(Grupo Espírita de Douai, 7 de junho de 1865)
A
fé plana sobre a Terra, buscando uma pousada onde abrigar-se, buscando
um coração para esclarecer. Onde irá ela?... Para começar, ela entrará
na alma do homem primitivo e impor-se-á; porá um véu momentâneo sobre a
razão que começa a desenvolver-se e vacila nas trevas do espírito. Ela
conduzi-lo-á através das idades da simplicidade e far-se-á mestra pelas
revelações. Mas, não estando ainda o raciocínio bastante amadurecido
para discernir o que é justo do que é falso, para julgar o que vem de
Deus, ela arrastará o homem para fora do reto caminho, tomando-o pela
mão e pondo-lhe uma venda nos olhos. Muitos desvios, tal deve ser a
divisa da fé cega que, entretanto, durante muito tempo teve sua
utilidade e sua razão de ser.
Esta
virtude desaparece quando a alma, pressentindo que pode ver com seus
próprios olhos, a afasta e não mais quer marchar senão com a sua razão.
Esta a ajuda a desfazer-se das crenças falsas que ela havia adotado sem
exame. Nisto ela é boa. Mas o homem, encontrando em seu caminho muitos
mistérios e verdades obscuras, quer desvendá-las e se atrapalha. Seu
julgamento não pode acompanhá-la; ele quer ir muito depressa e a
progressão em tudo deve ser gradual. Assim, não tem mais a fé que
repeliu; não tem mais a razão que ele quis ultrapassar. Então ele faz
como as borboletas temerárias; queima as asas na luz e se perde nos
desvios impossíveis. Daí saiu a má filosofia que, buscando muito, fez
tudo esboroar-se e nada substituiu.
Estava
aí o momento da transformação. O homem não era mais o crente cego;
também ainda não era o crente que racionaliza a crença; era a crise
universal tão bem representada pelo estado da crisálida.
À
força de procurar na noite, a claridade brilha, e muitas almas
transviadas, encontrando com dificuldade a luz obscurecida por tantos
desvios inúteis e retomando como guias seus condutores eternos: a fé e a
razão, fazem-nos marchar à sua frente, a fim de que seus dois clarões
reunidos impeçam-nos de perder-se uma segunda vez. Elas fazem assentar a
fé sobre as bases sólidas da razão, ela própria ajudada pela
inspiração.
É vossa oportunidade, meus amigos. Segui o caminho. Deus está no fim.
DEMEURE
Fonte: Revista Espírita 1865
Nenhum comentário:
Postar um comentário