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quinta-feira, 15 de abril de 2021

INTERFERÊNCIA OBSESSIVA."(...)Lembremo-nos do Cristo quando nos advertiu: "... se vós outros, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos Céus, dará boas dádivas aos que lhas pedirem"...



"A obsessão simples tem lugar quando um espírito malfazejo se impõe a um médium, se imiscui, a seu malgrado, nas comunicações que recebe, o impede de comunicar-se com outros espíritos e o substitui àqueles que são evocados." (Segunda Parte, cap. XXIII, item 238)


Por mais exímio seja um violinista, sua atuação ficará prejudicada, caso o instrumento musical não lhe corresponda às expectativas...

Todo médium, na tarefa a que se dedique pode sofrer interferências de caráter obsessivo, empanando-lhe o brilho. A interferência obsessiva a que nos referimos, em muitos medianeiros acontece de forma intermitente, ou seja, em crises mais ou menos periódicas, tirando-lhes a confiabilidade indispensável junto aos companheiros.

O médium que, do ponto de vista emocional e doutrinário, hoje esteja bem, amanhã não está, não inspira confiança nos comunicados dos quais se faça intérprete por parte dos Mensageiros da Vida Maior. Poderá até operar com relativo desembaraço, intermediando espíritos infelizes, mas nem sempre estará apto para refletir o pensamento que promana das Esferas Superiores.

Até certo ponto, a interferência obsessiva é normal em quase todo medianeiro ainda em luta com as próprias imperfeições, mas quando ela se demore ou se torne, digamos, repetitiva, a faculdade mediúnica "adoece" e reclama tratamento.

O tratamento do médium cuja mediunidade se encontra "doente", à semelhança de leito de rio repleto de calhaus a lhe tornarem revoltas as águas, deve principiar com o próprio medianeiro, em conscientizar-se da necessidade da suspensão provisória de suas faculdades, a fim de que a sintonia estabelecida com os espíritos perturbadores se desfaça...

Atentemos para o fato de que não estamos aconselhando o afastamento sumário do médium enfermo das atividades nas quais encontrará oportunidade de reerguer-se; consideramos de bom alvitre que as faculdades psíquicas do medianeiro em questão sejam saneadas, através do concurso terapêutico do passe, da água fluidificada, da prece, da reflexão conduzida por amigos que por ele se interessem, da leitura que lhe possibilite a renovação das energias e, sobretudo, do trabalho no bem, que lhe permita recomeçar a percorrer o caminho...

Cometem descaridade quando passem a exigir dos médiuns uma conduta moral ilibada, quase que assim lhe cassando a boa-vontade em servir, como possam, aos propósitos do Senhor.

Compreendamos que, sobre a Terra, nenhum médium estará o tempo todo isento dessa ou daquela influência espiritual perniciosa. Repetiríamos, com Kardec, que o melhor médium seria o que menos sofresse o assédio dos espíritos interessados em desnorteá-lo e, através dele, deixando sem rumo dezenas de pessoas... Aliás, da parte dos espíritos desafetos da Luz, há grande interesse em derrubar os médiuns que funcionariam como ponto de referência para os que orbitam à sua volta, promovendo um "desastre" de proporções inimagináveis na rota evolutiva dos companheiros que através deles foram agrupados.

Imprescindível se torna que os amigos dos sensitivos sob interferência obsessiva — seja ela constante ou periódica — ajam em seu benefício, procurando preservá-lo de deslizes
maiores, conscientes de que o pequeno e inevitável tropeço será sempre melhor do que a queda espetacular.

Quanto aos Espíritos Superiores, não os julguemos piores do que nos julgamos a nós, quando chegamos ao absurdo de supô-lo capazes de "virar as costas" aos que não lhes apresentem invariável certificado de santidade e equilíbrio... Lembremo-nos do Cristo quando nos advertiu: "... se vós outros, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos Céus, dará boas dádivas aos que lhas pedirem"...

É lógico que, quando o violino se apresente danificado, o concertista procurará substituí-lo provisoriamente por outro, sem significar que lançará o primeiro (que talvez o tenha servido por tantos anos) na lata de lixo... Logo que o violino cujas cordas se romperam seja reparado, revelando-se capaz de emitir o mesmo som de antanho, o violinista o retomará em seus braços, regozijando-se ao acariciá-lo de encontro ao peito.

Não nos esqueçamos ainda de que, mesmo por entre as nuvens promissoras de borrasca, o Sol costuma brilhar, descortinando caminhos aos que desejem avançar.

Livro: Mediunidade e Obsessão
Autor : Odilon Fernandes psicografia de Carlos Baccelli

terça-feira, 13 de abril de 2021

CIVILIZAÇÃO COM JESUS: "Se quisermos um mundo melhor, saibamos construí-lo. Progresso espiritual não vem por osmose. Não vale a melhoria de alguns sobre o estrangulamento de milhões. Amemo-nos para instruir-nos reciprocamente, começando pelo respeito de uns aos outros."

A RESPOSTA DE EMMANUEL

Vários assuntos foram debatidos numa das reuniões públicas de Uberaba. Aberto “O Livro dos Espíritos” caiu a questão 790 que trata dos problemas da, Civilização. Feitos os comentários, Emmanuel psicografou uma mensagem pelas mãos de Chico Xavier que no-la enviou, escrevendo-nos o seguinte:

“Passo-a às mãos com um apontamento que consideramos muito significativo.É que, às despedidas, um grupo de oito pessoas, seis senhores e duas senhoras – não-espíritas, mas que se achavam presentes para observações, conforme nos explicaram – adiantou-me, que a mensagem lida em voz alta era uma resposta à inquietação deles, os elementos do grupo, já que haviam pedido em silêncio alguma coisa do Plano Espiritual sobre as reformas atuais do Mundo.”

                                               
Emmanuel
CIVILIZAÇÃO COM JESUS

Comumente surpreendemos muitos companheiros que falam de renovação do trabalho, solicitando reformas violentas, como se todos os seus contemporâneos estivessem no grau de cultura intelectual em que já se encontram. Entretanto, se fossem recenseados entre aqueles irmãos da Humanidade que apenas guardam consigo, por enquanto, leves traços de alfabetização imperfeita, decerto que não se alegrariam em se vendo arrastados pelo vento da transformação para facearem sem preparo justo determinadas empresas de realização e serviço.
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Muitos se referem aos problemas sociais exigindo medidas drásticas que consagrem novos tipos de relacionamento humano.  Todavia, caso se vissem no lugar daqueles que foram mantidos desde a meninice nas sombras da ignorância, não se agradariam ao se reconhecerem impulsionados à força para experiências complexas e arriscadas, até agora inacessíveis ao entendimento geral.
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Reportam-se outros muitos a diferentes condutas de economia, qual se a administração dos interesses de milhões de pessoas devesse alterar-se de um instante para outro. No entanto, se fossem contados entre aqueles que muito pouco sabem, ainda, acerca de produção e disciplina, receita e despesa, em nada lhes adiantaria entrar em metamorfoses precipitadas, que talvez unicamente os induzisse a leviandade e perturbação.
***
Demoram-se muitos no exame da liberdade, rogando a independência imediata e sem freios para todas as criaturas, qual se a liberdade verdadeira não se baseasse no dever retamente cumprido. Mas, se vivessem nos obstáculos em que estacionam os espíritos inexperientes e inseguros, é possível que essa espécie de liberdade tão-somente os levasse a sofrimento e loucura.
***
Se quisermos um mundo melhor, saibamos construí-lo.
Progresso espiritual não vem por osmose.
Não vale a melhoria de alguns sobre o estrangulamento de milhões.
Amemo-nos para instruir-nos reciprocamente, começando pelo respeito de uns aos outros. 
***
A civilização com Jesus, por mais ampla na conceituação em que se defina, resumir-se-á sempre em quatro itens:
evolução sim;
violência não;
solidariedade primeiro;
educação sempre.


