Caros amigos leitores , gostaríamos, na medida do possível ,contar com a interação de todos ,através de comentários , tornando se seguidores deste blog divulgando para seus conhecidos ,para que assim possamos estudar e aprendermos juntos , solidários e fraternos. Inscrevam-se no blog!

sábado, 9 de agosto de 2014

A fé

(Grupo Espírita de Douai, 7 de junho de 1865)

A fé plana sobre a Terra, buscando uma pousada onde abrigar-se, buscando um coração para esclarecer. Onde irá ela?... Para começar, ela entrará na alma do homem primitivo e impor-se-á; porá um véu momentâneo sobre a razão que começa a desenvolver-se e vacila nas trevas do espírito. Ela conduzi-lo-á através das idades da simplicidade e far-se-á mestra pelas revelações. Mas, não estando ainda o raciocínio bastante amadurecido para discernir o que é justo do que é falso, para julgar o que vem de Deus, ela arrastará o homem para fora do reto caminho, tomando-o pela mão e pondo-lhe uma venda nos olhos. Muitos desvios, tal deve ser a divisa da fé cega que, entretanto, durante muito tempo teve sua utilidade e sua razão de ser.
Esta virtude desaparece quando a alma, pressentindo que pode ver com seus próprios olhos, a afasta e não mais quer marchar senão com a sua razão. Esta a ajuda a desfazer-se das crenças falsas que ela havia adotado sem exame. Nisto ela é boa. Mas o homem, encontrando em seu caminho muitos mistérios e verdades obscuras, quer desvendá-las e se atrapalha. Seu julgamento não pode acompanhá-la; ele quer ir muito depressa e a progressão em tudo deve ser gradual. Assim, não tem mais a fé que repeliu; não tem mais a razão que ele quis ultrapassar. Então ele faz como as borboletas temerárias; queima as asas na luz e se perde nos desvios impossíveis. Daí saiu a má filosofia que, buscando muito, fez tudo esboroar-se e nada substituiu.
Estava aí o momento da transformação. O homem não era mais o crente cego; também ainda não era o crente que racionaliza a crença; era a crise universal tão bem representada pelo estado da crisálida.
À força de procurar na noite, a claridade brilha, e muitas almas transviadas, encontrando com dificuldade a luz obscurecida por tantos desvios inúteis e retomando como guias seus condutores eternos: a fé e a razão, fazem-nos marchar à sua frente, a fim de que seus dois clarões reunidos impeçam-nos de perder-se uma segunda vez. Elas fazem assentar a fé sobre as bases sólidas da razão, ela própria ajudada pela inspiração.
É vossa oportunidade, meus amigos. Segui o caminho. Deus está no fim.

DEMEURE

Fonte:  Revista Espírita 1865

Dissertação Espírita: A chave do Céu

(Sociedade de Montreuil-Sur-Mer, 5 de janeiro de 1865)

