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domingo, 16 de julho de 2017

Ponderações sobre resgate coletivo ( acidente áereo) [...]O socorro no avião sinistrado é distribuído indistintamente, contudo, não podemos esquecer que se o desastre é o mesmo para todos os que tombaram, a morte é diferente para cada um. No momento serão retirados da carne tão somente aqueles cuja vida interior lhes outorga a imediata liberação.[...]Quanto mais chafurdamos o ser nas correntes de baixas ilusões, mais tempo gastamos para esgotar as energias vitais que nos aprisionam à matéria pesada e primitiva de que se nos constitui a instrumentação fisiológica, demorando-nos nas criações mentais inferiores a que nos ajustamos[...]as entidades que necessitam de tais lutas expiatórias são encaminhadas aos corações que se acumpliciaram com elas em delitos lamentáveis, no pretérito distante ou recente ou, ainda, aos pais que faliram junto dos filhos, em outras épocas, a fim de que aprendam na, saudade cruel e na angústia inominável o respeito e o devotamento, a honorabilidade e o carinho que todos devemos na Terra ao instituto da família. A dor coletiva é o remédio que nos corrige as falhas mútuas.

Resgates coletivos




[...]Apelo urgente da Terra pedia auxílio para as vítimas de um desastre aviatório.
Sem alongar-se em minúcias, informou que a solicitação se repetiria, dentro de alguns instantes, e conviria, esperar a fim de examinarmos o assunto com a eficiência precisa.
Com efeito, mal terminara o apontamento e sinais algo semelhantes aos do telégrafo de Morse se fizeram notados em curioso aparelho. Druso ligou tomada, próxima e vimos um pequeno televisor em ação, sob vigorosa lente, projetando imagens movimentadas em tela próxima, cuidadosamente encaixada na parede, a pequena distância.
Qual se acompanhássemos curta notícia em cinema sonoro, contemplamos, surpreendidos, a paisagem terrestre.
Sob a crista de serra alcantilada e selvagem, destroços de grande aeronave guardavam consigo as vítimas do acidente. Adivinhava-se que o piloto, certamente enganado pelo traiçoeiro oceano de espessa bruma, não pudera evitar o choque com os picos graníticos que se salientavam na montanha, silenciosos e implacáveis, à maneira de medonhos torreões de fortaleza agressiva.
Em pleno quadro inquietante, um ancião desencarnado, de semblante nobre e digno, formulava requerimento comovedor, rogando à Mansão a remessa de equipe adestrada para a remoção de seis das catorze entidades desencarnadas no doloroso sinistro.
[...]A cena aflitiva parecia desenrolar-se ali mesmo.
Oito dos desencarnados no acidente jaziam em posição de choque, algemados aos corpos, mutilados ou não; quatro gemiam, jungidos aos próprios restos, e dois deles, não obstante ainda enfaixados às formas rígidas, gritavam desesperados em crises de inconsciência.
Contudo, amigos espirituais, abnegados e valorosos, velavam ali, calmos e atentos.[...]
Em poucos instantes, diversos operários da casa puseram-se em marcha, na direção do local minuciosamente descrito.[...]
Foi então que Hilário e eu indagamos se não nos seria possível a participação na obra assistencial que se processava, no que Druso, paternalmente, não concordou, explicando que o trabalho era de natureza especialíssima, requisitando colaboradores rigorosamente treinados.
Cientes de que o generoso mentor poderia dispensar-nos mais tempo, aproveitamos o ensejo para versar a questão das provas coletivas.
Hilário abriu campo livre ao debate, perguntando, respeitoso, por que motivo era rogado o auxílio para a remoção de seis dos desencarnados, quando as vítimas eram catorze.
Druso, no entanto, replicou em tom sereno e firme:
— ue tomO socorro no avião sinistrado é distribuído indistintamente, contudo, não podemos esquecer que se o desastre é o mesmo para todos os qbaram, a morte é diferente para cada um. No momento serão retirados da carne tão somente aqueles cuja vida interior lhes outorga a imediata liberação. Quanto aos outros, cuja situação presente não lhes favorece o afastamento rápido da armadura física, permanecerão ligados, por mais tempo, aos despojos que lhes dizem respeito.
— Quantos dias? — clamou meu colega, incapaz de conter a emoção de que se via possuído.
— Depende do grau de animalização dos fluidos que lhes retêm o Espírito à atividade corpórea — respondeu-nos o mentor. — Alguns serão detidos por algumas horas, outros, talvez, por longos dias… Quem sabe? Corpo inerte nem sempre significa libertação da alma. O gênero de vida que alimentamos no estágio físico dita as verdadeiras condições de nossa morte. Quanto mais chafurdamos o ser nas correntes de baixas ilusões, mais tempo gastamos para esgotar as energias vitais que nos aprisionam à matéria pesada e primitiva de que se nos constitui a instrumentação fisiológica, demorando-nos nas criações mentais inferiores a que nos ajustamos, nelas encontrando combustível para dilatados enganos nas sombras do campo carnal propriamente considerado. E quanto mais nos submetamos às disciplinas do espírito, que nos aconselham equilíbrio e sublimação, mais amplas facilidades conquistaremos para a exoneração da carne em quaisquer emergências de que não possamos fugir por força dos débitos contraídos perante a Lei. Assim é que “morte física” não é o mesmo que “emancipação espiritual”.
[...]— Todavia — reparou Hilário —, não serão atraídos por criaturas desencarnadas, de inteligência perversa, já que não podem ser resguardados de imediato?
Druso estampou significativa expressão facial e ponderou:
— Sim, na hipótese de serem surdos ao bem, é possível se rendam às sugestões do mal, a fim de que, pelos tormentos do mal, se voltem para o bem. No assunto, entretanto, é preciso considerar que a tentação é sempre uma sombra a atormentar-nos a vida, de dentro para fora. A junção de nossas almas com os poderes infernais verifica-se em relação com o inferno que já trazemos dentro de nós.
[...]— Parece-me que não seríamos capazes de comentar um desastre de grandes proporções, no campo dos homens, sem lhes insuflar o vírus do medo, tanta vez portador do desânimo e da morte.
A palavra do orientador, serena e evangélica, reajustava-nos os impulsos menos edificantes.
Inegavelmente, a Terra jaz repleta de criaturas, tanto quanto nós, algemadas a escabrosos compromissos, carentes de ação contínua para o necessário reequilíbrio. Não seria justo atormentá-las com pensamentos de temor e flagelação, quando através do bem, sentido e praticado, podemos cada hora arredar de nossos horizontes as nuvens de sofrimentos prováveis.
Assinalando-nos a atitude inequívoca de compreensão e de obediência, como não podia deixar de ser, o chefe da instituição continuou em tom afável, depois de ligeira pausa:
— Imaginemos que fossem analisar as origens da provação a que se acolheram os acidentados de hoje… Surpreenderiam, decerto, delinquentes que, em outras épocas, atiraram irmãos indefesos do cimo de torres altíssimas, para que seus corpos se espatifassem no chão; companheiros que, em outro tempo, cometeram hediondos crimes sobre o dorso do mar, pondo a pique existências preciosas, ou suicidas que se despenharam de arrojados edifícios ou de picos agrestes, em supremo atestado de rebeldia, perante a Lei, os quais, por enquanto, somente encontraram recurso em tão angustioso episódio para transformarem a própria situação. Quantos milhares de irmãos encarnados possuímos nós, em cujas contas com os Tribunais Divinos figuram débitos desse jaez? Entretanto, não desconhecemos que nós, consciências endividadas, podemos melhorar nossos créditos, todos os dias. Quantos romeiros terrenos, em cujos mapas de viagem constam surpresas terríveis, são amparados devidamente para que a morte forçada não lhes assalte o corpo, em razão dos atos louváveis a que se afeiçoam!… Quantas intercessões da prece ardente conquistam moratórias oportunas para pessoas cujo passo já resvala no cairel do sepulcro?!… quantos deveres sacrificiais granjeiam, para a alma que os aceita de boamente, preciosas vantagens na Vida Superior, onde providências se improvisam para que se lhes amenizem os rigores da provação necessária?! Bem sabemos que, se uma onda sonora encontra outra, de tal modo que as “cristas; de uma ocorram nos mesmos pontos dos “vales” da outra, esse meio, em consequência aí não vibra, tendo-se como resultado o silêncio. Assim é que, gerando novas causas com o bem, praticado hoje, podemos interferir nas causas do mal, praticado ontem, neutralizando-as e reconquistando, com isso, o nosso equilíbrio. Desse modo, creio mais justo incentivarmos o serviço do bem, através de todos os recursos ao nosso alcance. A caridade e o estudo nobre, a fé e o bom ânimo, o otimismo e o trabalho, a arte e a meditação construtiva constituem temas renovadores, cujo mérito não será lícito esquecer, na reabilitação de nossas ideias e, consequentemente, de nossos destinos.

