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sábado, 17 de novembro de 2012

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno " Espiritos Sofredores" parte 9

Claire

(Sociedade de Paris, 1861)
O Espírito que forneceu os ditados seguintes pertenceu a uma senhora que o médium conhecera quando na Terra. A sua conduta, como o seu caráter, justificam plenamente os tormentos que lhe sobrevieram. Além do mais, ela era dominada por um sentimento exagerado de orgulho e egoísmo pessoais, sentimento que se patenteia na terceira das mensagens, quando pretende que o médium apenas se ocupe com ela. As comunicações foram obtidas em diferentes épocas, sendo que as três últimas já denotam sensível progresso nas disposições do Espírito, graças ao cuidado do médium, que empreendera a sua educação moral.
1. - Eis-me aqui, eu, a desgraçada Claire. Que queres tu que te diga? A resignação, a esperança não passam de palavras, para os que sabem que, inumeráveis como as pedras da saraivada, os sofrimentos lhe perdurarão na sucessão interminável dos séculos. Posso suavizá-los, dizes tu... Que vaga palavra! Onde encontrar coragem e esperança para tanto? Procura, pois, inteligência obtusa, compreender o que seja um dia eterno. Um dia, um ano, um século... que sei eu? se as horas o não dividem, as estações não variam; eterno e lento como a água que o rochedo roreja, este dia execrando, maldito, pesa sobre mim como avalancha de chumbo... Eu sofro!... Em torno de mim, apenas sombras silenciosas e indiferentes... Eu sofro!
Contudo, sei que acima desta miséria reina o Deus Pai, para o qual tudo se encaminha. Quero pensar nEle, quero implorar-lhe misericórdia. Debato-me e vivo de rojo como o estropiado que rasteja ao longo do caminho. Não sei que poder me atrai para ti; talvez sejas a salvação. Eu te deixo mais calma, mais reanimada, qual anciã enregelada que se aquecesse a um raio de sol. Gélida, minha alma se reanima à tua aproximação.
2. - A minha desgraça aumenta dia a dia, proporcionalmente ao conhecimento da eternidade. Ó miséria! Malditas sejam as horas de egoísmo e inércia, nas quais, esquecida de toda a caridade, de todo o afeto, eu só pensava no meu bem-estar! Malditos interesses humanos, preocupações materiais que me cegaram e perderam! Agora o remorso do tempo perdido. Que te direi a ti, que me ouves? Olha, vela constantemente, ama os outros mais que a ti mesmo, não retardes a marcha nem en-gordes o corpo em detrimento da alma. Vela, conforme pregava o Salvador aos seus discípulos. Não me agradeças estes conselhos, porque se o meu Espírito os concebe, o coração nunca os ouviu. Qual o cão escorraçado rastejando de medo, assim me humilho eu sem conhecer ainda o voluntário amor. Muito tarda a sua divina aurora a despontar! Ora por minha alma dessecada e tão miserável!
3. - Por que me esqueces, até aqui venho procurar-te. Acreditas que preces isoladas e a simples pronúncia do meu nome bastarão ao apaziguamento das minhas penas? Não, cem vezes não. Eu urro de dor, errante, sem repouso, sem asilo, sem esperança, sentindo o aguilhão eterno do castigo a enterrar-se-me na alma revoltada. Quando ouço os vossos lamentos, rio-me, assim como quando vos vejo abatido. As vossas efêmeras misérias, as lágrimas, tormentos que o sono susta, que são? Durmo eu aqui? Quero (ouviste?) quero que, deixando as tuas lucubrações filosóficas, te ocupes de mim, além de fazeres com que outros mais também se ocupem. Não tenho expressões para definir esse tempo que se escoa, sem que as horas lhe assinalem períodos. Vejo apenas um tênue raio de esperança, foste tu que ma deste: não me abandones, pois.
4. - O Espírito S. Luís. - Este quadro é de todo verdadeiro e em nada exagerado. Perguntar-se-á talvez o que fez essa mulher para ser assim tão miserável. Cometeu ela algum crime horrível? roubou? assassinou? Não; ela nada fez que afrontasse a justiça dos homens. Ao contrário, divertia-se com o que chamais felicidade terrena; beleza, gozos, adulações, tudo lhe sorria, nada lhe faltava, a ponto de dizerem os que a viam: - Que mulher feliz! E invejavam-lhe a sorte. Mas, quereis saber?
Foi egoísta; possuía tudo, exceto um bom coração. Não violou a lei dos homens, mas a de Deus, visto como esqueceu a primeira das virtudes - a caridade. Não tendo amado senão a si mesma, agora não encontra ninguém que a ame e vê-se insulada, abandonada, ao desamparo no Espaço, onde ninguém pensa nela nem dela se ocupa.
Eis o que constitui o seu tormento. Tendo apenas procurado os gozos mundanos que hoje não mais existem, o vácuo se lhe fez em torno, e como vê apenas o nada, este lhe parece eterno. Ela não sofre torturas físicas; não vêm atormentá-la os demônios, o que é aliás desnecessário, uma vez que se atormenta a si mesma, e isso lhe é mais doloroso, porquanto, se tal acontecesse, os demônios seriam seres a ocuparem-se dela. O egoísmo foi a sua alegria na Terra; pois bem, é ainda ele que a persegue - verme a corroer-lhe o coração, seu verdadeiro demônio. S. Luís.
5. - Falar-vos-ei da importante diferença existente entre a moral divina e a moral humana. A primeira assiste a mulher adúltera no seu abandono e diz aos pecadores: "Arrependei-vos, e aberto vos será o reino dos céus."
Finalmente, a moral divina aceita todo arrependimento, todas as faltas confessadas, ao passo que a moral humana rejeita aquele e sorri aos pecados ocultos que, diz, são em parte perdoados. Cabe a uma a graça do perdão, e a outra a hipocrisia. Escolhei, Espíritos ávidos da verdade! Escolhei entre os céus abertos ao arrependimento e a tolerância que admite o mal, repelindo os soluços do arrependimento francamente patenteado, só para não ferir o seu egoísmo e preconceitos. Arrependei-vos todos vós que pecais; renunciai ao mal e principalmente à hipocrisia - véu que é de torpezas, máscara risonha de recíprocas conveniências.
6. - "Estou mais calma e resignada à expiação das minhas faltas. O mal não está fora de mim, reside em mim, devendo ser eu que me transforme e não as coisas exteriores.
"Em nós e conosco trazemos o céu e o inferno; as nossas faltas, gravadas na consciência, são lidas correntemente no dia da ressurreição. E uma vez que o estado da alma nos abate ou eleva, somos nós os juizes de nós mesmos. Explico-me: um Espírito impuro e sobrecarregado de culpas não pode conceber nem anelar uma ele-vação que lhe seria insuportável. Assim como as diferentes espécies de seres vivem, cada qual, na esfera que lhes é própria, assim os Espíritos, segundo o grau de adiantamento, movem-se no meio adequado às suas faculdades e não concebem outro senão quando o progresso (instrumento da lenta transformação das almas) lhes subtrai as baixas tendências, despojando-os da crisálida do pecado, a fim de que possam adejar antes de se lançarem, rápidos quais flechas, para o fim único e alme-jado - Deus! Ah! rastejo ainda, mas não odeio mais, e concebo a indizível felicidade do amor divino. Orai, pois, sempre por mim, que espero e aguardo."
Nota - Na comunicação a seguir, Claire fala de seu marido, que muito a martirizara, e da posição em que ele se encontra no mundo espiritual. Esse quadro que ela por si não pôde completar, foi concluído pelo guia espiritual do médium.
7. - Venho procurar-te, a ti, que por tanto tempo me deixas no esquecimento. Tenho, porém, adquirido paciência e não mais me desespero. Queres saber qual a situação do pobre Félix? Erra nas trevas entregue à profunda nudez de sua alma. Superficial e leviano, aviltado pelo sensualismo, nunca soube o que eram o amor e a amizade. Nem mesmo a paixão esclareceu suas sombrias luzes. Seu estado presente é comparável ao da criança inapta para as funções da vida e privada de todo o amparo. Félix vaga aterrorizado nesse mundo estranho onde tudo fulgura ao brilho desse Deus por ele negado.
8. - O guia do médium. - Vou falar por Claire, visto que ela não pode continuar a análise dos sofrimentos do marido, sem compartilhá-los:
"Félix - superficial nas idéias como nos sentimentos; violento por fraqueza; devasso por frivolidade - entrou no mundo espiritual tão nu quanto ao moral como quanto ao físico. Em reencarnar nada adquiriu e, conseqüentemente, tem de recomeçar toda a obra. - Qual homem ao despertar de prolongado sonho, reconhecendo a profunda agitação dos seus nervos, esse pobre ser, saindo da perturbação, reconhecerá que viveu de quimeras, que lhe desvirtuaram a existência. Então, maldirá do materialismo que lhe dera o vácuo pela realidade; apostrofará o positivismo que lhe fizera ter por desvarios as idéias sobre a vida futura, como por loucura a sua aspiração, como por fraqueza a crença em Deus. O desgraçado, ao despertar, verá que esses nomes por ele escarnecidos são a fórmula da verdade, e que, ao contrário da fábula, a caça da presa foi menos proveitosa que a da sombra. Georges."
Estudo sobre as comunicações de Claire
