Caros amigos leitores , gostaríamos, na medida do possível ,contar com a interação de todos ,através de comentários , tornando se seguidores deste blog divulgando para seus conhecidos ,para que assim possamos estudar e aprendermos juntos , solidários e fraternos. Inscrevam-se no blog!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Kardec e Napoleão. Irmão X nos reporta os bastidores no mundo Espiritual para a preparação da chegada do consolador prometido.

KARDEC  E  NAPOLEÃO

Irmão X
 
Logo após o Brumário (9 de Novembro de 1799), quando Napoleão se fizera o primeiro Cônsul da República Francesa, reuniu-se, na noite de 31 de Dezembro de 1799, no coração da latinidade, nas esferas Superiores, grande assembléia, de espíritos sábios e benevolentes, para marcarem a entrada significativa do novo século.
Antigas personalidades de Roma Imperial, pontífices e guerreiros das Gálias, figuras notáveis da Espanha, ali se congregavam à espera do expressivo acontecimento.
Legiões dos Césares, com os seus estandartes, falanges de batalhadores do mundo gaulês e grupos de pioneiros da evolução hispânica, associados a múltiplos representantes das Américas, guardavam linhas simbólicas de posição de destaque.
Mas não somente os latinos se faziam representados no grande conclave. Gregos ilustres, lembrando as confabulações da Acrópole gloriosa, israelitas famosos, recordando o Templo de Jerusalém, deputações eslavas e germânicas, grandes vultos da Inglaterra, sábios chineses, filósofos hindus, teólogos budistas, sacrificadores das divindades olímpicas, renomados sacerdotes da Igreja Romana e continuadores de Maomet ali se mostravam, como em vasta convocação de forças da ciência e da cultura da Humanidade.
No concerto das brilhantes delegações que aí formavam, com toda a sua fulguração representativa, surgiam Espíritos de velhos batalhadores do progresso que voltariam à liça carnal ou que a seguiriam, de perto, para o combate à ignorância e a miséria, na laboriosa preparação da nova era da fraternidade e da luz.
No deslumbrante espetáculo da Espiritualidade Superior, com a refulgência de suas almas, achavam-se Sócrates, Platão Aristóteles, Apolônio de Tiana, Orígenes, Hipócrates, Agostinho, Fénelon, Giordano Bruno, Tomás de Aquino, S.Luis de França, Vicente de Paulo, Joana D’Arc, Tereza d’Avila, Catarina de Siena, Bossuet, Spinoza, Erasmo, Mílton, Cristóvão Colombo, Gutenberg, Galileu, Pascal, Swedenborg e Dante Alighieri para mencionar apenas alguns heróis e paladinos da renovação terrestre; e, em planos menos brilhantes, encontravam-se, no recinto maravilhoso, trabalhadores de ordem inferior, incluindo muitos dos ilustres guilhotinados da Revolução, quais Luís XVI, Maria Antonieta, Robespierre, Danton, Madame Roland, André Chenier, Bailly, Camile Desmoulins, e grandes vultos como Voltaire e Rousseau.
Depois da palavra rápida de alguns orientadores eminentes, invisíveis clarins soaram na direção do plano carnal e, em breves instantes, do seio da noite, que velava o corpo ciclópico do mundo europeu, emergiu, sob a custodia de esclarecidos mensageiros, reduzido cortejo de sombras, que pareciam estranhas e vacilantes, confrontadas com as feéricas irradiações do palácio festivo.
Era um grupo de almas, ainda encarnadas, que, constrangidas pela Organização Celeste, remontavam à vida espiritual, para a reafirmação de compromissos.
À frente, vinha Napoleão, que centralizou o interesse de todos os circunstantes. Era bem o grande corso, com os seus trajes habituais e com o seu chapéu característico.
Recebido por diversas figuras da Roma antiga, que se apressavam em ofercer-lhe apoio e auxilio, o vencedor de Rivoli ocupou radiosa poltrona que, de antemão, lhe fora preparada.
Entre aqueles que o seguiram, na singular excursão, encontravam-se respeitáveis autoridades reencarnadas no Planeta, como Beethoven, Ampère, Fúlton, Faraday, Goethe, João Dálton, Pestalozzi, Pio VII, além de muitos outros campeões da prosperidade e da independência do mundo.
Acanhados no veículo espiritual que os prendia à carne terrestre, quase todos os recém-vindos banhavam-se em lágrimas de alegria e emoção.
O Primeiro-Cônsul da França, porém, trazia os olhos enxutos, não obstante a extrema palidez que lhe cobria a face. Recebendo o louvor de várias legiões, limitava-se a responder com acenos discretos, quando os clarins ressoaram, de modo diverso, como se pusessem a voar para os cimos, no rumo do imenso infinito...
Imediatamente uma estrada de luz, à maneira de ponte levadiça, projetou-se do Céu, ligando-se ao castelo prodigioso, dando passagem a inúmeras estrelas resplendentes.
Em alcançando o solo delicado, contudo, esses astros se transformavam sem seres humanos, nimbados de claridade celestial.
Dentre todos, no entanto, um deles avultava em superioridade e beleza. Tiara rutilante brilhava-lhe na cabeça, como que a aureolar-lhe de bênçãos o olhar magnânimo, cheio de atração e doçura. Na destra, guardava um cetro dourado, a recamar-se de sublimes cintilações...
Musicistas invisíveis, através dos zéfiros que passavam apressados, prorromperam num cântico de hosanas, sem palavras articuladas.
A multidão mostrou profunda reverência, ajoelhando-se muitos dos sábios e guerreiros, artistas e pensadores, enquanto todos os pendões dos vexilários arriavam, silenciosos, em sinal de respeito.
Foi então que o corso se pôs em lágrimas e, levantando-se, avançou com dificuldade, na direção do mensageiro que trazia o báculo de ouro, postando-se genuflexo, diante dele.
O celeste emissário, sorrindo com naturalidade, ergueu-o, de pronto, e procurava abraçá-lo, quando o Céu pareceu abrir-se diante de todos, e uma voz enérgica e doce, forte como a ventania e veludosa como a ignorada melodia da fonte, exclamou para o Napoleão, que parecia eletrizado de pavor e júbilo, ao mesmo tempo:
- Irmão e amigo ouve a verdade, que te fala em meu espirito! Eis-te à frente do apóstolo da fé, que, sob a égide do Cristo, descerrará para a Terra atormentada um novo ciclo de conhecimento...
César ontem, e hoje orientador, rende o culto de tua veneração, ante o pontífice da luz! Renova, perante o Evangelho, o compromisso de auxiliar-lhe a obra renascente!...
Aqui se congregam conosco lidadores de todas as épocas. Patriotas de Roma e das Gálias, generais e soldados que te acompanham nos conflitos da Farsália, de Tapso e de Munda, remanescentes das batalhas de Gergóvia e de Alésia aqui te surpreendem com simpatia e expectação... Antigamente, no trono absoluto, pretendias-te descendente dos deuses para dominar a Terra e aniquilar os inimigos... Agora, porém, o Supremo Senhor concedeu-te por berço uma ilha perdida no mar, para que te não esqueças da pequenez humana e determinou voltasses ao coração do povo que outrora humilhaste e escarneceste, a fim de que lhe garantas a missão gigantesca, junto da Humanidade, no século que vamos iniciar.
Colocado pela Sabedoria Celeste na condição de timoneiro da ordem, no mar de sangue da Revolução, não olvides o mandato para o qual fostes escolhido.
Não acredites que as vitórias das quais fostes investido para o Consulado devam ser atribuídas exclusivamente ao teu gênio militar e político. A Vontade do Senhor expressa-se nas circunstâncias da vida. Unge-te de coragem para governar sem ambição e reger sem ódio. Recorre à oração e à humildade para que te não arrojes aos precipícios da tirania e da violência!...
Indicado para consolidar a paz e a segurança, necessárias ao êxito do abnegado apóstolo que descortinará a era nova, serás visitado pelas monstruosas tentações do poder.
Não te fascines pela vaidade que buscará coroar-te a fronte... Lembra-te de que o sofrimento do povo francês, perseguido pelos flagelos da guerra civil, é o preço da liberdade humana que deves defender, até o sacrifício. Não te macules com a escravidão dos povos fracos e oprimidos e nem enlameies os teus compromissos com o exclusivismo e com a vingança!...
Recorda que, obedecendo a injunções do pretérito, renasceste para garantir o ministério espiritual do discípulo de Jesus que regressa à experiência terrestre, e vale-te da oportunidade para santificar os excelsos princípios da bondade e do perdão, do serviço e da fraternidade do Cordeiro de Deus, que nos ouve em seu glorificado sólio de sabedoria e de amor!
Se honrares as tuas promessas, terminará a missão com o reconhecimento da posteridade e escalarás horizontes mais altos da vida, mas, se as tuas responsabilidades forem menosprezadas, sombrias aflições amontoar-se-ão sobre as tuas horas, que passarão a ser gemidos escuros em extenso deserto...
Dentro do novo século, começaremos a preparação do terceiro milênio do Cristianismo na Terra.
Novas concepções de liberdade surgirão para os homens, a Ciência erguer-se-á a indefiníveis culminâncias, as nações cultas abandonarão para sempre o cativeiro e o tráfico de criaturas livres e a religião desatará os grilhões do pensamento que, até hoje, encarceram as melhores aspirações da alma no inferno sem perdão!...
Confiamos, pois, ao teu espírito valoroso a governança política dos novos eventos e que o Senhor te abençoe!...
Cânticos de alegria e esperança anunciaram nos céus a chegada do século XIX e, enquanto o Espírito da Verdade, seguido por várias cortes resplandecentes, voltava para o Alto, a inolvidável assembléia se dissolvia...
O apóstolo que seria Allan Kardec, sustentando Napoleão nos braços, conchegou-o de encontro ao peito e acompanhou-o, bondosamente, até religá-lo ao corpo de carne, no próprio leito.
....................................................................................................................................
Em 3 de outubro de 1804, o mensageiro da renovação renascia num abençoado lar de Lião, mas o Primeiro-Cônsul da República Francesa, assim que se viu desembaraçado da influência benéfica e protetora do Espírito de Allan Kardec e de seus cooperadores, que retomavam, pouco a pouco, a integração com a carne, confiantes e otimistas, engalanou-se com a púrpura do mando e, embriagado de poder, proclamou-se Imperador, em 18 de maio de 1804, ordenando a Pio VII viesse coroá-lo em Paris.
Napoleão, contudo, convertendo celestes concessões em aventuras sanguinolentas, foi apressadamente situado, por determinação do Alto, na solidão curativa de Santa Helena, onde esperou a morte, enquanto Allan Kardec, apagando a própria grandeza, na humildade de um mestre-escola, muita vez atormentado e desiludido, como simples homem do povo, deu integral cumprimento à divina missão que trazia à Terra, inaugurando a era espírita-cristã, que, gradativamente, será considerada em todos os quadrantes do orbe como a sublime renascença da luz para o mundo inteiro.
 
