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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

CIVILIZAÇÃO E SOLIDARIEDADE


Emmanuel
 
Numerosos os companheiros que se crêem modelos acabados de humanismo. São repositórios vivos da cultura de todos os tempos. Descerram ilimitados horizontes à inteligência e, debruçados sobre publicações, falam de ciência e filosofia, dominando os mais altos conhecimentos.
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Entretanto, não toleram o mínimo contato com os sofrimentos do próximo.
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Nada sabem acerca das criaturas que se arrastam, em torno das peças primorosas que pronunciam.
Supõem-se líderes de educação e progresso, mas admitem como sendo indignidade para eles o trato pessoal com o homem calejado no trabalho que o alfabeto ainda não alcançou; julgam impropriedade, na altura em que se encontram, qualquer atenção caridosa para com as mães abandonadas em telheiros de angustia; acreditam que lhes é inconveniente assumir responsabilidade na proteção à criança que abordou o plano físico pelo renascimento considerado ilegal e categorizam por marginais pobres irmãos que tombam na estrada, enfermos e subnutridos...
Emitem conceitos profundos, em matéria de espiritualidade e religião, mas desconhecem totalmente os desesperados, os ignorantes, os obsessos, os toxicômanos, as vítimas do aborto, os desempregados, os descrentes, os velhos banidos do lar, os recalcados quase sempre no rumo de penitenciárias ou manicômios, os parias sociais de todas as procedências...
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Exaltemos a técnica e desenvolvamos o saber, sem os quais a vida terrena jazeria indefinidamente na selva, mas inclinemo-nos na direção dos que carregam fardos mais pesados do que os nossos, honorificando a solidariedade.
Penetremos os recessos da psicologia da nossa época, auscultemos os problemas, as aflições, as provas e as necessidades que nos rodeiam, oferecendo o concurso de que sejamos capazes à solução e ao amparo de que careçam nossos irmãos ainda infelizes.
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Não somos chamados tão-somente a viver e aprender, mas também a conviver e auxiliar.
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Civilização sem amor é subida espetacular para salto nas trevas.
Cultura que não guia a retaguarda, por intermédio de compaixão e serviço, é comparável à indiferença do pastor que entrega o rebanho aos lobos da violência.
 
Fonte: Do Livro “Seguindo Juntos” Francisco Cândido Xavier/Espíritos Diversos
Digitalizado por: Cleusa Marcusso

 

ADULTÉRIO E PROSTITUIÇÃO

 Emmanuel

Atire-lhe a primeira pedra aquele que estiver isento de pecado, disse Jesus.
Esta sentença faz da indulgência um dever para nós outros porque ninguém há que não necessite, para si próprio, de indulgência.
Ela nos ensina que não devemos julgar com mais severidade os outros, do que nos julgamos a nós mesmos, nem condenar em outrem aquilo de que nos absolvemos.
Antes de profligarmos a alguém uma falta, vejamos se a mesma censura não nos pode ser feita.
Do item 13, do Cap. X, de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
 
É curioso notar que Jesus, em se tratando de faltas e quedas, nos domínios do espírito, haja escolhido aquela da mulher, em falhas do sexo, para pronunciar a sua inolvidável sentença: "aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra".
Dir-se-ia que no rol das defecções, deserções, fraquezas e delitos do mundo, os problemas afetivos se mostram de tal modo encravados no ser humano que pessoa alguma da Terra haja escapado, no cardume das existências consecutivas, aos chamados "erros do amor".
Penetre cada um de nós os recessos da própria alma, e, se consegue apresentar comportamento irrepreensível, no imediatismo da vida prática, ante os dias que correm, indague-se, com sinceridade, quanto às próprias tendências.
Quem não haja varado transes difíceis, nas áreas do coração, no período da reencarnação em que se encontre, investigue as próprias inclinações e anseios no campo íntimo, e, em sã consciência, verificará que não se acha ausente do emaranhado de conflitos, que remanescem do acervo de lutas sexuais da Humanidade.
Desses embates multimilenares, restam, ainda, por feridas sangrentas no organismo da coletividade, o adultério que, de futuro, será classificado na patologia das doenças da alma, extinguindo-se, por fim, com remédio adequado, e a prostituição que reúne em si homens e mulheres que se entregam às relações sexuais, mediante paga, estabelecendo mercados afetivos.
Qual ocorre aos flagelos da guerra, da pirataria, da violência homicida e da escravidão que acompanham a comunidade terrestre, há milênios, diluindo-se, muito pouco a pouco, o adultério e a prostituição ainda permanecem, na Terra, por instrumentos de prova e expiação, destinados naturalmente a desaparecer, na equação dos direitos do homem e da mulher, que se harmonizarão pelo mesmo peso, na balança do progresso e da vida.
Note-se que o lenocínio de hoje, conquanto situado fora da lei, é o herdeiro dos bordéis autorizados por regulamentação oficial, em muitas regiões, como sucedia notadamente na Grécia e na Roma antigas, em que os estabelecimentos dessa natureza eram constantemente nutridos por levas de jovens mulheres orientais, direta ou indiretamente adquiridas, à feição de alimárias, para misteres de aluguel.
Tantos foram os desvarios dos Espíritos em evolução no Planeta – Espíritos entre os quais muito raros de nós, os companheiros da Terra, não nos achamos incluídos - que decerto Jesus, personalizando na mulher sofredora a família humana, pronunciou a inesquecível sentença, convocando os homens, supostamente puros em matéria de sexualidade, a lançarem sobre a companheira infeliz a primeira pedra.
Evidentemente, o mundo avança para mais elevadas condições de existência.
Fenômenos de transição explodem aqui e ali, comunicando renovação.
E, com semelhantes ocorrências, surge para as nações o problema da educação espiritual, para que a educação do sexo não se faça irrisão com palavras brilhantes mascarando a licenciosidade.
Quando cada criatura for respeitada em seu foro íntimo, para que o amor se consagre por vínculo divino, muito mais de alma para alma que de corpo para corpo, com a dignidade do trabalho e do aperfeiçoamento pessoal luzindo na presença de cada uma, então os conceitos de adultério e prostituição se farão distanciados do cotidiano, de vez que a compreensão apaziguará o coração humano e a chamada desventura afetiva não terá razão de ser.
Psicografia : Francisco Cândido Xavier Livro : Vida e Sexo
 

UNIÃO INFELIZ


 Emmanuel
Pergunta - Qual o fim objetivado com a reencarnação?
Resposta - Expiação.melhoramento progressivo da Humanidade.
Sem isto, onde a justiça?
Item n° 167, de "O livro dos Espíritos".

