Caros amigos leitores , gostaríamos, na medida do possível ,contar com a interação de todos ,através de comentários , tornando se seguidores deste blog divulgando para seus conhecidos ,para que assim possamos estudar e aprendermos juntos , solidários e fraternos. Inscrevam-se no blog!

sexta-feira, 12 de julho de 2013

As Quatro Legítimas Verdades

As Quatro Legítimas Verdades

Autor: Manoel Philomeno de Miranda (espírito), psicografia de Divaldo Franco.

(...) Foi o Dr. Carneiro de Campos quem me respondeu:


- "Ao convidar o caro Miranda para esta excursão de trabalho, não lhe quisemos detalhar o compromisso em tela porque muitas dificuldades estavam em pauta, aguardando solução. A fim de não deixá-lo ansioso, resolvemos esperar a ajuda divina para inteirá-lo depois, qual ocorre neste momento."
Fazendo uma pausa breve, deu continuidade à narração:
- "Oportunamente, ao ser liberado das Regiões infernais antigo comandante das forças do mal - que reencontrou em Jesus a porta estreita da salvação graças aos esforços sacrificiais e renúncias imensas de sua genitora - aqueles que permaneceram no esquema da impiedade reuniram-se para tomar providências em conjunto contra o que denominam como os exércitos do Cordeiro, que detestam.
"Estes seres, que se extraviaram em diversas reencarnações, assumindo altíssimas responsabilidades negativas para eles mesmos, procedem, na sua maioria, de Doutrinas religiosas cujos nomes denegaram com as suas condutas relapsas, atividades escusas e cones extravagantes, nas quais o luxo e os prazeres tinham primazia em detrimento dos rebanhos que diziam guardar, mas que somente exploravam, na razão do quanto os desprezavam.
Ateus e cínicos, galgavam os altos postos que desfrutavam mediante o suborno, o homicídio, as perversões sexuais, a politicagem sórdida, morrendo nos tronos das honras e glórias mentirosas, para logo enfrentarem a consciência humilhada e, sob tormentos inenarráveis, sintonizando com os sequazes que os aguardavam no Além, sendo reconvocados aos postos de loucura, dispostos a enfrentar Jesus e Deus, que negam e dizem desprezar..."
Após ligeira interrupção e medindo bem as palavras, prosseguiu:
- "As figuras mitológicas dos demônios e seus reinos, os abismos infernais e os seus torturadores de almas são relatos inicialmente feitos por pessoas que foram até ali conduzidas em desdobramento espiritual - por afinidade moral ou pelos Mentores, a fim de advertirem as criaturas da Terra - antros sórdidos que aqueles governam e onde instalaram o terror, dando a equivocada idéia de que naquelas paragens não há tempo a transcorrer, num conceito absurdo de eternidade a que se aferram diversas religiões, as quais mais atemorizam do que educam.

"Mártires e santos, profetas e escritores, artistas e poetas de quase todos os povos e épocas, os que eram médiuns, visitaram esses Núcleos terrificadores e conheceram os seus habitantes, trazendo, na memória, nítidas, as suas configurações, que as fantasias e lendas enriqueceram com variações de acordo com a cultura, a região e o tempo, presentes, portanto, na historiografia da humanidade.
Variando de denominação, cada grupamento, como ocorre na Terra, tem o seu chefe e se destina a uma finalidade coercitiva, reparadora. Periodicamente esses chefes se reúnem e elegem um comandante a quem prestam obediência e submissão, concedendo-lhe regalias reais... As ficções mais audaciosas não logram conceber a realidade do que ocorre em tais domínios.
"Sandeus e absolutos, anularam a consciência no mal e na força, tornando-se adversários voluntários da Luz e do Bem, que pretendem combater e destruir.
"Não se dão conta de que tal ocorre, porque vivem em um planeta ainda inferior em processo de desenvolvimento, onde aqueles que o habitam, também são atrasados, padecendo limites, em trânsito do instinto para a razão. lnobstante, porém, luz, nesta época, o Consolador e em toda parte doutrinas de amor e paz inauguram a Nova Idade na Terra, convidando o homem ao mergulho interior, ao rompimento dos grilhões da ignorância, à solidariedade, ao bem... A ciência dá as mãos à moral, e a filosofia redescobre a ética, para que a religião reate a criatura ao seu Criador em um holismo profundo de fé, conhecimento e caridade, numa síntese de sabedoria transcendental.
"Tudo marcha na direção de Deus, é inelutável".
A Grande Causa, a Inteligência Suprema, é o fulcro para o qual convergem todos, mediante a vigorosa atração da Sua própria existência.
"As lutas de oposição desaparecem com relativa rapidez, rompendo-se as barricadas e trincheiras que se tomam inúteis. A trajetória do progresso é irrefreável. Só o Amor tem existência real e perene, lei que é da vida, por ser a própria Vida. "
Calou-se, novamente, e relanceou o olhar pelo veludo da noite salpicado de gemas estelares, dando prosseguimento:
- "Na reunião que eles convocaram naquela oportunidade, ficou estabelecido que o novo substituto deveria ser impiedoso ao extremo, sem qualquer sensibilidade, cuja existência execranda no planeta houvesse espalhado o terror e cuja memória inspirasse revolta e ódio... Após um mês voltariam a reunir-se.
"Naturalmente, foram buscados os sicários mais abjetos da Humanidade, que fossilizavam nos antros mais hediondos das regiões subterrâneas de sofrimentos, de onde foram retirados temporariamente para apresentação de planos, sua avaliação de possibilidades de execução e logo votação.
"Difícil imaginar tais conciliábulos e conseqüente escrutínio para a eleição de um Chefe.
"Recordando as reuniões de antigos religiosos, ontem como hoje, cada representante se vestiu com as roupagens e características do seu poder, e, acolitados pelo subalternos, compareceram em massa, diversos deles conduzindo os seus candidatos para o pleito macabro e ridículo.
"A extravagância e o cinismo ilimitados fizeram-se presentes nas figuras grotescas, asselvajadas umas, animalescas outras, em um cenário de horror, para o que seria o grande momento de decisão, a conquista do mundo humano por tais assaltantes espirituais.
"Mais de uma vintena de algozes da sociedade foram apresentados ao terrível parlamento. Alguns encontravam-se hebetados em padecimentos que se auto-impuseram; outros pareciam desvairados, e um número menor, com facies patibular e olhos miúdos, fuzilantes, chamaram mais a atenção dos governantes e da turbamulta alucinada que repletava as galerias daquele simulacro infeliz de tribunal de julgamento e seleção.
"Nomes que fizeram tremer a Terra, no passado remoto como no mais recente, foram pronunciados, enquanto, pessoalmente, eles se apresentavam ou eram trazidos. Vários em estado de loucura foram apupados, embora os seus defensores prometessem despená-los e colocá-los lúcidos para o ministério que lhes seda delegado. A balbúrdia ensurdecedora interrompeu várias vezes as decisões.
Os árbitros, porém, ameaçaram expulsar a malta, que foi atacada por mastins ferozes, até o momento em que assomou ao pódio um ser implacável, com postura temerária, passos lentos, coxeando, corpo balouçante com ginga primitiva, que, erguendo os braços para dominar o cenário, com facilidade o logrou, graças ao terror que expressava nos olhos fulminantes.
"Quem o conduzia deu ligeira notícia do candidato, sem ocultar a felicidade que o dominava:
- Tenho a honra de apresentar o inexcedível conquistador que submeteu o mundo conhecido do seu tempo, na Ásia, e esteve na Terra, novamente, apenas uma vez mais. As suas façanhas ultrapassaram em muito outros dominadores, graças à sua absoluta indiferença pela vida e aos métodos que utilizava para a destruição da raça humana. Fundou o segundo império mongol, realizando guerras cruentas.
"A sua existência corporal transcorreu durante o século XIV, havendo renascido na Ásia Central, próximo a Samarcanda. Informando descender de Gengis Khan, aos cinqüenta anos de idade alargou seus domínios do Eufrates à Índia, impondo-se ao Turquestão, Coraçã, Azerbajá, Curdistão, Afeganistão, Fars. Logo depois, invadiu a Rússia, a Índia, deixando um rastro de dezenas de milhares de cadáveres, somente em Delhi, às portas da cidade e nos seus arredores... Cruel até o excesso, realizou alguns trabalhos de valor na sua pátria, porém as suas memórias são feitas de atrocidade e horror, por cujas razões, ao desencarnar, mergulhou nas regiões abismais onde foi localizado, nas Trevas..."
O narrador fez breve silêncio para logo prosseguir ,
- "A medida que a arenga apaixonada conquistava os eleitores triunfantes, o horror mais humilhava os presentes, que silenciaram diante do certamente vencedor hediondo.
"Encerrada a apresentação do candidato, foi ele aceito por quase todos os chefes e aclamado como o Soberano Gênio das Trevas, que se encarregada de administrar os corretivos na humanidade, a qual ele propunha submeter e explorar.
"Não ignoramos que o intercâmbio de energias psicofísicas entre os seres inferiores desencarnados e os homens é muito maior do que se imagina. Legiões de dezenas de milhões de criaturas de ambos os planos se encharcam de vitalidade, explorando-se, umas às outras, mediante complexos processos de vampirização, simbiose, dependência, gerando uma psicosfera morbífica, aterradora. Somente o despertar da consciência logra interromper o comércio desastroso, no qual se exaurem os homens, e mais se decompõem moralmente os Espíritos. Para sustentarem tão tirânica interdependênda, são criados mecanismos e técnicas contínuas de degradação das pessoas, que espontaneamente se deixam consumir por afinidade com os seres exploradores, viciados inclementes, amolentados secularmente na extravagante parasitose. Pululam, incontáveis, os casos dessa natureza. Enfermidades degenerativas do organismo físico, desequilibrados mentais desesperadores, disfunções nervosas de alto porte, contendas, lutas, ódios, paixões asselvajadas, guerras e tiranias têm a sua geratriz nesses antros de hediondez, onde as Forças do Mal, em forma de novos Lucíferes da mitologia, pretendem opor-se a Deus e tomar-lhe o comando. Vão e inqualificável desvario este do ser humano inferior. !
"O homem marcha, na Terra como nos círculos espirituais mais próximos, ignorando ou teimando desconhecer a sua realidade como ser imortal, Espírito eterno que é, em processo de ascensão. Dando preferência à sensação, na qual se demora espontaneamente, em detrimento das emoções enobrecidas, jugula-se à dependência do prazer, cristalizando as suas aspirações no gozo imediato e retendo-se nas faixas punitivas do processo evolutivo. Face a tal comportamento, reencarna e desencarna por automatismo, sob lamentáveis condições de perturbação, perplexidade e interdependência psíquica.
As obsessões que atravessam decênios sucedem-se. O algoz de hoje, ao reencarnar-se, toma-se a vítima que por sua vez, mais tarde, dá curso ao processo infeliz até quando as Soberanas Leis interferem com decisão.
"As religiões, através dos seus sacerdotes, ministros, guias e chefes, na maioria aferradas aos dogmas ultramontanos, preferem não descerrar a cortina da ignorância, mantendo os seus rebanhos submissos, pelo menos convencionalmente, em mecanismos de rude hipocrisia, desinteressadas do homem real, integral, espiritual. Sucede que grande número desses condutores religiosos está vinculado aos sicários espirituais, que os mantêm em dependência psíquica, explorados, para que preservem o estado de coisas conforme se encontra. Por tal razão, quando as doutrinas libertadoras se apresentam empunhando as tochas do discernimento, seus apologistas, membros divulgadores e realizadores, são perseguidos, cumulados de aflições e tormentos, para que desistam, desanimem ou se submetam aos mentirosos padrões dos triunfos terrenos."
O Benfeitor calou-se por ligeiro espaço de tempo, e, lúcido, adiu:
"Pode parecer que o Pai Misericordioso permanece indiferente ao destino dos filhos sob o domínio das sombras de si mesmos. No entanto, não é assim. lncessantemente Sua Voz convida ao despertamento, à reflexão, à ação correta, usando os mais diversos instrumentos, desde as forças atuantes do Universo aos missionários e apóstolos da Verdade, que não são escutados nem seguidos.
"Os líderes da alucinação tornam-se campeões das massas devoradoras, enquanto as vozes do bem clamam no deserto. Milhares de obreiros desencarnados operam em silêncio, nas noites terrestres, acendendo luzes espirituais, em momentosos intercâmbios que são considerados, no estado de consciência lúcida, no corpo, como sonhos impossíveis, fantasias, construções arquetípicas, em conspiração sistemática a favor das teses materialistas.

Essas explicações, algumas esdrúxulas, travestidas de científicas, são aceitas, inclusive, pelos religiosos, que aí têm seus mecanismos escapistas para fugirem aos deveres e responsabilidades maiores.