 Exemplo de processo de resgate coletivo

Entregara-se o chefe a mais longa pausa e, movido pelo propósito de aprender, indaguei de Druso se ele mesmo não teria acompanhado algum processo de resgate coletivo, em que os Espíritos interessados não teriam outro recurso senão a morte violenta, como remate aos dias do corpo denso, ao que o instrutor respondeu, presto:
— Guardo em minha experiência alguns casos expressivos que seria justo relacionar, no entanto, reportar-nos-emos simplesmente a um deles, pois nossas obrigações são inadiáveis.
Depois de momentos rápidos em que naturalmente apelava para a memória, comentou, benevolente:
— Há trinta anos, desfrutei o convívio de dois benfeitores, a cuja abnegação muito devo neste pouso de luz. Ascânio e Lucas, Assistentes respeitados na Esfera Superior, integravam-nos a equipe de mentores valorosos e amigos… Quando os conheci em pessoa, já haviam despendido vários lustros no amparo aos irmãos transviados e sofredores. Cultos e enobrecidos, eram companheiros infatigáveis em nossas melhores realizações. Acontece, porém, que depois de largos decênios de luta, nos prélios da fraternidade santificante, suspirando pelo ingresso nas Esferas mais elevadas, para que se lhes expandissem os ideais de santidade e beleza, não demonstravam a necessária condição específica para o voo anelado. Totalmente absortos no entusiasmo de ensinar o caminho do bem aos semelhantes, não cogitavam de qualquer mergulho no pretérito, por isso que, muitas vezes, quando nos fascinamos pelo esplendor dos cimos, nem sempre nos sobra disposição para qualquer vistoria aos nevoeiros do vale… Dessa forma, passaram a desejar ardentemente a ascensão, sentindo-se algo desencantados pela ausência de apoio das autoridades que lhes não reconheciam o mérito imprescindível. Dilatava-se o impasse, quando um deles solicitou o pronunciamento da Direção Geral a que nos achamos submissos. O requerimento encontrou curso normal até que, em determinada fase, ambos foram chamados a exame devido. A posição imprópria que lhes era característica foi carinhosamente analisada por técnicos do Plano Superior, que lhes reconduziram a memória a períodos mais recuados no tempo. Diversas fichas de observação foram extraídas do campo mnemônico, à maneira das radioscopias dos atuais serviços médicos no mundo e, através delas, importantes conclusões surgiram à tona… Em verdade, Ascânio e Lucas possuíam créditos extensos, adquiridos em quase cinco séculos sucessivos de aprendizado digno, somando as cinco existências últimas nos Círculos da carne e as estações de serviço espiritual, nas vizinhanças da arena física; no entanto, quando a gradativa auscultação lhes alcançou as atividades do século XV, algo surgiu que lhes impôs dolorosa meditação… Arrebatadas ao arquivo da memória e a doer-lhes profundamente no espírito, depois da operação magnética a que nos referimos, reapareceram nas fichas mencionadas as cenas de ominoso delito por ambos cometido, em 1429, logo após a libertação de Orleães, quando formavam no exército de Joana d’Arc… Famintos de influência junto aos irmãos de armas, não hesitaram em assassinar dois companheiros, precipitando-os do alto de uma fortaleza no território de Gâtinais, sobre fossos imundos, embriagando-se nas honrarias que lhes valeram, mais tarde, torturantes remorsos além do sepulcro. Chegados a esse ponto da inquietante investigação, pela respeitabilidade de que se revestiam foram inquiridos pelos poderes competentes se desejavam ou não prosseguir na, sondagem singular, ao que responderam negativamente, preferindo liquidar a dívida, antes de novas imersões nos depósitos da subconsciência. Desse modo, em vez de continuarem insistindo na elevação a níveis mais altos, suplicaram, ao revés, o retorno ao campo dos homens, no qual acabam de pagar o débito a que aludimos.
— Como? — indagou Hilário, intrigado.
— Já que podiam escolher o gênero de provação, em vista dos recursos morais amealhados no mundo íntimo — informou o orientador —, optaram por tarefas no campo da aeronáutica, a cuja evolução ofereceram as suas vidas. Há dois meses regressaram às nossas linhas de ação, depois de haverem sofrido a mesma queda mortal que infligiram aos companheiros de luta no século XV.
— E o nosso caro instrutor visitou-os nos preparativos da reencarnação agora terminada? — inquiri com respeito.
— Sim, por várias vezes os avistei, antes da partida. Associavam-se a grande comunidade de Espíritos amigos, em departamento específico de reencarnação, no qual centenas de entidades, com dívidas mais ou menos semelhantes às deles, também se preparavam para o retorno à carne, abraçando, assim, trabalho redentor em resgates coletivos.
— E todos podiam selecionar o gênero de luta em que saldariam as suas contas? — perguntei, ainda, com natural interesse.
— Nem todos — disse Druso, convicto. — Aqueles que possuíam grandes créditos morais, qual acontecia aos benfeitores a que me reporto, dispunham desse direito. Assim é que a muitos vi, habilitando-se para sofrer a morte violenta, em favor do progresso da aeronáutica e da engenharia, da navegação marítima e dos transportes terrestres, da ciência médica e da indústria em geral, verificando, no entanto, que a maioria, por força dos débitos contraídos e consoante os ditames da própria consciência, não alcançava semelhante prerrogativa, cabendo-lhe aceitar sem discutir amargas provas, na infância, na mocidade ou na velhice, através de acidentes diversos, desde a mutilação primária até a morte, de modo a redimir-se de faltas graves.
— E os pais? — inquiriu meu colega, alarmado. Em que situação surpreenderemos os pais dos que devem ser imolados ao progresso ou à justiça, na regeneração de si mesmos? a dor deles não será devidamente considerada pelos poderes que nos controlam a vida?
— Como não? — respondeu o orientador — as entidades que necessitam de tais lutas expiatórias são encaminhadas aos corações que se acumpliciaram com elas em delitos lamentáveis, no pretérito distante ou recente ou, ainda, aos pais que faliram junto dos filhos, em outras épocas, a fim de que aprendam na, saudade cruel e na angústia inominável o respeito e o devotamento, a honorabilidade e o carinho que todos devemos na Terra ao instituto da família. A dor coletiva é o remédio que nos corrige as falhas mútuas.
Estabelecera-se longa pausa.
A lição como que nos impelia a rápidos mergulhos no mundo de nós mesmos.
Hilário, contudo, insatisfeito como sempre, perguntou, irrequieto:
— Instrutor amigo, imaginemos que Ascânio e Lucas, após a vitória de que nos dá notícia, continuem anelando a subida aos Planos mais altos… Precisarão, para isso, de nova consulta ao passado?
— Caso não demonstrem a condição específica indispensável, serão novamente submetidos à justa auscultação para o exame e seleção de novos resgates que se façam precisos.
— Isso quer dizer que ninguém se eleva ao Céu sem quitação com a Terra?
O interlocutor sorriu e completou:
— Será mais lícito afirmar que ninguém se eleva a pleno Céu, sem plena quitação com a Terra, porquanto a ascensão gradativa pode verificar-se, não obstante invariavelmente condicionada aos nossos merecimentos nas conquistas já feitas. Os princípios de relatividade são perfeitamente cabíveis no assunto. Quanto mais Céu interior na alma, através da sublimação da vida, mais ampla incursão da alma nos Céus exteriores, até que se realize a suprema comunhão dela com Deus, Nosso Pai. Para isso, como reconhecemos, é indispensável atender à justiça, e a Justiça Divina está inelutavelmente ligada a nós, de vez que nenhuma felicidade ambiente será verdadeira felicidade em nós, sem a implícita aprovação de nossa consciência.
O ensinamento era profundo.
Cessamos a inquirição e, como serviço urgente requer-ia a presença de Druso, em outra parte, retiramo-nos em demanda do Templo da Mansão, com o objetivo de orar e pensar.