Livro Cartas e Crônicas - Espírito Irmão X - Psicografia Francisco C. Xavier. 
 
 r
 

sábado, 6 de outubro de 2012

Alegria de Viver esse é o tema de um grande trabalhador ,Jerônimo Mendonça,na seara Espírita, que mesmo paraplégico e cego encontrava forças na fé , na resignação e na necessidade de divulgar a doutrina consoladora nos quatro cantos do Brasil um tarefeiro de Deus que no seu exemplo nos faz refletir o que será necessário para sermos felizes. Assitam e divulguem .


Aprendendo com o Livro dos Espíritos Questão 1.

CAPÍTULO I
 
Conhecer e Amar são duas metas que não poderemos esquecer em todos os nossos caminhos. Esses dois estados d'alma abrir-nos-ão as portas da felicidade, pelas quais poderemos viver em pleno céu, mesmo estando andando e morando na Terra. A Suprema Inteligência está andando conosco e falando constantemente aos nossos ouvidos, em todas as dimensões do entendimento, porém, nós ainda estamos surdos aos Seus apelos e passamos a sofrer as conseqüências da nossa ignorância. Todavia, o intercâmbio entre os dois mundos acelera uma dinâmica sobremodo elevada a respeito das coisas divinas, para melhor compreensão daqueles que dormem, e o Cristo, como guia visível através das mensagens, toca os clarins da eternidade anunciando novo dia de libertação das criaturas, mostrando onde está Deus e que é Deus, que nos espera, filhos do seu Coração, de braços abertos, como Pai de Amor.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

IRRESPONSABILIDADE : Não existem "vítimas da fatalidade"; nós é que somos os promotores do nosso destino. Somos a causa dos efeitos que ocorrem em nossa existência.



"Somos nós mesmos que fazemos os nossos caminhos e depois os denominamos de fatalidade."

Não é coerente que cada um de nós trabalhe para alcançar a própria felicidade? Não é lógico que devemos nos responsabilizar apenas por nossos atos? Não nos afirma a sabedoria do Evangelho que seríamos conhecidos, exclusivamente, pelas nossas obras?
Fazer os outros seguros e felizes é missão impossível de realizar, se acreditarmos que depende unicamente de nós a plenitude de sua concretização. Se assim admitimos, passamos, a partir de então, a esperar e a cobrar retribuição; em outras palavras, a reciprocidade. Não seria mais fácil que cada um de nós conquistasse sua felicidade para que depois pudesse desfrutá-la, convivendo com alguém que também a conquistou por si mesmo? Qual a razão de a ofertarmos aos outros e, por sua vez, os outros a concederem a nós? Por certo, só podemos ensinar ou partilhar o que aprendemos.

Assim disse Pedro, o apóstolo:"Não tenho ouro nem prata; mas o que tenho, isso te dou."!
Dessa maneira, vivemos constantemente colocando nossas necessidades em segundo plano e, ao mesmo tempo, nos esquecendo de que a maior de todas as responsabilidades é aquela que temos para com nós mesmos.