Dolorosa, sem dúvida, a união considerada menos feliz.
E, claro, que não existe obrigatoriedade para que alguém suporte, a contragosto, a truculência ou o peso de alguém, ponderando-se que todo espírito é livre no pensamento para definir-se, quanto às próprias resoluções.
Que haja, porém, equilíbrio suficiente nos casais unidos pelo compromisso afetivo, para que não percam a oportunidade de construir a verdadeira libertação.
Indiscutivelmente, os débitos que abraçamos são anotados na Contabilidade da Vida; todavia, antes que a vida os registe por fora, grava em nós mesmos, em toda a extensão, o montante e os característicos de nossas faltas.
A pedra que atiramos no próximo talvez não volte sobre nós em forma de pedra, mas permanece conosco na figura de sofrimento.
E, enquanto não se remove a causa da angústia, os efeitos dela perduram sempre, tanto quanto não se extingue a moléstia, em definitivo, se não a eliminamos na origem do mal.
Nas ligações terrenas, encontramos as grandes alegrias; no entanto, é também dentro delas que somos habitualmente defrontados pelas mais duras provações.
Isso porque, embora não percebamos de imediato, recebemos, quase sempre, no companheiro ou na companheira da vida intima, os reflexos de nós próprios.
É natural que todas as conjunções afetivas no mundo se nos figurem como sendo encantados jardins, enaltecidos de beleza e perfume, lembrando livros de educação, cujo prefácio nos enleva com a exaltação dos objetivos por atingir.
A existência física, entretanto, é processo específico de evolução, nas áreas do tempo, e assim como o aluno nenhuma vantagem obterá da escola se não passa dos ornamentos exteriores do educandário em que se matricula, o espírito encarnado nenhum proveito recolheria do casamento, caso pretendesse imobilizar-se no êxtase do noivado.
Os princípios cármicos desenovelam-se com as horas.
Provas, tentações, crises salvadoras ou situações expiatórias surgem na ocasião exata, na ordem em que se nos recapitulam oportunidades e experiências, qual ocorre à semente que, devidamente plantada, oferece o fruto em tempo certo.
O matrimônio pode ser precedido de doçura e esperança, mas isso não impede que os dias subseqüentes, em sua marcha incessante, tragam aos cônjuges os resultados das próprias criações que deixaram para trás.
A mudança espera todas as criaturas nos caminhos do Universo, a fim de que a renovação nos aprimore.
A jovem suave que hoje nos fascina, para a ligação afetiva, em muitos casos será talvez amanhã a mulher transformada, capaz de impor-nos dificuldades enormes para a consecução da felicidade; no entanto, essa mesma jovem suave foi, no passado - em existências já transcorridas -, a vítima de nós mesmos, quando lhe infligimos os golpes de nossa própria deslealdade ou inconseqüência, convertendo-a na mulher temperamental ou infiel que nos cabe agora relevar e retificar.
O rapaz distinto que atrai presentemente a companheira, para os laços da comunhão mais profunda, bastas vezes será provavelmente depois o homem cruel e desorientado, suscetível de constrangê-la a carregar todo um calvário de aflições, incompatíveis com os anseios de ventura que lhe palpitam na alma.
Esse mesmo rapaz distinto, porém, foi no pretérito - em existências que já se foram – a vítima dela própria, quando, desregrada ou caprichosa, lhe desfigurou o caráter, metamorfoseando-o no homem vicioso ou fingido que lhe compete tolerar e reeducar.
Toda vez que amamos alguém e nos entregamos a esse alguém, no ajuste sexual, ansiando por não nos desligarmos desse alguém, para depois somente depois - surpreender nesse alguém defeitos e nódoas que antes não víamos, estamos à frente de criatura anteriormente dilapidada por nós, a ferir-nos justamente nos pontos em que a prejudicamos, no passado, não só a cobrar-nos o pagamento de contas certas, mas, sobretudo, a esmolar-nos compreensão e assistência, tolerância e misericórdia, para que se refaça ante as leis do destino.
A união suposta infeliz deixa de ser, portanto, um cárcere de lágrimas para ser um educandário bendito, onde o espírito equilibrado e afetuoso, longe de abraçar a deserção, aceita, sempre que possível, o companheiro ou a companheira que mereceu ou de que necessita, a fim de quitar-se com os princípios de causa e efeito, liberando-se das sombras de ontem para elevar-se, em silenciosa vitória sobre si mesmo, para os domínios da luz.
Psicografia : Francisco Cândido Xavier Livro : Vida e Sexo

A CARNE É FRACA?


 Emmanuel

Não olvides que a boa palavra é combustível de amor para que a chama da prece te clareie o caminho.
Guarda-a contigo por talento da caridade e a simpatia da vida prestigiar-te-á todas as petições.
Em casa, será o pão de alegria com que entreterás a confiança na lareira doméstica.
Na via pública, angariar-te-á o socorro da gentileza para que teu passo seja mantido com segurança.
Junto aos amigos, dar-te-á de retorno o estímulo ao trabalho que o mundo te solicita desempenhar.
Perante os adversários, transformar-se-á em respeito e admiração no ânimo de quantos ainda te não possam compreender.
Ante o ministério público dos que foram chamados a administrar, ser-te-á nota de crédito e gratidão na justiça que pede o amparo e o entendimento de todos.
Lembra-te de que a palavra edificante será sempre doação de teu pensamento e de tua boca, beneficiando a senda em que transites, e, seja ensinando nas assembléias ou conversando na intimidade, omite toda a imagem do mal para que o bem reine sempre.
A frase construtiva e generosa é princípio de solução nos mais complicados processos de sofrimento.
Unge o dom de falar no bálsamo que lhe flui da faculdade de levantar e servir, e a tua oração, quando proferida, influenciará todas as almas que te partilham a marcha, à feição de luz fendendo o espaço em raio ascendente de esperança, para trazer-te a resposta do Céu, por intermédio daqueles que te acompanham, com a força da realização e com a suavidade da bênção.
 