Quando se considera que tudo vem de Deus e retorna a Deus, é impossível não perceber, na generalidade das criações divinas, o laço que as une entre si e as sujeita a um trabalho de avanço comum, ao mesmo tempo que a um trabalho de progresso particular. Também não se pode desconhecer que a lei de solidariedade daí resultante não nos obriga a sacrifícios gratuitos de toda sorte, uns para com os outros. Além do mais, é de notar-se que Deus nos mostrou em tudo uma primeira aplicação dos princípios primordiais por ele estabelecidos. Assim, pela solidariedade, encontra-se esse princípio expresso na sensibilidade de que fomos dotados, sensibilidade que nos leva a compartilhar dos males alheios, a lhes ter piedade e a aliviá-los.
Isto não é tudo. Os profetas e o divino messias Jesus deram-nos o exemplo de uma segunda aplicação do princípio de solidariedade, inicialmente consagrando-a através de cerimônias simbólicas, e mais frequentemente pela autoridade de seus ensinamentos, o amor do homem pelo homem; depois, proclamando como um dever necessário e vigoroso a prática da caridade, que é a expressão da solidariedade. A caridade é o ato de nossa submissão à lei de Deus; é o sinal de nossa grandeza moral; é a chave do céu. Assim, é da caridade que vos quero falar. Encará-la-ei apenas sob um aspecto: o lado material, e a razão disto é simples: é o lado que menos agrada ao homem.
Nem os cristãos nem os espíritas negaram o princípio, ou melhor, a lei da solidariedade, mas procuraram subtrair-lhe as consequências, e para isto invocaram mil pretextos. Citarei alguns deles.
As coisas do espírito ou do coração, dizem, tendo um preço infinitamente superior ao das coisas materiais, segue-se que consolar aflições, por boas palavras ou por sábios conselhos, vale infinitamente mais que consolar por socorros materiais. Seguramente, senhores, tendes razão se a aflição de que falais tem uma causa moral; se encontra sua razão numa ferida do coração; mas se for a fome, se for o frio, se for uma doença; se, numa palavra, forem causas materiais que a provocaram, vossas sábias palavras bastarão para minimizá-la? Permitireis que eu duvide disso. Se Deus, colocando-vos na Terra, tivesse esquecido de prover o alimento para o vosso corpo, teríeis encontrado o seu equivalente nos socorros espirituais que ele vos concede? Mas Deus não é o homem. Deus é a sabedoria eterna e a bondade infinita. Ele vos impôs um corpo de lama, mas proveu às necessidades desse corpo fertilizando os vossos campos e fecundando os tesouros da Terra; aos socorros espirituais que se dirigiam à vossa alma, juntou os socorros materiais reclamados por vosso corpo. Desde então, e porque o egoísmo talvez tenha despojado o pobre de sua herança terrena, com que direito vos julgais quites para com ele? Porque a justiça humana o excluiu do número dos usufrutuários dos bens temporais, vossa caridade não encontraria uma justiça mais equitativa para lhe fazer?
Um ilustre pensador deste século não temia assim exprimir-se na sua memorável profissão de fé: “Cada abelha tem direito à porção de mel necessária à sua subsistência, e se, entre os homens, a alguns falta o necessário, é que a justiça e a caridade desapareceram de seu meio.” Por mais excessiva que vos possa parecer esta linguagem, ela não deixa de conter uma grande verdade, verdade talvez incompreensível para o entendimento de muitos entre vós, mas evidente para nós, Espíritos que, mais tocados pelos efeitos, porque os abraçamos em seu conjunto, vemos assim as causas que os produzem.
Ah! diz este, ninguém mais que eu lamenta as penas e as privações cruéis do verdadeiro pobre, do pobre cujo trabalho, insuficiente para a manutenção da família, não lhe traz, em troca das fadigas, nem a alegria de nutrir os seus, nem a esperança de torná-los felizes; mas eu considerava um caso de consciência encorajar, por cegas liberalidades, a preguiça ou a má conduta em farrapos. Aliás, considero a caridade como indispensável à salvação do homem; somente a impossibilidade de descobrir as necessidades reais entre tantas necessidades simuladas parece-me justificar a minha abstenção.
