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sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Redenção o Salvação

REDENÇÃO OU SALVAÇÃO
"Se alguém quer vir depois de mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me." - (Lucas, 9:23)
No Espiritismo consagra-se o termo "Redenção" em vez de "Salvação", pois este último vocábulo tem o sentido de salvar algo que está perdido, o que não é o caso do Espírito que está submetido a um processo evolutivo. Para Deus nenhum de seus filhos está perdido, e o Evangelho é bem claro quando diz que "o Pai não quer que nenhuma de suas ovelhas se perca".

Jesus Cristo disse: "Conhecei a Verdade e a Verdade vos libertará", por isso, o termo "Redenção" é mais compatível com as Leis de Deus, pois o Espírito realmente precisa libertar-se do obscurantismo, da superstição e das inferioridades morais, alcançando, pelo esforço próprio, e não pela graça, a sua redenção. Esse objetivo, comum a todos os Espíritos, é conquistado através das vidas sucessivas do Espírito na carne, num esforço incessante para aproximar mais a criatura do seu Criador.

O Pai Celestial é justo e misericordioso, por isso, pode-se afiançar que a teoria da "salvação pela graça", apregoada por algumas religiões terrenas, não resiste a uma análise mais profunda à luz do bom senso e da razão, não se enquadrando, portanto, na Justiça Divina. Na realidade, a aceitação da teoria da "salvação pela graça" implicaria em se conceber Deus como um Pai eivado de parcialidade, em cuja justiça seriam preponderantes os privilégios, as concessões e as discriminações, representando a negação pura e simples dos seus próprios atributos de Pai de justiça, de equidade e de amor.
Os doutores e teólogos das igrejas que admitem essa teoria, certamente se inspiraram naquilo que pevalece no meio de algumas instituições de caráter profundamente humano, nas quais se consagram os privilégios, a parcialidade e a discriminação de grupos e de pessoas. Deus é soberanamente justo e equitativo, por isso, a teoria da "salvação pela graça ou pela fé" não suporta análise, jamais podendo isso prevalecer, pois implicaria em reconhecer a existência de "eleitos", de "escolhidos" "predestinados", que é incompatível com a magnitude da Justiça Divina.

Seria muito cômodo, mas atentório à reta Justiça Divina, se houvesse fundamento na teoria "salvação pela graça ou pela fé". As almas alcançariam a sua redenção simplesmente por acreditarem ou terem fé em Deus ou em Jesus Cristo, sem o dispêndio de qualquer esforço em favor da própria evolução. A sentença de Jesus: "A cada um será dado de acordo com as suas obras", conflita, frontalmente, com o Mestre deixou bem claro que a prática das boas ações é condição imprescindível para o Espírito alcançar a sua libertação, ou REDENÇÃO.

Embora o apóstolo Paulo tenha discorrido sobre a "salvação pela graça ou essa idéia, quando, em sua I Epístola ao Coríntios (13:2-13) faz a apologia da caridade, situando-a acima de quaisquer outras virtudes, dizendo que "se eu tivesse toda fé, a ponto de transportar montanhas, e não tivesse caridade, isso nada representaria". "Agora, pois, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; porém a maior delas é a caridade. De forma idêntica, o apóstolo Tiago Menor (Epístola Universal, 2:17), apregoa que "morta é a fé sem obras".

O Espírito alcança o seu aprimoramento através de múltiplas fases encarnatórias, nas muitas moradas da "Casa do Pai", (João, 14:2), ou seja, nos muitos mundos que formam o Universo.


Para a consecução dessa finalidade, os Espíritos têm que superar tropeços naturais de um caminho íngreme, pois a sublimação espiritual não é conseguida através de um passe de mágica, ou de privilégios inconcebíveis, mas conquistada por meio de uma luta árdua e incessante, enfrentando-se óbices de toda sorte, pois somente assim o Espírito humano vai galgando os degraus da evolução, tendo como alvo o estado de pureza e uma aproximação mais íntima com o Criador de todas as coisas, que a todos aguarda com um zelo verdadeiramente paternal e misericordioso.

A sentença de Jesus: "A cada um será dado segundo as suas obras", já citada, reflete a extensão do amor que Deus dispensa a todos os seus filhos, anulando qualquer idéia de que um Espírito possa elevar-se aos páramos sublimados da Espiritualidade, por caminhos dúbios, sem o esforço em favor do aprimoramento próprio. A prática das boas obras é o único caminho que leva ao Pai, pois somente assim os Espíritos adquirem virtudes santificantes, essenciais para adquirir o estado de pureza, próprio dos seres angelicais.

O acesso aos planos sublimados é apenas facultado aos bons, aos generosos, aos que cumprem os seus deveres, enquadrando-se nos preceitos do maior dos mandamentos: "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo."

No "Sermão da Montanha" Jesus foi bastante explícito, quando disse que serão bem-aventurados os bons, os misericordiosos, os pacificadores, os simples, os humildes e, sobretudo, aqueles que amam o seu próximo como a si mesmos. O Mestre não fez nenhuma alusão aos que se limitam a participarem de uma religião, a pronunciarem extensas orações ou a apregoarem que têm fé e acreditam na existência de Deus e de Jesus, sem, contudo, lutarem para extirparem as viciações e as paixões inferiores que dormitam em seus corações.
Paulo A. Godoy

O Sinal de Jonas

O SINAL DE JONAS

"Maligna é esta geração; ela pede um sinal, e não lhe será dado
outro sinal senão o sinal do profeta Jonas." - (Lucas, 11:29)