Fonte: Livro “Trevo de idéias” – Autor Francisco Cândido Xavier pelo Espírito de Emmanuel
Digitado por: Lílian Figueiredo Silva

JESUS E KARDEC

 Emmanuel

Ante a Revelação Divina, assevera Jesus:
- “Eu não vim destruir a Lei.”
E reafirma Allan Kardec:
- “Também o Espiritismo diz: - não venho destruir a lei cristã, mas dar-lhe execução.”
Perante a grandeza da vida, exclama o Divino Mestre:
- “Há muitas moradas na casa de meu Pai.”
E Allan Kardec acentua:
- “A casa do Pai é o Universo. As diferentes moradas são os mundos que circulam no espaço infinito e oferecem aos Espíritos, que neles reencarnam, moradas correspondentes ao adiantamento que lhes é próprio.”
Exalçando a lei de amor que rege o destino de todas as criaturas, advertiu-nos o Senhor:
- “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.”
E Allan Kardec proclama:
- “Fora da caridade não há salvação.”
Destacando a necessidade de progresso para o conhecimento e para a virtude, recomenda o Cristo:
- “Não oculteis a candeia sob o alqueire.”
E Allan Kardec acrescenta:
- “Para ser proveitosa, tem a fé que ser ativa; não deve entorpecer-se.”
Encarecendo o imperativo do esforço próprio, sentencia o Senhor:
- “Buscai e achareis.”
E Allan Kardec dispõe:
- “Ajuda a ti mesmo que o Céu te ajudará.”
Salientando o impositivo da educação, disse o Excelso Orientador:
- “Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai Celestial.”
E AIlan Kardec adiciona:
- “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar as inclinações infelizes.”
Enaltecendo o espírito de serviço, notificou o Eterno Amigo:
- “Meu Pai trabalha até hoje e eu trabalho também’’
E Allan Kardec confirma:
- “Se Deus houvesse isentado o homem do trabalho corpóreo, seus membros ter-se-iam atrofiado, e, se o houvesse isentado do trabalho da inteligência, seu espírito teria permanecido na infância, no estado de instinto animal.”
Louvando a responsabilidade, ponderou o Senhor:
- “Muito se pedirá a quem muito recebeu.”
E Allan Kardec conclui:
- “Aos espíritas muito será pedido, porque muito hão recebido.”
Exaltando a filosofia da evolução, através das existências numerosas que nos aperfeiçoam o ser, na reencarnação necessária, esclarece o Excelso Instrutor:
- “Ninguém poderá ver o Reino de Deus se não nascer de novo.”
E Allan Kardec conclama:
- “Nascer, viver, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei.”
Consagrando a elevada missão da verdadeira ciência, avisa o Mestre dos Mestres:
- “Conhecereis a verdade e a verdade vos fará livres.”
E Allan Kardec anuncia:
- ‘‘Fé inabalável só é aquela que pode encarar a razão face a face.’’
Tão extremamente identificado com o Mestre Divino surge o Apóstolo da Codificação, que os augustos mensageiros, que lhe supervisionam a obra, foram positivos nesta síntese que recolhemos da Resposta à Pergunta número 627, em O Livro dos Espíritos:
- “Estamos incumbidos de preparar o Reino do Bem que Jesus anunciou.”
Eis por que, ante o primeiro centenário das páginas basilares da Codificação, saudamos no Espiritismo – Chama da Fé Viva a resplender sobre o combustível da Filosofia e da Ciência – o Cristianismo Restaurado ou a Religião do Amor e da Sabedoria, que, partindo do Espírito Sublime de Nosso Senhor Jesus Cristo, encontrou em Allan Kardec o fiel refletor para a libertação e ascensão da Humanidade inteira.
 
 
Fonte: Livro “Trevo de idéias” – Autor Francisco Cândido Xavier pelo Espírito de Emmanuel
Digitado por: Lílian Figueiredo Silva

“ DEUS TEM CAMINHOS PARA TODOS OS FILHOS EXTRAVIADOS “


 
 
               Pedro Augusto Souza Gonçalves, jovem de 22 anos, inconformado com sua moléstia crônica – sofrendo desde os oito anos de idade, com certa freqüência, de fortes convulsões epilépticas, resistentes a tratamento médico constante-, pôs um ponto final em sua vida física, com certeiro projétil, a sete de junho de 1988.
            Residia no Rio de Janeiro, RJ, sua terra natal, com seus pais João Francisco Gonçalves Netto e Elza Souza Gonçalves, em Copacabana, à Avenida Atlântica, 4022 apartamento 502.
           
            Porém, apenas três meses após o lamentável episódio, Pedro Augusto, em Uberaba, comunicou-se novamente com seus queridos progenitores, em longa e confortadora mensagem, “ relatando fatos de que apenas ele, seus pais e irmãos tinham conhecimento”, conforme esclarecimento de seu pai.
            Agora, mais consciente de sua provação terrena, ele sofre, submetendo-se a “ severo tratamento “, e sente-se profundamente arrependido, mas otimista diante do futuro, ao afirmar que “ a esperança já está em meu coração “ e “ Deus tem caminhos para todos os filhos extraviados “.
 
