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sábado, 12 de outubro de 2013

EADE-ESTUDO APROFUNDADO DA DOUTRINA ESPÍRITA-LIVRO 1- MÓDULO 2- ROTEIRO 20- ATOS DOS APÓSTOLOS



EADE - LIVRO I
ROTEIRO
20
Objetivos
Destacar a importância do fenômeno de pentecostes, relatado
em Atos dos Apóstolos.
IDÉIAS PRINCIPAIS
CRISTIANISMO E ESPIRITISMO
MÓDULO II - O CRISTIANISMO
Pentecostes é uma palavra grega que significa qüinquagésimo dia. Os judeus,
depois que partiram do Egito, gastaram quarenta e nove dias até o Monte
Sinai; e no qüinquagésimo dia, Moisés recebeu o Decálogo; em memória disto,
instituiu-se a festa de Pentecostes, que no Cristianismo tomou um novo sentido:
comemora a descida do Espírito Santo, ou seja, a recepção da mediunidade pelos
Apóstolos no qüinquagésimo dia após a ressurreição de Jesus, e também o início
das lutas pela divulgação do Evangelho, [...]. Eliseu Rigonatti: O evangelho da
mediunidade, p. 19-20.
A lição colhida pelos discípulos de Jesus, no Pentecostes, ainda é símbolo vivo
para todos os aprendizes do Evangelho, diante da multidão. Emmanuel. Vinha
de luz. Cap. 103.
ATOS DOS APÓSTOLOS (2)
306
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
1. Pentecostes
Petencostes é uma palavra grega que significa qüinquagésimo dia. Os judeus depois que
partiram do Egito, gastaram quarenta e nove dias até o Monte Sinai; e no qüinquagésimo
dia, Moisés recebeu o Decálogo; em memória disto, instituiu-se a festa de Pentecostes,
que no Cristianismo tomou um novo sentido: comemora a descida do Espírito Santo,
ou seja, a recepção da mediunidade pelos Apóstolos no qüinquagésimo dia após a ressurreição
de Jesus, e também o início das lutas pela divulgação do Evangelho, as quais
se prolongam até hoje e ainda estão longe de terminar. 1
O que vem a ser, efetivamente a descida do Espírito Santo?
As [...] antigas Escrituras não continham o qualificativo santo quando se falava do Espírito.
[...] Foi só com a tradução das antigas escrituras e constituição da Vulgata que
esse qualificativo foi acrescentado, com certeza para fortificar o Mistério da Santíssima
Trindade [da teologia católica], tirado de uma lenda hindu, aventado por comentadores
das Escrituras, que desde logo após à morte de Jesus, viviam em querelas, em discussões
sobre os modos de se interpretar as Escrituras. Essa mesma trindade é que foi proclamada
como artigo de fé, pelo Concílio de Nicéia, em 325, após ter sido rejeitado por
três concílios. 4
Os fenômenos de pentecostes estão descritos em Atos dos Apóstolos, 2:1-
11. Trata-se de um texto marcado por simbolismos: cinqüenta dias depois da
ascensão do Cristo acontece o fenômeno conhecido como a descida do Espírito
Santo sobre os apóstolos, materializado na forma de línguas de fogo; explode
a mediunidade de xenoglossia (poliglota) nos apóstolos; Pedro é envolvido
SUBSÍDIOS
MÓDULO II
Roteiro 20
307
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 20 - Atos dos apóstolos (2)
pelas forças superiores e discursa sob forte inspiração; lança-se então a pedra
fundamental da primeira igreja cristã do Planeta.
Após o impacto inicial, provocado pelos fenômenos de efeitos físicos
(línguas de fogo e xenoglossia), o discurso de Pedro demonstra, de forma
contundente, uma ação programada do plano espiritual superior, conseguindo
transformar o ânimo dos apóstolos e dos demais discípulos de Jesus — antes
inseguros e medrosos — em cartas vivas do Evangelho.
É por este motivo que o pentecostes cristão tem um significado especial
para todos nós, os seguidores do Cristo: marca o início da pregação e da difusão
do Evangelho, na Terra, pelos cristãos que, fazem surgir a primeira ekklesia
(igreja) de Jerusalém, uma humilde comunidade formada de judeus convertidos
ao Cristianismo.
