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domingo, 4 de maio de 2014

Evolução do Cristianismo

EVOLUÇÃO DO CRISTIANISMO


A história da evolução do Cristianismo é a saga do processo redentor da criatura humana.

A Constantino, imperador do Oriente, deve-se o ato gentil da liberação da prática da doutrina de Jesus em todo o império, eliminando qualquer tipo de perseguição ou limite.

Não havendo ele próprio conseguido lograr a convicção profunda dos conteúdos do Evangelho, tornou-se responsável pelos desmandos que surgiram, pelas interpolações e interpretações errôneas, bem como pela adoção de alguns cultos pagãos introduzidos na mensagem singela e pulcra do Homem de Nazaré.

Adorador de Mitra, o Deus-Sol do Zoroastrismo, mas também com outras interpretações, contribuiu grandemente para a idolatria, permitiu que os adeptos do Cristianismo em formulação, acautelados pela fortuna e outros bens materiais, perseguissem os antigos politeístas, transformassem os seus templos em catedrais faustosas.

Demolindo as antigas construções, mandavam erguer sobre elas, com nova indumentária arquitetônica, os santuários, nos quais os adeptos de Jesus deveriam reunir-se, com o olvido das pregações diante do altar sublime da natureza: nas praias, nas estradas, nas montanhas de Israel...

Logo contribuíram para que o imperador se transformasse no responsável pelo voto de Minerva, nos concílios, reuniões e discussões que se multiplicavam em abundância, em atendimento às paixões dos líderes denominados bispos, presunçosos uns, ignorantes outros, que se acusavam reciprocamente de heresias, em adulteração desrespeitosa aos ensinos de Jesus.

Constantino também se tornou responsável pela substituição dos mártires, tornados santos nos altares de ouro e de mármore dos antigos templos, em lugar dos ídolos pagãos.

Sua genitora, Helena, em viagem à terra santa, tornou-se responsável pela identificação da cruz em que morreu o Mestre, dos lugares em que Ele e os Seus apóstolos viveram, mandando erguer catedrais majestosas, iniciando o culto a relíquias, às quais atribuía poderes miraculosos e curativos, criando, pela rica imaginação, identificações, algumas delas muito longe da legitimidade...

Ainda no século IV, o papa Dâmaso convidou São Jerônimo para selecionar os textos considerados verdadeiros, canônicos, a cujo mister o patrístico aplicou vinte e cinco anos na gruta de Belém, comparando-os cuidadosamente com outros conceitos bíblicos, o que resultou na elaboração da Vulgata Latina. A essa coletânea deu-se o nome de estudos canônicos, legítimos, reconhecidos como verdadeiros pela Igreja de então.

As demais anotações, mais tarde introduzidas por outros estudiosos em O Novo Testamento, os deuterocanônicos, vêm sendo avaliadas através dos séculos, nos sucessivos concílios que trouxeram mais danos que esclarecimentos em torno da palavra do Senhor.

Nesse mesmo século IV, disputavam entre si as autoridades imperiais e eclesiásticas, enquanto o bispo de Roma, Dâmaso, permitia-se o luxo e a extravagância que o cargo lhe concedia, semelhando-se aos grandes generais e governantes das imensas metrópoles, muitíssimo distante do Rabi galileu...

Roma exigia ser a capital cristã do mundo, sob a justificativa de que os apóstolos do mestre, Pedro e, a seguir, Paulo, elegeram-na para o holocausto das próprias vidas, e as missas, que então eram celebradas, sofreram a introdução dos cultos do Oriente, transformando o hábito singelo de orar em complicadas fórmulas, ora em grego, depois em latim, que as massas não podiam entender.

Posteriormente, surgiram os grandes dissídios, tais como os ortodoxos gregos, russos, que realizavam os seus cultos dentro das tradições dos respectivos países, os coptas e outros mais complicados...

Milão, que se tornara tão importante quanto Roma, tinha em Ambrósio o seu líder máximo, que, apaixonado, desviara-se completamente, logo depois do culto ao Senhor para o das imagens e para a venda de tudo quanto representasse a herança dos abençoados mártires, dando prosseguimento às alucinações da genitora de Constantino, que se atribuía o privilégio de haver encontrado, como já referido, a cruz em que Jesus morrera, com as palavras que lhe foram colocadas ironicamente pelos romanos, em refinada zombaria ao Sinédrio.

Logo depois, a mesma Helena atreveu-se a transformar alguns dos seus cravos em objeto de extravagância na coroa do filho, atribuindo-lhe proteção divina, o que dava lugar a superstições e desmandos acompanhados de falsificações e injúrias.

Cristãos, nessa época, passaram a matar pagãos, e quando Teodósio, mais tarde imperador de Roma, apresentou-se como cristão e desejou aplicar punições àqueles que cometeram hediondos crimes, Ambrósio exigiu-lhe retratação pública e humilhante para conceder-lhe o perdão.

A doutrina do amor e da compaixão, da misericórdia e da bondade estava crucificada!

Esse mesmo Ambrósio, que conseguira converter Agostinho de Hipona, em Milão, preocupava-se mais com detalhes e insignificâncias, considerando a virgindade feminina e masculina, como fundamental, como a conduta pulcra e sublime para a entrega a Deus, não havendo qualquer preocupação com o tormento mental e emocional dos clérigos e sacerdotes, assim como das viúvas, das jovens e dos rapazes que se dedicavam ao Senhor, e, para bem consagrar o novo impositivo que se tornaria dogma da religião nascente, introduziu o uso de indumentárias brancas e reluzentes, que significavam pureza, mesmo que o mundo interior fosse o sepulcro onde o cadáver das ansiedades pessoais descompunha-se.

Jerônimo, por sua vez, deixou-se também arrebatar pela loucura do mesmo século e tornou-se terrível adversário da palavra de Jesus, ao adulterá-la, fazendo-o com intercalações nefastas, intromissões que não se justificam, e mistura dos conceitos pagãos com os cristãos para o logro da dominação imperial.
O avanço do poder temporal deságua nas Cruzadas de rudes e perversas memórias, com os desastres e mortes de centenas de milhares de vidas de ambos os lados, cristãos e mulçumanos durante alguns séculos de horror, para a defesa da sepultura vazia que Ele deixara em Jerusalém...

Até o século XVI o tormento medieval, estabelecido pelos denominados Pais da Igreja (Patrística), corrompeu, desvitalizou e transformou a revolução sublime do Evangelho em cruz e fogueira, em morte e degradação, em poder temporal e mentira...

Novos tempos surgiram, porém, com Martinho Lutero e outros que não se submeteram às injunções poderosas do culto pagão.

A Reforma abriu espaços no estreito cubículo mental no qual foi encarcerada a doutrina do Mestre e ventos novos sopraram para retirar o mofo acumulado e derrubar algumas muralhas segregacionistas...

Logo depois, no entanto, surgiram as divisões e as controvérsias entre os discípulos de Lutero, ante a sua própria defecção, e apareceram as mais variadas denominações cada uma delas, como a verdadeira.

Nesse ínterim, quando a esperança não mais brilhava nas almas aflitas, chegou à humanidade o Consolador, e os imortais conclamaram os novos discípulos do Evangelho a voltarem às praias formosas do Genesaré, à natureza encantadora, aos abençoados fenômenos da compaixão e da misericórdia em que Jesus permanece como a figura máxima de humildade e sacrifício pessoal.

Investidas terríveis das hordas do mal novamente dão-se amiúde para prejudicar a reabilitação da criatura humana e a renovação da sociedade como um todo.
Começam a surgiu os primeiros disparates, os desrespeitos e impositivos egotistas de alguns profitentes, que elaboram e apresentam necessidades falsas para adaptações do pensamento espírita às paixões em predomínio, e surgem correntes de dissídio, as acusações recíprocas de lideranças, de médiuns, de Instituições, iguais ao mesmo fenômeno do passado que se repete...

Espíritas-cristãos, tende cuidado!