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O RESPEITO PELOS OUTROS

Irmão Saulo

O processo civilizador é um esforço contínuo de aperfeiçoamento e adaptação. Os homens aperfeiçoam sua cultura pelas conquistas dos mais aptos e esclarecidos, mas, ao mesmo tempo, procuram adaptar a maioria menos apta às novas condições de vida que vão surgindo. O ímpeto dos vanguardeiros é contido pela inércia da massa. Quando se quer romper essa inércia e realizar mudanças violentas, surge a necessidade da coação e da subjugação. Cai-se inevitavelmente na contradição de suprimir os direitos da maioria a pretexto de libertá-la.

Civilizar é, sobretudo, humanizar. As maiorias menos capazes devem ser elevadas ao nível das minorias avançadas. Mas, se não levarmos em conta o fator tempo, a adaptação da maioria implicará largos períodos de desrespeito à sua condição e aos seus direitos, advindo injustiças e recém coletivos incalculáveis. Os esforços civilizadores entram no torvelinho do círculo vicioso, com a repetição dos erros que se pretendia eliminar. A História está repleta de exemplos desses retrocessos perigosos.

O processo civilizador do Cristianismo é espiritual e não material, porque o homem é espírito e não matéria. Seu objetivo não é a quantidade, mas a qualidade. Seu método não é massivo, mas coletivo, não opera em termos de massa, mas de coletividades. A adaptação deve decorrer de estímulos e não de pressões. O respeito pelos outros, tão pouco praticado até agora, é o cimento da construção do novo mundo.

Daí a conclusão de Emmanuel: “a evolução estimulada pela solidariedade humana e pela educação, com exclusão da violência que pertence à barbárie, é o caminho único da Civilização com Jesus”. É o que lemos no item 790 de “O Livro dos Espíritos”: “O homem não passa subitamente da infância à maturidade”

Livro “Chico Xavier pede licença” Psicografia Francisco C. Xavier Autores diversos

domingo, 11 de abril de 2021

A CRIANÇA REJEITADA: “(...) Sem dúvida, muitos pais, despreparados para o ministério que defrontam em relação à prole, cometem erros graves, que influem consideravelmente no comportamento dos filhos, que, a seu turno, logo que podem, se rebelam contra estes, crucificando-os nas traves ásperas da ingratidão, da rebeldia"



A pior sensação que o filho ou a filha poderá ter é exatamente a de que é rejeitada por seus pais, por um ou por ambos.

Em verdade, não rejeita a criança apenas aquele pai ou aquela mãe que a abandona na via pública, ou a interna num orfanato, jamais indo vê-la. Rejeita-a também, aquele pai ou aquela mãe que promete amar a criança se ela for “boazinha”, se se conservar limpa numa quadra da vida em que o natural é a criança brincar livremente no solo (claro que protegida dos perigos), se fizer certinho um trabalho que está além de suas possibilidades infantis. Fica configurada a chantagem emocional, altamente perniciosa no processo da educação dos filhos.

Vale dizer que de igual modo rejeita o filho aquele pai ou aquela mãe que tudo faz quanto a criança ou o jovem peça só para se ver livre do pimpolho. É não lhe dar a mínima atenção, já se vê sem dificuldades.

Todos os excessos são danosos em nossas vidas, como se percebe facilmente.Se é danosa a rejeição da parte de um pai ou de uma mãe indiferente ou omissa, não deixa de ser ruim também a superproteção. Dentro deste raciocínio, se uma criança escorraçada, uma criança que viva debaixo de castigos corporais( mediante os quais os genitores descarregam suas tensões por outros motivos da vida estressante que levam hoje em dia), acaba vendo em todos os semelhantes inimigos em potencial, indivíduos que estariam prontos a maltratá-la, fazendo-se ao longo dos anos uma criatura amarga, pessimista, com raríssimos momentos de bom-humor,trazendo quase nulo o sentimento de solidariedade humana,uma criança superprotegida,criada cheia de dengos, de mimos excessivos, de cuidados exagerados, a quem tudo é simplesmente facilitado, vai-se acostumando a receber sem retribuir.

Resultado: a infância será um paraíso no lar, porém, a idade adulta será um inferno na sociedade. O indivíduo não saberá contar com ele mesmo nos momentos de decisão. Nutrirá, não raro, o sentimento de dependência não sendo capaz de solucionar os mais comezinhos problemas da experiência terrestre.

Aliás, quando a família é numerosa, tem vários filhos, não há mesmo condição para que os filhos sejam superprotegidos. Nesta situação, as crianças têm maiores oportunidades de viverem e se desenvolverem um tanto independentes. De certa forma, esta relativa independência auxilia o seu desenvolvimento, amadurecendo-as adequadamente. Desde pequenos, os filhos enfrentam alguns problemas e aprendem a resolvê-los. Inclusive há inúmeros casos ( sobretudo na presente atualidade planetária ) em que, a mãe trabalhando fora, vê-se na contingência de ter de contar com a ajuda da filha mais velha nos trabalhos domésticos, a cuidar dos irmãozinhos menores. O mesmo se dá relativamente ao filho mais velho; às vezes tem até de abandonar a escola ainda nas primeiras séries da educação fundamental (ensino de primeiro grau )a fim de ingressar no trabalho pesado, ou, no mínimo ao lado do pai, exercendo também alguma função com vista a equilibrar( ou colaborar a equilibrar, melhor dizendo) o precário orçamento doméstico, desempenhando atividades ditas masculinas.

Quando os pais sabem ajustar as situações assim criadas, os filhos aceitam bem os papéis que lhes são atribuídos e os conflitos momentâneos podem ser superados, desde que os mesmos pais não exijam perfeição de seus filhos. Aliás, os pais devem ser modelo mas nunca deverão pôr-se num pedestal dizendo aos filhos que nunca erraram na vida, o que não é, evidentemente, uma verdade. Melhor seria dizer-lhe que já cometeram enganos, ainda os cometem e se corrigem os filhos neste ou naquele particular é porque querem fazê-los felizes.

A segurança emocional, em parte sustentada pelo relacionamento entre irmãos, facilita muito o ajustamento do indivíduo fora de casa. Mas tudo isto( seria até desnecessário lembrar) vai depender em boa medida do comportamento dos pais.

Bem, há filhos que ser revoltam contra o tratamento que os pais lhe deram. Pois bem, para estes filhos deixaremos algumas frases do Espírito Joana de Ângelis, escritas pelo médium Divaldo Pereira Franco, constantes do livro “Após a Tempestade”( Livraria Espírita Alvorada Editora):
(...) Sem dúvida, muitos pais, despreparados para o ministério que defrontam em relação à prole, cometem erros graves, que influem consideravelmente no comportamento dos filhos, que, a seu turno, logo que podem, se rebelam contra estes, crucificando-os nas traves ásperas da ingratidão, da rebeldia e da agressividade contínua, culminando não raro em cenas de pugilato e vergonha”.
“(...) Aos filhos compete amar aos pais, mesmo quando negligentes ou irresponsáveis,porquanto é do Código Superior da Vida, o impositivo do honrar o pai e a mãe, sem excluir os que o são apenas por função biológica, assim mesmo, por cujo intermédio a Excelsa Sabedoria programa necessárias provas redentoras e pungitivas expiações liberativas”.

Termina sua exportação aquela mentora espiritual dizendo aos filhos estas orientações, com relação ao genitor que não lhes deu carinho:
“Se te falarem sobre recalques que ele traz da infância, em complexos que procedem desta ou daquela circunstância,(...) recorda, em silêncio, de que o Espírito procede do berço, trazendo gravados nas tecelagens sutis da própria estrutura gravames e conquistas, elevação e delinqüência, podendo, então, melhor compreendê-lo,mais ajudá-lo, desculpá-lo com eficiência e socorrê-lo com proibidade, prosseguindo ao seu lado sem mágoa(...) resgatando pelo sofrimento e amor os teus próprios erros, até o dia em que, redimido, possas reorganizar o lar feliz a que aspiras”.