A impossibilidade de descobrir as necessidades reais, tal é, meu amigo, a vossa justificação. Vede, entretanto, que essa justificativa jamais será sancionada por vossa consciência e não quero outra prova além da vossa confissão, porque, do direito que teria o verdadeiro pobre à vossa esmola, ─ e reconheceis esse direito ─ desse direito, digo eu, decorre para vós o dever de procurá-lo. Vós o procurais? A impossibilidade vos detém. É evidente! A caridade não tem limites, ela é infinita como Deus, de onde emana, e não admite qualquer impossibilidade! Sim, algo vos detém: é o egoísmo, e Deus, que sonda a razão e o coração, Deus o descobrirá facilmente sob os falaciosos pretextos com que o velais. Podeis enganar o mundo, conseguireis enganar momentaneamente a vossa consciência, mas nunca enganareis Deus. Em cem anos, em mil anos, aparecereis novamente na Terra; sem dúvida aí vivereis, despojados de vossa opulência presente e curvados ao peso da indigência. Eu vos declaro, então, que recebereis do rico o desdém e a indiferença que vós mesmos, outrora ricos, tiverdes demonstrado pelo pobre. Diz-se que a nobreza obriga; a solidariedade obriga ainda mais. Quem se subtrai a essa lei perde todos os seus benefícios. Eis por que vós, que tiverdes alimentado o fundo egoísta de vossa natureza, sofrereis, por vossa vez, o desprezo do egoísmo.
Escutai estas palavras de Rousseau:
“Para mim, sei que todos os pobres são meus irmãos e que não posso, sem uma inescusável dureza, recusar-lhes o fraco socorro que me pedem. Na maioria são vagabundos, concordo; mas conheço bem as penas da vida para ignorar por quantas desgraças o homem honesto pode encontrar-se reduzido em sua sorte. E como poderia eu estar certo de que o desconhecido que me vem implorar assistência em nome de Deus não é esse homem honesto, prestes a perecer de miséria, e que minha recusa vai reduzir ao desespero? Quando a esmola que se lhes dá não for para eles um socorro real, é ao menos um testemunho de que se participa de suas penas, um abrandamento da dureza da recusa, uma espécie de saudação que se lhes faz.”(Grifo do blog)
É um filho de Genebra, senhores, que fala da sorte; é um filósofo saciado nas fontes secas do século dezoito que teme desconhecer o homem honesto entre os desconhecidos que lhe estendem a mão, e que dá a todos. Ele dá a todos porque todos são seus irmãos: ele o sabe! Sabeis menos do que ele, senhores? Não ouso acreditar.
Mas, em que medida deveis dar, ou melhor, qual é nos vossos bens a parte que vos pertence e a que pertence aos pobres? Vossa parte, senhores, é o necessário, nada mais que o necessário, e não é preciso que exagereis. Em vão vos prevalecereis de vossa posição, dos encargos dela decorrentes, das obrigações de luxo que ela exige. Tudo isto diz respeito ao mundo, e se quereis viver para o mundo, não avançareis senão com o mundo, não ireis mais depressa que o mundo. Em vão, ainda, alegareis, para justificar vossos hábitos de moleza, um trabalho ao qual não se entrega o pobre, e que, praticado em vossa casa e por vós, vos torna beneficiários de maior comodidade. Em vão alegareis isto, porque todo homem é votado ao trabalho, para si ou para outros, porque todo homem é votado ao trabalho, para si ou para os outros, porque a incúria de seu vizinho não o absolveria do abandono em que ele o teria deixado.
Do vosso patrimônio, como do vosso trabalho, não vos é permitido retirar senão uma coisa em vosso proveito: o necessário. O resto cabe aos pobres. Esta é a lei. Não nego que esta lei comporte, em certos casos e em dadas circunstâncias, temperamentos; no entanto, diante da luz, diante da verdade, diante da justiça divina, ela não comporta mais isso.
E a família, que será dela? Estamos quites com ela pelo fato de termos socorrido aqueles a quem chamamos de pobres? Não, evidentemente, senhores, porque, do momento em que reconheceis a necessidade de vos despojar pelos pobres, trata-se de fazer uma escolha e estabelecer uma hierarquia. Ora, vossas mulheres e vossos filhos são os vossos primeiros pobres; a ele deveis, pois, dar as vossas primeiras esmolas. Velai pelo futuro de vossos filhos; preocupai-vos em lhes preparar dias calmos e tranquilos em meio a esse vale de lágrimas; deixai-lhes até em depósito uma pequena herança que lhes permita continuarem o bem que haveis começado: isto é legítimo. Entretanto, não lhes ensineis jamais a viver egoisticamente e a olhar como deles o que é de todos. Antes e depois deles, os autores de vossos dias, aqueles que vos alimentaram e guardaram, aqueles que protegeram vossos primeiros passos e guiaram vossa adolescência, vosso pai e vossa mãe, têm direito à vossa solicitude. Depois vêm as almas que Deus vos deu como vossos irmãos segundo a carne; depois os amigos de coração; depois todos os pobres, a começar pelos mais miseráveis.(Grifo do Blog)
Vós o vedes, eu vos concedo temperamentos, estabeleço uma hierarquia conforme os instintos do vosso coração. Evitai, entretanto, favorecer demasiado a uns, com exclusão de outros. É pela partilha equitativa dos vossos benefícios que mostrareis vossa sabedoria, e é ainda por essa partilha equitativa que cumprireis a lei de Deus em relação aos vossos irmãos, que é a lei da solidariedade.
Diz Lamennais que “A justiça é a vida; a caridade também é a vida, mas uma vida mais bela e mais doce.”
Sim, a caridade é uma bela e doce vida, é a vida dos santos, é a chave do Céu.