Niníve, capital da antiga Assíria, situada à margem do rio Tigre, era, na Antiguidade, uma cidade muito importante, com uma população superior a 120 mil habitantes. Como ocorria com apreciável parte das grandes cidades do passado, ela vivia mergulhada na corrupção, e entre os habitantes reinavam costumes dissolutos e numerosos desregramentos.
O profeta Jonas, devidamente instruído, via mediúnica, dirigiu-se àquela cidade e ali fez com que seus habitantes se compenetrassem do erro em que estava incorrendo. Durante 40 dias, o profeta fez as suas pregações; então, suas palavras foram acolhidas e, desde o próprio rei até o mais humilde servidor, todos se decidiram a levar a sério aquelas admoestações; assim, como forma de penitência, conforme o costume da época, todos cobriram-se com sacos e se assentaram sobre a cinza.
Com essa demonstração de arrependimento, a cidade foi poupada pela Justiça Divina, evitando-se a destruição que se avizinhava. Quando Jesus desempenhava o seu Messiado, foi procurado por um grupo de escribas, fariseus e saduceus, e dentre eles alguns estrangeiros, que lhe pediram um sinal dos Céus, para que vissem e acreditassem.
A resposta do Mestre foi peremptória: "Maligna é esta geração; ela pede um sinal, e não lhe será dado outro sinal senão o sinal de Jonas." Jesus Cristo proferiu estas palavras angustiado pela incompreensão e dureza dos corações humanos. Ele havia descido à Terra, para o cumprimento da promessa sobre o advento do Messias Redentor.
No desenvolvimento de sua transcendental missão, Ele havia propiciado os mais autênticos sinais: a leprosos, restaurando a vista de cegos, levantando paralíticos e, sobretudo, trazendo uma verdade nova que vinha iluminar a mente dos homens e os horizontes sombrios do mundo. Não obstante todas essas manifestações, ali estava o segmento de um povo que se considerava "eleito de Deus", que se mantinha profundamente empedernido, "duro de cerviz e incircunciso de coração.

Aquele grupo de pessoas foi pedir-lhe um sinal dos Céus, entretanto, os sinais estavam sendo dados diuturnamente; por isso, a sua resposta foi negativa. O sinal de Jonas deveria ser o suficiente para abalar as consciências endurecidas daqueles homens. Diante da personalidade de Jesus Cristo, Jonas não passava de um profeta de projeção relativamente pequena. No entanto, dirigindo-se à população de Nínive, apregoou que a cidade seria destruída por Deus se o seu povo não mudasse de comportamento. Todos receberam as palavras do profeta e, receosos da provável destruição, mudaram radicalmente o modo de vida.

Jesus Cristo, o maior Espírito dentre os que desceram fez persistente e profusa pregação entre os homens, mostrando-lhes como seus corações estavam endurecidos; desmascarou a hipocrisia dos escribas e dos fariseus, demonstrando a precariedade dos seus ensinos e a recalcitrância em obedecer às verdades que emanavam dos Céus, através dos profetas. Não obstante, suas palavras não foram aceitas por muitos e Ele foi condenado e crucificado. Em virtude dessa obstinação e da maldade reinante nos corações desses homens, "a Jerusalém que matava os seus profetas, que apedrejava todos aqueles que lhe eram enviados, foi destruída, dela não restando pedra sobre pedra". (Lucas, 13:34-35).
Quando o Mestre asseverou que nenhum sinal seria dado àquela geração adúltera, infiel, mas apenas o sinal do profeta Jonas, Ele pretendeu dizer que, se o povo fosse mais dócil, mais humilde, mais razoável, teria recebido as suas palavras, assim como o fez o povo de Nínive.
Na realidade, o sinal de Jonas era do conhecimento de todos, pois os escribas liam para o povo o livro do profeta Jonas, e, obviamente, a atitude do povo da capital da Assíria, acatando as suas admoestação e arrependendo-se de suas faltas, era notória para todos. Amargurado diante da incompreensão do seu povo, proclamou Jesus Cristo: "A rainha do sul se levantará no dia do juízo contra os homens desta geração, e os condenará, pois dos confins da Terra ela veio para ouvir a sabedoria de Salomão; eis aqui está quem é maior do que Salomão.
Os homens de Nínive se levantarão no dia do juízo contra esta geração e a condenarão, pois se converteram com a pregação de Jonas; e aqui está quem é maior do que Jonas." (Lucas, 11:31-32)
O apego dos escribas e fariseus aos preceitos das leis antigas era apenas aparente. Eles não aceitavam o sinal de Jonas e muito menos o de Jesus. Não se preocupavam com os sinais dados pelos antigos profetas, o que levou o Mestre a exclamar muito judiciosamente: "Não cuidadeis que sou eu que vos hei de acusar diante de meu Pai. Há um que vos acusa: Moisés, em que vós esperais.
Porque, se vós crêsseis em Moisés, certamente creríeis também em mim, pois de mim escreveu ele. Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?" (João, 5:45 a 47). A pregação de Jesus Cristo foi feita num clima de brandura, de persuasão. Dizia Ele: "já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe a vontade do seu senhor. Mas tenho vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer." (João, 15:15) Não obstante tudo isso, Ele não era aceito, nem na aparência, nem na realidade, pelos mentores do povo de Israel.
A corroboração desta assertiva encontramo-la em (João, 12:37-38): "E ainda que Ele tendo feito tantos milagres diante deles, não criam nele, para que se cumprisse a palavra do profeta Isaías, quando disse: "Senhor, quem acreditou em vossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor?"
Da mesma forma como os Espíritos dos homens são submetidos a penosos resgates individuais, quando malbaratam o legado precioso que Deus lhes concedeu, as cidades também experimentam quedas e dores, quando não dão guarida aos ensinos que, de um modo ou de outro, são proporcionados à sua população pelos mensageiros dos Céus.
As cidades de Sodoma e Gomorra foram destruídas em consequência de seus inúmeros desregramentos; no entanto, segundo a própria expressão de Jesus Cristo, menos rigor haverá para elas, no julgamento divino, do que para Corozaim, Betsaída, Cafarnaum e Jerusalém, onde autênticos sinais foram produzidos pela interferência do Mestre, sem que houvesse acontecido o devido aproveitamento.

Paulo A. de Godoy

Casos Controvertidos do Evangelho

A mediunidade e a inspiração


Dissertações espíritas » A mediunidade e a inspiração


(Paris, grupo Desliens, 16 de fevereiro de 1869)

