles disseram: Em Belém da Judéia, porque assim está escrito pelo profeta: "E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as capitais de Judá; porque de ti sairá o guia que há de apascentar o meu povo de Israel" (Mateus, 2:4-6).


Mais adiante sustenta o mesmo apóstolo: "Ouvindo José que Arquelau reinava na Judéia em lugar de Herodes, receou ir para lá mas, avisado por meio de revelação espiritual, foi para a Galiléia, decidindo-se a habitar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora predito pelos profetas: "Ele será chamado Nazareno" (Mateus, 2:22-23).


A Galiléia era província bastante atrasada e Nazaré uma de suas principais cidades. Pelo fato de ser a região infestada de salteadores, sua reputação não era das melhores, sendo esse o motivo que levou Natanael a se surpreender com a afirmação de Filipe, de que o Cristo procedia de Nazaré, ou que Nazaré pudesse produzir alguma coisa boa.


João afirma nos versículos 41, 42 e 52, do Capítulo 7, do seu Evangelho, que havia controvérsia entre os judeus em torno da procedência do Cristo: "Vem pois o Cristo da Galiléia? Não diz a escritura que o Cristo vem da descendência de Davi, e de Belém, da aldeia donde era Davi? Examina, e verás que da Galiléia nenhum profeta surgiu".


Essa idéia havia contaminado Natanael, e foi o que o levou a exclamar: "Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?".


Era questão pacífica entre os judeus que o Messias seria um profeta maior que Moisés e viria da linhagem de Davi.

Um grande rei era então esperado. Um guerreiro indômito era ansiosamente aguardado para, com sua espada, submeter todos os povos circunvizinhos e subtrair Israel do jugo romano. 

O Messias deveria ter o gênio expansionista de Moisés e viver como Davi, no fastígio da glória humana, impondo uma autoridade ímpar e abatendo com sua funda quantos Golias aparecessem.


O esperado Messias surgiu, entretanto, de modo a contrariar todas as expectativas alimentadas pelos orgulhosos escribas e fariseus.


- Nasceu numa cidade sem expressão e viveu numa província de reputação pouco invejável;


- Era filho de humilde carpinteiro;


- Seus companheiros de tarefa foram obscuros pescadores convocados às margens do Mar da Galiléia;


- Procurava, de preferência, os pequeninos e os humildes;


- Freqüentava a casa de publicanos e visitava outros pecadores;


- Apregoava a paz e a tolerância em vez da guerra e do ódio;


- Prometia a bem-aventurança aos pacificadores e aos mansos;


- Não cogitava ser o rei de Israel, na acepção humana;


- Apresentava um Pai de misericórdia, de justiça e de amor em contraposição ao parcialíssimo Jeová, senhor dos exércitos;


- Não se preocupava muito com a conversão dos grandes e potentados, mas caminhava léguas e léguas em demanda de um pecador que estivesse predisposto a aceitar a sua mensagem;


- Não se submetia às tradições inócuas e combatia os dogmas e os ritos exteriores;


- Apologiava os simples e limpos de coração e verberava a atuação dos escribas e fariseus hipócritas.


Tal situação jamais poderia vir ao encontro dos anseios nacionalistas e religiosos dos hebreus, e nem poderia encher as medidas daqueles que anulavam os preceitos da Lei de Deus por causa de suas tradições.


Como decorrência, o ódio transbordou e a crucificação do tão esperado Messias foi exigida em altos brados.


O Ungido de Deus pagou com a vida a "ousadia" de trazer ao mundo uma mensagem de luz e de amor.


Paulo A. Godoy

quinta-feira, 13 de maio de 2021

PERDA DO DISCERNIMENTO."...Quando o obsidiado luta contra as ideias estranhas que lhe são sugeridas, ainda há esperança de rápida reversão no quadro obsessivo que se desenha, mas quando ele as "incorpora" de modo totalmente passivo, o problema torna-se por demais preocupante e sem qualquer previsão de melhora..."