Orientou assim Joana de Ângelis porque ninguém é pai ou mãe ou filho ou filha de outro alguém por um simples acaso biológico.Não. Nascemos e renascemos nas constelações familiares em que estávamos no mais das vezes envolvidos desde outras experiências corporais.Dá-se aqui o reencontro para que possamos solucionar os “desencontros” do passado.As possíveis algemas de ressentimentos devem ser transformadas em laços de amor para o nosso próprio bem.Reconhecemos ser tarefa árdua que exige renúncia abnegação e tempo.Todavia, será gratificante a sua execução porque teremos coroando o nosso esforço, às vezes não prontamente compreendido, a satisfação do dever cumprido!


Celso Martins

sábado, 10 de abril de 2021

EU VENCI O MUNDO: O poder da carne é sempre precário. A vitória do número e das armas é ilusória, efêmera e bastarda. Só o Espírito vence em definitivo, pelo amor e pela dor, com altruísmo e nobreza. O seu triunfo, uma vêz alcançado, consolida-se na eternidade. Jamais oscila nas bases em que se assenta. Sua superioridade se revela em todo o terreno, mesmo naquele que parece inadequado à sua manifestação.[....] Jesus venceu com a verdade, triunfou pelo amor. Felizes daqueles que já perceberam em sua mente e sentiram em seu coração esse acontecimento"






EU VENCI O MUNDO

Jesus, conforme atestam os fatos que com Ele se passaram, sucumbiu no madeiro infamante após haver suportado uma série de afrontas, insultos e flagelações. Os seus o abandonaram; as autoridades civis, cedendo às imposições da clerezia, arrastaram-no ao patíbulo da cruz, depois de publicamente açoitado.

Não obstante, ou apesar disso, o Filho de Deus ousa afirmar categoricamente: Eu venci o mundo! Como, Senhor, se o mundo tripudiou sobre ti e o teu Verbo? Que singular vitória é essa que proclamas? Como devemos entendê-la?

Sim, Mestre e Senhor, realmente venceste, como jamais alguém soube vencer com tamanha glória. Teu objetivo nunca foi o extermínio dos teus adversários, por isso que eles, nas trevas em que se achavam, não sabiam o que faziam.

Os mesmos sacerdotes, que foram os teus ferozes inimigos, não podiam compreender-te, dentro do materialismo religioso em que viviam. O povo aproximava-se de ti atraído pelos benefícios materiais que distribuías.
Ignorava, por completo, quem eras e qual a missão que vinhas desempenhar na Terra. Estavas, portanto, isolado no seio duma geração ignara, adúltera e incrédula. Tudo isso não constituía surpresa nem novidade, pois de tudo tinhas pleno conhecimento.

A materialidade própria e inerente aos mundos expiatórios reinava infrene entre os habitantes deste orbe. Só uma razão, um poder e um direito os homens conheciam: a força.

Competia-te ensinar-lhes, pela palava e pelo exemplo, a descobrir o poder por excelência, a força nobre e soberana que sobrepuja todas as manifestações de valor e fortaleza, expressas no número e nas armas: a força da Verdade e o poder do Amor, que, entrelaçados, representam o reduto inexpugnável do Espírito. 

Para lograres êxito no desempenho do programa que a ti próprio te traçaras, só havia um meio: a renúncia progressiva de ti mesmo, culminando com o sacrifício! Assim o fizeste, atingindo, em cheio, o alvo colimado. Portanto, venceste de fato, triunfaste em toda a linha, podendo, com justeza, proclamar a tua incomparável vitória, dizendo: Eu venci o mundo!

O poder da carne é sempre precário. A vitória do número e das armas é ilusória, efêmera e bastarda. Só o Espírito vence em definitivo, pelo amor e pela dor, com altruísmo e nobreza. O seu triunfo, uma vêz alcançado, consolida-se na eternidade. Jamais oscila nas bases em que se assenta. Sua superioridade se revela em todo o terreno, mesmo naquele que parece inadequado à sua manifestação.

A prova desta assertiva deu a Jesus sobejamente no momento em que, apresentando-se à corte romana, que o procurava no Jardim das Oliveiras, disse: Aqui estou ! Ao proferir, porém, esta frase, exteriorizou o fulgor do seu Espírito a cujo desusado brilho caíram por terra os quadrilheiros, de armas em punho!

Só depois que a Luz do Mundo se encobriu no seu envoltório, é que a soldadesca logrou voltar a si, prendendo o indigitado criminoso. Jesus, pois, não foi capturado: entregou-se voluntariamente à prisão. Um só instante de irradiação da sua potência espiritual fora bastante para demonstrar cabalmente a inanidade de todo o poderio de César, caso o humilde Cordeiro de Deus quisesse prevalecer-se da sua imensa reserva psíquica.

E não se diga que Jesus dissimulou, deixando de usar em sua defesa tamanha força. Como Mestre, o que lhe interessava era exemplificar.

A edificante exemplificação aí está, para os que têm olhos de ver e inteligência capaz de assimilar o que ela significa. O poder verdadeiro reside no Espírito, como resultado do conhecimento adquirido. Jesus manejava os próprios elementos, porque conhecia as leis que os regem sob todas as suas particularidades.

Para Ele não há mistérios na Natureza, nem segredos inescrutáveis no coração dos homens. Seu poder está na razão direta do seu saber. Suas obras dizem o grau da sua evolução intelectual e moral. A maior demonstração de sua grandeza está em fazer-se pequeno, sendo grande; insipiente, sendo sábio; fraco, sendo forte; vencido, sendo vencedor!

A convicção íntima do próprio valor torna o indivíduo paciente, tolerante e longânimo. A Verdade não tem pressa. O amor tudo suporta, tudo espera, tudo sofre.

Jesus venceu com a verdade, triunfou pelo amor. Felizes daqueles que já perceberam em sua mente e sentiram em seu coração esse acontecimento, o maior por certo e o mais significativo que a história humana registrou em suas páginas, por isso que é a vitória do Espírito sobre a carne, da Vida sobre a morte!

Autor : Vinícius
Na Escola do Mestre

sexta-feira, 9 de abril de 2021

O Evangelho Segundo o Espiritismo: "Nestes tumultuosos dias da sociedade, glória a Allan Kardec e à sua obra, que proporcionam as vindouras alegrias do encontro com a harmonia espiritual!"

O Evangelho Segundo o Espiritismo


A Revolução Francesa, ao libertar o ser humano da escravidão política, quando passou a entoar o hino da liberdade, da igualdade e da fraternidade, desenhou e inscreveu, com sacrifícios inomináveis, os direitos do homem e os da mulher nos grandiosos códigos da Justiça.

No fragor das lutas intérminas, os objetivos dos filósofos e dos idealistas da primeira hora foram substituídos pela alucinação dos famigerados assassinos do período do Terror, insculpindo no destino do país lamentáveis consequências, que seriam sofridas em amarguras indescritíveis.

Nesse enlouquecer das paixões asselvajadas, as turbas napoleônicas estimularam seus exércitos a expandir os horizontes da Flor de Lis por outros países europeus, que passaram a submeter-se-lhes, após as batalhas memoráveis.

Ao tornar-se Imperador da França, em 2 de dezembro de 1804, Napoleão Bonaparte governou o imenso território conquistado, até o período das desditas de 1815, com a derrota na batalha de Waterloo, durante os dias 16 a 19 de junho, com a sua respectiva prisão e exílio vergonhosos.

Houvera retornado a Paris por 100 dias, num verdadeiro golpe de Estado, para perder-se e, em Santa Helena, encerrar a jornada terrestre no dia 5 de maio de 1821, quando desencarnou.

Os céus da França encontravam-se plúmbeos e a sua psicosfera permanecia carregada dos ódios seculares que se prolongavam, desde a Noite de São Bartolomeu, nos trágicos 23 para 24 de agosto de 1572...

A religião dominante, enceguecida pelo poder temporal, manteve-se pela força da hediondez e da criminalidade, restaurada pela mão de ferro de Carlos Luiz Napoleão III, cognominado por Victor Hugo, como O Pequeno.