LACORDAIRE

Fonte: revista espírita de 1865

O ADOLESCENTE E A RELIGIÃO





          A religião desempenha um papel importante na formação moral e cultural do adolescente, por propiciar-lhe a visão da imortalidade, dilatando-lhe a compreensão em torno da realidade da vida e dos seus objetivos essenciais.
          A religião é portadora de significativa contribuição ética e espiritual no desenvolvimento do caráter e na afirmação da personalidade do jovem em desenvolvimento.
          Através dos seus postulados básicos, o educando nela haure a consciência de si e o começo do amadurecimento dos valores significativos, que se lhe incorporarão em definitivo, estabelecendo-lhe paradigmas de comportamento para toda a existência. Mesmo quando, na fase adulta, por esta ou aquela razão, a religião é contestada, ou colocada em plano secundário, ou mesmo combatida, nos alicerces do inconsciente permanecem os seus paradigmas que, de uma ou outra forma, conduzem o indivíduo nos momentos de decisão significativa ou quando necessita mudar de rumo, ressurgindo informações arquivadas que contribuirão para a decisão mais feliz.
O adolescente traz em si o arquétipo religioso, que remanesce das experiências de outras reencarnações, o que o leva à busca de Deus e da imortalidade do Espírito, de forma que, reencontrando a proposta da fé, assimila-a com facilidade, no início, graças aos seus símbolos, mitos e lendas, do agrado da vida infantil, depois, através das transformações dos mesmos, que passam pelo crivo da razão e se vão incorporar ao seu cotidiano, auxiliando na distinção do que deve realizar, assim como daquilo que não lhe é lícito fazer, por ferir os direitos do seu próximo, da vida e a Paternidade de Deus.
É relevante o papel da religião na individuação do ser, que não permite a dissociação de valores morais, culturais e espirituais, reunindo-os em um todo harmônico que lhe proporciona a plenitude.
Na adolescência, os ideais estão em desabrochamento, abrindo campo para os postulados religiosos que, bem direcionados, norteiam com segurança os passos juvenis, poupando o iniciante nas experiências humanas a muitos dissabores e insucessos nas diferentes áreas do comportamento, incluindo aquele de natureza sexual.
Não será por intermédio da castração psicológica, da proibição, mas do esclarecimento quanto aos valores reais e aos aparentes, aos significados do prazer imediato e à felicidade legítima, futura, predispondo-o à disciplina dos desejos, ao equilíbrio da conduta, que resultarão no bem-estar, na alegria espontânea sem condimentos de sensualidade e de servidão aos vícios. Simultaneamente, a proposta religiosa esclarece que o ser é portador de uma destinação superior, que lhe cumpre enfrentar, movimentando os recursos que lhe jazem latentes e convocando-o para o auto-aprimoramento.
Quando o adolescente não encontra os paradigmas da religião, torna-se amargo e inapto para enfrentar desafios, fugindo com facilidade para a rebeldia ou o sarcasmo, portas de acesso à delinqüência e ao desespero.
Não descartamos os males produzidos pela intolerância religiosa, pelo fanatismo de alguns dos seus membros, sacerdotes e pastores, mas essas são falhas humanas e não da doutrina em si mesma. A interpretação dos conteúdos religiosos sofre os conflitos e dramas pessoais daqueles que os expõem, mas, no seu âmago, todos preconizam o amor, a solidariedade, o perdão, a humildade, a transformação moral para melhor, a caridade, que ficam à margem quando as paixões humanas tomam posse das situações de relevo e comando, fazendo desses indivíduos condutores espirituais, que pensam pelos fiéis, conduzindo—os com a dureza dos seus estados neuróticos e frustrações Lamentáveis, tornando a religião uma caricatura perniciosa dela mesma ou um instrumento de controle da conduta e da personalidade dos seus membros.