"... o espirito conduz aquele que veio a dominar como o faria a um cego e pode fazê-lo aceitar as mais bizarras doutrinas, as mais falsas teorias como sendo a única expressão da verdade; bem mais, pode excitá-lo a diligências ridículas, comprometedoras e mesmo perigosas." (Segunda Parte, cap. XXIII, item 239, segundo parágrafo-Livro dos Médiuns)

A obsessão, de início, nem sempre se instala com todo o ímpeto sobre o obsidiado. Poderíamos compará-la a pequena tumoração, que, a pouco e pouco, se desenvolve, chegando, não raro, a tomar conta de todo um órgão...

A obsessão alcança o seu estado de maior gravidade justamente quando o obsidiado perde a faculdade de discernir o que é certo do que é errado.

Confuso, praticamente anulado em suas condições intelectuais, o obsidiado coloca-se à mercê dos espíritos obsessores que lhe substituem a vontade.

Quando o obsidiado luta contra as ideias estranhas que lhe são sugeridas, ainda há esperança de rápida reversão no quadro obsessivo que se desenha, mas quando ele as "incorpora" de modo totalmente passivo, o problema torna-se por demais preocupante e sem qualquer previsão de melhora.

Quando encarnado, em minhas reflexões de jovem adepto da Doutrina Espírita, acreditava que o homem é fruto de si mesmo, ou seja, cada qual colheria rigorosamente de acordo com a própria semeadura; imaginava que a bênção divina não privilegiaria quem dela não se fizesse credor, à custa de esforço intransferível... Depois, quando já mais maduro pela experiência e pelo sofrimento, alterei substancialmente o meu modo de pensar. 

Hoje, mais que nunca, creio que ninguém consegue sair de determinadas situações, sem a intervenção "direta" da mão da Divindade...

Vejamos o exemplo de Paulo de Tarso, o inolvidável Apóstolo dos Gentios. Como ele, sem a sublime visão do Cristo redivivo, às portas de Damasco, poderia modificar o seu interior, passando instantaneamente de ferrenho perseguidor dos cristãos ao maior propagador da Boa-Nova?!...

"Milagres" existem, sim! O Supremo Poder da Vida encerra consigo a prerrogativa de fazer cumprir decretos ou revogá-los, precipitar ou adiar acontecimentos, tornar possível o impossível, sem a efetiva participação da vontade humana!...

Perdoem-me os companheiros de fé que não consigam concordar com semelhante observação, mas, por acaso, a justiça dos homens, embora tão imperfeita quanto a interpretação dos magistrados que a fazem cumprir? A Justiça Divina seria menos magnânima?...

Mutilado no que se refere ao discernimento que deveria norteá-lo, ao médium falta chão para pisar com segurança, mostrando-se prestes a desabar a qualquer instante, no desastre mediúnico inevitável.

Quando no medianeiro ainda sobra alguma luz e ele, então, seja capaz de vislumbrar o perigo a que se expõe, convém que, asserenando intimamente no clima da oração, abdique de qualquer ideia que lhe esteja sub-repticiamente fomentando o personalismo e se auto-interne no anonimato do serviço no bem, procurando, de preferência, socorrer com as próprias mãos os pobres mais pobres na periferia da cidade. 

No entanto, mesmo da prática da caridade genuína, que o médium se acautele contra a falsa noção de santidade que, temerariamente, poderá começar a acalentar a respeito de si mesmo!

Como percebemos, o assunto é complexo e demandaria abordagens meticulosas à exaustão.

Que o médium creia firmemente não ser nada além de um seareiro entre tantos outros, batalhando na difícil tarefa do aperfeiçoamento íntimo, que lhe exigirá repetidas experiências no corpo, já que lhe seria loucura pretender alcançar o Céu de assalto...

