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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Primórdios do Movimento Espírita no Brasil


JUVANIR BORGES DE SOUZA
Palestra proferida na CONFERÊNCIA ESPÍRITA BRASIL-PORTUGAL, realizada
em Salvador (BA), de 16 a 19 de março de 2000.
I
A história do Espiritismo no Brasil é muito rica de fatos, de personagens e de
realizações. Um vasto documentário esparso está à espera de quem o reúna e
aprecie, com sensibilidade e conhecimento.
Ao contrário do que ocorreu nos países da Europa, nos quais os movimentos
oriundos da Nova Revelação cresceram rapidamente, nas primeiras décadas que
se seguiram aos trabalhos da Codificação, para depois estacionarem ou fenecerem,
o Movimento Espírita no Brasil cresceu continuamente, apesar das muitas vicissitudes
que teve de enfrentar.
II
É interessante observar que, antes do advento do Espiritismo, com a primeira
edição de “O Livro dos Espíritos”, em Paris, em 1857, já existiam idéias espíritas
irradiadas a partir de 1847-1848, nos Estados Unidos, com os fenômenos de
Hydesville.
III
Os primeiros experimentadores da mediunidade, no Brasil, saíram dos cultores
da homeopatia, com os médicos Bento Mure, francês, e João Vicente Martins,
português, aqui chegados em 1840, que aplicavam passes em seus clientes e falavam
em Deus, Cristo e Caridade, quando curavam.
José Bonifácio, o patriarca da Independência, cultor da homeopatia, é também
dos primeiros experimentadores do fenômeno espírita.
Em 1844, o Marquês de Maricá publicou um livro com os primeiros ensinamentos
de fundo espírita divulgados no Brasil (REFORMADOR de 1944, p. 207).
IV
Entretanto, o grupo mais antigo que se constituíra no Rio de Janeiro, para cultivar
o fenômeno espírita, foi o de Melo Morais, homeopata e historiador, por volta
de 1853, conforme registrado em Reformador de 1º de maio de 1883.
Freqüentavam esse grupo o Marquês de Olinda, o Visconde de Uberaba e
outros vultos do Império.
Os fenômenos das mesas girantes são noticiados pela primeira vez no Brasil
em 1853, pelo jornal O Cearense.
V
Assim, quando “O Livro dos Espíritos”, em sua edição original francesa, chegou
ao Brasil, encontrou meio favorável ao seu entendimento e divulgação, especialmente
na elite social da Capital do Império.
4
VI
Em 1860 surgiram os dois primeiros livros espíritas em português: “Os tempos
são chegados” do professor Casimir Lieutaud, francês radicado no Rio de Janeiro,
e “O Espiritismo na sua expressão mais simples”, tradução do professor Alexandre
Canu, cujo nome só aparece na terceira edição, em 1862.
VII
Em 1863 o Espiritismo já era comentado com seriedade.
O Jornal do Commercio, o maior órgão da imprensa da Capital do Império de
então, publicava, em 23 de setembro, artigo favorável à nova Doutrina.
No ano de 1865, surge a primeira contestação de espíritas a comentários
desfavoráveis ao Espiritismo. O Diário da Bahia, de Salvador, transcrevera artigo
extraído da Gazette Médicale. Esse artigo, desfavorável e mordaz, assinado pelo
Dr. Déchambre, foi contestado pelos Drs. Luís Olímpio Teles de Menezes, José Álvares
do Amaral e Joaquim Carneiro de Campos, em réplica publicada em 28 de
setembro de 1865, artigo que mereceu comentários favoráveis de Allan Kardec na
Revue Spirite (vol. 8, pág. 334).
VIII
Os primeiros centros espíritas nos moldes preconizados por Kardec surgem
na Bahia (Grupo Familiar do Espiritismo), no Rio de Janeiro e em outros Estados, a
partir de 1865.
IX
Em 1869 é editado em Salvador O Eco d’Além-Túmulo, “Monitor do Espiritismo
no Brasil”, sob a direção de L. O. Teles de Menezes, que teve efêmera duração.
X
Em novembro de 1873 funda-se em Salvador, Bahia, a Associação Espírita
Brasileira, continuação do Grupo Familiar de Espiritismo.
Alguns membros dessa Associação fundaram, em 1874, em Salvador, o Grupo
Santa Teresa de Jesus.
XI
A 2 de agosto de 1873 é fundada a Sociedade Grupo Confúcio, primeira entidade
jurídica do Espiritismo no Brasil, com estatutos impressos, amplamente noticiada
na imprensa nacional e estrangeira.
Nomes como os dos Drs. Siqueira Dias, Silva Neto, Joaquim Carlos Travassos,
Casimir Lieutaud, Bittencourt Sampaio fizeram parte dessa sociedade, cuja
divisa era “Sem caridade não há salvação”.
A esse Grupo, de curta existência de menos de três anos, deve o Espiritismo
no Brasil: a primeira tradução das obras de Kardec, por Joaquim Carlos Travassos
(Fortúnio); a primeira assistência gratuita homeopática; a primeira revelação do
Espírito Guia do Brasil — o Anjo Ismael.
XII
Vale a pena rememorar, para a edificação das novas gerações, as previsões
de Ismael, em rara e eloqüente mensagem de transcendente significação no Grupo
Confúcio, eis que ela resume a orientação espiritual no que diz respeito à missão
do Brasil:
“O Brasil tem a missão de cristianizar. É a Terra da Promissão. A Terra de todos.
A Terra da fraternidade. A Terra de Jesus. A Terra do Evangelho...
“Na Era Nova e próxima, abrigará um povo diferente pelos costumes cristãos.
5
Cumpre ao que ouve os arautos do Espaço, que convocam os homens de boavontade
para o preparo da Nova Era, reconhecer em Jesus o chefe espiritual. Com
o Evangelho explicado à luz do Espiritismo, a moral de Jesus, semeada pelos jesuítas
e alimentada pelos católicos, atingirá a sua finalidade, que é rejuvenescer os
homens velhos, que aqui nascerão ou para aqui virão de todos os pontos do Globo,
cansados de lutas fratricidas e sedentos de confraternidade. A missão dos espíritas
no Brasil é divulgar o Evangelho em espírito e verdade. Os que quiserem cumprir o
dever, a que se obrigaram antes de nascer, deverão, pois, reunir-se debaixo deste
pálio trinitário: Deus, Cristo e Caridade.
“Onde estiver esta bandeira, aí estarei eu, Ismael.”
XIII
Ao Grupo Confúcio seguiu-se a Sociedade Espírita “Deus, Cristo e Caridade”,
fundada em março de 1876, com programação francamente evangélica cumprida
até 1879.
Mas, cindida a Sociedade, passou a denominar-se Sociedade Acadêmica,
em processo de seleção natural e de acordo com as inclinações dos elementos
humanos. Uma ala da entidade, tendo à frente Bittencourt Sampaio, Antônio Luiz
Sayão e Frederico Junior, destacou-se para fundar a “Sociedade Espírita Fraternidade”,
em 1880.
A “Fraternidade” subsistiu com a orientação evangélica até transformar-se em
“Sociedade Psicológica”, desaparecendo em 1893.
Observe-se a definição de rumos, com a preocupação de alguns adeptos desavisados,
suprimindo o qualificativo “Espírita” e substituindo-o por “Acadêmica” e