A religião objetiva, essencialmente, conduzir ou reencaminhar a criatura ao Criador, auxiliando-a a reconhecer a sua procedência divina, que ficou separada pela rebeldia da própria conduta, graças ao livre-arbítrio, à opção de ser feliz conforme o seu padrão imediatista, vinculado ao instinto, em detrimento da sublimação dos desejos, que permitiriam alcançar a paz de consciência.
Direcionada ao adolescente, a religião marcha com ele pelos labirintos das perquirições e deve estar aberta a discutir todas as colocações que o perturbam ou o despertam, de tal forma que se lhe torne auxiliar valiosa para as decisões livres que deve assumir, de maneira a estar em paz interior.
Nas frustrações naturais, que ocorrem durante o desenvolvimento adolescente, a religião assume papel relevante, explicando a necessidade do enfrentamento com os desafios, que nem sempre ocorrem com sucesso, ao mesmo tempo explicando que a dificuldade de hoje se torna vitória de amanhã. Felizmente, hoje, a visão religiosa impõe que a conduta conformista deve ceder lugar ao comportamento espiritual combativo, mediante o qual o fiel se resolve por assumir atitudes coerentes diante das ocorrências, ao invés de as aceitar sem discussão, o que sempre gerou conflito na personalidade.
Nesse sentido, o Espiritismo, explicando a anterioridade do Espírito ao corpo, a sua sobrevivência à morte física, o mecanismo das reencarnações, demonstra que a luta é o clima ideal da vida e ninguém cresce sem a enfrentar. A resignação não significa aceitar o insucesso, o desar de maneira passiva, porém compreendê-los, investindo valores para superá-los na próxima oportunidade. A realização, não conseguida neste momento, logo mais será realizada, desde que não se demore na aceitação mórbida da ocorrência infeliz.
Estimulando os potenciais internos do ser, conduz às possibilidades que podem ser aplicadas com coragem, programando e reprogramando atividades que lhe ensejem a felicidade, que é a meta da existência terrena.
A sua proposta de salvação não se restringe à vida após a vida, mas à liberação dos conflitos atuais, deixando de lado o caráter redentorista de muitas doutrinas do passado, para
despertar no jovem e em todas as pessoas o interesse pela auto-superação dos atavismos e das paixões que os mantêm encarcerados nos desajustes da emoção.
A religião espírita dinamiza o interesse humano pelo seu auto-aprimoramento, trabalhando-lhe o mundo íntimo, para que, consciente de si, eleve-se aos patamares superiores da existência, sem abandonar o mundo no qual se encontra em processo de renovação.
Os grandes quesitos que aturdem o pensamento são eqüacionados de maneira simples, através da sua filosofia otimista, impulsionando o adepto para a frente, sem saudades do passado, sem tormentos pelo futuro.
Adentrando-se pelos postulados da religião espírita, o adolescente dispõe de um arsenal valioso de informações para uma crença racional, que enfrenta o materialismo na sua estrutura, usando os mesmos argumentos que a ciência pode oferecer, ciência que, por sua vez, é, também, a Doutrina Espírita.

