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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 53

 
 

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 52

 
 
A diversidade em toda a criação de Deus é mostra de Sua inteligência soberana. A beleza que constitui as coisas do Senhor está nas variações sem perda da harmonia, que sublimam todos os ritmos. Tudo muda, de segundo para segundo, embelezando cada vez mais a natureza, nas linhas a que fomos chamados a servir. Um dia não é igual ao outro. O Céu que se contempla da Terra mostra diferenças dia a dia e noite a noite. As pessoas têm suas mudanças e reações variadas. Os animais e os pássaros, a flora e a fauna se alteram constantemente. Todas as formas se integram e desintegram com freqüência, pela força do progresso. Se assim podemos dizer, tudo que existe está em contínua modificação. Esta é uma lei cósmica que opera em toda a criação. Não há somente diversidade nas raças humanas, mas variedades em todas as coisas que Deus criou e nós, na profundidade das nossas consciências, gostamos de variações. Sentimos um prazer indefinível nas mutações.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O Primeiro Reformador


Antonio Cesar Perri de Carvalho
A Revista Reformador surgiu em 21 de janeiro de 1883, fundada pelo imigrante português Augusto Elias da Silva (1848-1903).1 As primeiras edições foram em formato de jornal, com quatro páginas, periodicidade quinzenal, preparadas com recursos próprios de seu fundador e situando a redação e oficinas em seu atelier fotográfico, na rua da Carioca, 120, 2o andar, na cidade do Rio de Janeiro.
O novel periódico tinha como subtítulo Órgão Evolucionista. Na apresentação, o fundador explicita os objetivos do mesmo:
Abre caminho, saudando os homens do presente, que também o foram do passado e ainda hão de ser os do futuro, mais um batalhador da paz: – o Reformador.
Em outro trecho comenta: Ao Espiritismo estava reservado o papel difícil, mas, por isso mesmo glorioso de estabelecer – a aliança da ciência e da religião. A doutrina espírita muda inteiramente a maneira de encarar o futuro. [...] Ergueu-se o véu; o mundo espiritual nos aparece em toda sua realidade prática. [...]2
Ainda na página primeira, inicia-se a seção “Folhetim”, que continua na página seguinte, preenchendo- a com resenha do livro, de origem francesa, de fundo religioso, intitulado O Quarto da Avó ou A felicidade na família, de Mademoiselle Monniot, e trechos do Boletim do Grande Oriente do Brasil, do Diário Oficial, do Jornal do Comércio, de outros periódicos leigos e da Revista da Sociedade Acadêmica.3 Trata- -se da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade, a primeira Instituição Espírita frequentada por Augusto Elias da Silva, quando procurou o Espiritismo. 1
A terceira página é composta pela “Seção Eclética”:
[...] consagrada a todas as corporações científicas, filosóficas e literárias, às quais se remeterá gratuitamente este jornal [para] se comunicarem [as] que desejam possuí-lo e colecioná- lo.4
Em outra nota, é apresentada a seção “Espiritismo”:
[...] criamos esta seção especialmente para as Sociedades e Grupos Espíritas que funcionam no Brasil, nas mesmas condições da oferta feita às outras corporações.4
Em outra seção “Notícias e Avisos”, é aberto o espaço para informações gerais. São consideradas “seções livres de Reformador as seguintes: Seção Eclética, Espiritismo, Notícias e Avisos e Anúncios”.3 Notícia muito interessante é veiculada na seção “Notícias e Avisos”, sobre a União Espiritualista Universal, referente à reunião ocorrida em Bruxelas (Bélgica), no dia 24 de setembro de 1882:
Movidos pela ideia iniciada pela União Espiritualista em Liège, muitos Grupos e Sociedades Espíritas de diversos Estados, incluindo os da União Espírita do Brasil, manifestaram a adesão à ideia da União Espiritualista Universal. [...] Os Grupos de França fizeram- -se representar pelo Sr. P. G. Leymarie. [...] Ficou determinado que na próxima Assembleia que terá lugar em Fevereiro, se estudará o melhor meio de se federar os Grupos Espíritas de todo o mundo.4
Esclarecemos que a citada União Espírita do Brasil foi presidida por Elias, em 1893, e por Bezerra de Menezes, em 1889.1
Há também informação sobre a reconstituição legal do Grande Oriente do Brasil e sobre a nova Sociedade Espírita, fundada em Liège (Bélgica).
A última página, dedicada aos “Anúncios”, contém várias propagandas, como fábrica de chapéus e comércio em geral: de calçados e de couros, de especialidades para a casa, chapelaria, padaria, tipografia, relojoaria e bijuteria, águas gasosas, farmácia, alfaiataria, de café e de móveis. Entre estas há uma sobre livros, com notícia a respeito da Livraria da Sociedade Acadêmica – já citada acima –, localizada na rua da Alfândega, 120, sobrado, anunciando: Obras fundamentais do Espiritismo, Revista Espírita, busto e retrato de Allan Kardec, e outros. Informam que “aceitam-se encomendas de livros; as obras Espiríticas expedem-se para qualquer localidade sem aumento de preço e livre de despesa para o comprador”.5
Na edição inaugural, Reformador estampa esclarecimento sobre os princípios da Doutrina Espírita, destaca notícia a respeito dos esforços iniciais, em nível internacional, da união dos espíritas, e, na apresentação inicial e anúncios, destaca a difusão do Espiritismo e dos livros espíritas.
Assim nascia Reformador que, nesses 130 anos de circulação ininterrupta, mantém uma marca histórica, pois são raríssimos os periódicos brasileiros que sobreviveram, por tempo tão longo, com periodicidade regular. Fato digno de nota é que, dois meses depois, na edição especial do dia 31 de março de 1883, n. 6, Reformador dedicou-se inteiramente a Allan Kardec, designando-o “Fundador da Ciência Espírita” e estampou em sua página inicial o lema: “Sem caridade não há salvação”.
No final do mesmo ano, Augusto Elias da Silva liderou o processo de fundação da FEB. O entusiasta idealista deixa clara a sua expectativa com a divulgação, ao referir que
Acha-se em via de organização a Federação Espírita Brasileira. Fitando o largo horizonte da propaganda escrita, acreditamos que prestará serviços da máxima importância para a vulgarização dos princípios filosóficos do Espiritismo.6
O intimorato pioneiro foi protagonista de episódios históricos do Movimento Espírita nacional, como a fundação de grupos espíritas pioneiros, a criação desta Revista e a fundação da Federação Espírita Brasileira, integrando sua primeira diretoria, como tesoureiro,1 a qual, então, decidiu absorver o então jornal como seu órgão oficial.
Da homenagem a seu fundador, prestada por Reformador na seção “Apologética”, na edição de 1o de janeiro de 1904, destacamos:
[...] A fé que depositava no futuro da causa que em boa hora esposara rivalizava com o desassombro em sustentar as suas convicções. A elas, durante muitos anos, sacrificou os seus interesses pessoais, as suas comodidades, não tendo senão uma ambição: ver prosperar, com a nossa sociedade, a doutrina que lhe dera origem.7

1 WANTUIL, Zêus. Grandes espíritas do Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. p. 169 a 197.
2 REFORMADOR. Ano 1, n. 1, 21 de janeiro de 1883, p. 1.
3 ______. ______. p. 2.
4 ______. ______. p. 3.
5 ______. ______. p. 4.
6 ______. Ano 2, n. 26, 1º de janeiro de 1884, p. 3.
7 ______. Ano 22, n. 1, 1º de janeiro de 1904, p. 10.