"Desnecessário confirmar que as nobres conquistas das ciências da alma, inclusive as abençoadas experiências de Freud, de Jung e outros eminentes estudiosos, fundamentam-se em fatos incontestáveis. Algumas das suas conclusões merecem, porém, reestudo, reexame e conotações mais modernas, nunca descartando a possibilidade espiritualista, hoje considerada pelas novas correntes dessas mesmas doutrinas.
"Quando as criaturas despertarem para a compreensão dos fenômenos profundos da vida, sem castração ou fugas, sem ganchos psicológicos ou transferências, romper-se-ão as algemas da obsessão na sua variedade imensa, ensejando o encontro do ser com a sua consciência, o descobrimento de si mesmo e das finalidades da existência corporal no mapa geral da sua trajetória eterna."
Mais uma vez, o venerável Instrutor fez uma pausa, facultando-nos assimilar o conteúdo das suas palavras, para logo dar continuidade:
- "Posteriormente informado das razões que o elevaram ao supremo posto, representativo daqueles grupos hostis, o Chefe pediu um prazo para elaboração de planos, solicitando a presença de hábeis conselheiros de períodos diferentes da História, a ele semelhantes na estrutura psíquica, de modo a inteirar-se das ocorrências no planeta.
"As reuniões sucederam-se tumultuadas, violentas, sempre acalmadas pela agressividade do Soberano, que, ciente das novas revelações da Verdade na Terra, do advento do Consolador e seu programa de reestudo e vivência do Cristianismo, das incursões modernas do Espiritualismo ancestral na sociedade contemporânea, todos formando diques contra as águas volumosas da destruição, resolveu escutar fracassados conhecedores do comportamento das criaturas, tanto na área sexual como na econômica e na social - pois que nesses recintos transitam aqueles que se comprometeram negativamente perante a Vida - após o que estabeleceu o seu programa, que ironicamente denominou como as quatro legítimas verdades, em zombeteira paráfrase ao código de Buda em relação ao sofrimento: as quatro Nobres Verdades.
"Em reunião privada com os chefes de grupos, explicitou o programa que elaborara para ser aplicado em todas as suas diretrizes e com pormenorizado zelo.
"Primeiro: o homem - redefiniu o novo Soberano das Trevas - é um animal sexual que se compraz no prazer. Deve ser estimulado ao máximo, até a exaustão, aproveitando-se-lhe as tendências, e, quando ocorrer o cansaço, levá-lo aos abusos, às aberrações. Direcionar esse projeto aos que lutam pelo equilíbrio das forças genésicas é o empenho dos perturbadores, propondo encontros, reencontros e facilidades com pessoas dependentes dos seus comandos que se acercarão das futuras vítimas, enleando-as nos seus jogos e envolvimentos enganosos. Atraído o animal que existe na criatura, a sua dominação será questão de pouco tempo. Se advier o despertamento tardio, as conseqüências do compromisso já serão inevitáveis, gerando decepções e problemas, sobretudo causando profundas lesões na alma. O plasma do sexo impregna os seus usuários de tal forma que ocasiona rude vinculação, somente interrompida com dolorosos lances passionais de complexa e difícil correção.
"Segundo: o narcisismo é filho predileto do egoísmo e pai do orgulho, da vaidade, inerentes ao ser humano. Fomentar o campeonato da presunção nas modernas escolas do Espiritualismo, ensejando a fascinação, é item de alta relevância para a queda desastrosa de quem deseja a preservação do ideal de crescimento e de libertação. O orgulho entorpece os sentimentos e intoxica o indivíduo, cegando-o e enlouquecendo-o. Exige corte, e suas correntes de ambição impõem tributários de sustentação. Pavoneando-se, exibindo-se, o indivíduo desestrutura-se e morre nos objetivos maiores, para cuidar apenas do exterior, do faustoso - a mentira de que se insufla.
"Terceiro: o poder tem prevalência em a natureza humana. Remanescente dos instintos agressivos, dominadores e arbitrários, ele se expressa de várias formas, sem disfarce ou escamoteado, explorando aqueles que se lhe submetem e desprezando-os ao mesmo tempo, pela subserviência de que se fazem objeto, e aos competidores e indomáveis detestando, por projetar-lhe sombra. O poder é alçapão que não poupa quem quer que lhe caia na trampa. Ademais a morte advém, e a fragilidade diante de outras forças aniquila o iludido.




"Quarto: o dinheiro, que compra vidas e escraviza almas, será outro excelente recurso decisivo. A ambição da riqueza, mesmo que mascarada, supera a falsa humildade, e o conforto amolenta o caráter, desestimulando os sacrifícios. Sabe-se que o Cristianismo começou a morrer, quando o martirológio foi substituído pelo destaque social, e o dinheiro comprou coisas, pessoas e até o reino dos céus, aliciando mercenários para manter a hegemonia da fé...
"Quem poderá resistir a essas quatro legítimas verdades? - interrogou -. Certamente, aquele que vencer uma ou mais de uma, tombará noutra ou em várias ao mesmo tempo.
"Gargalhadas estrepitosas sacudiram as furnas. E a partir de então, os técnicos em obsessão, além dos métodos habituais, tomaram-se especialistas no novo e complexo programa que em todos os tempos sempre constituiu veículo de desgraça, agora mais bem aplicado, redundando em penosas derrotas. Não será necessário que detalhemos casos a fim de analisarmos resultados."
Aprofundando reflexões, o Amigo concluiu:
"Precatem-se, os servidores do Bem, das ciladas ultrizes do mal que tem raízes no coração, e estejam advertidos. Suportem o cerco das tentações com estoicismo e paciência, certos de que o Pai não lhes negará socorro nem proteção, propiciando-lhes o que seja mais . importante e oportuno. Ademais, não receiem as calúnias dos injuriadores que os não consigam derrubar. Quando influenciados pelos assessores dos Gênios, mantenham-se intimoratos nos ideais abraçados. A vitória tem a grandeza da dimensão da luta travada.
"Este desafio, que nos tem merecido a mais ampla e minudente consideração, qual ocorre com inúmeros Benfeitores do Mundo Maior, é uma das razões de nos encontrarmos em atividade com o irmão Vicente e os membros da Casa que ele dirige.
"Agora, sigamos ao trabalho que nos espera. "
Havia no ar da noite silenciosa a presença de bênçãos que aspiramos em longos haustos, enquanto nos dirigíamos para a sede dos nossos labores.
Reflexões Necessárias
Não tive tempo de arregimentar perguntas, tal o esfervilhar de pensamentos que me agitavam a casa mental.
A narração breve do Instrutor fornecia-me explicações para melhor entender vários acontecimentos infelizes que pairavam agitando a economia moral da sociedade, especial e particularmente dos cristãos novos, dos espiritualistas modernos e dos estudiosos da mente que, interessados nos padrões éticos e superiores do comportamento, subitamente naufragavam nos ideais ou os abandonavam, padecendo graves ulcerações espirituais. Compreendia melhor a irrupção do sexo desvairado a partir dos anos sessenta deste século, o alucinar pelas drogas, a mudança dos padrões morais e o crescimento da violência, o abandono a que as gerações jovens foram atiradas, as falsas aberturas para a liberdade sem responsabilidade pelos atos praticados, a música ensurdecedora, a de metais, a de horror, a satânica, e tantas outras ocorrências...
Está claro que o processo antropossociológico da evolução, às vezes, deve arrebentar determinados compromissos para abrir novos espaços experimentais, que irão compor o quadro das necessidades evolutivas do homem e da mulher. A moral social, geográfica, aparente, deve ceder lugar à universal, à que está ínsita em a Natureza, àquela que dignifica e promove, superando e abandonando as aparências irrelevantes e desacreditadas.
Verificava que a transição histórica de um para outro período é semelhante a um demorado parto, doloroso e complexo, do qual nascem novos valores e a vida enfloresce.
Não seriam, os períodos de convulsão danosa, gerados por mentes destruidoras sediadas no Além?
Teriam gênese, em programações semelhantes, as súbitas alterações sociais que sacudiam até ao desmoronamento, nações e povos, abalando a Humanidade?

Partindo do princípio de que a vida real e causal é a que tem origem e vigência na Erraticidade, no mundo espiritual, conforme os acontecimentos, suas matrizes desencadeadoras estão aqui e daqui partem por indução, inspiração e interferência direta, através da reencarnação de membros encarregados de perturbar a ordem geral. Embora suponham estar agindo por vontade própria, ei-los sob o Comando Divino, que os utiliza indiretamente para despertar as consciências adormecidas, para as altíssimas finalidades da vida.
Recordava-me de amigos que haviam reencarnado com tarefas específicas e nobres, para agirem com elevação e desdobrarem o programa de iluminação espiritual, e que derraparam lamentavelmente, alguns sendo retirados antes de mais infelizes comprometimentos, e outros abraçando esdrúxulas condutas, fazendo-se crer auto-suficientes, superiores, revoltados...
Tinha em mente as tarefas estabelecidas e aceitas com entusiasmo antes da reencarnação ou ditadas mediunicamente, que produziam impactos felizes, mas que logo pareciam perder o significado para os seus responsáveis, que as abandonavam ou as alteravam a bel-prazer para seguirem noutros rumos...
Observava sempre a facilidade com que certos líderes carismáticos eram seguidos por multidões hipnotizadas, e astros do desequilíbrio galvanizavam as massas, aturdindo-as, fazendo-as adorá-los, naturalmente sob controles espirituais poderosos das Trevas.
O caso Davi, mais especificamente, tornava-se um exemplo concreto da consumação das quatro legítimas verdades perturbadoras. Todo o empenho de seus Mentores e de alguns amigos encarnados não resultou positivo, intoxicado que estava pela presunção narcisista, atraído pelo sexo irresponsável, fascinado pelo dinheiro e, no íntimo, ambicionando o destaque, o poder...
O labor de Jesus, o Cordeiro sacrificado, é todo de abnegação e renúncia, de amor e humildade, de persuasão afetuosa, jamais de imposição arbitrária.
Como efeito, crêem os apressados, que vitórias são a da ganância, da força e do brilho rápido das luzes da fama...
Compreendia melhor, a partir daquele momento, que as imperfeições da criatura humana são as responsáveis pelo fracasso de bem organizados planos, pelas perturbações que se generalizam, pelas opções extravagantes, pelo desdobrar das paixões asselvajadas, em razão do nível inferior de consciência no patamar em que transita a maioria das pessoas. Não obstante, estimuladas essas expressões primárias em domínio ou ainda remanescentes no ser, é fácil entender a loucura avolumada na Terra, a falência dos padrões éticos e o anseio pelo retomo às manifestações primevas do ser.
Raciocinando sobre os planos do Soberano Gênio das Trevas, tomaram-se-me lógicas as ocorrências que antes me pareciam absurdas, quase impossíveis de acontecer. <
No momento em que a cultura atinge as suas mais altas expressões; quando a Ciência mais se aproxima de Deus auxiliada pela Tecnologia, e o homem sonha com a possibilidade de detectar vida fora da Terra, igualmente campeiam a hediondez do comportamento agressivo; a excessiva miséria de centenas de milhões de pessoas, social e economicamente abandonadas à fome, às doenças, à morte prematura; o erotismo extravagante em generalização; a correria às drogas e aos excessos de toda natureza, tornando-se para mim um verdadeiro paradoxo da sociedade. <
O homem e a mulher terrestres, ricos de aspirações enobrecidas, ainda não conseguem desligar-se dos grilhões dos instintos perturbadores, muitas vezes amando e matando, salvando vidas e estiolando-as em momentos de alegria ou de revolta. Essa visão aflige-me como sendo um espetáculo inesperado no processo da evolução.
Aprofundando, agora, a reflexão nas paisagens da obsessão dos grupos humanos e da procedência de um programa de paulatina subjugação mental das massas, melhor passei a entender a luta ancestral, quase mitológica, do Bem e do Mal, das forças existentes em a natureza humana propelindo para um outro comportamento.
Observava, desde há algum tempo, a conduta de pessoas dedicadas ao Espiritualismo, que se apresentavam portadores de idéias materialistas-utilitaristas, sempre usando a verruma, a acidez e a zombaria contra os seus confrades, por pensarem de forma diferente e não se lhes submeterem à presunção, aos caprichos, ao comando mental. Pugnando sempre contra, e atacando, descobrem erros em tudo e todos, apresentando-se com desfaçatez como defensores do que chamam a Verdade, somente eles possuindo visão e interpretação correta do pensamento que vitalizam e divulgam. E claro que sempre os houve em todas as épocas da Humanidade, porém agora são mais audaciosos.
Indaguei-me, naquele momento, se não estariam a soldo psíquico de tais manipuladores de obsessões ou se não seriam alguns membros desses grupos ora reencarnados? Sem qualquer censura a esses indivíduos, alguns certamente sinceros na forma de se conduzirem, inquiri-me: por que não concediam o direito aos demais de serem conforme lhes aprouvesse, enquanto eles seguiriam na sua maneira especial de entendimento?
Há, sem dúvida, muitas complexidades no processo da evolução, que se vão delineando e explicando lentamente, à medida que os Espíritos galgam degraus mais elevados. Por isso mesmo, as revelações se fazem gradativamente, dando, cada uma, tempo para que a anterior seja digerida pelas mentes e aplicadas nos grupos sociais.
A Sabedoria Divina jamais deixou a criatura sem os promotores do progresso, que vêm arrancando o ser da ignorância para o conhecimento.
Essas reflexões levaram-me a uma melhor compreensão do próximo, ensejando-me simpatia e amor pelos companheiros da retaguarda, encarnados ou não, e maior respeito pelos nobres Guias da Humanidade, sempre pacientes e otimistas, incansáveis na tarefa que abraçam como educadores amoráveis que são.
Tem sido sempre crescente o meu afeto a Allan Kardec, por ele haver facultado à mediunidade esclarecida elucidar o comportamento humano e permitir a penetração do entendimento no mundo espiritual. Graças ao Espiritismo, novos descortinos e constantes informações ajudam o ser humano a compreender a finalidade da sua existência na Terra, as metas que lhe cumpre alcançar através de contínuos testes e desafios.
Olhando a multidão ainda em movimento pelas ruas por onde transitávamos na grande cidade, um sentimento de ternura e compaixão amorosa assomou-me, levando-me às lágrimas.
Percebendo-me a emoção silenciosa, o Dr. Carneiro de Campos enlaçou-me o ombro, e falou:
- "Há muito por fazer em favor do nosso próximo, onde quer que se encontre. Aqueles que já despertamos para a compreensão da Vida, temos a tarefa de acordar os que se demoram adormecidos, sem lhes impor normas de conduta ou oferecer-lhes paisagens espirituais que ainda não podem penetrar. Se alguns pudessem conhecer a realidade que ora enfrentamos, enlouqueceriam de pavor, se suicidariam, tombariam na hebetação... O nosso dever induz-nos a ajudá-los a elevar-se, a pouco e pouco, identificando as finalidades existenciais e passando a vivê-las melhor."
Fazendo uma pausa oportuna, continuou:
- "Em nossa esfera de ação encontramos, a cada instante, irmãos equivocados, iludidos pelas reminiscências terrestres, defendendo os interesses malsãos dos familiares e afetos, preocupados com as querelas do corpo já diluído no túmulo, negando-se à realidade na qual se encontram. Agimos com eles pacientemente, amorosamente, confiando no tempo. Ora, em relação aos encarnados, a questão faz-se mais complexa, exigindo-nos maior quota de compreensão e de bondade. O anestésico da matéria, que bloqueia muitas percepções do Espírito, terá que ser vencido vagarosamente, evitando-se choques danosos ao equilíbrio mental e emocional dos indivíduos.
"Assim, prossigamos confiantes, insistindo e perseverando, sem aguardar resultados imediatos, impossíveis de ser atingidos."
Chegamos, por fim, ao núcleo das atividades, onde outros deveres nos aguardavam.