Fonte : Livro Adolescência e Vida / Joana de Angelis

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O ADOLESCENTE E O SUICÍDIO





Não conseguindo a auto-identificação mediante o processo de educação a que se encontra submetido, ou portador de um distúrbio psicótico maníaco-depressivo que não conseguiu superar, ou experimentando frustrações decorrentes de conflitos íntimos, o adolescente imaturo opta pela solução adversa do suicídio.
Sem estrutura emocional para enfrentar os imperativos psicossociais, ou mesmo os desafios dos relacionamentos interpessoais, ou aturdido pelas seqüelas das drogas aditivas, ou empurrado a plano secundário no lar, o adolescente parece não encontrar caminho que deva ser percorrido, tombando no autocídio infame, de conseqüências, infelizmente imprevisíveis e estarrecedoras.
Ignorando a realidade da vida na sua magnitude e profundidade, procura solucionar os problemas normais, pertinentes ao seu crescimento, da maneira mais absurda, que é a busca da morte, em cujo campo ressurge vivo, agora sob a carga insuportável da ocorrência elegida para fugir, do combate, que o elevaria a estágio superior de conhecimento e de auto-realização.
A existência corporal é enriquecedora, exatamente por ser constituída de ocorrências, às vezes, antagônicas, que aparentemente se chocam, quando em realidade se completam, quais sejam a alegria e a tristeza, a saúde e a enfermidade, o êxito e o fracasso, a conquista e a perda, o bem e o mal, que se harmonizam em fascinantes mosaicos de experiências, resultando em vivências positivas pelo processo de atravessar e conhecer as diferentes áreas do mecanismo da evolução. Não houvesse esses fenômenos díspares e nenhum sentido existiria na metodologia do conhecimento, por faltar a participação ativa nos acontecimentos que fazem o cotidiano.
A desinformação a respeito da imortalidade do ser e da reencarnação responde pela correria alucinada na busca do suicídio, com a proposta de encontrar nele solução para as dificuldades que são ensanchas de progresso, sem as quais se permaneceria estacionado no patamar em que se transita. E essa falta de esclarecimento é maior no período infanto-juvenil, como compreensível, facultando a fuga hedionda da existência carnal, rumando para a tragédia da continuação da experiência que se desejou abandonar, agora piorada pelos efeitos trágicos da ação infeliz, que aumenta o fardo de desar, exatamente por causa do alucinado e covarde gesto de fuga.
O ser humano está fadado à glória estelar, que deverá conquistar a esforço pessoal, galgando cada degrau que o leva às alturas com o esforço próprio, mediante o qual se aprimora e consegue superar-se. Toda ascensão provoca reações com­patíveis com o estágio que se alcança, exigindo renovação de forças, ampliação de resistência para conseguir os cumes anelados. É natural, portanto, que surjam impedimentos que se apresentam como testes de avaliação, que selecionam aqueles que se encontram mais bem dotados e fortalecidos para o êxito.
Desistência é prejuízo na economia da auto-realização e fuga é desastre no empreendimento da evolução, que ninguém consegue sem grandes prejuízos.
No período de infância e de adolescência, o ser forma o caráter sob as heranças das reencarnações anteriores, que se expressam, nem sempre de forma feliz, produzindo, às vezes, choques e dores que devem ser atenuados, canalizados pela educação, pelos exercícios moralizadores, até que se fixem as disposições definidoras do rumo feliz. Nunca, porém, a caminhada se dará sem dificuldade, sem tropeço, sem esforço. Quem alcança uma glória sem luta, não é digno dela.