Sob suas formas variadas ao infinito, a mediunidade abarca a Humanidade inteira, como um feixe ao qual ninguém poderá escapar. Cada um, estando em contato diário, saiba-o ou não, queira-o ou se revolte, com inteligências livres, não há um homem que possa dizer: Não fui, não sou ou não serei médium. Sob a forma intuitiva, modo de comunicação ao qual vulgarmente se deu o nome de voz da consciência, cada um está em relação com várias influências espirituais, que aconselham num ou noutro sentido, e muitas vezes simultaneamente, o bem puro, absoluto; acomodações com o interesse; o mal em toda a sua nudez.
O homem evoca essas vozes; elas respondem ao seu apelo, e ele escolhe, mas escolhe entre essas diversas inspirações e o seu próprio sentimento.
Os inspiradores são amigos invisíveis; como os amigos da Terra, são sérios ou volúveis, interesseiros ou verdadeiramente guiados pela afeição.
Nós os consultamos ou eles aconselham espontaneamente, mas, como os conselhos dos amigos da Terra, seus conselhos são ouvidos ou rejeitados; por vezes provocam um resultado contrário ao que se espera; muitas vezes não produzem qualquer efeito. ─ Que concluir daí? Não que o homem esteja sob o poder de uma mediunidade incessante, mas que ele obedece livremente à própria vontade, modificada por avisos que jamais podem, no estado normal, ser imperativos.
Quando o homem faz mais do que ocupar-se com os mínimos detalhes de sua existência, e quando se trata de trabalhos que ele veio realizar mais especialmente, de provas decisivas que ele deve suportar, ou de obras destinadas à instrução e à elevação geral, as vozes da consciência não se fazem mais somente e simplesmente conselheiras, mas atraem o Espírito para certos assuntos, provocam certos estudos e colaboram na obra, fazendo ressoar certos escaninhos cerebrais pela inspiração. Eis aqui uma obra a dois, a três, a dez, a cem, se quiserdes; mas se cem nela tomaram parte, só um pode e deve assiná-la, porque só um a fez e é o responsável por ela!
Que é uma obra, afinal de contas, seja qual for? Jamais é uma criação; é sempre uma descoberta. O homem nada faz, tudo descobre. É preciso não confundir estes dois termos. Inventar, no seu verdadeiro sentido, é pôr à luz uma lei existente, um conhecimento até então desconhecido, mas posto em germe no berço do Universo. Aquele que inventa levanta a ponta do véu que oculta a verdade, mas não cria a verdade. Para inventar é preciso procurar e procurar muito; é preciso compulsar livros, cavar no fundo das inteligências, pedir a um a Mecânica, a outro a Geometria, a um terceiro o conhecimento das relações musicais, a outro ainda as leis históricas, e do todo fazer algo de novo, de interessante, de não imaginado.
Aquele que for explorar os recantos das bibliotecas, que ouviu falarem os mestres, que perscrutou a Ciência, a Filosofia, a Arte, a Religião, da Antiguidade mais remota até os nossos dias, é o médium da Arte, da História, da Filosofia e da Religião? É ele o médium dos tempos passados, quando por sua vez escreve? Não, porque não conta os outros, mas ensinou outros a contar, e ele enriquece os seus relatos com tudo o que lhe é pessoal.
Por muito tempo o músico ouviu a toutinegra e o rouxinol, antes de inventar a música; Rossini escutou a Natureza antes de traduzi-la para o mundo civilizado. É ele o médium do rouxinol e da toutinegra? Não, ele compõe e escreve. Ele escutou o Espírito que lhe veio cantar as melodias do Céu; ele ouviu o Espírito que clamou a paixão ao seu ouvido; ele ouviu gemerem a virgem e a mãe, deixando cair, em pérolas harmoniosas, sua prece sobre a cabeça do filho. O amor e a poesia, a liberdade, o ódio, a vingança e numerosos Espíritos que possuem esses sentimentos diversos, cada um por sua vez cantou sua partitura ao seu lado. Ele as escutou e as estudou, no mundo e na inspiração, e de um e outro fez as suas obras. Mas ele não era médium, como não o é o médico que ouve os doentes contando o que sofrem, e que dá um nome às suas doenças. A mediunidade despendeu suas horas como qualquer outro, mas fora desses momentos muito curtos para a sua glória, o que ele fez, fez apenas à custa dos estudos colhidos dos homens e dos Espíritos.
Assim sendo, é-se médium de todos; é-se o médium da Natureza, médium da verdade, e médium muito imperfeito, porque muitas vezes ela aparece de tal modo desfigurada pela tradução, que é irreconhecível e desconhecida.
HALÉVY.

ALLAN KARDEC.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Vossos filhos e vossas filhas profetizarão


Revista Espírita 1865 Outubro
O Sr. Delanne, que muitos de nossos leitores já conhecem, tem um filho de oito anos. Esse menino, que a cada instante ouve falar do Espiritismo em sua família, e que muitas vezes assiste às reuniões dirigidas por seu pai e sua mãe, assim cedo se viu iniciado na Doutrina, e surpreende pela justeza com que discute os seus princípios. Isto nada tem de surpreendente, pois é a penas o eco das ideias com que foi embalado. Mas, não é esse o objetivo deste artigo: é apenas a introdução no tema do fato que vamos relatar e que tem cabida nas circunstâncias atuais.
As reuniões do Sr. Delanne são graves, sérias e conduzidas com uma ordem perfeita, como devem ser todas aquelas nas quais se quer colher frutos. Embora as comunicações escritas ali ocupem o primeiro lugar, eles também se ocupam, acessoriamente e a título de instrução complementar, de manifestações físicas e tiptológicas, porém a título de ensinamento, e nunca como objeto de curiosidade. Dirigidas com método e recolhimento e sempre apoiadas em algumas explicações teóricas, elas estão nas condições desejadas para levar à convicção, pelas impressões que produzem. É em tais condições que as manifestações físicas são realmente úteis; elas falam ao espírito e impõem silêncio à troça. A gente se sente em presença de um fenômeno cuja profundidade se entrevê e que até afasta a ideia da brincadeira. Se estas espécies de manifestações, de que tanto se tem abusado, fossem sempre apresentadas dessa maneira, em vez de serem um divertimento e pretexto para perguntas fúteis, a crítica não as teria taxado de charlatanice. Infelizmente, muitas vezes dão ensejo a isso.
O filho do Sr. Delanne muitas vezes participara dessas manifestações e, influenciado pelo bom exemplo, as considerava como coisa séria.
Um dia ele se achava em casa de uma pessoa conhecida e brincava no pátio da casa com sua priminha de cinco anos e dois meninos, um de sete e outro de quatro anos. Uma senhora que morava no rés-do-chão os convidou a entrar em sua casa e lhes deu bombons. As crianças, como se pode imaginar, não se fizeram de rogadas.
A senhora perguntou ao filho do Sr. Delanne:
─ Como te chamas, meu filho?
─ Eu me chamo Gabriel, senhora.
─ Que faz teu pai?
─ Senhora, meu pai é espírita.
─ Eu não conheço essa profissão.
─ Mas, senhora, não é uma profissão; meu pai não é pago para isto, ele o faz com desinteresse e para fazer o bem aos homens.
─ Meu rapazinho, não sei o que queres dizer.
─ Como! Jamais ouvistes falar das mesas girantes?
─ Então, meu amigo, bem gostaria que teu pai estivesse aqui para fazê-las girar.
─ Não precisa, senhora, eu mesmo tenho o poder de fazê-las girar.
─ Então, queres experimentar e me mostrar como se procede?
─ Com muito prazer, senhora.
Dito isto, ele se sentou ao pé de uma mesinha da sala e fez se sentarem os seus três amiguinhos; e eis os quatro gravemente pondo as mãos sobre a mesa. Gabriel fez uma evocação, em tom muito sério e com recolhimento. Mal terminou, para grande estupefação da senhora e das crianças, a mesa ergueu-se e bateu com força.
─ Perguntai, senhora, disse Gabriel, quem vem responder pela mesa.
A vizinha interrogou e a mesa soletrou as palavras: teu pai. A senhora empalideceu de emoção. Ela continuou:
─ Então, meu pai, podes dizer se devo mandar a carta que acabo de escrever?
─ Sim, sem falta, respondeu a mesa.
─ Para me provar que és tu, meu bom pai, que estás aí, poderias dizer-me há quantos anos estás morto?
Logo a mesa bateu oito pancadas bem acentuadas. Estava correto o número de anos.
─ Poderias dizer-me teu nome e o da cidade onde morreste?
A mesa soletrou esses dois nomes.
As lágrimas jorraram dos olhos daquela senhora, que não pôde continuar, aterrada por essa revelação e dominada pela emoção.
Seguramente este fato desafia toda suspeita de preparação do instrumento, de ideia preconcebida e de charlatanismo. Também não se podem pôr os dois nomes soletrados à conta do acaso. Duvidamos muito que essa senhora tivesse recebido tamanha impressão numa das sessões dos Srs. Davenport, ou em qualquer outra do mesmo gênero. Ademais, não é a primeira vez que a mediunidade se revela em crianças, na intimidade das famílias. Não é o cumprimento daquelas palavras proféticas: Vossos filhos e vossas filhas profetizarão? (Atos dos Apóstolos, II:17).