O Trigo e o Joio


Marta Antunes Moura
A parábola do Trigo e do Joio é uma das duas únicas parábolas do Evangelho em que Jesus não apenas transmite o ensinamento, como tem o cuidado de explicá-lo (a outra é a do Semeador). De forma genérica, a do trigo e o joio reflete as lutas travadas entre o bem e o mal com a vitória final do bem, como podemos conferir nos registros de Mateus (13:24 a 30):
[...] O Reino dos Céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo. Dormindo, porém, os homens, veio o seu inimigo e semeou joio no meio do trigo e partiu. Quando germinou o ramo e produziu fruto, então apareceu também o joio. Aproximando- se os servos do senhor da casa, disseram-lhe: Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? De onde, portanto, terá vindo o joio? E ele lhes disse: Um homem inimigo fez isso; os servos lhe dizem: Sendo assim, queres que, após sair, o recolhamos? Ele, porém, diz: Não; para que, ao recolher o joio, não desenraizeis junto com ele o trigo. Deixai crescer ambos juntos até a ceifa e, no tempo da ceifa, direi aos ceifeiros: Recolhei primeiro o joio e atai-o em molhos para os queimar; o trigo, porém, reuni no meu celeiro.1
A interpretação do Cristo ao próprio ensinamento é a seguinte:
[...] O que semeia a boa semente é o filho do homem. O campo é o mundo. A boa semente, essa são os filhos do Reino. O joio são os filhos do malvado. O inimigo que o semeou é o diabo; a ceifa é a consumação da era; os ceifeiros são os anjos. Assim como o joio é recolhido e queimado no fogo, assim será na consumação da era. O filho do homem enviará os seus anjos; e recolherão, do seu Reino, todos os escândalos e obreiros sem lei. E os lançarão na fornalha de fogo; ali haverá o pranto e o ranger de dentes. Então os justos brilharão como o sol, no Reino do seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça! (Mateus, 13:37 a 43.)2
Jesus anuncia de forma inequívoca a Era de Regeneração, que nos aguarda no futuro, assim como os embates a que a Humanidade se submeterá a fim de encontrar o caminho definitivo da felicidade verdadeira. A propósito, Bezerra de Menezes adverte:
Se amanhece a madrugada de luz, também ainda existem sombras densas que tomam conta de outros segmentos da sociedade, gerando impedimentos para a propagação da vida, dos bens da vida, pelos interesses mesquinhos que defluem do materialismo e das expressões covardes da mentira e das paixões humanas.3
O escritor espírita Rodolfo Calligaris (1913-1975) considera que o campo, citado na parábola, faz referência à Humanidade terrestre; o semeador é Jesus; a semente de trigo é o Evangelho; o joio são as interpretações capciosas dos seus textos; e o inimigo são indivíduos que produzem discórdias onde quer que se encontrem.4 A parábola indica também que toda semeadura, boa ou má, estará inevitavelmente atrelada à respectiva colheita que acontecerá no momento oportuno.
[...] E colhe da natureza o que plantou. Do que damos, recebemos. Toda semente, mais cedo ou mais tarde, de acordo com os dispositivos da Criação, irá crescer e frutificar. Por isso devemos ter o máximo cuidado com o que semeamos no solo do coração, nosso ou do semelhante. E a semeadura se dá por pensamentos, palavras, gestos e ações. Certamente cada um só pode dar do que possui. À vista disto, precisamos nos suprir do que é útil e do que é bom.5
A frase “O Reino dos Céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo” indica que possuímos um campo de atuação, moral e intelectual, construído sobre as bases do livre- arbítrio. Como consequência das nossas más escolhas surgem provações existenciais, algumas verdadeiramente dolorosas, que serão amenizadas ou deixarão de existir à medida que aprendermos a semear a “boa semente”. Considerando a explicação de Jesus de que o campo é o mundo em que vivemos,Emmanuel assinala que aí “há infinito potencial de realizações, com faixas de terra excelente e zonas necessitadas de arrimo, corretivo e proteção”.6
O versículo 25 do texto evangélico, ora em estudo, informa que “dormindo, porém, os homens, veio o seu inimigo e semeou joio no meio do trigo e partiu”.1 Esta frase revela o modo de proceder do adversário do Bem, identificado como o “inimigo” na parábola: age em surdina, com o intuito de plantar discórdia e desunião, aproveitando-se do momento de descanso ou de invigilância do trabalhador sincero. Daí a importância de estarmos atentos às influências inferiores que podem surgir a qualquer hora, oriundas de diferentes procedências, inclusive do grupo de trabalho onde atuamos, consoante esta outra instrução de Jesus: “Eis que eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede prudentes como as serpentes e inocentes como as pombas”. (Mateus, 10:16.)7
Como reflexão, façamos nossas as palavras do Benfeitor espiritual:
O mundo está cheio de enganos dos homens abomináveis que invadiram os domínios da política, da ciência, da religião e ergueram criações chocantes para os espíritos menos avisados [...]. [...] Mas o discípulo de Jesus, bafejado pelos benefícios do Céu todos os dias, que se rodeia de esclarecimentos e consolações, luzes e bênçãos, esse deve saber, de antemão, quanto lhe compete realizar em serviço e vigilância e, caso aceite as ilusões dos homens abo- Janei ro 2013 • Reformador 23 25 mináveis, agirá sob a responsabilidade que lhe é própria, entrando na partilha das aflitivas realidades que o aguardam nos planos inferiores.8
É muito oportuna a recomendação transmitida pelo senhor aos seus trabalhadores, no momento em que foi informado que o joio fora semeado ao lado do trigo: “Deixai crescer ambos juntos até a ceifa e, no tempo da ceifa, direi aos ceifeiros: Recolhei primeiro o joio e atai-o em molhos para os queimar; o trigo, porém, reuni no meu celeiro”.1 As sutilezas do mal nem sempre são percebidas pelos servidores devotados. Faz-se necessário, então, que a erva daninha cresça junto com a boa semente para que ambas possam ser identificadas, sem equívocos ou falsas suposições. Somente assim a ceifa ocorrerá, em condições harmônicas,sem prejuízos de qualquer natureza.
Importa considerar que a parábola destaca dois tipos de trabalhadores: os denominados servos, incumbidos de semear a semente, e os ceifeiros, responsáveis pela colheita, propriamente dita. Os primeiros somos nós, todos os trabalhadores convocados para servir na seara do Evangelho, cultivadores da boa semente, de acordo com nosso entendimento e disposição. Os segundos, os ceifadores ou “anjos” – segundo a explicação de Jesus –, pertencem à outra categoria de trabalhadores: são os servidores especializados que, por já conseguirem manter sintonia permanente com as fontes do bem, apresentam condições evolutivas que os habilitam a separar o bem do mal e dar destinação específica para cada um. O plantio pode ser feito por qualquer um de nós, aprendizes do Evangelho, mas a ceifa cabe aos ceifeiros, os Espíritos superiores.
O joio, ao brotar, é muito parecido com o trigo, e arrancá-lo antes de estar bem crescido seria inconveniente, por motivos óbvios. Na hora de produção dos frutos, em que será perfeita a distinção entre ambos, já não haverá perigo de equívoco: será ele, então, atado em feixes para ser queimado. Coisa semelhante irá ocorrer com a Humanidade. Aproxima-se a época em que a Terra deve passar por profundas modificações, física e socialmente, a fim de transformar-se num mundo regenerador, mais pacífico e, consequentemente, mais feliz.9
A ceifa expressa o momento final da produção agrícola. No plano individual, trata-se do instante em que a criatura colhe o que cultivou. O joio reunido em feixes para ser queimado simboliza a aferição do real aprendizado do Espírito, demonstrando que as dificuldades não vêm isoladas, mas formam, quase sempre, um corolário de apreensões e dificuldades que nos cabe superar, exercitando a paciência, a humildade e a confiança em Deus.
O último ensino de Jesus,“o trigo, porém, reuni no meu celeiro”, mostra que no Celeiro divino só há espaço para o bem, para o Evangelho do Reino, representado pela semente de trigo. Praticando o bem estaremos dando expansão ao que há de divino em nós e, em consequência, experimentando a felicidade plena. Assim, sob quaisquer circunstâncias, é imperioso guardar confiança no Senhor, tendo fé em suas promessas e contando com a sua proteção, sobretudo nos momentos de sofrimento em que se faz necessário separar o joio do trigo e aquele seja atado em molhos para serem queimados.