.André Luiz

Trechos retirados do Livro Ação e Reação cap. 18 Resgate Coletivo . André Luiz /Chico Xavier

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 202

 
Comentário de Miramez
 
Em toda época de fechamento de ciclo, como a que se aproxima da Terra, aparecem grandes tribulações. É a concessão de Deus aos Espíritos, de várias qualidades morais, que descem à Terra, e muitos deles se melhoram no ambiente de esperança. Também no mundo espiritual a movimentação é muito grande nesse sentido. Os benfeitores já sabem o que vai acontecer e estão preparando lugar para a avalanche de Espíritos que irão desencarnar de uma vez, dentro de provações coletivas, preparando Espíritos para trabalharem no socorro espiritual. O trabalho é gigantesco, mas a casa é grande e Deus é sempre Pai amoroso. Nas proximidades do planeta, já se encontram milhares de pronto-socorros espirituais preparados. É nesse sentido que o amor cresce, e a fraternidade toma caráter amplo, na sua amplitude de ser a caridade em ação permanente.
  Fonte:http://www.olivrodosespiritoscomentado.com/fev4q202c.html

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 201

 
Comentário de Miramez
 
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 Conversas familiares de além-túmulo - Sra. Ida Pfeiffer, célebre viajante
(SOCIEDADE, 7 DE SETEMBRO DE 1859)

O relato seguinte foi extraído da Segunda Viagem ao Redor do Mundo, da Sra. Ida Pfeiffer, pág. 345:
“Já que vou falar de coisas muito estranhas, é preciso mencionar um acontecimento enigmático, passado em Java, há alguns anos, e que causou tal sensação que chegou a chamar a atenção do governo.
“Na residência de Chéribon havia uma casinha, na qual, segundo dizia o povo, apareciam Espíritos. Ao cair da noite, chovia pedras no quarto, vindas de todas as direções e por todos os lados cuspiam siri[1]. Tanto as pedras quanto as cusparadas caiam junto às pessoas que estavam no aposento, mas nem as atingiam, nem as feriam. Parece que tudo isso era dirigido particularmente contra uma criança. Tanto se falou desse caso inexplicável que o governador holandês encarregou um oficial superior de sua confiança de examiná-lo.
O oficial determinou que se postassem em torno da casa homens sérios e fiéis, com ordem de vedar a entrada e a saída de quem quer que fosse. Examinou tudo, escrupulosamente e, tomando em seu colo a criança designada, sentou-se na sala fatal. Ao anoitecer começou, como de costume, a chuva de pedras e de siri. Tudo caía perto do oficial e do menino, sem atingi-los. Novamente examinaram cada recanto, cada buraco. Nada, porém, foi descoberto. O oficial não podia compreender. Mandou juntar as pedras, marcá-las e escondê-las num recanto bem afastado. Foi tudo em vão. As mesmas pedras caíram novamente na sala, à mesma hora.
“Por fim, e para pôr termo a essa história inconcebível, o governador mandou demolir a casa”.
A pessoa que colheu este fato em 1853 era uma senhora realmente superior, menos por sua instrução e por seu talento do que pela incrível energia de seu caráter. Além dessa ardente curiosidade e dessa coragem indômita, que a tornaram a mais admirável viajante que jamais existiu, a Sra. Pfeiffer nada tinha de excêntrico. Era uma senhora de uma piedade suave e esclarecida e que provou muitas vezes estar longe de ser supersticiosa. Tinha como lei só contar aquilo que ela mesma tivesse visto, ou captado em fonte insupeita. (Veja-se a Revue de Paris, de 1º de setembro de 1856 e o Dictionnaire des Contemporains, de Vapereau).