ALLAN KARDEC

ESTUDO ESPÍRITA MORAL

ESTUDO ESPÍRITA MORAL

Em data de 10 de janeiro de 1865, um dos nossos corres­pondentes de Lyon nos transmite o seguinte relato.
Numa localidade vizinha, conhecíamos um indivíduo cujo nome não declaramos para não sermos maledicente e porque o nome nada tem a ver com o fato. Ele era espírita, e sob o domínio dessa crença se havia melhorado, no entanto não havia dela tirado todo o proveito que poderia, levando-se em consideração a sua inteligência. Vivia com uma velha tia, que o amava como a um filho, e que não poupava trabalhos nem sacrifícios por seu caro sobrinho. Por economia, ela tomava conta da casa. Até aí tudo muito natural. O que era menos natural é que o sobrinho, jovem e saudável, a deixava fazer trabalhos acima de suas forças, sem que jamais tivesse a ideia de poupar-lhe esforços penosos para a sua idade, tais como o transporte de fardos e coisas semelhantes. Ele não arredava um móvel em casa, como se tivesse criados às suas ordens. Se previsse algum penoso serviço excepcional, arranjava um pretexto para ausentar-se, temeroso que lhe pedissem uma ajuda que não poderia recusar. Entretanto, a esse respeito ele tinha recebido muitas lições, poderia dizer-se afrontas, capazes de fazer refletir um homem de coração, mas ele era insensível a elas. Um dia em que a tia se extenuava rachando lenha, lá estava ele sentado, fumando tranquilamente o seu cachimbo. Entrou um vizinho e, vendo isto, lançou um olhar de desprezo ao jovem e disse: “Isto é trabalho para homem, e não para mulher.” Depois, tomando o machado, começou a rachar a lenha, enquanto o outro olhava. Ele era considerado um homem direito e de boa conduta, mas seu caráter não tinha amenidade nem perseverança, por isso não era estimado, e a maioria dos amigos se haviam afastado. Nós, espíritas, nos afligíamos por essa falta de sentimento e dizíamos que um dia ele pagaria muito caro.
A previsão realizou-se recentemente. Devemos dizer que, devido aos esforços que fazia, a velha senhora foi acometida por uma hérnia muito grave, que a fazia sofrer muito, mas ela tinha a coragem de não se lamentar. Durante estes últimos períodos de frio, querendo esquivar-se de um trabalho pesado, o sobrinho saiu cedo, mas não voltou. Ao atravessar uma ponte, foi atingido por uma viatura que deslizou por uma encosta escorregadia, e morreu duas horas depois.
Quando fomos informados do fato, quisemos evocá-lo e eis o que foi respondido por um dos nossos bons guias:
“Aquele a quem quereis chamar não poderá comunicar-se antes de algum tempo. Venho responder por ele e vos dizer o que quereis saber. Mais tarde ele vo-lo confirmará. Neste momento ele está muito perturbado pelos pensamentos que o agitam. Ele vê sua tia e a doença que ela contraiu em consequência das fadigas corporais e da qual morrerá. Eis o que o atormenta, pois se considera o seu assassino. E ele é, de fato, pois poderia ter-lhe poupado o trabalho que será a causa de sua morte. É para ele um remorso pungente que o perseguirá por muito tempo, até que tenha reparado a sua falta. Ele queria fazê-lo neste momento; não deixa a sua tia, mas seus esforços são improfícuos, e então ele se desespera. Para seu castigo, deve vê-la morrer em consequência de sua indiferença egoísta, pois sua conduta é uma espécie de egoísmo. Orai por ele, a fim de sustentar seu arrependimento, que mais tarde o salvará.”
Pergunta. ─ Nosso caro guia poderia dizer-nos se não lhe serão levados em conta outros defeitos de que se corrigiu por força do Espiritismo e se sua situação não se abrandou?
Resposta. ─ Sem nenhuma dúvida, essa melhora lhe é levada em conta, pois nada escapa ao olhar perscrutador da divina providência. Mas eis de que maneira cada boa ou má ação tem suas consequências naturais, inevitáveis, segundo estas palavras do Cristo: A cada um segundo as suas obras. Aquele que se corrigiu de algumas falhas se poupa da punição que as mesmas teriam acarretado, e recebe, ao contrário, o prêmio das qualidades que as substituíram, mas não pode escapar às consequências dos defeitos que persistem. Assim, ele não é punido senão na proporção e segundo a gravidade destes últimos. Quanto menos defeitos tiver, melhor sua posição. Uma qualidade não resgata um defeito; ela diminui o número destes e, por conseguinte, a soma das punições.
Aqueles que são corrigidos logo de início são os mais fáceis de extirpar e o mais difícil de desfazer-se é o egoísmo. As pessoas julgam ter feito muito porque moderaram a violência do caráter, se resignaram à sua sorte ou se desfizeram de alguns maus hábitos. Sem dúvida é algo que lhes beneficia, mas não impede de pagarem o tributo de depuração pelo resto.
Meus amigos, o egoísmo é o que melhor se vê nos outros, porque a gente sente o seu contragolpe e porque o egoísta nos fere, mas o egoísta encontra em si mesmo sua satisfação, razão por que dele não se apercebe. O egoísmo é sempre uma prova de secura do coração; ele estiola a sensibilidade para os sofrimentos alheios. O homem de coração, ao contrário, ressente esse sofrimento e se emociona; é por isto que ele se dedica a não impô-lo ou minimizá-lo em relação aos outros, porque quereria que os outros fizessem o mesmo por ele. Assim, é feliz quando poupa um esforço ou um sofrimento a alguém. Tendo-se identificado com o mal de seu semelhante, ele experimenta um alívio real quando não mais existe o mal. Contai com o seu reconhecimento se lhe prestardes serviço.
Entretanto, do egoísta não espereis senão a ingratidão. O reconhecimento em palavras nada lhe custa, mas a ação o fatigaria e perturbaria o seu repouso. Ele só age por outro quando forçado, nunca espontaneamente. Seu devotamento está na razão do bem que espera das pessoas, e isto algumas vezes malgrado seu.
O moço de quem falamos certamente gostava da tia e ter-se-ia revoltado se lhe tivessem dito o contrário, contudo, sua afeição não chegava ao ponto de fatigar-se por ela. De sua parte, não era um desígnio premeditado, mas uma repulsa instintiva, consequente de seu egoísmo inato. A luz que ele não soube encontrar em vida, hoje lhe aparece, e ele lamenta não ter aproveitado melhor os ensinamentos que recebeu. Orai por ele.
O egoísmo é o verme roedor da Sociedade, é mais ou menos o de cada um de vós. Em breve eu farei uma dissertação na qual ele será encarado sob suas múltiplas nuanças; será um espelho: olhai-o com cuidado, para ver se não percebeis num canto qualquer um reflexo de vossa personalidade. 
VOSSO GUIA ESPIRITUAL