Médiuns houve que, infelizmente, passaram a existência inteira dominados por ideias messiânicas, sempre perigosas, crendo-se investidos de alto poder missionário, quando não passavam de mendigos do pão espiritual mais simples que lhes socorresse a fome de luz. 

Muitos deles ainda se podem ver nas ruas das grandes cidades, discursando e gesticulando ao vento em seus delírios de grandeza, quando não ostentando altivo porte em meio à plebe ignara, imperadores que caminhassem entre súditos reverentes...

Quantos deles, de regresso ao Além, não dificilmente são demovidos de suas concepções bizarras, referindo-se ao Cristo, como se o Cristo sequer se lhes igualasse à estatura espiritual?!...

Temamos, pois, a perda do discernimento mais do que a perda da luz do próprio Sol no firmamento!

Livro: Mediunidade e Obsessão-cap.8
Pelo Espírito :Odilon Fernandes em parceria com Carlos Baccelli

AS VIBRAÇÕES MARIANAS DE MAIO E A ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO: "À Vossa Alteza Imperial manda-me o povo agradecido impetrar a graça de aceitar esta pena, como glorioso instrumento histórico e troféu inteiramente popular, a qual deve assinar a lei nº 3.353 de 13 de Maio de 1888, que elimina o nome escravo da nação brasileira! E com ela, Senhora, algumas palavras, que devem recordar sempre a mais brilhante data, que será inscrita entre os acontecimentos de maior vulto da vida política, social e moral de um povo na história da pátria!

As vibrações marianas de maio e a abolição da escravidão:


O livro Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho, do Espírito Humberto de Campos, destaca farto material sobre os rumos tomados pela reengenharia espiritual visando às conquistas da maturidade da civilização brasileira.

De imediato um ponto ressalta aos olhos:

[...] A própria princesa Isabel, cujas tradições de nobreza e bondade jamais serão esquecidas no coração do Brasil, viera ao mundo com a tarefa definida no trabalho abençoado da abolição. [...]¹

Então, renasce D. Isabel em 29 de julho de 1846, cujo Espírito era marcado por profunda religiosidade. Católica extremosa, mantinha-se fiel às suas crenças, independentemente das críticas que sofria, principalmente pelas liberdades de imprensa.

É assim que, em 8 de dezembro de 1868, em romaria, a princesa visita a Basílica de Nossa Senhora da Aparecida, onde em prece promete que daria à imagem da santa uma coroa de ouro, cravejada de diamantes e rubis, e um manto azul ricamente adornado, se ela concretizasse o seu ideal cristão de libertar os escravos do Brasil.

Veja, querido leitor, como a força do planejamento reencarnatório, 20 anos antes da abolição, falava mais alto no coração de Sua Alteza…

Um ano depois desta promessa religiosa, Bezerra de Menezes ( encarnado)  lança o seu opúsculo A escravidão no Brasil e as medidas que convém tomar para extingui-la sem danos para a nação.2 Repleto de espírito de liberdade, ele inicia o seu abençoado trabalho dirigindo-se Ao Público:

As questões sociais, do mesmo modo que as políticas, não podem ser convenientemente resolvidas senão pela discussão. É do choque das ideias que sai a luz da verdade… Esta consideração me deu ânimo e coragem para inscrever o meu obscuro nome no livro glorioso dos que pleiteiam a causa da emancipação. (Op. cit., p. 3.)

Discussão aberta, a falange de Ismael, dos dois lados da vida, se movimenta pela boa causa. Aproveitando- se da viagem do imperador Pedro II à Europa, D. Isabel, aos 24 anos, assume pela primeira vez a regência. Neste período, ela sanciona a Lei do Ventre Livre, a 28 de setembro de 1871. Sabia a princesa que seu ato não era ainda o ideal perfeito, mas, inspirada por Ismael, garantia ao país “a extinção gradual do cativeiro, mediante processos pacíficos”, como registra o Espírito Humberto de Campos (Op. cit., p. 160).