1. ─ Evocação da Sra. Pfeiffer.
─ Aqui estou.
2. ─ Estais surpresa pelo nosso chamado e por vos encontrardes entre nós?
─ Estou surpresa com a rapidez da minha viagem.
3. ─ Como fostes prevenida de que desejávamos falar-vos?
─ Fui trazida aqui sem o perceber.
4. ─ Entretanto deveríeis ter recebido um aviso qualquer.
─ Um arrastamento irresistível.
5. ─ Onde estáveis quando do nosso chamado?
─ Junto a um Espírito que tenho a missão de guiar.
6. ─ Tivestes consciência dos lugares que atravessáveis para vir até aqui, ou aqui vos encontrastes subitamente, sem transição?
─ Subitamente.
7. ─ Sois feliz como Espírito?
─ Sim. Não se pode ser mais feliz.
8. ─ De onde vinha o vosso pronunciado gosto pelas viagens?
─ Eu havia sido marinheiro numa vida precedente. O gosto adquirido pelas viagens naquela existência refletiu-se nesta, a despeito do sexo que eu havia escolhido para me subtrair a isso.
9. ─ As viagens contribuíram para o vossa progresso como Espírito?
─ Sim, porque eu as fiz com espírito de observação, que me faltou na existência anterior, em que não me ocupei senão do comércio e das coisas materiais. Eis porque supunha que pudesse progredir mais numa vida sedentária. Mas Deus, tão bom e tão sábio em seus desígnios para nós impenetráveis, permitiu que eu utilizasse as minhas inclinações em favor do progresso que eu solicitava.
10. ─ Das nações que visitastes, qual a que vos pareceu mais adiantada e qual preferis? Não dissestes em vida que colocáveis certas tribos da Oceania acima das mais civilizadas nações?
─ Era uma ideia errada. Hoje prefiro a França, porque compreendo sua missão e prevejo o seu destino.
11. ─ Que destino prevedes para a França?
─ Não vos posso dizer o seu destino, mas sua missão é de semear o progresso e as luzes e, portanto, o Verdadeiro Espiritismo.
12. ─ Em que vos pareciam os selvagens da Oceania mais adiantados que os americanos?
─ Eu via neles, abstraídos os vícios do estado selvagem, qualidades sérias e sólidas que não encontrava em outros lugares.
13. ─ Confirmais o fato passado em Java e relatado numa de vossas obras?
─ Confirmo-o em parte. O caso das pedras marcadas e novamente atiradas merece uma explicação. Eram pedras semelhantes, mas não as mesmas.
14. ─ A que atribuís esse fenômeno?
─ Não sabia a que atribuí-lo. Eu me perguntava se o diabo existiria de fato, e respondia para mim mesma que não. Não passei disso.
15. ─ Agora que percebeis a causa, poderíeis dizer-nos de onde vinham essas pedras? Eram transportadas ou fabricadas especialmente pelos Espíritos?
─ Eram transportadas. Para eles era mais fácil trazê-las do que aglomerá-las[2].
16. ─ E de onde vinha aquele siri? Era feito por eles?
─ Sim. Era mais fácil e mesmo inevitável, pois que impossível lhes era encontrá-lo já preparado.
17. ─ Qual era o objetivo dessas manifestações?
─ Como agora, atrair a atenção e fazer constatar um fato do qual se tinha de falar e procurar a explicação.

OBSERVAÇÃO: Alguém observa que tal constatação não poderia conduzir a nenhum resultado sério entre aquela gente. Pode-se responder que há um resultado real, pois que, pelo relato e testemunho da Sra. Pfeiffer, o mesmo chegou ao conhecimento de povos civilizados, que o comentam e lhe tiram as conclusões. Aliás, os holandeses é que foram chamados a constatá-los.

18. ─ Haveria nesse caso um motivo especial, sobretudo quanto à criança atormentada por esses Espíritos?
─ A criança possui uma influência favorável, eis tudo, pois pessoalmente não sofreu sequer um arranhão.
19. ─ Desde que esses fenômenos eram produzidos por Espíritos, por que cessaram quando a casa foi demolida?
─ Cessaram porque foi julgado inútil continuar, mas não iríeis decerto perguntar se eles teriam podido continuar.
20. ─ Agradecemos a vossa vinda e a bondade de responder às nossas perguntas.
─ Estou inteiramente às vossas ordens.


[1] Preparação que os javaneses mascam continuamente e que dá à boca e à saliva a cor do sangue.
O nome de siris, do hindustani siris e do sânscrito sirisa, é dado a várias plantas do gênero Albizzia, especialmente à A. Iebbek e à A. Julibrissin. (Nota original, complementada pelo Tradutor).
[2] A expressão “aglomerá-las” equivale, no caso, a “fabricá-las”. O Espírito se refere ao processo de aglomeração dos elementos materiais do espaço para a produção de objetos materiais no fenômeno de materialização. (N. do R.)



Fonte: Revista Espírita 1859 -Dezembro 

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 200


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Comentado por Miramez

 

Fonte:http://www.olivrodosespiritoscomentado.com/fev4q200c.html

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 199

 
Aliás, não é racional considerar-se a infância como um estado normal de inocência. Não se vêem crianças dotadas dos piores instintos, numa idade em que ainda nenhuma influência pode ter tido a educação? Alguns não há que parecem trazer do berço a astúcia, a felonia, a perfídia, até pendor para o roubo e para o assassínio, não obstante os bons exemplos que de todos os lados se lhes dão? A lei civil as absorve de seus crimes, porque, diz ela, obraram sem discernimento. Tem razão a lei, porque, de fato, elas obram mais por instinto do que intencionalmente. Donde, porém, provirão instintos tão diversos em crianças da mesma idade, educadas em condições idênticas e sujeitas às mesmas influências? Donde a precoce perversidade, senão da inferioridade do Espírito, uma vez que a educação em nada contribuiu para isso? As que se revelam viciosas, é porque seus
Espíritos muito pouco hão progredido. Sofrem então, por efeito dessa falta de progresso, as conseqüências , não dos atos que praticam na infância, mas dos de suas existências anteriores. Assim é que a lei é uma só para todos e que todos são atingidos pela justiça de Deus.
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Comentário pelo Espírito Miramez:

 
Fonte:http://www.olivrodosespiritoscomentado.com/fev4q199c.html
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Livro dos Espíritos:
 
347. Que utilidade encontrará um Espírito na sua encarnação em um corpo que morre poucos dias depois de nascido?
“O ser não tem então consciência plena da sua existência; a importância da morte é quase nenhuma. Freqüentemente é, como já dissemos, uma prova para os pais.” 
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Anna Bitter

Ser atingido pela perda de um filho adorado é um desgosto doloroso; mas ver um filho único que dá as mais belas esperanças, no qual se concentraram suas únicas afeições, definhar sob seus olhos, extinguir-se sem sofrimentos, por uma causa desconhecida, uma dessas bizarrias da natureza que desconcertam a sagacidade da ciência; ter esgotado inutilmente todos os recursos da arte e adquirido a certeza de que não há nenhuma esperança, e aguentar essa angústia de cada dia durante longos anos sem lhe prever o fim, é um suplício cruel que a fortuna aumenta, em vez de aliviá-lo, porque se tem a esperança de ver um dia um ser querido desfrutar dela.
Tal era a situação do pai de Anna Bitter; assim, um desespero sombrio se apossara da sua alma, e seu caráter se azedava cada vez mais à vista desse espetáculo pungente cuja saída não podia ser senão fatal embora indeterminada. Um amigo da família, iniciado no Espiritismo, acreditou dever interrogar seu Espírito protetor a esse respeito, e recebeu dele a resposta seguinte:
“Aceito dar-te a explicação do estranho fenômeno que tens sob os olhos, porque sei que ao pedir-ma não és movido por uma indiscreta curiosidade, mas pelo interesse que diriges a essa pobre criança, e porque surgirá para ti, crente na justiça de Deus, um ensinamento valioso. Aqueles que o Senhor quer atingir devem curvar sua fronte e não o maldizer e se revoltar, pois ele nunca atinge sem causa. A pobre garota, cujo decreto de morte o Onipotente suspendera, deve em breve voltar para o nosso seio, pois Deus teve compaixão dela, e seu pai, esse desgraçado entre os homens, deve ser atingido na única afeição da sua vida, por ter troçado do coração e da confiança daqueles que o cercam. Por um momento seu arrependimento tocou o Altíssimo, e a morte suspendeu seu gládio sobre essa cabeça tão querida; mas a revolta voltou, e o castigo segue sempre a revolta. Felizes de vós quando é nesta terra que sois castigados! Orai, meus amigos, por essa pobre criança, cuja juventude tornará difíceis os últimos momentos; a seiva é tão abundante nesse pobre ser, apesar do seu estado de definhamento, que a alma se desprenderá com dificuldade. Oh! orai; mais tarde ela vos ajudará, e ela mesma vos consolará, pois seu Espírito é mais elevado do que o das pessoas que a rodeiam.
“Foi por uma permissão especial do Senhor que pude responder ao que me perguntaste, porque é preciso que esse Espírito seja ajudado a fim que o desprendimento seja mais fácil para ele.”
O pai morreu depois de ter sofrido o vazio do isolamento da perda da filha. Eis as primeiras comunicações que ambos deram após a morte.
A filha. Obrigada, meu amigo, por vos terdes interessado pela pobre criança, e por terdes seguido os conselhos do vosso bom guia. Sim, graças às vossas preces, pude deixar mais facilmente meu envoltório terrestre, pois meu pai, infelizmente, não orava: maldizia. No entanto, não lhe quero mal: era devido à sua grande ternura por mim. Peço a Deus para lhe fazer a graça de ser esclarecido antes de morrer; incito-o, encorajo-o; minha missão é aliviar seus últimos instantes. Por vezes um raio de luz divina parece penetrar até ele; mas não é senão um relâmpago passageiro, e ele volta logo às suas ideias iniciais. Há nele apenas um germe de fé asfixiado pelos interesses do mundo, e que só novas provas mais terríveis poderão desenvolver; pelo menos assim o temo. Quanto a mim, não tinha senão um resto de expiação a cumprir, é por isso que ela não foi muito dolorosa, nem muito difícil. Na minha estranha doença, eu não sofria; era antes um instrumento de provação para meu pai, pois ele sofria mais de me ver naquele estado do que eu; eu estava resignada, e ele não. Hoje estou recompensada, Deus fez-me a graça de abreviar minha estada na Terra, e agradeço-lhe. Estou feliz no meio dos bons Espíritos que me cercam; todos nos dedicamos às nossas ocupações com alegria, pois a inatividade seria um cruel suplício.

(O pai, aproximadamente um mês após a morte.) P. Nosso objetivo, ao chamar-vos, é inquirir sobre vossa situação no mundo dos Espíritos, para vos sermos úteis se estiver em nosso poder. – R. O mundo dos Espíritos! Não vejo nenhum. Não vejo senão os homens que conheci e dos quais nenhum pensa em mim e sente minha falta; pelo contrário, eles parecem estar contentes de se terem livrado de mim.
P. Dais-vos bem conta da vossa situação?
– R. Perfeitamente. Durante algum tempo acreditei ser ainda do vosso mundo, mas agora sei muito bem que não sou mais.
P. Como explicar então que não víeis outros Espíritos à vossa volta? – R. Ignoro-o; entretanto, tudo é claro à minha volta.
P. Não revistes vossa filha? – R. Não; ela morreu; procuro-a, chamo-a inutilmente. Que vazio horroroso sua morte me deixou na Terra! Ao morrer, eu me dizia que a reencontraria sem dúvida; mas nada; sempre o isolamento à minha volta; ninguém que me dirija uma palavra de consolo e de esperança. Adeus; vou procurar minha filha.
O guia do médium. Este homem não era ateu, nem materialista; mas era daqueles que creem vagamente, sem se preocupar com Deus nem com o futuro, absorvidos como estão pelos interesses da terra. Profundamente egoísta, teria sem dúvida sacrificado tudo para salvar a filha, mas teria também sacrificado sem escrúpulo todos os interesses de terceiros em seu benefício pessoal. Exceto por sua filha, não tinha apego por ninguém. Deus o puniu por isso, como sabeis; tirou-lhe sua única consolação na terra, e como ele não se arrependeu, ela também que lhe é tirada no mundo dos Espíritos. Ele não se interessava por ninguém na terra, ninguém se interessa por ele aqui; está sozinho, abandonado: essa é sua punição. A filha está perto dele, no entanto, mas ele não a vê; se a visse, não seria punido. O que ele faz? dirige-se a Deus? arrepende-se? Não; murmura continuamente; blasfema até; faz, numa palavra, como fazia na terra. Ajudai-o, pela prece e com conselhos, a sair de sua cegueira.
Livro: O Céu e o Inferno
Segunda Parte - Exemplos - Capítulo VIII - Expiações terrestres