            Querida Mãezinha Elza e meu pai João.
            Estou informado de que pude vir até aqui, trazer-lhes as minhas notícias, pela concessão de amigos que consideraram o merecimento dos pais queridos, porque, de mim mesmo, ainda me encontro nas faixas de severo tratamento.
            Perdoem-me a tribulação que lhes causei com a minha deserção da vida.  Confesso-lhes que tudo fiz para evitar aquele amargo desfecho de minhas inquietações.  Nervos doentes substituindo a fé que me cabia acalentar, a fim de vencer em minha provação.  Estava longe de compreender que todas as criaturas suportam o fardo de que precisarão se desvencilhar, um dia, para se encontrarem consigo mesmas.
            Mãezinha Elza, lutei muito.  Assim pensei, admitindo erroneamente que milhares de pessoas não sofriam muito mais do que eu mesmo.  Detinha a vantagem de viver ao lado dos familiares queridos e parecia cego para não reconhecer que nada me faltava para ser tranqüilo e feliz.
            Um ponto, porém, me atormentava o pensamento.  Cedo reconheci que eu não poderia constituir uma família como desejava e deixei-me iludir com isso, quando há tantas crianças doentes e desajustadas esperando o amparo de alguém que lhes tutele a existência infortunada.  Esqueci-me de que eu poderia incorporar-me no trabalho de uma instituição das muitas que amparam os pequeninos sofredores... E, porque não me seria possível uma vida igual à vida de outros rapazes, a idéia de revolta contra a vida se apoderou de mim.
            Estou aqui nesta mesma sala onde estive um dia, buscando orientação e esclarecimento, e se não me foi possível a demora de mais alguns dias para ouvir os amigos que me reconfortariam, explicando-me o que seja a provação na vida de alguém, agora vejo todos e ouço a todos os que trocam opiniões, reconhecendo que me seria tão fácil suportar a carência de meus recursos genésicos, abraçando a vida que a Divina Providência me reservara.
            Penso, atualmente, na legião de jovens aos quais algumas frases bastariam para esclarecê-los e traçar-lhes novos rumos!
            Não sei explicar-lhes o conflito que passou a possuir-me, desde que alguns companheiros me informaram de que as minhas dificuldades orgânicas eram irreversíveis!  Criando nomes supostos para disfarçar-me, tentei ouvir muitos médicos ou acadêmicos de Medicina que me ouviam com atenção.  Todos eram unânimes na opinião de que eu era vítima de problema sem solução.
            Ao mesmo tempo, inflamava-me com o propósito de casar-me e ser feliz num lar, em que pudesse usufruir a vida de um homem comum.  No entanto, a depressão, de que me vi acometido, ganhou todas as minhas resistências e entreguei-me à desencarnação voluntária, ignorando que a vida continuava.
            Não tenho recursos para evadir-me da realidade e, por isso, preciso assumir o meu gesto infeliz.  Sou claro em minhas afirmativas porque estou diante dos pais queridos, aos quais não posso enganar, conquanto reconheça que me competia uma entrevista com ambos na intimidade da família, e com isso, talvez, conseguisse um caminho para a minha própria libertação.
            Pais queridos, perdoem-me aquele projétil que eu devia ter evitado, perdoem-me a ingratidão a que me entreguei quase inconscientemente, e continuem nas orações por mim, de vez que me envergonho de expor aqui a minha fragilidade.
            No instante terrível em que me vi arrasado pelas próprias mãos encontrei rente comigo aquele benfeitor, que ainda me segue as experiências, fornecendo-me as chaves do conhecimento superior – esse amigo humanitário e abnegado que me colheu nos braços, quando já não possuía qualquer recurso de auto-sustentação.  Ele me solicitou chamá-lo pelo nome de vovô Francisco, e me abençoa e socorre em todos os meus obstáculos, e me afirma que Deus tem caminhos para todos os filhos extraviados.  Estou consolado com a possibilidade de dizer-lhes isso.
            Estou melhorando, porque os meus primeiros dias, aqui na Vida Espiritual, foram momentos do alucinado que já deixei de ser.
            Muito grato por virem até aqui, na idéia de que colheriam alguma notícia do filho devedor que sou eu, sensibilizando-me com a decisão de romperem com os empeços da viagem, a fim de que eu pudesse rogar-lhes a bênção.
            Pais queridos, do meu amanhã ainda nada sei, mas a confiança em Deus está novamente comigo e, com isso, compreendo que todas as minhas lutas serão superadas sem que eu, por enquanto, saiba como.  Peço-lhes desculparem o filho infeliz  que era tão feliz em nossa família e não sabia.
            Deus me favorecerá com oportunidades de trabalho para que me sinta reposto no caminho da segurança e do bem.  Sofri muito e ainda sofro, mas a esperança já está em meu coração e sei que aprenderei a viver e a servir.
            Não posso continuar porque a emoção me constringe a garganta e o pensamento, mas seguirei adiante com a certeza de que me desculparam a leviandade e a doença, e me amam com o mesmo carinho dos dias passados.  Mãezinha Elza, as suas lágrimas me lavaram a alma, e com o seu amor me sinto à frente de novo dia.
            Pais queridos, a todos os nossos entreguem as minhas lembranças, e recebam o coração do filho que não  soube compreendê-los, mas que os ama com todas as forças da própria vida.
            Até que eu volte melhor amanhã do que hoje me sinto, guardem as saudades e o imenso carinho do filho sempre mais reconhecido,
                                                                                  Pedro Augusto.
 
 
                                               Notas e Identificações
 
1 – Psicografada em reunião pública do GEP, na noite de 17 de setembro de 1988.
2 – ainda me encontro nas faixas de severo tratamento – Refere-se ao tratamento médico do corpo espiritual ( Ver item cinco do Capítulo 9 )
3 – Estou aqui,  nesta mesma sala  onde estive um dia – De fato, esteve no GEP, em Uberaba, em março de 1986.
4 – vovô Francisco – Trata-se, provavelmente, do bisavô paterno, desencarnado no Estado do Espírito Santo, no início do século.
5 – Pedro Augusto – Pedro Augusto Souza Gonçalves nasceu no Rio de Janeiro, a oito de outubro de 1965.  Dedicava-se à arte fotográfica, possuindo um laboratório completo, e pretendia estabelecer-se nesse ramo de atividade ou similar.        
 Livro Porto De Alegria -  Francisco Cândido Xavier  Espíritos Diversos
 
 