Novos passos são dados em direção à libertação… Em 3 de janeiro de 1872, o barão de Drummond3 adquiriu as terras da Imperial Quinta do Macaco com o propósito de urbanização e criação do Bairro de Vila Isabel – em uma bela homenagem à nossa Princesa. Para isso foi fundada a Companhia Arquitetônica, com a colaboração de Bezerra de Menezes, sócio neste empreendimento.

Ali, naquelas terras, seria criado o Boulevard 28 de Setembro – em clara homenagem à Lei do Ventre Livre –nos moldes da progressista Paris, que desembocaria na Praça 7 de Março – data da criação do Gabinete abolicionista do Visconde do Rio Branco, hoje conhecida por Praça Barão de Drummond. As ruas transversais teriam nomes de abolicionistas.

Como se vê, Bezerra de Menezes concentrava e materializava a vontade libertadora do Alto. Faltava pouco, muito pouco, para a realização dos ideais abolicionistas.

É, então, que Ismael se reúne com o Cristo – o Senhor de todas as esperanças! – para ouvir suas deliberações: “– Ismael, o sonho da liberdade de todos os cativos deverá concretizar-se agora, sem perda de tempo” – escreve Humberto de Campos (Op. cit., p. 162).

Enfim chega o abençoado mês de maio com suas luzes, perfumes e orações, rarefazendo a psicosfera terrestre, como constata o Espírito Humberto de Campos:4

[...] as preces da Terra misturam–se com as vibrações do Céu, em homenagem à Mãe do Salvador, no trono de sua virtude e de sua glória. Se o planeta da lágrima se povoa de orações e de flores, há roseiras estranhas, florindo nas estradas prodigiosas do paraíso, nos altares iluminados de outra natureza, e Maria, sob o dossel de suas graças divinas, sorri piedosamente para os deserdados do mundo e para os infelizes dos espaços, derramando sobre os seus corações as flores preciosas de sua consolação. [...]

[...] Dos altares terrestres e dos corações que se desfazem nas ânsias cristãs, no planeta das sombras, eleva-se uma onda de amor, em volutas divinas e a Rosa de Nazaré estende aos sofredores o seu manto divino, constelado de todas as virtudes… [...]4

Em 3 de maio de 1888, na “Fala do Trono”, a Princesa Regente, no Senado, se posiciona com firmeza sobre a abolição: “Confio em que não hesitarei de apagar do direito pátrio a única exceção que nele figura”. Então, o novo presidente do Conselho de Ministros João Alfredo Correia de Oliveira assegurou a aprovação da Lei 3.353, de 13 maio de 1888. 

A Princesa Isabel, em estado de êxtase, ratifica a Lei Áurea. Estava feita a vontade do Alto. O Brasil assumia a sua maioridade espiritual. Comenta o Espírito Humberto de Campos, em Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho:

[...] Junto do espírito magnânimo da princesa, permanece Ismael com a bênção da sua generosa e tocante alegria. Foi por isso que [José do] Patrocínio, intuitivamente, no arrebatamento do seu júbilo, se arrastou de joelhos até aos pés da princesa piedosa e cristã. [...] (Op. cit., p. 163.)

Dias antes, quando se preparava a Lei Áurea e ares benfazejos sopravam pela pátria anunciando que a liberdade não tardaria, surgiu uma subscrição popular, patrocinada pelo professor do Colégio Pedro II, Luis Pedro Drago, 5 para a confecção da pena, de ouro 18 quilates e cravejada de 27 diamantes, que assinaria o magno documento. É assim que políticos, empresários, populares e até escravos fugitivos e alforriados do Quilombo do Leblon colaboraram financeiramente para a materialização da pena que representa o início de um sonho de cidadania e de igualdade. Ela fala de um Brasil que passou a incorporar as massas excluídas. Todos queriam contribuir. No total, nas muitas listas, são mais de três mil assinaturas.