Desde o século XVII, quando houve a ruptura entre a Ciência e a Religião, a negação da fé religiosa substituiu a crença tradicional e cega, passando a predominar nos arraiais intelectuais e nas academias, o conhecimento, a experiência de laboratório, em vez da ingenuidade imposta aos simples e a todos que temiam o poder da Igreja.

Em pleno século XIX, nobres sacerdotes como Montalembert, Lamennais, Lacordaire e outros anelavam pela vivência do conceito Deus e liberdade, sendo alguns depostos das vestes que ostentavam, e tornou-se insuportável o relacionamento entre as academias e as sacristias.

Nesse ínterim de conflitos religiosos e acadêmicos, em que a política de Estado unida ao Clero interferia no destino das criaturas no país, Allan Kardec e a equipe luminosa do Espírito de Verdade já se encontravam em ação, preparando o advento de O Consolador, que logo mais se instalaria na Terra, porque pairava glorioso na Erraticidade e aguardava o momento de manifestar-se.

Lançados O Livro dos Espíritos, em 1857 e O Livro dos Médiuns, em 1861, vitoriosamente, uma nova ciência e uma filosofia otimista – o Espiritismo – passaram a iluminar as consciências e predispor a cultura vigente para o momento em que seria publicado O Evangelho Segundo o Espiritismo, libertado dos grilhões escravagistas dos teólogos insanos, distantes do amor de Jesus.

Em abril de 1864, Allan Kardec, sob a inspiração do Excelso Mestre, trouxe a lume a Sua superior moral, ao publicar a obra que iria consolar e esclarecer a Humanidade com as dúlcidas lições da ética e de valores elevados, todas exaradas nos sublimes sentimentos do amor, da caridade, da misericórdia, da compaixão...

Ao dedicar-se, exclusivamente, ao estudo e significado dos ensinamentos morais das palavras do Senhor, por serem de todos os tempos, o mestre de Lyon teve o cuidado de arrancar o joio que penetrara no trigal e transformou as espigas abundantes em celeiros de luz, que atravessaram os decênios como farol inapagável e apontam o rumo do porto seguro da plenitude para todos.

A noite densa e dominante passou a salpicar-se de diamantes estelares e nunca mais haverá escuridão.
As vozes dos Céus começaram a cantar as sinfonias incomparáveis enunciadas nos gloriosos dias em que Ele passeou pelas terras palestinas, quando encerrou o Seu ciclo de amor, não na cruz de vergonha, como se pensava, mas nas paisagens iridescentes da ressurreição triunfante.
Filósofos, missionários, cientistas, luminares da cultura, da arte, da abnegação, lídimos representantes do Sermão da montanha compuseram a partitura musical da Mensagem e Jesus retornou à Terra conforme prometera.

A partir desse novo momento, toda dor passou a encontrar lenitivo, toda aflição tem recebido conforto, e qualquer tipo de alucinação e ódio tem disposto de diretriz de segurança para a vivência da saúde e da paz.

As vozes siderais, ao exaltarem o triunfo da vida sobre a morte, glorificam Deus e Sublime Guia, preparam o Reino dos Céus nos corações terrestres, ansiosos pela conquista da plenitude.

Instaurada a Era que prenuncia o mundo de regeneração, quando o sofrimento cederá lugar à alegria de viver e o desespero facultará o encantamento da irrestrita confiança na Vida, as criaturas passam a experimentar novos estímulos para o prosseguimento da jornada, embora ainda enfrentem os últimos vestígios de inquietação que irão desaparecer por definitivo.

Em face do novo e ditoso acontecimento, saudamos, emocionados, o Sesquicentenário da publicação de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, que permanece como um luzeiro na penedia ante o mar proceloso e aponta o porto de segurança para todos os viajores da Terra.

Nestes tumultuosos dias da sociedade, glória a Allan Kardec e à sua obra, que proporcionam as vindouras alegrias do encontro com a harmonia espiritual!
 
Vianna de Carvalho.
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão
mediúnica da noite de 18 de dezembro de 2013, no Centro
Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.
Em 22.5.2014.

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Parábola dos Trabalhadores das Diversas Horas do Dia : "Os olhos humanos não podem medir os valores dessa natureza, mas os do Filho de Deus vão descobri-los nos íntimos recessos da alma humana.[...]É com o Espírito, e não com o corpo, que se constroem as obras que dignificam e imortalizam seus autores."



Artigo extraído do livro "Em Busca do Mestre" - Edições FEESP - 4ª Edição - Março de 1995.



“O reino dos céus é semelhante a um proprietário que saiu pela manhã a assalariar trabalhadores para a sua vinha. Feito com eles o ajuste de um denário por dia, mandou-os para a vinha. 

Saindo à hora terceira, viu outros na praça, desocupados, e disse-lhes: Ide também vós para a minha vinha, e eu vos darei o que for justo. Eles foram. 

Saiu às horas sexta e nona e fez o mesmo. Finalmente, indo à praça à hora undécima, e encontrando ali jornaleiros, disse-lhes: Por que estais todo o dia ociosos? Porque ninguém nos assalariou, responderam. Ide também vós à minha vinha e eu vos darei o que for justo.

À tarde chamou o seu mordomo, dando a seguinte ordem: Chama os jornaleiros e paga-lhes o salário, começando pelos últimos e acabando pelos primeiros. 

Chegaram, então, os da undécima hora e receberam um denário cada um. Vindo os primeiros, esperavam receber mais; porém, lhes foi dada igual quantia. Ao receberem-na, murmuravam contra o proprietário, alegando: Estes últimos trabalharam uma hora e os igualastes a nós que suportamos o calor do dia? Retrucou o proprietário a um deles: Meu amigo, não te faço agravo nem injustiça: não ajustastes comigo um denário? Toma o que é teu e vai-te embora; pois quero dar a este último tanto como a ti. Não me é lícito fazer o que me apraz daquilo que é meu? Acaso teu olho é mau, porque sou bom? Assim os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos; porque muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos”.

A alegoria acima – como, aliás, toda alegoria – exprime e revela um princípio diferente daquele que literalmente enuncia. Parece, à primeira vista, haver injustiça da parte daquele proprietário que manda pagar igual aos obreiros das diversas horas do dia. Pois então – como alegam os que iniciaram o labor pela manhã – será justo pagar o mesmo jornal a nós e aos que entraram às 9, ao meio-dia e até mesmo à undécima hora?
Para entrarmos no mérito do critério em que se baseou o proprietário da vinha, cumpre lembrarmos que a parábola em apreço tem relação com o reino dos céus, isto é, com os meios e processos empregados para sua conquista. Neste particular, o tempo constitui elemento de somenos importância. “A cada um será dado segundo as suas obras” e não segundo o tempo, mais ou menos dilatado, de sua atuação nos arraiais do credo que professa. Assim, pois, se os jornaleiros da hora nona e do meio-dia fizeram, pela maior soma de atividade empregada, tanto como os da manhã, é natural que recebessem o mesmo jornal, por isso que o proprietário havia prometido dar-lhes o que fosse justo. E aos da undécima hora? Seria possível, em tão minguado tempo, fazer o mesmo que os demais? Pelo dedo se conhece o gigante, reza o rifão popular. Que teriam produzido aqueles assalariados ao decurso de uma hora? Aqui entra em jogo um fator de sabida importância, no que respeita ao merecimento do obreiro: a qualidade da obra.

Certamente, o pouco que fizeram os da undécima hora supera tanto em qualidade, ao que fizeram os outros, em quantidade, que os bons olhos do proprietário entenderam ser de justiça dar-lhes a mesma paga. Em realidade o que ele viu é que o trabalho destes valia mais que os dos outros, fazendo nesse cômputo abstração do fator tempo.