1 NOVO TESTAMENTO. Trad. Haroldo Dutra Dias. Brasília: Edicei, 2010. p. 87.
2 ______. ______. p. 89.
3 FRANCO, Divaldo P. Rumos para o futuro. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. Mensagem psicofônica recebida na Reunião Ordinária do Conselho Federativo Nacional da FEB, em 7/11/2010. Reformador, ano 129, n. 2.182, p. 8(6)-9(7), jan. 2011.
4 CALLIGARIS, Rodolfo. Parábolas evangélicas. 11. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. Parábola do joio e do trigo, p. 13.
5 ABREU, Honório O. Luz imperecível. 2. ed. Belo Horizonte: UEM, 1997. Cap. 71, p. 213.
6 XAVIER, Francisco C. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 2. reimp. Brasília: FEB, 2012. Cap. 68.
7 NOVO TESTAMENTO. Trad. Haroldo Dutra Dias. Brasília: Edicei, 2010. p. 71.
8 XAVIER, Francisco C. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 2. reimp. Brasília: FEB, 2012. Cap. 43.
9 CALLIGARIS, Rodolfo. Parábolas evangélicas. 11. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. Parábola do joio e do trigo, p. 14.

Revista o Reformador Janeiro de 2013

Necessidade de Vigilância


Clara Lila Gonzales de Araújo
Essa passagem de Jesus, ocorrida no horto de Getsêmani, no Monte das Oliveiras, também registrada em Marcos (14:38) e Lucas (22:46), tem sido ressaltada pelos Espíritos superiores, ao avaliarem o grau de imperfeição que nos caracteriza o ser, a cada oportunidade de encarnação. Afirma o Espírito Emmanuel, a esse respeito:
As mais terríveis tentações decorrem do fundo sombrio de nossa individualidade. [...] Renascemos na Terra com as forças desequilibradas do nosso pretérito para as tarefas do reajuste. Nas raízes de nossas tendências, encontramos as mais vivas sugestões de inferioridade. [...]1
Jesus nos fala a respeito das tentações e da vigilância em outros ensinamentos, por exemplo, ao ser transportado por um Espírito maléfico ao pináculo do templo e, depois, ao cume de uma montanha, sendo importunado pelo gênio perverso que, desejando tentá- lo, oferece-lhe todos os reinos do mundo e a glória que os cerca em troca de sua lealdade e adoração às forças do mal (Mateus, 4:1 a 11; Marcos, 1:12 e 13; e Lucas, 4:1 a 13). O episódio é citado em A gênese com a explicação de Allan Kardec de que o importante preceito não teria sido compreendido na sua qualidade, tendo a credulidade pública o interpretado, apenas, como fatos materiais. A análise, contida na obra citada, foi extraída da instrução dada pelo Espírito João Evangelista, recebida em Bordeaux, no ano de l862, conforme trecho que se segue:
Jesus não foi arrebatado. Ele apenas quis fazer que os homens compreendessem que a Humanidade se acha sujeita a falir e que deve manter-se sempre vigilante contra as más inspirações a que, pela sua natureza fraca, é impelida a ceder. A tentação de Jesus é, pois, uma figura e fora preciso ser cego para tomá-la ao pé da letra. [...] O Espírito do mal não teria nenhum poder sobre a essência do bem. [...]2
Inúmeras lições de Jesus chamam a nossa atenção para não sermos tentados. Podemos avaliá- -las do ponto de vista humano, pois a expressão tentação, para nós, significa problemas a enfrentar na luta pessoal por nós travada para aquisição dos bens que o mundo nos oferece, a qual é aspiração justa para a concretização de uma vida melhor, e das situações vividas ao lado daqueles que nos rodeiam. No entanto, há certos gozos materiais que podem levar- nos a cometer excessos, o que Deus permite para testar a nossa conduta:
Para estimular o homem ao cumprimento da sua missão e também para experimentá-lo por meio da tentação.3
O Criador nos testa a razão e nos preserva dos descomedimentos para não sermos vítimas de circunstâncias alheias à nossa vontade, fruto das opções equivocadas que nos agradam. A liberdade consiste exatamente em escolher o que nos atrai e influencia.
Possuímos compreensão do nosso estado moral e das decisões que tomamos, de acordo com os motivos de nossa preferência, mas que nem sempre poderão nos beneficiar espiritualmente? Que justificativa buscar para as infrações às leis morais que cometemos?
Ao discorrer sobre o Resumo teórico do móvel das ações humanas, Kardec analisa a questão do livre- -arbítrio:
Sem o livre-arbítrio o homem não teria nem culpa por praticar o mal, nem mérito em praticar o bem. Isto é de tal modo reconhecido que a censura ou o elogio, em nosso mundo, são feitos à intenção, isto é, à vontade. Ora, quem diz vontade, diz liberdade. O homem, portanto, não poderá buscar no seu organismo físico nenhuma desculpa para os seus delitos, sem abdicar da razão e da sua condição de ser humano, para se equiparar aos animais. [...]4
Outras ideias referentes ao tema são desenvolvidas no resumo da questão 872, de O livro dos espíritos, citado anteriormente, sobretudo ao destacar o conceito de fatalidade. Para o Espiritismo, a fatalidade “existe na posição que o homem ocupa na Terra e nas funções que aí desempenha”,4 concorde com o gênero de existência que o Espírito escolheu para si, de prova, expiação ou missão. Desse modo, sofremos, fatalmente, certos infortúnios a cada vinda ao corpo de carne e experimentamos os efeitos das tendências boas ou más que nos são peculiares. Nesse ponto, porém, acaba o inevitável, pois da nossa vontade depende ceder ou não a essas inclinações:
[...] Pode deixar de haver fatalidade no resultado de tais acontecimentos, visto depender do homem, pela sua prudência, modificar o curso das coisas. Nunca há fatalidade nos atos da vida moral.4
É fácil avaliar a situação moral em que nos encontramos, especialmente se identificarmos os vícios de que porventura não estejamos completamente libertos.
[...] nós os conhecemos pelas nossas tendências atuais, e para elas é que devemos voltar todas as atenções. Basta saber o que somos, sem que seja necessário saber o que fomos.5
Sem o desejo sério de nos melhorarmos, não tomaremos cuidado na urgência da essencial vigilância. Preocupado com o futuro de seus discípulos, por estar próximo ao termo de sua passagem pelos caminhos terrenos, Jesus diz para Pedro, no expressivo diálogo que manteve com ele, narrado na belíssima obra Boa nova:
[...] A criatura na Terra precisa aproveitar todas as oportunidades de iluminação interior, em sua marcha para Deus. Vigia o teu espírito ao longo do caminho. Basta um pensamento de amor para que te eleves ao Céu; mas, na jornada do mundo, também basta, às vezes, uma palavra fútil ou uma consideração menos digna para que a alma do homem seja conduzida ao estacionamento e ao desespero das trevas, por sua própria imprevidência! Nesse terreno [...], o discípulo do Evangelho terá sempre imenso trabalho a realizar [...].6