HORAS DE TRANSIÇÃO


Emmanuel 
 
          Cultiva a paciência e resguarda-te em paz.
          Recorda a multidão descontrolada, ante o perigo iminente.
          Memoriza os desastres ocorridos, seja nos recintos fechados ou nos estádios abertos, quando algum grito alucinante anuncia determinadas perturbações.
          Grupos amedrontados se entrechocam, por vezes a se ferirem, ou a se massacrarem mutuamente.
          Semelhante imagem se aplica igualmente à Terra, nos dias de transição, quais os da atualidade, em que milhões de criaturas encontram problemas a se agigantarem de extensão.
          O mundo, nesses eventos, lembra efetivamente um anfiteatro de proporções imensas, no qual vastas multidões sofrem a pressão de acontecimentos cruéis.
          E essas crises pesam sobre a vida particular, motivando estranhos comportamentos na esfera de individuo para individuo.
          E assim que anotamos companheiros de experiência a se desorientarem, nas mais diversas condições de trabalho e de luta.
          Esse exige a desvinculação apressada de compromissos que abraçou voluntariamente pouco lhe importando as lagrimas daqueles que se estorcegam de dor, em se observando lesados nos sentimentos mais caros; outro pisa sobre os irmãos indefesos que tombam, aqui e ali, sem perguntar pelos sofrimentos que causam; aquele agride quantos lhe cruzem o caminho; e ainda outros muitos assumem atitudes infelizes, precipitando-se na mutilação deles mesmos, a pretexto de senhorearem a frente do escape.
          Se te encontras  diante de situações assim complexas, em que pessoas amadas parecem enlouquecidas, no anseio unicamente dos interesses próprios, desertando de obrigações respeitáveis, dilapidando alheios sentimentos, depredando corações ou largando-se nos gestos temerários que lhes acarretam inimagináveis padecimentos, acalma-te e ora, serve e espera.
          A tormenta é transitória.
          Lembra o Sol renascente, recompondo o campo, após uma noite de tempestade e entenderás a harmonia inarredável com que a vida marca as obras de Deus.
 
Livro- “Pronto Socorro” – Autor – Emmanuel – Psicografia – Francisco Candido Xavier.
Digitado por Doris Day.

A PARÁBOLA DO RICO


 
Irmão X
 
Na pequena assembléia espiritual, estudávamos a Parábola do Rico.
Alguns intelectuais, brilhantes no mundo, inclinavam-se comovidos ante a necessidade de penetrarem a luz dos capítulos simples do Evangelista.
Na cátedra das lições costumeiras, a figura de Pedro Richard nos acompanhava com atenção generosa e sincera.
O quadro não era muito diferente das circunstâncias em que se poderia realizar sobre a Terra.
A esfera espiritual próxima do planeta é uma figura de transição, em que o gosto terrestre tem quase absoluta predominância.
O amplo recinto oferecia o aspecto de um parlamento singelo e acolhedor e, como ponto central, aquele velhinho, amigo de Ismael e de Jesus, com os cabelos nevados, parecendo feitos com a luz prateada das mais dolorosas experiências, ensinava o sentido oculto das preciosas lições do Cristo.
– Afinal – exclama um dos meus amigos –, existem realmente os grandes usurários e os ricos infelizes no mundo. São os dilapidadores dos bens coletivos, porque a movimentação do dinheiro poderia incentivar o trabalho, atenuando as dificuldades dos mais infortunados.
– Entretanto – atalha um dos presentes –, temos as fortunas dos grandes beneméritos da Humanidade. Um Rockefeller, um Carnegie, que estimulam as grandes iniciativas, em favor do bem público, não serão ricos amados de Deus? E os Henry Ford, que transformam os pântanos em parques industriais, onde milhares de criaturas ganham honestamente o pão da vida, não merecem o respeito amoroso das multidões?
A apreciação sobre os ricos da Terra prosseguia animada, quando alguém se lembrou de submeter a Richard o assunto, em sua feição substancial.
O generoso velhinho, no entanto, replicou judiciosamente:
– Antes de tudo, só Deus pode julgar em definitivo as suas criaturas; mas, como considero o planeta terrestre uma abençoada escola de dor que conduz à alegria e de trabalho que encaminha para a felicidade com Jesus, devo assinalar que, na carne, não conheço senão Espíritos cheios de débitos pesados, com as mais vastas obrigações, perante a obra de Deus, que é o país infinito das almas. Quem será o Senhor das riquezas, senão o próprio Pai que criou o Universo? Onde estão os bancos infalíveis, ou os milionários que possam dispor eternamente dos bens financeiros que lhes são confiados? As expressões cambiais do mundo são convenções que outras convenções modificam. Basta, às vezes, um sopro leve das marés sociais para que todos os quadros da riqueza humana se transformem. Tenho de mim para comigo que, no mundo, o dinheiro a gastar, como a dívida financeira a resgatar são também oportunidades que o Senhor de Todas as Coisas nos oferece, para que sejamos dignos dele. O crédito exige a virtude da ponderação com a bondade esclarecida e o débito reclama a virtude da paciência com o amor ao trabalho.
A essas palavras justas, que nos conduziam a um campo de novas especulações sentimentais, um dos nossos irmãos de esforço, antigo socialista extremado na Terra, entusiasmando-se, talvez em excesso, com as elucidações do generoso mentor, exclamou efusivamente:
– Muito bem! sempre encontrei no capital um fantasma para a felicidade humana.
Pedro Richard endereçou-lhe o olhar, cheio de mansuetude, e explicou com bondade:
– Quem te afirmou que o capital no mundo é um erro?
E depois de uma pausa, dando a conhecer que desejava acentuar suas palavras, acrescentou:
– Podemos assinalar a dedo os raríssimos homens da Terra que conseguem trabalhar sem o aguilhão. O capital será esse aguilhão, até que as criaturas entendam o divino prazer de servir. Para os mais abastados, ele tem constituído a preocupação bendita da responsabilidade, e para a generalidade dos homens, o estímulo ao trabalho. O capital é um recurso de sofrimento purificador, não somente para os que o possuem, mas para quantos se esforçam pelo obter. É o meio através do qual o amor de Deus opera sobre toda a estruturação da vida material no globo; sem sua influência, as expressões evolutivas do mundo deixariam a desejar, mesmo porque os Espíritos encarnados estariam longe de compreender os valores legítimos da vida, sem a verdadeira concepção da dignidade do trabalho.
O nosso amigo quedou-se em meditação.
Aqueles esclarecimentos generosos e simples profundamente nos surpreendiam.
O mentor benévolo e sábio continuou as suas elucidações evangélicas. Explicações desconhecidas e inesperadas surgiam de seus lábios, derramando-se em nossos espíritos, como jatos de luz. Eram novas claridades sobre a figura incompreendida e luminosa do Cristo, revelações de sentimentos que nos conduziam ao máximo de admiração.
Grande número de literatos desencarnados no Brasil, filiados às mais diversas escalas, escutavam-lhe os conceitos simples e profundos.
Foi então que, ao fim dos estudos, e nas derradeiras observações, um velho conhecedor das letras evangélicas adiantou-se para o velhinho bom, interrogando:
– Richard, as tuas explicações são judiciosas e derramam novas claridades em nosso íntimo. Mas, sempre ponderei uma questão de essencial interesse, nessa parábola do Evangelho. Por que motivo o santificador Espírito de Abraão, personificando a Providência Divina junto de Lázaro redimido, não atendeu às súplicas do Rico desventurado? Não era este também um filho de Deus? Observando os teus esclarecimentos de agora, sinto esta interrogação cada vez mais forte em minh'alma, porque, afinal, o homem rico do mundo pode ser, muitas vezes, uma criatura indigente na aspereza das provas. Como esclarecer esse problema que nos induz a supor certa insensibilidade nas almas gloriosas que já se redimiram das vicissitudes da existência material?
O esclarecido comentador da palavra de Jesus replicou com veemência e brandura:
– Insensibilidade nos mensageiros do bem? Esse conceito nasce da nossa deficiência de verdadeira compreensão. Abraão e Lázaro viram nos sofrimentos do Rico a misericórdia inesgotável do Pai Celestial que, dos nossos erros mais profundos, sabe extrair a água amargosa que nos há de curar o coração. Ambos compreenderam que seria contrariar os desígnios divinos levar ao irmão torturado uma água mentirosa que lhe não mataria a sede espiritual. Quanto ao mais, que pedia o Rico ao Espírito generoso de Abraão? Rogava-lhe que Lázaro voltasse ao mundo para dar a seus pais, a sua mulher, a seus filhos e irmãos as verdades de Deus, a fim de que se salvassem. Como não se lembrou de pedir a difusão dessas mesmas verdades, entre todas as criaturas? Por que razão somente pensou nos seus amados pelo sangue, quando todos os homens, nossos irmãos, têm necessidade da paz de Deus, que é a água viva da redenção? A solicitação do Rico é muita semelhante à maioria das súplicas que partem dos caminhos escuros da Terra, filhas do egoísmo ambicioso ou do malfadado espírito de preferência das criaturas, orações que nunca chegam a Deus, por se apagarem no mesmo círculo de sombra e ignorância em que foram geradas pela insensatez dos homens indiferentes!...
O nosso amigo religioso recebera também a sua lição.
As elucidações evangélicas do dia estavam terminadas.
No recanto silencioso, a que me recolho com as heranças tristes da Terra, intensifiquei as minhas reflexões sobre a grandeza desconhecida do Cristo e, contemplando as perspectivas angustiosas dos quadros sociais da existência terrestre, comecei a meditar, com mais interesse, na profunda Parábola do Rico.
 