A sabedoria da sentença evangélica – a cada um será dado segundo as suas obras – abrange dois aspectos distintos: o objetivo e o subjetivo. Somente no conhecimento exato de ambos é possível apurar com acerto e com justiça. Os homens julgam comumente através do prisma objetivo das obras, porque não lhes é dado penetrar no plano subjetivo. Daí a precariedade dos seus juízos e das suas sentenças. Por vezes, há mais estimação nos feitos sem maior importância, que nas vultosas obras que impressionam os sentidos. Aquela pobre viúva que lançou no gazofilácio do templo duas moedinhas de cobre de valor ínfimo, deu mais, disse o intérprete da divina justiça, do que os argentários que ali despejavam moedas de ouro e mancheias. O valor da oferta da viúva é de natureza subjetiva, está no que se não pode ver nem tocar, porquanto está na intenção e nos motivos com que a oferta foi feita; está finalmente, no sacrifício daquela mulher que se havia privado de tudo que possuía, mesmo do que se achava reservado ao seu sustento. Os olhos humanos não podem medir os valores dessa natureza, mas os do Filho de Deus vão descobri-los nos íntimos recessos da alma humana.
Recapitulando, recordemos mais uma vez que a semelhança ora comentada se relaciona com o reino dos céus. Somos todos jornaleiros da vinha do Senhor, que é o planeta onde nos achamos. Cada um age no setor que lhe foi destinado, iniciando o trabalho em horas diversas.

 O Proprietário observa atentamente a maneira como os seareiros mourejam, julgando o mérito individual, não pelo tempo nem pelo volume da produção, mas pelo cunho de perfeição imprimido à obra. 

O bom obreiro tem os olhos fixos no mister que executa e não nos ponteiros do relógio. Pensa menos na recompensa que no bom acabamento da sua tarefa.

O trabalho é santo pela sua mesma natureza e, sobretudo, pela alma do operário nele encarnada. “Só canta bem que canta por amor”. Os músculos refletem as vibrações do cérebro e do coração. A inteligência e os sentimentos dirigem as mãos, tanto do humilde operário como às do maior e mais consumado artista. É com o Espírito, e não com o corpo, que se constroem as obras que dignificam e imortalizam seus autores.
Nós, portanto, jornaleiros encontrados ociosos na praça, trabalhemos com simplicidade e santidade na vinha do Senhor. Imprimamos em nossos atos aquela naturalidade com que os pássaros gorjeiam e aquela dedicação com que eles fazem os seus ninhos. Não os preocupemos com o peso e a suntuosidade das nossas obras; tampouco nos deixemos impressionar com o tempo que temos empregado em produzi-las e, menos ainda, com a recompensa presente ou futura: Deus nos dará o que for justo. Confiemos, como confiaram os jornaleiros das derradeiras horas, pois “os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros; porque muitos serão chamados e poucos os escolhidos”.
E, assim, verificamos que a parábola em apreço encerra a mais bela e excelente apologia da JUSTIÇA.

Pedro de Camargo ( Vinícius)

quarta-feira, 7 de abril de 2021

FLEXIBILIDADE: "Quando se assume uma atitude de dureza, destrói-se a futura floração do bem, porque nenhuma ideia é irretocável de tal maneira que não mereça reparo ou complementação, e diversas mentes elaborando programas são mais eficazes do que apenas uma."




Todo comportamento extremista responde por danos imprevisíveis e de lamentáveis consequências, por se sustentar na intolerância e no desrespeito à inteligência e ao discernimento dos demais.

A consciência equilibrada busca sempre o comportamento mais saudável, expressando-se de maneira gentil, mesmo nas circunstâncias mais severas e afligentes.

A flexibilidade é medida de cometimento edificante pela faculdade de compreender a postura do outro, aquele que nem sempre sabe expressar-se ou agir como seria de desejar, mas, nada obstante, pensa e tem ideias credoras de respeito e de consideração, que devem ser levadas a sério.

 Quando se assume uma atitude de dureza, destrói-se a futura floração do bem, porque nenhuma ideia é irretocável de tal maneira que não mereça reparo ou complementação, e diversas mentes elaborando programas são mais eficazes do que apenas uma.

Ademais, essa imposição representa alta presunção decorrente da vaidade de se deter o conhecimento total ou mesmo a verdade plena.

 Quando se age dessa maneira, gera-se temor e animosidade por se bloquear as possibilidades dos demais, igualmente portadores da faculdade de pensar, de discernir.

Uma atitude flexível contribui para o somatório das realizações dignificantes que são confiadas a todos.

 Não obstante reconhecer o equívoco da mulher surpreendida em adultério, o Mestre foi-lhe flexível, dando-lhe nova oportunidade, embora não concordando com a sua conduta desrespeitosa aos estatutos morais e legais.

Entre dois ladrões no momento extremo, solicitado por um deles, que se arrependera de existência de erros, concedeu-lhe a bênção da esperança de que também alcançaria o paraíso.

Obras expressivas e honoráveis de serviço social e de edificações do bem no mundo soçobram e desaparecem em ruínas, quando alguns dos seus membros apresentam-se detentores de inflexibilidade em suas proposituras e comportamentos diários.

A harmonia do conjunto exige que todos contribuam com a sua parte em favor do equilíbrio geral, mesmo que ceda agora, a fim de regularizar no futuro.

Se alguém discorda e mantém-se inflexível na sua óptica ocorre o desastre no grupo, que se divide, dando lugar a ressentimentos e queixas, amarguras e dissabores.

Assevera milenária sabedoria oriental que a floresta exuberante cresce em silêncio e discrição, mas quando tomba alguma árvore é com estrondo que o faz, como a significar que o bem, o lado edificante de tudo, acontece com equilíbrio, enquanto a queda, a destruição, sempre se dá de maneira ruidosa e chocante.

Todo grupamento humano necessita do contributo valioso da tolerância, da paciência, da compreensão.

A prepotência é geradora de desmandos e tormentos incalculáveis, que poderiam ser evitados com um pouco de fraternidade.

Sê flexível, mesmo que penses diferente, que tenhas ideias próprias, felizes, facultando aos outros também serem ouvidos e seguidos.
 
*   *   *
No vendaval, a árvore que não deseja ser arrancada verga-se, para depois retornar a postura. Se pretender manter-se ereta, sofrerá a violência que a derrubará na sucessão das horas.

O bambu é um dos mais belos exemplos de flexibilidade, pois que se recurva, submete-se com facilidade às imposições que lhe são dirigidas, sem arrebentar-se, mantendo-se vigoroso.

Consciente das responsabilidades que te dizem respeito, não te imponhas pela rigidez. Os teus valores morais serão a tua identificação e o cartão de crédito da tua existência.

Estás convidado a servir, não a estabelecer diretrizes estritas para os outros, especialmente se te encontras servindo na Seara de Jesus, que sempre te proporciona chances novas, mesmo quando malbarataste aquelas que te foram anteriormente concedidas.

Fácil é ser inflexível para com o próximo e difícil é submeter-se a situação equivalente, quando se altera a circunstância e mudam-se os padrões apresentados.

Dialogando, ouvindo e abrindo-se novos conceitos e proposituras, adquire-se a faculdade da gentileza, indispensável ao êxito de todo e qualquer empreendimento humano.

No dia a dia da existência sempre ocorrem fenômenos inesperados, que alteram a programação mais bem estabelecida, exigindo mudanças de rumo, formulações novas e necessárias.
 
O imprevisto é uma forma de intervenção das leis soberanas, ensejando diferente opção para o comportamento saudável.

Não sejas, desse modo, aquele que cria embaraços, embora as abençoadas intenções de que te encontras revestido.

Todos são úteis numa equipe e importantes no conjunto de qualquer realização.
 
Sê, portanto, dócil e acessível, porque sempre há alguém mais adiante, portador de aspereza que, com certeza, suplantará a tua.

Nunca sentirás prejuízo por ceder em favor do bem comum, da ordem geral, abrindo espaço para outras experiências e atitudes.
 
*   *   *
A flexibilidade é dileta filha do amor, que se expande e enriquece a vida com esperança e paz.

Todos aqueles que se fizeram temerários e se impuseram não fugiram de si mesmos, do envelhecimento, das enfermidades, da desencarnação.