O suicídio brutal, violento, é crueldade para com o próprio ser. No entanto, há também o indireto, que ocorre pelo desgastar das forças morais e emocionais, das resistências físicas no jogo das paixões dissolventes, na ingestão de alimentos em excesso, de bebidas alcoólicas, do fumo pernicioso, das drogas aditícias, das reações emocionais rebeldes e agressivas, do comportamento mental extravagante, do sexo em uso exagerado, que geram sobrecargas destrutivas nos equipamentos físicos, psicológicos e psíquicos...
O materialismo, que infelizmente grassa, sem qualquer disfarce, na sociedade, que se apresenta em grupos religiosos, salvadas as naturais exceções, coloca suas premissas no comportamento das pessoas e as propele para a conquista hedonista, para o gozo material exclusivo, empurrando as suas vítimas para as fugas alucinantes, quando os propósitos anelados não se fazem coroar pelos resultados esperados.
O adolescente, vivendo nesse clima de lutas acerbas e não havendo recebido uma base moral de sustentação segura, na vida física vê somente a superficialidade, o prazer mentiroso, a ilusão que comandam os comportamentos de todos, em terríveis campeonatos de loucura.
Desfilam os líderes da aberração nos carros do triunfo enganoso, e muitos deles, não suportando a coroa pesada que os verga, são tragados pela overdose das drogas do desespero, que os retira do corpo mais dementados e atônitos do que antes se encontravam.
Noutros casos, são consumidos pelas viroses irreversíveis, especialmente pela Síndrome de imunodeficiência adquirida, que os exaure e consome a pouco e pouco, tornando-os fantasmas desprezíveis e aparvalhantes para aqueles mesmos que antes os endeusavam, imitavam e buscavam a sua convivência a peso de ouro e de mil abjeções.
O adolescente, cuja formação padece constantes alterações comportamentais, necessitando de apoio e de diretriz emocional, desejando viver experiências adultas, sem alicerces psicológicos de segurança, naufraga, sem forças, arrastado pelas poderosas correntezas dos grupos sociais, nos quais transita, grupos esses, quase sempre, constituídos por enfermos e desestruturados quanto ele próprio.
Quando o lar se tornar escola de real educação, e a escola se transformar em lar de formação moral e cultural, a realidade do Espírito fará parte das suas programações éticas, sem o caráter impositivo de doutrina religiosa compulsivo-obsessiva, porém com a condição de disciplina educativo-moralizadora que é, da qual ninguém se poderá evadir ou simplesmente ignorar, então o suicídio na adolescência cederá lugar à resistência espiritual para enfrentar as vicissitudes e os desafios, mediante amadurecimento íntimo e compreensão dos valores éticos que constituem a vida.
Através de uma visão correta sobre a realidade do ser, do seu destino, dos seus objetivos na Terra, o adolescente aprenderá a esperar, semeando e cuidando da gleba na qual prepara o futuro, a fim de colher os frutos especiais no momento próprio, frutos esses que não lhe podem chegar antes do tempo.
Descartando-se as impulsões autodestrutivas, que resultam de psicopatologias graves, mas que também podem ser devidamente tratadas, as ocorrências que levam ao suicídio na adolescência serão sanadas, e se alterará a paisagem emocional do jovem, a fim de que ele desenvolva o seu processo reencarnatório em paz e esperança, ganhando conhecimentos, adquirindo sabedoria e construindo o mundo novo no qual o amor predominará, a infância e a juventude receberão os cuidados que merecem na sua condição de perenes herdeiros do futuro.