Livro: Trilhas da Libertação

Transformação Interior e o Mundo de Regeneração


Transformação Interior e o Mundo de Regeneração
 Autor: Manoel Philomeno de Miranda (espírito)

“A fim de que o mundo se transforme é necessário que haja a modificação do ser humano para melhor, por ser a célula máter da sociedade. Enquanto mantiver a enfermidade espiritual resultante do atraso evolutivo, nenhuma força externa conseguirá alterar a marcha moral do planeta, desde que os seus habitantes recusem-se à transformação interior.
Os momentos que vivemos são de esforço autoiluminativo, graças às revelações que descem à Terra com maior frequência e às informações seguras em torno do processo de mudança, oferecendo a visão do futuro que a todos nos espera.
As lições do Mestre de Nazaré, desde há dois mil anos, convocam-nos ao procedimento moral correto, à convivência pacífica e ao cumprimento dos deveres de solidariedade e apoio aos que se encontram na retaguarda da ignorância, ou sofrendo os necessários fenômenos de recuperação pela dor, mediante os testemunhos, através das experiências aflitivas...
Cada um deve preparar-se para acompanhar a marcha do progresso, integrando a legião dos construtores do novo período da Humanidade. Anunciado por Jesus esse período de transição, tanto como referendado pelo Apocalipse, narrado por João evangelista e os profetas que se manifestaram a esse respeito ao longo da História, chega o momento de cumprir-se os divinos desígnios que reservam para a Terra generosa o destino regenerador, sem as marcas do sofrimento na sua feição pungitiva e desesperadora.
As forças do mal, porém, teimam em manter o quadro atual de desolação, ao lado dos abusos de toda ordem, porque pretendem continuar explorando psiquicamente os incautos que se lhes vinculam através dos hábitos doentios em que se comprazem na ilusão material.
A morte inevitável, porém, a todos arrebata, e quando despertam no além-túmulo, estorcegam na realidade, lamentando os equívocos e necessitando de oportunidade para reparação. Esse não mais se dará no planeta Terra, que deixará de ser de provas, mas em outro de natureza inferior, onde se deverá expungir a maldade e a falência moral em situação muito mais aflitiva e mais amarga."

Psicografia de Divaldo Franco


Livro: Amanhecer de uma nova era

Cada Qual

Cada Qual

Autor: Emmanuel (espírito)

“Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo”. - Paulo. I
(Corintios, 12:4).

Em todos os lugares e posições, cada qual pode revelar qualidades
divinas para a edificação de quantos com ele convivem.
Aprender e ensinar constituem tarefas de cada hora, para que
colaboremos no engrandecimento do tesouro comum
de sabedoria e de amor.
Quem administra, mais frequentemente pode expressar
a justiça e a magnanimidade.
Quem obedece, dispõe de recursos mais amplos para
demonstrar o dever bem cumprido.
O rico, mais que os outros, pode multiplicar o trabalho
e dividir as bênçãos.
O pobre, com mais largueza, pode amealhar a fortuna
da esperança e da dignidade.
O forte, mais facilmente, pode ser generoso, a todo instante.
O fraco, sem maiores embaraços, pode mostrar-se humilde,
em quaisquer ocasiões.
O sábio, com dilatados cabedais, pode ajudar a todos,
renovando o pensamento geral para o bem.
O aprendiz, com oportunidades multiplicadas, pode distribuir
sempre a riqueza da boa-vontade.
O são, comumente, pode projetar a caridade em todas as direções.
O doente, com mais segurança, pode plasmar as lições
da paciência no ânimo geral.
Os dons diferem, a inteligência se caracteriza por diversos graus,
o merecimento apresenta valores múltiplos, a capacidade é fruto
do esforço de cada um, mas o Espírito Divino que sustenta
as criaturas é substancialmente o mesmo.
Todos somos suscetíveis de realizar muito, na esfera de trabalho
em que nos encontramos.
Repara a posição em que te situas e atende aos imperativos do
Infinito Bem. Coloca a Vontade Divina acima de teus desejos,
e a Vontade Divina te aproveitará.

Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
Livro: Fonte Viva

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Mais de Hermínio....

9.7.13

DESENCARNA HERMÍNIO MIRANDA


Hermínio (05/01/1920 - 08/07/2013)

"O pássaro agora voa liberto. Nós, que não mais podemos vê-lo, já sentimos saudades do seu canto."

Jáder Sampaio

Na década de 80 a União Espírita Mineira, em associação com a Aliança Municipal Espírita de Belo Horizonte, trouxe três estudiosos do espiritismo para um seminário sobre mediunidade. Jorge Andréa dos Santos, Suely C. Schubert e Hermínio C. Miranda.

Hermínio estava incomodado com o púlpito. Não era expositor, dizia, apenas escritor. Assentado, com um maço de páginas nas mãos, começou a ler seu discurso. E que discurso! Superado o impacto inicial de ouvir uma leitura, as palavras dele criavam vida após sair do papel. Eram tantas informações e com tanta elegância, que eu me dividia entre as anotações furiosas que fazia e a atenção necessária para acompanhar cada nuance, cada expressão, cada frase. Se ele temia o público, arrisco minha opinião póstuma: ele fez bonito!

Hermínio era reservado, tinha uma personalidade anglo-saxônica. A esposa completava-lhe o que lhe faltava. Recordo-me dela expansiva, simpática, calorosa. Os dois formavam um belo casal, cada um admirado por suas qualidades díspares.

Hermínio já era nonagenário, com extensa contribuição ao espiritismo e ao movimento espírita. Durante anos manteve uma coluna no Reformador, chamada "Lendo e Comentando". Ela trouxe aos trópicos de forma sistemática o que se pesquisava sobre comunicação dos espíritos e reencarnação nas terras anglófonas. Creio que das páginas do Reformador saiu o material para a composição dos livros "Sobrevivência e Comunicabilidade dos Espíritos" e "Reencarnação e Imortalidade".

Um de seus trabalhos sistemáticos foi com o atendimento aos espíritos. Apesar da personalidade reservada, ele mostrava um senso de percepção incomum e uma capacidade de diálogo transformadora. Como gravasse seus atendimentos, pode nos oferecer uma quadrilogia de livros intitulada "Histórias que os espíritos contaram", hoje publicada pela editora Correio Fraterno. A teoria do seu trabalho diferenciado, no qual incluiu técnicas dos magnetizadores do século XIX, encontra-se em dois livros: Diálogo com as sombras (FEB) e Diversidade dos Carismas (Lachâtre).

As incursões pelo magnetismo não se restringiram ao mundo das sombras, e ele fez sessões de regressão de memória com algumas pessoas. Luciano dos Anjos foi um sujet pleno de recordações da França revolucionária, que ele registrou no livro "Eu sou Camille Desmoulins", publicado em 1989, no bicentenário da revolução francesa, com uma explicação do autor que assegurava não ter podido publicar antes, e não estar se aproveitando das comemorações. Para quem agora escreve, seria uma simetria histórica.

Simetria histórica é um dos conceitos que ele desenvolveu e que foi empregado em muitos dos seus livros. As Marcas do Cristo (FEB), é um exemplo deste tipo de trabalho, no qual Hermínio compara a personalidade e história de Paulo de Tarso com a de Martinho Lutero. Este conceito seria empregado pela Dra. Nadia Luz, em sua tese de doutoramento em história, publicada na coleção Espiritismo na Universidade.

As biografias foram também uma de suas paixões. Ele publicou diversas, recuperando para o movimento espírita personalidades que passariam despercebidas nos dias de hoje, apesar de sua relevância. Guerrilheiros da Intolerância (Lachâtre), Hahnnemann, apóstolo da medicina espiritual (CELD), O pequeno laboratório de Deus (Lachâtre) e Swedenborg, uma análise crítica, são alguns dos exemplos.

Um de seus interesses era com a psicologia, na sua interseção com os fenômenos espirituais. Um de seus livros neste campo tornou-se best seller: Nossos filhos são espíritos (Lachâtre). Autismo, uma leitura espiritual (Lachâtre) e Condomínio Espiritual (Lachâtre) são alguns dos trabalhos com este perfil.

Creio que um dos temas que mais o intrigava era a transformação do cristianismo. Ele contribuiu com Os cátaros e a heresia católica (Lachâtre), Cristianismo, a mensagem esquecida (Lachâtre), Candeias da noite escura (FEB) e O evangelho gnóstico de Tomé (Lachâtre).

Das traduções, sua obra prima, é A história triste, de Patience Worth, que desenterrou do esquecimento juntamente com Memória Cósmica, cuja tradução está perdida em seu hard-disk.

Os livros do egito, que povoa suas recordações de além cérebro, o Edwin Drood, o livro de Dickens completado pela mediunidade e igualmente desenterrado por Hermínio, O processo dos espíritas, que reconta a injusta perseguição da sociedade francesa a um dos continuadores de Kardec, Leymarie, e muitos e muitos livros que não vou ficar citando, trazem seu nome e são frutos das suas horas de trabalho sério.

Voa, meu amigo, voa. Vai conhecer novos mundos, recordar mais vivências, reviver os tempos do Cristo. Voa bem alto, para que um dia possa retornar falando das luzes e do futuro.