O mundo, o século são sedutores, fascinantes. As suas falácias sutis e declaradas são perversas, enganosas.

Tende tento! Não sois diferentes daqueles homens e mulheres que, num momento, se dedicavam a Jesus e, logo depois, corrompiam a Sua palavra.

Assumistes o compromisso, antes do berço, de restaurardes a paz íntima perdida, as lições sublimes que vós mesmos deturpastes no passado, quando contribuístes em favor do naufrágio da fé pura e racional...

O Centro Espírita merece respeito, fidelidade ao compromisso nele estabelecido: iluminar consciências e consolar sentimentos.

Obreiros invisíveis laboram incessantemente em vosso benefício. Como vedes somente o exterior, não tendes a dimensão do que se passa nele além das vibrações materiais.

Considerai-o, oferecei a esse núcleo de oração, a essa oficina que é um educandário, um templo, um hospital transcendental, o respeito e a dedicação indispensáveis que são exigidos para o fiel cumprimento das responsabilidades abraçadas.

A modesta estrebaria onde Jesus nasceu, a vergonhosa cruz em que Ele foi levado a holocausto, ou a radiosa manhã da ressurreição, devem, permanecer vivas em nossa memória, a fim de serem preservadas a Sua vida e o Seu amor pela humanidade.

Sois as mãos, a voz, o sentimento dEle no mundo moderno.

Vivei por definitivo conforme Ele o fez e ensinou a fazer, mantende cuidado com as ilusões tão rápidas como luminosas bolhas de sabão que explodem ao contato do ar ou de encontro a qualquer objeto perfurante.

O Consolador triunfará, porque é o próprio Jesus de volta ao mundo para iluminá-lo e conduzi-lo no rumo da sua próxima regeneração.



pelo EspíritoVianna de Carvalho. Psicofonia de Divaldo Pereira Franco, na reunião mediúnica de 20 de janeiro de 2014, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, BA Do site: http://www.divaldofranco.com.br/mensagens.php?not=359.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

O Terceiro Céu

O reino de Deus não vem com aparência exterior.
Nem dirão: Ei-lo aqui, ou ei-lo ali, porque eis que o reino de Deus está entre vós".

(Lucas, 17:20-21).

Já se foram os tempos em que os homens supunham ser o nosso mundo o centro de todo o Universo, quando então teorias aberrantes foram impostas como verdades irretorquíveis.

Os gregos, por exemplo, admitiam a Terra como imenso disco, supondo que o centro de tal disco estava exatamente no famoso santuário de Apoio, em Delfos, a poucos quilômetros do golfo de Corinto. Nesse santuário, famoso pelo seu oráculo, havia mesmo um cone de mármore branco, considerado por todos como o "umbigo" do mundo...

No tocante aos céus, também existiam várias teorias, pois, segundo a opinião generalizada, havia sete céus. Os muçulmanos admitem nove céus, em cada um dos quais se aumenta a felicidade dos crentes. n sábio Ptolomeu, que viveu em Alexandria, no segundo século da era cristã, contava onze céus e denominava ao último Empireu (do grego, pur ou pyr, fogo) por causa da luz intensa que afirmava nele existir. Os poetas afirmavam ser esse o lugar da eterna glória. A teologia cristã, por sua vez, reconhece três céus: o primeiro é o da região do ar e das nuvens, o segundo o espaço em que giram os astros, e o terceiro, a morada do Altíssimo, onde estariam aqueles que segundo os seus ensinos, gozam da bem-aventurança e estão no estado de contemplação beatífica.

Sobre a vida no além-túmulo, ensina também que o homem vive uma só vez, depois do que será submetido a dois julgamentos distintos: um logo depois da morte, chamado juízo particular, e outro no fim do mundo, denominado juízo universal, ou final. Depois do primeiro, as almas vão diretamente ou para o céu, onde "se goza da vista de Deus e de todos os bens, sem mistura de mal", ou para o inferno, onde, ao contrário, "se sofre a privação da vista de Deus, o fogo eterno e todos os males, sem mistura de bem". Sustenta ainda que as almas que tenham apenas pecados venais, permanecem por algum tempo em uma estância intermediária o purgatório, antes de serem recebidas no céu.

Por outro lado, essa teologia situou Deus nos confins do Universo, em vez de colocá-lo no centro, donde o seu pensamento poderia irradiar e abranger tudo.

A evolução se processou de forma espantosa, a ciência desvendou novas verdades, a Terra deixou de ser o centro do universo, o céu foi deslocado e a região estelar, sendo ilimitada, deitou por terra a teoria na existência desses céus superpostos, e isso fez emudecer todas as religiões.

Paulo, em sua 11 Epístola ao Coríntios, afirmou: "Conheço um homem em Cristo que há quatorze anos (se no corpo não sei, se fora do corpo não sei; Deus o sabe) foi arrebatado até ao terceiro céu. E sei que o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, de que ao homem não é licito falar". (I1 Cor. 12:2-4).

É inegável que o homem mencionado por Paulo foi arrebatado, em espírito, a um plano espiritual de grande elevação e, ali, ouviu instruções de grande alcance, inacessíveis á compreensão dos homens encarnados. Qualquer um desses planos espirituais do Mundo Maior, narrados nos ensinamentos espíritas, pode ser comparado ao chamado terceiro céu, pois, obviamente os que ouviam Paulo não estavam em condições de compreender o céu senão como um lugar situado acima das regiões das nuvens e do:; astros, uma vez que se concebia (crença que perdurou até Galilei) que a Terra era o centro do Universo.

Quão diferentes são estes ensinamentos daqueles que o Espiritismo vem apregoar na atualidade.

Jesus afirmou que não deveríamos buscar o Reino de Deus aqui ou acolá, pois ele está entre nós, e os espíritas têm como ponto pacífico que a fórmula para á conquista desse Reino é a vivência pura e simples dos preceitos cristãos que levam á reforma íntima. O reino dos céus não se toma de assalto, mas conquista se com as boas obras. (Lucas, 16:16).

Após a oficialização da igreja cristã, no século IV, cessou praticamente o intercâmbio mediúnico entre os primitivos cristãos e o mundo espiritual. 

A justificativa apresentada pelos doutores da igreja foi uma proibição lançada vinte séculos antes por Moisés, cujo objetivo era combater a mercantilização com as coisas divinas e a ação nefasta dos falsos médiuns.

A revelação dos espíritos passou a ser um empecilho aos intuitos dos homens que tinham interesse numa igreja temporal. Para por um paradeiro no processo de intercâmbio entre o mundo corpóreo e o plano espiritual, inúmeras fogueiras foram acesas, e, como decorrência, a revelação deixou de ser a pedra angular das chamadas religiões cristãs.

Surgiram então os dogmas e durante outros vinte séculos a humanidade passou a ter uma visão distorcida das coisas divinas, pois, através deles tomaram forma as esdrúxulas teorias das penas eternas, do pecado original, dos céus superpostos, da existência do purgatório, da unicidade das existências do homem na Terra, da unicidade dos mundos habitados e outras mais, tudo isso em flagrante contraste com os ensinamentos contidos nos Evangelhos.

Ao Espiritismo cabe a tarefa de restabelecer todos os ensinamentos de Jesus Cristo em seus devidos lugares, consoante a promessa do Mestre de que suscitaria entre nós, em época propícia, o Espírito de Verdade.
                                                        
Paulo Alves de Godoy

O Semeador

Kardec, modelo de devotamento e abnegação

Kardec, modelo de devotamento e abnegação

O devotamento e a abnegação são uma prece contínua e encerram um ensinamento profundo. A sabedoria humana reside nessas duas palavras.”[1]

            Kardec foi um dos mais sólidos modelos de devotamento e abnegação. Aqueles que leem com atenção seus escritos publicados na Revista Espírita colhem alguns aspectos do seu caráter, de suas virtudes que, apesar de sua modéstia e discrição, ressaltam aqui e ali.
            Com o intuito de realçar as qualidade desse nobre Espírito, a quem devemos o legado da ciência espírita, é que garimpamos alguns dos seus escritos que evidenciam seu bom senso e suas virtudes.
            Sabe-se o quanto o Mestre provou da zombaria, da calúnia, da maledicência e do deboche por parte daqueles que não compreenderam a nobre missão que essa alma generosa aceitou desempenhar na Terra, por amor à humanidade.
            A forma como que ele viveu, como enfrentou as mais difíceis situações, os mais furiosos adversários, ficam evidentes em suas obras, em suas próprias palavras, e servem ao aprendizado daqueles que buscam conquistar virtudes e desejam aprender com os exemplos práticos desse Espírito notável, que ficou conhecido na Terra como Allan Kardec.