Os acontecimentos exteriores de nossa vida são o resultado direto de nossas atitudes internas. A princípio, podemos relutar para assimilar e entender esse conceito, porque é melhor continuarmos a acreditar que somos vítimas indefesas de forças que não estão sob o nosso controle. Efetivamente, somos nós mesmos que fazemos os nossos caminhos e depois os denominamos de fatalidade.
"Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme ao sentido que se dá a este vocábulo? (..) são pré-determinados? E, neste caso, que vem a ser do livre-arbítrio?", pergunta Kardec aos Semeadores da Nova Revelação. E eles respondem: "A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito fez, ao encarnar (..) Escolhendo-a, instituiu para si uma espécie de destino ... "
É inevitável para todos nós o fato de que vivemos, invariavelmente, escolhendo. 

A condição primordial do livre-arbítrio é a escolha e, para que possamos viver, torna-se indispensável escolher sempre. Nossa existência se faz através de um processo interminável de escolhas sucessivas.

Eis aqui um fato incontestável da vida: o amadurecimento do ser humano inicia-se quando cessam suas acusações ao mundo.

Entretanto, há indivíduos que se julgam perseguidos por um destino cruel e censuram tudo e todos, menos eles mesmos. 

Recusam, sistematicamente, a responsabilidade por suas desventuras, atribuindo a culpa às circunstâncias e às pessoas, bem como não reconhecem a conexão existente entre os fatos exteriores e seu comportamento mental.

 No íntimo, essas pessoas não definiram limites em seu mundo interior e vivem num verdadeiro emaranhado de energias desconexas. Os limites nascem das nossas decisões profundas sobre o que acreditamos ser nossos direitos pessoais.

Nossas demarcações estabelecem nosso próprio território, cercam nossas forças vitais e determinam as linhas divisórias de nosso ser individual. Há um espaço delimitado onde nós terminamos e os outros começam.

Algumas criaturas aprenderam, desde a infância, o senso dos limites com pais amadurecidos. Isso os mantém firmes e saudáveis dentro de si mesmas. Outras, porém, não. Quando atingiram a fase adulta, não sabiam como distinguir quais são e quais não são suas responsabilidades. Muitas construíram muros de isolamento que as separaram do crescimento e da realização interior, ou ainda paredes com enormes cavidades que as tornaram suscetíveis a uma confusão de suas emoções com as de outras pessoas.
Limites são o portal dos bons relacionamentos. Têm como objetivo nos tornar firmes e conscientes de nós mesmos, a fim de sermos capazes de nos aproximar dos outros sem sufocá-los ou desrespeitá-los. Visam também evitar que sejamos constrangidos a não confiar em nós mesmos.

Ser responsável implica ter a determinação para responder pelas conseqüências das atitudes adotadas.
Ser responsável é assumir as experiências pessoais, para atingir uma real compreensão dos acertos e dos desenganos.
Ser responsável é decidir por si mesmo para onde ir e descobrir a razão do próprio querer.

Não existem "vítimas da fatalidade"; nós é que somos os promotores do nosso destino. Somos a causa dos efeitos que ocorrem em nossa existência.
Aceitar o princípio da responsabilidade individual e estabelecer limites descomplica nossa vida, tornando-nos cada vez mais conscientes de tudo o que acontece ao nosso derredor.
Escolhendo com responsabilidade e sabedoria, poderemos transmutar, sem exceção, as amarguras em que vivemos na atualidade. A auto-responsabilidade nos proporcionará a dádiva de reconhecer que qualquer mudança de rota no itinerário de nossa "viagem cósmica" dependerá, invariavelmente, de nós.

Hammed

OS MALEFÍCIOS DA GULA


"A natureza não traçou o limite do necessário em nossa própria organização?
— Sim, mas o homem é insaciável.A natureza traçou o limite de suas necessidades na sua organização, mas os vícios alteraram a sua constituição e criaram para ele necessidades artificiais." (Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Livro Terceiro. Capítulo V. Lei de Conservação. Pergunta 716.)


"A alimentação animal, para o homem, é contrária à lei natural?
- Na vossa constituição física, a carne nutre a carne, pois do contrário o homem perece. A lei de conservação impõe ao homem o dever de conservar as suas energias e a sua saúde, para poder cumprir a lei do trabalho. Ele deve alimentar-se, portanto, segundo o exige a sua organização." (Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Livro terceiro. Capítulo V. Lei de Conservação. Pergunta 723.)


O excesso na alimentação é vício igualmente nocivo ao nosso organismo. Imaginemos a sobrecarga de trabalho que os nossos órgãos são obrigados a desenvolver desnecessariamente, apenas para satisfazer o exagerado prazer da gustação. Todo excesso de trabalho leva ao desgaste prematuro, quer de uma máquina, quer dos órgãos físicos, ou do corpo somático na sua generalidade. O desenvolvimento avantajado e antiestético dos órgãos responsáveis pela digestão caracteriza o glutão.

A gula também é uma manifestação de egoísmo. A porção alimentar que poderia sustentar mais uma ou duas pessoas é totalmente digerida por apenas uma, com visível prejuízo para a coletividade. A quantidade necessária de proteínas, gorduras, sais minerais, etc., para manter o corpo físico, é mais ou menos a metade ou a terça parte daquilo que nós normalmente ingerimos. A nossa alimentação diária já é excessiva. Todos nós normalmente ingerimos mais do que o necessário; somos, em alguma proporção, glutões. As pessoas gordas vivem, de um modo geral, muito menos que as magras e, além disso, estão sujeitas a enfermidades com mais frequência. Grandes quantidades de alimentos deglutidos não significa ter boa saúde.

Teoricamente, a energia alimentar contida numa amêndoa seria suficiente para nos nutrir o dia inteiro, caso soubéssemos e estivéssemos em condições próprias para absorvê-las por completo. Para aproveitar as energias e os valores alimentícios durante as refeições, é necessário que tenhamos a mente tranquilizada e as emoções acalmadas, além de estarmos concentrados na absorção dos mesmos. Quando nas refeições ocorrem discussões e contrariedades, ingerimos mal, provocando perturbações estomacais e impregnamos os alimentos mastigados de vibrações negativas altamente perniciosas ao nosso espírito.

Embora consideremos as proteínas de origem animal importantes à nossa subsistência, a preferência pelos produtos naturais, como cereais, verduras, frutas, ovos, mel, leite e seus derivados, é no nosso entender mais condizente com a natureza da criatura que busca ascender espiritualmente.
Porém, sejamos realistas e não nos fanatizemos seguindo a alimentação frugal como objetivo de ascensão espiritual, pois não é o que entra pela boca que nos faz melhores, mas o esforço que empreendemos em fazer com que através dela saiam apenas palavras confortadoras, dóceis, construtivas.