É maravilhoso ver na lista nº 84 a assinatura do fundador de Reformador (1883) e da Federação Espírita Brasileira (1884), o fotógrafo português A. Elias da Silva.6 (Ver fotocópia 1.)5 

Aliás, era abreviando o nome Augusto (A.) que ele assinava e se apresentava em seu cartão profissional. 6 (Ver fotocópia 2.)7

Hoje essa pena se encontra no Museu Imperial de Petrópolis, no Rio de Janeiro.

O surpreendente, é que foi dado a um espírita, amigo de Bezerra de Menezes, o professor e político Luis Pedro Drago, para fazer a oferta da pena à Princesa Isabel, acompanhado de um discurso que retratasse todo o sentimento da pátria brasileira. Esse documento, dada a sua beleza e grandeza, foi gravado em uma placa de prata brasonada e se encontra no Museu do Outeiro da Glória.

Ressalto ainda que o professor Luis Pedro Drago foi o padrinho de casamento da segunda filha de Bezerra de Menezes, de nome Ernestina (Zizinha), com o Sr. João Mendes, na Igrejinha de São Cristóvão, a 11 de janeiro de 1890, juntamente com o primo do Dr. Bezerra, o engenheiro João Batista de Maia Lacerda, futuro vice-presidente da Federação Espírita Brasileira. 

Acompanhemos algumas palavras do seu discurso inspiradíssimo:
À Vossa Alteza Imperial manda-me o povo agradecido impetrar a graça de aceitar esta pena, como glorioso instrumento histórico e troféu inteiramente popular, a qual deve assinar a lei nº 3.353 de 13 de Maio de 1888, que elimina o nome escravo da nação brasileira! E com ela, Senhora, algumas palavras, que devem recordar sempre a mais brilhante data, que será inscrita entre os acontecimentos de maior vulto da vida política, social e moral de um povo na história da pátria! 

… E vós, Senhora, a quem a pátria deve o maior cometimento, porque foi ele firmado não só por um princípio altamente religioso, mas ainda eminentemente humanitário, consentireis que o vosso povo vos aclame: D. Isabel, a Redentora. E assim, Senhora, vivereis na história com essa coroa radiante das flores da redenção transpondo desde agora o vestíbulo da glória que vos conduzirá ao templo da Imortalidade. O Orador, Luis Pedro Drago.

E, como diz o ditado: “promessa é dívida!”, a Princesa Isabel não deixou de cumprir a sua promessa à Mãe de Jesus, por ter plenamente realizado o seu elevado compromisso reencarnatório. E, assim, em oração, visita o santuário de Nossa Senhora Aparecida, em São Paulo, a 6 de novembro de 1888, agradecendo à Virgem as bênçãos da vivência fraterna de todas as raças na Pátria do Evangelho de seu Filho.

Referências:
1 XAVIER, Francisco C. Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho. Pelo Espírito Humberto de Campos. 34. ed. 6. imp. Brasília: FEB, 2015. cap. 26, O movimento abolicionista.
2 MENEZES, Dr. Adolfo Bezerra. A escravidão no Brasil e as medidas que convém tomar para extingui-la sem danos para a nação. Typ. Progresso, Rua de Gonçalves Dias, nº 60, Rio de Janeiro, 1869.
3 Médium psicógrafo, sonambúlico e de outras espécies. Ele frequentava reuniões espíritas na casa de Bezerra. Ver MENEZES, Bezerra. Loucura sobre novo prisma. 14. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. cap. 2, p. 116.
4 XAVIER, Francisco C. Novas mensagens. Pelo Espírito Humberto de Campos. 14. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2014. cap. 12, p. 87 e 88. .
5 MILLAN, Cleusa de Souza.; MILLAN, José Henrique. A pena de ouro da Lei Áurea e o elemento servil no Brasil. Prefácio: Martins, Jorge Damas. Rio de Janeiro: Ed. Oficina do Livro, 2013. p. 325, 292, respectivamente.
6 Augusto Elias da Silva casou com a Sra. Mathilde Maria das Dores Pinheiro. A Proclama foi lida na capela Imperial, em 21 de maio de 1876 (O Apóstolo, nº 58, 24 de maio de 1876, p. 4, e O Globo, nº 144, 25 de maio de 1876, p. 2).
7 KOSSOY, Boris. Dicionário histórico- fotográfico brasileiro. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. p. 293.