Ao deparar-se com a fama, ele teve que renunciar ao seu gosto pela quietude ...

            Na propriedade que possuo e que me fica como sobra daquilo que a má-fé não me pôde arrancar, podíamos viver tranquilamente e longe da confusão dos negócios. Tirando-me da obscuridade, o Espiritismo veio lançar-me numa nova via; em pouco tempo vi-me arrastado num movimento que estava longe de prever. Quando concebi a ideia do Livro dos Espíritos, minha intenção era de não me colocar em evidência e de ficar incógnito; mas, prontamente ultrapassado, isto não me foi possível: tive que renunciar ao meu gosto pela solitude, sob pena de abdicar a obra empreendida e que crescia dia a dia. Foi-me preciso seguir o seu impulso e tomar-lhe as rédeas. Se meu nome tem agora alguma popularidade, não fui eu, certamente, que a busquei, pois é evidente que não a devo nem à propaganda, nem à camaradagem da imprensa, e que jamais me aproveitei de minha posição e de minhas relações para me lançar na sociedade, quando isto teria sido fácil.[2]

Coragem, firmeza, humildade e sacrifício...

   “Mas, à medida que a obra crescia, um horizonte mais vasto desenrolava-se à minha frente, cujos limites recuavam. Compreendi então a imensidade de minha tarefa e a importância do trabalho que me restava fazer para completá-la. Longe de me apavorar, as dificuldades e os obstáculos redobraram minha energia; vi o objetivo e resolvi atingi-lo, com a assistência dos bons Espíritos. Eu sentia que não tinha tempo a perder e não o perdi em visitas inúteis nem em cerimônias ociosas. Foi a obra de minha vida. Para ela dediquei todo o meu tempo; a ela sacrifiquei meu repouso e a minha saúde, porque diante de mim o futuro estava escrito em caracteres irrefutáveis. Fi-lo por meu próprio impulso, e minha mulher, que não é nem mais ambiciosa nem mais interesseira que eu, concordou plenamente com meus pontos de vista e me secundou na tarefa laboriosa, como o faz ainda, por um trabalho por vezes acima de suas forças, sacrificando sem pesar os prazeres e distrações do mundo, aos quais sua posição de família a tinham habituado.”[3]

Privações dos interesses materiais em proveito da divulgação da Doutrina

“Sem nos afastarmos de nosso gênero de vida, essa posição excepcional não deixou de criar-nos necessidades às quais apenas meus próprios recursos não permitiam prover. Seria difícil imaginar a multiplicidade de despesas que ela acarreta, e que sem isso eu teria evitado. A necessidade de morar em duas residências é, como já disse, um acréscimo de gastos, pela obrigação de ter todo o mobiliário em dobro, sem contar uma porção de gastos miúdos exigidos por essa dupla habitação e as perdas que resultam da negligência de meus interesses materiais, relegados por uma série de trabalhos que me absorvem todo o tempo. Não é uma queixa que formulo, pois minhas ocupações atuais são voluntárias; é um fato que constato, em resposta àqueles que dizem que tudo é lucro para mim no Espiritismo. Quanto aos gastos especiais ocasionados por minha posição, seria impossível enumerá-los, mas, se considerardes que tenho anualmente mais de oitocentos francos de despesas em porte de cartas, independentemente das viagens, e que tenho a necessidade de ligar-me a alguém para me ajudar, e outros pequenos gastos indispensáveis, compreendereis que não exagero dizendo que minhas despesas anuais, que foram crescendo incessantemente, hoje estão mais que triplicadas. Pode-se fazer uma ideia aproximada, a quanto pode se elevar este excedente em oito anos, tomando a média de 6.000 francos por ano. Ora, ninguém contestará a utilidade destas despesas para o sucesso da doutrina, que evidentemente se teria enfraquecido se eu tivesse permanecido no meu retiro, sem ver ninguém e sem as numerosas relações que mantenho diariamente. É o que, entretanto, eu teria sido obrigado a fazer, se nada me tivesse vindo em auxílio.
Pois bem, senhores, o que me proporcionou esse suplemento de recursos foi o produto de minhas obras. Digo com satisfação que foi com o meu próprio trabalho, com o fruto de minhas vigílias que provi, pelo menos em sua maior parte, às necessidades materiais da instalação da doutrina. Assim, eu trouxe uma larga quota-parte à caixa do Espiritismo. Deus quis que ele encontrasse em si mesmo os seus primeiros meios de ação. No princípio eu lamentava que minha pouca fortuna não me permitisse fazer o que eu queria fazer pelo bem da causa, mas hoje aí vejo o dedo da Providência e a realização desta predição tantas vezes repetida pelos bons Espíritos: “Não te inquietes com nada. Deus sabe o que te é preciso e saberá provê-lo.”
Se eu tivesse empregado o produto de minhas obras no aumento de meus prazeres materiais, isto teria resultado em prejuízo do Espiritismo, contudo, ninguém teria tido o direito de objetar, porque eu era bem senhor de dispor à vontade daquilo que só devia a mim mesmo; mas, porque me privava antes, podia privar-me depois; penso que o aplicando à obra, ninguém achará que seja dinheiro mal empregado e os que ajudam na propagação das obras não poderão dizer que trabalham para me enriquecer.[4]

Enfrentando a calúnia e a difamação...

            “Falaram muito dos lucros que eu obtinha com as minhas obras; ninguém sério acredita realmente em meus milhões, malgrado a afirmação dos que diziam saber de boa fonte que eu tinha um estilo de vida principesco, equipagens a quatro cavalos e que em minha casa só se pisava em tapetes de Aubusson. (Revista de junho de 1862). A despeito do que tenha dito, além disso, o autor de uma brochura que conheceis, e que prova, por cálculos hiperbólicos, que o orçamento das minhas receitas ultrapassa a lista civil do mais poderoso soberano da Europa, porque, só na França, vinte milhões de espíritas são meus tributários (Revista de junho de 1863), há um fato mais autêntico do que os seus cálculos. É que jamais pedi qualquer coisa a quem quer que seja, e ninguém jamais me deu nada, a mim pessoalmente; numa palavra, não vivo às custas de ninguém, pois das somas que me foram voluntariamente confiadas no interesse do Espiritismo, nenhuma parcela foi desviada em meu proveito.
            Minhas imensas riquezas proviriam, pois, de minhas obras espíritas. Embora essas obras tenham tido um sucesso inesperado, basta ter poucas noções de negócios de livraria para saber que não é com livros filosóficos que se amontoam milhões em cinco ou seis anos, quando se tem sobre a venda direitos autorais de apenas alguns cêntimos por exemplar. Mas, muito ou pouco, sendo esse produto o fruto de meu trabalho, ninguém tem o direito de se imiscuir no emprego que dele faço, mesmo que se elevasse a milhões, considerando-se que a venda dos livros, assim como a assinatura da Revista, é facultativa e não é imposta em nenhuma circunstância, nem mesmo para assistir às sessões da Sociedade, ninguém tem nada com isto. Comercialmente falando, estou na posição de todo homem que colhe o fruto de seu trabalho; corro o risco de todo escritor, que pode vencer como pode fracassar.”
            “Em todos os tempos temos tido de que viver, muito modestamente, é certo, mas o que teria sido pouco para certa gente nos bastava, graças aos nossos gostos e aos nossos hábitos de ordem e de economia. À nossa pequena renda vinha juntar-se o produto das obras que publiquei antes do Espiritismo, e o de um modesto emprego que tive de deixar quando os trabalhos da Doutrina absorveram todo o meu tempo.”
            “Posto que, sob este ponto de vista, eu não tenha contas a prestar, creio útil, pela própria causa à qual me votei, dar algumas explicações.
            “Para começar, direi que não sendo as minhas obras minha propriedade exclusiva, sou obrigado a comprá-las do meu editor e a pagá-las como um livreiro, com exceção da Revista; que o lucro se acha singularmente diminuído pelas obras que não são vendidas e pelas distribuições gratuitas, feitas no interesse da Doutrina, a pessoas que sem isto delas estariam privadas. Um cálculo muito simples prova que o preço de dez volumes perdidos ou doados, que não deixo de pagar, basta para absorver o lucro de cem volumes. Isto seja dito à guisa de informação e entre parênteses. Tudo somado e feito o balanço, contudo resta alguma coisa. Imaginai a cifra que quiserdes. O que faço com ela? Isto é o que mais preocupa certas criaturas.”