A tentação, portanto, constitui um ato moral e a vigilância é consequência do esforço que fazemos, de modo a conquistar a humildade, o desinteresse e a renúncia de nós mesmos. Entretanto, nem sempre conseguimos vencer intimamente. As dificuldades a enfrentar se originam, principalmente, de não sabermos distinguir as manifestações do nosso intelecto, que funcionam como auxiliar na reforma íntima, das demonstrações dos sentimentos, das emoções e do estado psíquico em geral, que afetam a nossa estabilidade interior. A renovação efetiva depende da disposição total do Espírito no aproveitamento de todas as suas possibilidades, na busca de novas maneiras de ser, de pensar, de agir, em substituição às vivências adquiridas em suas existências anteriores. Quantos de nós, intelectualmente favorecidos pela razão e pelo saber, não conseguimos vencer as lutas morais oferecidas pela misericórdia divina, por não aceitarmos as verdades eternas do Evangelho de Jesus que, se aplicadas, poderiam amenizar os sofrimentos e as decepções dos tempos atuais? Se todos os homens pensassem de forma consciente em Deus, não cometeriam tantos erros! Em nota a uma das questões de O livro dos espíritos, Kardec alerta-nos sobre a incapacidade do homem de entender a plenitude infinita de Deus:
A inferioridade das faculdades do homem não lhe permite compreender a natureza íntima de Deus. Na infância da Humanidade, o homem o confunde muitas vezes com a criatura, cujas imperfeições lhe atribui; mas, à medida que nele se desenvolve o senso moral, seu pensamento penetra melhor no âmago das coisas; então ele faz da Divindade uma ideia mais justa e mais conforme à sã razão, embora sempre incompleta.7
Por isso, avançamos nas descobertas e nos estudos das várias ciências e religiões utilizadas pelo homem, mas ainda nos colocamos num campo de vulgaridades, incapazes de valorizar as riquezas espirituais que nos cercam. O Espírito André Luiz transmite, em um de seus livros, a palavra sensata de Alexandre, instrutor devotado, em uma sessão de estudos mediúnicos, que traz apreciações interessantes sobre as concepções existentes a respeito da obra divina:
[...] Desde o primeiro dia de razão na mente humana, a ideia de Deus criou princípios religiosos, sugerindo-nos as regras de bem-viver. Contudo, à medida que se refinam conhecimentos intelectuais, parece que há menor respeito no homem para com as dádivas sagradas. [...]8
Peçamos a Deus a força necessária para vencermos a nós mesmos, conforme a oração dominical, ensinada por Jesus, ao rogar sinceramente: “E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal”. (Mateus, 6:13; Lucas, 11:4.)

1 XAVIER, Francisco C. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 110.
2 KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 15, it. 53, p. 438.
3 ______. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 712.
4 ______. ______. Q. 872.
5 ______. O céu e o inferno. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Pt. 2, cap. 6, it. Jacques Latour, p. 455.
6 XAVIER, Francisco C. Boa nova. 3. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 21.
7 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Comentário de Allan Kardec à q. 11.
8 XAVIER, Francisco C. Missionários da luz. Pelo Espírito André Luiz. 3. ed. especial. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 4, p. 41.

Revista O Reformador Janeiro de 2013

domingo, 20 de janeiro de 2013

NASCIMENTOS ESTRANHOS. "...Há quem nos pergunte por que motivo nascem crianças nos recintos de assistência a companheiros em tratamento de moléstias mentais. E responderemos com ligeira mostra do assunto...."


Diversos amigos, de passagem por Uberaba, deixaram-nos uma pergunta que nos tomou a atenção: “Por que
nascem crianças em lugares exclusivamente reservados aos tratamentos de doentes mentais?” Com o assunto em
pauta, em nossa reunião pública, O Livro dos Espíritos nos deu a questão 167 para estudo.
Os temas da reencarnação foram comentados. “Recomposição Espiritual”, foi a página que nosso Emmanuel
escreveu ao término das tarefas.
RECOMPOSIÇÃO ESPIRITUAL
Emmanuel
Há quem nos pergunte por que motivo nascem crianças nos recintos de assistência a companheiros em
tratamento de moléstias mentais.
E responderemos com ligeira mostra do assunto.
***
No Mais Além, certo amigo acreditou poder superar o desafio das facilidades humanas e pediu vantagens de berço no Plano Físico, a fim de cumprir elevada missão.
Ressurgiu, para logo, na linhagem de pais generosos que lhe ficharam o nome, de imediato, na posse de
avantajados recursos materiais.
Desenvolveu-se em refúgio respeitável e opulento.
Encontrou grupo familiar que estendeu apoio e compreensão.
Favorecido por educadores abnegados, senhoreou ingredientes dos mais valiosos para a formação da própria cultura.
Entretanto, em plena maioridade na experiência humana, por mais advertido fosse pelos princípios da fé que
esposara, decidiu-se pelo abuso.
Traçou infeliz caminho a si próprio.
Sulcou de sofrimento o coração dos pais, feriu companheiros, desbaratou os próprios bens, suscitou a
infelicidade de vastos agrupamentos domésticos, criou dificuldades e sombras e, por fim, precipitando-se em
desregramentos sem nome, desencarnou em lamentável posição de criminalidade.
De regresso ao Mundo Espiritual, reconheceu amigos, recordou afeições, clareou o pensamento, reformulou
pereceres, recompôs idéias e aceitou a culpa que lhe danificava a consciência.
Por mais se lhe dispensasse consolação, mais lhe doía o arrependimento.
Por mais se lhe prestassem favores, mais profundamente sentia o remorso que lhe arruinava todas as forças.
E isso, porque a apreciação de todos os fatos em si procedia dele próprio, no autojuízo a que todos nos
submetemos tão mais intensamente quanto maior o discernimento que venhamos a desfrutar.
Decorrido algum tempo de revisão e reajuste, ei-lo com o novo requerimento de que se supunha necessitado.
Rogava, agora, às autoridades superiores, difícil reencarnação em ambiente obscuro e indefinível, em que
quaisquer vantagens maciças lhe fossem sonegadas.
Foi assim que o vimos renascer, em espaço do Plano Físico totalmente consagrado ao tratamento de nossos
irmãos alienados mentais, recanto esse do qual estamos a vê-lo emergindo muito pouco a pouco, em seus
recursos espirituais, de modo a facear em futuro próximo o grave trabalho de reconquista de que se sente
sequioso, de maneira a reinstalar-se por dentro da própria alma, no respeito a si
Mesmo.
Como, pois, é fácil de entender, somos livres na escolha, mas nos resultados de nossas escolhas, quaisquer que sejam, de um modo ou de outro, com a nossa própria adesão voluntária à execução da Lei, a Lei sempre se cumprirá.