Fonte:http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/2013/07/desencarna-herminio-miranda.html?showComment=1373378084511

terça-feira, 9 de julho de 2013

A Obra de Kardec e Kardec Diante da Obra

A Obra de Kardec e Kardec Diante da Obra

Sempre haverá muito que aprender na obra de Allan Kardec, não apenas aqueles que se iniciam no estudo da Doutrina Espírita, como também os que dela já têm conhecimento mais profundo. Isso porque os livros que divulgam idéias construtivas - e especialmente idéias novas - nunca se esgotam como fonte de onde fluem continuamente motivações para novos arranjos e, portanto, de progresso espiritual, sem abandonar a contextura filosófica sobre as quais se apóiam.
Para usar linguagem e terminologia essencialmente espíritas,
diríamos que o perispírito da doutrina permanece em toda a sutileza e
segurança de sua estrutura, ao passo que o espírito da Doutrina segue à
frente, em busca de uma expansão filosófica, sujeito que está ao constante embate com a tremenda massa de informação que hoje nos alcança, vinda de todos os setores da especulação humana. De fato, a Doutrina Espírita está exposta às mais rudes confrontações, por todos os seus três flancos ao mesmo tempo: o filosófico, o científico e o religioso. A cada novo pronunciamento significativo da filosofia, da ciência ou da especulação religiosa, a doutrina se entrega a um processo introspectivo de auto-análise para verificar como se saiu da escaramuça. Isso tem feito repetida mente e num ritmo cada vez mais vivo, durante mais de um século. E com enorme satisfação, podemos verificar que nossas posições se revelaram inexpugnáveis. Até mesmo idéias e conceitos em que a Doutrina se antecipou aos tempos começam a receber a estampa confirmatória das conquistas intelectuais como, para citar apenas dois exemplos a reencarnação e a pluralidade dos mundos habitados. Poderíamos citar ainda a existência do perispírito que vai cada dia mais tornando-se uma necessidade científica, para explicar fenômenos que a biologia clássica não consegue entender.
Quando abrimos hoje revistas, jornais e livros sintonizados com as mais
avançadas pesquisas e damos com o nome de importantes cientistas examinando a sério a doutrina palingenésica ou a existência de vida inteligente fora da Terra, somos tomados por um legítimo sentimento de segurança e de crescente respeito pelos postulados da doutrina que os Espíritos vieram trazer-nos.
Tamanha era a certeza de Kardec sobre tais aspectos que escreveu que o
Espiritismo se modificava nos pontos em que entrasse em conflito com os
fatos científicos devidamente comprovados.
Essa observação do Codificador, que poderia parecer a muitos a expressão de um receio ou até mesmo uma gazua para eventual saída honrosa, foi, ao contrário, uma declaração corajosa de quem pesou bem a importância do que estava dizendo e projetou sobre o futuro a sua própria responsabilidade. O tempo deu-lhe a resposta que ele antecipou: não, não há o que reformular, mas se algum dia houver, será em aspectos secundários da doutrina e jamais nas suas concepções estruturais básicas, como a existência de Deus, a sobrevivência do Espírito. a reencarnação e a comunicabilidade entre vivos e "mortos".
O que acontece é que a doutrina codificada não responde a todas as nossas indagações, e nem as de Kardec foram todas resolvidas nos seus mínimos pormenores e implicações. "O Livro dos Espíritos" é um repositório de princípios fundamentais de onde emergem inúmeras "tomadas" para outras tantas especulações e conquistas e realizações. Nele estão os germes de todas as grandes idéias que a humanidade sonhou pelos tempos afora, mas os Espíritos não realizam por nós o nosso trabalho. Em nenhum outro cometimento humano vê-se tio claramente os sinais de uma inteligente, consciente e preestabelecida coordenação de esforços entre as duas faces da vida - a encarnada e a desencarnada. Tudo parece - e assim o foi - meticulosamente planejado e escrupulosamente executado. A época era aquela mesma, como também o meio ambiente e os métodos empregados.
Para a carne vieram os espíritos incumbidos das tarefas iniciais e das que se seguiram, tudo no tempo e no lugar certos. Igualmente devem ter sido levadas em conta a fragilidade e as imperfeições meramente humanas, pois que também alternativas teriam sido planejadas com extremo cuidado. Há soluções opcionais para eventuais falhas, porque o trabalho era importante demais para ficar ao sabor das imperfeições humanas e apoiado apenas em dois ou três seres, por maiores que fossem. Ao próprio Kardec, o Espírito da Verdade informa que é livre de aceitar ou não o trabalho que lhe oferecem. O
eminente professor é esclarecido, com toda a honestidade e sem rodeios, que a tarefa é gigantesca e, como ser humano, seria arrastado na lama da iniqüidade, da calúnia, da mentira, da infâmia. Que todos os processos são bons para aqueles que se opõem à libertação do homem. Que ele, Kardec, poderia também falhar. Seu engajamento seria, pois, de sua livre escolha e que, se recusasse a tarefa, outros havia em condições de levá-la a bom termo.
O momento é dramático. É também a hora da verdade suprema, pois o plano de trabalho não poderia ficar comprometido por atitudes dúbias e
meias-palavras. Aquilo que poderia parecer rudeza de tratamento é apenas ditado pote seriedade do trabalho que se tinha a realizar no plano humano.
Kardec aceitou a tarefa e arrostou, com a bravura que lhe conhecemos, a
dureza das aflições que sobre ele desabaram, como estava previsto. Tudo lhe aconteceu, como anunciado; os amigos espirituais seriam incapazes de glamourizar a sua colaboração e minimizar as dificuldades apenas para induzi-lo a aceitar a incumbência.
Por outro lado, se ele era, entre os homens, o chefe do movimento, pois
alguém Unha que o liderar, compreendeu logo que não era o dono da doutrina e jamais desejou sê-lo. Quando lhe comunicam que foi escolhido para esse trabalho gigantesco, sente com toda a nitidez e humildade a grandiosidade da tarefa que lhe oferecem e declara que de simples adepto e estudioso a missionário e chefe vai uma distância considerável, diante da qual ele medita, não propriamente temeroso, mas preocupado, dado que era homem de profundo senso de responsabilidade. Do momento em que toma a incumbência, no entanto, segue em frente com uma disposição e uma coragem inquebrantáveis.
Esse aspecto da sua atuação jamais deve ser esquecido a consciência que tem da sua posição de coordenador do movimento e não de seu criador. Não deseja que a doutrina nascente seja ligada ao seu nome. Apaga-se deliberadamente e tenazmente para que a obra surja como planejada, isto é, uma doutrina formulada pelos Espíritos e transmitida aos homens pelos Espíritos, contida numa obra que fez questão de intitular "O Livro dos Espíritos". Por outro lado, não é intenção dos mensageiros espirituais - ao que parece - ditar um trabalho pronto e acabado, como um "flash" divino, de cima para baixo.
Deixam a Kardec a iniciativa de elaborar as perguntas e conceber não a
essência do trabalho, mas o plano geral da sua apresentação aos homens. A obra não deve ser um monólogo em que seres superiores pontificam
eruditamente sobre os grandes problemas do ser e da vida; é um diálogo no qual o homem encarnado busca aprender com os irmãos mais experimentados novas dimensões da verdade. E preciso, pois, que as questões e as dúvidas sejam levantadas do ponto de vista humano, para que o mundo espiritual as esclareça na linguagem simples da palestra, dentro do que hoje se chamaria o contexto da psicologia específica do ser encarnado. Por isso, Kardec não se julga o criador da Doutrina, mas é infinitamente mais do que um mero copista ou um simples colecionador de pensamentos alheios. Deseja apagar-se individualmente para que a obra sobreleve às contingências humanas; a Doutrina não deve ficar "ligada" ao seu nome pessoal como, por exemplo, a do super-homem a Nietszche, o islamismo a Maomé, o positivismo a Augusto Comte ou a teoria da relatividade a Einstein; é, no entanto, a despeito de si
mesmo, mais do que simples colaborador, para alcançar o estágio de um
co-autor quanto ao plano expositivo e às obras subseqüentes. Os Espíritos deixam-lhe a iniciativa da forma de apresentação. A princípio, nem ele mesmo percebe que já está elaborando 'O Livro dos Espíritos"; parece-lhe estar apenas procurando respostas às suas próprias interrogações. Homem culto, objetivo, esclarecido e com enormes reservas às doutrinas religiosas e filosóficas da sua época, tem em mente inúmeras indagações para as quais ainda não encontrara resposta. Ao mesmo tempo em que vai registrando as observações dos Espíritos, vai descobrindo um mundo inteiramente novo e insuspeitado e tem o bom senso, de não se deixar fascinar pelas suas descobertas.
E, pois, ao sabor de sua controlada imaginação que organiza o esquema das suas perguntas e quando dá conta de si tem anotações metódicas, lúcidas, simples de entender e, no entanto, do mais profundo e transcendental sentido humano. Sem o saber, havia coligido um trabalho que, pela sua extraordinária importância, não poderia ficar egoisticamente preso à sua gaveta; era preciso publicá-lo e isso mesmo lhe dizem os Espíritos. Assim o fez e sabemos de sua surpresa diante do sucesso inesperado da obra.
Daí em diante, isto é, a partir de "O Livro dos Espíritos", seus amigos
assistem-no, como sempre o fizeram, mas deixam-no prosseguir com a sua
própria metodologia e nisso também ele era mestre consumado, por séculos de experiência didática. As obras subseqüentes da Codificação não surgem mais do diálogo direto com os Espíritos e sim das especulações e conclusões do próprio Kardec, sem jamais abandonar, não obstante, o gigantesco painel desenhado a quatro mãos em "O Livro dos Espíritos".
Conversando uma vez, em nosso grupo, sobre o papel de certos espíritos na história, disse-nos um amigo espiritual que é muito importante para todos nós o trabalho daqueles a quem ele chamou Espíritos ordenadores. São os que vêm incumbidos de colocar em linguagem humana, acessível, as grandes idéias.
Sem eles, muito do que se descobre, se pensa e se realiza ficaria perdido no caos e na ausência de perspectiva e hierarquia. São eles -Espíritos lúcidos, objetivos e essencialmente organizadores - que disciplinam as idéias, descobrindo-lhes as conexões, implicações e conseqüências, colocando-as ordenadamente ao alcance da mente humana, de modo facilmente acessível e assimilável, sob a forma de novas tese'>sínteses do pensamento. São eles, portanto, que resumem um passado de conquistas e preparam um futuro de realizações. Sem eles, o conhecimento seria um amontoado caótico de idéias que se contradizem, porque invariavelmente vem joio com o trigo, na colheita, e ganga com ouro, na mineração. São eles os faiscadores que tudo tomam, examinam, rejeitam, classificam e colocam no lugar certo, no tempo certo, autruisticamente, para que quem venha depois possa aproveitar-se das estratificações do conhecimento e sair para novas tese'>sínteses, cada vez mais amplas, mais nobres, mais belas, ad infinitum.
Allan Kardec é um desses espíritos. Não diremos que seja um privilegiado porque essa classificação implica idéia de prerrogativa mais ou menos indevida e as suas virtudes são conquistas legítimas do seu espírito, amadurecidas ao longo de muitos e muitos séculos no exercício constante de uma aguda capacidade de julgamento - é, pois, um direito genuinamente adquirido pelo esforço pessoal do espírito e não uma concessão arbitrária dos poderes superiores da vida. O trabalho que realizou pela Doutrina Espírita é de inestimável relevância. Para avaliar a sua importância basta que nos coloquemos, por alguns instantes, na posição em que ele estava nos albores do movimento. Era um homem de 50 -anos de idade, professor e autor de livros didáticos. Sua atenção é solicitada para os fenômenos, mas ele não é de entregar-se impulsivamente aos seus primeiros entusiasmos. Quer ver
primeiro, observar, meditar e concluir, antes de um envolvimento maior.
Quando recebe a incumbência e percebe o vulto da tarefa que tem diante de si, nem se intimida, nem se exalta. É preciso, porém, formular um plano de trabalho. Por onde começar? Que conceitos selecionar? Que idéias têm precedência sobre outras? Serão todas as comunicações autênticas? Será que os Espíritos sabem de tudo? Poderão dizer tudo o que sabem?
É tudo novo, tudo está por fazer e já lhe preveniram que o mundo vai desabar sobre ele. O cuidado tem de ser redobrado, para que o edifício da doutrina não tenha uma rachadura, um fresta, um ponto fraco, uma imperfeição; do contrário, poderá ruir, sacrificando toda a obra. Os representantes das trevas estão atentos e dispostos a tudo. Os Espíritos o ajudam e o inspiram e o incentivam, embora sejam extremamente parcimoniosos em elogios e um tanto enérgicos nas advertências. Quando notam um erro de menor importância numa exposição de Kardec, não indicam o ponto fraco; limitam-se a recomendar-lhe que releia o texto, que ele próprio encontrará o engano. Do lado humano, encarnado, da vida, é um trabalho solitário. Não tem a quem recorrer para uma sugestão, um conselho, um debate. Os amigos espirituais
somente estão à sua disposição por algum tempo, restrito, sob limitadas
condições, durante as horas que consegue subtrair ao seu repouso, porque as outras são destinadas a ganhar a vida, na dura atividade de modesto guarda-livros.
Sem dúvida alguma, trata-se de um trabalho de equipe, tarefa pioneira,
reformadora, construtora de um novo patamar para a escalada do ser na
direção de Deus. As velhas doutrinas religiosas não satisfazem mais, a
filosofia anda desgovernada pelos caminhos da negação e a ciência desgarrada de tudo, aspirando ao trono que o dogma'>dogmatismo religioso deixou vago. No meio de tudo isso, o homem que pensa e busca um sentido para a vida se atormenta e se angustia, porque não vê suporte onde escorar sua esperança. A nova doutrina vem trazer-lhe o embasamento que faltava, propor uma total reformulação dos conceitos dominantes. Ciência e religião não se eliminam, como tantos pensavam; ao contrário, se completam, coexistindo com a filosofia. O homem que raciocina também pode crer e o crente pode e deve exercer, em toda a extensão, o seu poder de análise e de crítica. Isso não é apenas tolerado, senão estimulado, pois entende Kardec que a fé só merece confiança quando passada pelos filtros da razão. Se não passar, é espúria e deve ser rejeitada.
Concluindo, assim, o trabalho que lhe competia junto aos Espíritos ainda lhe resta muito a fazer, e o tempo urge. Incumbe-lhe agora inserir a nova doutrina no contexto do pensamento de seu tempo - como se diria hoje.
Terminou o recital a quatro mãos e começa o trabalho do solista, porque o mestre ainda está sozinho entre os homens, embora cercado do carinho e da amizade de seus companheiros espirituais. Atira-se, pois, ao trabalho. A luz do seu gabinete arde até altas horas da noite. E preciso estudar e expor aos homens os aspectos experimentais implícitos na Doutrina dos Espíritos.
Desses aspectos, o mais importante, sem dúvida, é a prática da mediunidade, instrumento de comunicação entre os dois mundos. Sem um conhecimento metodizado da faculdade mediúnica, seria impossível estabelecer as bases experimentais da doutrina. Daí, o "O Livro dos Médiuns".
Em seguida, é preciso dotar o Espiritismo de uma estrutura ética. Não é
necessário criar uma nova moral; já existe a do Cristo. O trabalho é enorme e exige tudo de seu notável poder ordenador. E que o ensinamento de Jesus, com a passagem dos séculos e ao sopro de muitas paixões humanas, ficara soterrado em profunda camada de impurezas. Kardec decidiu reduzir ao mínimo os atritos e controvérsias, buscando nos Evangelhos apenas o ensinamento moral, sem se deter, portanto, na análise dos milagres, nem dos episódios da vida pública do Cristo, ou dos aspectos que foram utilizados para a elaboração dos dogma'>dogmas. Dentro dessa idéia diretora, montou com muito zelo e amor "O Evangelho segundo o Espiritismo". O problema dos dogma'>dogmas - pelo menos os principais -ficaria para "O Céu e o Inferno" e sobre as questões científicas ainda voltaria a escrever em "A Gênese".
E assim concluía mais uma etapa da sua tarefa. O começo, onde andaria? Em que tempo e em que ponto cósmico? Era - e é - um espírito reformador, ordenador, preparador de novas veredas. A continuação, seus amigos espirituais deixaram-no entrevê-la ao anunciar-lhe que se aproximava o término da existência terrena, mas não dos seus encargos: voltaria encarnado noutro corpo, lhe disseram, para dar prosseguimento ao trabalho. Ainda precisavam dele e cada vez mais. Nada eram as alegrias que experimentava ao ver germinar as sementes que ajudara a semear; aquilo eram apenas os primeiros clarões de uma nova madrugada de luz. Quando voltasse, teria a alegria imensa de ver transformadas em árvores majestosas as modestas sementeiras das suas vigílias, regadas por dores muitas. Não seria mais o vulto solitário a conversar com os Espíritos e a escrever no silêncio das horas mortas -teria companheiros espalhados por toda a Terra, entregues ao mesmo ideal supremo de trabalhar sem descanso na seara do Cristo, cada qual na sua tarefa, conforme seus recursos, possibilidades e limitações, dado que o trabalho continua entregue a equipes, onde o personalismo não pode ter vez para que as paixões humanas não o invalidem.
"De modo que - dizia Paulo - nem o que planta é alguém, nem o que rega,
senão Deus que a faz crescer.
E o que planta e o que rega são iguais; se bem que cada um receberá o seu salário segundo seu próprio trabalho, já que somos colaboradores de Deus e vós, campo de Deus, edificação de Deus" (1 Coríntios, 3:7 a 9).
Trabalhadores de Deus desejamos ser e o seremos toda vez que apagarmos o nosso nome na glória suprema do anonimato, para que o nosso trabalho seja de Deus, que faz germinar a semente e crescer a árvore, e não nosso, que apenas confiamos a semente ao solo. Somos portadores da mensagem, não seus criadores, porque nem homens nem espíritos criam; apenas descobrem aquilo que o Pai criou.
São essas as dominantes do espírito de Kardec. Sua vitória é a vitória do equilíbrio e do bom senso, é a vitória do anonimato e da humildade, notável forma de humildade que não se anula, mas que luta e vence. Como figura humana, nem sequer aparece nos livros que relatam a saga humana. Para o historiador leigo, quem foi Kardec? Seu próprio nome civil, Hippolyte-Léon Denizard Rivail, ele o apagou para publicar seus livros com o nome antigo de um obscuro sacerdote druida.
De modo que não é somente a obra realizada por Kardec que devemos estudar, é também sua atitude perante a obra, porque tudo neste espírito é uma lição de grandeza em quem não deseja ser grande.