Estas comunicações são instrutivas por nos mostrarem principalmente uma das feições mais comuns da vida - a do egoísmo. Delas não resultam esses grandes crimes que atordoam mesmo os mais perversos, mas a condição de uma turba enorme que vive neste mundo, honrada e venerada, somente por ter um certo verniz e isentar-se do opróbrio da repressão das leis sociais. Essa gente não vai encontrar castigos excepcionais no mundo espiritual, mas uma situação simples, natural e consentânea com o estado de sua alma e maneira de viver. O insulamento, o abandono, o desamparo, eis a punição daquele que só viveu para si. Claire era, como vimos, um Espírito assaz inteligente, mas de árido coração. A posição social, a fortuna, os dotes físicos que na Terra possuíra, atraiam-lhe homenagens gratas à sua vaidade - o que lhe bastava; hoje, onde se encontra, só vê indiferença e vacuidade em torno de si.
Essa punição é não somente mais mortificante do que a dor que inspira piedade e compaixão: mas é também um meio de obrigá-la a despertar o interesse de outrem a seu respeito, pela sua morte. A sexta mensagem encerra uma idéia perfeitamente verdadeira concernente à obstinação de certos Espíritos na prática do mal.
Admiramo-nos de ver como alguns deles são insensíveis à idéia e mesmo ao espetáculo da felicidade dos bons Espíritos. É exatamente a situação dos homens de-gradados que se deleitam na depravação como nas praticas grosseiramente sensuais. Esses homens estão, por assim dizer, no seu elemento; não concebem os prazeres delicados, preferindo farrapos andrajosos a vestes limpas e brilhantes, por se acharem naqueles mais à vontade. Daí a preterição de boas companhias por orgias báquicas e deboches. E de tal modo esses Espíritos se identificam com esse modo de vida, que da chega a constituir-lhes uma segunda natureza, acreditando-se incapazes mesmo de se elevarem acima da sua esfera. E assim se conservam até que radical transformação do ser lhes reavive a inteligência, lhes desenvolva o senso moral e os torne acessíveis às mais sutis sensações.
Esses Espíritos, quando desencarnados, não podem prontamente adquirir a delicadeza dos sentimentos, e, durante um tempo mais ou menos longo, ocuparão as camadas inferiores do mundo espiritual, tal como acontece na Terra; assim permanecerão enquanto rebeldes ao progresso, mas, com o tempo, a experiência, as tribulações e misérias das sucessivas encarnações, chegará o momento de conceberem algo de melhor do que até então possuíam. Elevam-se-lhes por fim as aspirações, começam a compreender o que lhes falta e principiam os esforços da regeneração.
Uma vez nesse caminho, a marcha é rápida, visto como compreenderam um bem superior, comparado ao qual os outros, que não passam de grosseiras sensações, acabam por inspirar-lhes repugnância.
- P. (a S. Luís). Que devemos entender por trevas em que se acham mergulhadas certas almas sofredoras? Serão as referidas tantas vezes na Escritura?
- R. Sim, efetivamente, as designadas por Jesus e pelos profetas em referências ao castigo dos maus.
Mas isso não passava de alegoria destinada a ferir os sentidos materializados dos seus contemporâneos, os quais jamais poderiam compreender a punição de maneira espiritual. Certos Espíritos estão imersos em trevas, mas deve-se depreender dai uma verdadeira noite da alma comparável à obscuridade intelectual do idiota. Não é uma loucura da alma, porém uma inconsciência daquele e do que o rodeia, a qual se produz quer na presença, quer na ausência da luz material. É, principalmente, a punição dos que duvidaram do seu destino. Pois que acreditaram em o nada, as aparências desse nada os supliciam, até que a alma, caindo em si, quebra as malhas de enervamento que a prostrava e envolvia, tal qual o homem oprimido por penoso sonhar luta em dado momento, com todo o vigor das suas faculdades, contra os terrores que de começo o dominaram. Esta momentânea redução da alma a um nada fictício e consciente de sua existência é sentimento mais cruel do que se pode ima-ginar, em razão da aparência de repouso que a acomete: - é esse repouso forçado, essa nulidade de ser, essa incerteza que lhe fazem o suplício. O aborrecimento que a invade é o mais terrível dos castigos, visto como coisa alguma percebe em torno nem coisas, nem seres; somente trevas, em verdade, representa isso tudo para ela. S. Luís.
(Claire) : Eis-me aqui. Também eu posso responder à pergunta relativa às trevas, pois vaguei e sofri por muito tempo nesses limbos onde tudo é soluço e misérias. Sim, existem as trevas visíveis de que fala a Escritura, e os desgraçados que deixam a vida, ignorantes ou culpados, depois das provações terrenas são impelidos a fria região, inconscientes de si mesmos e do seu destino. Acreditando na perenidade dessa situação, a sua linguagem é ainda a da vida que os seduziu, e admiram-se e espantam-se da profunda solidão: trevas são, pois, esses lugares povoados e ao mesmo tempo desertos, espaços em que erram obscuros Espíritos lastimosos, sem consolo, sem afeições, sem socorro de espécie alguma. A quem se dirigirem... se sentem a eternidade, esmagadora, sobre eles?... Tremem e lamentam os interesses mesquinhos que lhes mediam as horas; deploram a ausência das noites que, muitas vezes, lhes traziam, num sonho feliz, o esquecimento dos pesares. As trevas para o Espírito são: a ignorância, o vácuo, o horror ao desconhecido... Não posso continuar... Claire.
Ainda sobre este ponto obtivemos a seguinte explicação:
"Por sua natureza, possui o Espírito uma propriedade luminosa que se desenvolve sob o influxo da atividade e das qualidades da alma. Poder-se-ia dizer que essas qualidades estão para o fluido perispiritual como o friccionamento para o fósforo. A intensidade da luz está na razão da pureza do Espírito: as menores imperfeições morais atenuam-na e enfraquecem-na. A luz irradiada por um Espírito será tanto mais viva, quanto maior o seu adiantamento. Assim, sendo o Espírito, de alguma sorte, o seu próprio farol, verá proporcionalmente à intensidade da luz que produz, do que resulta que os Espíritos que não a produzem acham-se na obscuridade."
Esta teoria é perfeitamente exata quanto à irradiação de fluidos luminosos pelos Espíritos superiores e é confirmada pela observação, conquanto se não possa inferir seja aquela a verdadeira causa, ou, pelo menos, a única causa do fenômeno; primeiro, porque nem todos os Espíritos inferiores estão em trevas; segundo, porque um mesmo Espírito pode achar-se alternadamente na luz e na obscuridade; e terceiro, finalmente, porque a luz também é castigo para os Espíritos muito imperfeitos. Se a obscuridade em que jazem certos Espíritos fosse inerente à sua personalidade, essa obscuridade seria permanente e geral para todos os maus Espíritos, o que aliás não acontece. As vezes os perversos mais requintados vêem perfeitamente, ao passo que outros, que assim não podem ser qualificados, jazem, temporariamente, em trevas profundas.
Assim, tudo indica que, independente da luz que lhes é própria, os Espíritos recebem uma luz exterior que lhes falta segundo as circunstâncias, donde força é concluir que a obscuridade depende de uma causa ou de uma vontade estranha, constituindo punição especial da soberana justiça, para casos determinados.
Pergunta (a S. Luís). -- Qual a causa de a educação moral dos desencarnados ser mais fácil que a dos encarnados? As relações pelo Espiritismo estabelecidas entre homens e Espíritos dão azo a que estes últimos se corrijam mais rapidamente sob a influência dos conselhos salutares, mais do que acontece em relação aos encarnados, como se vê na cura das obsessões.
Resposta (Sociedade de Paris) . - O encarnado, em virtude da própria natureza, está numa luta incessante devido aos elementos contrários de que se compõe e que devem conduzi-lo ao seu fim providencial, reagindo um sobre o outro.
A matéria facilmente sofre o predomínio de um fluido exterior; se a alma, com todo o poder moral de que é capaz, não reagir, deixar-se-á dominar pelo intermediário do seu corpo, seguindo o impulso das influências perversas que o rodeiam, e isso com facilidade tanto maior quanto os invisíveis, que a subjugavam, atacam de preferência os pontos mais vulneráveis, as tendências para a paixão dominante.
Outro tanto se não dá com o desencarnado, que, posto sob a influência semimaterial, não se compara por seu estado ao encarnado. O respeito humano, tão preponderante no homem, não existe para aquele, e só este pensamento é bastante para compeli-lo a não resistir longamente às razões que o próprio interesse lhe aponta como boas.
Ele pode lutar, e o faz mesmo geralmente com mais violência do que o encarnado, visto ser mais livre. Nenhuma cogitação de interesse material, de posição social se lhe antepõe ao raciocínio. Luta por amor do mal, porém cedo adquire a convicção da sua impotência, em face da superioridade moral que o domina; a perspectiva de melhor futuro lhe é mais acessível, por se reconhecer na mesma vida em que se deve completar esse futuro; e essa visão não se turva no turbilhão dos prazeres humanos. Em uma palavra, a independência da carne é que facilita a conversão, principalmente quando se tem adquirido um tal ou qual desenvolvimento pelas provações cumpridas.
Um Espírito inteiramente primitivo seria pouco acessível ao raciocínio, o que aliás não se dá com o que já tem experiência da vida. Demais, no encarnado como no desencarnado, é sobre a alma, é sobre o sentimento que se faz mister atuar.
Toda ação material pode sustar momentaneamente os sofrimentos do homem vicioso, mas o que ela não pode é destruir o princípio mórbido residente na alma.
Todo e qualquer ato que não vise aperfeiçoar a alma, não poderá desviá-la do mal. S. Luís.