Pedro foi, possivelmente, o primeiro chefe desta igreja, seguido de Tiago.
As palavras textuais dos Atos do Apóstolos, sobre o pentecostes, são as
seguintes:
“Cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo
lugar; e, de repente, veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso,
e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por
eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um
deles. E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras
línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.
E em Jerusalém estavam habitando judeus, varões religiosos, de todas
as nações que estão debaixo do céu. E, correndo aquela voz, ajuntou-se uma
multidão e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua.
E todos pasmavam e se maravilhavam, dizendo uns aos outros: Pois quê! Não
são galileus todos esses homens que estão falando? Como pois os ouvimos,
cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos? Partos e medos,
elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, e Judéia, e Capadócia, e Ponto, e
Ásia, e Frígia, e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros
romanos (tanto judeus como prosélitos), e cretenses, e árabes, todos os temos
ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus.
E todos se maravilhavam e estavam suspensos, dizendo uns para os outros:
Que quer isto dizer? E outros, zombando, diziam: Estão cheios de mosto.” (Atos
dos Apóstolos, 2:1-13)
Ouvindo tais comentários, o apóstolo Pedro tomou a palavra e falou elo308
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 20 - Atos dos apóstolos (2)
qüente, dominado por inspiração superior:
“Pedro, porém, pondo-se em pé com os onze, levantou a voz e disse-lhes:
Varões judeus e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e
escutai as minhas palavras. Estes homens não estão embriagados, como vós
pensais, sendo esta a terceira hora do dia. Mas isto é o que foi dito pelo profeta
Joel: E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei
sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos
jovens terão visões, e os vossos velhos sonharão sonhos; e também do meu
Espírito derramarei sobre os meus servos e minhas servas, naqueles dias, e
profetizarão; e farei aparecer prodígios em cima no céu e sinais em baixo na
terra: sangue, fogo e vapor de fumaça.
O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes de chegar o grande
e glorioso Dia do Senhor; e acontecerá que todo aquele que invocar o nome do
Senhor será salvo. Varões israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno,
varão aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que
Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis; a este que vos
foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, tomando-o
vós, o crucificastes e matastes pelas mãos de injustos; ao qual Deus ressuscitou,
soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela.
Porque dele disse Davi: Sempre via diante de mim o Senhor, porque está
à minha direita, para que eu não seja comovido; por isso, se alegrou o meu
coração, e a minha língua exultou; e ainda a minha carne há de repousar em
esperança. Pois não deixarás a minha alma no Hades, nem permitirás que
o teu Santo veja a corrupção. Fizeste-me conhecidos os caminhos da vida;
com a tua face me encherás de júbilo. Varões irmãos, seja-me lícito dizer-vos
livremente acerca do patriarca Davi que ele morreu e foi sepultado, e entre
nós está até hoje a sua sepultura. Sendo, pois, ele profeta e sabendo que Deus
lhe havia prometido com juramento que do fruto de seus lombos, segundo a
carne, levantaria o Cristo, para o assentar sobre o seu trono, nesta previsão,
disse da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no Hades, nem
a sua carne viu a corrupção.
Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas. De
sorte que, exaltado pela destra de Deus e tendo recebido do Pai a promessa do
Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis. Porque Davi não
subiu aos céus, mas ele próprio diz: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te
à minha direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés. Saiba,
309
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 20 - Atos dos apóstolos (2)
pois, com certeza, toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes,
Deus o fez Senhor e Cristo.
Ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração e perguntaram a Pedro
e aos demais apóstolos: Que faremos, varões irmãos? E disse-lhes Pedro:
Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para
perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Porque a promessa
vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe: a tantos
quantos Deus, nosso Senhor, chamar. E com muitas outras palavras isto testificava
e os exortava, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa.(Atos dos
Apóstolos, 2:14-40)
Os fenômenos mediúnicos ocorridos no dia de pentecostes foram notáveis.