Do livro Pontos e Contos. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Considerações de Emmanuel sobre Paulo de Tarso

Considerações de Emmanuel sobre Paulo de Tarso

Autor: Emmanuel

CONSIDERAÇÕES DE EMMANUEL SOBRE PAULO DE TARSO

Não são poucos os trabalhos que correm mundo, re­lativamente à tarefa gloriosa do Apóstolo dos gentios. É justo, pois, esperarmos a interrogativa: — Por que mais um livro sobre Paulo de Tarso? Homenagem ao grande trabalhador do Evangelho ou informações mais detalhadas de sua vida?

Quanto à primeira hipótese, somos dos primeiros a reconhecer que o convertido de Damasco não necessita de nossas mesquinhas homenagens; e quanto à segunda, responderemos afirmativamente para atingir os fins a que nos pro pomos, transferindo ao papel humano, com os recursos possíveis, alguma coisa das tradições do pla­no espiritual acerca dos trabalhos confiados ao grande amigo dos gentios.

Nosso escopo essencial não poderia ser apenas reme­morar passagens sublimes dos tempos apostólicos, e sim apresentar, antes de tudo, a figura do cooperador fiel, na sua legitima feição de homem transformado por Jesus-Cristo e atento ao divino ministério. Esclarecemos, ainda, que não é nosso propósito levantar apenas uma biografia romanceada. O mundo está repleto dessas fichas educa­tivas, com referência aos seus vultos mais notáveis. Nosso melhor e mais sincero desejo é recordar as lutas acerbas e os ásperos testemunhos de um coração extraordinário, que se levantou das lutas humanas para seguir os passos do Mestre, num esforço incessante.

As igrejas amornecidas da atualidade e os falsos de­sejos dos crentes, nos diversos setores do Cristianismo, justificam as nossas intenções.

Em toda parte há tendências à ociosidade do espí­rito e manifestações de menor esforço. Muitos discípulos disputam as prerrogativas de Estado, enquanto outros, distanciados voluntariamente do trabalho justo, suplicam a proteção sobrenatural do Céu. Templos e devotos entre­gam-se, gostosamente, às situações acomodatícias, prefe­rindo as dominações e regalos de ordem material.

Observando esse panorama sentimental é útil recor­darmos a figura inesquecível do Apóstolo generoso.

Muitos comentaram a vida de Paulo; mas, quando não lhe atribuíram certos títulos de favor, gratuitos do Céu, apresentaram-no como um fanático de coração res­sequido. Para uns, ele foi um santo por predestinação, a quem Jesus apareceu, numa operação mecânica da graça; para outros, foi um espírito arbitrário, absorvente e rís­pido, inclinado a combater os companheiros, com vaida­de quase cruel. Não nos deteremos nessa posição extremista. Queremos recordar que Paulo recebeu a dádiva santa da visão gloriosa do Mestre, às portas de Damasco, mas não podemos esquecer a declaração de Jesus relativa ao sofrimento que o aguardava, por amor ao seu nome.

