A
Revista Reformador surgiu em 21 de janeiro de 1883, fundada pelo
imigrante português Augusto Elias da Silva (1848-1903).1 As primeiras
edições foram em formato de jornal, com quatro páginas, periodicidade
quinzenal, preparadas com recursos próprios de seu fundador e situando a
redação e oficinas em seu atelier fotográfico, na rua da Carioca, 120,
2o andar, na cidade do Rio de Janeiro.
O novel periódico tinha como subtítulo Órgão Evolucionista. Na apresentação, o fundador explicita os objetivos do mesmo:
Abre
caminho, saudando os homens do presente, que também o foram do passado e
ainda hão de ser os do futuro, mais um batalhador da paz: – o
Reformador.
Em outro
trecho comenta: Ao Espiritismo estava reservado o papel difícil, mas,
por isso mesmo glorioso de estabelecer – a aliança da ciência e da
religião. A doutrina espírita muda inteiramente a maneira de encarar o
futuro. [...] Ergueu-se o véu; o mundo espiritual nos aparece em toda
sua realidade prática. [...]2
Ainda na
página primeira, inicia-se a seção “Folhetim”, que continua na página
seguinte, preenchendo- a com resenha do livro, de origem francesa, de
fundo religioso, intitulado O Quarto da Avó ou A felicidade na família,
de Mademoiselle Monniot, e trechos do Boletim do Grande Oriente do
Brasil, do Diário Oficial, do Jornal do Comércio, de outros periódicos
leigos e da Revista da Sociedade Acadêmica.3 Trata- -se da Sociedade
Acadêmica Deus, Cristo e Caridade, a primeira Instituição Espírita
frequentada por Augusto Elias da Silva, quando procurou o Espiritismo. 1
A terceira página é composta pela “Seção Eclética”:
[...]
consagrada a todas as corporações científicas, filosóficas e literárias,
às quais se remeterá gratuitamente este jornal [para] se comunicarem
[as] que desejam possuí-lo e colecioná- lo.4
Em outra nota, é apresentada a seção “Espiritismo”:
[...]
criamos esta seção especialmente para as Sociedades e Grupos Espíritas
que funcionam no Brasil, nas mesmas condições da oferta feita às outras
corporações.4
Em outra
seção “Notícias e Avisos”, é aberto o espaço para informações gerais.
São consideradas “seções livres de Reformador as seguintes: Seção
Eclética, Espiritismo, Notícias e Avisos e Anúncios”.3 Notícia muito
interessante é veiculada na seção “Notícias e Avisos”, sobre a União
Espiritualista Universal, referente à reunião ocorrida em Bruxelas
(Bélgica), no dia 24 de setembro de 1882:
Movidos
pela ideia iniciada pela União Espiritualista em Liège, muitos Grupos e
Sociedades Espíritas de diversos Estados, incluindo os da União Espírita
do Brasil, manifestaram a adesão à ideia da União Espiritualista
Universal. [...] Os Grupos de França fizeram- -se representar pelo Sr.
P. G. Leymarie. [...] Ficou determinado que na próxima Assembleia que
terá lugar em Fevereiro, se estudará o melhor meio de se federar os
Grupos Espíritas de todo o mundo.4
Esclarecemos que a citada União Espírita do Brasil foi presidida por Elias, em 1893, e por Bezerra de Menezes, em 1889.1
Há
também informação sobre a reconstituição legal do Grande Oriente do
Brasil e sobre a nova Sociedade Espírita, fundada em Liège (Bélgica).
A última
página, dedicada aos “Anúncios”, contém várias propagandas, como
fábrica de chapéus e comércio em geral: de calçados e de couros, de
especialidades para a casa, chapelaria, padaria, tipografia, relojoaria e
bijuteria, águas gasosas, farmácia, alfaiataria, de café e de móveis.
Entre estas há uma sobre livros, com notícia a respeito da Livraria da
Sociedade Acadêmica – já citada acima –, localizada na rua da Alfândega,
120, sobrado, anunciando: Obras fundamentais do Espiritismo, Revista
Espírita, busto e retrato de Allan Kardec, e outros. Informam que
“aceitam-se encomendas de livros; as obras Espiríticas expedem-se para
qualquer localidade sem aumento de preço e livre de despesa para o
comprador”.5
Na
edição inaugural, Reformador estampa esclarecimento sobre os princípios
da Doutrina Espírita, destaca notícia a respeito dos esforços iniciais,
em nível internacional, da união dos espíritas, e, na apresentação
inicial e anúncios, destaca a difusão do Espiritismo e dos livros
espíritas.
Assim
nascia Reformador que, nesses 130 anos de circulação ininterrupta,
mantém uma marca histórica, pois são raríssimos os periódicos
brasileiros que sobreviveram, por tempo tão longo, com periodicidade
regular. Fato digno de nota é que, dois meses depois, na edição especial
do dia 31 de março de 1883, n. 6, Reformador dedicou-se inteiramente a
Allan Kardec, designando-o “Fundador da Ciência Espírita” e estampou em
sua página inicial o lema: “Sem caridade não há salvação”.
No final
do mesmo ano, Augusto Elias da Silva liderou o processo de fundação da
FEB. O entusiasta idealista deixa clara a sua expectativa com a
divulgação, ao referir que
Acha-se
em via de organização a Federação Espírita Brasileira. Fitando o largo
horizonte da propaganda escrita, acreditamos que prestará serviços da
máxima importância para a vulgarização dos princípios filosóficos do
Espiritismo.6
O
intimorato pioneiro foi protagonista de episódios históricos do
Movimento Espírita nacional, como a fundação de grupos espíritas
pioneiros, a criação desta Revista e a fundação da Federação Espírita
Brasileira, integrando sua primeira diretoria, como tesoureiro,1 a qual,
então, decidiu absorver o então jornal como seu órgão oficial.
Da homenagem a seu fundador, prestada por Reformador na seção “Apologética”, na edição de 1o de janeiro de 1904, destacamos:
[...] A
fé que depositava no futuro da causa que em boa hora esposara rivalizava
com o desassombro em sustentar as suas convicções. A elas, durante
muitos anos, sacrificou os seus interesses pessoais, as suas
comodidades, não tendo senão uma ambição: ver prosperar, com a nossa
sociedade, a doutrina que lhe dera origem.7
1 WANTUIL, Zêus. Grandes espíritas do Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. p. 169 a 197.
2 REFORMADOR. Ano 1, n. 1, 21 de janeiro de 1883, p. 1.
3 ______. ______. p. 2.
4 ______. ______. p. 3.
5 ______. ______. p. 4.
6 ______. Ano 2, n. 26, 1º de janeiro de 1884, p. 3.
7 ______. Ano 22, n. 1, 1º de janeiro de 1904, p. 10.
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