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domingo, 30 de março de 2014

A Fatalidade e Pressentimentos

Revista Espírita março de 1858
INSTRUÇÕES DADAS POR SÃO LUÍS

Um dos nossos correspondentes escreveu-nos o seguinte:

“Em setembro último, um barco ligeiro, fazendo a travessia de Dunquerque a Ostende, foi surpreendido por um temporal durante a noite. O barco virou e pereceram quatro dos oito homens que compunham a tripulação. Os outros quatro, em cujo número eu me achava, conseguiram manter-se sobre a quilha. Ficamos a noite inteira nessa horrível posição, sem outra perspectiva senão a morte, que se nos afigurava inevitável e da qual já sentíamos todas as angústias. Ao romper do dia, o vento nos empurrou para a costa e pudemos ganhar a terra a nado.
“Por que, nesse perigo, igual para todos, apenas quatro sucumbiram? Note que, a meu respeito, é a sexta ou sétima vez que escapo a um perigo tão iminente e mais ou menos nas mesmas condições. Sou realmente levado a pensar que mão invisível me protege. Que fiz eu para isso? Não sei muito; sou uma criatura sem importância e sem utilidade neste mundo e não me gabo de valer mais que os outros; longe disto: entre as vítimas do acidente havia um digno eclesiástico, modelo de virtude evangélica, e uma venerável irmã da congregação de São Vicente de Paulo, que ia cumprir uma santa missão de caridade cristã. Parece que a fatalidade representa um grande papel em meu destino. Os Espíritos não se achariam ali para alguma coisa? Seria possível conseguir deles uma explicação a respeito, perguntando-lhes, por exemplo, se são eles que provocam ou contornam os perigos que nos ameaçam?...”

Conforme o desejo de nosso correspondente, dirigimos as seguintes perguntas ao Espírito de São Luís, que se comunica de boa vontade, sempre que há uma instrução útil a ministrar.
1. ─ Quando um perigo iminente ameaça alguém, é um Espírito que dirige o perigo e, quando dele escapa, é outro Espírito que o desvia?
─ Quando um Espírito se encarna, escolhe uma prova; escolhendo-a, cria-se uma espécie de destino que não pode conjurar, desde que a ele se submeteu. Falo das provas físicas. Conservando seu livre-arbítrio sobre o bem e o mal, o Espírito é sempre livre de suportar ou rejeitar a prova. Vendo-o fraquejar, um bom Espírito pode vir em seu auxílio, mas não pode influir sobre ele de modo a dominar sua vontade. Um Espírito mau, isto é, inferior, mostrando-lhe e exagerando o perigo físico, pode abalá-lo e apavorá-lo, mas nem por isso a vontade do Espírito encarnado fica menos livre de qualquer entrave.
2. ─ Quando um homem está na iminência de ser vítima de um acidente, parece-me que o livre-arbítrio nada vale. Pergunto, pois, se é um mau Espírito que provoca tal acidente, do qual de algum modo é a causa e, no caso em que escape do perigo, se um bom Espírito veio em seu auxílio.
─ Os bons ou os maus Espíritos não podem sugerir senão pensamentos bons ou maus, segundo sua natureza. O acidente está marcado no destino do homem. Quando tua vida é posta em perigo, é sinal que tu mesmo o desejaste, a fim de te desviares do mal e te tornares melhor. Quando escapas ao perigo, ainda sob a influência do perigo que correste, pensas mais ou menos fortemente, conforme a ação mais ou menos forte dos bons Espíritos, em te tornares melhor. Sobrevindo um mau Espírito (e digo mau subentendendo o mal que nele ainda existe), pensas que igualmente escaparás a outros perigos e novamente te entregarás às tuas paixões desenfreadas.
3. ─ A fatalidade que parece presidir aos destinos materiais de nossa vida seria, então, um efeito de nosso livre-arbítrio?
─ Tu mesmo escolheste a tua prova; quanto mais rude for e melhor a suportares, tanto mais te elevas. Os que passam a vida na abundância e na felicidade humana são Espíritos fracos, que ficam estacionários. Assim, o número dos infortunados ultrapassa de muito o dos felizes deste mundo, de vez que em geral os Espíritos escolhem a prova que lhes dê mais frutos. Eles veem muito bem a futilidade de vossas grandezas e de vossos prazeres. Além disto, mesmo a vida mais feliz é sempre agitada, sempre perturbada, mesmo quando não o seja por meio da dor.
4. ─ Compreendemos perfeitamente esta doutrina, mas isto não explica se certos Espíritos têm uma ação direta sobre a causa material do acidente. Suponhamos que no momento em que um homem passa por uma ponte, a ponte desmorona. Quem levou o homem a passar por essa ponte?
─ Quando um homem passa por uma ponte que deve cair não é um Espírito que o impele. É o instinto de seu destino que o leva para ela.
5. ─ Quem faz a ponte desmoronar?
─ As circunstâncias naturais. A matéria tem em si as causas da destruição. No caso vertente, se o Espírito tiver necessidade de recorrer a um elemento estranho à sua natureza para mover as forças materiais, recorrerá de preferência à intuição espiritual. Assim, devendo desmoronar aquela ponte, tendo a água desajustado as pedras que a compõem ou a ferrugem roído as correntes que a sustentam, o Espírito, digamos, insinuará ao homem que passe por essa ponte, em vez de romper uma outra no momento em que ele passa. Aliás, tendes uma prova material do que digo: seja qual for o acidente, ocorre sempre naturalmente, isto é, as causas se ligam uma às outras e o produzem insensivelmente.
6. ─ Tomemos um outro caso, em que a destruição da matéria não seja a causa do acidente. Um homem mal intencionado dá-me um tiro; a bala apenas passa de raspão. Teria sido desviada por um bondoso Espírito?
─ Não.
7. ─ Podem os Espíritos advertir-nos diretamente de um perigo? Eis um fato que parece confirmá-lo: Uma senhora sai de casa e segue pela avenida. Uma voz íntima lhe diz: Volta para casa. Ela vacila. A mesma voz faz-se ouvir várias vezes. Então ela volta, mas, refazendo-se, exclama: Mas... que vim fazer em casa? Vou sair mesmo. Sem dúvida isto é efeito de minha imaginação. Então retoma o caminho. Dados alguns passos, uma viga que tiravam de uma casa bate-lhe na cabeça e ela cai desacordada. Que voz era aquela? Não era um pressentimento do que lhe ia acontecer?
─ Era o instinto. Aliás, nenhum pressentimento tem essas características: são sempre vagos.
8. ─ Que entendeis por voz do instinto?
─ Entendo que, antes de encarnar-se, o Espírito tem conhecimento de todas as fases de sua existência. Quando essas fases têm um caráter essencial, ele conserva uma espécie de impressão em seu foro íntimo e tal impressão, despertando ao aproximar-se o instante, torna-se pressentimento.

NOTA: As explicações acima se referem à fatalidade dos acontecimentos materiais. A fatalidade moral é tratada de maneira completa em O Livro dos Espíritos.

Fonte: http://www.ipeak.com.br/site/estudo_janela_conteudo.php?origem=521&idioma=1

Objetivos da Revista , por Kardec




Introdução de Kardec ao primeiro número da Revista de janeiro de 1858.

A rapidez com que em todas as partes do mundo se propagaram os estranhos fenômenos das manifestações espíritas é uma prova do interesse que despertam.

A princípio simples objeto de curiosidade, não tardaram em chamar a atenção de homens sérios que, desde o início, entreviram a inevitável influência que viriam a ter sobre o estado moral da sociedade. Cada dia se tornam mais populares as ideias novas que deles surgem, e nada lhes barrará o progresso, pela simples razão de que estes fenômenos estão ao alcance de todos, ou de quase todos, e nenhum poder humano lhes impedirá a manifestação. Se os abafam num ponto, aparecem em cem outros. Aqueles, pois, que neles descobrissem um inconveniente qualquer, seriam constrangidos, pela mesma força dos fatos, a lhes sofrer as consequências, como acontece às indústrias novas que, de começo, ferem interesses particulares, mas, ao final das contas, todos se acomodam, porque não poderia ser de outro modo.