As gorduras que se acumulam no nosso organismo em forma de triglicérides e colesterol, prejudiciais ao nosso sistema circulatório, devem ser minoradas, até como recomendação médica geral. O comer exagerado é um vício, quando não, um costume que criamos para satisfazer nosso próprio orgulho e o prazer de saborear incontidamente os deliciosos quitutes. É realmente atraente o prazer de comer bem. Quem faz os alimentos se esmera para ser elogiado, agrada-o bem servir socialmente.
Quem aproveita os alimentos não se contém; o sabor não estabelece limites, mais e mais vai sendo engolido. O processo sugestivo é também um meio para se libertar, porém a orientação alimentar para as pessoas excessivamente gordas ou descontroladas nesse sentido deve ser dada por médico especialista, pois o controle alimentar por conta própria pode provocar um desbalanceamento, com graves consequências.

O processo sugestivo entra como meio de reação ao vício. Quando o desejo e os estímulos exagerados do apetite, diante de suculentos pratos e bonitas travessas, nos impulsionam a comer desmedidamente, podemos reagir pensando nos futuros prejuízos ao nosso corpo e nas consequências nocivas ao nosso espírito. Procuremos sempre reagir aos excessos alimentares, contendo os impulsos da gula, principalmente aos domingos, quando procuramos descansar o corpo físico das sobrecargas semanais. Há um preceito que ensina: "devemos terminar as refeições com fome".

Assim fazendo, naturalmente aprenderemos a comer menos, absorvendo melhor as energias alimentícias através de uma atitude tranquila e de uma mentalização positiva nas qualidades substanciosas dos mesmos. Comendo pouco nos alimentamos muito: essa é a chave para adquirir o equilíbrio alimentar e vencer a gula.

16 - AS VIRTUDES


"Qual a mais meritória de todas as virtudes? — Todas as virtudes têm o seu mérito, porque todas são indícios de progresso no caminho do bem. Há virtudes sempre que há resistência voluntária ao arrastamento das más tendências; mas a sublimidade da virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal para o bem do próximo, sem segunda intenção. A mais meritória é aquela que se baseia na caridade mais desinteressada. " (Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Livro Terceiro. Capítulo XII. Perfeição Moral. Pergunta 893.)

Até parece que, em nossos dias, não se usa mais a palavra "virtude". Pouco se comenta, de um modo geral, sobre as virtudes dos homens, antes admiradas e respeitadas, hoje de exemplos tão raros. A impressão que guardamos dos comentários feitos a respeito das virtudes vem possivelmente das educadoras religiosas, na nossa infância, quando pareciam ser qualidades apenas das criaturas santas e angelicais, distantes das nossas próprias possibilidades. Querer ser virtuoso, quando criança, era a imagem do garoto obediente, bem comportado, que não falava nome feio, que não brincava espontaneamente; era a figurinha aureolada, introspectiva, coisa ridícula para as crianças de hoje.

Quem atualmente valoriza as qualidades virtuosas e as procura incentivar? Bem poucos, podemos dizer; é coisa de antigamente, das cidades pequenas, das famílias tradicionais, já não compatível com os padrões sociais das cidades que muito cresceram, onde poucos se conhecem e todos levam as suas vidas despreocupados com a retidão de caráter, a seriedade profissional, a honestidade, a fidelidade conjugal, a boa educação de princípios. Virtude, no entanto, não é algo tão distante assim do nosso modo de ser. Os dicionários assim a definem: "Disposição firme e constante para a prática do bem".

"Há virtude toda vez que há resistência voluntária ao arrastamento das más tendências",
nos afirmam os instrutores espirituais. Então, não é assim tão afastada das nossas possibilidades, mesmo que estejamos desacostumados a falar desses valores, ou mais ainda, de cultivá-los em nós mesmos e no nosso meio.

Temos, nas virtudes, aqueles padrões de comportamento que um dia chegaremos a vivenciar espontaneamente, sem que para isso nos custe algum esforço. Reagiremos de modo natural, por hábito, com bons sentimentos, sem dificuldades. É preciso compreender que a atitude virtuosa deve estar despida do interesse pessoal, ou das intenções ocultas; praticar o bem pelo próprio bem. Dizem-nos os amigos da Espiritualidade: "O sublime da virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal para o bem do próximo, sem intenção oculta". (O Livro dos Espíritos. Pergunta 893.) E a maior qualidade que a virtude pode ter é a de ser praticada com a mais desinteressada caridade, o que lhe confere grandioso mérito.

Características Básicas das Virtudes

Propondo-nos à realização progressiva do nosso auto-aprimoramento, vamos juntos estudar as características básicas das virtudes, isto é, procuremos conhecer seus principais aspectos, o que muito facilitará a sua prática no nosso relacionamento com as pessoas de todas as áreas sociais a que pertençamos.

O Espírito da Verdade, no Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec (Capítulo VI. Item 8. O Cristo Consolador), fala-nos do "devotamento" e da "abnegação", afirmando que a sabedoria humana reside nessas duas palavras.

Diz-nos: "Adotai por divisa estas duas virtudes: devotamento e abnegação, e sereis fortes, porque elas resumem todos os deveres impostos pela caridade e humildade".

"Devotamento" é dedicação, afeição com religiosidade, com sentimento de amor profundo, a uma causa ou a criaturas.

"Abnegação" é desinteresse, desprendimento, renúncia, sacrifício voluntário do que há de egoístico nos desejos e tendências naturais do homem em proveito de uma pessoa, causa ou idéia. (Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Novo Dicionário da Língua Portuguesa.) No Livro dos Espíritos, de Allan Kardec (Capítulo XII. Perfeição Moral. Das Paixões), a pergunta 912 indaga: "Qual o meio mais eficaz de se combater a predominância da natureza corpórea?" O que entendemos ser a predominância da própria natureza animal do homem, a manifestacão dos seus desejos, dos interesses pessoais, das paixões desenfreadas, do egoísmo humano.

A essa pergunta, os instrutores da equipe espiritual da Codificação responderam apenas: "Praticar a abnegação".

Resumindo

Desse apanhado, podemos enumerar de modo simples, como meio para a nossa aferição individual, as características fundamentais das virtudes, como consistindo no seguinte:

a) Disposição firme e constante para a prática do bem;

b) Prática da resistência voluntária ao arrastamento das más tendências;

c) Sacrifício voluntário do interesse pessoal, renunciando pelo bem do próximo — abnegação;

d) Prática da caridade desinteressada, empregada com discernimento para o proveito real dos que dela necessitam;

e) Dedicação com sentimento de amor profundo e desprendimento — devotamento;

"O Fazer o bem por impulso espontâneo, natural, por hábito, sem esforço ou dificuldade".