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno " Espíritos Sofredores" parte 8

François Riquier

Era um velho celibatário, avarento e muito popular, falecido em C..., em 1857, legando aos parentes colaterais considerável fortuna. Em tempo fora locador de uma inquilina, que mais tarde o esquecera completamente, ignorando até se ainda, ou não, vivia. Em 1862, uma filha desta senhora, sujeita a crises de catalepsia seguidas de espontâneo sono magnético e também bom médium escrevente, viu, num desses sonos, o Sr. Riquier, o qual, assegurava, pretendia dirigir-se à sua mãe.
Passados alguns dias, uma vez que se manifestara espontaneamente confirmando aquele intuito, entretiveram com ele a seguinte conversação:
- P. Que pretendeis de nós?
- R. O dinheiro do qual se apossaram, os miseráveis, a fim de o repartirem! Venderam fazendas, casas, tudo para se locupletarem! Desbarataram meus bens como se não mais me pertencessem. Fazei que se me faça justiça, já que a mim me não ouvem, e não quero presenciar infâmias tais. Dizem que eu era usurário, e guardaram-me o cobre. Por que não mo querem restituir? Acharão que foi mal ganho?
- P. Mas vós estais morto, meu caro senhor, e não tendes mais necessidade alguma de dinheiro. Implorai a Deus para vos conceder uma nova existência de pobreza a fim de expiardes a usura desta última.
- R. Não, eu não poderei viver na pobreza. Preciso do meu dinheiro, sem o qual não posso viver. Demais, não preciso de outra existência, porque vivo estou atualmente.
- P. (Foi-lhe feita a seguinte pergunta no intuito de chamá-lo à realidade.) Sofreis?
- R. Oh! sim. Sofro piores torturas que as da mais cruel enfermidade, pois é minha alma quem as padece. Tendo sempre em mente a iniquidade de uma vida que foi para muitos motivo de escândalos, tenho a consciência de ser um miserável indigno de piedade, mas o meu sofrimento é tão grande que mister se faz me auxiliem a sair desta situação deplorável.
- P. Oraremos por vós.
- R. Obrigado! Orai para que eu esqueça os meus bens terrenos, sem o que não poderei arrepender-me. Adeus e obrigado. François Riquier, Rue de la Charité nº 14.
É curioso ver-se este Espírito indicar a moradia como se estivesse vivo.
A senhora deu-se pressa em verificá-la e ficou muito surpreendida por ver que era justamente a última casa que Riquier habitara. Eis como, após cinco anos, ainda ele não se considerava morto, antes experimentava a ansiedade, bem cruel para um usurário, de ver os bens partilhados pelos herdeiros. A evocação, provocada indu-bitavelmente por qualquer Espírito bom, teve por fim fazer-lhe compreender o seu estado e predispô-lo ao arrependimento.