Aprendendo com o livro dos Espíritos questão 198

 

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Comentário do Espírito de Miramez :

 
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Revista Espírita de 1859 -   Janeiro -  O Duende de Bayonne 

Em nosso número passado dissemos algumas palavras relativamente a essa estranha manifestação. As informações nos haviam sido dadas muito sucintamente e de viva voz por um de nossos assinantes, amigo da família onde ocorreram aqueles fatos. Tinha ele prometido detalhes mais circunstanciados e devemos à sua colaboração a disponibilização das cartas que contêm referências detalhadas dos fatos.
A família reside perto de Bayonne e as cartas foram escritas pela própria mãe da menina, uma criança de dez anos, a seu filho que mora em Bordeaux, pondo-o ao corrente do que se passava em casa. Este último teve o trabalho de transcrevê-las para nós, a fim de que se lhes não pudesse contestar a autenticidade. Por essa gentileza nós lhe somos infinitamente reconhecidos.
Compreende-se a reserva com que cercamos os nomes das pessoas, reserva que para nós é sempre uma lei a observar, a não ser que recebamos autorização formal. Nem todos gostam de atrair multidões de curiosos. Àqueles para quem tal reserva constitui motivo de suspeitas diremos que é necessário estabelecer uma diferença entre um jornal eminentemente sério e os que apenas visam distrair o público. Nosso objetivo não é contar casos para encher páginas, mas iluminar a Ciência. Se fôssemos enganados, sê-lo-íamos de boa-fé. Quando aos nossos olhos uma coisa não é formalmente demonstrada, damo-la apenas a título de registro. Já o mesmo não se dá quando se trata de pessoas respeitáveis, cuja honorabilidade conhecemos e que, longe de ter interesse em induzir-nos em erro, também querem instruir-se.
A primeira carta é a do filho ao nosso assinante, enviando-lhe as cartas de sua mãe.

“Saint-Esprit, 20 de novembro de 1858.
“Meu caro amigo,
“Chamado para junto de minha família por motivo da morte de um de meus irmãos menores, que Deus houve por bem tirar-nos, esta circunstância, afastando-me por algum tempo de minha casa, é o motivo do atraso de minha resposta. Ficaria muito triste se vos fizesse passar por um contador de histórias junto ao Sr. Allan Kardec, por isso quero dar-vos alguns pormenores sumários sobre as coisas que se passam em minha família. Penso que já vos disse que as aparições cessaram há algum tempo e não mais se manifestam à minha irmã. Aí vão as cartas que a respeito me escreveu minha mãe. Devo observar que muitos dos fatos foram omitidos, embora não sejam os menos interessantes. Escreverei novamente para completar a história, caso não o possais fazer recordando-vos daquilo que vos disse de viva voz.”

23 de abril de 1855.

Há cerca de três meses, uma tarde, tua irmã X teve necessidade de sair para fazer uma compra. Como sabes, o corredor da casa é longo e nunca iluminado; mas o velho hábito que temos de percorrê-lo sem luz faz com que jamais tropecemos nos degraus da escada. X já nos havia dito que cada vez que saía ouvia uma voz a lhe dizer coisas que a princípio não compreendia, mas que depois se tornaram inteligíveis. Algum tempo depois ela viu uma sombra e, no trajeto, não cessava de ouvir a mesma voz. As palavras ditas por esse ser invisível tendiam sempre a tranquilizá-la e a lhe dar sábios conselhos. Uma boa moral constituía a essência de tais palavras. X ficava muito perturbada e, segundo nos disse, por vezes não tinha forças para prosseguir. “Criança”, dizia-lhe o invisível cada vez que ela se perturbava, “nada temas, pois quero apenas o teu bem.” Ensinou-lhe um lugar onde por vários dias ela encontrou algumas moedas; de outras vezes nada encontrou. X conformou-se com a recomendação que lhe foi dada, e durante muito tempo ou encontrava dinheiro ou alguns brinquedos que verás. Certamente esses presentes lhe eram dados com o fito de encorajá-la. Não eras esquecido na conversa desse ser. Muitas vezes ele falava de ti e nos dava as tuas notícias por intermédio de tua irmã. Várias vezes ele nos pôs a par do que fazias à noite. Viu-te a ler em teu quarto; outras vezes nos disse que os teus amigos estavam reunidos em tua casa; enfim ele nos acalmava, sempre que a preguiça te impedia de nos escrever.
De algum tempo para cá, X tem contatos quase que contínuos com o invisível. Durante o dia ela nada vê. Ouve sempre a mesma voz que lhe dirige palavras sensatas, não cessando de estimulá-la ao trabalho e ao amor a Deus. À noite ela vê, na direção de onde parte a voz, uma luz rósea que não ilumina, mas que, em sua opinião, poderia ser comparada ao faiscar de um diamante na sombra. Agora ela perdeu o medo completamente. Se lhe manifesto dúvidas, diz-me: “Mamãe, é um anjo que me fala; e se, para te convenceres, te armares de coragem, ele me pede para dizer-te que esta noite fará com que te levantes. Se te falar, deverás responder. Vai ao lugar que ele te indicar; verás alguém em tua frente, mas não temas.” Eu não quis pôr à prova a minha coragem. Tive medo e a impressão que me ficou impediu-me de dormir. Muitas vezes, à noite, parecia-me ouvir um sopro à cabeceira de meu leito. As cadeiras moviam-se sem que ninguém as tocasse. Depois de algum tempo meus terrores desapareceram completamente e eu lamento muito não ter me submetido à prova que me fora proposta para ter ligações diretas com o invisível e também para não ter que lutar continuamente contra as dúvidas.
Aconselhei X a interrogar o invisível quanto à sua natureza.
Eis a conversa de ambos:
X. ─ Quem és tu?
Inv. ─ Sou teu irmão Eliseu.
X. ─ Meu irmão morreu há doze anos.
Inv. ─ É verdade. Teu irmão morreu há doze anos, mas havia nele, como há em todos os seres, uma alma que não morre e que neste mesmo instante se acha em tua presença, te ama e protege a todos.
X. ─ Gostaria de ver-te.
Inv. ─ Estou à tua frente.
X. ─ Contudo nada vejo.
Inv. ─ Tomarei uma forma visível para ti. Depois da cerimônia religiosa descerás; então tu me verás e eu te abraçarei.
X. ─ Mamãe também gostaria de conhecer-te.
Inv. ─ Tua mãe é minha mãe. Ela me conhece. Preferiria manifestar-me a ela do que a ti. Esse era o meu dever, mas não me posso mostrar a muitas pessoas, pois Deus não o permite. Lamento que mamãe não tenha tido coragem. Prometo dar-te provas de minha existência, e então desaparecerão todas as dúvidas.
À tarde, à hora marcada, X foi à porta do templo. Um rapaz apresentou-se a ele e disse: “Eu sou o teu irmão. Disseste que me querias ver. Estás satisfeita? Abraça-me, porque não posso conservar por muito tempo a forma que tomei.”
Como bem compreendes, a presença desse ser deveria ter espantado X a ponto de impedi-la de fazer qualquer observação. Assim que a abraçou, ele desapareceu no ar.
Na manhã seguinte, aproveitando o momento em que X deveria sair, o invisível se manifestou novamente e lhe disse:
“Deverias ter ficado muito surpreendida com o meu desaparecimento. Pois bem, eu te quero ensinar a elevar-te nos ares, para que me possas acompanhar.” Qualquer outra que não X teria ficado com medo de tal proposta. Ela, porém, aceitou-a com entusiasmo e logo sentiu que se elevava como uma andorinha. Em pouco tempo chegou a um lugar onde havia uma multidão considerável. Segundo nos contou, viu ouro, diamantes e tudo quanto na Terra satisfaz a nossa imaginação. Ninguém considerava essas coisas mais do que nós consideramos as pedras das calçadas por onde andamos. Reconheceu várias crianças de sua idade que moravam na nossa rua e que faleceram há muito tempo. Num apartamento ricamente decorado, onde não havia ninguém, o que mais lhe chamou a atenção foi uma grande mesa na qual, de espaço a espaço, havia um papel. Diante de cada papel havia um tinteiro. Ela via as penas molharem-se por si sós e traçarem caracteres sem que qualquer mão as movesse.
Quando voltou, censurei-a por se ter ausentado sem minha autorização e a proibi expressamente de retomar tais excursões. O invisível lhe manifestou pesar por me haver contrariado e lhe prometeu formalmente que, de então em diante, não a convidaria mais para ausentar-se sem que eu fosse avisada.