Ney P. Peres

O REINO DOS CÉUS


E, interrogado pelos fariseus sobre quando havia de vir o Reino de Deus, respondeu-lhes, e disse: o Reino de Deus não vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui, ou ei-lo ali, porque eis que o Reino de Deus está entre vós. (Lucas, 17:20-21) E dizia: a que é semelhante o Reino de Deus, e a que o compararei? E semelhante ao grão de mostarda que um homem, tomando-o, lançou em sua horta, e cresceu, e fez-se grande árvore, e em seus ramos se aninharam as aves do céu. (Lucas, 13:18-19)

E disse outra vez: a que compararei o Reino de Deus? E semelhante ao fermento que uma mulher, tomando-o, escondeu em três medidas de farinha, até que tudo levedou. (Lucas, 13.20-21) O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu, e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo. (Mateus, 13:44) O Reino dos Céus é também semelhante a um homem negociante, que busca boas pérolas.
E, encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a . (Mateus, 13:45-46,) O Reino dos Céus é ainda semelhante a uma rede lançada ao mar, que apanha toda a qualidade de peixes. E, estando cheia, a puxam para a praia, e, assentando-se, apanham para os cestos os bons, os ruins, porém, lançam fora. (Mateus, 13:47-48,)
Nos trechos evangélicos citados, o Mestre deixou bem evidenciado que o Reino dos Céus não existe como lugar confinado, como mansão de repouso eterno nem plano de estagnação, de inércia, ou de contemplação beatífica. Asseverando que o Reino dos Céus virá sem nenhuma demonstração exterior, e, ainda mais, que o tão almejado Reino está perenemente entre nós, Jesus definiu, de modo inequívoco, como deveremos concebê-lo.

E evidente que, se um indivíduo vive em paz com sua consciência e é perseverante na observação dos ensinamentos evangélicos, estará obviamente, vivendo num estado de paz, de serenidade. Por outro lado, se o indivíduo apenas pratica iniqüidades e reluta em seguir as veredas do Bem, estará implicitamente, vivendo num verdadeiro inferno.

O Espiritismo proclama a existência de Planos Superiores da Espiritualidade, onde os Espíritos que bem desempenharam o aprendizado nas "muitas moradas da Casa do Pai" desfrutam das bem-aventuranças peculiares àqueles que souberam assimilar os preceitos da Lei do Amor. Porém essas regiões elevadas não são destinadas à inação, ao descanso eterno ou à contemplação beatífica, tampouco para servirem de reduto aos violentos e aos conspurcadores das Leis de Deus.

No nobre intuito de revelar aos seus pósteros a premente necessidade da preparação das almas para a dignificante tarefa de alcançar o Reino dos Céus, o qual, no dizer de Jesus, só se conquista com as boas obras e não com a violência, o Mestre fez várias comparações concludentes em torno do verdadeiro sentido daquele tão decantado Reino. Nessas maravilhosas demonstrações, o Reino dos Céus foi apresentado sob vários prismas, girando em torno do mesmo significado.
Comparou-o, Jesus, ao grão de mostarda, que, apesar de ser uma das menores sementes, produz enorme vegetação; ao fermento que, mesmo em pequena quantidade, é capaz de levedar grande quantidade de massa; ao tesouro escondido que, quando é achado por um indivíduo, este vende tudo o que tem para poder adquiri-lo; a uma pérola de grande valor, que, quando achada, serve de incentivo para quem a descobriu vender tudo quanto tem, a fim de adquiri-la, e, finalmente, a uma rede lançada ao mar, que, apanhando grande quantidade de peixes, uns são lançados fora, como ruins, e outros guardados como bons.

A máxima "Buscai antes o Reino de Deus e sua justiça e tudo vos será acrescentado", por si só é suficiente para demonstrar que, abrindo o coração para que nele se aninhe o sentimento do Bem, a criatura humana, de uma forma simbólica, estará recebendo a pequena semente que se transformará em sentimentos empolgantes e de grande amplitude, a ponto de essa criatura sentir-se em íntimo contato com as entidades generosas e puras da Espiritualidade Superior, ou seja, do Mundo Maior, as quais, em perfeita similitude com as aves dos céus, dela aproximar-se-ao, atraídas pelos vários ramos da virtude que se irradia da sua alma.

Aquele que sentir em seu interior o despertar para as coisas de Deus, deverá desvencilhar-se de todas as imperfeições, abandonando, de vez, todos os impulsos menos edificantes. Nesse caso, deverá agir como aquele indivíduo que, encontrando um tesouro escondido, uma pérola de grande valor, decidiu despojar-se de tudo quanto tinha, para adquirir aquilo que considerava de maior valor. O Ser que pressentir, em sua alma, que as primícias do Reino dos Céus o estão bafejando com seus influxos, dada a circunstância de desejar palmilhar o caminho do Bem, deverá relegar para plano secundário os vícios, os maus pendores e as preocupações menos puras, a fim de possuir aquele Bem maior.

Fazendo analogia entre o Reino dos Céus e uma rede cheia de peixes, da qual o pescador separará os bons, dos ruins, os bons, guardando na cesta, e atirando de volta ao mar aqueles que foram considerados ruins, Jesus nos legou um ensinamento velado, do qual devemos subtrair o Espírito que vivifica.

O Reino dos Céus é para todos os filhos de Deus. A rede generosa, da qual o Cristo fala em seu ensinamento, é lançada para toda a Humanidade, indistintamente, assim como Deus faz a chuva beneficiar bons e maus e o Sol brilhar sobre justos e injustos. Muitos, porém, não dão guarida ao excesso de misericórdia do Pai Celestial e, quando ultrapassarem o limiar do túmulo, ocorrerá a separação descrita no Evangelho, simbolizada no levantamento da rede e a consequente separação dos peixes; aqueles que se compenetraram dos seus deveres e apenas praticaram o Bem, sem mistura de mal, entrarão no gozo da essência dignificante do Espírito, e aqueles que perverteram suas obrigações, que apenas deram guarida ao mal, serão relegados aos planos umbralinos — os planos terra-a-terra — onde os Espíritos ociosos e maldosos curtirão as dores oriundas de um dever não-cumprido, de uma tarefa fracassada. No dizer do Cristo tais criaturas serão relegadas ao local onde "haverá choros e ranger de dentes".

Quando alguém nos disser que o Reino dos Céus está ali ou acolá, não devemos dar crédito. O tão aspirado Reino está dentro de nós, e sua penetração em nosso coração se fará sem nenhuma manifestação exterior, ou seja, será pela simples prática das boas obras, conforme nos ensinou Jesus.

Paulo A. Godoy

Casos controvertidos do Evangelho

O BATISMO


"Todavia, não era o próprio Jesus que batizava, mas os seus discípulos." - (João, 4:2)
A cerimônia do Batismo, no verdadeiro sentido de Banho Expiatório, não foi criada por João Batista. Essa prática já existia na Índia, milhares de anos antes de existir na Europa, tendo dali passado para o Egito. Na índia, eram as águas do rio Ganges consideradas sagradas, tendo propriedade purificadora. Do Ganges passou-se para o rio Indus, igualmente considerado sagrado, de onde se propagou para o rio Nilo, também tido na conta de sagrado, para, por fim, terminar no rio Jordão, onde João usava as águas para o mesmo fim e como um simples ritualismo.

