Questões e problemas - Perfectibilidade dos Espíritos
(Revista Espírita, agosto de 1866 - Questões e problemas)
(Paris, 3 de fevereiro de 1866. Grupo do Sr. Lat...
Médium, Sr. Desliens).
Pergunta.
Se os Espíritos ou almas se melhoram indefinidamente, conforme o
Espiritismo, eles devem tornar-se infinitamente aperfeiçoados ou puros.
Chegados a esse grau, por que não são iguais a Deus? Isto não está de
acordo com a justiça.
Resposta. O homem
é uma criatura realmente singular! Sempre acha o seu horizonte muito
limitado. Quer tudo compreender, tudo captar, tudo conhecer! Quer
penetrar o insondável e despreza o estudo do que lhe toca imediatamente;
quer compreender Deus, julgar os seus atos, fazê-lo justo ou injusto;
diz como queria que ele fosse, sem suspeitar que ele é tudo isso e muito
mais!... Mas, verme miserável, algum dia compreendeste de modo absoluto
algo do que te cerca? Sabes por que lei a flor se colore e se perfuma
aos beijos vivificantes do sol? Sabes como nasces, como vives e por que
teu corpo morre?... - Tu vês fatos, mas as causas para ti ficam envoltas
num véu impenetrável, e querias julgar o princípio de todas as coisas, a
causa primeira, Deus enfim! - Há muitos outros estudos mais necessários ao desenvolvimento de teu ser, que merecem toda a tua atenção!...
Quando
resolves um problema de álgebra vais do conhecido para o desconhecido
e, para compreender Deus, esse problema insolúvel desde tantos séculos,
queres dirigir-te a ele diretamente! Então tendes todos os elementos
necessários para estabelecer tal equação? Não te falta algum documento
para julgar teu criador em última instância? Por acaso vais acreditar
que o mundo seja limitado a este grão de areia perdido na imensidade do
espaço onde te agitas mais imperceptível que o menor dos infusórios, e
que o Universo seja uma gota d’água? Contudo, raciocinemos e vejamos por
que, conforme teus conhecimentos atuais, Deus seria injusto não se
deixando jamais atingir por sua criatura.
Em
todas as ciências há axiomas ou verdades irrecusáveis, que se admitem
como bases fundamentais. As ciências matemáticas, e em geral todas as
ciências, são baseadas no axioma de que a parte jamais poderia igualar o
todo. O homem, criatura de Deus, segundo esse princípio, jamais poderia
atingir aquele que o criou.
Suponde que um indivíduo tenha que percorrer uma estrada de extensão infinita. De uma extensão infinita, pesai bem a expressão. Aí está a posição do homem em relação a Deus, considerado como o seu objetivo.
Dir-me-eis que, por pouco que se marche, a soma dos anos e dos séculos de marcha permitirá atingir o fim. É um erro!... O que
fizerdes num ano, num século, num milhão de séculos, será sempre uma
quantidade finita; um outro espaço igual não vos permitirá acrescentar
senão uma quantidade igualmente finita, e assim por diante. Ora, para o
mais noviço matemático, uma soma de quantidades finitas jamais formará
uma quantidade infinita. O contrário seria absurdo, pois nesse caso o
infinito poderia ser medido, o que faria com que ele perdesse sua
qualidade de infinito. - O homem progredirá sempre e incessantemente,
mas em quantidade finita; a soma de seus progressos não será jamais
senão uma perfeição finita, que não poderia atingir Deus, o infinito em
tudo. Não há, pois, injustiça da parte de Deus em que suas criaturas
jamais o possam igualar. A natureza de Deus é um obstáculo
intransponível a um tal objetivo do Espírito; sua justiça não poderia
permiti-lo, porque se um Espírito se igualasse a Deus, seria o próprio
Deus. Ora, se dois Espíritos forem tais que tenham ambos o mesmo poder
infinito em todos os sentidos e um for idêntico ao outro, eles se
confundirão num só e não haverá mais que um Deus. Um deles deveria,
pois, perder a sua individualidade, o que seria uma injustiça muito mais
evidente do que não poder atingir um fim infinitamente distanciado,
dele se aproximando constantemente. Deus faz bem o que faz e o homem é
demasiadamente pequeno para permitir-se pesar as suas decisões
MOKI
OBSERVAÇÃO:
Se há um mistério insondável para o homem, é o princípio e o fim de
todas as coisas. A visão do infinito lhe dá vertigem. Para compreendê-lo
são necessários conhecimentos e um desenvolvimento intelectual e moral
que ele ainda está longe de possuir, malgrado o orgulho que o leva a julgar-se chegado ao topo da escala humana. Em relação a certas ideias, ele está na posição de uma criança que quisesse fazer cálculo diferencial e integral, antes de saber as quatro operações. À medida
que avançar para a perfeição, seus olhos abrir-se-ão à luz, e a névoa
que os cobre se dissipará. Trabalhando seu melhoramento no presente, ele
chegará mais cedo do que perdendo-se em conjecturas.
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