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 23

 
 
Meu irmão é mais lógico dar os primeiros passos na grande senda do aprendizado espiritual, com Jesus, para que possamos conhecer determinados segredos da natureza. O Cristo é o Mestre Incomparável; ouçamo-Lo! Todos os dias, a Sua voz se faz ouvir por todos os meios que desejarmos, basta que haja interesse em aprender com humildade. Livremo-nos do orgulho e do egoísmo e abramos a mente para a verdade, que ela nos libertará. Não queiramos saber o que é o Espírito. Por enquanto, somente basta que saibamos que o Espírito é vida, sustentado pela Vida Maior - Deus. Nosso dever maior neste momento, e na fase em que nos encontramos, é compreender as leis e obedecê-las; é ativar a harmonia dentro de nós. Estaremos sentindo, desta forma, Deus na alma e o Cristo em nós, e a luz nunca se apagará em nosso coração. Todas as vezes que surgir a idéia de conhecer Deus e o Espírito, oremos com fé, que logo veremos e sentiremos a resposta que for conveniente as nossas necessidades de saber.

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 22

 
 

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 21

 
 

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 20

 
“Sim, se o julgar conveniente, Deus pode revelar o que à ciência não é dado apreender.”
 

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A Criança no Mundo Espiritual


LUCY DIAS RAMOS
“Por morte da criança, readquire o Espírito, imediatamente, o seu precedente vigor?
R. – “Assim tem que ser, pois que se vê desembaraçado de seu invólucro corporal. Entretanto, não readquire a anterior lucidez, senão quando se tenha completamente separado daquele envoltório, isto é, quando mais nenhum laço exista entre ele e o corpo”. (“O Livro dos Espíritos”, de
Allan Kardec, questão 381, 80. Ed. FEB.)

Após a partida para o mundo espiritual dos seres que amamos e com os quais convivemos, ficamos indagando de seu posicionamento nessa nova dimensão da vida e rogamos a Deus para que estejam protegidos e amparados.
Quando se trata de crianças desencarnadas a nossa preocupação cresce e entregamos à Providência Divina nossas súplicas redobradas de zelo e carinho pelos entes que partiram em tenra idade.
Outrora, a Teologia clássica afirmava que os inocentes, depois da morte, ficariam no limbo, uma região neutra, sem as agruras do inferno e sem as delícias do céu. O Espiritismo, através da Codificação Kardequiana, dá-nos explicações e respostas a algumas indagações, donde concluímos que o
Espírito retornaria à plenitude de sua forma física como adulto e à lucidez mental, tão logo se desfizesse dos elos que o ligassem ao corpo físico.
Hoje, ou mais recentemente, com as obras de André Luiz, psicografadas por Francisco Cândido Xavier, complementando as assertivas do Codificador, fica bem mais claro o entendimento desta questão.
No livro “Entre a Terra e o Céu”, capítulo IX, relata-nos André Luiz que a
região onde se encontra o Lar da Bênção possui parques, lares, colégios, hospitais destinados às crianças desencarnadas. Como as suas condições variam de acordo com a evolução espiritual, são também diversas as situações e locais em que se encontram nesta nova fase da vida.
No diálogo de Hilário e Irmã Blandina, no capítulo XI do livro referido, ela
explica:
“O nosso educandário guarda mais de duas mil crianças, mas, sob
os meus cuidados, permanecem apenas doze. Somos um grande
conjunto de lares, nos quais muitas almas femininas se reajustam
para a venerável missão da maternidade e conosco multidões de
meninos encontram abrigo para o desenvolvimento que lhes é
necessário, salientando-se que quase todos se destinam ao retorno
à Terra para a reintegração no aprendizado que lhes compete”.
A criança desencarnada terá, portanto, um período variável de
permanência no mundo espiritual e, muitas vezes, longo, para que possa
demonstrar crescimento mental e perispiritual, mas há exceções e isto ocorre,
conforme André Luiz:
“(...) quando a mente já desenvolveu certas qualidades aprimorandose
em mais altos degraus de sublimação espiritual e pode arrojar-se
de si mesma os elementos indispensáveis à composição de veículos
de exteriorização de que necessita em planos que lhe sejam
inferiores (...)”
Allan Kardec na Revista Espírita (agosto/1866) relata o caso da mãe que tendo perdido o filho de 7 anos e se tornado médium, após este acontecimento, teve o próprio filho como guia e transcreve neste artigo a mensagem que o Espírito da criança teria dado à mãe através da psicografia. Contudo, esta
mensagem reflete o pensamento de um adulto. Possivelmente o Espírito já elevado moralmente conseguia projetar de si mesmo os elementos indispensáveis à exteriorização de seu pensamento para se comunicar com a mãezinha saudosa. Poderia até se mostrar nas primeiras comunicações como criança e assim facilitar a identificação, entretanto, como guia serviria, tãosomente, de sua lucidez mental. Com certeza o Espírito desta criança era evoluído e já em vida demonstrava uma precocidade intelectual, explica Kardec.
É de grande importância, e requer extremados cuidados dos encarregados da guarda de crianças desencarnadas, seu desenvolvimento espiritual. Laura, mãe de Lísias, no livro “Nosso Lar” (cap. 20), de André Luiz, explica: “- Quando o Ministério do Auxílio me confia crianças ao lar, minhas
horas de serviço são contadas em dobro (...)”.
Entendemos pelas explicações dadas pelos benfeitores espirituais, em diversas obras espíritas, que após a desencarnação, se o Espírito da criança é evoluído e pode retomar seu vigor primitivo, ele agirá no mundo espiritual e junto daqueles que com ele se comuniquem, com a forma perispiritual de adulto,
principalmente se a ele estiver confiada a orientação de um médium ou de um grupo espírita. Logicamente isto poderá ocorrer após determinado tempo, regido por leis sábias e superiores do mundo espiritual.
Em determinadas circunstâncias, a criança desencarnada poderá se comunicar com familiares que buscam o Centro Espírita ou médiuns, para dar notícias, reconforto espiritual aos seus afetos e prova de sua sobrevivência.
Somente aqueles que já perderam um entre querido e recebem a dádiva de uma comunicação espiritual podem avaliar como é grande a Misericórdia de Deus, na concessão desse benefício. Mas estas comunicações são regidas por leis da comunicação mediúnica e exigem aptidão do médium, condições adequadas, merecimento de ambas as partes e estarão sempre resguardadas por Espíritos superiores que conduzem as crianças às reuniões mediúnicas. É importante enfatizar que a criança, mesmo estando em sofrimento no mundo espiritual, recolhida em hospitais ou lares que a protegem, nunca se apresentará em
reuniões mediúnicas perturbada, perdida ou aflita, necessitada de esclarecimento ou doutrinação como ocorre com um adulto.
Existem, ainda, grupos espíritas e médiuns videntes que, habitualmente, vêem Espíritos de crianças em reuniões mediúnicas. Segundo estes médiuns e dirigentes, estes Espíritos, não raras vezes, orientam, dão conselhos e dirigem as reuniões como mentores ou guias. Entretanto, sabemos que as leis morais
que regem o mundo dos Espíritos são mais rígidas, sábias e evoluídas que as humanas. Estabelecem-se na Terra condições e normas pela faixa etária de seus habitantes, delimitação de idade para o ingresso em escolas, assembléias religiosas, casas de lazer e entretenimento, hospitais e até mesmo para
freqüência às reuniões mediúnicas. O bom senso nos indica que no mundo espiritual não será diferente e as crianças cujos Espíritos estejam, ainda, na forma perispiritual infantil não poderão estar freqüentando reuniões mediúnicas na condição de guias nem de sofredores.
Outro aspecto a abordar é o da condição espiritual da criança desencarnada.
Confundimos, às vezes, as coisas e achamos que a morte prematura dá ao Espírito a condição de elevação moral. Não é bem assim. A grande maioria das crianças que retornam ao mundo espiritual traz a mente perturbada por indisciplinas e erros de outras vidas. Comenta André Luiz:
“(...) a lei é invariável, contudo, a criança desencarnada muitas vezes
é problema aflitivo. Quase sempre dispõe de afeiçoados que a
seguem, de perto, amparando-lhe o destino, entretanto tenho
observado milhares de meninos que, pela natureza das provações
em que se envolveram, sofrem muitíssimo, à espera de
oportunidades favoráveis para a aquisição dos valores de que
necessitam”.
Allan Kardec, na questão 199-a de “O Livro dos Espíritos”, comenta:
“Aliás, não é racional considerar-se a infância como um estado
normal de inocência. Não se vêem crianças dotadas dos piores
instintos, numa idade em que ainda nenhuma influência pode ter tido
a educação? (...) As que se revelam viciosas, é porque seus
Espíritos muito pouco hão progredido. Sofrem então, por efeito
dessa falta de progresso, as conseqüências, não dos atos que
praticam na infância, mas dos de suas existências anteriores. Assim
é que a lei é uma só para todos e que todos são atingidos pela
justiça de Deus”.
Sofreram, portanto, aqui na Terra, os dolorosos processos de reajuste e no mundo espiritual, quando desencarnam, ainda crianças, de acordo com seu nível evolutivo.
Como nos esclarece Emmanuel:
“Ontem experimentavam na Esfera Espiritual os resultados da
delinqüência na luta humana... O horror do suicídio deliberado... O
remorso do crime oculto... Os frutos da crueldade... Reintegrados no
campo do espírito, guardavam na própria alma os tristes
remanescentes da conduta ominosa”. ("Vida em Vida”, psicografia de
Francisco Cândido Xavier, cap. 27, IDEAL, 1980).