Coube, pois, a S. Cipriano, a tarefa de criar o dogma do Batismo de Água, embora S. Tertuliano dissesse que "as crianças não precisam dessa formalidade por serem jovens e não saberem o que fazem. Até os adultos, disse ele, podem ser dispensados desse rito, desde que possuam fé.

Os primitivos cristãos não batizavam seus filhos ao nascer. Esperavam anos e anos, para que, quando o fizessem, pudesse esse rito apagar todos os pecados cometidos, sendo esse ato, às vezes, adiado até a hora da morte. Entre os judeus, a Circuncisão era a prática ritualística aplicada às crianças, e não o Batismo de Água. O Evangelho de Lucas (2:21) diz, textualmente: E quando os oito dias foram cumpridos para circuncidar o menino, foi lhe dado o nome de Jesus.

Segundo os teólogos, o Batismo é um sacramento que tem a propriedade de extirpar o pecado original de Adão e Eva, dois personagens lendários que nunca existiram na face da Terra.
Demais, Deus seria extremamente injusto se fizesse as Humanidades de todos os tempos contraírem o mesmo pecado de duas criaturas ingênuas.

O Evangelista Marcos (1:9) afirma: E aconteceu naqueles dias que Jesus, indo de Nazaré, da Galiléia, foi balizado por João, no Jordão. Aqui cabem várias indagações: Foi Jesus também purificado pelas águas do Jordão. Também foi Ele contaminado pelo decantado pecado original? Porventura não foi Jesus o mais elevado Espírito encarnado na Terra? Não é Ele o Ungido de Deus?

O Cristo submeteu-se ao Batismo de Água, praticado por João, para não menosprezar o cerimonial que o seu Precursor havia escolhido para atrair as multidões e prepará-las para o próximo advento do Messias. E fato notório que João, sentindo que o Mestre era muito superior a ele, lhe pedisse que o batizasse, tendo Jesus se negado a fazê-lo, dizendo: "Deixa por agora", demonstrando, assim, o pouco apreço que dava a esse ritual externo, uma vez que Ele havia descido à Terra para combater a superstição, o fanatismo e o obscurantismo.

Antes de ter visto o Cristo, disse João Batista: Aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de desatar; ele vos batizará com o Espírito e com fogo. (Mateus, 3:11). Após conhecer o Mestre e capacitar-se de sua superioridade, João Batista afirmou: É necessário que eu diminua, para que ele cresça (João, 3:30), reconhecendo, assim, que a sua tarefa de Precursor estava no fim, e o Batismo de Água deveria ser suplantado pelo Batismo do Fogo.

Alguns dos apóstolos de Jesus também foram discípulos de João Batista, por isso, continuaram a dar apreço ao Batismo de Água, mas, conforme disse João em seu Evangelho (4:2), Jesus mesmo não batizava, mas os seus discípulos.

Paulo de Tarso, o intrépido apóstolo que combatia a idolatria e os ritualismos de qualquer natureza, escreveu em sua I Epístola aos Coríntios (1:14-17): Dou graças a Deus, porque a nenhum de vós batizei, senão Crispo e a Caio, para que ninguém diga que fostes batizados em meu nome. E batizei também a família de Estéfanes; além deles, não sei se batizei algum outro. Porque Cristo me enviou, não para batizar, mas para evangelizar. Paulo dava graças a Deus por ter parado de batizar, como o faziam alguns dos discípulos de Jesus.

Muitas pessoas acham que o fato de ter o Cristo sido batizado dá autenticidade a esse ritual; entretanto, convém lembrar que o Mestre também foi circuncidado, e nenhum cristão adota essa prática, que é apenas cumprida pelos judeus. Mateus, em (3:16), nada fala sobre o Espírito Santo, diz apenas: O Espírito de Deus desceu sobre ele como uma pomba.

O Batismo de Fogo é uma difícil fase da vida do ser humano. O arrependimento sincero de seus erros e as transgressões de vidas passadas são a fase preparatória para o Batismo de Fogo, o qual acontece quando ele inicia uma luta pela sua renovação, reparando os males cometidos em outras vidas. É quando, também, dá demonstração de seu propósito de reformar-se interiormente. Simbolicamente, significa esterilizar-se das contaminações contraídas no decurso de suas várias reencarnações.

O Batismo pelo Espírito é a constância na prática do Bem, com a consequente evolução moral, obtendo, por mérito, o reconhecimento do Plano Espiritual Superior. É quando o indivíduo consegue sintonia com o Mundo Maior, como sucedeu com os apóstolos de Jesus, no Dia de Pentecostes. Isso é colimado, através de um árduo Batismo de Fogo, quando ele luta, sem esmorecimento, num longo aprendizado, vencendo as provações e se aprimorando espiritualmente.
Jesus Cristo desceu à Terra, a fim de submeter todos os seus irmãos, filhos de Deus, ao Batismo de Fogo e do Espírito, pois somente, assim, todos os homens e mulheres atingirão a reforma interior, o que, aliás, o objetivo básico do advento do Cristo, na Terra.
Paulo A. Godoy
Casos controvertidos do Evangelho,