Pacientemente e com flexibilidade, Jesus espera por ti e te inspira sem descanso.

Medita e age conforme gostarias que assim procedessem em relação a ti.
 
Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão
mediúnica de 26 de setembro de 2012, no Centro Espírita
Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.
 
   

terça-feira, 6 de abril de 2021

A BACIA DE PILATOS:"Há muita gente que lava as mãos, como fez Pilatos, diante dos problemas alheios, esquecida dos sentimentos de solidariedade e fraternidade..."



"Então Pilatos, vendo que nada conseguia, antes, pelo contrário, o tumulto aumentava, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Estou inocente do sangue deste justo." - (Mateus, 27:24)


Pôncio Pilatos exercia a função de Procônsul romano na Judéia, quando Jesus Cristo foi preso e entregue ao seu julgamento. Confabulando muito ligeiramente com o Mestre chegou à conclusão de que ele era inocente e, por várias vezes, tentou demover a multidão fanatizada de exigir a Sua crucificação.

Sua esposa teve um sonho profético e chegou mesmo a mandar-lhe um recado para não se envolver naquela condenação, mas ele estava sofrendo terrível pressão por parte dos principais sacerdotes, que manipulavam a agitação do povo em frente ao Pretório.

Numa tentativa de sensibilizar a multidão, permitiu que Jesus fosse açoitado, e não evitou que Ele fosse vestido com uma púrpura escarlate, sofrendo o vexame de ter colocada sobre Sua cabeça uma coroa de espinhos e uma cana nas mãos, com o objetivo de menosprezar o título que o próprio Pilatos lhe dava de "rei dos judeus".

O ato de flagelação não conseguiu comover os homens que ali estavam, nem esfriar o ódio que enchia os corações daqueles que tinham nítido interesse no sacrifício de Jesus. Usando de suas prerrogativas, e como era hábito soltar um prisioneiro por ocasião da Páscoa, Pilatos ordenou que fossem trazidos à sua presença Jesus Cristo e um fascínora chamado Barrabás, chefe de uma sedição
e autor de morte.
Apresentou ambos à turba fanatizada e indagou:"Quem querem que eu solte?". A escolha era entre a pureza e o crime, entre a ovelha e o lobo voraz, entre um Enviado dos Céu um representante do império do mal.

O povo não hesitou, escolheu Barrabás e exigiu a crucificacão de Jesus. Como Pilatos insistisse em afirmar que não via Mestre crime algum passível de morte, tentou novamente convencer o povo, mas um dentre a multidão gritou: "Se soltas este não és amigo de César: qualquer que se faz rei é contra César" (João 19: 12).

Diante desta insinuação, o Procônsul não vacilou; assentou-se no tribunal, no lugar chamado Litóstrotos (Gabbatá em hebraico), e disse ao povo: "Eis aqui o vosso rei", porém, os principais sacerdotes retrucaram: -"Não temos rei senão a César", o que levou Pilatos a entregar-lhes Jesus, para o ato de crucificação (Jo; 19:13-16).

É muito cômodo pretender titular do exercício da justiça lavando as mãos, mormente em se considerando que um julgamento dessa natureza é indigno de um magistrado e muito mais de um governante, como era o caso de Pilatos.

O Procônsul romano ficou numa situação embaraçosa: pôr em risco o seu elevado cargo, sustentando a inocência de Jesus e ordenando a Sua libertação, ou condenando um inocente à morte. Desnorteado diante dessa decisão, ordenou que fosse trazida à sua presença uma bacia com água e lavou suas mãos, afirmando ser inocente do sangue daquele justo. Nem por isso aplacou a fúria dos acusadores que replicaram: "O seu sangue caia sobre nós e nossos filhos" (Mateus. 27:24-26).
Pilatos julgou que o simples ato de lavar as mãos limpava também, a sua consciência; julgou que essa atitude livrava-o de ser considerado um juiz faltoso e iníquo.

Na Terra, em todos os tempos, sempre houve juizes que atuam como Pilatos, numa causa justa e nobre, principalmente quando esta é sustentada por uma criatura humilde em disputa com um poderoso. O juiz, nesse caso, lava as mãos, dando ganho de causa ao potentado. Existem outros ainda piores, que nem lavam as mãos, preferem mantê-las sujas pela corrupção, pela posse de fortunas ilícitas, trocam a justiça pelo peso do ouro que lhes é ofertado e pelas vantagens de ordem material que lhes são oferecidas.

E óbvio que o ato de lavar as mãos não isenta ninguém das responsabilidades, nesta ou na vida futura, por isso disse o Cristo: "Com a medida com que julgardes, sereis julgado". Salomão, rei de Israel, teve de enfrentar, certa vez, um terrível julgamento, porém, não se limitou a lavar as mãos.

Certa mulher deu à luz um menino, que veio a falecer logo a seguir. Ela, então, apoderou-se de uma criança de sua vizinha e, por todos os meios, pretendeu insinuar que aquele era o seu filho verdadeiro. Não se conformando com a situação, a autêntica mãe da criança procurou a justiça de Salomão, numa das audiências que o rei concedia ao povo.

Salomão mandou que as duas mulheres viessem à sua presença; chamando um carrasco, ordenou-lhe: "Corte a criança pelo meio e dê metade a cada uma das mulheres".

Quando o carrasco, segurando o menino por um dos pés, fez reluzir a sua espada no ar, a fim de cortar a criança, a verdadeira mãe ajoelhou-se aos pés do rei e suplicou: "Não o mates, dá todo a ela". A falsa mãe, pelo contrário, aplaudiu a divisão do menino.
Salomão, suspendendo a execução, ordenou que o pequenino fosse entregue à mulher que lhe suplicou que não dividisse o filho. O rei viu nela a mãe verdadeira, pois, pelo amor, preferiu que a criança fosse dada viva à sua rival, a vê-la morta.

Há muita gente que lava as mãos, como fez Pilatos, diante dos problemas alheios, esquecida dos sentimentos de solidariedade e fraternidade.

Na parábola do Bom Samaritano, narrada por Jesus Cristo, o sacerdote passou perto do homem que jazia moribundo à margem da estrada, limitando-se a formular uma prece e lavando as mãos, como um desencargo de consciência, deixando de socorrê-lo.

Judas Escariotes, arrependido do ato de traição a Jesus, voltou apressadamente ao Templo, atirando as trinta moedas de prata aos pés do sumo sacerdote, talvez julgando que isso lavaria suas mãos naquele ato execrável. Em nossa vida comum, muitas vezes lavamos as mãos, em face das dificuldades de nossos irmãos de jornada terrena.

Muitos pais expulsam de casa os filhos que se transviam nos caminhos da vida, julgando, com isso, que limpam sua honra, lavando as mãos, esquecidos das responsabílidades que têm como pais, na sustentação e orientação espiritual daqueles cuja guarda Deus lhes dá como filhos, perdoando suas falhas; é de lembrar que, num mundo inferiorizado como o nosso, todos estão sujeitos aos deslizes morais e materiais.

Se os Evangelhos recomendam perdoar o nosso próximo setenta vezes sete vezes lembremo-nos de que nossos filhos são os mais próximos dentre todos os demais. Muitos filhos colocam seus pais, já velhinhos, nos mais obscuros cômodos da sua casa, ou mesmo em asilos, dando-lhes o mais cabal desprezo, esquecendo-se de que apenas a sustentação material não os isenta das responsabilidades que têm, de amparar, na velhice, aqueles que foram os autores de suas vidas; esquecem-se do Mandamento que ordena honrar pai e mãe. Agindo desse modo, lavam as mãos em face das leis do amor e da justiça divina.

E assim, de forma idêntica, lavamos as mãos em muitos outros atos de nossas vidas; entretanto, devemo-nos lembrar de que a justiça de Deus não terá por inocente aquele que se furta às responsabilidades inerentes às vidas na Terra. Não se pode jamais fazer como Pilatos, lavar as mãos, pois isso não nos isenta dos compromissos que temos como criaturas de Deus, em laborioso processo evolutivo, que exige ações claras, consoante o que disse o próprio Jesus: "Que o vosso dizer na Terra seja sim! sim! não! não!", o que, obviamente, não comporta atitudes dúbias.