Os pontos luminosos que a multidão percebeu sobre a cabeça de cada apóstolo
nos revelam o conhecido fenômeno mediúnico de efeitos físicos. Na verdade,
tais pontos nada mais eram do que Espíritos «[...] que não se mostraram visíveis
de todo, mas apenas o suficiente para serem percebidos; e como brilhasse a parte
que os discípulos puderam ver, interpretaram-na como línguas de fogo.» 2
A mediunidade poliglota (xenoglossia), permitiu que os representantes
estrangeiros entendessem, na própria língua, “as maravilhas de Deus” (Atos,
versículo 11). Um grupo de peregrinos, porém, ouvindo o mesmo ensinamento
espiritual que os outros ouviram, preferiu acreditar que os apóstolos e os
discípulos de Jesus estavam embriagados (Atos, versículo 12).
Estamos aqui diante de duas classes de pessoas: uma que, ao se defrontar com o fenômeno,
pergunta o que é e põe-se seriamente a estudá-lo para compreendê-lo e descobrir-lhe
as causas. Outra que se não dá nem mesmo ao trabalho de perguntar o que é: ante o
fenômeno, tece considerações infantis, desairosas, e passa. Estas duas classes de pessoas
acompanham o desenvolvimento dos trabalhos evangélicos até os nossos dias e vemo-las
com a mesma atitude perante o Espiritismo: há os que o estudam para compreendê-lo
e há os que, sem nunca tê-lo estudado ou mesmo lido algo sério a respeito, escarnecem
dele. 3
O discurso de Pedro foi, portanto, de grande significância naquele momento.
Inspirado, a venerável figura do apóstolo se ergue, exalta o nome de
Jesus e explica o que estava, efetivamente, acontecendo. A preleção evangélica
de Pedro, majestosa e bela, assinala o marco da difusão do Evangelho, após a
partida do Mestre. No seu discurso, fala da importância da mediunidade, que
caracteriza o nascimento de um novo ciclo na evolução espiritual humana.
310
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 20 - Atos dos apóstolos (2)
A humanidade terrestre não mais seria a mesma, a partir daquele momento,
pois o trabalho dos apóstolos e dos discípulos de Jesus iniciaria poderoso
movimento revolucionário no Planeta: «[...] o Evangelho é portador de gigantesca
transformação do mundo. Destina-se à redenção das massas anônimas
e sofredoras. Reformará o caminho dos povos.» 5
Emmanuel nos oferece uma belíssima interpretação do fenômeno de
pentecostes.
A lição colhida pelos discípulos de Jesus, no Pentecostes, ainda é um símbolo vivo para
todos os aprendizes do Evangelho, diante da multidão.
A revelação da vida eterna continua em todas as direções.
Aquele “som como de um vento veemente e impetuoso” e aquelas “línguas de fogo” a
que se refere a descrição apostólica, descem até hoje sobre os continuadores do Cristo,
entre os filhos de todas as nações. As expressões do Pentecostes dilatam-se, em todos
os países, embora as vibrações antagônicas das trevas.
Todavia, para milhares de ouvintes e observadores, apenas funcionam alguns raros
apóstolos, encarregados de preservarem a divina luz.
Realmente, são inumeráveis aqueles que, consciente ou inconscientemente, recebem os
benefícios da celeste revelação; entretanto, não são poucos os zombadores de todos os
tempos, dispostos à irreverência e à ironia, diante da verdade.
Para esses, os leais seguidores do Mestre estão embriagados e loucos. Não compreendem
a humildade que se consagra ao bem, a fraternidade que dá sem exigências descabidas
e a fé que confia sempre, não obstante as tempestades.
É indispensável não estranhar o assédio desses pobres inconscientes, se te dispões, efetivamente,
a servir ao Senhor da Vida. Cercar-te-ão o trabalho, acusando-te de bêbado;
criticar-te-ão as atitudes, chamando-te covarde; escutar-te-ão as palavra de amor, conservando
a ironia na boca. Para eles, a tua abnegação será envilecimento, a tua renúncia
significará incapacidade, a tua fé será interpretada à conta de loucura.
Não hesites, porém, no espírito de serviço. Permaneces, como os primeiros apóstolos,
nas grandes praças, onde se acotovelam homens e mulheres, ignorantes e sábios, velhos
e crianças...
Aperfeiçoa tuas qualidades de recepção, onde estiveres, porque o Senhor te chamou para
intérprete de Sua Voz, ainda que os maus zombem de ti. 6
311
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
1. RIGONATTI, Eliseu. O evangelho da mediunidade. 7. ed. São Paulo: Editora
Pensamento, 2005. Cap. 2 (A descida do espírito santo), p. 19-20.