Estilo de vida simples...

            “Quem quer que outrora tenha visto a nossa intimidade e a veja hoje, pode atestar que nada mudou em nossa maneira de viver depois que passei a ocupar-me do Espiritismo. Ela é agora tão simples quanto era outrora. Então é certo que os meus lucros, por enormes que sejam, não servem para nos dar os prazeres do luxo. Será que eu teria a mania de entesourar para ter o prazer de contemplar meu dinheiro? Não penso que o meu caráter e os meus hábitos jamais tenham podido fazê-lo supor. Por que as coisas são assim? Considerando-se que disso não tiro proveito, quanto mais fabulosa a soma, mais embaraçosa a resposta. Um dia saberão a cifra exata, assim como o emprego detalhado, e os criadores de histórias poderão economizar a imaginação.”[5]

Um legado de desprendimento e abnegação...

“Pessoalmente, e embora parte ativa do comitê, não constituiremos sobrecarga ao orçamento, nem por emolumentos, nem por indenização de viagens, nem por uma causa qualquer. Se jamais pedimos algo para nós, ainda menos o faríamos nesta circunstância; nosso tempo, nossa vida, todas as nossas forças físicas e intelectuais pertencem à Doutrina. Declaramos, pois, formalmente, que nenhuma parte dos recursos de que disporá o comitê será desviada em nosso proveito.
Ao contrário, a ele trazemos nossa quota-parte:

1º - Pela cessão do lucro de nossas obras, feitas e por fazer;
2º - Pelo aporte de valores mobiliários e imobiliários.
Assim, fazemos votos para a realização do nosso plano no interesse da Doutrina, e não para criarmos uma posição para nós, da qual não necessitamos. Foi para preparar os caminhos desta instalação que até hoje consagramos o produto de nossos trabalhos, como dissemos acima. Se nossos meios pessoais não nos permitem fazer mais, pelo menos teremos a satisfação de nela haver posto a primeira pedra.[6]

Reconhecimento, gratidão e modéstia...

Senhoras, senhores, e vós todos, meus caros e bons irmãos no Espiritismo.
A acolhida tão amiga e benevolente que recebo entre vós, desde a minha chegada, seria bastante para me encher de orgulho, se eu não compreendesse que tais testemunhos se dirigem menos à pessoa do que à Doutrina, da qual não passo de um dos mais humildes obreiros. É a consagração de um princípio e me sinto duplamente feliz, porque esse princípio deve um dia assegurar a felicidade do homem e o repouso da Sociedade, quando for bem compreendido, e ainda melhor quando for praticado. Seus adversários só o combatem porque não o compreendem. Cabe a nós; cabe aos verdadeiros espíritas, àqueles que veem no Espiritismo algo mais do que experiências mais ou menos curiosas, fazê-lo compreendido e propagá-lo, tanto pregando pelo exemplo quanto pela palavra. O Livro dos Espíritos teve como resultado demonstrar o seu alcance filosófico. Se esse livro tem qualquer mérito, seria presunção minha orgulhar-me disso, porque a doutrina que ele encerra não é criação minha. Toda honra pelo bem que ele fez cabe aos sábios Espíritos que o ditaram e que quiseram servir-se de mim. Posso, pois, ouvir o elogio sem que seja ferida a minha modéstia, e sem que o meu amor-próprio por isso fique exaltado. Se eu desejasse prevalecer-me disto, certamente teria reivindicado a sua concepção, em vez de atribuí-la aos Espíritos; e se se pudesse duvidar da superioridade daqueles que cooperaram, bastaria considerar a influência que ele exerceu em tão pouco tempo só pelo poder da lógica, e sem qualquer dos meios materiais próprios para superexcitar a curiosidade.
            Seja como for, senhores, a cordialidade do vosso acolhimento será para mim um poderoso encorajamento na tarefa laboriosa que empreendi e da qual fiz a razão de minha vida, porque me dá a certeza consoladora de que os homens de coração já não são tão raros neste século materialista, como gostam de proclamá-lo. Os sentimentos que fazem nascer em mim esses testemunhos benevolentes são melhor compreendidos do que expressados; e o que lhes dá, aos meus olhos, um valor inestimável, é que não têm por móvel qualquer consideração pessoal. Eu vô-lo agradeço do fundo do coração, em nome do Espiritismo, sobretudo em nome da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, que se sentirá feliz pelas demonstrações de simpatia que tendes a bondade de lhe dar, e orgulhosa de contar em Lyon tão grande número de bons e leais confrades. Permiti-me retraçar, nalgumas palavras, as impressões que levo de minha breve passagem entre vós.[7]

Prudência, indulgência e firmeza de propósitos...

Se os meus princípios são falsos, por que não apresentam outros que os substituam, fazendo-os prevalecer? Ao que parece, entretanto, de modo geral eles não são julgados irracionais, já que encontram aderentes em tão grande número. Mas, não será exatamente isso que excita o mau humor de certas pessoas? Se esses princípios não encontrassem partidários, se fossem ridículos, desde o primeiro enunciado seguramente deles não se falaria.
E quanto aos outros, os que pretendem que não avanço bastante rapidamente, esses desejariam me empurrar, - com boa intenção, quero crer, pois é sempre melhor pressupor o melhor que o pior, em um caminho onde não quero me arriscar. Sem, pois, me deixar influenciar seja pelas ideias de uns, seja pelas de outros, sigo a rota que eu mesmo tracei: tenho um objetivo, vejo-o, sei como e quando o atingirei e não me inquietam os clamores dos que passam por mim.
Crede, Senhores, as pedras não faltam em meu caminho. Passo por cima delas, mesmo das mais altas e pesadas. Se se conhecesse a verdadeira causa de certas antipatias e de certos afastamentos, muitas surpresas nos aguardariam![8]

Fé na vida futura, respeito, humildade ante a lisonja e outras armadilhas da inveja