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Questões e problemas - Perfectibilidade dos Espíritos

Questões e problemas - Perfectibilidade dos Espíritos

(Revista Espírita, agosto de 1866 - Questões e problemas)

(Paris, 3 de fevereiro de 1866. Grupo do Sr. Lat...
Médium, Sr. Desliens).

Pergunta. Se os Espíritos ou almas se melhoram indefinidamente, conforme o Espiritismo, eles devem tornar-se infinitamente aperfeiçoados ou puros. Chegados a esse grau, por que não são iguais a Deus? Isto não está de acordo com a justiça.
Resposta. homem é uma criatura realmente singular! Sempre acha o seu horizonte muito limitado. Quer tudo compreender, tudo captar, tudo conhecer! Quer penetrar o insondável e despreza o estudo do que lhe toca imediatamente; quer compreender Deus, julgar os seus atos, fazê-lo justo ou injusto; diz como queria que ele fosse, sem suspeitar que ele é tudo isso e muito mais!... Mas, verme miserável, algum dia compreendeste de modo absoluto algo do que te cerca? Sabes por que lei a flor se colore e se perfuma aos beijos vivificantes do sol? Sabes como nasces, como vives e por que teu corpo morre?... - Tu vês fatos, mas as causas para ti ficam envoltas num véu impenetrável, e querias julgar o princípio de todas as coisas, a causa primeira, Deus enfim! - Há muitos outros estudos mais necessários ao desenvolvimento de teu ser, que merecem toda a tua atenção!...
Quando resolves um problema de álgebra vais do conhecido para o desconhecido e, para compreender Deus, esse problema insolúvel desde tantos séculos, queres dirigir-te a ele diretamente! Então tendes todos os elementos necessários para estabelecer tal equação? Não te falta algum documento para julgar teu criador em última instância? Por acaso vais acreditar que o mundo seja limitado a este grão de areia perdido na imensidade do espaço onde te agitas mais imperceptível que o menor dos infusórios, e que o Universo seja uma gota d’água? Contudo, raciocinemos e vejamos por que, conforme teus conhecimentos atuais, Deus seria injusto não se deixando jamais atingir por sua criatura.
Em todas as ciências há axiomas ou verdades irrecusáveis, que se admitem como bases fundamentais. As ciências matemáticas, e em geral todas as ciências, são baseadas no axioma de que a parte jamais poderia igualar o todo. O homem, criatura de Deus, segundo esse princípio, jamais poderia atingir aquele que o criou.
Suponde que um indivíduo tenha que percorrer uma estrada de extensão infinita. De uma extensão infinita, pesai bem a expressão. Aí está a posição do homem em relação a Deus, considerado como o seu objetivo.
Dir-me-eis que, por pouco que se marche, a soma dos anos e dos séculos de marcha permitirá atingir o fim. É um erro!... O que fizerdes num ano, num século, num milhão de séculos, será sempre uma quantidade finita; um outro espaço igual não vos permitirá acrescentar senão uma quantidade igualmente finita, e assim por diante. Ora, para o mais noviço matemático, uma soma de quantidades finitas jamais formará uma quantidade infinita. O contrário seria absurdo, pois nesse caso o infinito poderia ser medido, o que faria com que ele perdesse sua qualidade de infinito. - O homem progredirá sempre e incessantemente, mas em quantidade finita; a soma de seus progressos não será jamais senão uma perfeição finita, que não poderia atingir Deus, o infinito em tudo. Não há, pois, injustiça da parte de Deus em que suas criaturas jamais o possam igualar. A natureza de Deus é um obstáculo intransponível a um tal objetivo do Espírito; sua justiça não poderia permiti-lo, porque se um Espírito se igualasse a Deus, seria o próprio Deus. Ora, se dois Espíritos forem tais que tenham ambos o mesmo poder infinito em todos os sentidos e um for idêntico ao outro, eles se confundirão num só e não haverá mais que um Deus. Um deles deveria, pois, perder a sua individualidade, o que seria uma injustiça muito mais evidente do que não poder atingir um fim infinitamente distanciado, dele se aproximando constantemente. Deus faz bem o que faz e o homem é demasiadamente pequeno para permitir-se pesar as suas decisões 
MOKI