Hermínio C. Miranda

A Escolha de Dirigentes Espíritas

A Escolha de Dirigentes Espíritas

Após socorrer-se da imagem do corpo humano como modelo integrado e funcional de uma instituição, Paulo propõe aos discípulos de Corinto a seguinte distribuição de tarefas:

* apóstolos,
* médiuns psicofônicos (profetas),
* expositores (mestres),
* médiuns de cura para doenças orgânicas (milagres),
* médiuns de cura para distúrbios mentais e emocionais (dom de cura),
* trabalhos de assistência social, *
* trabalhos administrativos,
* médiuns xenoglóssicos (dom de línguas).
* Destaca-se que a função, digamos, gerencial da instituição ficou posta em sétimo lugar, numa hierarquia de oito atividades específicas, nas quais avulta o exercício de bem definidas faculdades mediúnicas.

É claro o recado: Paulo deseja as tarefas administrativas reduzidas a um mínimo indispensável e que não se sobreponham às demais, que considera prioritárias, embora ele insista na importância de cada uma para o conjunto, cabendo aos apóstolos, como trabalhadores diretos da palavra do Cristo, a indiscutível liderança do grupo, sempre que presentes.
Lamentavelmente, contudo, os administradores das comunidades – núcleo central da futura classe sacerdotal – não se conformavam com esse posicionamento que, praticamente, nenhum poder lhes conferia, e trataram de manobrar para subverter a escala de valores do Apóstolo dos Gentios. Para encurtar uma longa história: decorrido não mais que um século, eles estavam no topo da estrutura, uma vez que os ocupantes iniciais dessa posição – os apóstolos – já haviam partido, e os médiuns haviam sido, pouco a pouco, silenciados.
Por outro lado, a partir de certo momento, a Igreja Primitiva optou pelo critério quantitativo, que produzia massas maiores de manobrar. Acontece que os núcleos de poder atraem precisamente aqueles que buscam o exercício do poder e não os que desejam contribuir com a sua modesta parcela de trabalho, mas não se sentem fascinados pelo mando. O resultado foi o que se viu e ainda se vê: uma instituição rigidamente hierarquizada, volumosa pirâmide de poder civil, econômico, social e político, na qual pouco espaço resta – se é que resta – para implementação do ideário do Cristo, que teria de ser, necessariamente, a prioridade absoluta do sistema.
Essas reflexões ocorrem a propósito de situações semelhantes ou muito parecidas, que estamos testemunhando no movimento espírita contemporâneo, com disputas entre os que desejam entrar e os que não querem sair, mesmo após 20 ou 30 anos de comando. Em alguns desses casos, segundo sabemos, a regra é uma espécie de vitalidade que vai aos extremos da intenção dinástica.
Esboçam-se, em tais casos, verdadeiras campanhas, segundo modelos político-partidários, nos quais figura, com destaque, intensa atividade promocional desta ou daquela chapa. Confesso, contudo, certo desconforto, quando percebo um açodamento maior e uma paixão mais intensa nas campanhas que se travam, às claras e nos bastidores, em torno de certos postos de comando administrativo. E, principalmente, de um travo meio estranho de azedume e hostilidade entre as diversas facções.
Se eu tivesse de votar, gostaria de conhecer, com antecedência, a verdadeira motivação dessas pessoas, o que de fato pretendem fazer uma vez assumidas as funções para as quais forem eventualmente escolhidas, e que tipo de contribuição se comprometem a dar, não apenas no trato da Doutrina. Isto se pode aferir com a possível aproximação, ainda que não com a precisão desejável, pelo que as pessoas empenhadas na disputa tenham dito, escrito ou realizado, no passado, e as posturas que hajam assumido como espíritas, dentro e fora do movimento. É claro que, uma vez que os eleitores as escolhem e elas assumem os cargos, é o consenso resultante de cada um que vai determinar os rumos da ação administrativa, mas não apenas isso, e, principalmente, de que maneira será tratada a Doutrina dos Espíritos, da qual o movimento é apenas o corpo físico?
Se me concedem, pois, o modesto direito de sugerir ou opinar sobre algo, deixem-me pedir aos companheiros que escolhem dirigentes no movimento espírita um momento de silêncio interior, de serena meditação, de lúcida avaliação, uma cuidadosa preparação, a fim de que possam exercer com plena consciência de suas responsabilidades o direito de decidir a quem serão entregues as tarefas administrativas e representativas do movimento espírita.
O voto de cada um pode acarretar inesperadas conseqüências, a curto, médio ou a longíssimo tempo, tanto na sustentação do Espiritismo enquanto Doutrina, que traz em si as matrizes ideológicas do futuro, como tentativa frustrada (mais uma!) de implementar um modelo racional e inteligente a promover as reformas éticas de que tanto necessita a civilização moderna.

Hermínio C. de Miranda

A MENTE QUE NÃO MENTE

A Mente que não Mente

A ortodoxia religiosa sempre andou preocupada com a eclosão de doutrinas reformistas e renovadoras que classifica sumariamente de heréticas. Essa vigilância tem levado a muita perseguição injusta e a não poucos arrependimentos e recuos. Alguns heréticos chegaram mesmo a passar da condição de réprobos à canonização, como Joana D' Arc, quando foi revisto o seu processo. Outros, como Giodarno Bruno e Galileu, constituem até hoje pontos sensíveis na história eclesiástica, como pecados da juventude que não relembramos sem angústia.

O problema, porém, tornou-se muito mais sério nestes últimos tempos, nos quais o arcabouço teológico começa a estalar ao peso insuportável da modernização do pensamento. Ainda que a ciência também tenha seus dogma'>dogmas e seus hereges, muito do que ela vai revelando adquire foros de conquista irreversível, geralmente em sacrifício de velhos conceitos superados.

Qualquer menino de ginásio sabe hoje que um corpo humano não pode subir ao céu como querem os dogma'>dogmas da ascensão do Cristo e de Maria.

Mesmo admitindo-se a atuação de uma força propulsora que os projetasse para além da gravidade terrestre, os corpos assim deslocados, ficariam suspensos no espaço a circular na órbita da terra ou de seu satélite.

Esse tipo de conhecimento leva o homem moderno às trilhas da descrença por não saber como conciliar razão e fé. Os grandes filósofos do cristianismo ortodoxo conseguiram, com enorme sucesso e por largo espaço de tempo, convencer fiéis de que a fé era uma coisa e razão outra, e que aquela não poderia ser subordinada a esta.

Ainda há quem admita esse conceito absurdo; outros, porém, preferem pensar por sua própria cabeça e submeter à crítica da razão aquilo que lhes chega envolvido pela atmosfera abafada da teologia escolástica. Estes derivam para descrença e desanimam na busca da verdade ou partem para o estudo sistemático de qualquer sistema que ofereça alguma luz ao entendimento do universo.

O Espiritismo é a doutrina que conseguiu, pela primeira vez, conciliar fé e razão, não admitindo aquilo que não puder passar no teste do racionalismo inteligente e esclarecido.