É ainda preciso, entretanto, mencionar as pessoas que são postas, relativamente a mim, em posições falsas, ridículas e comprometedoras, e que procuram se justificar, em última instância, recorrendo a pequenas calúnias: os que esperavam seduzir-me pelos elogios, crendo poder levar-me a servir aos seus desígnios e que reconheceram a inutilidade de suas manobras para atrair minha atenção; aqueles que não elogiei nem incensei e que isso esperavam de mim; aqueles, enfim, que não me perdoam por ter adivinhado suas intenções e que são como a serpente sobre a qual se pisa. Se todas essas pessoas decidissem se colocar, por um instante sequer, em uma posição extraterrena e ver as coisas um pouco mais do alto, compreenderiam bem a puerilidade de quanto as preocupa e não se espantariam com a pouca importância que a tudo isso dão os verdadeiros espíritas. É que o Espiritismo abre horizontes tão vastos que a vida corporal, curta e efêmera, se apaga com todas as suas vaidades e suas pequenas intrigas, ante o infinito da vida espiritual.
Não devo, entretanto, omitir uma censura que me foi endereçada: a de nada fazer para trazer de novo a mim as pessoas que se afastam. Isso é verdadeiro e a reprovação fundamentada; eu a mereço, pois jamais dei um único passo nesse sentido e aqui estão os motivos de minha indiferença. Aqueles que de mim se aproximam, fazem-no porque isto Ihes convém; é menos por minha pessoa do que pela simpatia que Ihes despertam os princípios que professo. Os que se afastam fazem-no porque não Ihes convenho ou porque nossa maneira de ver as coisas reciprocamente não concorda. Por que, então, iria eu contrariá-los, impondo-me a eles? Parece-me mais conveniente deixá-los em paz. Ademais, honestamente, carece-me tempo para isso. Sabe-se que minhas ocupações não me deixam um instante para o repouso. Além disso, para um que parte, há mil que chegam. Julgo um dever dedicar-me, acima de tudo, a estes e é isso que faço. Orgulho? Desprezo por outrem? Oh! Não! Honestamente, não! Eu não desprezo ninguém; lamento os que agem mal, rogo a Deus e aos Bons Espíritos que façam nascer neles melhores sentimentos;  e isso é tudo. Se retornam, são sempre recebidos com júbilo. Mas correr ao seu encalço, isso não me é possível fazer, mesmo em razão do tempo que de mim reclamam as pessoas de boa vontade, e, depois, porque não empresto a certos indivíduos a importância que eles a si próprios atribuem. Para mim, um homem é um homem, isto apenas! Meço seu valor por seus atos, por seus sentimentos, nunca por sua posição social. Pertença ele às mais altas camadas da sociedade, se age mal, se é egoísta e negligente de sua dignidade é, a meus olhos, inferior ao operário que procede corretamente, e eu aperto mais cordialmente a mão de um homem humilde, cujo coração estou a ouvir, do que a de um potentado cujo peito emudeceu. A primeira me aquece, a segunda me enregela.
Homens da mais alta posição honram-me com sua visita, porém nunca, por causa deles, um operário ficou na antecâmara. Muitas vezes, em meu salão, o príncipe se assenta ao lado do operário; se se sentir humilhado, eu direi que ele não é digno de ser espírita. Mas sinto-me feliz em dizer, eu os vi, muitas vezes, apertarem-se as mãos, fraternalmente, e, então, um pensamento me ocorria: "Espiritismo, eis um dos teus milagres; este é o prenúncio de muitos outros prodígios!"[9]

Tolerância, moderação, bondade, benevolência, singeleza, dedicação e amorosidade...

“Dependeria de mim abrir as portas da alta sociedade, porém nunca fui nelas bater. Isso exigiria um tempo que prefiro empregar mais utilmente. Coloco em primeira instância o consolo que é preciso oferecer aos que sofrem, erguer a coragem dos caídos, arrancar um homem de suas paixões, do desespero, do suicídio, detê-lo talvez no limiar do crime! Não vale mais isto do que os lambris dourados? Guardo milhares de cartas que para mim mais valem do que todas as honrarias da Terra e que olho como verdadeiros títulos de nobreza. Assim, pois, não vos espanteis se deixo partir aqueles que me dão as costas.
Tenho adversários, eu sei! Mas o número deles não é tão grande quanto poderia fazer supor a enumeração mencionada. Eles se encontram nos grupos que citei, mas são apenas indivíduos isolados e seu número pouca coisa é em comparação com os que desejam testemunhar-me sua simpatia. Além disso nunca conseguiram perturbar-me o repouso, nem uma vez sequer suas maquinações e suas diatribes me emocionaram e devo acrescentar que essa profunda indiferença de minha parte, o silêncio que oponho aos seus ataques, não é o que os exaspera menos. Por mais que façam, jamais conseguirão fazer-me sair da moderação e da regra que tenho por conduta. Nunca se poderá dizer que respondi à injúria com injúria. As pessoas que me conhecem na intimidade podem dizer se jamais os mencionei; se alguma vez, na Sociedade, foi dita uma única palavra, se foi feita uma única alusão relativamente a qualquer um deles. Mesmo pela "Revista” jamais respondi às suas agressões, se dirigidas à minha pessoa, e Deus sabe que elas não têm faltado!
De que adianta, ademais, seu malquerer? De nada! Nem contra a doutrina nem contra mim. A doutrina espírita prova, por sua marcha progressiva, que nada tem a temer. Quanto a mim, não ocupo nenhuma posição, por isso nada existe que me pode ser tirado; não peço nada, nada solicito e, assim, nada me pode ser recusado. Não devo nada a ninguém, desse modo nada há que me possa ser cobrado; não falo mal de ninguém, nem mesmo daqueles que o dizem de mim. Em que poderiam, então, prejudicar-me? É certo que se pode atribuir a mim o que eu não disse e isso já se fez mais de uma vez. Mas, aqueles que me conhecem são capazes de distinguir o que digo daquilo que não sou capaz de dizer e eu agradeço a quantos, em semelhantes circunstâncias, souberam responder por mim. O que afirmo, estou sempre pronto a repetir na presença de quem quer que seja, e quando afirmo não ter dito ou feito uma coisa, julgo-me no direito de ser acreditado.
Ademais, o que representa tudo isso em face do objetivo que nós, os Espíritas sinceros e devotados, perseguimos conjuntamente? Desse futuro imenso que se desenrola diante dos nossos olhos? Acreditai-me, Senhores, fora preciso ver como um roubo perpetrado contra a grande obra, os instantes que perdêssemos preocupados com essas mesquinharias. De minha parte agradeço a Deus por me haver, já aqui na Terra, concedido tantas compensações morais ao preço de tribulações tão passageiras, bem como pela alegria de assistir ao triunfo da doutrina espírita.
            Peço-vos perdão, Senhores, por vos haver, por tão longo tempo, entretido com assuntos relativos a mim, mas acredito útil estabelecer nitidamente esta posição, a fim de que vos seja possível saber em quem acreditar, de conformidade com as circunstâncias e para que possais estar convencidos de que minha linha de conduta está traçada e que dela nada me fará desviar. De resto, creio que destas observações, - abstração feita de minha pessoa - poderão resultar alguns ensinamentos úteis.[10]


“... Ele morreu esta manhã, entre 11 e 12 horas, subitamente, ao entregar um número da Revue a um caixeiro de livraria que acabava de comprá-lo; ele se curvou sobre si mesmo, sem proferir uma única palavra: estava morto... Paris, 31 de março de 1869.”[11]


[1] O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VI - O Cristo consolador  - Consolador prometido, item 4.
[2] Revista Espírita, dezembro de 1868 - Constituição transitória do Espiritismo
[3] Revista Espírita, junho de 1865 - Relatório do caixa do Espiritismo.
[4] Idem
[5] Revista Espírita, dezembro de 1868 - Constituição transitória do Espiritismo.
[6] Idem
[7] Revista Espírita, outubro de 1860- Banquete oferecido pelos Espíritas Lioneses ao Sr. Allan Kardec.
[8] Viagem Espírita em 1862 – Discursos pronunciados nas reuniões gerais dos espíritas de Lyon e Bordeaux - Discurso I
[9] Idem
[10] Viagem Espírita em 1862 – Discursos pronunciados nas reuniões gerais dos espíritas de Lyon e Bordeaux - Discurso I
[11] Catálogo Racional, Obras que podem server para fundar uma biblioteca espírita – Ed. Masdras, 2004.
http://www.ipeak.com.br/site/conteudo.php?id=237&idioma=1

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 149



Capítulo III

I - A Alma Após a Morte
149. Em que se transforma a alma no instante da morte?
— Volta a ser Espírito ou seja, retorna ao mundo dos Espíritos que ela havia deixado temporariamente.