26 de abril.

O invisível transformou-se aos olhos de X. Tomou tua forma tão bem que tua irmã pensou que estivesses na sala. Para certificar-se, ela lhe pediu que tomasse sua forma primitiva. Pois assim que desapareceste, foste substituído por mim. Seu espanto foi grande: perguntou como eu me achava ali, sendo que que a porta do salão estava fechada a chave. Então ocorreu uma nova transformação: ele tomou a forma do irmão morto e disse a X: “Tua mãe e todos os membros da família não veem sem espanto e mesmo sem um certo receio todos os fatos que se realizam por minha intervenção. Meu desejo não é amedrontar; contudo, quero provar minha existência e te pôr ao abrigo da incredulidade de todos, pois que poderiam tomar como mentira tua o que seria da parte deles uma obstinação em não se renderem à evidência. A senhora C. é lojista; sabes que é preciso comprar botões; iremos ambos comprá-los. Eu me transformarei em teu irmãozinho (ele tinha então nove anos) e quando voltares para casa pedirás à mamãe que mande perguntar à senhora C. quem estava contigo no momento em que os botões foram comprados.” X observou as instruções. Eu mandei perguntar à senhora C. e ela respondeu que tua irmã estava com teu irmão, a quem muito elogiou, dizendo que, em sua idade, ninguém poderia pensar que tivesse respostas tão fáceis e, sobretudo, tão pouca timidez. É bom que saibas que o pequeno estava no colégio desde cedo e que só voltaria às sete horas. Além disso, é muito tímido e não tem aquela facilidade que lhe querem atribuir. É muito curioso, não achas? Creio que a mão de Deus não é estranha a essas coisas inexplicáveis.

7 de maio de 1855.

Não sou mais crédula do que se deve ser e não me deixo dominar por ideias supersticiosas. Contudo não posso recusar-me a crer em fatos que se realizam sob minhas vistas. Eram-me necessárias provas muito evidentes para não mais infligir à tua irmã os castigos que lhe dava, às vezes com pesar, receando que nos quisesse ludibriar e abusar de nossa confiança.
Ontem, por volta das cinco horas, o invisível disse a X: “É provável que a mamãe te mande a algum lugar, para dar um recado. No caminho serás agradavelmente surpreendida pela chegada da família de teu tio”. Imediatamente X me transmitiu o que o invisível lhe havia dito. Eu estava longe de esperar tal visita e fiquei ainda mais surpresa por ficar sabendo dessa maneira. Tua irmã saiu e as primeiras pessoas que encontrou foram realmente meu irmão, sua mulher e seus filhos, que nos vinham ver. X apressou-se em dizer que eu tinha uma prova a mais da veracidade de tudo quanto ela me dizia.

10 de maio de 1855.

Hoje não posso mais duvidar de que algo de extraordinário acontece em casa. Vejo sem medo se realizarem todos esses fatos singulares, dos quais, entretanto, não posso extrair nenhum ensinamento, porque esses mistérios me são inexplicáveis.
Ontem, depois de ter arrumado toda a casa, e sabes que é uma coisa a que ligo especial atenção, o invisível disse a X que, a despeito das provas que havia dado de sua intervenção em todos os fatos curiosos que te contei, eu ainda tinha dúvidas que ele queria eliminar por completo. Sem que se tivesse ouvido qualquer ruído, um minuto foi bastante para pôr os quartos em completa desordem. Uma substância vermelha, que acredito fosse sangue, tinha sido derramada no soalho. Se tivessem sido apenas algumas gotas, eu teria pensado que X se tivesse cortado ou sangrado pelo nariz; mas fica sabendo que o soalho ficou inundado. Esta prova esquisita deu-nos um trabalho considerável para restituir ao piso do salão o seu primitivo brilho.
Antes de abrir as cartas que nos escreves, X conhece o conteúdo. É o invisível quem lho transmite.

16 de maio de 1855.