O que não foi feito e dito contra o magnetismo! Entretanto, todos os raios lançados contra ele, todas as armas com que foi ferido, inclusive o ridículo, esbarraram ante a realidade e apenas serviram para colocá-lo em maior evidência. É que o magnetismo é uma força natural, e ante as forças naturais o homem é um pigmeu, semelhante a esses cachorrinhos que ladram inutilmente contra tudo quanto lhes mete medo.

Dá-se com as manifestações espíritas o mesmo que com o sonambulismo: se elas não se produzirem à luz do dia e publicamente, ninguém impedirá que ocorram na intimidade, pois cada família pode descobrir um médium entre os seus membros, desde as crianças até os velhos, bem como pode encontrar um sonâmbulo. Assim, quem poderá impedir que o primeiro que encontramos seja médium e sonâmbulo? Sem dúvida, os que o combatem não pensaram nisto. Insistimos: quando uma força está na Natureza, pode ser paralisada por um instante, mas nunca aniquilada! Apenas poder-se-á desviar o seu curso. Ora, a força que se revela no fenômeno das manifestações, seja qual for a sua causa, está na Natureza, assim como o magnetismo, e não será aniquilada, como o não será a força elétrica. O que é preciso é que seja observada e estudada em todas as suas fases, a fim de se deduzirem as leis que a regem. Se for um erro e uma ilusão, o tempo fará justiça; se for a verdade, esta é como o vapor: quanto mais comprimido, maior será a sua força de expansão.

Admiram-se de que enquanto na América só os Estados Unidos possuem dezessete jornais consagrados ao assunto, sem contar um sem-número de escritos não periódicos, a França, o país da Europa onde mais rapidamente as ideias se aclimataram, não possua nenhum[1]. Seria desnecessário contestar a utilidade de um órgão especial que ponha o público a par do progresso desta nova ciência e a premuna contra os exageros da credulidade, tanto quanto do cepticismo. É uma tal lacuna que nos propomos preencher com a publicação desta Revista, com o fito de oferecer um meio de comunicação a todos quantos se interessam por estas questões e de ligar, por um laço comum, os que compreendem a Doutrina Espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade evangélica para com todos.

Se se tratasse apenas de uma coleta de fatos, fácil seria a tarefa. Eles se multiplicam em toda parte com tal rapidez que não faltaria matéria, mas os fatos, por si sós, tornam-se monótonos pela repetição e, principalmente, pela similitude. O que é necessário ao homem que pensa é algo que lhe fale à inteligência. Faz poucos anos que se manifestaram os primeiros fenômenos e já estamos longe das mesas girantes e falantes que representaram sua infância. Hoje é uma Ciência que descobre todo um mundo de mistérios; que patenteia as verdades eternas apenas pressentidas por nosso espírito. É uma doutrina sublime que mostra ao homem o caminho do dever e descobre o mais vasto campo jamais apresentado à observação do filósofo. Nossa obra seria, pois, incompleta e estéril se nos mantivéssemos nos estreitos limites de uma revista anedótica, cujo interesse em breve teria passado.

Talvez nos contestem a denominação de Ciência, que damos ao Espiritismo. Ele não teria, sem dúvida e em nenhum caso, as características de uma Ciência exata, e precisamente nisso está o erro dos que o pretendem julgar e experimentar como uma análise química ou um problema de Matemática; já é bastante que seja uma Ciência filosófica. Toda Ciência deve basear-se em fatos, mas estes, por si sós, não constituem a Ciência. Ela nasce da coordenação e da dedução lógica dos fatos: é o conjunto de leis que os regem. Chegou o Espiritismo ao estado de Ciência? Se se trata de uma Ciência acabada, sem dúvida será prematuro responder afirmativamente, mas as observações já são hoje bastante numerosas para permitirem pelo menos deduzir os princípios gerais, onde começa a Ciência.

O exame raciocinado dos fatos e das consequências deles decorrentes é, pois, um complemento, sem o qual nossa publicação seria de medíocre utilidade e apenas ofereceria um interesse secundário a quem reflete e quer dar-se conta do que vê. Contudo, como nosso objetivo é chegar à verdade, acolheremos todas as observações que nos forem dirigidas e, tanto quanto o permitir o estado dos conhecimentos adquiridos, procuraremos resolver as dúvidas e esclarecer os pontos ainda obscuros. Nossa Revista será, assim, uma tribuna, na qual, entretanto, a discussão jamais deverá afastar-se das normas das mais estritas conveniências. Numa palavra, discutiremos, mas não disputaremos. As inconveniências de linguagem jamais foram boas razões aos olhos da gente sensata: é a arma daqueles que não possuem algo melhor, e que se volta contra quem a maneja.

Embora os fenômenos de que nos ocupamos se tenham produzido, nos últimos tempos, de maneira mais geral, tudo prova que têm ocorrido desde as eras mais remotas. Não acontece com os fenômenos naturais o mesmo que acontece nas invenções que acompanham o progresso do espírito humano, pois desde que estão na ordem das coisas, sua causa é tão antiga quanto o mundo e os seus efeitos devem ter-se produzido em todas as épocas. Portanto, o que hoje testemunhamos não é uma descoberta moderna: é o despertar da Antiguidade, mas da Antiguidade desembaraçada do envoltório místico que gerou as superstições; da Antiguidade esclarecida pela civilização e pelo progresso no campo das coisas positivas.

A consequência capital que decorre desses fenômenos é a comunicação que os homens podem estabelecer com os seres do mundo incorpóreo e, dentro de certos limites, o conhecimento que podem adquirir de seu estado futuro. O fato das comu­nicações com o mundo invisível acha-se, em termos inequívocos, nos livros bíblicos. Mas de um lado, para alguns cépticos, a Bíblia não é autoridade suficiente; do outro, para os crentes, são fatos sobrenaturais, suscitados por um favor especial da Divindade. Não representariam, então, para todo o mundo, uma prova da generalidade dessas manifestações, se as não encontrássemos em mil outras fontes diversas. A existência dos Espíritos e sua intervenção no mundo corpóreo é atestada e demonstrada, não como um fato excepcional, mas como um princípio geral, em Santo Agostinho, São Jerônimo, São João Crisóstomo e São Gregório Nazianzeno e muitos outros Pais da Igreja. Esta crença forma, além disso, a base de todos os sistemas religiosos. Os mais sábios filósofos da Antiguidade a admitiam: Platão, Zoroastro, Confúcio, Apuleio, Pitágoras, Apolônio de Tiana e tantos outros. Encontramo-la no mistério e nos oráculos, entre os gregos, os egípcios, os hindus, os caldeus, os romanos, os persas, os chineses. Vemo-la sobreviver a todas as vicissitudes dos povos, a todas as perseguições, e desafiar todas as revoluções físicas e morais da Humanidade.

Mais tarde a encontramos entre os adivinhos e feiticeiros da Idade Média; nos Willis e nas Valquírias dos escandinavos; nos Elfos dos teutões; nos Leschios e nos Domeschnios Doughi dos eslavos; nos Ourisks e nos Brownies da Escócia; nos Poulpicans e nos Tensarpoulicts dos bretões; nos Cemis dos caraíbas; numa palavra, em toda a falange de ninfas, gênios bons e maus, silfos, gnomos, fadas e duendes, com os quais todas as nações encheram o espaço.

Encontramos a prática das evocações nos povos da Sibéria, no Kamtchatka, na Islândia, entre os índios da América do Norte ou os aborígines do México e do Peru, na Polinésia e até entre os ignorantes selvagens da Nova Holanda.

Não será por alguns absurdos de que essa crença se cercou ou se revestiu em vários tempos e lugares que se há de desconhecer que parte de um mesmo princípio, mais ou menos desfigurado. Ora, uma doutrina não se torna universal, não sobrevive a milhares de gerações, não se implanta de um polo a outro, entre os povos mais diversificados e em todos os graus da escala social, se não estiver fundada em algo de positivo.

O que será esse algo? É o que no-lo demonstram as recentes manifestações. Procurar as relações possivelmente existentes entre essas manifestações e todas essas crenças é buscar a verdade.