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Comentários de Miramez da Obra Filosofia Espírita volume 3


Filosofia Espírita – Volume III
É isso que os desencarnados desejam sempre afirmar para os que estão na Terra, presos em corpo de carne: que a alma conserva depois da morte, a sua individualidade.
Quando ela descobre que não morreu, a sua alegria é intensa e a sua esperança é maior.
Desperta em seu coração um desejo ardente de voltar ao convívio familiar, bem como com seus amigos, e dizer que ninguém morre, que a vida
continua com amplitudes que os humanos, por vezes, desconhecem.
Acontece, muitas vezes, o aparecimento do que partiu para seus entes queridos, ou,quando não consegue isso, a alguns familiares que guardem fortes lembranças daquele queseguiu da espiritualidade. Essas provas surgem todos os dias, em locais variados, mas o aparecimento de espíritos aos desencarnados se registra em quase todos os lares, e isso
ocorre em todos os tempos da humanidade.
O corpo é um instrumento, cujo usuário é o Espírito. Uma vez abandonado pelo Espírito o corpo fenece; perdendo toda sua capacidade de com
unicação com os outros, o físico perde sua forma, desfazendo-se e voltando ao mundo de onde partiu, para tomar novas formas, aonde for chamado pela natureza. A alma não perde sua individualidade: ela abandona sua
vestes carnais e permanece em outro corpo sutil, que lhe é próprio para a continuação da imortalidade.
O que chamamos, com muita propriedade, de Espírito, é o seu instrumento de comunicação no mundo em que habita. Às vezes, permanece com a forma que tinha quandoencarnado, mas, pode mudá-la, usando a capacidade espiritual que a sua posição no mundo fez adquirir. O corpo espiritual é sensível ao pensamento do Espírito que, pela vontade, pode
transformá-lo como desejar. Se for chamado para trabalhar, e mesmo renascer em outromundo, o Espírito deixa o perispírito condizente co
m o ambiente em que viveu e formar-se outro, de acordo com a natureza do planeta que devera habitar, para estar ligado a lei de harmonia daquele planeta que lhe servira de casa por determinado tempo.
No entanto devemos compreender que os corpos dos Espíritos são diversos; quanto mais acendem em evolução, mais corpos surgem, como
instrumentos da sua engenhosa personalidade. As percepções crescem, pelo crescimento dos seus aparelhos espirituais. Ainda é cedo para que possamos compreender o valor e a ne cessidade dos corpos espirituais da
alma. Se já conhecemos alguma coisa neste sentido, ainda estamos no período preparatório da sabedoria espiritual.
A natureza perde parcimônia nos conhecimentos, porque a verdade surgira pela maturidade dos que a procuram. O seu maior serviço
é libertar as inteligências, doando a sabedoria e fazendo-se presente nos corações como amor. O que os homens precisam saber, e alguns já conhecem essa verdade, é que ninguém leva para o mundo espiritual o que possuide bens terrenos. Os verdadeiros valores que se carrega consigo são os valores morais. É nesse sentido que o Evangelho cresce, por ser ele o
maior celeiro de vida a nos ensinar e ajudar a despertar os talentos em nossos corações.Então, a nossa individualidade torna-se um
sol diante da vida.

João Nunes Maia – Miramez


segunda-feira, 31 de março de 2014

Vigia a Palavra(...)"A palavra é a expressão do pensamento que, por sua vez, em última análise, é tua própria identidade....

Vigia a Palavra

"Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disso passar vem do maligno."- Mateus 5-37

Não utilizes a palavra a esmo e não deixes de ser transparente em tuas opiniões.
O sofisma é sempre uma artimanha das trevas para ocultar a Verdade.
Jesus falava com simplicidade e, porventura, quando os apóstolos não revelavam imediata compreensão das parábolas, dispunha-se a explicá-las para que não lhes sobrepairasse qualquer dúvida no espírito.
A palavra é a expressão do pensamento que, por sua vez, em última análise, é tua própria identidade.
O verbo excessivo, por mais eloqüente e erudito, confunde, ao invés de esclarecer.
O Mestre foi claro quando sentenciou: "Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno."
A palavra é o instrumento do entendimento humano; os conflitos armados, a violência, e toda e qualquer expressão do mal entre os homens costumam ser antecedidos por ela.
Fala sempre modulando a tua voz em vibrações de paz.
Não converses além do que te seja necessário para confortar e esclarecer.
A palavra tem poder de indução hipnótica e de sugestão, capaz de induzir à ação os que ainda não lograram suficiente discernimento.
A responsabilidade de quem fala é quase compatível com a responsabilidade de quem faz e, não raro, chega mesmo a superá-la.
Os espíritos pseudo-sábios escondem a sua ignorância com discursos brilhantes.
Tanto quanto se faz indispensável vigiar a palavra em teus lábios, vigia os teus ouvidos...
Não ofertes sintonia ao verbo que não esteja a serviço do bem.
A palavra, através dos séculos, verbalizada ou escrita, tem sido cativeiro para a Humanidade, em seus anseios de conhecimento da verdade que liberta.
Pondera o que dizes e não te faças, consciente ou inconscientemente, instrumento do "maligno".
Haverás também de responder, mais tarde, pela menor palavra que pronunciaste de maneira inconseqüente e invigilante.

Irmão José psicografado por Carlos Baccelli

Não desanimar

Não desanimar

Cabe-nos não desanimar; prosseguir com o espírito voltado para o bem, de tal forma, que as paixões primitivas cedam lugar às peregrinas virtudes descendentes do amor.
Desesperada, a criatura humana suplica misericórdia, e os céus generosos fazem chover sobre a terra as messes de misericórdia e de encorajamento para a vida.
Não vos deixeis contaminar pelos desequilíbrios que grassam, pelo vírus do horror, que leva a vida aos patamares mais sofridos. Erguei-vos em pensamentos e em ação Àquele que nos prometeu estar conosco em qualquer circunstância para que pudéssemos ter vida e vida em abundância.
Filhos da alma, vossos guias espirituais adejam ao vosso lado como aves sublimes de ternura, aguardando a oportunidade de manter convosco intercâmbio iluminativo.
Não vos permitais o luxo da negativa às suas inspirações gloriosas. Não recalcitreis ante o espinho cravado nas carnes da alma de que necessitais momentaneamente.
Desde quando conhecestes Jesus, tendes o descer de demonstrar-lhe fidelidade e amor, basta-vos abrir os sentimentos de fraternidade e de misericórdia para com todos aqueles que sofrem, perdoando-vos os equívocos e perdoando as agressões que vos chegam ameaçadoras.
Ninguém a sós, em nome desses espíritas, que comparecem a este evento há cinquenta e nove anos sucessivamente.
Nós vos conclamamos à diretriz de segurança para uma existência de paz. Amar! Sede vós aqueles que amam. Rejeitados, menosprezados e até perseguidos, aureolai-vos no amor para que se exteriorizem os sentimentos sublimes do Cordeiro de Deus e em breve possamos ver bebendo no mesmo córrego, o lobo e o cordeiro, os bons e os ainda maus, fascinados pela água pura do Evangelho libertador.
Ide em paz, meus filhos, retornai aos vossos lares e buscai a luz da verdade que dissipa a ignorância e que anula a treva.
Jesus conta convosco na razão direta em que com Ele contamos. Abençoe-nos o incomparável amigo Jesus e dê-nos a sua bênção de paz.
Com muito carinho, o servidor humílimo e paternal de sempre,
 
Bezerra.
Psicofonia de Divaldo Pereira Franco, na conferência de
encerramento da 59ª Semana Espírita de Vitória da Conquista, em 9.9.2012.
Em 24.1.2014.

Documentário Allan Kardec com Dora Incontri. Imperdível!!!


domingo, 30 de março de 2014

Iluminação de Consciências"(...)O Filho do Homem, por isso mesmo, não é um remendão irresponsável, que sobre tecidos velhos e gastos costura pedaços novos, danificando mais a parte rasgada com um dilaceramento maior. A mensagem do Reino, mais do que uma promessa para o futuro, é uma realidade para o presente...."