Livro: Caminhos de Volta
Chico Xavier, Espíritos Diversos.

DESAJUSTAMENTOS...."Nunca é demais afirmar que a paz começa em nós e por nós..."


Antecedendo nossa reunião pública, trocávamos idéias sobre os desajustamentos e
perturbações a que somos levados, nos tempos que atravessamos. Concluímos que os
antagonismos e as lutas espirituais vão crescendo nos lares e grupos familiares e explodem
nos contatos públicos, exigindo muita compreensão e serenidade da parte dos que possam
auxiliar a sustentação da tranqüilidade geral. Destacávamos o apoio providencial dos
conhecimentos espíritas para não perder a esperança, quando chamados às tarefas
doutrinárias.
Iniciada a reunião, O Evangelho Segundo o Espiritismo nos deu a estudo o item 5 do capítulo
IX. Vários comentaristas expressaram-se com muita oportunidade sobre o texto.
Complementando as tarefas da noite, Emmanuel compareceu com a página “Diante da Paz”.
DIANTE DA PAZ
Emmanuel
Nunca é demais afirmar que a paz começa em nós e por nós.
Os pacificadores, porém, são aqueles que aceitam em si o fogo das dissensões, de modo a
extingui-lo com os recursos da própria alma, doando tranqüilidade a todos aqueles que lhes
compartilham a marcha.
Quanto puderes, distribui o alimento da concórdia, reconhecendo que a bênção da paz é
desdobramento do pão de cada dia.
Emissários do Bem, domiciliados na Vida Maior, desenvolvem empreendimentos de paz em
todas as direções no mundo, mas precisam de cooperadores fiéis que lhes interpretem a obra
benemérita, ao lado das criaturas.
Se aderiste a essa campanha bendita, auxilia-os em bases de entendimento e serviço.
***
Onde a palavra seja convocada ao socorro fraterno, fala auxiliando e, se o mal aparece por
desequilíbrio de forças, conturbando situações, corrige o mal com amor, limitando-lhe a
influência ou curando-lhe as feridas.
Se agressões repontam à frente, considera que as enfermidades ocultas atacam em todos os
lugares e ampara a vítimas de semelhantes arrastamentos, na certeza de que a tolerância,
agindo construtivamente, é a terapêutica que nos presume a todos contra os assaltos da
violência.
Se a injúria escarnece, capacita-te de que a crueldade é sinônimo de alienação mental e usa o
perdão por exaustor das trevas que invadem o raciocínio daqueles que se perdem nos
labirintos da delinqüência.
Faze silêncio onde o silêncio consiga apagar desavenças e acusações e, quanto possível,
transforma-te no ponto terminal de qualquer processo de incompreensão, capaz de degenerar
em perturbação ou loucura.
***
Onde estiveres, abençoa.
Naquilo que penses, mentaliza o melhor.
No que digas, harmoniza os outros quanto possas.
No que faças, constrói sempre para o bem geral.
19
***
Nunca nos esqueçamos de que o Príncipe da Paz, na Terra, nasceu em clima de decepções,
viveu através de hostilidades permanentes, serviu entre adversários gratuitos e selou o próprio
trabalho sob a vitória aparente dos perseguidores; mas, supostamente vencido, o Cristo de
Deus, de século e século, cada vez mais intensamente, é o fiador da concórdia entre as nações,
erguendo-se por doador de paz genuína ao mundo inteiro.

CONSIDERAÇÕES DE KARDEC."...Demônios, no sentido que a civilização corrente empresta ao vocábulo, não são seres votados pela Sabedoria Divina à prática do mal, e sim espíritos humanos que se desequilibraram em atitudes infelizes perante a vida..."


Francisco Cândido Xavier
Em várias conversações tivemos ocasião de comentar os noticiários da imprensa
sobre demônios e exorcismo. O assunto vem sendo muito debatido. E nós, também, num
grupo grande de companheiros, não escapamos às opiniões sobre essas ocorrências.
Acontece que, em nossa reunião pública, O Livro dos Espíritos nos ofereceu a
questão 131 para os estudos gerais e o nosso caro Emmanuel escreveu a página ”Demônios e
Exorcismo".
O nosso amigo espiritual trata do tema, expressando-se nas mesmas considerações
de Allan Kardec.
DEMÔNIOS E EXORCISMO
Emmanuel
Em vários setores da atualidade revive-se a figura do demônio, no estilo da Idade
Média, e articulam-se processos de exorcismo a fim de lhe conjurar a presença.
Entretanto, no assunto, vale revisar os conceitos kardequianos emitidos há mais de
um século.
Demônios, no sentido que a civilização corrente empresta ao vocábulo, não são seres
votados pela Sabedoria Divina à prática do mal, e sim espíritos humanos que se
desequilibraram em atitudes infelizes perante a vida. Podem estar domiciliados em faixas de
sombra do Mundo Espiritual, em correlação com o Plano Físico ou em núcleos residenciais da
Terra mesmo. Desencarnados e encarnados.
E, para entendermos o exorcismo, basta que nos detenhamos no estudo da hipnose e
do reflexo condicionado para recolher as melhores conclusões quanto ao poder da influência.
*
O homem sempre necessitou de apoiar-se em símbolos de amor e fé, autoridade e
responsabilidade para facear com segurança as forças que se lhe conservam desconhecidas.
Tanto na paisagem terrestre, quanto na paisagem espiritual, seja no estágio físico ou
nos períodos de tempo, antes e depois da permanência no corpo de matéria mais densa, a
personalidade humana, em determinados degraus da estrada evolutiva, frenará os impulsos de
agressividade exagerada ou buscará encorajamento nas próprias fraquezas, em sinais e
palavras, imagens e sons que lhe recordem os dispositivos de proteção mental a que
habitualmente se submeta ou recorra, nos lances das próprias experiências.
À vista disso, é fácil compreender que a pessoa humana, quando fora das leis de
harmonia e burilamento que nos regem os destinos, será sempre uma criatura de emoções
transitoriamente deterioradas, criando tribulações no lugar em que se encontre.
E, por outro lado, não é difícil perceber que o exorcismo, na base dos agentes
magnéticos e dos valores da memória, é sempre uma alavanca de emergência capaz de
remover influências infelizes.
16
Na raiz do problema, em suma, encontramos a necessidade de considerar os
chamados “espíritos das trevas” por irmãos verdadeiros, requisitando compreensão e auxílio a
fim de se remanejarem do desajuste para o reequilíbrio neles mesmos. Entendendo-se ainda
que o melhor e mais alto processo de transformá-los, em definitivo, será sempre a prática do
amor, através da qual todos nós, os espíritos em evolução no campo terrestre, estamos sendo
orientados, treinados, instruídos, educados e sublimados pela abnegação incessante dos Sábios
Angélicos da Espiritualidade, em nossa marcha progressiva para Deus.