OBSERVAÇÃO: Se há um mistério insondável para o homem, é o princípio e o fim de todas as coisas. A visão do infinito lhe dá vertigem. Para compreendê-lo são necessários conhecimentos e um desenvolvimento intelectual e moral que ele ainda está longe de possuir, malgrado o orgulho que o leva a julgar-se chegado ao topo da escala humana. Em relação a certas ideias, ele está na posição de uma criança que quisesse fazer cálculo diferencial e integral, antes de saber as quatro operações. À medida que avançar para a perfeição, seus olhos abrir-se-ão à luz, e a névoa que os cobre se dissipará. Trabalhando seu melhoramento no presente, ele chegará mais cedo do que perdendo-se em conjecturas.

NA ORDEM SOCIAL

NA ORDEM SOCIAL


Observa no próprio lar as forças diferentes que se congregam, nutrindo-te a segurança, para que te não furtes ao dever de servir:
O legislador, cujo pensamento garante a harmonia na via pública.
O engenheiro que te traçou o plano da moradia.
O pedreiro que levantou o edifício a que te acolhes.
O pintor que te alegrou o ambiente.
O operário que te trouxe a bênção das águas ao reduto doméstico.
O braço diligente que te garante combustível e força para que te não faltem calor e luz.

Pensa ainda nos missionários outros que te oferecem equilíbrio e tranquilidade:
O médico que te preserva a saúde.
O escritor que te renova às idéias.
O professor que te educa.
O irmão que te estende amizade e reconforto.
O lixeiro que te alivia.
O varredor que cultiva a higiene.
O lavrador que te assegura o alimento.

Não admitas que o dinheiro seja o único poder aquisitivo de semelhantes valores.

O ouro, só por si, num mundo de sedentos e esfomeados, não valeria a gota dágua, nem a migalha de pão.

Refletem na interdependência que nos rege todas as fases da vida e aprende a valorizar teus minutos na extensão do bem.

Auxiliar a todos com espontaneidade e carinho, é agradecer aos outros o auxílio com que nos seguem.

Fugir à crítica e à desaprovação, abraçando a solidariedade e o estímulo fraterno é compreender nossas próprias necessidades, de vez que não caminharemos sem o concurso alheio.

Entendamos a amplitude da colaboração anônima que recolhemos do próximo e, oferecendo ao próximo o melhor de nós mesmos, estaremos com Cristo, nosso Mestre e Senhor, que, no sacrifício supremo, nos ensinou a alcançar a suprema vitória.



pelo Espírito Emmanuel - Do livro: Nós, Médium: Francisco Cândido Xavier

TRATADO DA EXISTÊNCIA E DOS ATRIBUTOS DE DEUS[1]

François Fénelon, pseudônimo de François de Salignac de La Mothe-Fénelon, foi um teólogo, poeta e escritor francês bastante influente na França e cujas ideias liberais muito contribuíram para a emancipação da humanidade.
Nasceu no castelo da família, em Périgord, em 6 de agosto de 1651 e morreu em Cambrai a 7 de janeiro de 1715, aos sessenta e três anos de idade.
Extraímos um pequeno trecho de um de seus livros e o traduzimos do francês, como singela homenagem a esse nobre Espírito, pela data do seu nascimento. Ei-lo aqui reproduzido: 

TRATADO DA EXISTÊNCIA E DOS ATRIBUTOS DE DEUS[1]

Por François Fénelon, escrito em 1712

Provas da existência de Deus, tiradas da consideração das principais maravilhas da natureza.
  