2. ______. p. 20.
3. ______. p. 21.
4. SCHUTEL, Cairbar. Vida e atos dos apóstolos. 9. ed. Matão: O Clarim, 2001.
Item: Atos dos Apóstolos, p. 18-19.
5. XAVIER, Francisco Cândido. Luz acima. Pelo Espírito Irmão X. 9. ed. Rio
de Janeiro: FEB, 2004. Cap. 46 (A revolução cristã), p. 195.
6. ______. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2006. Cap. 103 (Perante a multidão), p. 235-236.
REFERÊNCIAS
EADE - Roteiro 20 - Atos dos apóstolos (2)
312
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
Realizar uma discussão circular, debatendo
exaustivamente o fenômeno de pentecostes. Preparar
com antecedência questões que facilitem o
debate.
ORIENTAÇÕES AO MONITOR
EADE - Roteiro 20 - Atos dos apóstolos (2)
313

sábado, 5 de outubro de 2013

EADE-ESTUDO APROFUNDADO DA DOUTRINA ESPÍRITA-LIVRO 1- MÓDULO 2- ROTEIRO 19- ATOS DOS APÓSTOLOS



EADE - LIVRO I
ROTEIRO
19
Objetivos
Identificar os principais ensinamentos existentes em Atos
dos Apóstolos.
IDÉIAS PRINCIPAIS
CRISTIANISMO E ESPIRITISMO
MÓDULO II - O CRISTIANISMO
Atos dos Apóstolos é um dos livros do Novo Testamento, escrito em grego pelo
evangelista Lucas, o autor do 3º evangelho. Este livro contém a história do
Cristianismo, desde a ascensão de Jesus Cristo, até a chegada de Paulo, em Roma,
segundo dizem, no ano 63. [...] Consta de 28 capítulos. Cairbar Schutel: Vida e
Atos dos Apóstolos, p.14.
O terceiro evangelho e o livro dos Atos [dos Apóstolos] eram primitivamente
as duas partes de uma só obra. [...] Os doze primeiros capítulos do livro dos
Atos contam a vida da primeira comunidade reunida ao redor de Pedro depois
da Ascensão [capítulo 1 a 5] e os inícios de sua expansão graças às iniciativas
missionárias de Filipe (8:4-40) e dos “helenistas” (6: 1-8; ; 11:19-30; 13:1-3), e
enfim do próprio Pedro (9:32; 11; 18) [...]. Para a segunda parte dos Atos, o autor
teria usado os relatos da conversão de Paulo, de suas viagens missionárias, e de
sua viagem por mar para Roma como prisioneiro. Bíblia de Jerusalém: introdução
aos Atos do Apóstolos, p. 1896-1897.
ATOS DOS APÓSTOLOS (1)
298
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
1. Atos dos apóstolos
1.1 - Informações históricas
Atos dos Apóstolos é um dos livros do Novo Testamento, escrito em grego pelo evangelista
Lucas, o autor do terceiro evangelho. Este livro contém a história do Cristianismo,
desde a ascensão de Jesus Cristo, até a chegada de Paulo, em Roma, segundo dizem, no
ano 63 [...]. Consta de 28 capítulos. Se quisermos resumi-lo, nele veríamos a história da
fundação dos primeiros núcleos cristãos (igrejas) até a morte de Herodes: o cumprimento
de muitas promessas do Cristo; a prova da ressurreição e aparições do Divino Mestre;
a difusão do Espírito no cenáculo de Jerusalém [Pentecostes]; o desinteresse, a caridade
dos primeiros apóstolos, enfim, o que sucedeu a estes até a sua dispersão, para pregarem
o Evangelho em todos os lugares ao seu alcance. 8
Consta na Bíblia de Jerusalém, várias informações sobre origem, organização,
autoria e princípios doutrinários de Atos dos Apóstolos.