A história da Doutrina Espírita é, de certo modo, a história do espírito humano. Teremos que estudá-la em todas as fontes, que nos facultarão um veio inesgotável de observações tão instrutivas quão interessantes, sobre os fatos geralmente pouco conhecidos. Esta parte nos dará oportunidade de explicar a origem de uma porção de lendas e de crenças populares que participam da verdade, da alegoria e da superstição.

No que concerne às manifestações atuais, relataremos todos os fenômenos patentes que testemunharmos ou que chegarem ao nosso conhecimento, sempre que nos parecerem merecedores da atenção dos nossos leitores. Do mesmo modo o faremos em relação aos efeitos espontâneos, por vezes produzidos entre pessoas alheias às práticas espíritas, que ora revelam um poder oculto, ora a independência da alma. Tais são as visões, as aparições, a dupla vista, os pressentimentos, os avisos íntimos, as vozes secretas, etc.

Ao relato dos fatos juntaremos a explicação, tal qual ressalta do conjunto dos princípios. A este respeito faremos notar que esses princípios são decorrentes do ensino dado pelos Espíritos, e que faremos sempre abstração de nossas próprias ideias. Não se trata, pois, de uma teoria pessoal, mas da que nos foi comunicada e da qual seremos simples intérpretes.

Largo espaço será igualmente reservado às comunicações escritas ou verbais dos Espíritos, desde que tenham um fim útil, assim como às evocações de personagens antigas ou atuais, conhecidas ou obscuras, sem desprezar as evocações íntimas que, muitas vezes, nem por isso são menos instrutivas. Numa palavra: abarcaremos todas as fases das manifestações materiais e inteligentes do mundo incorpóreo.

A Doutrina Espírita oferece-nos enfim a solução possível e racional de uma porção de fenômenos morais e antropológicos que testemunhamos diariamente e cuja explicação inutilmente buscaríamos em todas as doutrinas conhecidas. Nesta categoria colocaremos, por exemplo, a simultaneidade de pensamentos, as anomalias de certos caracteres, as simpatias e antipatias, os conhecimentos intuitivos, as aptidões, as propensões, os destinos que parecem marcas da fatalidade e, num quadro mais geral, o caráter distintivo dos povos, seu progresso ou sua degenerescência, etc.

À citação dos fatos juntaremos a pesquisa das causas que poderiam tê-los produzido. Da apreciação dos atos brotarão, naturalmente, ensinamentos úteis, quanto à linha de conduta mais conforme à sã moral.

Em suas instruções os Espíritos superiores têm sempre o objetivo de despertar nos homens o amor do bem pela prática dos preceitos evangélicos, por isso mesmo traçam-nos o pensamento que deve presidir à redação desta coletânea.

Como se vê, nosso quadro compreende tudo quanto se liga ao conhecimento da parte metafísica do homem. Estudá-la-emos no seu estado presente e no futuro, pois estudar a natureza dos Espíritos é estudar o homem, porque este um dia participará do mundo dos Espíritos. Eis por que adicionamos ao título principal, o subtítulo jornal de estudos psicológicos, a fim de dar a compreender toda a sua importância.

NOTA: Por mais abundantes que sejam nossas observações pessoais e as fontes onde as colhemos, nem dissimulamos as dificuldades da tarefa, nem nossa insuficiência. Para suplementá-la, contamos com o concurso benévolo de todos quantos se interessam por esses problemas. Seremos, pois, gratos pelas comunicações que nos forem transmitidas sobre os diversos assuntos de nossos estudos. Neste propósito chamamos a atenção para os dez pontos seguintes, sobre os quais nos poderão fornecer documentos:

1.º) Manifestações materiais ou inteligentes obtidas em reuniões a que estiveram presentes;

2.º) Fatos de lucidez sonambúlica e de êxtase;

3.º) Fatos de segunda vista, previsões, pressentimentos, etc.;

4.º) Fatos relativos ao poder oculto atribuído, com ou sem razão, a certas pessoas;

5.º) Lendas e crenças populares;

6.º) Fatos de visões e aparições;

7.º) Fenômenos psicológicos particulares que por vezes ocorrem no momento da morte;

8.º) Problemas morais e psicológicos a resolver;

9.º) Fatos morais, atos notáveis de devotamento e abnegação cuja propagação pode servir de exemplo útil;

10.º) Indicações de obras antigas ou modernas, francesas ou estrangeiras, nas quais se encontrem fatos relativos à manifestação de inteligências ocultas com a designação e, se possível, a citação das passagens. O mesmo no que concerne à opinião emitida sobre a existência dos Espíritos e suas relações com os homens, por autores antigos ou modernos, cujo nome e saber lhes dão autoridade.

Só publicaremos o nome das pessoas que nos enviarem comunicações se recebermos formal autorização.

[1] Até agora não existe na Europa senão um jornal consagrado à Doutrina Espírita ─ o Journal de l’âme, publicado em Genebra pelo Dr. Boessinger. Na América o único Jornal em francês é o Spiritualiste de la Nouvelle-Orléans, publicado por Barthès.


Fonte:http://www.ipeak.com.br/site/conteudo.php?id=164&idioma=1

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 148


148. Não é estranho que o materialismo seja uma conseqüência de estudos que deveriam, ao contrário, mostrar ao homem a superioridade da inteligência que governa o mundo? Deve-se concluir que esses estudos são perigosos?
— Não é verdade que o materialismo seja uma conseqüência desses estudos. É o homem que deles tira uma falsa conseqüência, pois ele pode abusar de tudo, mesmo das melhores coisas. O nada, aliás, os apavora mais do que eles se permitem aparentar, e os espíritos fortes são quase sempre mais fanfarrões do que valentes. A maior parte deles são materialistas porque não dispõem de nada para preencher o vazio. Diante desse abismo que se abre ante eles, mostrai-lhes uma tábua de salvação, e a ela se agarrarão ansiosamente.
Por uma aberração da inteligência, há pessoas que não vêem nos seres orgânicos nada mais que a ação da matéria, e a esta atribuem todos os nossos atos. Não vêem no corpo humano senão a máquina elétrica; não estudaram o mecanismo da vida senão no funcionamento dos órgãos; viram-na extinguir-se muitas vezes pela ruptura de um fio, e nada mais perceberam além desse fio; procuraram descobrir o que restava, e como não encontraram mais do que a matéria inerte, não viram a alma escapar-se e nem puderam pegá-la, concluíram que tudo estava nas propriedades da matéria, e que, portanto, após a morte, o pensamento se reduz ao nada. Triste conseqüência, se assim fosse: porque então o bem e o mal não teriam sentido, o homem estaria certo ao não pensar senão em si mesmo e ao colocar acima de tudo a satisfação dos prazeres materiais; os laços sociais estariam rompidos e os mais santos afetos destruídos para sempre. Felizmente, essas idéias estão longe de ser generalizadas; pode-se mesmo dizer que estão muito circunscritas, não constituindo mais do que opiniões individuais, porque em parte alguma foram erigidas em doutrina. Uma sociedade fundada sobre essa base traria em si mesma os germes da dissolução, e os membros se despedaçariam entre si, como animais ferozes.
O homem tem instintivamente a convicção de que tudo não se acaba para ele com a vida; tem horror ao nada; é em vão que se obstina contra a idéia da vida futura, e quando chega o momento supremo, são poucos os que não perguntam o que deles vai ser, porque a idéia de deixar a vida para sempre tem qualquer coisa de pungente. Quem poderia, com efeito, encarar com indiferença uma separação absoluta e eterna de tudo o que ama? Quem poderia ver, sem terror, abrir-se à sua frente o imenso abismo do nada, pronto a tragar para sempre todas as nossas faculdades, todas as nossas esperanças, e ao mesmo tempo dizer: — Qual! Depois de mim, nada, nada, nada mais que o nada; tudo se apagará da memória dos que sobreviverem a mim; dentro em breve nenhum traço haverá de minha passagem pela terra; o bem mesmo que eu fiz será esquecido pelos ingratos a quem servi; e nada para compensar tudo isso, nenhuma perspectiva, a não ser a do meu corpo devorado pelos vermes!
Este quadro não tem qualquer coisa de horroroso e de glacial? A religião nos ensina que não pode ser assim, e a razão o confirma. Mas uma existência futura, vaga e indefinida, nada tem que satisfaça o nosso amor do positivo. E é isso que, para muitos, engendra a dúvida. Está certo que tenhamos uma alma; mas o que é a nossa alma? Tem ela uma forma, alguma aparência? É um ser limitado ou indefinido? Dizem alguns que é um sopro de Deus; outros, que é uma centelha, outros, uma parte do Grande Todo, o princípio da vida e da inteligência. Mas o que é que tudo isso nos oferece? Que nos importa ter uma alma, se depois da morte ela se confunde com a imensidade, como as gotas d'água no oceano? A perda da nossa individualidade não é, para nós, o mesmo que o nada? Diz-se ainda que ela é imaterial. Mas uma coisa imaterial não pode ter proporções definidas, e para nós equivale ao nada. A religião nos ensina também que seremos felizes ou desgraçados, segundo o bem ou o mal que tenhamos feito. Mas qual é esse bem que nos espera no seio de Deus? É uma beatitude, uma contemplação eterna, sem outra ocupação que a de cantar louvores ao Criador? As chamas do inferno são uma realidade ou apenas um símbolo? A própria Igreja as compreende nesse último sentido; mas, então, que sofrimentos são esses? Onde se encontra o lugar de suplício? Em uma palavra, o que se faz e o que se vê, nesse mundo que nos espera a todos?
Ninguém, costuma-se dizer, voltou de lá para nos dar conta do que existe. Isto, porém, é um erro, e a missão do Espiritismo é precisamente a de nos esclarecer sobre esse futuro, a de nos fazer, até certo ponto, vê-lo e tocá-lo, não mais pelo raciocínio, mas através dos fatos. Graças às comunicações espíritas, isto não é mais uma presunção, uma probabilidade sobre a qual cada um pinta à vontade, que os poetas embelezam com suas ficções ou enfeitam de imagens alegóricas que nos seduzem. É a realidade que nos mostra a sua face, porque são os próprios seres de além-túmulo que nos vêm contar a sua situação, dizer-nos o que fazem, permitir-nos assistir, por assim dizer, a todas as peripécias da sua nova vida, e, por esse meio, nos mostram a sorte inevitável que nos está reservada, segundo os nossos méritos ou os nossos delitos. Há nisso alguma coisa de anti-religioso? Bem pelo contrário, pois os incrédulos aí encontram a fé, e os tíbios uma renovação do fervor e da confiança. O Espiritismo é o mais poderoso auxiliar da religião. E se assim acontece é porque Deus o permite, e o permite para reanimar as nossas esperanças vacilantes e nos conduzir ao caminho do bem, pelas perspectivas do futuro.