quarta-feira, 12 de maio de 2021

LUIS OLÍMPIO TELES DE MENEZES - ABOLICIONISTA : "E, finalmente, para glória de Luis Olímpio, podemos dizer que a imprensa espírita nasceu no Brasil sob a inspiração da liberdade, pois o nosso primeiro jornal tomou posição contra a escravidão e agitou, assim, a bandeira da solidariedade humana."

 



LUIS Olímpio- abolicionista


Há algum tempo atrás, tendo feito uma espécie de levantamento histórico na Biblioteca Nacional a fim de escrever um trabalho, pedi a coleção de Eco de Além Túmulo, na seção de obras raras, e logo se me deparou uma revelação interessante e muito relevante: Luis Olímpio Teles de Menezes, o fundador, como se sabe, do primeiro jornal espírita que se publicou no Brasil, era abolicionista declarado. Confesso que já conhecia o Eco de Além Túmulo, aliás Echo d'Além Túmulo, como se escrevia na época, pois em novembro de 1939, quando se realizou, no Rio,o Congresso de Jornalistas e Escritores Espíritas, organizamos uma Exposição de Jornais e Revistas Espíritas, na sede da antiga Liga Espírita do Brasil (Rua Uruguaiana, 141, sobrado) aberta ao público durante o Congresso, e nela figurou o primeiro jornal espírita, enviado pela União Espírita da Bahia, como empréstimo. Todas as coleções foram logo devolvidas assim que terminou o Congresso.


Pois bem, notei na segunda consulta que Luis Olímpio tinha uma preocupação abolicionista muito clara. Tanto assim que uma parte do produto da venda ou de assinaturas do jornal devéria destinar-se à campanha em benefício da libertaçãodos eWavos. E, àquela época, antes de setenta, o ideal abolicionista já estava fermentando na consciência de uma plêiade lúcida e ardorosa. Havia muita resistência, não há dúvida, mas àquela altura a poesia de Castro Alves e o verbo de oradores destemidos já estavam sacudindo a alma do povo, de norte a sul, contra a instituição escravocrata. Por isso mesmo, ,o Manifesto Republicano de 1870, publicado logo depois da Guerra do Paraguai, foi muito criticado, justamente nesse ponto, acusado de omissão calculada, isto é, para não desgostar os fazendeiros, que tinham muitos escravos e constituíam a chamada aristocracia rural, os homens do Manifesto, chamados de republicanos históricos, acharam mais prudente não falar em abolição, pois o braço escravo era a base da economia geral do país. Anunciar a extinção da escravatura, principalmente na grande faixa de fazendeiros, significava uma ameaça, como se alguém estivesse mexendo em casa de marimbondos...


Tempos depois, como se sabe, veio a Lei Áurea,de 1888,acabando definitivamente com a escravidão. 
Mas certos fazendeiros apoiaram o movimento republicano, não por ideal, mas como protesto, porque ficaram contrariados com o Governo Imperial (a Princesa Isabel) por causa do 13 de maio. No ano seguinte, caiu a Monarquia, veio a República. Contudo, o que nos interessa aqui é o sentimento abolicionista de Luís Olímpio,  nosso primeiro jornalista espírita. Poder-se-ia dizer que a sua manifestação, neste sentido, era simplesmente romântica, pois o produto da venda de um jornalzinho, que estava começando a circular na Bahia, seria em tudo por tudo inexpressivo.