O terceiro evangelho e o livro de Atos eram primitivamente as duas partes de uma só
obra, à qual daríamos hoje o nome de “História das origens cristãs”. Logo o segundo livro
ficou conhecido com o título de “Atos dos apóstolos” ou “Atos de apóstolos”, conforme o
modo da literatura helenística que conhecia os “Atos” de Aníbal, os “Atos” de Alexandre
etc.; no cânon do NT [Novo Testamento] é separado do evangelho de Lucas pelo de João,
que é interposto. A relação original desses dois livros do NT é indicada por seus Prólogos
e por seu parentesco literário. O Prólogo dos Atos, que se dirige como o do terceiro
evangelho (Lc. 1,1-4), a certo Teófilo (At. 1,1) remete a esse evangelho como o “primeiro
livro”, de que ele resume o objeto e retoma os últimos acontecimentos (aparições do
Ressuscitado e Ascensão) para encadeá-los à seqüência do relato. A língua é outro laço
que liga estreitamente os dois livros um ao outro. Não somente suas características (de
SUBSÍDIOS
MÓDULO II
Roteiro 19
299
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 19 - Atos dos apóstolos (1)
vocabulário, de gramática e de estilo) se reencontram ao longo dos Atos, estabelecendo
a unidade literária dessa obra, mais ainda se reconhecem no terceiro evangelho, o que
não permite mais duvidar que um mesmo autor escreve, aqui e lá. 1
Atos dos apóstolos têm um único destinatário, explicitamente nomeado:
é Teófilo, a quem o evangelho de Lucas também foi dedicado. (Lucas,1:3)
Não sabemos praticamente nada sobre ele. Sua designação “excelentíssimo” pode assinalálo
como um membro da ordem eqüestre (a segunda ordem mais elevada na sociedade
romana), ou ser simplesmente um título de cortesia. Seria possível vê-lo como um representante
da classe média de Roma, a quem Lucas desejava apresentar uma exposição
confiável da ascensão e do progresso do Cristianismo. 6
Desde o ano 175 há um consenso das igrejas em aceitar Lucas como o autor
dos Atos dos Apóstolos. Este consenso está impresso no documento romano,
chamado “Cânon Muratori” e nos seguintes Prólogos: o “Antimarcionita”, o
de santo Irineu, o de Tertuliano e os Alexandrinos. 1
Segundo seus escritos, o autor deve ser cristão da geração apostólica, judeu bem helenizado,
ou melhor, grego de boa educação, conhecendo a fundo as realidades judaicas e a
Bíblia grega [Septuaginta]. Ora, o que sabemos de Lucas a partir das epístolas paulinas
concorda bem com esses dados. Ele é apresentado pelo Apóstolo como companheiro
querido que está ao seu lado durante seu cativeiro. (Colossenses, 4: 10-14; Filemon, 24;
II Timóteo, 4:11) Lucas é de origem pagã (de Antioquia na Síria, segundo uma antiga
tradição), e médico, o que implicaria certa cultura [...]. Para fixar a data em que se escreve,
não encontramos nada de firme na tradição antiga. O livro termina com o cativeiro
romano de Paulo, provavelmente 61-62. Em todo caso sua composição deve ser posterior
à do terceiro Evangelho (antes de 70? ou por 80? mas nada impõe uma data posterior a
70) [...]. Antioquia e Roma são propostas como lugar de composição. 1
Há indicações de que Lucas, ao escrever os Atos dos Apóstolos, estaria
movido por um objetivo, além de apenas registrar informações sobre a igreja
cristã primitiva. Teria procurado conciliar as críticas e tendências adversas ao
Cristianismo, surgidas em decorrência da pregação de Pedro e de Paulo.
1.2 - Estrutura dos atos dos apóstolos
A despeito da atividade literária, sempre vigilante, que imprimiu em todo lugar a sua
marca e assegura a unidade do livro, percebem-se, facilmente, algumas correntes principais
nas tradições recolhidas por Lucas. Os doze primeiros capítulos do livro dos Atos
contam a vida da primeira comunidade reunida ao redor de Pedro depois da Ascensão
300
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 19 - Atos dos apóstolos (1)
(1-5), e os inícios de sua expansão graças às iniciativas missionárias de Filipe (8:4-40)
e dos “helenistas” (6:1-8, 3; 11:19-30; 13:1-3), e, enfim, do próprio Pedro (9,32, 11,18).
As tradições petrinas subjacentes seriam aparentadas ao “evangelho de Pedro”, que é
conhecido na literatura da Igreja antiga. Para a segunda parte dos Atos, o autor teria
usado os relatos da conversão de Paulo, de suas viagens missionárias, e de sua viagem
por mar para Roma como prisioneiro. 2
Na escritura de Atos dos Apóstolos, Lucas emprega, corriqueiramente, a
primeira pessoa do plural. Dessa forma, muitos exegetas viram, no “nós”, uma
prova de que Lucas teria acompanhado Paulo nas segunda e terceira viagens,
bem como na que Saulo fez, por mar, a Roma.