Surgiram, então, os dogmas e, durante outros vinte séculos, a Humanidade passou a ter uma visão distorcida das coisas divinas, pois, através deles, tomaram forma as esdrúxulas teorias das penas eternas, do pecado original, dos céus superpostos, da existência do purgatório, da unicidade dos mundos habitados, do batismo e outras mais; tudo isso em flagrante contraste com os ensinamentos cristalinos dos Evangelhos.

Ao Espiritismo cabe a tarefa de restabelecer todos os ensinamentos de Jesus Cristo em seus verdadeiros significados, consoante a promessa por Ele exarada de suscitar entre nós, em época propícia, o Espírito de Verdade, o Consolador, o Paracleto, com o objetivo básico de estabelecer toda a verdade.

Paulo A. Godoy

sábado, 20 de março de 2021

LIVRE-ARBÍTRIO E PROVIDÊNCIA "A alma é criada para a felicidade, mas essa felicidade, para apreciá-la no seu valor, para conhecer-lhe o preço, deve ela própria conquistá-la e, para isso, desenvolver livremente as potências que nela estão. Sua liberdade de ação e sua responsabilidade aumentam com sua elevação, pois, quanto mais se esclarece, mais pode e deve conformar o jogo de suas forças pessoais às leis que regem o Universo.""

 

A questão do livre-arbítrio é uma das que mais tem preocupado os filósofos e os teólogos. Conciliar a vontade, a liberdade do homem com o jogo das leis naturais e a vontade divina, pareceu tanto mais difícil quanto a fatalidade cega parecia pesar, aos olhos de um grande número, sobre o destino humano. O ensino dos espíritos elucidou o problema. A fatalidade aparente que semeia de males o caminho da vida é apenas a consequência do nosso passado, o efeito retornando para a causa; é o cumprimento do programa aceito por nós antes de renascermos, segundo os conselhos de nossos guias espirituais, para o nosso grande bem e nossa elevação.

Nas camadas inferiores da criação, o ser ainda se ignora.
Só o instinto e a necessidade o conduzem, e somente nos tipos mais evoluídos que aparecem, como uma aurora pálida, os primeiros rudimentos das faculdades. No estado de humanidade, a alma atingiu a liberdade moral. Seu raciocínio, sua consciência desenvolvem-se cada vez mais, à medida que percorre sua imensa jornada. Colocada entre o bem e o mal, compara e escolhe livremente.
Esclarecida através de suas decepções e seus males, é no meio das provas que sua experiência se forma, que sua força moral se tempera.

A alma humana, dotada de consciência e de liberdade, não pode degenerar na vida inferior. Suas encarnações se sucedem até que tenha adquirido esses três bens imperecíveis, alvo de seus longos trabalhos: a sabedoria, a Ciência e o amor. Sua posse liberta-a para sempre dos renascimentos e da morte e abre-lhe o acesso à vida celeste.

Pelo uso de seu livre-arbítrio, a alma fixa seus destinos, prepara suas alegrias ou suas dores. Mas, nunca, no decorrer de sua marcha, na prova amarga como no meio da ardente luta da paixão, nunca os socorros do Alto lhe foram recusados.
Por mais que se abandone a si mesma, por mais indigna que pareça, desde que desperte sua vontade de caminhar pelo caminho reto, a via sacra, a Providência a ajuda e sustenta.

A Providência, é o espírito superior, é o anjo que vela sobre o infortúnio, é o consolador invisível, cujos fluidos vivificantes sustentam os corações acabrunhados; é o farol aceso na noite para a salvação daqueles que erram no mar tempestuoso da vida. A Providência, é ainda, é sobretudo, o amor divino derramando-se em abundância sobre a criatura.
E que solicitude, que previdência nesse amor! Não é apenas para a alma, para servir de moldura à sua vida, de teatro para os seus progressos, que ela dependurou os mundos no espaço, acendeu os sóis, formou os continentes e os mares? Somente para a alma essa grande obra efetua-se, as forças naturais se combinam, os universos eclodem no seio das nebulosas.

A alma é criada para a felicidade, mas essa felicidade, para apreciá-la no seu valor, para conhecer-lhe o preço, deve ela própria conquistá-la e, para isso, desenvolver livremente as potências que nela estão. Sua liberdade de ação e sua responsabilidade aumentam com sua elevação, pois, quanto mais se esclarece, mais pode e deve conformar o jogo de suas forças pessoais às leis que regem o Universo.

A liberdade do ser se exerce, portanto, num círculo limitado, de um lado, pelas exigências da lei natural, que nenhum ultraje pode sofrer, nenhuma alteração na ordem do mundo; do outro, pelo seu próprio passado, cujas consequências jorram sobre ele através dos tempos, até a reparação completa. Em nenhum caso o exercício da liberdade humana pode entravar a execução dos planos divinos; sem isso, a ordem das coisas seria a cada instante perturbada. Acima das nossas visões limitadas e mutantes, a ordem imutável do Universo se mantém e prossegue. Somos, quase sempre, maus juízes daquilo que é para nós o verdadeiro bem; e se a ordem natural das coisas tivesse que se dobrar aos nossos desejos, que perturbações medonhas não resultariam disso?

O primeiro uso que o homem faria de uma liberdade absoluta seria o de afastar de si todas as causas de sofrimento e de assegurar para si, desde aqui na Terra, uma vida de felicidades. Ora, se há males que a inteligência humana tem o dever e os meios de conjurar e de destruir, — por exemplo, aqueles que provêm do meio terrestre — há outros, inerentes à nossa natureza moral, que só a dor e a compreensão podem dominar e vencer; tais são os nossos vícios. Nesse caso, a dor torna-se uma escola, ou melhor, um remédio indispensável e as provas suportadas são apenas uma repartição equitativa da infalível justiça. É, portanto, a nossa ignorância dos fins objetivados por Deus que nos faz recriminar a ordem domundo e suas leis. Se as criticamos é porque ignoramos osmeios ocultos.

O destino é a resultante, através das nossas vidas sucessivas, dos nossos atos e das nossas livres resoluções. Mais esclarecidos sobre nossas imperfeições, no estado de espíritos, preocupados com os meios de atenuá-los, aceitamos a vida material sob a forma e nas condições que nos parecem próprias para realizar esse objetivo.

Os fenômenos do hipnotismo e da sugestão mental explicam o que acontece, em caso semelhante, sob a influência de nossos protetores espirituais. No estado de sonambulismo, a alma, sob a sugestão do magnetizador, empenha-se em executar tal ou qual ato, num dado tempo. De retorno ao estado de vigília, sem ter conservado nenhuma lembrança aparente dessa promessa, executa-a exatamente. Da mesma maneira, resoluções são tomadas antes de renascer; mas, chegada a hora, ela se adianta à frente dos acontecimentos previstos e deles participa na medida necessária ao seu adiantamento ou à execução da inelutável lei.


sábado, 6 de março de 2021

LIBERDADE , IGUALDADE E FRATERNIDADE: Liberdade, igualdade e fraternidade, três palavras que são por si sós o programa de uma ordem social, que realizaria o mais absoluto progresso da humanidade, se os princípios que representam pudessem receber inteira aplicação.




Liberdade, igualdade e fraternidade, três palavras que são por si sós o programa de uma ordem social, que realizaria o mais absoluto progresso da humanidade, se os princípios que representam pudessem receber inteira aplicação. Vejamos os obstáculos que, no estado atual da sociedade, lhes podem ser apresentados e procuraremos os meios de removê-los.