“Psicológica” nas duas Sociedades.
Em 6 de agosto de 1880 era criada, em Campos, Estado do Rio de Janeiro, a
Sociedade Campista de Estudos Espíritas.
XIV
É criado em janeiro de 1881, na cidade de Areias, São Paulo, o Grupo Espírita
Areense, que lançou, no mesmo ano, o jornal União e Crença.
É no ano de 1881 que o Espiritismo é perseguido pela polícia, pela primeira
vez, sendo proibidas as sessões da “Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade”,
a Sociedade de maior prestígio à época.
XV
Em 6 de setembro de 1881, instalou-se, no Rio de Janeiro, o primeiro Congresso
Espírita do Brasil, do qual resultou o Centro da União Espírita do Brasil,
dentro da Sociedade Acadêmica.
XVI
Ainda em 1881, a 21 de novembro, instalou-se no Rio de Janeiro a “Associação
Amor e Caridade”; em março de 1882, a “Sociedade Espírita Allan Kardec” e
em setembro de 1882 o “Grupo Espírita Santo Antonio de Pádua”.
XVII
Augusto Elias da Silva, fotógrafo português radicado no Rio de Janeiro, observando
as difíceis condições para se fazer a defesa do Espiritismo pela imprensa,
contra os ataques impiedosos e insultuosos do Catolicismo, a religião oficial do
Estado, funda, em 21 de janeiro de 1883, o jornal Reformador.
Esse órgão, que recebeu o apoio de espíritas militantes de grande prestígio
na época, como Bezerra de Menezes e o Major Francisco Raimundo Ewerton Qua6
dros, procedeu à análise serena e segura de uma Pastoral católica que pregava o
ódio aos espíritas.
Por essa época já existiam várias Sociedades Espíritas na Capital do Império
e em algumas províncias.
XVIII
Em 2 de janeiro de 1884 é fundada a Federação Espírita Brasileira. A iniciativa
coube a Augusto Elias da Silva, que recebeu o apoio de Ewerton Quadros, Xavier
Pinheiro, Fernandes Figueira, Silveira Pinto e outros.
Instalada a novel Sociedade, com a eleição da primeira diretoria, uma das
primeiras resoluções foi a incorporação do órgão Reformador à nova Sociedade.
É interessante frisar que, apesar de sua denominação — Federação — não
contava a instituição com nenhuma filiação de qualquer outra entidade, inicialmente.
Torna-se, pois, evidente, que os objetivos da Sociedade, no campo federativo,
projetava-se no futuro, sendo seus fundadores os instrumentos de uma planificação
maior da Espiritualidade.
XIX
Ainda em 1883, surge em Campos (no atual Estado do Rio de Janeiro), em
fevereiro, a “Sociedade Espírita Concórdia” e em outubro do mesmo ano, em Macaé,
a “Sociedade Espírita Luz Macaense”.
O “Grupo Ismael” (Grupo de Estudos Evangélicos do Anjo Ismael), célula de ligação
entre os trabalhadores dos dois planos da vida, funciona desde 15 de julho
de 1880, fundado por Antônio Luiz Sayão e Bittencourt Sampaio. Dele fizeram parte
Bezerra de Menezes, Frederico Junior, Domingos Filgueiras, Pedro Richard, Albano
do Couto e muitos outros companheiros provindos de diversos núcleos.
Acedendo Bezerra de Menezes em aceitar a presidência da Federação em
1895, o “Grupo Ismael” acompanhou o apóstolo do Espiritismo no Brasil, apoiou-o
na direção da Casa e integrou-se nela, até os dias atuais.
XX
Alguns grupos espíritas da Capital aderiram à Federação, a partir de 1885,
como o “Grupo Espírita Menezes” (REFORMADOR de 15-2-1885) e elementos
prestigiosos na sociedade fluminense: o Dr. Francisco de Menezes Dias da Cruz,
homeopata, o Dr. Castro Lopes, filólogo e escritor, e vários outros.
XXI
Mas o fato de maior significação nos arraiais espiritistas foi, sem dúvida, a
adesão ao Espiritismo do eminente político, médico e católico, Dr. Adolfo Bezerra
de Menezes Cavalcanti, perante um auditório de 2.000 pessoas, no salão de honra
da Guarda Velha, no dia 16 de agosto de 1886.
A impressa registrou o acontecimento, o telégrafo levou a notícia às Províncias,
a Federação recebeu muitas adesões e os círculos católicos agitaram-se.
De novembro de 1886 a dezembro de 1893, Bezerra escreveu ininterruptamente,
aos domingos, sob o pseudônimo de Max, os célebres artigos sobre o Espiritismo,
no jornal O Paiz, o mais lido no Brasil, na época.
Ao mesmo tempo que escrevia, Bezerra pregava a união dos espíritas e concitava
os confrades à harmonia e à fraternidade.
É, por isso, considerado o campeão da unificação do Movimento Espírita,
com base na união e na tolerância entre os espíritas.
7
XXII
Em meados de fevereiro de 1889, previamente anunciado pela Espiritualidade,
o Espírito Allan Kardec viria “fazer uma análise da marcha da doutrina no Rio de
Janeiro, dirigindo-se a todos os espíritas”.
Através do notável médium Frederico Junior, da Sociedade Fraternidade,
Kardec ofereceu as conhecidas “Instruções” para o Movimento Espírita de então.
XXIII
Bezerra de Menezes vê na Federação, nos anos de 1888-89, então sob sua
presidência, a organização ideal onde se poderia unificar o Movimento Espírita. Por
isso nela instalou, em 1889, o Centro da União Espírita do Brasil, com a aprovação
dos grupos espíritas então existentes no Rio de Janeiro.
Mas a união dos espíritas não foi conseguida, apesar dos esforços de Bezerra
e do apelo do Espírito Allan Kardec.
Prevalecia a divergência entre “místicos” e “científicos”.
XXIV
Em São Paulo, Batuíra fundara, em 1890, o maior núcleo espírita do País, com
sede própria, e um órgão de divulgação, o Verdade e Luz, de grande tiragem. Deu
seu apoio à Federação e tornou-se o representante dela em São Paulo.
XXV
Em maio de 1887, foi fundada em Porto Alegre (Rio Grande do Sul) a Sociedade
Espírita Rio Grandense.
XXVI
Em fevereiro de 1890 surge em Maceió, Alagoas, o Centro Espírita das Alagoas.
XXVII
Em 1890, o Dr. Polidoro Olavo de São Thiago trouxe à Federação Espírita
Brasileira uma iniciativa feliz: a criação da Assistência aos Necessitados, em moldes
espíritas.
E o Dr. Pinheiro Guedes, em 1890, incorporou à pequena biblioteca da FEB
um acervo importantíssimo de livros sobre todos os ramos do conhecimento.
XXVIII
Proclamada a República em 1889, em 1890 surge o novo Código Penal, no
qual o Espiritismo era enquadrado como transgressão à lei, em alguns de seus dispositivos
dúbios.
O fato serviu para que os espíritas de todas as tendências se unissem contra
tais dispositivos, do que resultou a explicação do autor do Código, Dr. Antônio Batista
Pereira, de que tais disposições não atingiam o Espiritismo filosófico, religioso,
moral, educativo, mas o espiritismo criminoso, expressão infeliz então usada.
XXIX
Em compensação, o grande acontecimento que favoreceu o Espiritismo,