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Comentários do Livro Filosofia Espírita volume 3 por Miramez:


46. O ESTUDO E O PROGRESSO
0148/LE
O estudo sério não leva o homem ao materialismo; pelo contrário, quem pesquisa com sinceridade a vida, encontra a verdade. E para provar o que mencionamos, podemos constatar,nos bastidores da História Universal, maior quantidade de sábios espiritualistas do que o contrário. O homem de inteligência, frio no que toca ao Espírito, às vezes teme a pesquisa, ou
lhe falam mais alto o orgulho e a vaidade; não pode aceitar que alguém invisível esteja lhe inspirando a fazer algo de especial no que refere à
humanidade. Não sabe ele que ninguém descobre nada; tudo já se encontra às vistas de tod os, tudo já se encontra feito por Deus na programação universal da vida. Somos apenas instrumentos da Sua bondade, e muitas
descobertas feitas no mesmo instante em vários pontos do globo, por homens diferentes,provam esta afirmativa.
As verdades estão disseminadas, como que escritas nos fluídos cósmicos oriundos deDeus. O nosso progresso é filho do estudo permanente. Assim, Deus nos fez e nos ajuda acompreender Suas leis espirituais e eternas. Os homens que estudam e continuam a negar as suas procedências desvalorizam a si mesmos, mas, nem por isso deixam de ser eternos, na
eternidade do Criador. O tempo falar-lhes-á mais alto e, com a cooperação desse tempo,haverão de sentir e agradecer o despertamento para
a vida imortal. Futuramente, serão os mais sinceros propagadores desta verdade absoluta, da existência de Deus e da continuação
da vida.
No que tange à reencarnação, é o mesmo homem negando porque, sendo sábio do mundo e da nobreza reconhecida pela Terra, não dese
ja voltar a ela como um desconhecido.
Quer, mesmo sendo sábio, repetir o ato da criança quando faz um malfeito: esconder-se atrás da porta para não ser visto pelos pais. Ficará pres
o pelas suas próprias idéias até descobrir a verdade que o libertará da ignorância que o iludiu por tanto tempo.
É certo que o homem sem instrução pode possuir mais fé que o douto, por lhe faltar mais conhecimento e viver mais pela credibilidade.
A razão é, pois, uma transição perigosa em cada criatura, que ele quase sempre usa para o negativismo até a maturidade, quando começa
a surgir à intuição divina, fundindo na consciência a certeza da luz e a confiança nos poderes superiores.
A razão é falha, quando aparece o Espírito investido em modalidades diferentes do que é a matéria. É a mesma matéria quintessenciada, sob
as bênçãos de Deus. É o progresso da alma senão o despertamento, ascendendo para a Luz maior. É Deus em nós e nós em Deus,
sentindo a respirando a glória da vida.
Quem já despertou para a existência da alma, confirmada pela fé, não pode ser atingido pelas influências do materialismo e deixa Deus confirmar-se em seu coração pela presença do Cristo e vive com a consciência inundada de alegria e o coração irradiando amor.


Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 147


Capítulo II
III - Materialismo
147. Por que os anatomistas, os fisiologistas, e em geral os que se aprofundam nas Ciências Naturais, são geralmente levados ao materialismo?
— O fisiologista refere tudo ao que vê. Orgulho dos homens, que tudo crêem saber, não admitindo que alguma coisa possa ultrapassar o seu entendimento. Sua própria ciência os torna presunçosos. Pensam que a Natureza nada lhes pode ocultar.

Tradução Herculano Pires-Lake

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Comentário do Livro Filosofia Espírita volume 3 por Miramez:

45. DUALIDADE
0147/LE
Existem dois pólos que não se tocam, na visão humana que desconhece a vida do Espírito. Faltam ao moralismo sentidos que registram a existência do Espírito. O homem materialista vive e se preocupa somente com a vida
física. Mesmo que em sua mente surjam alguns pensamentos, como avisos de que a vida continua depois do túmulo, ele passa para o
esquecimento essas idéias, pelo medo ou orgulho, vaidade ou desinteresse, sem seconscientizar da sublime verdade de que ninguém morre, que a vida continua em todos os rumos da criação de Deus, A dualidade é norma da
segurança universal.
Para que a vida física se negamos a vida do Espírito? Concitamos os materialistas a se aprofundarem nas pesquisas, nos estudos espiritualistas, como que batendo às portas dasabedoria para que, ao serem abertas, encontrem umreino fabuloso de conhecimentos sobre asobrevivência da alma. “Conhece-te a ti mesmo”, recomenda um grande filósofo. Para
conhecermos a nós mesmos, necessário se faz aprofundarmo-nos em todas as ciências,principalmente na ciência da vida, naquilo que se encontra por detrás do visível. Os próprios sábios modernos já constataram que o que não se vê é o mais real.
Negar o que não se compreende é conduta dos néscios; estudar o que
não se sabe é dever dos Espíritos inteligentes. Os que amam a música e se entregam à conquista desta harmonia somente o fazem pelos processos onde a persistência e o estudo sério é a meta que não podem desconhecer.
Os homens que estudam o corpo humano, que desejam conquistar esse saber ondeestão tão visíveis os traços da inteligência suprema, deixam-se, quase sempre, ser tomadospelo orgulho e nada querem ver além da matéria. Quando descobrem algo que a humanidade desconhecia sobre as leis que governam a argamassa fisiológica, o orgulho os impede de reconhecer aí as mãos do Criador e a vaidade deixa de lado os sentimentos que falam da
paternidade que criou, de uma Sabedoria Suprema que
nos governa a todos. Desejam, por amor próprio, ficar somente nos efeitos, esquecendo a causa primária de todas as coisas. Mas,Deus, sendo todo bondade e amor, ainda assim os ajuda nos seus trabalhos que podem
auxiliar a humanidade e espera que, mais tarde, eles, os que dormem no que se refere aoEspírito, venham a acordar como tantos outros recon
hecendo o Sol da vida, a Central de luz que chamamos de Pai.
A existência de Deus e de todos os Espíritos criados por Ele se evidencia para quem a quer ver e sentir, em todos os fenômenos da naturez
a. Não pode existir a matéria sem o Espírito, nem o Espírito sem a matéria; a dualidade se completa para a glória da vida imortal.
De onde saiu o Espírito? Certamente que respondemos: de Deus.
De onde saiu a matéria? A resposta deve ser a mesma. Portanto, somos todos ir mãos, e desse princípio deve nascer o respeito e, nas mesmas linhas, o Amor. Certamente, somente o tempo pode abrir-nos os olhos,no sentido de conhecermos a verdade, aquela força que liberta todas as almas, fazendo-assentir no céu da consciência, a vida de Deus.