Caminhos de Volta
Chico Xavier / Espíritos Diversos

sábado, 19 de janeiro de 2013

Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita ( FEB) Livro I Cristianismo e Espiritismo -Roteiro I

EADE - LIVRO I
ROTEIRO
1
Objetivos
• Elaborar uma linha histórica da evolução da idéia de Deus na Humanidade.
• Explicar politeísmo e monoteísmo à luz do entendimento espírita.
IDÉIAS PRINCIPAIS CRISTIANISMO E ESPIRITISMO
MÓDULO I - ANTECEDENTES DO CRISTIANISMO
• O homem primitivo entendia Deus como um ser antropomórfico: Incapaz, pela
sua ignorância, de conceber um ser imaterial, sem forma determinada, atuando
sobre a matéria, conferiu-lhe o homem atributos da natureza corpórea, isto é,
uma forma e um aspecto [...]. Allan Kardec: O livro dos espíritos, questão 667.
• O politeísmo é a crença em vários deuses e o culto a eles prestado. Chamando
[...] “deus” a tudo o que era sobre-humano, os homens tinham por deuses os
Espíritos. Daí veio que, quando um homem, pelas suas ações, pelo seu gênio,
ou por um poder oculto que o vulgo não lograva compreender, se distinguia dos
demais, faziam dele um deus e, por sua morte, lhe rendiam culto. Allan Kardec:
O livro dos espíritos, questão 668.
• Os hebreus foram os primeiros a praticar publicamente o monoteísmo; é a eles
que Deus transmite a sua lei, primeiramente por via de Moisés, depois por
intermédio de Jesus. Allan Kardec: O evangelho segundo o espiritismo, cap. 18,
item 2.
EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO RELIGIOSO
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
O desenvolvimento da idéia de Deus e do processo religioso da Humanidade
acompanha a evolução, intelectual e moral, do próprio ser humano.
Uma conquista está inerente à outra.
Quando [...] os homens, fisicamente, pouco dessemelhavam dos antropopitecos, suas
manifestações de religiosidade eram as mais bizarras, até que, transcorridos os anos, no
labirinto dos séculos, vieram entre as populações do orbe os primeiros organizadores do
pensamento religioso que, de acordo com a mentalidade geral, não conseguiram escapar
das concepções de ferocidade que caracterizavam aqueles seres egressos do egoísmo
animalesco da irracionalidade. 8
As primeiras manifestações de religiosidade estão, pois, relacionadas à
realização de sacrifícios que poderiam agradar a Deus.
Primeiramente, porque não compreendia Deus como sendo a fonte da bondade. Nos
povos primitivos a matéria sobrepuja o espírito; eles se entregam aos instintos do animal
selvagem. Por isso é que, em geral, são cruéis; é que neles o senso moral ainda não se
acha desenvolvido. Em segundo lugar, é natural que os homens primitivos acreditassem
ter uma criatura animada muito mais valor, aos olhos de Deus, do que um corpo
material. Foi isto que os levou a imolarem, primeiro, animais e, mais tarde, homens. De
conformidade com a falsa crença que possuíam, pensavam que o valor do sacrifício era
proporcional à importância da vítima . 4
A idéia primitiva de Deus é de natureza antropomórfica. Isto é, Deus é
concebido e descrito sob a forma humana ou com atributos humanos.
SUBSÍDIOS
MÓDULO I
Roteiro 1
1Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 1 - Evolução do pensamento religioso
Incapaz, pela sua ignorância, de conceber um ser imaterial, sem forma determinada,
atuando sobre a matéria, conferiu-lhe o homem atributos da natureza corpórea, isto
é, uma forma e um aspecto e, desde então, tudo o que parecia ultrapassar os limites da
inteligência comum era, para ele, uma divindade. Tudo o que não compreendia devia
ser obra de uma potência sobrenatural. Daí a crer em tantas potências distintas quantos
os efeitos que observava, não havia mais que um passo. 2
A concepção de Deus único, criador do universo, dos seres e coisas estava
muito distante, em termos evolutivos, para ser cogitada pelos primeiros
habitantes do Planeta. Tudo que lhes causavam impacto e extrapolava o seu
entendimento era venerado como um deus.
Sem dúvida, porquanto, chamando deus a tudo o que era sobre-humano, os homens
tinham por deuses os Espíritos. Daí veio que, quando um homem, pelas suas ações, pelo
seu gênio, ou por um poder oculto que o vulgo não lograva compreender, se distinguia
dos demais, faziam dele um deus e, por sua morte, lhe rendiam culto. 3
O homem primitivo reverenciava os espíritos (“deuses”), simbolizados por
animais, vegetais e seres inanimados. Encontrava-se diante de um processo de
adoração rudimentar, anímico e antropomórfico.
O significado filosófico de animismo indica que alma é considerada como
princípio e sustentação de todas as atividades orgânicas, especialmente das
percepções, sentimentos e pensamentos. O antropólogo Tylor (1896-1980)
demonstra em sua obra «Cultura primitiva» (Primitive culture), publicada
em 1934, que o animismo é o primeiro estágio da evolução religiosa da Humanidade,
no qual o homem primitivo crê que todas as coisas ou elementos
da Natureza são animados porque possuem uma alma. De qualquer forma, o
animismo caracteriza o estágio primordial da atividade racional e cognitiva da
espécie humana. O termo animismo, na verdade, foi utilizado pelo médico e
químico alemão Georg Ernst Stahl (1660-1734) para explicar o funcionamento
do corpo humano.
O período anímico da evolução religiosa da humanidade terrestre, faz
nascer diferentes tipos de adoração: litolatria (adoração de pedras, rochas e
relevos dos solos); fitolatria (adoração dos vegetais); zoolatria (adoração de
animais); idolatria (adoração de ídolos). A conseqüência natural da idolatria é
o nascimento da mitologia, com a sua forma clássica de politeísmo. Mitologia
é o conjunto dos mitos de um povo. Mito, por sua vez, é o relato fantástico
da tradição oral, gerado e protagonizado por seres que encarnam, sob forma
simbólica, as forças da Natureza e os aspectos gerais da condição humana,


Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 1 - Evolução do pensamento religioso
esclarece o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.
As lendas e as fábulas constituem o acervo mitológico de um povo. Os
mitos refletem a experiência vivida pelos nossos ancestrais, mas que nos alcançam
na atualidade. São também símbolos que revelam os diferentes estágios
evolutivos da caminhada humana. Por esse motivo, os mitos apresentam representações
mentais diferentes na infância, na adolescência e na vida adulta.
1. Politeísmo
Por definição, politeísmo é um sistema de crença religiosa que admite
mais de um deus. Em geral, as manifestações politeístas são acompanhadas
de idolatrias, refletindo a visão fragmentária que o homem tem da vida e do
mundo. A mitologia de cada povo adquire feição própria. A mitologia grega e
os ensinamentos órficos — de grande impacto na Civilização Ocidental — são
desenvolvidos por mestres do saber os quais, no entanto, mantém-se isolados
das massas populares. 9
Importa considerar que o desenvolvimento da idéia de Deus acompanha
outra: a da imortalidade do ser.
Desde os pródromos da Civilização a idéia da imortalidade é congênita no homem.
Todas as concepções religiosas da mais remota antigüidade, se bem que embrionárias
e grosseiras em suas exteriorizações, no-la atestam. Entre as raças bárbaras abundaram
idéias terroristas de um Deus, cuja cólera destruidora se abrandaria à custa dos sacrifícios
humanos e dos holocaustos de sangue, e, por toda parte, onde os homens primitivos
deixaram os vestígios de sua passagem, vê-se o sinal de uma divindade a cuja providência
e sabedoria as criaturas entregavam confiadamente os seus destinos. 10
Merece destaque o fato de que nas religiões politeístas, do passado e do
presente, exista uma hierarquia das divindades: um deus maior e mais poderoso
que governa deuses menores, em poder, inteligência e moralidade. Indica uma
forma de transição do politeísmo, propriamente dito, para o monoteísmo.
A palavra deus tinha, entre os antigos, acepção muito ampla. Não indicava, como presentemente,
uma personificação do Senhor da Natureza. Era uma qualificação genérica,
que se dava a todo ser existente fora das condições da Humanidade. Ora, tendo-lhes
as manifestações espíritas revelado a existência de seres incorpóreos a atuarem como
potência da Natureza, a esses seres deram eles o nome de deuses, como lhes damos
atualmente o de Espíritos. Pura questão de palavras, com a única diferença de que, na
ignorância em que se achavam, mantida intencionalmente pelos que nisso tinham inte-
resse, eles erigiram templos e altares muito lucrativos a tais deuses, ao passo que hoje os
consideramos simples criaturas como nós, mais ou menos perfeitas e despidas de seus
invólucros terrestres. Se estudarmos atentamente os diversos atributos das divindades
pagãs, reconheceremos, sem esforço, todos os de que vemos dotados os Espíritos nos
diferentes graus da escala espírita, o estado físico em que se encontram nos mundos superiores,
todas as propriedades do perispírito e os papéis que desempenham nas coisas
da Terra. 3
2. Monoteísmo
O monoteísmo, conseqüência natural, e oposta, do politeísmo é doutrina
religiosa que defende a existência de uma única divindade, culto ou adoração
de um único Deus, Pai e Criador Supremo.
Antes da vinda do Cristo, com exceção dos hebreus, todos os povos eram idólatras e
politeístas. Se alguns homens superiores ao vulgo conceberam a idéia da unidade de
Deus, essa idéia permaneceu no estado de sistema pessoal, em parte nenhuma foi aceita
como verdade fundamental, a não ser por alguns iniciados que ocultavam seus conhecimentos
sob um véu de mistério, impenetrável para as massas populares. Os hebreus
foram os primeiros a praticar publicamente o monoteísmo; é a eles que Deus transmite
a sua lei, primeiramente por via de Moisés, depois por intermédio de Jesus. Foi daquele
pequenino foco que partiu a luz destinada a espargir-se pelo mundo inteiro, a triunfar do
paganismo e a dar a Abraão uma posteridade espiritual “tão numerosa quanto as estrelas
do firmamento.” Entretanto, abandonando de todo a idolatria, os judeus desprezaram a
lei moral, para se aferrarem ao mais fácil: a prática do culto exterior. 1
O monoteísmo representa o ápice da escala evolutiva religiosa da humanidade
terrestre. Foi uma conquista lenta, seguida de estágios preparatórios,
nascida no seio das próprias doutrinas politeístas.
Cabe ao povo judeu o mérito da implantação do monoteísmo na Terra.
Dos Espíritos degredados na Terra, foram os hebreus que constituíram a raça mais forte e
mais homogênea, mantendo inalterados os seus caracteres através de todas as mutações.
Examinando esse povo notável no seu passado longínquo, reconhecemos que, se grande
era a sua certeza na existência de Deus, muito grande também era o seu orgulho, dentro
de suas concepções da verdade e da vida. [...] Entretanto, em honra da verdade, somos
obrigados a reconhecer que Israel, num paradoxo flagrante, antecipando-se às conquistas
dos outros povos, ensinou de todos os tempos a fraternidade, a par de uma fé soberana
e imorredoura. 5
O monoteísmo é consolidado com os Dez Mandamentos, ou Decálogo,
pag.19
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 1 - Evolução do pensamento religioso
recebidos por Moisés, no monte Sinai.
O protegido de Termutis [irmã do faraó egípcio e mãe adotiva de Moisés], depois de se
beneficiar com a cultura que o Egito lhe podia prodigalizar, foi inspirado a reunir todos
os elementos úteis à sua grandiosa missão, vulgarizando o monoteísmo e estabelecendo
o Decálogo, sob a inspiração divina, cujas determinações são até hoje a edificação basilar
da Religião da Justiça e do Direito[...]. 9
Moisés, com a expressão rude da sua palavra primitiva, recebe do mundo espiritual as
leis básicas do Sinai, construindo desse modo o grande alicerce do aperfeiçoamento
moral do mundo; e Jesus, no Tabor, ensina a Humanidade a desferir, das sombras da
Terra, o seu vôo divino para as luzes do Céu. 6
Independentemente das práticas indicadas pela legislação moisaica, algumas
até desumanas, mas compatíveis com a mentalidade da época, Moisés
teve o mérito de difundir à multidão que o seguia na árdua peregrinação no
deserto, verdades espirituais acessíveis apenas aos indivíduos aceitos como
“iniciados” nos diferentes templos religiosos do passado.
O grande legislador dos hebreus trouxera a determinação de Jesus, com respeito à
simplificação das fórmulas iniciáticas, para compreensão geral do povo; a missão de
Moisés foi tornar acessíveis ao sentimento popular as grandes lições que os demais
iniciados eram compelidos a ocultar. E, de fato, no seio de todas as grandes figuras da
antiguidade, destaca-se o seu vulto como o primeiro a rasgar a cortina que pesa sobre os
mais elevados conhecimentos, filtrando a luz da verdade religiosa para a alma simples
e generosa do povo. 7
pag.20
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
1. KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Tradução de Guillon
Ribeiro. 123. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Cap.18, item 2, p. 289.
2. ______. O livro dos espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 86. ed. Rio de
Janeiro: FEB, 2005, questão 667, p. 322-323.
3. ______. Questão 668, p. 323.
4. ______. Questão 669, p. 324.
5. XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel.
33. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 7 (O povo de Israel), p. 65-66.
6. ______. Item: O Judaísmo e o Cristianismo, p. 68.
7. ______. Item: O monoteísmo, p. 69.
8. ______. Emmanuel. Pelo Espírito Emmanuel. 25. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2005. Cap. 2 (A ascendência do Evangelho), p. 25.
9. ______. Cap. 2 (A ascendência do Evangelho), item: A lei moisaica, p. 27.
10. ______. Cap. 15 (A idéia da imortalidade), item: A idéia de Deus, p. 86.
REFERÊNCIAS
EADE - Roteiro 1 - Evolução do pensamento religioso
Pag 21- Tarefa
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
Elaborar uma linha história, em conjunto
com a turma, que contenha os principais marcos
evolutivos da idéia de Deus na Humanidade.
Analisar, em seguida, as idéias que efetivamente,
os caracterizaram.