Fonte: Adolescência e Vida / Joana de Angelis

A GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA





          A gravidez na adolescência é um dos grandes problemas-desafio da atualidade, em razão do número crescente de jovens despreparadas para a maternidade, que se deparam em situação deveras perturbadora, gerando grave comprometimento social.
          Dominados pela curiosidade e espicaçados por uma bem urdida estimulação precoce, que faculta a promiscuidade dos relacionamentos, os adolescentes facilmente se entregam às experiências sexuais sem nenhuma preparação psicológica, menos ainda responsabilidade de natureza moral.
          Desconhecendo os fatores propiciatórios da fecundação e sem qualquer orientação cultural em torno do intercâmbio sexual, permitem-se o intercurso dessa natureza com sofreguidão e sob conflitos, tendo de enfrentar o gravame da concepção fetal.
          Ao darem-se conta da ocorrência inesperada, recorrem a expedientes perigosos, a pessoas inescrupulosas, quase sempre interessadas na exploração da ignorância, e culminam na execução do crime covarde do aborto clandestino, com todos os riscos decorrentes dessa atitude cruel.
Iniciada a malfadada fuga, novas ocorrências criminosas têm lugar, porque o adolescente perde a identidade moral e, aturdido, deixa-se arrastar a novos tentames, cujos resultados são sempre infelizes. Quando isso não ocorre, porque desti­tuídos do sentimento de amor, que os poderia unir, são as futuras mães deixadas a mercê da família ou da própria sorte, trazendo ao mundo os desamparados rebentos que experimen­tarão a orfandade, não obstante os pais desorientados perma­neçam vivos.
Despertando lentamente para os sentimentos mais graves, e dando-se conta da alucinação juvenil, agora irreversível, essas jovens imaturas e frustradas atiram-se nos resvaladouros do descalabro, perdendo o senso da dignidade feminina e tornando-se objetos de fácil posse, quando não recorrem às fugas desordenadas pelas drogas químicas, pelo álcool, pela prostituição destruidora.
Urgem atitudes que possam despertar os adolescentes para a utilização do sexo com responsabilidade, na idade adequada, quando houver equilíbrio fisicopsíquico, amadurecimento emocional com a competente dose de compreensão dos efeitos que decorrem das uniões dessa natureza.
O sexo é um órgão com função específica e portador de exigências graves na área dos deveres, que aparecem como conseqüência do seu uso. Quando utilizado com insensatez, sem o contributo da razão, por desejos infrenes, ao envolver os parceiros estabelece um vínculo emocional que não deve ser rompido levianamente. Muitas tragédias dos sentimentos têm início nas rupturas abruptas da afetividade despertada pelo interesse sexual. Pode uma das pessoas não estar realmente interessada na outra, não obstante a recíproca pode não ser verdadeira, e, ao sentir-se a sós, aquele que se encontra abandonado passa a experimentar tormentos e conflitos muito perturbadores, quando não se rebela contra a função sexual, gerando problemas mais profundos, que irão comprometer-lhe toda a existência, em razão da leviandade de quem se foi, indiferente pelo destino de quem ficou...
Na adolescência, porque os interesses giram em torno da identidade, da sexuaLidade, da afirmação da personalidade, além de outros, a atração entre os jovens é inevitável, produzindo grande empatia e estímulos que devem ser cultivados, porqüanto isso faz parte da formação do seu conceito de sociedade e de auto-realização. Todavia, éindispensável insistir quanto aos cuidados que devem ser tomados pelos moços em razão da precipitação em assumir atitudes e compromissos para os quais não estão preparados, tornando-se fáceis vítimas da imprudência e do desconheci­mento.
Sob outro aspecto, porque os sentimentos ainda não estão maduros e o desconhecimento da função sexual é total, o ato não corresponde à expectativa ansiosa do adolescente, que se sente defraudado, receando novas experiências, ou precipitando-se em outras tantas a fim de descobrir os encantamentos a que as demais pessoas se referem com entusiasmo e que ele não vivenciou.
A educação sexual, portanto, tem regime de grande urgência, ao lado de um programa de dignificação da função genésica muito barateada por personagens atormentadas, que se tornam líderes da massa juvenil, e que, fugindo dos próprios conflitos perturbadores, estimulam-lhes o uso desordenado. Outras vezes, mediante caricaturas perversas, procuram influir na conduta juvenil, massificando todos no mesmo nível de comportamento estranho e inquietador, deixando-os insaciáveis e cínicos, enquanto afirmam que a única função da vida é o prazer imediato, sendo o sexo a válvula de escapamento para a insegurança, a insatisfação emocional e o fracasso de que se sentem possuídos, mesmo quando se sentam nos tronos dos triunfos ilusórios que a mídia lhes proporciona, sem os realizarem interiormente.
A maternidade é o momento superior de dignificação da mulher, quando todos os valores do sentimento e da razão se conjugam para o engrandecimento da vida. Faltando, àadolescente, experiência e conhecimento dos valores existen­ciais durante a gravidez, o período é atormentado, sendo trans­mitido ao feto inquietação e desassossego, quando não a revolta pela concepção indesejada.
Raramente acontece o fenômeno da compenetração maternal, quando se trata de Espírito afim, que volve ao regaço da afetividade de maneira inesperada, recompondo o passado de lutas e desares, com que ambos se encontram nos caminhos do amor: mãe e filho.
A maternidade na adolescência é dos mais tormentosos fenômenos que o sexo irresponsável produz, face às conseqüências que gera.
Orientar o adolescente quanto aos valores do sexo, ante a vida e o amor, é dever que todos os indivíduos se devem impor, auxiliando a mentalidade juvenil a encontrar o rumo de segurança para a felicidade, sem as cargas aflitivas provindas da leviandade do período anterior.

Fonte: Adolescência e Vida / Joana de Angelis