X não aceitou uma observação que a irmã lhe fez, não sei a propósito de quê. Deu uma resposta inconveniente e teve a merecida reprimenda. Castiguei-a e ela foi deitar-se sem jantar. Antes de dormir ela tem o hábito de rezar a Deus. Essa noite ela esqueceu. Mas alguns instantes depois de deitada o invisível lhe apareceu. Exibiu-lhe um castiçal e um livro de orações semelhante ao que ela habitualmente usava, e lhe disse que, apesar da punição que ela merecera, não devia esquecer-se de cumprir sua obrigação. Então ela se levantou, fez o que ele ordenara e tudo desapareceu quando a prece terminou.
Na manhã seguinte, depois de me haver abraçado, X me perguntou se o castiçal que se achava sobre a mesa no andar superior do seu quarto tinha sido retirado. Ora, esse castiçal, semelhante ao que lhe havia sido apresentado na véspera, não tinha mudado de lugar, assim como o seu livro de preces.

4 de junho de 1855.

De algum tempo para cá nenhum fato digno de menção ocorreu, a não ser o seguinte: Eu estava resfriada nestes últimos dias; anteontem todas as tuas irmãs estavam ocupadas e eu não dispunha de ninguém para mandar comprar um unguento. Disse a X que quando ela tivesse acabado a sua tarefa seria bom ir à farmácia mais próxima comprar-me alguma coisa. Ela esqueceu minha recomendação e eu mesma não pensei mais no caso. Tenho certeza de que ela não saiu, nem deixou o trabalho senão para ir buscar uma sopeira de que necessitávamos. Com grande surpresa, ao abri-la encontramos um pacote de balas de cevada que o invisível tinha trazido, para poupar uma caminhada e também para satisfazer um desejo meu, que havia sido olvidado.
Evocamos esse Espírito numa das sessões da Sociedade e lhe dirigimos as perguntas abaixo. O Sr. Adrien o viu com a fisionomia de um menino de 10 a 12 anos: bela cabeça, cabelos negros e ondulados, olhos negros e vivos, pálido, lábios irônicos, caráter leviano, mas bondoso. O Espírito disse ignorar por que o evocavam.
Nosso correspondente estava presente à sessão e disse que seus traços correspondem perfeitamente aos que a menina lhe descreveu em várias circunstâncias.

1 ─ Ouvimos contar a história de tuas manifestações numa família de Bayonne e, a tal respeito, gostaríamos de fazer-te algumas perguntas.
─ Façam e eu responderei. Mas façam rapidamente, pois tenho pressa de ir embora.
2 ─ Onde apanhaste o dinheiro que davas à tua irmã?
─ Tirei do bolso dos outros. Os senhores compreendem que eu não me iria divertir em cunhar moedas. Pego daqueles que podem dá-las.
3 ─ Por que te ligaste àquela menina?
─ Por grande simpatia.
4 ─ É certo que foste seu irmão, falecido aos quatro anos?
─ Sim.
5 ─ Por que és visível para ela e não para tua mãe?
─ Minha mãe deve estar impedida de ver-me, mas minha irmã não necessita de punição. Aliás foi por concessão especial que lhe apareci.
6 ─ Poderias explicar como, à vontade, te tornas visível ou invisível?
─ Não sou suficientemente elevado e estou muito preocupado com o que me atrai, para que possa responder a tal pergunta.
7 ─ Se quisesses poderias aparecer em nosso meio, assim como te mostraste à dona da loja?
─ Não.
8 ─ Nesse estado serias sensível à dor, se apanhasses?
─ Não.
9 ─ Que aconteceria se a dona da loja te houvesse batido?
─ Teria batido no vácuo.
10─ Sob que nome podemos te designar, quando falarmos de ti?
─ Podem chamar-me de Duende, se quiserem. Mas deixem-me ir; é preciso que eu vá.
11 ─ (A São Luís). Seria útil termos às nossas ordens um Espírito assim?
─ Muitas vezes os tendes junto a vós, a vos assistir sem que o suspeiteis.
  
CONSIDERAÇÕES SOBRE O DUENDE DE BAYONNE

Se compararmos estes fatos com os de Bergzabern, dos quais os nossos leitores não perderam a lembrança, veremos uma diferença capital. O de Bergzabern era mais que um Espírito batedor; era ─ e ainda é neste momento ─ um Espírito perturbador, na exata acepção do vocábulo. Sem fazer mal, é um hóspede muito incômodo e muito desagradável, sobre o qual voltaremos a falar em nosso próximo número, à vista de novas e recentes proezas. Ao contrário, o de Bayonne é eminentemente benévolo e prestativo; é o tipo desses bons Espíritos serviçais, cujos feitos nos são transmitidos pelas lendas alemãs, nova prova de que nas histórias lendárias pode haver um fundo de verdade. Aliás, é de convir que a imaginação dependeria de pouco esforço para colocar estes fatos no plano de uma lenda e que poderiam ser tomados como uma história medieval, se não se tivessem passado, por assim dizer, sob nossos olhos.
Um dos traços mais notáveis do Espírito a quem demos o nome de Duende de Bayonne são as suas transformações. Que dirão agora da fábula de Proteu[1]? Entre o de Bayonne e o de Bergzabern há ainda a diferença de que este último só se mostrou em sonhos, enquanto que o nosso diabrete se tornava visível e tangível como uma pessoa real, não só para a irmã como para estranhos; testemunha-o a compra de botões na lojista. Por que não se mostrava a todos e a toda hora? Eis o que ignoramos. Parece que não tem tal poder e mesmo que não podia permanecer muito tempo em tal estado. Talvez para isso fosse necessário um trabalho íntimo, um poder da vontade superior às suas forças.
Novos detalhes prometidos sobre esses estranhos fenômenos permitirão que voltemos ao assunto.


[1] Deus marinho grego. Era filho de Poseidon (Netuno) e da deusa Fenícia; predizia o futuro e guardava os cardumes marinhos de Anfitrite, a deusa do mar. Morava numa ilha do Egito e podia tomar múltiplas formas, a fim de subtrair-se à curiosidade daqueles que pretendiam que lhes revelasse o futuro. (N. do T.)
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Livro : O que é o espiritismo? Cap. III
158. Qual, na vida futura, a sorte das crianças que morrem em tenra idade?
Esta questão é uma das que melhor provam a justiça e a necessidade da pluralidade das existências. Uma alma que só tiver vivido alguns instantes, sem fazer nem bem nem mal, não pode merecer prêmio nem castigo, pois, segundo a máxi­ma do Cristo — cada um é punido ou recompensado conforme suas obras — é tão ilógico como contrário à justiça de Deus admitir-se que, sem trabalho, essa alma seja chamada a go­zar da bem-aventurança dos anjos, ou que desta se veja priva­da; entretanto, ela deve ter um destino qualquer. Um estado misto, por toda a eternidade, seria igualmente uma injustiça. Uma existência logo em começo interrompida, não podendo, pois, ter conseqüência alguma para a alma, tem por sorte atual o que mereceu da existência anterior, e futuramente o que vier a merecer em suas existências ulteriores.