domingo, 16 de março de 2014

O MORDOMO INFIEL

O MORDOMO INFIEL
E' admirável a maneira simples e clara com que o Mestre da Galiléia abordava certos assuntos, tidos, até hoje, como complexos e difíceis de serem apreendidos e solucionados. Jesus tudo esclarecia em poucas e concisas palavras. Os homens, porém, acham que as medidas propostas pelo Instrutor e Guia da Humanidade, acerca de vários problemas sociais, são impraticáveis.

Mas a grande verdade, verdade que cada vez mais e mais se impõe, é que os homens não conseguem resolver seus perturbadores problemas pelos processos e meios que se afastam daqueles, indicados e preconizados por Jesus. E' excusado tergiversar e contornar os casos. Os homens hão-de chegar à conclusão de que só seguindo as pegadas daquele que "é o caminho da verdadeira vida", lograrão sair do caos em que se acham.

A diferença entre os métodos humanos e aqueles adotados pelo divino Mestre, está em que os homens experimentam, procurando acertar, enquanto que Jesus vai, seguro e certo, ferindo o alvo, sem vacilações nem delongas; está ainda em que os homens agem influenciados pelo egoísmo, ao passo que o Filho de Deus atua sempre iluminado pelas claridades do amor, visando ao bem coletivo.

Vamos, pois, meditar a Parábola do Mordomo Infiel. Vejamos como o Senhor a concebeu, segundo o relato de Lucas — Cap. XVI, l a 13.
"Havia um homem rico que tinha um administrador; e este lhe foi denunciado como esbanjador dos seus bens. Chamou-o, então, e lhe disse: Que é isto que ouço dizer de ti? dá conta da tua administração; pois já não podes mais ser meu administrador.

Disse o feitor consigo: Que hei-de fazer, já que o meu amo me tira a administração? Não tenho forças para cavar, e de mendigar tenho vergonha. Eu sei o que farei, para que, quando despedido do meu emprego, tenha quem me receba em suas casas. Convocando os devedores do seu amo, perguntou ao primeiro: Quanto deves ao meu amo ? Respondeu ele: Cem cados de azeite. Disse-lhe então: Toma a tua conta; senta-te depressa e escreve cinquenta.

Depois perguntou a outro: Quanto deves tu? Respondeu ele: Cem coros de trigo. Disse-Ihe: Toma a tua conta e escreve oitenta. E o amo, sabendo de tudo, louvou o mordomo infiel, por haver procedido sabiamente; porque os filhos do século são mais sábios na sua geração do que os filhos da luz. E eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da iniquidade, para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos.

Quem é fiel no pouco, também será no muito; e quem é infiel no pouco, também o será no muito. Se, pois, não fostes fiéis nas riquezas iníquas, quem vos confiará as verdadeiras? E se não fostes fiéis no alheio, quem vos dará o que é vosso?Nenhum servo pode servir a dois senhores; pois há-de aborrecer a um e amar a outro, ou há-de unir-se a este e desprezar aqueles. Não podeis servir a Deus e as riquezas.

Em tal importa, em sua literalidade, a Parábola do Mordo infiel. Para sermos sintéticos, como é aconselhável que sejamos em crônicas desta natureza, comecemos por interpretar as personagens que figuram neste conto evangélico. Quem é o rico proprietário? Onde a sua propriedade agrícola? Quem é o administrador infiel? Quem são os devedores beneficiados pela astúcia do mordomo demissionário?

O proprietário prefigura indubitavelmente Aquele que é a Causa Suprema e Soberana, Aquele que é a Causa donde procede o Universo: Deus. Ele é o Senhor, criador, plasmador e mantenedor dos seres, dos mundos e dos sóis. Nele vivemos e nos movemos, porque dele somos geração — como disse Paulo de Tarso.

A propriedade a que alude a parábola é o planeta que habitamos: a Terra. O mordomo infiel — somos nós; é o homem. A nossa infidelidade procede do fato de nos apossarmos dos bens que nos foram confiados para administrar. Somos mordomos dolosos porque praticamos o delito que juridicamente se denomina — apropriação indébita.

Deste caráter são todos os haveres que retemos em mãos, considerando-os nossa propriedade. A realidade, no entanto, é que daqui, da Terra, nada é nosso. Não passamos de simples administradores. Tanto assim, que o dia de prestação de contas chega para todos. E' o que na parábola representa — a demissão. Todo mordomo infiel será, com a morte, despedido da mordomia, despojando-se, então, muito a contragosto, dos bens materiais em cuja posse se achava.

A despeito dos homens saberem que é assim, visto como estão vendo, todos os dias, os abastados serem privados das suas riquezas, as quais passam a pertencer, temporariamente, a terceiros, eles dedicam o melhor de sua inteligência e dos seus esforços na conquista e na retenção dos bens temporais. Iludem-se, deixando-se sugestionar com a idéia de posse. E, nesse delírio, os homens vivem, porfiam e lutam há milênios, sem que se convençam de que tudo, neste mundo, é precário e instável.
Não só as riquezas e fazendas não nos pertencem, como não são igualmente nossos aqueles que estão ligados a nós pelos laços da carne e do sangue. A esposa diz: meu marido. Este, de igual modo, reportando-se à companheira, diz: minha esposa. De fato, porém, não é assim. O estado de viuvez em que ficam homens e mulheres reflete, penosamente, a grande verdade: daqui, nada é nosso.

Com que profundo e sagrado apego as mães dizem: meu filho! Eis que esse filho das suas entranhas, carne da sua carne e sangue de seu sangue, é chamado para o Além, e a mãe fica sem ele! O próprio corpo com que nos apresentamos, essa vestidura carnal que nos dá a forma sob a qual somos conhecidos, também não nos pertence, pois podemos ser privados da sua posse.

E' assim tudo neste meio em que ora vivemos: nada é nosso. Somos meros depositários e usufrutuários, por tempo limitado e incerto, de tudo que nos vem às mãos, inclusive parentes, amigos, mocidade, saúde, beleza até mesmo o indumento físico com que nos achamos vestidos.

Não obstante, todos nos apegamos às coisas terrenas, como se realmente constituíssem legítima propriedade nossa. O egoísmo age em nós como velho instinto de conservação, determinando nossa conduta. Pois bem, já que nos apossamos indevidamente da propriedade que nos foi confiada para administrar, façamos, então, como o mordomo da parábola em apreço. Que fez ele? Conquistou amigos com a riqueza do seu amo. De que maneira? Convocando os devedores daquele, e reduzindo as suas dívidas, para que, após a demissão do cargo que exercia, pudesse contar com amigos que o favorecessem.
O amo, sabendo desse procedimento, longe de censurar, louvou a prudência e a sabedoria do mordomo. E Jesus termina a parábola, dizendo: Assim, eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da iniquidade, para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles, nos tabernáculos eternos.