(...) Após essas comparações, sobre as quais peço ao leitor para simplesmente consultar-se a si próprio, mesmo sem raciocinar, creio que é momento de entrar no detalhe da natureza. Não pretendo penetrá-la toda inteira; quem o poderia? Também não pretendo entrar em nenhuma discussão de Física; essas discussões suporiam certos conhecimentos aprofundados que muitas pessoas de espírito jamais adquiriram; quero lhes propor apenas um simples golpe de vista sobre a face da natureza; não quero lhes falar senão do que todo mundo sabe, e que precisa apenas de um pouco de atenção tranquila e séria.
Detenhamo-nos primeiramente no grande objeto que atrai nossos primeiros olhares, isto é, a estrutura geral do Universo. Lancemos um olhar sobre esta terra que nos suporta; observemos no céu essa abóbada imensa que nos cobre; esses abismos de ar e de água que nos rodeiam, e os astros que nos iluminam. Um homem que vive sem reflexão pensa apenas nos espaços que estão junto de si ou que têm alguma relação com suas necessidades; ele considera a terra inteira apenas como o chão do seu quarto, e vê o sol que o ilumina durante o dia da mesma maneira que vê a vela que o ilumina durante a noite; seus pensamentos se limitam ao lugar estreito que ele habita. Ao contrário, o homem habituado a refletir estende seu olhar para mais longe, e considera com curiosidade os abismos quase infinitos que o rodeiam por todos os lados. Um vasto reino lhe parece então um pequeno canto da Terra; a própria Terra não é, a seus olhos, senão um ponto da massa do Universo; admira-se de estar aí localizado sem saber como nela veio parar.
Quem é que suspendeu esse globo da terra que é imóvel? Quem é que nela pôs os fundamentos? Nada, ao que lhe parece, é mais vil que ela; os mais infelizes lhe calcam sob os pés. No entanto, é para possui-la que se investem todos os grandes tesouros. Se a terra fosse mais dura, o homem não poderia abrir-lhe o seio para cultivá-la; se ela fosse menos dura, não poderia suportá-lo; ele afundaria em toda parte, como afunda na areia ou no lamaçal. É do seio inesgotável da terra que sai tudo o que há de mais precioso. Essa massa informe, vil e grosseira, toma as formas mais diversas e se transforma, passo a passo, em todos os bens que lhe solicitamos; essa lama tão feia transforma-se em mil objetos belos que encantam os olhos; em apenas um ano ela se torna galhos, botões, folhas, flores, frutos e sementes, para renovar suas liberalidades em favor dos homens. Nada a esgota. Quanto mais dilaceramos suas entranhas, mas liberal ela é. Após tantos séculos, durante os quais tudo tem dela saído, ainda não está gasta; não se torna velha; suas entranhas ainda estão plenas dos mesmos tesouros.
Mil gerações passaram por seu seio: tudo envelhece, exceto ela, que rejuvenesce a cada ano, na primavera. Ela jamais falta aos homens; mas, insensatos, os homens faltam a si mesmos negligenciando o seu cultivo (...).
Admirai as plantas que nascem da terra; elas fornecem alimentos aos sãos e remédios aos doentes. Suas espécies e suas virtudes são inumeráveis: elas enfeitam a terra; dão verdor, flores odoríferas e frutos deliciosos. Vedes essas vastas florestas que parecem tão antigas quanto o mundo? As árvores se afundam na terra por meio de suas raízes, como se elevam para o céu por meio de seus galhos; suas raízes as sustentam contra os ventos, e vão buscar, como por pequenos tubos subterrâneos, todos os sucos destinados à nutrição de seu caule; o próprio caule se reveste de uma casca dura, que coloca a madeira tenra ao abrigo das injúrias do ar; seus galhos distribuem, por diversos canais a seiva que as raízes reuniram no tronco. No verão esses ramos nos protegem contra os raios do sol, com sua sombra; no inverno eles nutrem a chama que conserva em nós o calor natural. Sua madeira não é útil somente para o fogo; é uma matéria dócil, ainda que sólida e durável, à qual, sem dificuldade, a mão do homem dá todas as formas que desejar, para as grandes obras de arquitetura e de navegação. Além disso, pendendo seus ramos para a terra, as árvores frutíferas parecem oferecer seus frutos ao homem.
As árvores e as plantas, deixando cair seus frutos ou seus grãos, preparam em torno delas mesmas uma numerosa prosperidade. A mais frágil planta, o menor legume, contêm em pequeno volume, num grão, o germe de tudo o que se desdobra nas mais altas plantas e nas maiores árvores. A terra, que jamais muda, faz todas essas mudanças em seu seio.
Observemos agora o que chamamos de água: é um corpo líquido, claro e transparente. Por um lado, ela corre, escapa, foge; por outro, toma todas as formas do corpo que a contêm, não tendo nenhuma para si mesma. Se a água fosse um pouco mais rarefeita, se tornaria uma espécie de ar; toda a face da terra seria seca e estéril; haveria apenas animais voadores; nenhuma espécie de animal poderia nadar, nenhum peixe poderia viver; não haveria nenhum comércio pela navegação. Que mão habilidosa soube condensar a água, sutilizar o ar, e distinguir tão bem essas duas espécies de corpos fluidos?
Se a água fosse um pouco mais rarefeita, não poderia sustentar esses prodigiosos edifícios que denominamos navio; os corpos menos pesados afundariam primeiro na água. Quem é que tomou o cuidado de escolher uma tão justa configuração de partes, e um grau tão preciso de movimento, para tornar a água tão fluida, tão insinuante, tão própria a escapar, tão incapaz de toda consistência, e no entanto tão forte para levar, e tão impetuosa para arrastar as mais pesadas massas? Ela é dócil; o homem a conduz, como um cavaleiro conduz um cavalo pelas pontas das rédeas; ele a distribui como lhe convém; eleva-a sobre as montanhas escarpadas, e se serve de seu próprio peso para fazê-la cair, e subir tanto quanto desceu. Mas o homem, que conduz as águas com tanto império é, a seu turno, conduzido por elas. A água é uma das maiores forças motrizes que o homem sabe empregar para suprir ao que lhe falta nas artes mais necessárias, por causa da sua pequenez e pela fragilidade de seu corpo.
Todavia, essas águas que, não obstante sua fluidez, são massas tão pesadas, não deixam de se elevar acima de nossas cabeças e ficar lá por longo tempo suspensas.  Vede essas nuvens que voam como sobre as asas dos ventos? Se caíssem de repente em grossas colunas d’água, rápidas como torrentes, submergiriam e destruiriam tudo o que estivesse em seu caminho, e o restante das terras ficariam áridas. Que mão as têm nesses reservatórios suspensos, e não lhes permite cair senão gota a gota, como se fossem destiladas por um regador? Donde vem que em certos países quentes, onde quase nunca chove, o orvalho é tão abundante que supre a falta de chuva, e em outros países, tais como nas margens do Nilo e do Ganges, a inundação regular dos rios em certas estações diminui a necessidade dos povos de irrigar a terra? Pode-se imaginar medidas melhor tomadas para tornar todas as regiões férteis?
Assim, a água dessedenta não somente os homens, mas também os campos áridos; e aquele que nos deu esse corpo fluido o distribuiu com cuidado sobre a terra como os canais de um jardim. (...)


[1] Texto extraído das Œuvres Choisies de Fénelon. Traité de l’Existence et des Attributs de Dieu, Première partie, ch. I. Traduzido do francês pela Equipe do IPEAK.

Fonte: IPEAK

ORAI PELOS QUE VOS PERSEGUEM

ORAI PELOS QUE VOS PERSEGUEM


Compadecei-vos de quantos se consagram a instilar a peçonha da crueldade nos corações alheios, porque toda perseguição nasce da alma desventurada que a invigilância entenebreceu.

Monstro invisível, senhoreando idéias e sentimentos, é qual fera à solta, transpirando veneno, a partir das próprias vítimas que transforma em carrascos.

Quase sempre, surge naqueles que vascolejam o lixo da maledicência, buscando o lodo da calúnia para as telas do crime, quando não se levanta do charco ignominioso da inveja para depredar ou ferir.

De qualquer modo, gera alienação e infortúnio naqueles que lhes albergam as sugestões, escurecendo-lhes o raciocínio, para arrebata-los com segurança ao cárcere da agonia moral no inferno do desespero.

Ventania de lama, espalha corrente miasmáticas com o seu hálito de morte, agregando elementos de corrosão em todos os que lhe ofertam guarida.

É por isso que, ante os nossos perseguidores, é preciso acender a flama da caridade, a fim de que se nos não desvairem os pensamentos espancados de chofre.

Olhos e ouvidos empenhados à sombra dessa espécie; são rendições ao desânimo e à delinqüência, à deserção e à enfermidade.