como também a todas as religiões praticadas no Brasil, foi a Constituição Republicana,
de 24 de fevereiro de 1891, que constituiu o Estado leigo, sem os liames que
o ligavam à Igreja Católica Romana.
XXX
Já por essa época fundavam-se, por todos os Estados brasileiros, núcleos
espíritas.
8
Em 1892 era fundada em Natal, Rio Grande do Norte, a Sociedade Natalense
de Estudos Espíritas.
Em maio de 1893 surgiu, na Bahia, o Grupo Espírita Amor e Caridade.
Nesse mesmo ano funda-se em Cuiabá, Estado de Mato Grosso, a Sociedade
Espírita Cristo e Caridade, com seu órgão A Verdade.
Em 1894 é criado em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, o Grupo Espírita Allan
Kardec.
Em outubro de 1894 instala-se em Lavras, Estado de Minas Gerais, o Centro
Espírita Luz e Caridade.
Em julho de 1895, funda-se em São Francisco do Sul, Santa Catarina, o Centro
Espírita Caridade de Jesus.
Em julho de 1897 instalou-se em Cáceres, Mato Grosso, o Grupo Espírita
Apóstolos de Cristo e da Verdade.
Nesse mesmo ano de 1897 é organizada a Livraria da FEB, por abnegados
espíritas.
XXXI
Bezerra de Menezes, aceitando a presidência da Federação Espírita Brasileira,
é empossado em 3 de agosto de 1895.
Começa uma nova fase para a Instituição, cuja influência se estende por todo
o território nacional.
Em 1897 são transferidos à Federação os direitos autorais, para a língua
portuguesa, de todas as obras de Allan Kardec, fato de suma importância para a
difusão da Doutrina Espírita no Brasil.
XXXII
Os inimigos e dissidentes internos do Movimento Espírita no Brasil sempre se
firmaram no divisionismo, no personalismo, no despreparo e nas interpretações
pessoais de determinados adeptos e nas vaidades individuais, em contraposição
aos princípios doutrinários.
Desde os primórdios do Espiritismo esses fatores estiveram presentes no
seio de seus movimentos, por toda parte. No Brasil não seria diferente.
Já os inimigos externos são conhecidos por suas atuações, desde meados do
século XIX, no Brasil: a) o positivismo, de grande influência nos primórdios da República;
b) o materialismo, opositor permanente; c) a classe clerical obscurantista.
XXXIII
Enquanto a Europa recebeu o Espiritismo nas suas expressões fenomênicas
e experimentais, não excluindo a remuneração pelos trabalhos mediúnicos, o que
desvirtua o caráter e a índole da Doutrina Espírita, no Brasil cultiva-se o Espiritismo
em seus múltiplos aspectos, mas com ênfase nos seus aspectos morais-religiosos,
com base no Evangelho de Jesus.
A expressão “Pátria do Evangelho”, usada pelo Espírito Humberto de Campos
em seu livro, é a reafirmação desse fato.
Para combater a tendência desagregadora do Movimento, de parte de alguns
adeptos, o grande remédio é a transformação interior do espírita, através da educação
do pensamento pela Mensagem do Evangelho do Cristo.
A grande tarefa a ser realizada pelo Movimento, antes da reforma das instituições,
é a regeneração moral do espírita, para que suas instituições reflitam seu
progresso individual e coletivo.
9
XXXIV
Desaparecendo Bezerra de Menezes do cenário dos encarnados, em 11 de
abril de 1900, após quatro anos e meio de intenso trabalho de persuasão, de paciência
e de exemplificação, deixava consolidada a Federação Espírita Brasileira,
com a orientação doutrinária que as administrações posteriores seguiriam.
Ficaram superadas as divergências internas, o academicismo, para cuidar-se
do estudo sério da Doutrina e do Evangelho, com o fortalecimento dos sentimentos
de solidariedade e de fraternidade.
Findara o século, desencarnara o ínclito timoneiro, mas as bases da grande
obra da união entre os espíritas ficaram delineadas.
É certo que um dos objetivos de Bezerra e de seus seguidores — a unificação
de todas as entidades espíritas em torno de uma instituição representativa dos ideais
de fraternidade entre os espíritas — não pudera concretizar-se.
A união pela harmonia e coesão preconizada por Allan Kardec nas célebres
mensagens de 1889 só seria conseguida quase meio século depois, em 1949.
XXXV
O sucessor de Bezerra de Menezes na presidência da FEB, um jovem de 30
anos, Leopoldo Cirne, seguiu o roteiro de seu antecessor, reajustando pormenores
impostos pelas circunstâncias.
Em 1901, procedeu-se à revisão dos Estatutos, com inovações de alto interesse
para o Movimento Espírita, destacando-se a filiação das instituições espíritas
de todo o Brasil aos quadros da Federação Espírita Brasileira, com vistas à unificação,
sob a forma federativa, plenamente aprovada na prática.
Multiplicaram-se desde então os atos de adesão, sem prejuízo da autonomia
administrativa e patrimonial das entidades adesas — Centros, Grupos, Uniões, Federações
— de todo o vasto território do País continental.
XXXVI
A 3 de outubro de 1904, a FEB organizou um intenso programa de três dias,
comemorativo do centenário de nascimento de Allan Kardec.
O convite dirigido a todas as entidades espíritas do País foi bem recebido.
Reuniram-se na então Capital da República os representantes de Centros e
Sociedades Espíritas do Amazonas, Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso,
Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São
Paulo, além das Casas Espíritas da Capital Federal.
O ponto mais importante desse Congresso foi o congraçamento geral e a
aprovação das “Bases de Organização Espírita”, documento que passou a orientar
a marcha do Movimento Espírita de nosso País, até nossos dias.
O desenvolvimento do Movimento, sua expansão com a criação de inúmeras
Instituições Espíritas, tornou-se notório, desde então.
As “Bases” preconizaram a criação de uma Instituição na Capital de cada
Estado brasileiro, a qual ficaria incumbida de filiar os Centros e Associações estaduais,
formando assim, com a FEB, uma rede de entidades fortalecidas na solidariedade
e na fraternidade, sob a inspiração e a égide da Doutrina Espírita.
As obras de Allan Kardec, em edições especiais e populares, foram publicadas
pela FEB nesse mesmo ano de 1904.
XXXVII
10
No período de 1905 a 1930, continuou expandindo-se o Movimento Espírita,
por todo o Brasil, com a criação de Grupos, Centros e Federações nos Estados,
além de periódicos espíritas, para a divulgação da Doutrina.
Queremos destacar, nesse período, dois fatos importantes, dentre os inúmeros
acontecimentos ocorridos:
O primeiro foi a mensagem, de alta significação, recebida em 9 de março de
1920, do Espírito de Verdade, que se manifestou através do Anjo Ismael, pelo médium
Albino Teixeira, então secretário da FEB.