Caros confrades, estaremos todos os sábados oferecendo o Roteiro para Estudos em grupos ou individuais nunca nos esquecendo de que a cada estudo devemos orar e pedir ajuda aos mentores para que possamos assimilar e nos manter fora de interferencias pouco recomendáveis. Contamos com os comentários para nos iteragirmos.
Saudações Fraternas

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno-Cap. V " Suicidas"

O SUICIDA DA SAMARITANA

A 7 de abril de 1858, pelas 7 horas da noite, um homem de cerca de 50 anos e decentemente trajado apresentou-se no estabelecimento da Samaritana, de Paris, e mandou que lhe preparassem um banho. Decorridas cerca de 2 horas, o criado de serviço, admirado pelo silêncio do freguês, resolveu entrar no seu gabinete, a fim de verificar o que ocorria.
Deparou-se-lhe então um quadro horroroso: o infeliz degolara-se com uma navalha e todo o seu sangue misturava-se à água da banheira. E como a identidade do suicida não pôde ser averiguada, foi o cadáver removido para o necrotério.
1. - Evocação. (Resposta do guia do médium.) - Esperai, ele aí está.
2. - Onde vos achais hoje? - R. Não sei... dizei-mo.
3. - Estais numa reunião de pessoas que estudam o Espiritismo e que são benévolas para convosco. - R. Dizei-me se vivo, pois este ambiente me sufoca.
    Nota - Sua alma, posto que separada do corpo, está ainda completamente imersa no que poderia chamar-se o turbilhão da matéria corporal; vivazes lhe são as idéias terrenas, a ponto de se acreditar encarnado.
4 - Quem vos impeliu a vir aqui? - R. Sinto-me aliviado.
5. - Qual o motivo que vos arrastou ao suicídio? - R. Morto? Eu? Não... que habito o meu corpo... Não sabeis como sofro!... Sufoco-me... Oxalá que mão compassiva me aniquilasse de vez!
6. - Por que não deixastes indícios que pudessem tornar-vos reconhecível? - R. Estou abandonado; fugi ao sofrimento para entregar-me à tortura.
7. - Tendes ainda os mesmos motivos para ficar incógnito? - R. Sim; não revolvais com ferro candente a ferida que sangra.
8. - Podereis dar-nos o vosso nome, idade, profissão e domicilio? - R. Absolutamente não.
9. - Tínheis família, mulher, filhos? - R. Era um desprezado, ninguém me amava.
10. - E que fizestes para ser assim repudiado? - R. Quantos o são como eu!... Um homem pode viver abandonado no seio da família, quando ninguém o preza.
11. - No momento de vos suicidardes não experimentastes qualquer hesitação? - R. Ansiava pela morte... Esperava repousar.
12. - Como é que a idéia do futuro não vos fez renunciar a um tal projeto? - R. Não acreditava nele, absolutamente. Era um desiludido. O futuro é a esperança.
13. - Que reflexões vos ocorreram ao sentirdes a extinção da vida? - R. Não refleti, senti... Mas a vida não se me extinguiu... minha alma está ligada ao corpo... Sinto os vermes a corroerem-me.
14. - Que sensação experimentastes no momento decisivo da morte? - R. Pois ela se completou?
15. - Foi doloroso o momento em que a vida se vos extinguiu? - R. Menos doloroso que depois. Só o corpo sofreu.
16. - (Ao Espírito S. Luís.) - Que quer dizer o Espírito afirmando que o momento da morte foi menos doloroso que depois? - R. O Espírito descarregou o fardo que o oprimia; ele ressentia a volúpia da dor.
17. - Tal estado sobrevém sempre ao suicídio? - R. Sim. O Espírito do suicida fica ligado ao corpo até o termo dessa vida. A morte natural é a libertação da vida: o suicídio a rompe por completo.
18. - Dar-se-á o mesmo nas mortes acidentais, embora involuntárias, mas que abreviam a existência? - R. Não. Que entendeis por suicídio? O Espírito só responde pelos seus atos.
    Nota - Esta dúvida da morte é muito comum nas pessoas recentemente desencarnadas, e principalmente naquelas que, durante a vida, não elevam a alma acima da matéria. É um fenômeno que parece singular à primeira vista, mas que se explica naturalmente. Se a um indivíduo, pela primeira vez sonambulizado, perguntarmos se dorme, ele responderá quase sempre que não, e essa resposta é lógica: o interlocutor é que faz mal a pergunta, servindo-se de um termo impróprio. Na linguagem comum, a idéia do sono prende-se à suspensão de todas as faculdades sensitivas; ora, o sonâmbulo que pensa, que vê e sente, que tem consciência da sua liberdade, não se crê adormecido, e de fato não dorme, na acepção vulgar do vocábulo. Eis a razão por que responde não, até que se familiariza com essa maneira de apreender o fato. O mesmo acontece com o homem que acaba de desencarnar; para ele a morte era o aniquilamento do ser, e, tal como o sonâmbulo, ele vê, sente e fala, e assim não se considera morto, e isto afirmando até que adquira a intuição do seu novo estado. Essa ilusão é sempre mais ou menos dolorosa, uma vez que nunca é completa e dá ao Espírito uma tal ou qual ansiedade. No exemplo supra ela constitui verdadeiro suplício pela sensação dos vermes que corroem o corpo, sem falarmos da sua duração, que deverá equivaler ao tempo de vida abreviada. Este estado é comum nos suicidas, posto que nem sempre se apresente em idênticas condições, variando de duração e intensidade conforme as circunstâncias atenuantes ou agravantes da falta. A sensação dos vermes e da decomposição do corpo não é privativa dos suicidas: sobrevém igualmente aos que viveram mais da matéria que do espírito. Em tese, não há falta isenta de penalidades, mas também não há regra absoluta e uniforme nos meios de punição