Certo é que o inolvidável tecelão trazia o seu ministé­rio divino; mas, quem estará no mundo sem um ministério de Deus? Muita gente dirá que desconhece a própria tarefa, que é insciente a tal respeito, mas nós poderemos responder que, além da ignorância, há desatenção e muito capricho pernicioso. Os mais exigentes advertirão que Paulo recebeu um apelo direto; mas, na verdade, todos os homens menos rudes têm a sua convocação pes­soal ao serviço do Cristo. As formas podem variar, mas a essência ao apelo é sempre a mesma. O convite ao ministério chega, ás vezes, de maneira sutil, inesperada­mente; a maioria, porém, resiste ao chamado generoso do Senhor. Ora, Jesus não é um mestre de violências e se a figura de Paulo avulta muito mais aos nossos olhos, é que ele ouviu, negou-se a si mesmo, arrependeu-se, tomou a cruz e seguiu o Cristo até ao fim de suas tarefas materiais. Entre perseguições, enfermidades, apodos, zombarias, desilusões, deserções, pedradas, açoites e encarcerament os, Paulo de Tarso foi um homem intrépido e sincero, caminhando entre as sombras do mundo, ao encontro do Mestre que se fizera ouvir nas encruzilhadas da

sua vida. Foi muito mais que um predestinado, foi um realizador que trabalhou diariamente para a luz.

O Mestre chama-o, da sua esfera de claridadeS imor­tais. Paulo tateia na treva das experiências humanas e responde: — Senhor, que queres que eu faça?

Entre ele e Jesus havia um abismo, que o Apóstolo soube transpor em decênios de luta redentora e cons­tante.

Demonstrá-lo, para o exame do quanto nos compete em trabalhO próprio, a fim de Ir ao encontro de Jesus, é o nosso objetivo.

Outra finalidade deste esforço humilde é reconhecer que o Apóstolo não poderia chegar a essa possibilidade, em ação isolada no mundo.

Sem Estevão, não teríamos Paulo de Tarso. O gran­de mártir do Cristianismo nascente alcançou influência muito mais vasta na experiência paulina, do que podería­mos imaginar tão-só pelos textos conhecidos nos estudos terrestres. A vida de ambos está entrelaçada com miste­riosa beleza. A contribuição de Estevão e de outras per­sonagens desta história real vem confirmar a necessida­de e a universalidade da lei de cooperação. E, para ve­rificar a amplitude desse conceito, recordemos que Jesus, cuja misericórdia e poder abrangiam tudo, procurou a companhia de doze auxiliares, a fins de empreender a re­novação do mundo.

Aliás, sem cooperação, não poderia existir amor; e o amor é a força de Deus, que equilibra o Universo.

Desde já, vejo os críticos consultando textos e com­binando versículos para trazerem á tona os erros do nosso tentame singelo. Aos bem-intencionados agradecemos sin­ceramente, por conhecer a nossa expressão de criatura falível, declarando que este livro modesto foi grafado por um Espírito para os que vivam em espírito; e ao pedan­tismo dogmático, ou literário, de todos os tempos, recorremos ao próprio Evangelho para repetir que, se a letra mata, o espírito vivifica.

Oferecendo, pois, este humilde trabalho aos nossos irmãos da Terra, formulamos votos para que o exemplo do Grande Convertido se faça mais claro em nossos cora­ções, a fim de que cada discípulo possa entender quanto lhe compete trabalhar e sofrer, por amor a Jesus-Cristo.



Pedro Leopoldo, 8 de julho de 1941.


Do livro Paulo e Estevão. Pelo Espírito Emmanuel.

Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Visão Espírita do Homem

Visão Espírita do Homem

Autor: Deolindo Amorim

Já se sabe que o perispírito não é uma invenção
do Espiritismo, como não é um conceito abstrato.
É um elemento real, que tem propriedades e
toma formas visíveis. Com o Espiritismo,
entretanto, em virtude das experiências
mediúnicas que já se acumularam até hoje, o
estudo desse “corpo intermediário”
necessariamente se tornou mais específico,
permitindo que se lhe reconheçam propriedades
relevantes no mecanismo psico-fisiológico. Além
de outros autores, considerados clássicos na
literatura espírita, Gabriel Delanne dedicou boa
parte de seus trabalhos ao perispírito, e trouxe,
por isso mesmo, uma contribuição significativa e
ainda válida em toda a plenitude. Estudou ele,
por exemplo, as “Provas da existência do
perispírito - sua utilidade - seu papel”, no
alentado livro O Espiritismo perante a Ciência. E,
assim, em toda a obra de Delanne, realmente
portentosa, há o que se estudar e pensar a
respeito do perispírito. Não se precisaria fazer
referência a outros, aliás bastante conhecidos no
meio espírita, porque não temos objetivo de
erudição nesta breve crônica jornalística.
Queremos acentuar, sim, o perispírito ou
mediador fluídico tem funções próprias no
composto humano, não é uma criação
imaginária...
Na antigüidade oriental, como na grega, como
entre doutores da Igreja, admitiu-se claramente
a existência de uma “substância”, um corpo, um
elemento equivalente, afinal de contas, entre as
duas realidades fundamentais: a matéria e o
Espírito. Os nomes são diversos e, por isso, há
uma infinidade de expressões para traduzir a
significação do perispírito (terminologia do
Espiritismo) no conjunto psicossomático. Existem
até uns tantos preciosismos de linguagem,
verdadeiras sutilezas verbais para dizer o que
seja, no fundo, esse “corpo bioplásmico”,
segundo a moderníssima denominação
resultante de experiências realizadas na Rússia.
Há contextos espiritualistas em que se encontra
o perispírito, dividido ou apresentado sob outras
rubricas, com as especificações que lhe são
atribuídas. Mas o que é fundamental no caso é a
existência, necessária, de um elemento que se
interpõe no binômio corpo-espírito. A Doutrina
Espírita prefere chamá-lo simplesmente de
perispírito, com explicações acessíveis a todos os
níveis de instrução.
Sob o ponto de vista histórico, entretanto, além
do que já se encontra em velhas fontes orientais,
como noutros ramos da literatura antiga, convém
considerar que na Escolástica primitiva, muito
influenciada por Platão e Agostinho, também se
admitiu a constituição trinária do ser humano:

1) a alma habita numa casa que lhe é
essencialmente estranha; o corpo é o albergue, o
hábito, o recipiente, o invólucro da alma; além de
semelhante imagem, é também usada a do
matrimônio.
2) o corpo e a alma estão unidos por um “spiritus
physucys”, que serve de intermediário;
3) corpo e alma estão unidos pela personalidade
como em uma espécie de união hipostática.
(Barnarco Bartmann - “Teologia Dogmática” - I
vol., Edições Paulinas)

Tão forte lhe parece a união da alma com o
corpo, com a intercalação desse - “spiritus
physucus”, que funciona como intermediário, que
o Autor chega a compará-la a uma espécie de
união hipostática, isto é, união do Verbo divino
com a natureza humana. A idéia de um
“invólucro” ou “intermediário”, uma vez que o
Espírito precisa de um revestimento para que
possa conviver com o corpo, faz parte dos
contextos espíritas, sejam quais forem os nomes
que se lhe dêem. É o persipírito, sem tirar nem
por.
Como o perispírito, a reencarnação, por sua vez,
também já teve adeptos na Igreja, embora contra
ela se tenha pronunciado e firmado sentença o
Concílio de Constantinopla. Mas o certo é que
Orígenes, teólogo e exegeta, defendeu a tese da
preexistência, o que, aliás, é fato muito citado.
Outros teólogos, como se sabe, adotaram a tese
“criacionista”, isto é, a criação da alma com o
corpo ou para o corpo. Justamente nesse ponto,
um dos maiores doutores de sua época - Santo
Agostinho - se defrontou com dificuldades para
conciliar a criação da alma com o “pecado
original”. Quem o diz é ainda Bartmann, na
mesma obra (já referida), e ele próprio, o autor
de “Teologia Dogmática”, também encontra
obscuridade. Vejamos: Se é incompreensível que
a alma derive do ato corpóreo da geração,
todavia também o criacionismo apresenta não
pequenas dificuldades. Já Santo Agostinho não
sabia explicar como a alma, criada por Deus,
podia nascer com o pecado original. A
dificuldade conserva seu valor também para nós.
Outra dificuldade pode surgir da consideração de
uma criação contínua até o fim do mundo, de um
número incalculável de atos diretos de Deus. mas
o ponto-chave do problema, como denuncia o
Autor, está justamente nesta decorrência da tese
“criacionista”: Pareceria, por fim, necessário
admitir uma cooperação imediata de Deus, nas
numerosas gerações manchadas pela culpa. Não
se pode responder à primeira dificuldade senão
recorrendo ao mistério do pecado original. E no
mistério esbarra tudo, não há mais saída para o
raciocínio...
Contrapondo-se à idéia da criação do Espírito
juntamente com o corpo, a Doutrina Espírita
propõe outra análise do problema, nestes
termos:
“Donde vem a aptidão extranormal que muitas
crianças em tenra idade revelam, para esta ou
aquela arte, para esta ou aquela ciência,
enquanto outras se conservam inferiores ou
medíocres durante a vida toda?”
“Donde, em certas crianças, o instinto precoce
que revelam para os vícios ou para as virtudes,
os sentimentos inatos de dignidade ou de
baixeza, contrastando com o meio em que elas
nasceram?” (O Livro dos Espíritos - questão 222).
Se, realmente, o Espírito fosse criado por Deus
no ato do nascimento, seria o caso de admitir,
ainda que por absurdo, criação de indivíduos que
nascem com tendências para a perversão ou para
a delinqüência. Seria obra de Deus?!...
A tese da preexistência explica as inclinações
inatas para o bem ou para o mal, embora a
Doutrina Espírita não negue a influência
fortíssima da educação, do meio social, da
cultura e de outros fatores contingentes. Mas o
Espírito, ao voltar à Terra, pela reencarnação,
traz certa bagagem de conhecimentos, virtudes
ou vícios, responsáveis pelo curso de sua
existência, com todos os altos e baixos deste
mundo. Deus não iria criar para a vida um
Espírito que já estivesse marcado com as paixões
inferiores. Todos começam “simples e
ignorantes” - ensina a Doutrina - mas o próprio
arbítrio, que é indispensável à experiência
individual, pode desviar o Espírito da rota mais
justa e levá-lo aos despenhadeiros morais.
“Simples e ignorantes” é a expressão textual da
Doutrina “O Livros dos Espíritos - questões 115-
121-133-634. É o ponto de partida. Daí por
diante, cada qual adquire sua experiência através
das vidas sucessivas. É um princípio que nos faz
compreender a responsabilidade individual, ao
passo que, se admitíssemos a criação juntamente
com o corpo, chegaríamos a esta conclusão a
fatal: se a criatura é má, se abusa de suas
faculdades ou de seus recursos para dar
expansão a tendências viciosas, não é
responsável por seu procedimento, uma vez que
nasceu assim, foi criada assim por Deus,
colocada no corpo, ao nascer, com todas as suas
mazelas morais. No entanto, o princípio da
responsabilidade individual é válido no tempo e
no espaço, segundo o Espiritismo.
Outra, portanto, é a perspectiva da reencarnação,
que já teve defensores no seio da Igreja, embora
condenada, mais tarde, como heresia. O
desenvolvimento do Espírito modifica o
perispírito, e este, pela ação plasmadora, tem
influência sobre o corpo. Como já vimos, não
apenas Platão, luminar da constelação grega da
antigüidade, esposou a concepção trinária do
homem, mas entre escolásticos também houve
partidários dessa concepção. O homem tríplice
não desagrega a unidade básica do EU. Com esta
visão antropológica, a Doutrina Espírita situa o
homem na Terra, em relação ao presente e ao
passado, apontando-lhe o caminho do futuro,
sem ilusões nem quimeras.