Nela está prevista a missão do Brasil, antecedendo as páginas proféticas do
Espírito Humberto de Campos em “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”,
como se pode observar no pequeno trecho abaixo transcrito:
“A Árvore do Evangelho, plantada há dois mil anos na Palestina, eu a transplantei
para o rincão de Santa Cruz, onde o meu olhar se fixa, nutrindo o meu espírito
a esperança de que breve ela florescerá estendendo a sua fronde por toda a
parte e dando frutos sazonados de amor e perdão.” (Grifos nossos.)
O segundo fato foi a convocação de uma “Constituinte do Espiritismo” para se
reunir no Rio de Janeiro, idéia esdrúxula pelo seu próprio conteúdo, que não vingou.
Mas do encontro resultou a criação da Liga Espírita do Brasil, que se propôs a filiar
Centros Espíritas em âmbito nacional, em trabalho semelhante e concorrente ao da
FEB, dividindo o Movimento.
A Liga Espírita do Brasil subsistiu por mais de duas décadas, transformandose
em entidade estadual com o “Pacto Áureo”, em 1949.
XXXVIII
Era chegado o tempo de ampliar a divulgação da Doutrina Espírita pelo livro e
pela imprensa.
Impunham-se novas traduções das obras da Codificação e de clássicos do
Espiritismo.
A essa tarefa gigantesca dedicaram-se espíritas de escol, dentre os quais
destacamos a figura de Guillon Ribeiro, o grande presidente da FEB no período de
1930 a 1943.
Suas traduções primorosas das obras de Allan Kardec continuam sendo as
melhores na língua vernácula.
Inúmeras outras obras clássicas da Doutrina foram traduzidas para o português.
Ao mesmo tempo, a FEB cogitava da montagem de uma oficina gráfica própria
para a edição das obras espíritas, o que conseguiria, por etapas, a partir de
1939.
XXXIX
A partir de 1930 o Movimento Espírita Brasileiro, que desde os fins do século
XIX contou com médiuns notáveis, como Frederico Junior, João Gonçalves do Nascimento,
Bittencourt Sampaio, Zilda Gama, Albino Teixeira, e muitos outros, vê surgir
o mais notável medianeiro do século XX: Francisco Cândido Xavier.
Sua primeira obra psicografada, lançada pela FEB em 1932 — “Parnaso de
Além-Túmulo” — causou verdadeiro impacto nos meios culturais brasileiros. Essa
obra de poetas brasileiros e portugueses desencarnados, sui generis, confundiu os
céticos e agraciou os adeptos e simpatizantes do Espiritismo.
O moço humilde de Pedro Leopoldo começava sua missão de médium espírita
e de homem, que se prolongaria até nossos dias, contribuindo de forma extra11
ordinária para que a Doutrina Espírita e o Evangelho de Jesus fossem divulgados
de forma correta, persistente, admirável.
Emmanuel, André Luiz, Humberto de Campos e uma plêiade de Espíritos de
escol lançaram-se a um trabalho de longo curso junto aos homens, de esclarecimento
e de fraternidade através do livro espírita.
XL
Em julho de 1944, a viúva de Humberto de Campos, D. Catarina Vergolino de
Campos, ingressou em juízo com uma ação declatória contra a Federação Espírita
Brasileira e o médium F. C. Xavier, visando a obter, por sentença judicial, a declaração
de que a obra literária do Espírito Humberto de Campos era ou não do brilhante
escritor. O interesse era, no fundo, utilitarista, tendo em vista os direitos autorais.
A decisão judicial foi justa, precisa, e estabeleceu uma diretriz segura para a
questão da psicografia, declarando a autora carecedora da ação, com ganho de
causa para a Federação e o médium.
XLI
Autores espirituais como Emmanuel e André Luiz têm importância muito grande
no desdobramento da Codificação Espírita, pelo fato de suas obras esclarecerem
e complementarem as obras básicas da Doutrina Espírita, sem prejuízo ou
contraposição dos princípios fundamentais da Terceira Revelação.
Sínteses históricas da Terra e do Brasil, ensaios sociológicos, romances históricos,
comentários evangélicos à luz do Espiritismo e, a partir de 1943, toda a
série de André Luiz, iniciada com “Nosso Lar”, enriqueceram extraordinariamente a
literatura espírita no Brasil, que se vai expandindo para além-fronteiras em inúmeras
traduções para diversas línguas.
XLII
Fato que não poderíamos deixar de mencionar nesta pequena resenha é o da
instalação, em 1948, do Departamento Editorial da FEB.
Já que a Espiritualidade realizava sua parte, fazendo chegar aos homens as
lições mais belas, claras e úteis através de livros de grande importância para o esclarecimento
e edificação da Humanidade, era necessário que alguém cuidasse da
parte que competia aos encarnados.
O Presidente Wantuil de Freitas cuidou de dotar a FEB de uma editora à altura
das necessidades.
Posteriormente, outras editoras seguiram o exemplo, ampliando-se enormemente
a capacidade de editoração de livros, revistas e jornais no Movimento Espírita
nacional.
XLIII
Não obstante o lado positivo do Movimento em constante expansão, o divisionismo
no seu seio continuava, alimentado pelo personalismo, pelas vaidades e pelas
interpretações infelizes da Doutrina.
Mas muitos espíritas estavam atentos à necessidade da união fraterna e da
unificação do Movimento.
Surge então a oportunidade do entendimento entre correntes diversas, representadas
por espíritas conscientes de seus deveres perante a Doutrina.
A ocasião para esse entendimento ocorreu no mês de outubro de 1949, por
ocasião da realização de um Congresso da Confederação Espírita Pan-Americana.
Após tentativas de aproximação dos responsáveis por diversos segmentos do
Movimento Espírita de diversos Estados brasileiros, encontram-se todos na sede
da Federação Espírita Brasileira no Rio de Janeiro, no dia 5 de outubro de 1949.
Esse encontro, que ficou conhecido como a Grande Conferência Espírita do
Rio de Janeiro, posteriormente denominado “Pacto Áureo”, pelos seus resultados e
importância, é um marco decisivo na história do Espiritismo no Brasil, pelas suas
conseqüências, pelas suas disposições e sobretudo pelo induzimento à concórdia,
à fraternidade, ao trabalho útil, à tolerância, à solidariedade entre os cultores de
uma Doutrina Superior, que precisa ser entendida em sua verdadeira índole e finalidade
e que induz os homens aos sentimentos do Amor e da Justiça.
XLIV
Entendemos que os primórdios do Movimento Espírita no Brasil poderiam ser
situados nos primeiros anos do Espiritismo em nossa Pátria, nos meados do século
XIX.
Mas poderiam ser entendidos também em face de determinados acontecimentos
marcantes.
Preferimos esta última hipótese, escolhendo o “Pacto Áureo” como o fato inconfundível
que divide duas fases do Movimento.