Por isso vai se impondo metodicamente, seguramente, ampliando cada vez mais sua área de influência, pois atrai a todos aqueles que, sem poderem mais aceitar a velha crença divorciada da razão, estão prontos para acatar uma verdade superior que não exige o sacrifício do raciocínio. Mas ainda: o Espiritismo expõe uma doutrina do mais profundo sentido humanista. A sua racionalidade não a levou à frieza dos símbolos matemáticos ou dos meros conceitos filosóficos - é, antes, uma norma de vida, um roteiro para compreensão do universo e posicionamento do homem na escala cósmica.

Por isso, muitos nos procuram, o que preocupa, como é natural, os responsáveis pela perpetuação do superado sistema dogmático. Através dos séculos, chegou a ser desenvolvida uma verdadeira técnica de combate às novas idéias que ameaçam a estabilidade da ortodoxia. Essa técnica se aperfeiçoa com o passar do tempo, mas continua basicamente a mesma.

O Espiritismo é uma das doutrinas que muito vem incomodando a igreja especialmente a brasileira, ou seja, a porção brasileira do catolicismo romano. Para combatê-los, vários e ilustres sacerdotes têm sido investidos dos necessários poderes e dos competentes "Imprimatur" e "Nihil Obstat". Essa é a técnica básica.

Há algum tempo, entretanto, a dominante do plano de ataque era a velha doutrina de interferência do diabo nas manifestações mediúnicas. Hoje isto seria inadmissível, pois até mesmo os sacerdotes já descobriram que essa história de demônio é fantasia pura. A prova está nas declarações de alguns eminentes teólogos perante o Concílio Vaticano-II. Impedidos assim de invocar o demônio de atacar a ciência nas suas conquistas mais legítimas, buscam qualquer princípio científico que ofereça a mínima possibilidade de apoio. Esse é o ponto em que variou a técnica.

Um dos recursos de que estão se socorrendo os nossos queridos irmãos sacerdotes é a Parapsicologia, na qual vêm depositando grandes e infundadas esperanças.

A Parapsicologia ainda não está muito segura de si e sofre dum renitente mal de origem, que poderíamos chamar, recorrendo ao velho grego, de pneumofobia, ou seja, medo do espírito. A jovem ciência que nós espíritas, poderíamos classificar como autêntica reencarnação da Metapsíquica, treme à idéia de acabar descobrindo o espírito humano e foge da palavra como, segundo se dizia, o desmoralizado diabo fugia da cruz. Os modernos tratados de Parapsicologia giram todos em torno do mesmo "leit motiv": "O Alcance da Mente", "O Novo Mundo da Mente", "Ciência Fronteiriça da Mente", "Canais Ocultos da Mente". É tudo mente e nada de espírito. Sobrevivência?! Deus nos livre! Pois se nem quererem concordar em que o espírito exista, como vão admitir que sobrevive? Nada disso; tudo se explica pela faculdade extra-sensorial da mente. Mas que faculdade é essa e que "Mente" é essa?

Vêm, então, os nossos inevitáveis sacerdotes parapsicológicos deitar sabedoria extra-sensorial, contaminados irremediavelmente pela mesmíssima pneumofobia e tudo para eles é Mente também.

Topamos, assim, como esta incongruência, difícil de se admitir em homens que devem ter estudado a sua filosofia:

1 - a mente dispõe de faculdades extra-sensoriais (postulado cientifico que aceitam e ensinam);

2 - o espírito (alma) que não pode existir sem a mente; sobrevive à morte física (postulado teológico que também aceitam e pregam);

3 - a mente (ou espírito ou alma) não está sujeita a limitação de tempo ou de espaço (também pacífico).

No entanto, qual a conclusão: A mente do espírito sobrevivente que ligada ao corpo, tinha recursos tão notáveis, não pode manifestá-los quando se separa do corpo pela morte física, a não ser através do "milagre"(!).

E os livros que contam essas coisas merecem ingênuos e inadvertidos "Imprimatur" e "Nihil Obstat", o que vale dizer que são aprovados, confiantemente para o leitor católico; autoridades Eclesiásticas respeitáveis dão cobertura do ponto de vista teológico a obras que, do ângulo científico, estão oferecendo uma visão deformada e incompleta da realidade. A Parapsicologia não tem substância suficiente para oferecer base à teologia ortodoxa e jamais a terá, enquanto permanecer contida nos seus gabinetes atuais.

No dia em que o mecanismo do espírito (chamem de mente se quiserem) for pesquisado por cientistas corajosos e despidos de preconceitos, vão ser "revelados" os seguintes pontos que o Espiritismo conhece há mais de cem anos:

1- que espírito existe, preexiste e sobrevive;

2- que há um intercâmbio ativo entre os homens que já viveram na Terra e os espíritos dos que vivem como homens;

3- que o espírito se reencarna, evolui e é responsável pelo que faz aqui e no mundo espiritual.

Diante disso, como é que vão ficar os nossos padres parapsicólogos? Quando voltarem para o espaço, depois da chamada "crise da morte" e quiserem transmitir a realidade da sobrevivência ao companheiro encarnado, este poderá dizer muito simplesmente que não é preciso admitir a comunicação espírita; basta a pantomnésia ou a hiperestesia direta, ou indireta. E o pobre espírito, dentro duma realidade irrecusável, irá amargar alhures a repercussão de sua vaidade teológica e científica.

Hermínio C. Miranda

Bibliografia de Herminio C. Miranda

Bibliografia de Herminio C. Miranda PDF Imprimir E-mail
Autor de cerca de 40 livros, dentre eles, diversos clássicos da literatura espírita, como Diálogo com as sombras, Diversidade dos carismas e Nossos filhos são espíritos.
Na pesquisa psíquica, dialogando por décadas com espíritos, as suas obras relatam vivências, fatos e fenômenos reais.
Nesse leque de habilidades, Hermínio acrescenta a de tradutor. Em O mistério de Edwin Drood, de Charles Dickens, a sua tradução valoriza o original. Todavia, a rica construção literária de A história triste, de Patience Worth – cujo enigma investigou –, talvez seja sua mais primorosa tradução.
O seu primeiro livro, Diálogo com as sombras, foi publicado em 1976. Os seus direitos autorais foram sempre cedidos a instituições filantrópicas.

A dama da noite (coleção "Histórias que os espíritos contaram")
A irmã do vizir (coleção "Histórias que os espíritos contaram")
A memória e o tempo
A noviça e o faraó - a extraordinária história de Omm Sety
A reencarnação na Bíblia
A reinvenção da morte (incorporada ao livro As duas faces da vida)
Alquimia da mente
Arquivos psíquicos do Egito
As duas faces da vida
As mãos de minha irmã (coleção "Histórias que os espíritos contaram", anteriormente intitulado Histórias que os espíritos contaram)
As marcas do Cristo, publicada em dois volumes
As mil faces da realidade espiritual
As sete vidas de Fénelon (série "Mecanismos secretos da história")
Autismo, uma leitura espiritual
Candeias na noite escura
Com quem tu andas? (com Jorge Andrea dos Santos e Suely Caldas Schubert)
Condomínio espiritual
Cristianismo: a mensagem esquecida
Crônicas de um e de outro (com Luciano dos Anjos)
De Kennedy ao homem artificial (com Luciano dos Anjos)
Diálogo com as sombras
Diversidade dos carismas
Eu sou Camille Desmoulins (com Luciano dos Anjos), publicada também em francês com o título Je suis Camille Desmoulins
Guerrilheiros da intolerância
Hahnemann, o apóstolo da medicina espiritual
Lembranças do futuro (incorporada ao livro As duas faces da vida)
Memória cósmica
Nas fronteiras do além
Nossos filhos são espíritos
O espiritismo e os problemas humanos (com Deolindo Amorim)
O estigma e os enigmas
O evangelho gnóstico de Tomé
O exilado (coleção "Histórias que os espíritos contaram")
O mistério de Patience Worth (com Ernesto Bozzano)
O pequeno laboratório de Deus (anteriormente intitulada Negritude e genealidade)
O que é fenômeno anímico (série "Começar")
O que é fenômeno mediúnico (série "Começar")
Os cátaros e a heresia católica
Reencarnação e imortalidade
Sobrevivência e comunicabilidade dos espíritos
Swedenborg, uma análise crítica

Além destas, Herminio traduziu e comentou as seguintes obras:
A feira dos casamentos (de J. W. Rochester, psicografada por Vera Ivanova Kryzhanovskaia)
A história triste, publicada em três volumes (de Patience Worth, psicografado por Pearl Lenore Curran)
O mistério de Edwin Drood (de Charles Dickens, com final psicografado por Thomas P. James)
Processo dos espíritas (de Madame Pierre-Gaëtan Leymarie)

Muitas vidas de Herminio Miranda


PDF Imprimir E-mail
Muitas vidas de Herminio Miranda

Aos olhos estreitos do mundo, a biografia de Herminio Miranda não daria o menor trabalho. Poderia ser resumida neste parágrafo. Filho de portugueses, nasceu em 5 de janeiro de 1920, em Volta Redonda, RJ. Depois de formar-se contador, trabalhou 38 anos na Companhia Siderúrgica Nacional, CSN, até se aposentar. Escritor espírita nas horas vagas, publicou mais de 30 livros, que já passaram de um milhão de exemplares vendidos.

Todavia, para os espíritas, sua biografia não tem nada de pequena. É milenar e se estende por muitas existências. Todas as vidas de Herminio estão sutilmente relatadas na sua obra.

Durante quatro décadas, Herminio participou de grupos mediúnicos pequenos, mas de grande qualidade. Essa foi sua luneta, com a qual examinou, questionou e depois relatou a vida dos Espíritos; seus hábitos, caminhos de sofrimento, descobertas, arrependimentos e alegrias. Suas histórias estão contadas em Diálogo com as Sombras, a série Histórias que os Espíritos Contaram, e tantos outros. Um guia interessante, seguro e prático de suas experiências é Diversidade de Carismas. Ideal para grupos de estudos da mediunidade.

Outro instrumento de pesquisa utilizado por Herminio é o sonambulismo provocado. Herminio, talvez o mais importante e legítimo magnetizador de nosso tempo, aprendeu pelos livros de Albert de Rochas como, por meio de seu princípio vital, conduzir o magnetizado ao estado sonambúlico – descoberto por Mesmer no Magnetismo Animal, ciência irmã do Espiritismo. Allan Kardec conhecia esse fenômeno muito bem, pois estudou o sonambulismo por 35 anos. O livro dos Espíritos tem todo um capítulo sobre o assunto.

Herminio percorreu os arquivos psíquicos de seus magnetizados, e depois relatou os casos e conclusões em suas obras. A mais impressionante experiência foi Eu sou Camille Desmoulins. O autor despertou a lucidez sonambúlica de Luciano dos Anjos e descobriu uma vida anterior de Luciano na França, como o mordaz e ousado jornalista Camille Desmoulins, um dos artífices da Revolução Francesa.

A habilidade de Herminio, em libertar-se do tempo linear e percorrer os arquivos da alma, deu-lhe uma hábil intuição. Como num quebra-cabeça, ele deixou pistas registradas em seus escritos. Um leitor cuidadoso pode pinçar facilmente de seus livros o roteiro das vidas passadas. A obra de Herminio Miranda é uma imensa autobiografia. Os fatos históricos pesquisados por ele relatam sua própria trajetória espiritual, junto ao grupo de Espíritos que lutou pela verdade e liberdade contidas nos ensinamentos do Cristo. Sua dedicação à pesquisa da reencarnação, mediunidade e aos conceitos doutrinários foi laboriosamente construída em diversas vidas.

Cristianismo a mensagem esquecida.

Tudo começou centenas de anos antes de Cristo. Uma de suas sonâmbulas identificou Herminio como sacerdote no Egito. Naquele tempo, uma posição que significa conhecer os mistérios da mediunidade, do magnetismo animal, da cura psíquica e da filosofia sagrada. Mas, seguindo as regras de seu povo, esse conhecimento era mantido apenas aos privilegiados de uma pequena casta. O povo subjugado ficava escravizado pela ignorância. Como esclareceu Emmanuel em A Caminho da Luz os sábios egípcios vieram de outros planetas. Certamente, essa não foi a primeira encarnação de Herminio. Para ter esse conhecimento, no inicio da civilização, veio de outros orbes, com tantos outros, para auxiliar a humanidade, ainda criança.

Passaram-se alguns séculos, o antigo sacerdote despertou com o exemplo de Jesus. 