A fraternidade, na rigorosa acepção da palavra, resume todos os deveres do homem para com os semelhantes. Significa: devotamento, abnegação, tolerância, benevolência, indulgência; é a caridade evangélica por excelência e a aplicação da máxima "fazer aos outros o que queremos que os outros nos façam". O oposto constitui a norma do egoísmo. A fraternidade proclama: um por todos e todos por um; o egoísmo perora: cada um para si. Estes dois princípios, sendo a negação um do outro, tanto impedem ao egoísta de ser fraterno como ao avarento de ser generoso e um homem medíocre de chegar às culminâncias de um grande homem. Ora, sendo o egoísmo social, enquanto ele dominar, será impossível a verdadeira fraternidade, querendo a cada um para proveito próprio ou quando muito em proveito de outrem, uma vez que nada perca com isso.


Atenta a sua importância para a realização da felicidade social, a fraternidade está na primeira linha: é a base; sem ela seriam impossíveis a liberdade e a igualdade reais. A igualdade decorre da fraternidade e a liberdade do conjunto das duas.


Suponhamos uma sociedade de homens assás desinteressados, benévolos e prestativos, para viverem fraternalmente. Entre eles não haverá privilégios e direitos excepcionais, o que destruiria a fraternidade.


Tratar alguém de irmão é tratar de igual para igual, é querer para ele o mesmo que para si. Em um povo de irmãos, a igualdade será a conseqüência dos seus sentimentos, da sua maneira de proceder, e se estabelecerá pela força das coisas.


Qual é, porém, o inimigo da igualdade? O orgulho, que trabalha por ser o primeiro e por dominar; que vive de privilégios e de exceções e que aproveitará a primeira ocasião para destruir a igualdade social, nunca por ele bafejada. Ora, sendo o orgulho uma das chagas sociais, é evidente que nenhuma sociedade terá a igualdade sem arrasar primeiro esta barreira.


A liberdade, já o dissemos, é filha da igualdade e da fraternidade. Falamos da liberdade legal, e não da natural, que é um direito imprescritível de toda a criatura humana, até do selvagem.


Os homens, vivendo como irmãos, com direitos iguais, animados do sentimento de recíproca benevolência, praticarão entre si a justiça, não causarão danos e, portanto, nada recearão uns dos outros. A liberdade será inofensiva, porque ninguém abusará, em prejuízo do seu semelhante. Como conseguir que o egoísmo, tudo desejando para si, e o orgulho, que quer tudo dominar, dêem as mãos à liberdade, que os destrona? Nunca o farão, porque a liberdade não tem mais encarniçados inimigos, assim como a igualdade e a fraternidade.


A liberdade pressupõe confiança mútua, mas este sentimento é impossível entre homens, que só têm em vista a sua personalidade e não podendo satisfazer à sua ambição à custa de outrem, vivem em guarda uns contra os outros, sempre receosos de perder o que chamam o seu direito e têm o predomínio como condição da existência; e por isto levantarão barreiras à liberdade e a sufocarão tão depressa encontrem propício ensejo.


Os três princípios são, como já dissemos, solidários entre si e apoiam-se mutuamente. Sem a co-existência deles, o edifício social fica incompleto. A fraternidade, praticada em sua pureza, requer a liberdade e a igualdade, sem as quais não será perfeita. Sem a fraternidade, a liberdade soltará a rédea às más paixões, que correrão sem freio. Com a fraternidade, o homem saberá regular o livre-arbítrio, estará sempre na ordem. Sem ela, usará do livre-arbítrio, sem escrúpulos; serão a licença e a anarquia. É por isso que as mais livres nações são forçadas a por limites à liberdade. A igualdade, sem fraternidade, conduz aos mesmos resultados, porque a igualdade requer liberdade. Sob o pretexto da igualdade, o pequeno abate o grande, para tomar-lhe o lugar, e torna-se tirano por sua vez. Não há senão um deslocamento de despotismo.


Do exposto resulta que deve permanecer na escravidão o povo que não possui ainda o verdadeiro sentimento de fraternidade? Que não têm capacidade para as instituições fundadas sobre os princípios de igualdade e de liberdade? Pensar assim é mais o que cometer um erro, é cometer um absurdo. Nunca se espera que a criança chegue a todo o seu desenvolvimento orgânico para ensiná-la a andar.


Quem é, as mais vezes, o guia ou o tutor dos povos? São homens de idéias grandiosas e generosas dominados pelo amor do progresso, que aproveitam a submissão dos seus inferiores, para neles desenvolver o senso moral e elevá-los pouco a pouco à condição de homens livres? Não; são, quase sempre homens ciosos do seu poder, a cuja ambição outros servem de instrumentos mais inteligentes do que os animais e que por isso, em lugar de emancipá-los, os conservam, quando podem, sob o jugo e na ignorância. Esta ordem de coisas, entretanto, muda por si mesma, sob a irresistível influência do progresso.


A reação é, não raro, violenta e tanto mais terrível quando o sentimento de fraternidade, imprudentemente sufocado, não interpõe o seu poder moderador. A luta é travada entre os que querem arrebatar e os que querem guardar; daí um conflito que se prolonga, às vezes, por séculos. Um equilíbrio fictício por fim se estabelece. As condições melhoram, mas os fundamentos de ordem social não estão firmes, a terra treme debaixo dos pés; porque ainda não é o tempo do reinado da liberdade e da igualdade sob a égide da fraternidade, visto como o orgulho e o egoísmo ainda contrastam com os esforços dos homens de bem.


Vós todos, que sonhais com esta idade de ouro para a humanidade, trabalhai principalmente na construção dos alicerces do edifício; antes de lhes terdes coroado o fastígio, dai-lhe por pedra angular a fraternidade em sua mais pura acepção; mas é preciso saber que, para isto, não basta decretar e inscrever a palavra numa bandeira; é mister que haja o sentimento no fundo dos corações e não seja ele trocado por disposições legislativas. Assim como para fazer frutificar um campo é preciso remover as pedras e arrancar a erva, urge trabalhar sem descanso para remover e arrancar o orgulho e o egoísmo, porque são eles a fonte de todo o mal, o obstáculo real ao reino das coisas boas.(77)


Destruí nas leis, nas instituições, nas religiões, na educação, os mais imperceptíveis vestígios dos tempos da barbaria e dos privilégios, bem como todas as causas, que entretem e desenvolvem esses eternos obstáculos ao verdadeiro progresso, vícios que são ingeridos, por assim dizer, como o leite, e aspirados por todos os poros na atmosfera social.


Só então os homens compreenderão, os deveres e benefícios da fraternidade, só então se firmarão por si mesmos, sem abalos e sem perigos, os princípios complementares da liberdade e da igualdade. E é possível a destruição do orgulho e do egoísmo? Respondemos alta e formalmente: SIM, porque, do contrário, fixar-se-á um marco eterno ao progresso da humanidade. Que o homem avulta sempre em inteligência, é fato incontestável. Terá chegado ao ponto culminante da sua caminhada por esse caminho? Quem ousaria sustentar tão absurda tese? Progride em moralidade? Para responder a esta pergunta, basta comparar as épocas de um mesmo país. Por que razão alcançará o limite de progresso moral antes que o do intelectual? A sua aspiração para uma ordem superior é o indício da possibilidade de ali chegar. Aos homens do progresso pertence ativar esse movimento pelo estudo e aplicação dos meios mais eficazes.


(77) A lógica e a perfeição formal e conceptual deste trabalho de Kardec exigem estudo atencioso para a sua completa compreensão. Como vemos no trecho acima, confirmando tópicos da codificação e deste mesmo volume, os espíritas são os trabalhadores do alicerce da nova ordem social. Possuindo o esclarecimento doutrinário, não podem iludir-se com teorias e movimentos políticos e sociais de superfície, com ideologias que ignoram a essência da estrutura social, ou seja a condição evolutiva do homem, do espírito humano em seu estágio atual. Impossível criar um mundo de cultura com uma população obtusa e analfabeta, sem antes educá-la. Assim também é impossível estabelecer na Terra o reino da justiça com uma humanidade egoísta, orgulhosa e escravizada aos preconceitos da ignorância, sem antes esclarecê-la. (N. do Rev.)