Revista O Reformador abril de 2000

Allan Kardec e as Classificações


JOSÉ JORGE
Allan Kardec esclarece, em “O Livro dos Espíritos” (questão 100, 2º
parágrafo), que “qualquer classificação exige método, análise e conhecimento
aprofundado do assunto” e todas essas qualidades nós as constatamos no
Codificador, quando ele trata, panoramicamente, da Doutrina Espírita.
Assim, encontramos em Allan Kardec as mais diversas Classificações,
necessárias a uma visão global do Espiritismo sob os seguintes aspectos:
-  Comunicações,
-  Reuniões,
-  Espíritos,
-  Mundos,
-  Médiuns e
-  Espíritas.
Das Comunicações (“O Livro dos Médiuns”, nº 133):
Grosseiras, Frívolas, Sérias e Instrutivas.
Das Reuniões (“O Livro dos Médiuns, nº 324):
Frívolas, Experimentais e Instrutivas.
Dos Espíritos (“O Livro dos Espíritos”, questões 100 a 113):
-  Escala Espírita, em dez classes e três ordens.
Dos Mundos (“O Evangelho segundo o Espiritismo” – Cap. III, nº 3 a 5 e
8):
-  Primitivos, Expiação e Provas, Regeneração, Ditosos e Celestes ou
Divinos.
Dos Médiuns – Cerca de 80 variedades, em “O Livro dos Médiuns”.
(Consulta: “Ilustrações Doutrinárias” – 1º volume – Edição do C. E. Léon
Denis – Rio de Janeiro – 1997, págs. 67 a 80).
Dos Espíritas –
Foi aí que Allan Kardec se esmerou, pois, em todas as suas obras, ele
não se esqueceu de lembrar as várias classes de adeptos do Espiritismo e quais
as qualidades do lídimo espiritista.
A seguir, citaremos os devidos passos, onde ele a esse assunto se
refere:
Em “O Livro dos Espíritos” – Conclusão VII, primeiro parágrafo (1857).
Em “O que é o Espiritismo”- Cap. I, 3º Diálogo, Parte Final (1859).
Em “O Livro dos Médiuns”- Do Método, nº 28 (1861).
Em “O Evangelho segundo o Espiritismo”- Cap. XVII, nº 4 (1864).
Em “O Céu e o Inferno”- O Passamento, nº 14 (1865).
Em “A Gênese”- Cap. XVIII, nº 18 (1868)
Em “Obras Póstumas”- 2ª Parte, Ensino Espírita (1890).
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Sem dúvida alguma, a mais séria das classificações se encontra em “O
Evangelho Segundo o Espiritismo”- Cap. XVIII, nº 4:
“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação
moral e pelos esforços que emprega para domar suas
inclinações más”.
É que, conforme o Codificador declara em “O Livro dos Espíritos”-
Conclusão V:
“Por meio do Espiritismo, a Humanidade tem que entrar numa
nova fase, a do progresso moral que lhe é conseqüência
inevitável.” .