A doutrina secreta é para todos. 
Vem daí sua admiração pelo mestre. E seu caminho de libertação. Durante o período do Cristianismo Primitivo, a vida cotidiana de Herminio já estava impregnada pelos ensinamentos de Jesus. “Tenho a impressão de haver vivido lá, naquela época”, talvez entre os gnósticos, afirmou o autor em As Duas Faces da Vida. Os primeiros escritos cristãos ficaram perdidos nos pergaminhos destruídos pelo tempo, e, por outro lado, sobreviveram na escrita indelével do registro mental daqueles que vivenciaram os acontecimentos. Essa história – que investigou por sua própria regressão – Herminio ficou nos devendo. Ele não terminou a investigação.
Os detratores do Cristo começaram a combater e deturpar a mensagem da Boa Nova. Foi então que o antigo sacerdote egípcio uniu-se a outros trabalhadores. Pôs sua pena a serviço da resistência consciente diante da luta sangrenta contra a mensagem libertadora. Isso ocorreu na época dos Cátaros (Idade Média). “Não há dúvida de que o catarismo foi um dos mais convincentes precursores do Espiritismo. (...) Seu propósito era o de um retorno à pureza original do Cristianismo”, contou Herminio, em As Duas Faces da Vida.

O caminho, a verdade e a vida
Tempos depois, quando a falsa interpretação tomou as rédeas da Igreja na Idade média, ressurgiu Herminio ao lado de Lutero, na figura de Melanchton, auxiliando a corajosa Reforma Protestante. Redigiu então a confissão de Augsburgo, ponto de referência da separação entre católicos e protestantes. Ao concluir esse texto, assinado pelos príncipes germânicos, Melanchton definiu a firme resolução de restaurar a doutrina cristã: “Pedro proíbe que os bispos dominem e coajam as igrejas. Pede-se apenas o seguinte: que permitam seja o Evangelho ensinado de maneira pura. Se não fizerem isso, então vejam lá eles mesmos como responderão perante Deus pelo fato de com essas teimosias darem causa a cisma”, escreveu na Confissão.
Mas essa tarefa restauradora, anunciada por Jesus como a vinda do Consolador Prometido, cabia a Allan Kardec. Herminio estava lá. E nesse tempo viveu um papel anônimo, como inglês, pai do poeta Robert Browning. Nessa encarnação, Herminio passou seus últimos anos de vida em Paris e desencarnou em 1866. Dialogou com o Codificador, propôs algumas questões. Estava realizando a tarefa de compreender as explicações científicas e filosóficas esclarecedoras da Doutrina Espírita, para continuar sua missão.

Em 1920, atravessou o oceano, finalmente nasceu no Brasil, pátria atual da Doutrina Espírita –que anda esquecida na sua terra natal, França. A primeira geração de pesquisadores, Albert de Rochas, Crookes, Wallace, tiveram a preocupação de provar ao mundo a existência do espírito. Herminio não. Toma os postulados espíritas como lei natural. O Espiritismo segue o caminho do conhecimento humano, sua doutrina se confunde com a vida, e dela brota a verdade. Eis aí ressurgida a palavra original do Cristo: caminho, verdade e vida.
Sua obra se explica pelas palavras de Platão: “Aprender é recordar”. É o que fez Herminio nos últimos 50 anos. Lembrou os estudos, pesquisas e fatos vividos em sua história multimilenar. O antigo sacerdote do Egito rendeu-se à liberdade de consciência. De detentor do conhecimento passou a divulgar a Doutrina. Trocou o poder pela educação. Não estamos aqui idolatrando ou endeusando Herminio. Ele não se destaca de todos nós. É apenas um escriba fiel e consciente, de ontem, hoje e amanhã.

As Duas Faces da Vida, sua mais recente produção, é um livro que reúne textos, conferências e entrevistas recolhidos nos arquivos minuciosos do autor. É uma amostra, em parte inédita, de sua trajetória literária. Aos leitores que já o conhecem, a obra acrescenta novas histórias e conceitos, em seu estilo inconfundível. Ao novo leitor, é uma apresentação atual que certamente o encaminhará para as outras obras de seu acervo.

FONTE: Revista Universo Espírita nº 19, encarte Universo Literário nº 2

Entrevista com Herminio Miranda - Parte 2

Entrevista com Herminio Miranda - Parte 2 PDF Imprimir E-mail
O herege
Herminio Miranda retorna a estas páginas para falar de sua produção literária e acabamos descobrindo que seus livros mostram a história do cristianismo e também a das diversas vidas do escritor

Quase um ano depois da primeira entrevista com Herminio C. Miranda finalmente você vai ler um pouco mais sobre os conhecimentos deste que é considerado um dos mais importantes escritores e pesquisadores do Espiritismo. Daquela primeira vez, na Universo Espírita 34, exploramos o tema obsessão. Só para lembrar, Herminio foi doutrinador em reunião de desobsessão por 28 anos. As histórias que relatou são impressionantes, fantásticas e reais. O que ficou marcado, pelo menos para esta leitora interativa aqui, foi a frase do Espírito Emmanuel que Herminio destacou: “O ódio é o amor que enlouqueceu”. Bonito, não é? Herminio gosta mesmo de falar em amor – como você poderá conferir nas respostas dele –, e ele é uma pessoa amorosa. Ao transcrever outros trechos da entrevista, todo aquele dia foi revivido. Foi uma tarde agradável; feliz. Apesar do medo que senti em entrevistar aquele espírito tão antigo, nosso diálogo não se caracterizou como um trabalho para mim, mas sim como uma conversa. Herminio é bem-humorado, educado, gentil. Na primeira vez foi difícil para mim escolher apenas partes de tudo o que falamos. Minha vontade era conciliar as páginas disponíveis com todo aquele conhecimento. Não deu. Então, separei por assunto, e, se naquela ocasião foi o amor que enlouqueceu, nesta eu queria enfocar sua produção literária; porém, conforme eu transcrevia nossas falas descobri algo maravilhoso: apesar de termos começado falando dos livros, acabamos por enveredar para a história do Cristianismo, desde o antigo Egito. Surpreso? Não, não há nenhum equívoco em minha afirmação. E você descobrir o por quê nas linhas abaixo. Essa mudança de rumo foi natural. Diversos livros do Herminio enfocam diferentes épocas do Cristianismo, e você pode se sentir privilegiado, pois aqui há uma síntese de tudo que Herminio descobriu na jornada desta vida dele; mas claro que com pinceladas de todas as suas existências. Agora, é só seguir o caminho das letras.