E' bastante claro o conselho do Mestre, o qual pode ser assim resumido: já que vos apoderais das riquezas terrenas como se fossem vossas, fazei ao menos como este mordomo — isto é, beneficiai os que sofrem, atentai para os necessitados, minorando as suas angústias e padecimentos. Toda vez, pois, que acudimos as necessidades do nosso próximo, reduzimos a conta dos devedores, de vez que toda a sorte de sofrimento importa, quase sempre, em resgate de débitos passados.
Procedendo desta maneira, quando, despojados dos bens terrenos, partirmos para os tabernáculos eternos, teremos ali quem nos receba e acolha com bondade e gratidão. Cumpre notarmos esta frase do Mestre: "Porque os filhos deste século são mais sábios na sua geração do que os filhos da luz. Quer isto dizer que o século, foi mais sábio, preparando o seu futuro, aqui no mundo, dos que os filhos da luz, no que respeita ao modo como procedem para assegurar o porvir que os espera após a morte.


Realmente, se os já esclarecidos sobre a vida futura agissem, procurando garantir a sua felicidade vindoura com o afã e o denodo com que os homens do século procedem no terreno utilitário, para satisfazerem suas ambições, certamente aqueles já teriam galgados planos superiores, deixando uma esteira de luz após a sua passagem por este orbe de trevas.
Basta considerarmos a soma dos esforços, de engenho, de arte, arrojo e sacrifício que os homens empregam na guerra, para ver como os filhos do século vão ao extremo, na loucura das suas ambições. Ora, o que não conseguiriam os filhos da luz, se, na esfera do bem, agissem com tamanha dedicação?
Razão tem o Mestre em proclamar que os homens do século são mais esforçados e diligentes, nas suas empresas, do que os filhos da luz em seus empreendimentos. Ratificando a assertiva de que toda riqueza é iníqua, Jesus borda as seguintes considerações : "Quem é fiel no pouco, também o será no muito; e quem se mostra infiel no pouco, por certo o será também no muito. Se, pois, não fostes fiéis nas riquezas iníquas, quem vos confiará as verdadeiras? E se não fostes fiéis no alheio, quem vos dará o que é vosso?

Nenhum servo pode servir a dois senhores: a Deus e às riquezas." Está visto que o pouco, o iníquo e o alheio — que nos foram confiados — representam os bens terrenos; ao passo que o muito, as nossas legítimas riquezas estão expressas nos dons do espírito — tais como a sabedoria e a virtude. Estes, porém, só nos serão concedidos quando o merecermos, isto é, quando, experimentados no pouco, tenhamos dado boas contas.

Conforme vemos, a moralidade desta parábola é clara e edificante, envolvendo interessante caso de sociologia. Quando os homens se inteirarem de seu espírito, deixarão de ser ávidos e cúpidos, prestando o seu concurso aos menos favorecidos, não com aquela jactância e vaidade dos que buscam aplausos da sociedade, nem com a falsa visão dos que pretendem negociar com a Divindade uma posição de destaque no Céu —, mas como o cumprimento de um dever natural, de quem sabe que os bens terrenos não constituem privilégio de ninguém, mas devem ser utilizados por todos os filhos de Deus que envergaram a libré da carne neste mundo, a fim de resgatar as culpas do passado, elaborando, ao mesmo tempo, as premissas de um futuro auspicioso.

Ao gesto de dar esmolas, eivado de egoísmo, e, não raro, de hipocrisia, teremos a idéia de Justiça, derivada da compreensão das responsabilidades assumidas pelos detentores de riquezas, provindas desta ou daquela origem, pouco importa, visto como, consoante o critério evangélico, elas são sempre iníquas. E o meio de justificá-las está em proceder como o mordomo infiel, reduzindo a conta dos devedores, isto é, minorando as angústias materiais do próximo.

São esses os ensinamentos que nos dão os Espíritos do Senhor, que são as virtudes do Céu. Eles assim agem no desempenho do mandato que lhes foi confiado, consoante a seguinte promessa de Jesus:— "Em tempo oportuno, eu vos enviarei o Espírito da Verdade. Ele vos lembrará as minhas palavras e vos revelará novos conhecimentos, à medida que puderdes comportá-los."

Essa plêiade de Espíritos está em atividade. Não há forças nem traças humanas capazes de sustar a sua ação, a qual se exercerá; mau grado os interesses contrariados. Sua finalidade é esclarecer as consciências, revivendo, em espírito e verdade, a doutrina inconfundível de Jesus, o único Mestre, Senhor e Guia da Humanidade, luz do mundo e caminho da verdadeira vida!

Vinícius 
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QUE É A VERDADE?

QUE É A VERDADE?
''Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade ?" (João, 18:38)
Afirma o Evangelho de João que, ao entrar Pilatos na audiência, após um ligeiro colóquio com Jesus Cristo, perguntou-lhe: "Logo tu és rei?", indagação que mereceu do Mestre a seguinte resposta: "Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz".
Face a uma resposta de tamanha grandeza, Pilatos limitou-se a perguntar-lhe: "Que coisa é a Verdade?".
Entretanto, como o obscurantismo e os interesses mundanos sempre foram os maiores inimigos da verdade, houve naquela hora um início de tumulto no pátio do Pretório, provocado pelos fanáticos que ali estavam sob a égide dos escribas, dos fariseus e daqueles que tinham nas mãos os poderes religiosos, todos eles interessados na crucificação do tão esperado Messias.
A pergunta ficou, portanto, sem resposta, uma vez que as trevas se fazem sentir sempre, nos momentos psicológicos, em todos os lugares onde a luz do esclarecimento ameaça brilhar.
Talvez o Mestre não quisesse discorrer sobre a verdade com um homem que não a podia compreender, pois, minutos após, apesar de não ver em Jesus qualquer crime, não trepidou em entregá-lo nas mãos dos seus detratores para que o levassem ao sacrifício. Qualquer elucidação sobre a verdade também não interessava aos Espíritos trevosos, interessados na consumação do hediondo sacrifício da cruz.
Evidentemente, Pilatos não tinha qualquer noção sobre o que fosse a verdade. A verdade apregoada pelos judeus não calava bem aos olhos do procônsul romano. O representante do Império não podia aceitar como expressão da verdade os seguintes ensinamentos ministrados pelos escribas:
- Teria o mundo sido criado em seis dias?
- Teriam Adão e Eva sido os primeiros habitantes da Terra?
- Teria realmente Josué conseguido parar o movimento do sol para poder completar um morticínio?
- Como poderia Moisés receber do Alto um mandamento que ordenava o "não matarás", e ele mesmo ordenava verdadeiras matanças de criaturas humanas?
- Se Caim matou Abel e saiu pelo mundo, não existindo qualquer outra mulher, como poderia ele constituir família e ter descendentes?
- Teria realmente Jonas vivido três dias e três noites no ventre de uma baleia?
- Poderia a mulher de Lot transformar-se numa estátua de sal?
Com que técnica poderia Noé ter construído uma arca tão descomunal que pudesse abrigar em seu interior um casal de cada espécie vivente na Terra? Como poderia ele conciliar dentro dela animais tradicionalmente inimigos bem como alimentá-los durante quarenta dias?
Desconhecendo Pilatos a interpretação dessas narrativas o bafejo do Espírito, é evidente que não podia também aceitar como verdadeiras .
De forma idêntica, não podia o Procônsul entender como poderia ser "eleita" de Deus uma casta sacerdotal eivada de sentimentos felinos e de interesses profundamente político mundanos.
Como conciliar os atos, maus e cheios de rapinagem desses homens, com os resplendores da verdade? Uma religião que se baseava nas tradições inócuas, nos atos exteriores do culto, no ódio e na vingança, jamais poderia ter qualquer parentesco com o que é apregoado como verdade. Se Jesus chamou os escribas e fariseus de hipócritas, como poderiam eles ser lídimas expressões dessa mesma verdade?
O Espiritismo representa o advento do Consolador prometido e, como tal, o seu papel é de restabelecer na Terra as primícias da verdade. Evidentemente, quando ele se consolidar definitivamente no seio dos povos, ruirão por terra todos os sistemas e métodos alicerçados sobre a mentira, Tudo aquilo que não for representativo da verdade, será removido dos seus pedestais.
Não tendo Jesus Cristo a oportunidade de esclarecer Pilatos sobre o que é a verdade, o Espiritismo vem agora, na hora propícia, quando os tempos são chegados, fazer com que a luz da verdade possa iluminar os horizontes do mundo, onde, até agora, somente tem prevalecido a mentira, o mistério, o orgulho, a vaidade, o fanatismo, a hipocrisia, a intolerância e o ódio.
O Cristo poderá, então, através das vozes que emanam dos Espíritos, responder não somente a Pilatos, mas a todos os homens o que é a verdade.
Paulo A. Godoy
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Imitação do Evangelho (...)"Com esta obra o edifício começa a destacar-se e já se pode entrever a cúpula desenhando-se no horizonte"...