Revista O Reformador junho de 1999

Ninguém se Casa com a Pessoa Errada


INALDO LACERDA LIMA
Com tristeza, verificamos no seio das atuais sociedades ocidentais de
nosso planeta, e de modo já bastante arraigado no Brasil, a prática abusiva dos
divórcios, dos ajuntamentos clandestinos, das separações irresponsáveis com o
abandono da família e dos escândalos recheados de cinismo.
E mais: há até quem chega ao exagero de manifestar propósitos
relacionados com a extinção ou abolição do casamento, como se tratasse de
costume desnecessário.
A propósito, no momento em que rascunhamos este trabalho, somos
chamados à atenção, por nossa esposa, para mais um escândalo através da
mídia relacionado com o número excessivo de adolescentes grávidas entre 10 e
19 anos. São mães solteiras que, em sua maioria, terão de abandonar a escola
para cuidar de filhos sem pais! O próprio Ministro da Saúde se mostra
preocupado, achando que tal situação tão seriamente desoladora é
conseqüência dos maus exemplos oferecidos pelos adultos. Aliás, a essa
situação de se procurar pôr filhos no mundo, na condição de mães solteiras, o
ministro cognominou de produção independente. Independente quanto ao
arbítrio, sim; mas de modo algum quanto às conseqüências que acarreta às suas
famílias, a esses filhos e ao próprio Estado.
O caso é citado aqui dada a oportunidade do assunto e em face de uma
entrevista que acompanháramos, não faz muito tempo, quando um juiz da
infância e da juventude orientava a uma mãe solteira, dizendo-lhe que filho vem
ao mundo para ter pai e mãe, que a sua educação precisa contar com esse duplo
apoio. Dava a entender a todos que estavam presentes àquela solene audiência
ser essa a função primacial do casamento: assistência e educação aos filhos,
com vistas ao bem-estar e defesa da própria sociedade.
Realmente, essa é a finalidade essencial do casamento num mundo que
valoriza a civilização. Caso contrário, a Ciência Espírita, que se encontra na Terra
por determinação divina, desde abril de 1857, não lhe daria enfoque tão elevado
nas questões 695 a 699 de “O Livro dos Espíritos”, obra máxima do Espiritismo.
Não se trata de mero comentário. É manifestação dos Espíritos superiores
por determinação divina, através da mediunidade, advertindo o homem planetário
quanto à sua responsabilidade de criatura de Deus presa no escafandro carnal.
Já temos tido diversas oportunidades de tratar desse assunto em palestras
nas casas espíritas. E, aqui, ele vem a propósito de uma interessante
reportagem, na televisão, a respeito das causas de divórcios ou separações de
casais, em que se tenta demonstrar que a razão dos fatos deve encontrar-se nos
casamentos indevidos, quando alguém se consorcia com a pessoa errada. Se os
homens atentassem bem nos ensinos do Evangelho, pensariam melhor antes de
externar certos juízos relacionados com as separações no casamento.
Vejamos de que modo Jesus respondeu aos fariseus, quando, para tentálo,
indagaram se era lícito ao homem abandonar a sua mulher por qualquer
motivo. E como o Mestre respondesse em sentido contrário, citando a lei divina,
eles perguntaram por que Moisés mandou dar-lhe carta de divórcio e abandonála?
E Jesus, Cristo de Deus, responde-lhes com estas palavras: “Moisés, por
causa da dureza de vossos corações, vos permitiu repudiar as vossas mulheres;
mas no princípio não foi assim” (Mateus, 19:3-8).
A bem da verdade, ninguém casa com a pessoa errada, seja qual tenha
sido o móvel do casamento. Enganam-se os que assim pensam. Os casamentos
são sempre acertados ou melhor preparados na vida espiritual, em face dos
desacertos, abusos, crimes ou incontinência moral praticados em encarnações
anteriores. De modo que os Espíritos comprometidos com a lei divina, no
passado, reencarnam com o fim de reparar esses males que envolveram, até
mesmo, os que virão depois na condição de filhos.
A reencarnação é a grande e luminosa forma de aperfeiçoamento das
almas e reparação dos erros em que se comprometeram por desatentas às leis
que regem a Vida. Um dia, quando a Humanidade toda atentar no papel do
Espiritismo no mundo, compreenderão que ele não veio para destruir as religiões,
pelo contrário, veio para iluminá-las, esclarecendo-as, sobre a lei das vidas
múltiplas como meio de purificação dos Espíritos. Nesse dia, todos
compreenderão melhor a importante função do casamento.
Compreenderão todos que não há, e nunca houve, casamento errado,
nem mesmo no tempo em que os casamentos eram determinados pela tirania
dos pais, em face de interesses de ordem econômica e social; nem mesmo
quando, ainda hoje, alguém se aproxima de uma mulher ou de um homem com
intenções levianas!... Ah, homens do mundo como sois imperfeitos e atrasados,
mesmo quando vos vangloriais de vossos títulos acadêmicos!
Cada indivíduo está casado ou vai casar-se com a pessoa certa, com
quem se comprometeu na teia dos desatinos e das paixões, num passado
distante. O que ocorre é que, após o enlevo das fantasias à qual dão o nome de
paixão, caem as máscaras e cada um passa a ver o outro tal como ele é. Porque
os casamentos, em nossas sociedades, ainda são provacionais em sua grande
maioria. Estudai bem, homens do mundo, a Revelação Espírita.
Há os casamentos de almas que não se rebelam diante do realismo de
suas provas ou expiações. E esses são tidos como felizes. E os filhos que deles
se originam dispõem de melhor condição de se prepararem para a vida. São
casamentos felizes, muitas vezes na aparência, porque representam uniões de
almas um pouco mais evolvidas no processo de seu caminhar incessante na
direção do infinito bem.
Naqueles lares, porém, onde os pais reagem ou se rebelam diante da
prova ou da expiação, os filhos se sentem infelizes e correm riscos sérios em
relação à sua formação social, por cujos desajustes os pais responderão mais
tarde.
Os divórcios ou separações ocorrem em função do livre-arbítrio de cada
casal ou do cônjuge responsável, mas não se encerram aí. Esses Espíritos deverão
encontrar-se mais adiante, no roteiro da marcha evolutiva, depois de
sofrerem bastante, no cumprimento dos compromissos que retardaram!...
Voltaremos ao assunto, oportunamente. .
Revista O Reformador Dezembro de 1999