Que poderia fazer Luis Olímpio em favor da campanha abolicionista com a renda (e que renda?...) de uma publicação, que parecia mais revista do que propriamente jornal e que era, além do mais, distribuída na maior parte de graça? Mas era a prova de idealismo, um sonho de liberdade, tão nobre como o ardor dos abolicionistas de maior projeção.


E, finalmente, para glória de Luis Olímpio, podemos dizer que a imprensa espírita nasceu no Brasil sob  a inspiração da liberdade, pois o nosso primeiro jornal tomou posição contra a escravidão e agitou, assim, a bandeira da solidariedade humana.


DEOLINDO AMORIM

(Revista Internacional de Espiritismo — Matão — SP — Fevereiro de 1984)

EVANGELHO E INDIVIDUALIDADE : "Proclamando as bem-aventuranças à turba no monte, não a induz para a violência, a fim de assaltar o celeiro dos outros. Multiplica, Ele mesmo, o pão que a reconforte e alimente."


    EVANGELHO E INDIVIDUALIDADE


Efetivamente,as massas acompanhavam o Cristo, de perto, no entanto, não vemos no Mestre a personificação do agitador comum.

Em todos os climas políticos, as escolas religiosas, aproximando-se da legalidade humana, de alguma sorte partilham da governança, estabelecendo regras espirituais com que adquirem poder sobre a multidão.

Jesus, porém, não transforma o espírito coletivo em terreno explorável.

Proclamando as bem-aventuranças à turba no monte, não a induz para a violência, a fim de assaltar o celeiro dos outros. Multiplica, Ele mesmo, o pão que a reconforte e alimente.

Não convida o povo a reivindicações.

Aconselha respeito aos patrimônios da direção política, na sábia fórmula com que recomendava seja dado “a César o que é de César”.

Muitos estudiosos do Cristianismo pretendem identificar no Mestre Divino a personalidade do revolucionário, instigando os seus contemporâneos à rebeldia e à discórdia; entretanto, em nenhuma passagem do seu ministério encontramos qualquer testemunho de indisciplina ou desespero, diante da ordem constituída.

Socorreu a turba sofredora e consolou-a; não se mostrou interessado em libertar a comunidade das criaturas, cuja evolução, até hoje, ainda exige lutas acerbas e provações incessantes, mas ajudou o Homem a libertar-se.

Ao apóstolo exclama _ “vem e segue-me.”

Á pecadora exorta _ “vai e não peques mais”.

Ao paralítico fala, bondoso _ “ergue-te e anda”.

Á mulher sirofenícia diz, convincente _ “a tua fé te curou”.

Por toda parte, vemo-lo interessado em levantar o espírito, buscando erigir o templo da responsabilidade em cada consciência e o altar dos serviços aos semelhantes em cada coração.

Demonstrando as preocupações que o tomavam, perante a renovação do mundo individual, não se contentou em sentar-se no trono diretivo, em que os generais e os legisladores costumam ditar determinações... 

Desceu, Ele próprio, ao seio do povo e entendeu-se pessoalmente com os velhos e os enfermos, com as mulheres e as crianças.

Entreteve-se em dilatadas conversações com as criaturas transviadas e reconhecidamente infelizes.

Usa a bondade fraternal para com Madalena, a obsidiada, quanto emprega a gentileza no trato com Zaqueu, o rico.

Reconhecendo que a tirania e a dor deveriam permanecer, ainda, por largo tempo, na Terra, na condição de males necessários à retificação das inteligências, o Benfeitor Celeste foi, acima de tudo, o orientador da transformação individual, o único movimento de liberação do espírito, com bases no esforço próprio e na renúncia ao próprio “eu”.

Para isso, lutou, amou, serviu e sofreu até à cruz, confirmando, com o próprio sacrifício, a sua Doutrina de revolução interior, quando disse: “e aquele que deseja fazer-se o maior no Reino do Céu, seja no mundo o servidor do todos.”

Emmanuel
 
Livro “Roteiro”, psicografado por Francisco Cândido Xavier)