PENAS ETERNAS


"Haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende,
mais do que por noventa e nove justos que não necessitam
de arrependimento." (Lucas, 15:7)
Para melhor poder elucidar este tema, torna-se imperiosa a transcrição de alguns trechos do Velho e do Novo Testamentos:
Eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo. (João, 12:47)
Eu sou o bom Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas. (João, 10:11)
Vinde a mim todos os que estão sobrecarregados e oprimidos, e eu vos aliviareis.(Mateus, 11:28)
Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores. (Marcos, 2:17)
Porque qualquer que pede recebe; e quem busca, acha; e a quem bate, abrir-se-lhe-á. (Lucas, 11:10)
Por mim mesmo juro, disse o Senhor Deus, que não quero a morte do ímpio, senão que ele se converta, que deixe o mau caminho e que viva. (Ezequiel, 33:11)
Conforme se depara das citações acima, os quatro evangelistas são unânimes na demonstração da amplitude do amor de Deus para com suas criaturas.
Os livros dos profetas, de forma idêntica, atestam o desvelo que Deus tem para com o gênero humano e a transcrição que fizemos acima, de um tópico do livro de Ezequiel, não deixa pairar qualquer dúvida sobre essa assertiva.
Se as religiões afirmam que o Cristo veio para salvar o mundo e chamar os pecadores, como conceber a validade de dogmas que conflitam com essas afirmações?
Como poderia se conceber um Pai que demonstra o mais efusivo amor para com suas criaturas, ao ponto de enviar Jesus Cristo para nos trazer uma mensagem de vida eterna, pagando no cimo do Calvário essa sua ousadia, tolerar em sua justiça a existência de penas eternas e irremissíveis?
A proclamação de Jesus de que há mais alegria no Céu por um pecador que se regenera do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento, representa o mais insofismável repúdio às suposições inconsistentes sobre a existência de seres devotados eternamente à prática do mal e de lugares circunscritos para a aplicação de penalidades sem remissão.
Como admitir a idéia de um Pai que situa seus filhos em vários planos de aprendizagem para, face ao menor deslize, condená-los, de forma inapelável, a um inferno tenebroso, chefiado por um arguto e despótico deus do mal, que faz perenemente afrontas ao Criador de todas as coisas? A justiça de Deus, em tais circunstâncias, seria defectível e facilmente sobrepujada pela justiça dos homens, a qual, em muitos casos, concede o sursis e dá aos réus a oportunidade de novos recomeços.
Se os pais terrenos, apesar de suas imperfeições, dão sempre a seus filhos o que há de melhor e, se estes transgridem suas ordenações não lhes negam a oportunidade de novas experiências, como negar a Deus, que é a expressão máxima de perfeição, a concessão de regalias equivalentes?
O Espiritismo, que surgiu na Terra com o objetivo primário de restaurar o autêntico Cristianismo, não pode jamais pactuar com doutrinas que apresentam um Deus unilateral, vingativo, rancoroso e despótico, em flagrante contraste com tudo aquilo que o Mestre Nazareno veio nos ensinar. O progresso humano não comporta mais postulados retrógrados que objetivem manter os homens acorrentados às férreas cadeias de dogmas esdrúxulos, verdadeiros resíduos de crenças antigas, que já não têm razão de existir.
Quando o apóstolo afirma que o amor cobre a multidão de pecados, é incisivo na demonstração de que qualquer falha pode ser remida pela prática das leis do amor. Isso anula os conceitos de penas eternas, de inferno habitado por legiões de seres que viveriam eternamente na prática do mal e que, persistentemente, atormentariam as almas que estivessem expiando nas chamas infernais o crime de terem sido fracas e sujeitas a quedas.
Jamais poderia Deus ter criado pigmeus para exigir deles obra de gigantes.
O Espírito do homem foi criado simples e ignorante, sendo situado nos vários planos de aprendizagem a fim de se despojar das imperfeições e, através dos séculos, ser guindado à situação de Espírito angelical. Se a sua natural fraqueza e imperfeição origina quedas repetidas, no desenrolar das reencarnações, não seria lógico o Criador não lhe conceder oportunidade de soerguimento e consentir a consumação de tão odienta condenação eterna.
O Espiritismo nos apresenta Deus em toda a sua magnitude, revestido dos seus verdadeiros atributos de Pai de amor e misericórdia, de justiça e de perdão. A Doutrina dos Espíritos não nega a penalidade futura, pelo contrário, confirma-a; o que, entretanto, não aceita é essa penalidade revestida de caráter eterno e a existência de inferno localizado.
Seja qual for a duração dessa penalidade transitória, ela terá um epilogo, próximo ou remoto. A alma humana tem sempre a oportuunidade de reencetar a marcha rumo à sublimação.
Por isso disse Jesus: Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores.
Paulo A. Godoy
Livro: O Evangelho Pedi Licença

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Kardec, modelo de devotamento e abnegação



Kardec, modelo de devotamento e abnegação

O devotamento e a abnegação são uma prece contínua e encerram um ensinamento profundo. A sabedoria humana reside nessas duas palavras.”[1]

            Kardec foi um dos mais sólidos modelos de devotamento e abnegação. Aqueles que leem com atenção seus escritos publicados na Revista Espírita colhem alguns aspectos do seu caráter, de suas virtudes que, apesar de sua modéstia e discrição, ressaltam aqui e ali.
            Com o intuito de realçar as qualidade desse nobre Espírito, a quem devemos o legado da ciência espírita, é que garimpamos alguns dos seus escritos que evidenciam seu bom senso e suas virtudes.
            Sabe-se o quanto o Mestre provou da zombaria, da calúnia, da maledicência e do deboche por parte daqueles que não compreenderam a nobre missão que essa alma generosa aceitou desempenhar na Terra, por amor à humanidade.
            A forma como que ele viveu, como enfrentou as mais difíceis situações, os mais furiosos adversários, ficam evidentes em suas obras, em suas próprias palavras, e servem ao aprendizado daqueles que buscam conquistar virtudes e desejam aprender com os exemplos práticos desse Espírito notável, que ficou conhecido na Terra como Allan Kardec.

Ao deparar-se com a fama, ele teve que renunciar ao seu gosto pela quietude ...

            Na propriedade que possuo e que me fica como sobra daquilo que a má-fé não me pôde arrancar, podíamos viver tranquilamente e longe da confusão dos negócios. Tirando-me da obscuridade, o Espiritismo veio lançar-me numa nova via; em pouco tempo vi-me arrastado num movimento que estava longe de prever. Quando concebi a ideia do Livro dos Espíritos, minha intenção era de não me colocar em evidência e de ficar incógnito; mas, prontamente ultrapassado, isto não me foi possível: tive que renunciar ao meu gosto pela solitude, sob pena de abdicar a obra empreendida e que crescia dia a dia. Foi-me preciso seguir o seu impulso e tomar-lhe as rédeas. Se meu nome tem agora alguma popularidade, não fui eu, certamente, que a busquei, pois é evidente que não a devo nem à propaganda, nem à camaradagem da imprensa, e que jamais me aproveitei de minha posição e de minhas relações para me lançar na sociedade, quando isto teria sido fácil.[2]

Coragem, firmeza, humildade e sacrifício...

   “Mas, à medida que a obra crescia, um horizonte mais vasto desenrolava-se à minha frente, cujos limites recuavam. Compreendi então a imensidade de minha tarefa e a importância do trabalho que me restava fazer para completá-la. Longe de me apavorar, as dificuldades e os obstáculos redobraram minha energia; vi o objetivo e resolvi atingi-lo, com a assistência dos bons Espíritos. Eu sentia que não tinha tempo a perder e não o perdi em visitas inúteis nem em cerimônias ociosas. Foi a obra de minha vida. Para ela dediquei todo o meu tempo; a ela sacrifiquei meu repouso e a minha saúde, porque diante de mim o futuro estava escrito em caracteres irrefutáveis. Fi-lo por meu próprio impulso, e minha mulher, que não é nem mais ambiciosa nem mais interesseira que eu, concordou plenamente com meus pontos de vista e me secundou na tarefa laboriosa, como o faz ainda, por um trabalho por vezes acima de suas forças, sacrificando sem pesar os prazeres e distrações do mundo, aos quais sua posição de família a tinham habituado.”[3]