Caridade Ocasional


GERALDO GOULART
É praxe comentar-se, nas reuniões públicas ocorridas em dezembro, nas
Casas Espíritas, que, a despeito do forte apelo comercial que envolve as
festividades natalinas e, mesmo que o 25 de dezembro não venha a ser o dia
efetivo do nascimento do Senhor na Terra, o Natal congrega pessoas, renova
sentimentos, enseja a anunciação de novos roteiros na vida e induz as criaturas
à prática de uma caridade da qual se mantiveram afastadas durante o ano. Isso
porque a Humanidade se permite contagiar pelas vibrações do que se
convencionou chamar como sendo a “data máxima da Cristandade”. Assim,
dezembro é um mês de muitas cores e luzes, de troca de presentes e
mensagens, de sorrisos e abraços fraternos.
Alguns expositores e dirigentes espíritas lembram, com proficiência, às
suas assembléias, que o “espírito natalino” deve ser constante, a cada dia, já
que em todos os dias é patente o Amor e a Presença do Cristo em nós. E que —
dizem mais — a fome, a necessidade, a aflição e o abandono são presenças
diárias e quase permanentes no dia-a-dia de algumas pessoas, tais como: a
população carente de rua, os menores de idade e os idosos asilados (e exilados
do carinho familiar), os internos em colônias prisionais e de tratamento de
doenças infecto-contagiosas. Isso faz parte do mundo real!
Não obstante as preciosas advertências, que todos os fins de ano
ouvimos repetidas, constata--se, ainda assim, grande afluxo de recursos e
pessoas dispostas a ajudar apenas em dezembro. Algumas Instituições que
movimentam mantimentos para auxílio às famílias carentes em suas
comunidades e que, ao longo do ano, mensalmente renovam pedidos de alguns
quilos de mantimentos para fechar a Campanha, vêem-se com armários
abarrotados naquele mês. Outras, com atividade de manutenção de crianças
pobres, nesse mesmo mês são visitadas por pessoas que lhes despejam
dezenas de brinquedos por criança mantida. Nesse universo de Casas
identificamos algumas que mantêm uma distribuição mensal ou quinzenal de
sopa à população de rua. E que acontece? Em dezembro, inevitável, triplica o
número das pessoas que saem naquelas caravanas da Caridade. Mas, dois
terços compostos de presenças eventuais que trazem, consigo, roupas novas,
presentes devidamente embrulhados em papéis multicoloridos, brinquedos, etc.
Seria de louvar-se, se não fossem ocasionais...
Cabe aqui uma pergunta impertinente: qual “espírito” patrocina essa motivação,
o natalino ou o do décimo-terceiro? Se fosse o primeiro, é evidente que
ela, a motivação, não se restringiria a dezembro. Seria repetida em janeiro,
fevereiro, março... refazendo o Natal a cada mês, como exortado pelas mensagens
espíritas. Se for o segundo, é razoável que, no mínimo, promovamos
“campanhas natalinas mensais” para lembrar àquelas consciências que ficam
anestesiadas ao longo do ano, uma vez que a Caridade não possui data fixa no
calendário como os demais eventos: Férias, Carnaval, Outono, Páscoa, Inverno,
Festas Juninas e Primavera, Independência, Proclamação da República, Verão,
Natal, Ano-Novo.
Acostumados que estamos às comemorações anuais, que tal facearmos
cada dia como um Novo Ano em que nos compromissemos a promover o Bem
ao próximo? Se doarmos, num dia um quilo de qualquer gênero alimentício, no
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outro, um calçado; no terceiro, uma peça de roupa; no quarto, a palavra de
reconforto e esperança, ou um abraço impregnado de fé; no quinto, um afago a
uma criança, um doente, um idoso... e assim por diante, deixaremos de ser
“caridosos de ocasião” para converter-nos em plantonistas da Caridade diária.


Revista O Reformador dezembro de 1999

União dos Espíritos


Neste momento grave de transformações da sociedade, qual é o nosso
contributo? O Senhor já veio ter conosco! Quando nos resolveremos a ir em
definitivo para o encontro com o Senhor? Até hoje a sua voz chega-nos de
quebrada em quebrada, conclamando-nos ao encontro com a verdade.
...E, calcetas temos sido. Detemo-nos na retaguarda, apoiados a
bengalas desculpistas, procurando as soluções da ilusão e da mentira, tentando
evadir-nos da responsabilidade.
Com Allan Kardec, não temos outra alternativa, senão apoiar a razão no
amor e deixar que o raciocínio frio se aqueça com o sentimento de amor
profundo, para que a sabedoria se nos instale na existência transitória do corpo
ou no Espírito eterno.
Meus filhos, Jesus conta conosco tanto quanto temos contado com Ele.
Ontem Ele nos ofereceu o testemunho da Sua vida e não nos pede agora o
holocausto de sangue nas garras das feras, nas estreitas arenas dos circos
romanos. Mas, inevitavelmente, aquele que O encontrou terá que enfrentar as
feras íntimas, capitaneadas pelo egoísmo, esse terrível adversário da evolução,
e os seus famanazes descendentes, que são os impedimentos ao processo de
integração.
As feras já não estarão fora. Deverão ser domadas no mundo íntimo. É
provável que não sejamos compreendidos, nem o propósito é este.
Aqueles que receberam na Terra o prêmio, o troféu, o aplauso, já estão
condecorados. Mas aqueles que passaram incompreendidos e foram fiéis até o
fim, esses encontrarão a plenitude, a felicidade. Este é o passo avançado para
que se dê a unificação dos espíritas, depois da união dos espíritos. E a
divulgação será mais pelos atos do que pelas palavras.
O mundo está cansado de oradores flamívomos e arrebatados, mas
carente de pessoas que vivam a lição que pretendem transmitir. Falamos tanto
de amor! Amemos porém aqueles que nos hostilizam; não esperemos que todos
estejam de acordo conosco. Compreendamos aqueles que no não
compreendem e nos tornam a marcha mais difícil, todavia mais gloriosa.
Não nos preocupemos, porque o Senhor da Seara está vigilante. Ele
cuida do grão que cai sobre a pedra e da ave do céu que o vai comer, mas
também do grão generoso que o solo ubérrimo recebe e devolve em mil grãos
para cada um.
Segui, encorajai-vos, espíritas, amando cada vez mais e alegrando-nos
porque ainda estamos nos dias heróicos do testemunho, e quando as
dificuldades são intestinas, quando as lições mais próximas e dilaceradoras de
nossos sentimentos têm o significado mais profundo. Em dias próximos
passados, também nós experimentamos acrimônia, acusação, agressão e amor;
porque a harmonia do todo é resultado da integração de suas partes.
Conhecemos a difícil estrada da unificação e é por isso que suplicamos
ao Senhor, depois de nos haver enviado o vaso escolhido para que pudesse
receber as vozes dos céus e legá-las para todas as épocas, nos ensejasse
estes dias de heroísmo e abnegação.
Não vos aflijais. Sede fiéis até o fim. Meio século significa um marco
expressivo, mas o Mestre nos espera desde antes que nós fôssemos, e há dois
mil anos diretamente vela por nós, mandando-nos Seus embaixadores, para que
despertemos para a vida.
Filhos da alma: amai, servi, passai adiante. O defensor da nossa honra é
Jesus. O servo que se justifica e que se defende perante o mundo, certamente
não confia no Senhor, que o contratou para a Sua seara. Avançai, semeai luz,
ponde estrelas na noite. Enxugai o pranto que verte volumoso dos olhos do
mundo, cicatrizai feridas e sede, em todo e qualquer instante, o amigo dos que
não têm amigos na Terra e o irmão dos desafortunados de caminho.
Em nome dos Espíritos-espíritas, levemos a nossa mensagem de solidariedade
e de amor.
Na condição de servidor humílimo e paternal de sempre,
BEZERRA
(Mensagem psicofônica recebida pelo médium Divaldo Pereira Franco, na
Sessão de Encerramento do 1º Congresso Espírita Brasileiro, em 3-10-99.)Revista Reformador de 1999/Dezembro

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno " Criminosos Arrependidos" parte 1