Eis porque, Jesus, em Seu Amor e Sabedoria, não nos inclinou à lutar contra semelhante fantasma, induzindo-nos à bênção da compaixão, qual se fôssemos defrontados pela peste contagiante.
Perseguidos no mundo; mantenhamo-nos constante no trabalho do bem a realizar, e, ao invés do gládio da reação ou do choro inútil da queixa, aprendamos, cada dia, entre o perdão e o silêncio, a orar e esperar.



pelo Espírito Emmanuel - Do livro: Trilha De Luz, Médium: Francisco Cândido Xavier

O lar de uma família espírita

O lar de uma família espírita

(Revista Espírita, setembro de 1859)

Há três anos a Sra. G... ficou viúva, com quatro crianças. O filho mais velho é um rapaz amável, de dezessete anos, e a filha mais moça uma encantadora menina de seis. Desde muito tempo essa família se dedica ao Espiritismo, e antes mesmo que esta crença se tivesse tornado tão popular como hoje, marido e mulher tinham uma espécie de intuição que diversas circunstâncias haviam desenvolvido. O pai do Sr. G... havia aparecido para ele várias vezes, na mocidade, sempre para preveni-lo de coisas importantes ou para lhe dar conselhos úteis. Fatos semelhantes também se haviam passado entre os seus amigos, de sorte que para eles a existência de além-túmulo não era objeto da menor dúvida, assim como não o era a possibilidade de nos comunicarmos com nossos entes queridos.
Quando o Espiritismo surgiu, foi apenas a confirmação de uma ideia bem assentada e santificada pelo sentimento de uma religião esclarecida, pois aquela família é um modelo de piedade e de caridade evangélica. Na nova ciência aprenderam os meios mais diretos de comunicação. A mãe e um dos filhos tornaram-se excelentes médiuns. Mas, longe de empregar essa faculdade em questões fúteis, todos consideravam-na precioso dom da Providência, do qual não era permitido servir-se senão para coisas sérias. Assim, jamais a praticavam sem recolhimento e respeito, e longe das vistas dos importunos e curiosos.
Nesse meio tempo o pai adoeceu. Pressentindo seu fim próximo, reuniu os filhos e lhes disse: “Meus caros filhos e minha amada mulher. Deus me chama para Ele. Sinto que vou deixar-vos daqui a pouco, mas também sinto que por vossa fé na imortalidade encontrareis força para suportar esta separação com coragem, assim como eu levo o consolo de que poderei sempre estar entre vós e vos ajudar com os meus conselhos. Assim, chamai-me quando eu não estiver mais na Terra. Virei sentar-me ao vosso lado e conversar convosco, como o fazem os nossos antepassados. Na verdade, estaremos menos separados do que se eu partisse para uma terra distante.
Minha cara esposa, deixo-te uma grande tarefa, mas quanto mais pesada for, mais gloriosa será. Tenho certeza de que os nossos filhos te ajudarão a suportá-la. Não é, meus filhos? Auxiliareis a vossa mãe; evitareis tudo quanto possa fazê-la sofrer; sereis sempre bons e benevolentes para com todos; estendereis a mão aos vossos irmãos infelizes, porque não haveis de querer estendê-la um dia pedindo em vão para vós. Que a paz, a concórdia e a união reinem entre vós. Que jamais o interesse vos separe, porque o interesse material é a maior barreira entre a Terra e o Céu. Pensai que estarei sempre junto a vós; que vos verei como vos vejo neste momento, e ainda melhor, pois verei o vosso pensamento. Não queirais, assim, entristecer-me depois da morte, do mesmo modo que não o fizestes durante a minha vida”.
É um espetáculo realmente edificante a vida dessa piedosa família. Alimentadas nas ideias espíritas, essas crianças não se consideram separadas do pai. Para elas, ele está presente. Temem praticar a menor ação que possa desagradá-lo. Uma noite por semana, e às vezes mais, é consagrada a conversar com ele. Existem, porém, as necessidades da vida, que devem ser providas, pois a família não é rica. É por isso que um dia certo é marcado para essas conversas piedosas e sempre esperadas com impaciência. Muitas vezes pergunta a pequenina: “É hoje que papai vem?” Esse dia transcorre entre conversas familiares e instruções proporcionadas à inteligência, algumas vezes infantis, outras vezes graves e sublimes. São conselhos dados a propósito de pequenas travessuras que ele assinala. Se faz elogios, também não poupa críticas, e o culpado baixa os olhos, como se o pai estivesse diante dele; pede-lhe perdão, que por vezes só é concedido depois de algumas semanas de prova. Sua sentença é esperada com febril ansiedade. Então, que alegria, quando o pai diz: “Estou contente contigo!” Entretanto, a mais terrível sentença é: “Não virei na próxima semana.”
A festa anual não é esquecida. É sempre um dia solene, para o qual convidam os avós e demais mortos da família, sem esquecer um irmãozinho, falecido há alguns anos. Os retratos são enfeitados de flores e cada criança prepara um pequeno trabalho, por vezes apenas uma saudação tradicional. O mais velho faz uma dissertação sobre assunto grave; uma das meninas toca um trecho de música; a menor conta uma fábula. É o dia das grandes comunicações, e cada convidado recebe uma lembrança dos amigos que deixou na Terra.
Como são belas essas reuniões, na sua tocante simplicidade! Como tudo, ali, fala ao coração! Como é possível sair delas sem estar impregnado do amor ao bem? Nenhum olhar de mofa, nenhum sorriso cético vem perturbar o piedoso recolhimento. Alguns amigos que partilham das mesmas convicções e que são devotos da religião da família, são os únicos admitidos a participar desse banquete do sentimento.
Ride quanto quiserdes, vós que zombais das coisas mais santas. Por mais soberbos e endurecidos que sejais, não vos faço a injúria de acreditar que o vosso orgulho possa ficar impassível e frio ante tal espetáculo.
Um dia, entretanto, foi de luto para a família, dia de verdadeiro pesar: o pai havia anunciado que durante algum tempo, longo tempo mesmo, não poderia vir. Ele havia sido chamado para uma importante missão longe da Terra. A festa anual não deixou de ser celebrada, mas foi triste, pois o pai lá não estava. Ao partir, ele havia dito: “Meus filhos, que ao meu retorno eu vos encontre todos dignos de mim”, e cada um se esforça por tornar-se digno dele. Eles ainda estão esperando.
ALLAN KARDEC.