"Imitação do Evangelho"
Ségur, 9 de agosto de 1863 — Médium, o Sr. d'A...
NOTA. — A ninguém comunicara eu o objeto da obra em que estava trabalhando; guardei tanto segredo acerca do título, que lhe dei, que o próprio editor, o Sr. Didier, só veio a saber dele quando a foi imprimir. O título era, na primeira edição, Imitação do Evangelho. Mais tarde, porém, devido à observação do Sr. Didier e de outros, foi substituído por este: O Evangelho segundo o Espiritismo. Assim pois as reflexões contidas nas comunicações seguintes não podiam ser o resultado de idéias preconcebidas do médium.
P. Que pensais da nova obra em que, atualmente, trabalho?
R. Este livro de doutrina terá influência considerável. Tu atacas as questões capitais e não somente o mundo religioso encontrará nele as máximas, que lhe são necessárias, mas a vida prática das nações obterá excelentes instruções.
Fizeste bem em tratar de questões de alta moral prática sob o ponto de vista do interesse geral, dos interesses sociais e dos religiosos. A dúvida precisa ser destruída; a Terra e a sua população civilizada estão preparadas; há longo tempo os teus amigos do espaço a tem roteado: lança pois a semente que te confiamos, porque é tempo de fazer a Terra gravitar na ordem radiante das esferas para sair da penumbra e do nevoeiro, que obscurece as inteligências.
Acaba a tua obra: conta com a proteção do teu guia — guia de todos nós — e com o concurso devotado dos mais fiéis Espíritos, em cujo número podes contar-me.
P. Que dirá dela o clero?
R. Clamará heresia porque atacas as penas eternas e outros pontos sobre os quais apóiam o seu crédito e influência. Clamará tanto mais quanto mais se sentir ferido do que pela publicação de O Livro dos Espíritos, cujos principais dados ele pode, em rigor, aceitar. Agora porém vais entrar em nova senda, pela qual o clero não poderá acompanhar-te.
O anátema secreto tornar-se-á oficial e os espíritas serão, como os judeus e os pagãos, excomungados pela Igreja romana. Em compensação verão crescer o seu número na medida dessas perseguições, principalmente vendo-se o clero acusar de demoníaca uma doutrina, cuja moralidade brilhará, como um raio de luz do sol, com a publicação do teu novo livro e dos que se seguirem.
Aproxima-se a hora em que deverás abertamente declarar o que é o Espiritismo e mostrar a todos onde está a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo; aproxima-se a hora em que, à face do céu e da terra, deverás proclamar o Espiritismo como única tradição verdadeiramente cristã, única instituição realmente divina e humana. Escolhendo-te, conheciam os Espíritos a solidez das tuas convicções e que a tua fé, como um muro de aço, resistiria a todos os ataques. Entretanto, amigo, se a tua coragem não fraquejou ao peso da árdua tarefa, saibas que até hoje só comestes o pão alvo e que, agora, vão começar as dificuldades.
Sim, caro mestre, aparelha-se a grande batalha; o fanatismo e a intolerância, irritados pelos êxitos da tua propaganda, vão atirar sobre ti e os teus com armas envenenadas. Prepara-te para a luta. Tenho confiança em ti, como tens em nós, porque a tua fé é das que transportam as montanhas e fazem caminhar por cima das águas. Coragem pois e que a tua obra se complete.
Conta conosco e, principalmente, com o grande Espírito do Mestre de todos, que te protege de maneira muito particular.(113)
(113) Esta mensagem mostra sem rebuços, numa hora histórica do Espiritismo, que a natureza da doutrina é essencialmente religiosa. Por outro lado, reafirma a ligação do Espiritismo com o Cristianismo, já revelada por Kardec desde O Livro dos Espíritos. Veja-se com atenção o pequeno trecho que grifamos acima. (N. do Rev.)

Continuação:

"Imitação do Evangelho"
Paris, 14 de setembro de 1863.
NOTA. — Havia solicitado uma comunicação, pedindo que fosse enviada para o meu retiro de Sainte-Adresse:
"Quero falar-te de Paris, conquanto não haja nisto utilidade alguma, porque posso fazê-lo aí, visto que o teu cérebro recebe as nossas inspirações com uma facilidade que não imaginas.
"A nossa ação, especialmente a do Espírito de Verdade(114) é constante sobre ti, e tal, que não podes fugir-lhe. É por isso que não entrarei em inúteis minudências sobre o plano da tua obra, que tens de todo modificado, de acordo com os meus ocultos conselhos. Compreendes agora a razão por que nos era preciso ter-te afastado de qualquer preocupação, que não fosse a da doutrina.
"Uma obra como a que, juntos, elaboramos, requer isolamento e o mais completo recolhimento. Acompanho, com vivo interesse, os progressos do teu trabalho, que é um grande passo para a frente e abre ao Espiritismo a larga via para as aplicações úteis à sociedade.
"Com esta obra o edifício começa a destacar-se e já se pode entrever a cúpula desenhando-se no horizonte. Continua pois sem impaciência e sem fadiga; o monumento será concluído a seu tempo.
"Já te entretivemos com questões incidentes, quais as religiosas. O Espírito de Verdade falou-te da leva de broquéis, que se faz neste momento. Estas hostilidades previstas são necessárias para despertar a atenção dos homens, que, tão facilmente, desdenham as coisas sérias. Aos soldados, que se batem pela santa causa, virão incessantemente juntar-se novos combatentes, cujas palavras e escritos farão sensação e levarão às falanges adversas a perturbação e a confusão.
"Adeus, caro companheiro de outrora, fiel discípulo da verdade; vai continuando nessa vida a obra que, outrora, juramos, nas mãos do Grande Espírito, que te ama e eu venero, consagrar as nossas forças e existências até concluí-la.
"Eu te saúdo."
Observação. — O plano da obra tinha de fato sido completamente modificado, o que não podia saber o médium, achando-nos, ele em Paris e eu em Sainte-Adresse. Tampouco podia ele saber que o Espírito de Verdade me havia falado em leva de broquéis do bispo d'Alger e de outros. Todas estas circunstâncias eram, propositadamente, trazidas à cena, para que eu me confirmasse na ciência de que os Espíritos tomavam parte nos meus trabalhos.
(114) O texto francês diz: l'Esprit de Verité. É a primeira vez nas notas de Kardec que o nome desse Espírito se define de perfeito acordo com a tradição evangélica. Chegara a hora. (N. do Rev.)

Obras Póstumas
http://www.centroespirita.com.br/literatura/obraspostumas/pagina033_01.asp

Dissertações espíritas - Ontem, hoje e amanhã "Moisés é o tempo passado; o Cristo, o tempo presente; o Messias a vir, que é o amanhã..."


Revista Espírita 1868 » Maio » Dissertações espíritas - Ontem, hoje e amanhã

Comunicação verbal em sonambulismo espontâneo. Médium Sr. Dubois.