Iluminação de Consciências

Natanael Ben Elias, o paralítico de Cafarnaum, acabara de ser completamente curado por Jesus, voltando a andar.

Todos estavam em festa, exceto o Mestre, que meditava seriamente.

Simão, buscando romper o silêncio de Jesus, então pergunta:

Por que dizes que não Te compreendemos, Rabi? Estamos todos tão felizes!

Simão, neste momento, enquanto consideras o Reino de Deus pelo que viste, Natanael, com alegria infantil, comenta o acontecimento entre amigos embriagados e mulheres infelizes.

Outros que recobraram o ânimo ou recuperaram a voz, entre exclamações de contentamento, precipitam-se nos despenhadeiros da insensatez, acarretando novos desequilíbrios, desta vez, irreversíveis.

Não creias que a Boa Nova traga alegrias superficiais, dessas que o desencanto e o sofrimento facilmente apagam.

O Filho do Homem, por isso mesmo, não é um remendão irresponsável, que sobre tecidos velhos e gastos costura pedaços novos, danificando mais a parte rasgada com um dilaceramento maior.

A mensagem do Reino, mais do que uma promessa para o futuro, é uma realidade para o presente.

Penetra o íntimo e dignifica, desvelando os painéis da vida em deslumbrantes cores...

Eu sei, porém, que Me não podeis entender, tu e eles, por enquanto. E assim será por algum tempo.

Mais tarde, quando a dor produzir amadurecimento maior nos Espíritos, Eu enviarei alguém em Meu nome para dar prosseguimento ao serviço de iluminação de consciências.

As sepulturas quebrarão o silêncio que guardam e vozes, em toda parte, clamarão, lecionando esperanças sob os auspícios de mil consolações.

Séculos se passaram depois destes dizeres preciosos.

A dor amadureceu muitos corações desnorteados, e novamente a Humanidade suplicou a Jesus pela cura de suas mazelas.

Os sepulcros foram rompidos. O silêncio dos aparentemente mortos foi quebrado, e os descobrimos vivos, imortais e reluzentes.

Sim, as estrelas caíram dos céus. Estrelas de primeira grandeza espiritual se uniram em uma constelação admirável, e voltaram seu feixe de luz poderoso para aTerra.

Os Espíritos falaram, ensinaram, provaram que a vida futura prometida por Jesus é real.

A iluminação de consciências, proposta por Jesus, ganhou uma dimensão nova e maior.

A mensagem do Cristo se faz novamente presente como uma proposta para o presente, para a renovação imediata, urgente.

Na grande transição que o planeta atravessa, são eles, os Missionários do Mestre, que semeiam a verdade em todos os povos.

O amor volta a tomar seu lugar de evidência, nas propostas elevadas que são apresentadas aqui e acolá.

Atiramos as roupas velhas no tempo, e vestimos a roupagem do ESPIRITISMO, entendendo que a vida do Espírito, esta sim, é a verdadeira.

O Consolador - o Espiritismo - já está entre nós... Escutemo-Lo!

Do livro: Primícias do Reino, Médium: Divaldo Franco
Amélia Rodrigues
http://www.caminhosluz.com.br/detalhe.asp?txt=6050

Brandos e Pacíficos "...Antes de outra atitude é necessário que nos pacifiquemos intimamente, a fim de que a brandura se exteriorize do nosso coração em forma de bênção....

Brandos e Pacíficos


A azáfama do dia cedera lugar a terna e suave tranqüilidade. As atividades fatigantes alongaram-se até as primeiras horas da noite, que se recamara de astros alvinitentes. Os últimos corações atendidos, à margem do lago, após a formosa pregação do entardecer, demandaram os seus sítios facultando que eles, a seu turno, volvessem à casa de Simão.

Depois do repasto simples, o Mestre acercou-se da praia em companhia do apóstolo afeiçoado e, porque o percebesse tristonho, interrogou com amabilidade:

- Que aflição tisna a serenidade da tua face, Simão, encobrindo-a com o véu de singular tristeza?

Havia na indagação carinhoso interesse e bondade indisfarçável.

Convidado diretamente à conversação renovadora, o velho pescador contestou com expressiva entonação de voz, na qual se destacava a modulação da amargura:

- Cansaço, Senhor. Sinto-me muitas vezes descoroçoado, no ministério abraçado... Não fosse por ti...

Não conseguiu concluir a frase. As lágrimas represadas irromperam afogando o trabalhador devotado em penosa agonia. E como o silêncio se fizesse espontâneo, ante o oscular da noite que os acalentava em festival de esperança, o companheiro, sentindo-se compreendido e, passado o volume inicial da emotividade descontrolada, prosseguiu:

- Não ignoro a própria inferioridade e sei que teu amor me convocou à boa nova a fim de que me renovasse para a luz e pudesse crescer na direção do amor de nosso Pai. Todavia, deparo-me a cada instante com dificuldades que me dilaceram os sentimentos, inquietando-me a alma.

Ante o olhar dúlcido e interrogativo do Amigo discreto adiu:

- É verdade que devemos perdoar todas as ofensas, no entanto, como suportar a agressividade que nos fere, quando pretende admoestar e que humilha, quando promete ajudar?

- Guardando a paz do coração - redargüiu o divino Benfeitor.

- Todavia - revidou o discípulo sensibilizado -, como conservar a paz, estando sitiado pela hipocrisia de uns, pela suspeita pertinaz de outros, sob o olhar severo das pessoas que sabemos em pior situação do que a nossa?

- Mantendo a brandura no julgamento - respondeu o Senhor.

- Concordo que a mansuetude é medicamento eficaz - redargüiu Pedro - , não obstante, não seria de esperarmos que os companheiros afeiçoados à luz nova também a exercitassem por sua vez? Quando a dúvida sobre nossas atitudes parte de estranhos, quando a suspeição vem de fora da grei, quando a agressividade nos chega dos inimigos da fé, podemos manter a brandura e a paz íntimas. Entrementes, sofrer as dificuldades apresentadas por aqueles que nos dizem amar, tomando parte no banquete do Evangelho, convém consideremos ser muito mais difícil e grave o cometimento...

Percebendo a angústia que se apossara do servo querido, o Mestre, paciente e judicioso, explicou:

- Antes de esperarmos atitudes salutares do próximo, cabe-nos o dever de oferecê-las. Porque alguém seja enfermo pertinaz e recalcitrante no erro, impedindo que a luz renovadora do bem o penetre e sare, não nos podemos permitir o seu contágio danoso, nem nos é lícito cercear-lhe a oportunidade de buscar a saúde. Certamente, dói-nos mais a impiedade de julgamento que parte do amigo e fere mais a descortesia de quem nos é conhecido. Ignoramos, porém, o seu grau de padecimento interior e a sua situação tormentosa. Nem todos os que nos abraçam fazem-no por amor, bem o sabemos... Há os que, incapazes de amar, duvidam do amor do próximo; os que mantendo vida e atitudes dúbias descrêem da retidão alheia; os que tropeçando e tombando descuram de melhorar a estrada para os que vêm atrás... Necessário compreendê-los todos e amá-los, sem exigir que sejam melhores ou piores, convivendo sob o bombardeio do azedume deles sem nos tornar-nos displicentes para com os nossos deveres ou amargos em relação aos outros...

- Ante a impossibilidade de suportá-los -sindicou o pescador com sinceridade -, sem correr o perigo de os detestar, não seria melhor que os evitássemos, distanciando-nos deles?

- Não, Simão - esclareceu Jesus. - Deixar o enfermo entregue a si mesmo será condená-lo à morte; abandonar o revel significa torná-lo pior... Antes de outra atitude é necessário que nos pacifiquemos intimamente, a fim de que a brandura se exteriorize do nosso coração em forma de bênção.

“Na legislação da montanha foi estabelecido que são bem-aventurados os brandos e pacíficos...

“A bem-aventurança é o galardão maior. Para consegui-lo é indispensável o sacrifício, a renúncia, a vitória sobre o amor-próprio, o triunfo sobre as paixões.