Entretanto, é notável que Lucas nunca é mencionado por Paulo como companheiro de
sua obra de evangelização. Esse “nós” parece mais o traço de um diário de viagem feito
por um companheiro de Paulo (Silas?) e utilizado pelo autor de Atos. 3
De qualquer forma, o trabalho realizado por Lucas foi ao mesmo tempo
excepcional quanto fascinante. Nos fornece uma visão geral do trabalho realizado
pelos primeiros cristãos, as suas lutas, desafios e extrema dedicação à
causa do Cristo.
O valor histórico dos Atos dos apóstolos não é igual. De uma parte, as fontes de que Lucas
dispunha não eram homogêneas; de outra, para manejar as suas fontes, Lucas gozava de
liberdade muito grande segundo o espírito da historiografia antiga, subordinando seus
dados históricos a seu desígnio literário e sobretudo a seus interesses teológicos. 3
A descrição das viagens de Paulo muito nos esclarecem sobre a vida no
primeiro século da Era Cristã: «administração romana, cidades gregas, cultos,
rotas, geografia política, topografia local.» 3
De valor histórico também inestimável são os relatos que Lucas nos
transmite sobre a organização e administração da igreja cristã primitiva, assim
como a forma como se realizava a pregação nas comunidades cristãs nascentes,
em que se utilizava, essencialmente da prédica ou explanação discursiva.
Essa prédica tinha como base o kerygma [ensinamento essencial]: a pregação
doutrinária dos apóstolos, a fé em Jesus Cristo — o Messias crucificado e
ressuscitado, o servidor divino, um novo Moisés e um novo Elias. 3 (Atos dos
Apóstolos, 2:24-32; 3:13-26; 4:27-30; 7:20, 8:32-33; 13:34-36)
Atos dos Apóstolos demonstram, com clareza, como se realizou a propagação
das idéias cristãs.
301
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 19 - Atos dos apóstolos (1)
1. A pregação dos apóstolos representava as “testemunhas” confiáveis
dos ensinamentos do Cristo (Atos dos Apóstolos, 1:8; 2: 1-41), a despeito das
imperfeições que ainda possuíam.
Todos os Apóstolos do Mestre haviam saído do teatro humilde de seus gloriosos ensinamentos;
mas, se esses pescadores valorosos eram elevados Espíritos em missão,
precisamos considerar que eles estavam muito longe da situação de espiritualidade do
Mestre, sofrendo as influências do meio a que foram conduzidos. 11
2. Formação e desenvolvimento da Igreja de Jerusalém (1:1-5, 42): os
integrantes da Igreja de Jerusalém reuniram-se, primeiro, ao redor de Pedro
e, posteriormente, de Tiago Maior, mas permaneceram fieis à tradição judaica.
(Atos dos Apóstolos, 15:1-5; 21:20) Esse fato dificultou a adesão dos gentílicos,
provocando muitas discussões, sobretudo entre os judeus helenistas. 7 Os
helenistas eram judeus convertidos ao Cristianismo, que não aceitavam a Lei
Judaica, nem seus ritos e práticas.