O sr. escreveu um livro que é considerado um guia da prática mediúnica, Diversidade de Carismas, o que é mediunidade Herminio?
Ah! Se eu soubesse, eu diria (rs). A definição é simples, é a que está em O Livro dos Espíritos: “O médium é o intermediário entre um mundo e outro, entre uma face da vida e outra, entre uma dimensão e outra”. Agora, há uma variedade tão grande de recursos mediúnicos... Em Diversidade de Carismas fiz uma tentativa de dizer o que eu entendia, mais ou menos, sobre mediunidade, quando me pediram esse livro – foram até as entidades mesmo que me pediram – eu disse: “Mas o que é que vou falar sobre mediunidade, já está tudo falado...” Mas aí comecei a estudar e vi que ainda tinha muita coisa para dizer. Não tenho a pretensão de afirmar que esgotei o assunto, de forma alguma. Ainda tem muita coisa que aprender sobre mediunidade. O caso do Luciano dos Anjos [protagonista de Eu sou Camille Desmoulins], por exemplo, nele é uma faculdade animista, é o espírito dele dizendo o que está acontecendo, o que viu no passado. Mediunidade é tão difícil de definir quanto o tempo. Até hoje não sei defini-lo e não tenho a pretensão de fazê-lo tão cedo. Acho que só quando eu estiver fora dele é que vou entendê-lo.
Nossos Filhos são Espíritos é um dos livros mais vendidos da literatura espírita, chegando a mais de 250 mil exemplares. Ao quê o sr. credita esse sucesso?
Faço todos os meus livros com muita emoção. Envolvo-me demais naquela atmosfera. Uma vez conheci o Érico Veríssimo lá nos Estados Unidos e disse-lhe que o meu preferido dele era o Olhai os Lírios do Campo, uma obra lírica, muito bonita, eu lhe disse que esse livro tinha carga emocional muito grande e ele confirmou minha afirmação. Então, acho que isso se aplica no meu caso, ao Nosso Filhos São Espíritos. Coloquei nele todo o meu coração e não procurei me dirigir aos espíritas especificamente; sempre achei, desde que comecei a escrever, que nós, do meio espírita, tínhamos que escrever também visando o público não espírita. Porque o não espírita não pega para ler O Livro dos Médiuns, dos Espíritos, de Emmanuel; raramente lê os de André Luiz, e quando o faz é como romance e não como obra didática que é. Então, chegou a um ponto em que eu tinha de dizer as coisas, a minha experiência pessoal, como se eu tivesse conversando, contando as emoções do nascimento de minha primeira filha, se aparecerem fenômenos mediúnicos na criança como ela deve ser tratada, etc. Então, uma pessoa que não pega um livro espírita para ler, pega Nosso Filhos São Espíritos; Autismo também. Um livro com este tema interessa a muita gente que não é espírita. Claro que há uma visão espírita e não faço segredo disso. “Você não acredita? Tudo bem”. Não é nem problema de fé. Reencarnação não é uma questão de você acreditar ou não, é a Lei. Tanto faz. Você já reencarnou e ainda vai reencarnar.
As quais conclusões chegou após pesquisar sobre o autismo?
O autismo é um problema muito interessante. Muito curioso. Às vezes, uma pequena frase que você lê num livro lhe desperta um mundo interior de coisas. Eu estava lendo um livro que a médica, uma psicóloga de vanguarda que começou a fazer experiência de regressão com muita competência, disse que o autismo era uma rejeição à reencarnação. Essa frase acendeu uma luzinha na minha cabeça. Se é uma rejeição da reencarnação, isso faz sentido, por que a pessoa se reencarna e não quer participar, interagir com ninguém. O autismo é uma síndrome extramente complexa e muito difícil de entender se não se levar em conta o mundo espiritual. Por que crianças sadias, perfeitas, lindas, não interagem? Geralmente ocorre tudo bem até os dois, três, primeiros anos e, de repente, ela para de falar e começa a se isolar; é um drama terrível. Aí comecei a comprar livros; queria saber. Só depois de muita leitura, muita meditação, decidi escrever. Autismo é um livro muito lido fora do meio espírita. Acho que o autista não é uma pessoa perturbada, nem um doente mental, é apenas uma pessoa que tem um conflito qualquer, precisa ser entendida como ela é. Você não pode arrastá-la para o seu mundo. Afinal, o que é ser normal? Para o autista o normal é aquilo. No livro procurei dar essa visão de que a criança está diferente porque ela tem uma outra visão da vida e precisa ser respeitada. A nossa “normalidade” é a única possível? De jeito nenhum.
Houve algum livro que lhe deu maior prazer na execução de sua tradução?
A História Triste [no prelo]. É um livro raríssimo, discutidíssimo, esquisitíssimo. Foi psicografado por uma médium americana e a entidade que se apresentou a ela se dizia uma mulher nascida na Inglaterra que migrou para os Estados Unidos no século 17. Este livro tem uma linguagem impressionante, antiga, arcaica, com estilo similar época de Shakespeare. Deu um trabalho... Mas em todo caso, foi um livro que traduzi com prazer. Quando ele foi lançado, o fenômeno interessou a jornalistas, pensadores, cientistas, filósofos. A jovem senhora, casada, que escreveu, não tinha a mínima condição para fazê-lo. A história se passa na Palestina, do dia em que Cristo nasceu até quando ele foi crucificado. O original tem 640 páginas. Levei dois anos trabalhando nele. O Espírito viveu lá. Conhece a história, a geografia, a política, a religião, o costume daqueles povos. Sabe de tudo. Tem um respeito e uma admiração incrível pelo Cristo. Ele teria sido uma escrava levada da Grécia pelos romanos, e César a deu de presente ao Tibérius – futuro imperador. Ela era uma mulher lindíssima, mas engravidou. Tibérius não queria complicação, pois já sabia que iria suceder Augusto no trono, então pediu que seus soldados sumissem com ela no mundo. E ela saiu pelo mundo afora e acabou na Palestina. Seu filho nasceu nas proximidades de Belém na mesma noite em que nasceu Jesus. O filho dela é terrível, se transformou num criminoso. Então, dá-se o contraste entre o Cristo, a luz, e ele, a sombra. Ela conta coisas inacreditáveis da época. Uma história muito bonita que despertou o grande interesse pela competência literária, mas o povo não estava preparado para aceitar a história fantástica que tinha por trás daquilo tudo. Esse livro me causou muita emoção. Envolveu-me muito com aqueles tempos também.
Você escreveu um livro sobre os “hereges” cátaros. O que foi o Catarismo?
Foi o Espiritismo do século 13. Era uma doutrina que tentava recuperar o Cristianismo primitivo. Eles tinham uma filosofia muito bonita. Era o Espiritismo puro. Foi uma pena o Cristianismo ter perdido aquela oportunidade de se refazer.
Qual foi a fonte que eles utilizaram para recuperar os verdadeiros ensinamentos de Jesus?
Eles vieram programados para isso. O Cristianismo começou a se desviar do que o Cristo pregou logo no principio, no fim do 1º século, quando começaram a inventar dogmas. A Dra. Elaine Pagels, que escreveu um livro sobre os Evangelhos Gnósticos, diz que o Cristianismo começou a mudar – e estou de acordo com ela – quando optou pelo poder terreno. Eles queriam o Cristianismo quantitativo e não qualitativo – uma expressão genial dela –, pois assim eles queriam uma Igreja que arrebanhasse gente e aí se inventou um monte de coisa, que Cristo era Deus, o Natal para comemorar o nascimento... Cristo não nasceu no dia 25 de dezembro, isso foi uma adaptação da Igreja para que conseguisse arrebanhar aqueles que comemoravam as festas pagãs. Cristo não fundou uma Igreja. Lamento dizer essas coisas, mas já fui herege tantas vezes que mais uma não tem diferença. Ele pregou uma doutrina de comportamento: como é que você deve se portar perante a vida, o seu semelhante, perante Deus, perante você mesmo. Cristo nunca pregou ritual nenhum; ao contrário, ritual por ritual, fizesse o que faziam os judeus da época. Ele não queria convencer ninguém a ser cristão. Ele não era cristão. O Cristianismo foi uma coisa posterior, a questão dos santos, por exemplo, veio para substituir os deuses do politeísmo. Bom, realmente a Igreja teve um grande sucesso na parte de quantidade, já na de qualidade subverteu. Então, entre o 3º e 4º séculos surgiu o gnosticismo, que, na verdade, não surgiu, ressurgiu.
O que é o gnosticismo?
Ele ensina ideias, que são coisas religiosas, como reencarnação, imortalidade, preexistência, comunicabilidade dos Espíritos. Essas ideias precisam fazer parte de qualquer religião que se preze. Não se pode ter religião fora disso, pois como dá para entender um Deus injusto que cria pessoas saudáveis e outras não? Como dizia Santo Agostinho, ou Ele não sabia o que estava fazendo ou então Ele é muito mal. Criar um sujeito para ir para o inferno?! Essas são as coisas que questiono. Estes conceitos fundamentais – reencarnação, imortalidade, etc. – aparecem, em primeiro lugar, em Jesus. Em segundo lugar, nos gnósticos, que não era uma religião, mas uma filosofia. A palavra gnosticismo quer dizer conhecimento, uma busca do conhecimento, não importa se religioso ou não. Os neoplatônicos [corrente filosófica do 3º século] também lidavam com essas ideias. O gnosticismo passou a ser, no tempo dos neoplatônicos um tipo de filosofia. Oferece a salvação pelo conhecimento, pelo progresso espiritual, pela ampliação da observação que dá para se fazer sobre o mundo. Nesse sentido, os gnósticos tentaram reverter o Cristianismo, e foram excluídos sumariamente. Mas não foi com violência. Os gnósticos não se juntaram à Igreja, eles pegaram de Jesus aquilo que fazia sentido para eles: as vidas sucessivas, a comunicação dos Espíritos, essas coisas. Falhou o gnosticismo.
Foi uma tentativa de resgatar os verdadeiros ensinamentos de Jesus, né? Neste sentido vieram outras tentativas posteriores?
No século 7, conforme conta Emmanuel, Maomé veio para cá com o projeto de recomeçar todo o Cristianismo. Nasceu numa tribo que não tinha muita ligação com o mundo, tudo para recomeçar a pregação de Jesus. Segundo diz Emmanuel, Maomé se desviou dessa missão. Então veio o Islamismo, que é uma religião muito respeitável. Eu não tenho nenhuma restrição, absolutamente. Essa foi uma outra alternativa. Veio, então, o catarismo. Começou no ano 1000. Tenho um palpite que começou como programação para encontrar qual a melhor maneira de apresentar aquela filosofia dos gnósticos sem combater as religiões institucionalizadas. Enfim, os mesmos conceitos sempre ressurgem. Por causa de alguma perseguição metem eles debaixo da terra, daqui a pouco eles aparecem lá na frente.
Após o catarismo veio a Reforma. Ela também foi uma tentativa para a retomada do verdadeiro Cristianismo?
Sim, e isso quem diz é o próprio Emmanuel. No livro A Caminho da Luz ele conta que o mundo espiritual estava muito preocupado em ver como o Cristianismo estava mal interpretado e que isso precisava mudar. Então, ele cita uma turma que veio para cá para esse recomeço: Lutero, Calvino, entre outros. Para recomeçar, pelo Evangelho do Cristo. Era preciso voltar àqueles tempos e recomeçar. Mas não deu certo de novo. Lutero pregou suas teses na porta da Igreja. Ele era sensacional e tinha todos os recursos. Inclusive, achei que ele era a encarnação de Paulo. Não quero convencer o leitor; mas são tantas coincidências (digo que coincidência é um dos pseudônimos de Deus, quando Ele não quer assinar). Lutero veio com esse propósito, mas depois acabou se envolvendo em outras coisas... A Reforma não foi suficientemente reformista. Também começaram a se separar em seitas; uns acreditavam numa coisa, outros noutra. Ficaram ainda lidando com o problema da fé; mas não mudaram nada na substância do Cristianismo, foi muito pouco. E hoje ainda estamos vemos isso aí, né? O Cristianismo cada vez mais perdido.
Depois veio o Espiritismo?
Aí, desta vez, foi planejado tudo de maneira diferente. O próprio Jesus foi a liderança principal do movimento. Tinha de ser. Muita gente ainda tem dúvida se o Espírito de Verdade é o próprio Cristo. É. Aquela comunicação do Espírito de Verdade a Kardec: “Espíritas, amai-vos (...). Instruí-vos (...)”, figura em O Livro dos Médiuns assinada por Jesus e aparece também em O Evangelho Segundo o Espiritismo, com ligeiras modificações de redação, assinada como Jesus. Então o próprio Cristo resolveu retomar o assunto. Ele disse que estaria à disposição do Kardec durante 15 minutos, se não me engano, por semana, para responder as dúvidas dele. Revelou a Kardec, mas Kardec mesmo não disse, pois lhe respeitou o desejo, que queria mesmo ficar como Espírito de Verdade.
Da mesma forma que planejou movimentos para o resgate do verdadeiro Cristianismo, como o sr. acha que a espiritualidade está fazendo isso atualmente?
Em todos os tempos a espiritualidade passa o recado para nós. A visão de Fátima, por exemplo, foi uma coisa dramática, não tem como negar; assim como a de Guadalupe. É a espiritualidade chamando nossa atenção. Recentemente me perguntaram se eu acreditava numa reunião entre as diversas crenças, eu disse que não, pois é uma guerra de poder e todas precisariam ceder um pouco; deixar de ser o que são, enfim. Criar uma concepção nova. E é ela que o Espiritismo vem trazer. Mas não é uma peculiaridade do Espiritismo, existe e vem há milhares e milhares de anos. São conceitos que os sacerdotes egípcios sabiam de cor e salteado, pois a religião egípcia tinha sua parte iniciática e tinha a versão popular, simbólica, que tinha sua razão de ser, mas não era a religião dos grandes sacerdotes. Era a mensagem do Cristo, que é a mesma de sempre. E ele, aliás, deve estar por trás disso tudo, pois Jesus ficou incumbido de dirigir o nosso planeta, desde a criação, conforme nos contam entidades respeitáveis.
Na sua próxima encarnação o que gostaria de encontrar de diferente neste mundo?
O amor. Com “A” bem grande. Estamos disputando espaços, gente que só quer ganhar dinheiro, só quer ocupar posições de comando. O poder é uma coisa perigosíssima. Acho provações mais difíceis o poder, a riqueza, a beleza física, a inteligência... Falta o componente da afetividade, do bom relacionamento com o mundo. O planeta está sendo demolido, destruído, isso é a falta de uma visão amorosa das coisas: dos seres e do ambiente em que vivemos. A grande mensagem do Cristo é esta. E Pedro foi muito feliz em dizer que “o Amor cobre uma multidão de pedaços”.
Como você vê os caminhos do Espiritismo hoje?
Acho que ele corre dois riscos: o de ser deturpado e o de ficar engessado. Acho um pouco exagerada a fixação dos divulgadores espíritas de conversarem apenas entre si. Os grandes filósofos do passado foram grandes comunicadores, falavam para todos e todos entendiam. Com todo respeito, se você pega o livro de um filósofo contemporâneo, não dá para entender nada; parece que escrevem uns para os outros! Acho que essa espécie de síndrome prevalece em alguns setores espíritas. Não precisa se preocupar com a doutrina espírita, se ela falhar agora – e por nossa causa – ela volta depois. Um Espírito disse a Kardec que o Espiritismo será “com os homens, sem os homens ou a despeito dos homens”. Mesmo que o rejeitemos ele vai renascer em outro lugar. Não é o movimento espírita são os conceitos fundamentais do Espiritismo que vem de milhares de anos.


BOX 1: Herminio C. Miranda
Herminio Correa Miranda nasceu no dia 5 de janeiro de 1920, em Volta Redonda - RJ. Formou-se em Ciências Contábeis e trabalhou na Companhia Siderúrgica Nacional até se aposentar. Nesse período morou, a trabalho, em Nova York, EUA, onde aprimorou seu inglês e tornou-se um exímio tradutor dessa língua. Conheceu o Espiritismo por intermédio de um amigo que o indicou a leitura dos livros da Codificação. “A surpresa começou com O Livro dos Espíritos. Inexplicavelmente, eu tinha a impressão de haver lido aquele livro antes. Mas onde, quando? Antecipava na mente o conteúdo de inúmeras respostas”, disse ele em uma entrevista à Folha Espírita. Seu primeiro livro, Diálogo com as Sombras, foi publicado em 1976. Depois vieram cerca de 40 obras, que contabilizam mais de um milhão de exemplares vendidos. A maioria se tornou best-seller e seus direitos autorais foram cedidos a instituições como FEB, Lar Emmanuel, O Caminho da Redenção, entre outras – ele mesmo possui uma assistência social numa favela no Rio de Janeiro. Herminio é um respeitado pesquisador, escritor, tradutor e homem de bem, não só no meio espírita como fora dele. Seu livro mais recente é Negritude e Genialidade, publicado pela editora Lachâtre. (Redação)

BOX 2: Algumas vidas de Herminio
Todas as vidas de Herminio estão sutilmente relatadas em seus escritos. Os fatos históricos pesquisados por ele relatam sua própria trajetória espiritual. Tudo começou centenas de anos antes de Jesus. Uma sonâmbula identificou Herminio como sacerdote no Egito. Passaram-se alguns séculos, e a doutrina que fora secreta no Egito agora é explicada para todos. Os detratores do Cristo começaram a combater e deturpar a mensagem de Jesus e foi então que o antigo egípcio pôs sua pena a serviço da resistência consciente, diante da luta contra a mensagem libertadora. Isso ocorreu na época dos movimentos heréticos, como os Cátaros. Tempos depois, quando a falsa interpretação tomou as rédeas da Igreja na Idade Média ressurgiu Herminio ao lado de Lutero. Era Melanchthon, auxiliando a corajosa Reforma Protestante. Considerado apóstolo por Pedro, Barnabé é citado em As Marcas do Cristo. A epístola de Barnabé, considerada apócrifa pela Igreja, tem o mesmo propósito e lógica da Confissão de Augsburgo, escrita séculos depois por Melanchthon. Barnabé era o auxiliar anônimo de Paulo. E exerceu a mesma função como Melanchthon – ainda auxiliar de Paulo, que renasceu como Lutero. O mesmo espírito, de tempos em tempos, restaurando o verdadeiro sentido da Doutrina, mas permanecendo no anonimato. Não é essa a personalidade atual de Herminio? Herminio estava também no surgimento da Doutrina Espírita, como pai do poeta Robert Browning. Como este inglês, Herminio passou seus últimos anos em Paris, dialogou com o Codificador, propôs algumas questões. Em 1920, atravessou o oceano e nasceu no Brasil. De detentor do conhecimento, o antigo sacerdote egípcio passou a divulgar a Doutrina. Herminio, um escriba fiel e consciente, de ontem, hoje e amanhã. (Redação)


FONTE: Revista Universo Espírita nº 42