“Amar aos bons é dever de retribuição, mas servir e amar aos que nos menosprezam e de nós duvidam é caridade para eles e felicidade para nós próprios.”

Como o céu continuasse em cintilações incomparáveis e o canto do mar embalasse a noite em triunfo, o Mestre silenciou como a aspirar as blandícias da Natureza.

O discípulo, desanuviado e confiante, com os olhos em fulgurações, pensando nos júbilos futuros do Evangelho, repetiu quase num monólogo, recordando o Sermão da Montanha:

“Bem-aventurados os que são brandos, porque possuirão a Terra.

“Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus.”

E deixou-se penetrar pela tranqüilidade, em clima de elevadas reflexões.


Amélia Rodrigues

Psicografia de Divaldo Pereira Franco

Fonte: Blog Manancial de Luz

O Cristão que Voltou "...Não procures Jesus como admirador apaixonado, mas inútil... Torna ao plano terrestre, luta, chora, sofre e ajuda no círculo dos outros homens..."

O Cristão que Voltou

Conta-se que certo cristão de recuados tempos, após reconhecer a grandeza do Evangelho, tomou-se de profunda ansiedade pela completa integração com o Senhor. Ouvia, seguidos de paz celeste, as preleções dos missionários da Revelação Divina e, embora tropeçasse nos caminhos ásperos da Terra, permanecia em perene contemplação do Céu, repetindo:

Jamais serei como os outros homens, arruinados e falidos na fé! Oh! meu Salvador, suspiro pela eterna união contigo!

De fato, conquanto não guardasse o fingimento do fariseu, em pronunciando semelhantes palavras, fixava as lutas e fraquezas do próximo, com indisfarçável horror.

Assombravam-no os conflitos humanos e as experiências alheias repercutiam-lhe na alma angustiosamente. Não seria razoável refugiar-se na oração e aguardar o encontro divino?

Figurava-se-lhe o mundo velho campo lodoso, ao qual era indispensável fugir.

Concentrado em si mesmo, adotou o isolamento como norma a seguir no trato com os semelhantes. Desligado de todos os interesses do trabalho humano, vivia em prece contínua, na expectativa de absoluta identificação com o Mestre. Se alguma pessoa lhe dirigia a palavra, respondia receoso, utilizando monossílabos apressados. Pesados tributos de sofrimento exigia a vida de bocas levianas e insensatas e, por isso, temia oferecer opiniões e pareceres. Nas assembléias de oração, quase nunca era visto em companhia de outrem. Desviara-se de tudo e de todos na sua sede de Jesus Cristo. À noite, sonhava com a sublime união e, durante o dia, consagrava-se a longos exercícios espirituais, absorvidos na preparação do dia glorioso.

Nem por isso, contudo, a vida deixada de acenar-lhe ao espírito, convidando-lhe o coração ao esforço ativo. No lar, no templo, na via pública, o mundo chamava-o a pronunciamento em setores diversos. Entretanto, mantinha-se inflexível. Detestava as uniões terrestres, desdenhava os laços afetivos que unem os seres e, zombava de todas as realizações planetárias e punha toda a sua esperança na rápida integração com o Salvador. Se encontrava companheiros cogitando de serviços políticos, recordava os tiranos e os exploradores da confiança pública, asseverando que semelhantes atividades constituíam um crime. À frente de obrigações administrativas, afirmava que a secura e a dureza caracterizam a atitude dos que dirigem as obras terrenas e, perante os servidores leais em ação, classificava-os à conta de bajuladores e escravos inúteis. Examinando a arte e a beleza, desfazia-se em acusações gratuitas, definindo-as por elemento de
exaltação condenável da carne transitória e, observando-a ciência, menoscabava-lhe as edificações. Unir-se-ia a Jesus, - ponderava sempre – e jamais entraria em acordo com a existência no mundo.

Se companheiros abnegados lhe pediam colaboração em serviços terrestres, perguntava:

Para quê?

E acrescentava:

Os felizes são bastante endurecidos para se aproveitarem de meu concurso, e os infelizes bastante desesperados, merecendo, por isso mesmo, a purificação pela dor. Não perturbarei meu trabalho, seguirei ao encontro de meu Senhor. E de tal modo viveu apaixonado pela glória do encontro celeste que se retirou, um dia, do corpo, pela influência da morte, revestido de pureza singular. Na leveza das almas tranqüilas, subiu, orgulhoso de sua vitória, para ter com o Senhor e com Ele identificar-se para sempre.

No esforço de ascensão, passou por velhos desiludidos, mães atormentadas, pois sofredores, jovens sem rumo e espíritos informados de todas sorte... Não lhes deu atenção, todavia. Suspirava por Cristo, pretendia-lhe a convivência para a eternidade.

Peregrinou dias e noites, procurando ansiosamente, até que, em dado instante, lhe surgiu aos olhos maravilhados um palácio deslumbrante. Luzes sublimes banhavam-no todo e, lá dentro harmonias celestes se fazem ouvir em deliciosa surdina.

O crente ajoelhou-se e chorou de júbilo intenso. Palpita-lhe descompassado o coração amante. Ia, enfim, concretizar o longo sonho.

Contudo, antes que se dispusesse a bater junto à portaria resplandecente, apareceu-lhe um anjo, diante do qual se prosterna, extasiado e feliz. Quis falar, mas não pôde. A emoção embargava-lhe a voz, todavia, o mensageiro afagou-lhe a fronte e exclamou compassivo:

Jesus compadeceu-se de ti e mandou-me ao teu encontro.

Estamos no Reino do Senhor? – inquiriu, afinal, o crente venturoso.

Sim, respondeu o emissário angélico, - temos à frente o início de vasta região bem-aventurada do Reino.

Posso entrar? – indagou o cristão contente.

O anjo fixou nele o olhar melancólico e informou.

Ainda não meu amigo.

E ante o interlocutor, profundamente decepcionado, continuou:

Realizaste a fiel adoração do Mestre, mas não executaste o trabalho do Pai. Teu coração em verdade palpitou pelo Cristo, entretanto, Jesus não se enfeita de admiradores apaixonados como as árvores que se adornam de orquídeas. Não pede cortejadores para a sua glória e sim espera que todos os seus aprendizes sejam também glorificados. Por isso, em sua passagem pela Terra nunca se afirmou proprietário do mundo ou doador das bênçãos. Antes, atendeu a todos os sublimes deveres do serviço comum e convidou os homens a cumprir os superiores desígnios do nosso Eterno Pai. Não deixou os discípulos diretos, aos quais chamou amigos, na qualidade de flores ornamentais de sua doutrina e sim na categoria de sal da Terra destinado à glorificação do gosto de viver. Estabelecera-se longa pausa que o mísero desencarnado não ousou interromper. O mensageiro, porém, acariciando-o, com bondade, observou ainda:

Volta, meu amigo, e completa a realização espiritual! Não procures Jesus como admirador apaixonado, mas inútil... Torna ao plano terrestre, luta, chora, sofre e ajuda no círculo dos outros homens! A dor conferir-te-á dons divinos, o trabalho abrir-te-á portas benditas de elevação, a experiência encher-te-á o caminho de infinita luz e a cooperação entregar-te-á tesouros de valor imortal! Não necessitarás, então, procurar o Senhor, como quem busca um ídolo, porque o Senhor te procurará como amigo fiel! Volta e não temas!

Nesse momento, algo aconteceu de inesperado e doloroso. Desapareceram o palácio, o anjo e a paisagem de luz... Estranha escuridão pesou no ambiente e, quando o pobre desencarnado tornou a sentir o beijo da luz nos olhos lacrimosos, encontrava-se, no mesmo lar modesto de onde havia saído, ansioso agora por retomar o trabalho da realização divina noutra forma carnal.

Livro: Coletâneas do Além- Irmão X psicografado por Francisco Cândido Xavier
Fonte: http://www.caminhosluz.com.br/detalhe.asp?txt=6340