Compreendemos que somente através de abençoadas reencarnações futuras serão estas mentes enfermas equilibradas e reajustadas, obtendo, assim, a cura de seus males. Vemos, então, que as crianças desencarnadas longe estão de se conduzirem com independência no mundo espiritual,
excetuando aquelas já em processo de equilíbrio e moralmente evoluídas, que
se governam a si mesmas, apresentando-se normalmente como adultas.
Se permanecem na forma infantil, dadas as condições de dependência espiritual, é porque não podem “desatar os laços que as aprisionam aos rígidos princípios que orientam o mundo das formas, e por isso, exijam longo tempo para se renovarem no justo desenvolvimento”. (André Luiz, obra citada).
Allan Kardec indaga na questão 197, de “O Livro dos Espíritos”:
“Poderá ser tão adiantado quanto o de um adulto o Espírito de uma
criança que morreu em tenra idade? R. – Algumas vezes o é muito
mais, porquanto pode dar-se que muito mais já tenha vivido e
adquirido maior soma de experiência, sobretudo se progrediu”.
E concluímos: nestas condições ele se comunicará conosco com toda a lucidez mental e com toda a sua capacidade de servir, orientar e nos guiar pelos caminhos da vida. Quanto maior seu grau evolutivo e seu desenvolvimento intelectual, maior será seu poder mental para acionar as células de seu corpo
espiritual, apresentando-o como melhor lhe aprouver.