VERGER

(Assassino do arcebispo de Paris)
A 3 de janeiro de 1857, Mons. Sibour, arcebispo de Paris, ao sair da Igreja de Saint-Étienne-du-Mont, foi mortalmente ferido por um jovem padre chamado Verger. O criminoso foi condenado à morte e executado a 30 de janeiro. Até o último instante não manifestou qualquer sentimento de pesar, de arrependimento, ou de sensibilidade.
Evocado no mesmo dia da execução, deu as seguintes respostas:
1. Evocação. - R. Ainda estou preso ao corpo.
2. - Então a vossa alma não está inteiramente liberta? - R. Não... tenho medo... não sei... Esperai que torne a mim. Não estou morto, não é assim?
3. - Arrependei-vos do que fizestes? - R. Fiz mal em matar, mas a isso fui levado pelo meu caráter, que não podia tolerar humilhações... Evocar-me-eis de outra vez.
4. - Por que vos retirais? - R. Se o visse, muito me atemorizaria, pelo receio de que me fizesse outro tanto.
5. - Mas nada tendes a temer, uma vez que a vossa alma está separada do corpo. Renunciai a qualquer inquietação, que não é razoável agora. - R. Que quereis? Acaso sois senhor das vossas impressões? Quanto a mim, não sei onde estou... estou doido.
6. Esforçai-vos por ser calmo. - R. Não posso, porque estou louco... Esperai, que vou invocar toda a minha lucidez.
7. - Se orásseis, talvez pudésseis concentrar os vossos pensamentos... - R. Intimido-me... não me atrevo a orar.
8. - Orai, que grande é a misericórdia de Deus! Oraremos convosco. - R. Sim; eu sempre acreditei na infinita misericórdia de Deus.
9. - Compreendeis melhor, agora, a vossa situação? - R. Ela é tão extraordinária que ainda não posso apreendê-la.
10. - Vedes a vossa vítima? - R. Parece-me ouvir uma voz semelhante à sua, dizendo-me: 'Não mais te quero..." Será, talvez, um efeito da imaginação!... Estou doido, vo-lo asseguro, pois que vejo meu corpo de um lado e a cabeça de outro... afigurando-se-me, porém, que vivo no Espaço, entre a Terra e o que denominais céu.. . Sinto como o frio de uma faca prestes a decepar-me o pescoço, mas isso será talvez o terror da morte... Também me parece ver uma multidão de Espíritos a rodear-me, olhando-me compadecidos... E falam-me, mas não os compreendo.
11. - Entretanto, entre esses Espíritos há talvez um cuja presença vos humilha por causa do vosso crime. - R. Dir-vos-ei que há apenas um que me apavora - o daquele a quem matei.
12. - Lembrai-vos das anteriores existências? - R. Não; estou indeciso, acreditando sonhar... Ainda uma vez, preciso tornar a mim.
13. - (Três dias depois.) - Reconhecei-vos melhor agora? - R. Já sei que não mais pertenço a esse mundo, e não o deploro. Pesa-me o que fiz, porém meu Espírito está mais livre. Sei a mais que há uma série de encarnações que nos dão conhecimentos úteis, a fim de nos tornarmos tão perfeitos quanto possível à criatura humana.
14. - Sois punido pelo crime que cometestes? - R. Sim; lamento o que fiz e isso faz-me sofrer.
15. - Qual a vossa punição? - R. Sou punido porque tenho consciência da minha falta, e para ela peço perdão a Deus; sou punido porque reconheço a minha descrença nesse Deus, sabendo agora que não devemos abreviar os dias de vida de nossos irmãos; sou punido pelo remorso de haver adiado o meu progresso, enveredando por caminho errado, sem ouvir o grito da própria consciência que me dizia não ser pelo assassínio que alcançaria o meu desiderato. Deixei-me dominar pela inveja e pelo orgulho; enganei-me e arrependo-me, pois o homem deve esforçar-se sempre por dominar as más paixões - o que aliás não fiz.
16. - Qual a vossa sensação quando vos evocamos? - R. De prazer e de temor, por isso que não sou mau.
17. - Em que consiste tal prazer e tal temor? - R. Prazer de conversar com os homens e poder em parte reparar as minhas faltas, confessando-as; e temor, que não posso definir - um quê de vergonha por ter sido um assassino.
18. - Desejais reencarnar na Terra? - R. Até o peço e desejo achar-me constantemente exposto ao assassínio, provando-lhe o temor.
Nota - Colocamos este Espírito entre os criminosos, posto que não atingido pela justiça humana, porque o crime se contém nos atos, que não no castigo infligido pelos homens. O mesmo se dá com o que se segue.

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 27

 
“Sim e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal. Mas ao elemento material se tem que juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o Espírito possa exercer ação sobre ela. Embora, de certo ponto de vista, seja lícito classificá-lo com o elemento material, ele se distingue deste por propriedades especiais. Se o fluido universal fosse positivamente matéria, razão não haveria para que também o Espírito não o fosse. Está colocado entre o Espírito e a matéria; é fluido, como a matéria, e suscetível, pelas suas inumeráveis combinações com esta e sob a ação do Espírito, de produzir a infinita variedade das coisas de que apenas conheceis uma parte mínima. Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza, é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá.”
 
A mediunidade operante com Jesus Cristo poderá ser um fulcro de mutações dos fluidos e magnetismo de variadas ordens, que aos homens chegarão de todas as direções para corrigir os desequilíbrios de variadas características. A mente humana, adestrada nos conceitos do Divino Mestre, que exercita todos os dias as virtudes anunciadas por Jesus e por Ele vividas, fica capacitada para fazer do éter físico o magnetismo puro que restabelece todas as coisas e harmoniza todos os corpos, doando ainda, a todos os seres, uma cota de energia, donde nasce a maior esperança para os sofredores: a esperança de viver e confiar na vida e em Deus. Essas transmutações nascem na fonte de um estado d'alma divino, que se chama Amor. A matéria e o Espírito são como que um corpo, onde se move o Comando Divino, na sua maior expressão de ser o que é.

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 26

 
 

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 24

 
 
Diferenciamos o Espírito das outras coisas pelo fator inteligência, que comanda a razão, pelo livre arbítrio na escolha do mais conveniente. Entretanto, se estudarmos a natureza mais profundamente, notaremos inteligências esplendendo em todos os seus reinos, como, por exemplo, no próprio corpo humano, onde há o trabalho inteligente no mundo celular, que é o metabolismo. Já tivestes oportunidade de estudar a vida de uma árvore na sua feição mais rica de valores? Nela existe uma força inteligente comandando seu ciclópico corpo, dividido em trilhões de partículas obedientes a um comando. A razão, a inteligência do homem, certamente que marca um passo a mais na evolução da mônada espiritual, movendo o corpo físico, o que não quer dizer que somente ele tem inteligência. São atributos do Espírito todos os dons, como em tudo existe reflexo dormindo e desabrochando como sendo a luz de Deus, dentro de tudo que existe.

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 25