Tão logo se verificou o regresso do Cordeiro às regiões da Luz, a comunidade cristã, de
modo geral, começou a sofrer a influência do judaísmo, e quase todos os núcleos organizados,
da doutrina, pretenderam guardar feição aristocrática, em face das novas igrejas
e a associações que se fundavam nos mais diversos pontos do mundo. 12
3. A ascensão e atividade dos judeus helenistas na Igreja de Jerusalém. Esta
questão, colocada no Concílio de Jerusalém, foi muito debatida, optando-se,
então, por uma solução conciliadora. Por exemplo, foi dispensada aos convertidos
a necessidade de realizar a circuncisão. Pedro, Tiago, Barnabé e Paulo
muito contribuíram para conciliar as diferentes correntes de idéias existentes
no Cristianismo nascente. Mesmo assim, os helenistas foram perseguidos e
expulsos de Jerusalém pelos judeus não convertidos. Um helenista, muito
famoso, foi Estevão, preso e morto por apedrejamento, sob as ordens de Saulo
de Tarso. 4 (Atos dos Apóstolos, 6:1-15; 15:1-31)
A doutrina do crucificado propaga-se com a rapidez de um relâmpago. Fala-se dela tanto
em Roma como nas gálias e no norte da África. Surgem os advogados e os detratores. Os
prosélitos mais eminentes buscam doutrinar, disseminando as idéias e interpretações. As
primeiras igrejas surgem ao pé de cada Apóstolo, ou de cada discípulo mais destacado
e estudioso. 10
4. A pregação apostólica procura, junto aos judeus, mostrar que Jesus é o
Messias esperado, exortando-os a não resistirem ao recebimento desta graça:
302
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 19 - Atos dos apóstolos (1)
aceitar o Cristo como o Enviado de Deus (Atos dos Apóstolos, 1:1-11; 7:2-53;
13:16-41). A pregação junto aos povos politeístas, por outro lado, tenta justificar
a supremacia do amor do Cristo. (Atos dos Apóstolos,14:15-17; 17:22-31)
Doutrina alguma alcançara no mundo semelhante posição, em face da preferência das
massas. É que o Divino Mestre selara com exemplos as palavras de suas lições imorredouras.
10
Os povos antigos eram submetidos a contínuas privações, morais e materiais,
sobretudo a maioria deles, que era escrava. Dessa forma, a mensagem
cristã surgia como um alento, um raio de esperança.
Em virtude dos seus postulados sublimes de fraternidade, a lição do Cristo representava
o asilo de todos os desesperados e de todos os tristes. As multidões dos aflitos pareciam
ouvir aquela misericordiosa exortação: – “vinde a mim, vós todos que sofreis e tendes
fome de justiça e eu vos aliviarei” – e da cruz chegava-lhes, ainda, o alento de uma esperança
desconhecida. 9
5. Fazia parte das atividades doutrinárias da igreja cristã primitiva o
culto de ação de graças. Esse culto caracterizava-se pelas das pregações dos
apóstolos, seguida de comunhão fraterna, pela prece e pela partilha do pão e
dos bens. (Atos dos Apóstolos, 2:42-47). Envolvidos pelo espírito da caridade,
abnegação e fraternidade que a mensagem cristã lhes transmitia, os primeiros
cristãos procuravam conviver de forma solidária: “Tudo possuíam em comum”
e “eram queridos de todo o povo”. 4 (Atos dos Apóstolos, 2:44-47; 4:32-36)
303
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
1. BIBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus,
2002. Item: Introdução ao Atos dos Apóstolos. p. 1896.
2. ______. p. 1896.-1897.
3. ______. p. 1897.
4. DICIONÁRIO DA BÍBLIA. Vol. 1: as pessoas e os lugares. Organizado por
Bruce M. Metzger, Michael D. Coogan. Traduzido por Maria Luiza X. De
A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2002, Item: Lucas, p. 186.
5. ______. p. 186-187.
6. ______. p. 187.
7. DENIS, Léon. Cristianismo e espiritismo. Tradução de Leopoldo Cirne. 12.
ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Cap. I (Origem do evangelho), item 4 (Doutrina
secreta), p. 60-61.
8. SCHUTEL, Cairbar. Vida e atos dos apóstolos. 9. ed. Matão: O Clarim, 2001.
Item: Atos dos apóstolos, p. 14.
9. XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel.
32. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 14 (A edificação cristã), item: Os
primeiros cristãos, p. 121-122.
10. ______. Item: A propagação do Cristianismo, p.123.
11. ______. Item: A missão de Paulo, p. 125-126.
12. ______. p. 126.
REFERÊNCIAS
EADE - Roteiro 19 - Atos dos apóstolos (1)
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Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
Fazer uma exposição introdutória, que proporcione
uma visão panorâmica do roteiro. Em
seguida, solicitar aos participantes que formem
pequenos grupos para leitura, troca de idéias e
síntese dos principais pontos dos subsídios deste
Roteiro. Ao final, destacar a importância de Atos
do Apóstolos na organização e difusão do Cristianismo.
ORIENTAÇÕES AO MONITOR
EADE - Roteiro 19 - Atos dos apóstolos (1)
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Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - LIVRO I