Reformador de julho de 1999

Livre-Arbítrio, Determinismo e Fatalismo

JUVANIR BORGES DE SOUZA

Ao tratar das leis morais, que abrangem tanto a vida do Espírito no
corpo quanto no estado livre, “O Livro dos Espíritos” lança luz sobre uma das
mais tormentosas questões filosóficas de todos os tempos.
Realmente, as mais antigas filosofias, assim como as religiões
tradicionais do Oriente e do Ocidente sempre encontraram dificuldades na
formulação de suas doutrinas, no que concerne ao entendimento da maneira de
agir do homem.
A liberdade, esse bem precioso de que goza o homem, pode ser tomada em seu sentido absoluto?
Mas, as circunstâncias da vida não estão a demonstrar que, em inúmeros
casos, parece imperar não a liberdade individual de decidir, mas um fatalismo evidente, inamovível?
O certo é que as escolas filosóficas e religiosas se perderam e se
confundiram em seus conceitos.
Era necessária a vinda do Consolador para esclarecer aparentes
contradições da lei natural, que deve ser entendida como um todo homogênio,
perfeito, só perceptível pelo homem quando conhecidas suas partes
componentes tais como as vidas sucessivas, o princípio da responsabilidade, a
destinação do Espírito imortal, a evolução dos seres e as demais leis morais.
A individualidade, criada simples e ignorante, goza do livre-arbítrio
desde sua criação. Mas sua liberdade encontra limitações na sua própria
ignorância das leis da vida.
A expansão de sua liberdade e da sua consciência vai ocorrendo
paulatinamente, na medida em que vai progredindo em conhecimento e em
aquisições morais.
Desse princípio resulta que o ser será tanto mais livre quanto mais sábio,
mais moralizado, mais evoluído.
Os mais brutalizados são também os mais sujeitos ao cativeiro da
ignorância.
A liberdade do homem é, pois, limitada pela sua própria condição, sendo
que “no pensamento goza o homem de ilimitada liberdade, pois não há como
pôr-lhe peias. Pode-se-lhe deter o vôo, porém, não aniquilá-lo”, (“O Livro dos
Espíritos”, q. 833).
Há que se entender, entretanto, que a liberdade de pensar é limitada pelo
maior ou menor conhecimento e moralidade de cada ser.
Da liberdade de pensamento e de consciência resulta a liberdade de agir.
O livre-arbítrio, dom natural da alma desde sua criação, vai-se
expandindo com a evolução anímica.
No estado de encarnado é evidente que a matéria exerce influência sobre
o Espírito, mas essa influência não é absoluta. A responsabilidade final é
sempre do Espírito, esteja ele livre ou sob a influência material.
As inclinações para todas as modalidades de crimes e transgressões é,
pois, da alma e não do corpo, é manifestação da vontade individual, mesmo que
sob influência de outrem.
Esse esclarecimento da Doutrina Espírita contraria frontalmente a teoria
lombrosiana do criminoso nato, pelos característicos físicos de seu organismo,
hoje felizmente abandonada pelas modernas teorias criminais.
Há que se considerar ainda, em mundos materiais atrasados como o
nosso, as diversas aberrações das faculdades normais do homem, tais como a
loucura, as obsessões, o uso de drogas diversas, a embriaguez, os
constrangimentos como a escravidão e outros.
Aquele que se acha turbado por uma causa que influi poderosamente
sobre sua vontade, evidentemente que já não goza de plena liberdade de
decidir.
Mas a lei divina, justa e abrangente, distinguirá cada situação, suas
causas, os compromissos abraçados anteriormente, as circunstâncias
ocorrentes, para que nunca haja injustiças.
É comum, por exemplo, lançar-se a criatura ao uso de drogas e
entorpecentes, para que se encoraje na prática de crimes e transgressões
morais. A turbação da inteligência e dos sentidos não tira a responsabilidade de
quem assim procede, cuja decisão foi anterior ao uso das drogas.
Outras situações peculiares são a da loucura, ou a da fascinação, em que
o Espírito está subjugado, sem noção clara do que pratica. Essas circunstâncias
merecem tratamento diferenciado na lei divina para a determinação da
responsabilidade.
No estado de selvageria, como no estado de infância, há que se
considerar a liberdade de agir com o instinto, que acompanha o Espírito como
conquista anterior ao seu estado atual.
A lei natural considera as necessidades, a inteligência e o instinto na
determinação das responsabilidades, em cada hipótese.
A posição do indivíduo no meio social, as exigências da civilização, as
imposições das legislações humanas são outros fatores que influem sobre a
liberdade de agir do ser humano.
Em compensação, a lei divina, na sua amplitude e sabedoria, leva em
conta todas as circunstâncias ocorrentes e ainda o esforço individual para se
ajustar a ela.
O homem forja, pelo livre-arbítrio, os efeitos das causas que ele mesmo
prepara.
Ele tem liberdade para escolher o caminho do bem ou as realizações do
mal.
No imo de sua consciência ele sabe distinguir o bem e o mal.
Por isso, sua liberdade de escolha acarreta-lhe a responsabilidade das
conseqüências.
Esse princípio, que o Espiritismo tornou claro, além de profundamente
justo, derroga inúmeros ensinamentos equivocados das religiões tradicionais e
dogmáticas, mostrando-nos a justiça, a grandeza e a beleza das leis de Deus, a
Inteligência Suprema, o Criador de todas as coisas.
Em suma, o livre-arbítrio, dom divino do Criador, permite ao ser
consciente e responsável edificar seu destino, escolhendo os caminhos de sua
ascensão, até que, conhecendo a Verdade, estará integrado nela e liberto das
inferioridades.
Nas leis divinas, o livre-arbítrio conjuga-se harmoniosamente com o
determinismo.
Num e noutro sobrepões-se a lei do Amor para todo o Universo.
O Amor Soberano é, pois, determinismo universal, abrangendo toda a
criação.
Todas as leis morais que a Doutrina Espírita resume na Parte Terceira de
“O Livro dos Espíritos” são determinismos da Providência Divina.
Tornando-se cada vez mais livre à medida que mais evolui, é lógico
deduzir-se que nos primeiros estágios de evolução, quando o Espírito ainda é
atrasado, mau ou ignorante, predomina aí o determinismo em sua existência.
Todavia, torna-se necessário distinguir a subordinação da criatura no que
concerne ao mundo físico, aos fatos materiais, ao cumprimento de provas,
conservando-se livre no que diz respeito ao moral e às influências espirituais. No
campo moral predomina a liberdade de escolha.
O determinismo divino é sempre o Bem. O mal é oriundo das ações
humanas e dos Espíritos que contrariam essa lei.
A harmonização consiste no retorno à normalidade do Bem, através das
retificações dos desvios, que denominamos resgates.
Animais e homens em grau extremo de atraso, de selvageria, são seres
que, na Terra, agem sob o império do instinto, e, consequentemente, do
determinismo, diante da carência de liberdade.
O determinismo aparentemente inexplicável de certas expiações e
resgates na vida corporal – doenças incuráveis, deformidades genéticas,
paralisias cerebrais, síndrome de Down, cegueira, surdez congênita e outros
males que atingem milhões de seres – torna-se perfeitamente compreensível
quando conjugado com o livre-arbítrio do próprio Espírito que escolheu o resgate
doloroso, embora extremamente útil para ele, antes da reencarnação.
Aí temos exemplo claro de que se torna impraticável o entendimento do
determinismo e do livre-arbítrio sem o conhecimento de outros aspectos das leis
divinas, como a doutrina das vidas sucessivas, os dispositivos da lei de causa e
efeito, a lei do progresso, a lei de liberdade com responsabilidade.
No vasto campo de experiências e de provações da Terra, seus
habitantes estão sujeitos a erros, por mais inteligentes e evoluídos que sejam. O
importante, para cada um, é a corrigenda, tão logo se dê conta do desvio. O
procedimento daquele que erra, voluntária ou involuntariamente, enquadra-se
nas regas do determinismo divino e do determinismo humano.
A vida na Terra é transitória, embora repetida pela reencarnação. Ela
termina pelo fenômeno da transição, a que denominamos morte.
A morte não representa o fim do ser, mas apenas do corpo.
A morte do corpo é, pois, um determinismo da lei, que tem um momento
para acontecer.
Esse momento pode ser antecipado pela vontade do ser (uso de sua
liberdade), através do suicídio direto ou indireto.
Em casos especiais, quando há interesse e proveito para o próprio
Espírito, a lei permite a modificação do momento do retorno, sob medida que
escapa ao nosso atual entendimento. São as prorrogações da vida carnal.
Há, na vida de todos que habitam este orbe, fatos e acontecimentos
predeterminados que não podem ser evitados.
Antes da reencarnação o próprio Espírito optou por eles, em seu proveito
e usando de seu livre-arbítrio. É o determinismo conjugado à liberdade de
escolha.
Entretanto, o fatalismo absoluto, segundo o qual o homem não pode nada
mudar, sendo simples autômato, é que é mera ilusão, sem fundamento na lei
natural.
Não se pode, pois, confundir determinismo com fatalismo.
A liberdade individual é perfeitamente conciliável com a predeterminação
de acontecimentos futuros, com ou sem a cooperação do próprio ser.
Certas doutrinas religiosas, sem fundamentação na realidade, favorecem
a crença na fatalidade, no “tudo está escrito”, na espera dos acontecimentos. É
erro grave que o Espiritismo previne e retifica com as revelações novas.
Predestinação absoluta baseada em causa sobrenatural na fixação do
destino, bem assim a doutrina da graça divina em favor de determinadas almas
escolhidas são criações do homem que o reduzem a autômatos e rebaixam a
idéia do Deus infinitamente bom e justo. .