Lyon, 2 de fevereiro de 1868,
Onde estamos hoje? Onde está a luz? Tudo é sombrio, tudo está turvo ao redor de nós. Ontem era o passado; amanhã será o futuro; hoje é o presente... O que distingue estes dias? Vivemos ontem, continuamos vivendo hoje, viveremos amanhã, e sempre no mesmo círculo. De onde sai, então, esta Humanidade, e para aonde vai ela? Mistério que só será esclarecido amanhã.
Moisés é o tempo passado; o Cristo, o tempo presente; o Messias a vir, que é o amanhã, ainda não apareceu... Moisés tinha que combater a idolatria; o Cristo, os fariseus; o Messias a vir terá também os seus adversários: a incredulidade, o ceticismo, o materialismo, o ateísmo e todos os vícios que abatem o gênero humano... Três épocas que marcam o progresso da Humanidade; parênteses filiais que se sucedem um ao outro; ontem era Moisés, hoje é o Cristo e amanhã será o novo Messias.
Digo que é o Cristo hoje, porque é a sua palavra, a sua doutrina, a sua caridade, todos os seus sublimes ensinamentos devem espalhar-se por toda parte; porque, vós mesmos o vedes, a Humanidade não progrediu muito. Apenas dezoito séculos nos separam do Cristo: dezoito séculos de trevas, de tirania, de orgulho e de ambição.
Considerai o passado, o presente, amanhã contemplareis o vosso futuro... Idólatras do passado, fariseus do presente, adversários do amanhã, a luz brilha para todos os povos, para todos os mundos, para todos os indivíduos, e não quereis vê-la!
Criatura, tu desanimas hoje, que é o presente; tu esperas a realização dos prodígios anunciados; tu os verás se realizarem. Em breve toda a Terra tremerá... O século XX ofuscará o brilho dos séculos passados, porque ele verá a realização do que foi predito.
O Messias que deve presidir ao grande movimento regenerador da Terra já nasceu, mas ainda não revelou a sua missão e não nos é permitido dizer nem o seu nome nem o país onde ele habita. Ele anunciar-se-á por suas obras, e os homens tremerão à sua voz potente, porque o número dos justos ainda é muito pequeno.
Ligai-vos à matéria, homens egoístas e ambiciosos que não viveis senão para satisfazer as vossas paixões e os vossos desejos mundanos. O tempo é curto para vós; tende-o, enlaçai-o, porque ontem é passado, hoje se põe e em breve será amanhã.
Vamos! fariseu do presente, tu esperas sempre. Que ronque o trovão, tu não te espantas diante do relâmpago precursor que vem deslumbrar os teus olhos. Tu que te comprazes no egoísmo e no orgulho, que persistes no passado e no presente, teu futuro é ser arrojado para um outro mundo, para que teu Espírito possa chegar um dia à perfeição a que Deus te chama.
Vós, espíritas, que estais aqui, que recebeis instruções dos Espíritos, sede pacientes, dóceis, conscientes de vossos atos; não vacileis; esperai com calma esse amanhã que vos deve livrar de todas as perseguições. Deus, para o qual nada é oculto, que lê nos corações, vos vê e não vos abandonará. A hora se aproxima, e em breve estaremos no amanhã.
Mas esse Messias que deve vir é o próprio Cristo? Pergunta difícil de compreender no momento presente, e que amanhã será esclarecida. Como um bom pai de família, Deus, que é todo sabedoria, não impõe todo o trabalho a um só de seus filhos. Ele atribui a cada um a sua tarefa, segundo as necessidades do mundo para onde os envia. Há que concluir que o novo Messias não será tão grande nem tão poderoso quanto o Cristo? Seria absurdo; mas esperai que soe a hora para compreender a obra dos mensageiros invisíveis, que vieram varrer o caminho, porque os Espíritos fizeram um imenso trabalho. É o Espiritismo que deve remover as grandes pedras que poderiam dificultar a passagem daquele que deve vir. Esse homem será poderoso e forte, e numerosos Espíritos estão na Terra para aplainar o caminho e fazer cumprir o que foi predito.
Esse novo Messias será chamado o Cristo? É uma pergunta a que não posso responder. Esperai até amanhã. Quantas coisas eu teria ainda a vos revelar! Mas eu paro, porque o dia de amanhã ainda não aparece. Estamos apenas antes da meia-noite.
Amigos que estais aqui, todos animados pelo desejo do vosso adiantamento moral, trabalhai sobre vós mesmos pela vossa regeneração, a fim de que o Mestre vos encontre preparados. Coragem, irmãos, porque o vosso esforço não será perdido. Trabalhai para quebrar os laços da matéria que impedem o Espírito de progredir.
Tende fé, porque ela conduz o homem com segurança ao fim de sua viagem. Tende amor, porque amar aos seus irmãos é amar a Deus. Vigiai e orai: a prece fortalece o Espírito que se deixa tomar pelo desânimo. Pedi ao vosso Pai celeste a força para triunfardes ante os obstáculos e as tentações. Armai-vos contra os vossos defeitos; mantende-vos prontos, porque o amanhã não está longe. A aurora do século marcado por Deus para a realização dos fatos que devem mudar a face deste mundo começa a surgir no horizonte.
O ESPÍRITO DA FÉ.

ALLAN KARDEC

O que é o Espiritismo segundo Kardec e os Espíritos

O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que decorrem dessas mesmas relações.
Podemos defini-lo assim: O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal. (Allan Kardec, O que é o Espiritismo, Preâmbulo.)
  ♦ ♦ 
 O Espiritismo é, sem dúvida, uma ciência de observação, mas é, talvez mais ainda, uma ciência de raciocínio, e o raciocínio é o único meio de fazê-lo progredir e triunfar de certas resistências. Este fato só é contestado porque não é compreendido. A explicação lhe tira todo o caráter maravilhoso, fazendo-o entrar nas leis gerais da Natureza. Eis por que vemos diariamente criaturas que nada viram e creem, apenas porque compreendem, enquanto outras viram e não creem, porque não compreendem. Fazendo entrar o Espiritismo na trilha do raciocínio, tornamo-lo aceitável para aqueles que querem conhecer o porquê e o como de todas as coisas, e o número deles é grande neste século, porque a crença cega já não está mais nos nossos costumes. Ora, se tivéssemos apenas indicado a rota, teríamos a consciência de haver contribuído para o progresso desta Ciência nova, objeto de nossos estudos constantes. (Allan Kardec, Revista Espírita, agosto de 1859, Mobiliário de Além-túmulo).
 ♦ ♦ 
O Espiritismo é uma doutrina moral que fortifica os sentimentos religiosos em geral e se aplica a todas as religiões. Ele é de todas, e não é de nenhuma em particular. Por isso não diz a ninguém que a troque. Deixa a cada um a liberdade de adorar Deus à sua maneira e de observar as práticas ditadas pela consciência, pois Deus leva mais em conta a intenção do que o fato. Ide, pois, cada um ao templo do vosso culto, e assim provai que vos caluniam, quando vos taxam de impiedade. (Allan Kardec, Revista Espírita, janeiro de 1862, Resposta à mensagem de Ano Novo dos Espíritas lioneses.) 
♦ ♦  
Espiritismo é a ciência nova que vem revelar aos homens, por meio de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e as suas relações com o mundo corpóreo. Ele no-lo mostra, não mais como coisa sobrenatural, porém, ao contrário, como uma das forças vivas e sem cessar atuantes da Natureza, como a fonte de uma imensidade de fenômenos até hoje incompreendidos e, por isso, relegados para o domínio do fantástico e do maravilhoso. É a essas relações que o Cristo alude em muitas circunstâncias e daí vem que muito do que ele disse permaneceu ininteligível ou falsamente interpretado. O Espiritismo é a chave com o auxílio da qual tudo se explica de modo fácil(Allan Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. I, item 5.) 
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O Espiritismo está chamado a esclarecer o mundo, mas ne­cessita de um certo tempo para progredir. Existiu desde a Cria­ção, mas só era reconhecido por algumas pessoas, porque, em geral, a massa pouco se ocupa em meditar sobre questões espíritas. Hoje, com o auxílio desta pura doutrina, haverá uma luz nova. Deus, que não quer deixar a criatura na ignorância, permite que os Espíritos mais elevados nos venham em auxílio, para contrabalançarem o Espírito das trevas, que tende a envolver o mundo. O orgulho humano obscurece a razão e a faz cometer muitos erros. São necessários Espíritos simples e dóceis, para comunicarem a luz e atenuarem todos os males. Coragem! Per­sisti nesta obra, que é agradável a Deus, porque ela é útil para a sua maior glória, e dela resultarão grandes bens para a salva­ção das almas. (Francisco de SalesRevista Espírita, abril de 1860.)

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