Reformador julho de 1999

O Dilema da Disciplina


CEZAR BRAGA SAID
É bastante comum em nossos dias ouvirmos reclamações de pais e
professores, em torno do comportamento indisciplinado de crianças e jovens.
Palavrões, brigas, pichações, desrespeito aos mais velhos, desleixo com a
aparência, iniciação sexual precoce, gravidez na adolescência, etc., fazem parte
do rol de atitudes mencionadas para caracterizar esse comportamento
indisciplinado.
Não se pode perder de vista o despreparo dos pais na condução da prole.
Quando bem dotados financeiramente, matriculam os filhos nas melhores
escolas, proporcionam-lhes viagens de estudos e entretenimento, oferecem-lhes
cursos de informática e idiomas, alimentação apurada, cuidando com extremo
desvelo do corpo, investindo somente na sua formação intelectual.
A formação moral, quando lembrada, é relegada para alguma religião ou
transferida para a escola, pois estes mesmos pais estão muito ocupados com
outros afazeres ou envolvidos com outras atividades que consideram relevantes.
Nas famílias menos dotadas de recursos materiais, o desenvolvimento da
criança já se vê comprometido em razão da carência alimentar, da falta de tempo
dos pais para orientá-los, pois saem muito cedo para trabalhar e retornam muito
tarde. Existindo então outros compiladores.
Às vezes a criança é filha de pais separados, que por razões diversas nem
sempre conseguem atender convenientemente às suas carências e necessidades.
A televisão tornou-se de um tempo para cá a companheira e a educadora
de muitas das nossas crianças e jovens, e, infelizmente, uma companhia
altamente questionável.
É preciso que se diga, ainda, que os professores, na grande maioria, não
foram preparados para lidar com crianças que apresentam problemas de
comportamento e nem com aquelas portadoras de necessidades especiais.
Quando conseguem um mínimo de conhecimento teórico, é porque fazem algum
curso adicional ou a larga experiência dos anos lhes fez acumular conhecimentos
suficientes sobre o assunto.
Ao despreparo dos pais junta-se o despreparo dos professores.
Considerando essa variedade de fatores que, até certo ponto, explicam os
problemas apresentados pelos educandos, não podemos esquecer que eles são
Espíritos reencarnados, trazendo tendências e aptidões das vidas passadas. E
que os mesmos possuem afetos e desafetos no mundo espiritual, influenciando lhes
direta ou indiretamente o comportamento.
Com tudo isso, como estabelecer uma disciplina que prepare, oriente e
colabore na formação de homens de bem?
Didaticamente podemos pensar em três níveis de disciplina:
·  PREVENTIVA
·  PUNITIVA
·  REPARADORA
A disciplina preventiva é aquela que é trabalhada desde a gestação,
perpassando todas as fases do desenvolvimento biopsicossocial da criança.
Paulo Freire (1989) salienta que a disciplina externa é necessária para
estruturar a interna e que a criança entregue a si mesma dificilmente se
disciplina. A presença e o exercício da autoridade paterna e materna é
indispensável na construção da sua autonomia.
Parafraseando o educador Rubem Alves (1988), afirmamos que é
necessário libertar a criança das disciplinas desnecessárias, a fim de que ela
consiga lidar com aquelas que são inevitáveis no caminho de qualquer pessoa
adulta, e até mesmo aceitá-las.
Como é importante a presença de limites, de regras na fase infantil. E
disciplina não é apenas um conjunto de normas que estipulam deveres a ser
cumpridos. A natureza possui uma disciplina sem a qual os mares invadiriam as
regiões continentais, os continentes gelados se derreteriam, as cadeias
alimentares entrariam em desequilíbrio, os planetas colidiriam uns com os outros.
O amor estabelece a disciplina do bem--querer, do perdoar incessantemente, do
fazer o bem a quem nos faz o mal e assim por diante.
Não podemos e nem devemos associar disciplina a surras e agressões,
pois esse tipo de postura já é violência e não disciplina.
Joanna de Ângelis (1991) fala-nos de três tipos de indivíduos adultos, que
resultam de uma educação bem ou mal orientada:
a) Os insatisfeitos: são aqueles que foram vítimas de pais instáveis
emocionalmente, despreparados para orientarem seus filhos para a vida. Pais
violentos ou indiferentes.
b) Os dependentes: são aqueles que foram mimados, tiveram todas as
suas vontades e caprichos satisfeitos, viveram numa redoma e quando em
contato com o mundo, precisando cortar o cordão umbilical e decidir, optar,
entram em crises ou sempre recorrem a quem possa decidir por eles.
c) Os realizados: são pessoas que vivem instantes de dependência e de
insatisfação, mas conseguem administrar bem os seus conflitos. Normalmente
conviveram com regras e tiveram afeto durante a infância, e graças a isso,
desenvolveram uma capacidade de decidir com autonomia, correndo os riscos
necessários e assumindo as conseqüências dos seus atos.
A disciplina punitiva é aquela aplicada nos presídios, nos lares onde os
pais corrigem com violência seus filhos, nos países onde o crime é punido com
outro crime (pena de morte), e que, inevitavelmente, não promove, não remove
as causas da indisciplina.
A esse respeito Pedro de Camargo (1977) escreveu:
“Para bem agirmos em prol do saneamento moral, precisamos partir deste
princípio: o crime não é o criminoso, o vício não é o viciado, o pecado não é o
pecador (...) o doente não é a doença. Assim como se combatem as
enfermidades e não os enfermos, assim também se deve combater o crime, o
vício e o pecado, e não o criminoso, o viciado e o pecador”.
Theobaldo Miranda Santos (1964) afirma que os castigos ministrados com
raiva até acentuam a revolta da criança. É necessário que ela perceba na
correção de que é objeto o propósito do seu aperfeiçoamento.
A disciplina reparadora é a única capaz de ir até as causas da indisciplina,
que se localizam no Espírito imortal, e que segundo Ney Lobo (1989), citando
Allan Kardec, residem no instinto de conservação exagerado e no
desconhecimento do passado e do futuro do Espírito. Só ela pode minimizar a
crença na superioridade individual, o orgulho e o egoísmo, que conduzimos em
nosso cerne.
Exemplificando, é preciso que a criança seja levada a corrigir o que errou,consertar o que quebrou, repor o que retirou, desculpar-se com quem ofendeu, fazendo sempre uma ação contrária e correta àquela que foi considerada uma indisciplina.
Conscientizando-se de que errou.
É claro que isso não se consegue sempre no exato momento em que ela é
flagrada em erro. É preciso que os educadores, de modo geral, tenham o tato
necessário para aguardar a hora certa de solicitar a correção. No calor das
emoções exaltadas é muito difícil que a criança se predisponha a essa
reparação. E não raro, quando se exige isso logo de imediato, comete-se um
outro erro, o de humilhá-la, obrigando-a a uma correção forçada e exterior, sem
que ela se convença do seu equívoco. Escreve o filósofo Ney Lobo (1989) que:
“O grau de responsabilidade disciplinar do educando deve ser diretamente
proporcional à gravidade da falta, ao grau de liberdade em cometê-la ou não e a
sua idade, não somente biológica ou mental, mas relativa ao nível espiritual. Esta
idade espiritual se apresenta através dos componentes: inteligência e moralidade
(variáveis de um espírito para outro)”.
É com a disciplina reparadora que a criança conseguirá ser um adulto
realizado, nas palavras de Joanna de Ângelis, libertando-se de sentimentos de
culpa, da censura social, estruturando sua disciplina interna e utilizando seu livrearbítrio
sempre para o bem.
Diz-nos também Allan Kardec (1997) no livro “O Céu e o Inferno”:
“Arrependimento, expiação e reparação constituem, portanto, as três
condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas
conseqüências. O arrependimento suaviza os travos da expiação, abrindo pela
esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o
efeito destruindo-lhe a causa.”
Só nos resta investir cada vez mais na Educação do Espírito, se
quisermos fazer da Terra um mundo feliz, governado por Homens inteligentes e
bons, regidos pela disciplina do Amor. L
BIBLIOGRAFIA
KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina segundo o Espiritismo. Rio de
Janeiro, FEB,1997.
ALVES, Rubem. O Enigma da Religião. Campinas: Papirus, 1988.
CAMARGO, Pedro de. O Mestre na Educação. Rio de Janeiro: FEB, 1977.
FRANCO, Divaldo Pereira. Momentos de Consciência. Pelo Espírito Joanna de Ângelis.
Salvador: Alvorada, 1991.
FREIRE, Paulo. Dialogando sobre disciplina. In: D’ANTOLA, Arlette (org). Disciplina na
escola: Autoridade versus autoritarismo. São Paulo: EPU, 1989.
LOBO, Ney. Filosofia Espírita da Educação. Rio de Janeiro: FEB, 1989.
SANTOS, Theobaldo Miranda. Noções de Filosofia da Educação. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1964

Reformador : Dezembro de 1999

As enfermidades espirituais

 Marta Antunes Moura

As enfermidades espirituais produzem  distúrbios ou lesões no corpo físico decorrentes de desarmonias
psíquicas originadas das condições pessoais do enfermo, da influência de entidade espiritual, ou por ação conjunta de ambos.
Podem ser consideradas como de baixa, média ou de alta gravidade.
As de baixa gravidade, mais fáceis de serem controladas, costumam surgir em momentos específicos
da vida, quando a pessoa passa por algum tipo de dificuldade: perdas afetivas ou materiais; doenças
físicas; insucesso profissional, entre outras. São situações em que as emoções afloram impetuosamente,
gerando diferentes tipos de somatizações: ansiedade, angústia, dores musculares, enxaqueca, distúrbios
na digestão (náuseas, cólicas, azia, má absorção alimentar etc.). Ocorrem
distúrbios do sono, da atenção e do controle emocional. Nessa situação, a prece representa um poderoso
instrumento de auxílio, pois eleva o padrão vibratório do necessitado.
A mudança vibratória permite que a assistência dos benfeitores espirituais favoreça o reajuste psíquico, emocional e físico. A pessoa recupera, então, as rédeas sobre si mesma, rompendo com as idéias
perturbadoras, próprias ou de outrem.
As doenças espirituais de média gravidade podem prolongar-se por anos a fio, mantendo-se dentro
de um mesmo padrão ou evoluindo para algo mais grave. Com o passar do tempo, podem apresentar
um quadro sintomatológico característico de um tipo específico de patologia: insônia persistente; gastrite
e ulceração gástrica; infecções microbianas repetidas; crises alérgicas costumeiras; dores musculares
penosas, formadoras de nódulos ou pontos de tensão; dificuldades respiratórias seguidas da desagradável
“falta de ar”; hipertensão; obesidade ou magreza; crises de enxaqueca prolongadas, não controláveis por
medicamentos; humor claramente afetado, oscilante entre crises de irritabilidade e impaciência incomuns
e momentos de indiferentismo e submissão emocionais; episódios depressivos repetidos seguidos
de euforia exagerada. Se não ocorre a desejável assistência espiritual em benefício do necessitado,
nessa fase da evolução da enfermidade, os doentes podem desenvolver comportamentos caracterizados,
sobretudo, por “manias” e pelo isolamento social. As idéias e os
desejos do enfermo ficam girando dentro de um círculo vicioso, conduzindo à criação de formas-
-pensamento, alimentadas pela vontade do próprio necessitado e pela dos Espíritos desencarnados, sintonizados nesta faixa de vibração.
As orientações espíritas, se aceitas e seguidas, proporcionam imenso conforto, podendo reduzir ou eliminar
o quadro geral de perturbações, sobretudo se associada às ações médicas e psicológicas. Assim, faz-se
necessário desenvolver persistente trabalho de renovação mental e comportamental da pessoa necessitada
de auxílio. A prece, o passe, a água fluidificada, o estudo do Evangelho no lar, a assistência espiritual
(atendimento e diálogo fraterno, freqüência às reuniões de explanação do Evangelho e de irradiações
espirituais), o estudo espírita, entre outros, representam instrumentos de auxílio e de renovação psíquica,
em geral disponibilizados pelas nossas Casas Espíritas.
As enfermidades espirituais, classificadas como graves, são encontradas em pessoas que revelam
perdas temporárias ou permanentes da consciência. A perda da consciência, lenta ou repentina, pode estar
associada a uma causa fisiológica (velhice) ou a uma patologia (lesões cerebrais de etiologias diversas).
Nessa situação, o enfermo vive períodos de alheamentos ou alienações mentais, alternados com outros
de lucidez. Esses períodos são particularmente difíceis, pois a pessoa passa a viver numa realidade
estranha e dolorosa, sobretudo quando o Espírito enfermo vê-se associado a outras mentes enfermas,
em processos de simbioses espirituais.
O doente requisita atendimento  médico especializado, no campo da psiquiatria. A fluidoterapia
espírita suaviza a manifestação da doença, auxiliando o tratamento médico. A assistência espiritual,
oferecida pela Casa Espírita, age como bálsamo, minorando o sofrimento dos encarnados – doente, familiares e amigos – e dos desencarnados envolvidos na problemática.
O atendimento ao perturbador espiritual nas reuniões de desobsessão, assim como as irradiações mentais
em benefício do obsessor e do obsidiado produzem resultados significativos, fundamentais ao processo
de libertação espiritual.
As enfermidades espirituais representam uma realidade, impossível de ser ignorada, sobretudo nos
tempos atuais, quando sabemos da existência de um alerta superior que nos aponta para a urgente necessidade de avaliarmos a nossa conduta moral, desenvolvendo ações e atitudes compatíveis com a Lei de Amor, Justiça e Caridade.
As enfermidades espirituais deixarão de existir, esclarecem-nos os benfeitores espirituais, quando nos
renovarmos para o bem. Nesse sentido, são oportunas as elucidações do Espírito André Luiz: “A enfermidade, como desarmonia espiritual (...) sobrevive no perispírito.
As moléstias conhecidas no mundo e outras que ainda escapam ao diagnósticohumano, por muito tempo
persistirão nas esferas torturadas da alma, conduzindo-nos ao reajuste.
A dor é o grande e abençoado remédio.
Reeduca-nos a atividade mental, reestruturando as peças de nossa instrumentação e polindo os
fulcros anímicos de que se vale a nossa inteligência para desenvolver- -se na jornada para a vida eterna.
Depois do poder de Deus, é a única força capaz de alterar o rumo de nossos pensamentos, compelindo-
-nos a indispensáveis modificações, com vistas ao Plano Divino, a nosso respeito, e de cuja execução não
poderemos fugir sem graves prejuízos para nós mesmos.”**XAVIER, Francisco Cândido. Entre a Terra e
o Céu, pelo Espírito André Luiz. 21. ed., Rio
de Janeiro: FEB, 2003, cap. 21, p. 174.

A subjugação
A subjugação é uma constrição que paralisa a vontade daquele que
a sofre e o faz agir a seu mau grado. Numa palavra: o paciente fica sob
um verdadeiro jugo.
A subjugação pode ser moral ou corporal. No primeiro caso, o subjugado
é constrangido a tomar resoluções muitas vezes absurdas e comprometedoras
que, por uma espécie de ilusão, ele julga sensatas: é uma
como fascinação. No segundo caso, o Espírito atua sobre os órgãos materiais
e provoca movimentos involuntários. Traduz-se, no médium escrevente,
por uma necessidade incessante de escrever, ainda nos momentos
menos oportunos. Vimos alguns que, à falta de pena ou lápis,
simulavam escrever com o dedo, onde quer que se encontrassem, mesmo
nas ruas, nas portas, nas paredes.
Vai, às vezes, mais longe a subjugação corporal; pode levar aos mais
ridículos atos. Conhecemos um homem, que não era jovem, nem belo
e que, sob o império de uma obsessão dessa natureza, se via constrangido,
por uma força irresistível, a pôr-se de joelhos diante de uma
moça a cujo respeito nenhuma pretensão nutria e pedi-la em casamento.
Outras vezes, sentia nas costas e nos jarretes uma pressão enérgica,
que o forçava, não obstante a resistência que lhe opunha, a se
ajoelhar e beijar o chão nos lugares públicos e em presença da multidão.
Esse homem passava por louco entre as pessoas de suas relações;
estamos, porém, convencidos de que absolutamente não o era,
porquanto tinha consciência plena do ridículo do que fazia contra a
sua vontade e com isso sofria horrivelmente.
Fonte: KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 72. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2004,
cap. XXIII, item 240, p. 309.

Revista O Reformador de junho de 2004