Privações dos interesses materiais em proveito da divulgação da Doutrina

“Sem nos afastarmos de nosso gênero de vida, essa posição excepcional não deixou de criar-nos necessidades às quais apenas meus próprios recursos não permitiam prover. Seria difícil imaginar a multiplicidade de despesas que ela acarreta, e que sem isso eu teria evitado. A necessidade de morar em duas residências é, como já disse, um acréscimo de gastos, pela obrigação de ter todo o mobiliário em dobro, sem contar uma porção de gastos miúdos exigidos por essa dupla habitação e as perdas que resultam da negligência de meus interesses materiais, relegados por uma série de trabalhos que me absorvem todo o tempo. Não é uma queixa que formulo, pois minhas ocupações atuais são voluntárias; é um fato que constato, em resposta àqueles que dizem que tudo é lucro para mim no Espiritismo. Quanto aos gastos especiais ocasionados por minha posição, seria impossível enumerá-los, mas, se considerardes que tenho anualmente mais de oitocentos francos de despesas em porte de cartas, independentemente das viagens, e que tenho a necessidade de ligar-me a alguém para me ajudar, e outros pequenos gastos indispensáveis, compreendereis que não exagero dizendo que minhas despesas anuais, que foram crescendo incessantemente, hoje estão mais que triplicadas. Pode-se fazer uma ideia aproximada, a quanto pode se elevar este excedente em oito anos, tomando a média de 6.000 francos por ano. Ora, ninguém contestará a utilidade destas despesas para o sucesso da doutrina, que evidentemente se teria enfraquecido se eu tivesse permanecido no meu retiro, sem ver ninguém e sem as numerosas relações que mantenho diariamente. É o que, entretanto, eu teria sido obrigado a fazer, se nada me tivesse vindo em auxílio.
Pois bem, senhores, o que me proporcionou esse suplemento de recursos foi o produto de minhas obras. Digo com satisfação que foi com o meu próprio trabalho, com o fruto de minhas vigílias que provi, pelo menos em sua maior parte, às necessidades materiais da instalação da doutrina. Assim, eu trouxe uma larga quota-parte à caixa do Espiritismo. Deus quis que ele encontrasse em si mesmo os seus primeiros meios de ação. No princípio eu lamentava que minha pouca fortuna não me permitisse fazer o que eu queria fazer pelo bem da causa, mas hoje aí vejo o dedo da Providência e a realização desta predição tantas vezes repetida pelos bons Espíritos: “Não te inquietes com nada. Deus sabe o que te é preciso e saberá provê-lo.”
Se eu tivesse empregado o produto de minhas obras no aumento de meus prazeres materiais, isto teria resultado em prejuízo do Espiritismo, contudo, ninguém teria tido o direito de objetar, porque eu era bem senhor de dispor à vontade daquilo que só devia a mim mesmo; mas, porque me privava antes, podia privar-me depois; penso que o aplicando à obra, ninguém achará que seja dinheiro mal empregado e os que ajudam na propagação das obras não poderão dizer que trabalham para me enriquecer.[4]

Enfrentando a calúnia e a difamação...

            “Falaram muito dos lucros que eu obtinha com as minhas obras; ninguém sério acredita realmente em meus milhões, malgrado a afirmação dos que diziam saber de boa fonte que eu tinha um estilo de vida principesco, equipagens a quatro cavalos e que em minha casa só se pisava em tapetes de Aubusson. (Revista de junho de 1862). A despeito do que tenha dito, além disso, o autor de uma brochura que conheceis, e que prova, por cálculos hiperbólicos, que o orçamento das minhas receitas ultrapassa a lista civil do mais poderoso soberano da Europa, porque, só na França, vinte milhões de espíritas são meus tributários (Revista de junho de 1863), há um fato mais autêntico do que os seus cálculos. É que jamais pedi qualquer coisa a quem quer que seja, e ninguém jamais me deu nada, a mim pessoalmente; numa palavra, não vivo às custas de ninguém, pois das somas que me foram voluntariamente confiadas no interesse do Espiritismo, nenhuma parcela foi desviada em meu proveito.
            Minhas imensas riquezas proviriam, pois, de minhas obras espíritas. Embora essas obras tenham tido um sucesso inesperado, basta ter poucas noções de negócios de livraria para saber que não é com livros filosóficos que se amontoam milhões em cinco ou seis anos, quando se tem sobre a venda direitos autorais de apenas alguns cêntimos por exemplar. Mas, muito ou pouco, sendo esse produto o fruto de meu trabalho, ninguém tem o direito de se imiscuir no emprego que dele faço, mesmo que se elevasse a milhões, considerando-se que a venda dos livros, assim como a assinatura da Revista, é facultativa e não é imposta em nenhuma circunstância, nem mesmo para assistir às sessões da Sociedade, ninguém tem nada com isto. Comercialmente falando, estou na posição de todo homem que colhe o fruto de seu trabalho; corro o risco de todo escritor, que pode vencer como pode fracassar.”
            “Em todos os tempos temos tido de que viver, muito modestamente, é certo, mas o que teria sido pouco para certa gente nos bastava, graças aos nossos gostos e aos nossos hábitos de ordem e de economia. À nossa pequena renda vinha juntar-se o produto das obras que publiquei antes do Espiritismo, e o de um modesto emprego que tive de deixar quando os trabalhos da Doutrina absorveram todo o meu tempo.”
            “Posto que, sob este ponto de vista, eu não tenha contas a prestar, creio útil, pela própria causa à qual me votei, dar algumas explicações.
            “Para começar, direi que não sendo as minhas obras minha propriedade exclusiva, sou obrigado a comprá-las do meu editor e a pagá-las como um livreiro, com exceção da Revista; que o lucro se acha singularmente diminuído pelas obras que não são vendidas e pelas distribuições gratuitas, feitas no interesse da Doutrina, a pessoas que sem isto delas estariam privadas. Um cálculo muito simples prova que o preço de dez volumes perdidos ou doados, que não deixo de pagar, basta para absorver o lucro de cem volumes. Isto seja dito à guisa de informação e entre parênteses. Tudo somado e feito o balanço, contudo resta alguma coisa. Imaginai a cifra que quiserdes. O que faço com ela? Isto é o que mais preocupa certas criaturas.”

Estilo de vida simples...

            “Quem quer que outrora tenha visto a nossa intimidade e a veja hoje, pode atestar que nada mudou em nossa maneira de viver depois que passei a ocupar-me do Espiritismo. Ela é agora tão simples quanto era outrora. Então é certo que os meus lucros, por enormes que sejam, não servem para nos dar os prazeres do luxo. Será que eu teria a mania de entesourar para ter o prazer de contemplar meu dinheiro? Não penso que o meu caráter e os meus hábitos jamais tenham podido fazê-lo supor. Por que as coisas são assim? Considerando-se que disso não tiro proveito, quanto mais fabulosa a soma, mais embaraçosa a resposta. Um dia saberão a cifra exata, assim como o emprego detalhado, e os criadores de histórias poderão economizar a imaginação.”[5]

Um legado de desprendimento e abnegação...

“Pessoalmente, e embora parte ativa do comitê, não constituiremos sobrecarga ao orçamento, nem por emolumentos, nem por indenização de viagens, nem por uma causa qualquer. Se jamais pedimos algo para nós, ainda menos o faríamos nesta circunstância; nosso tempo, nossa vida, todas as nossas forças físicas e intelectuais pertencem à Doutrina. Declaramos, pois, formalmente, que nenhuma parte dos recursos de que disporá o comitê será desviada em nosso proveito.
Ao contrário, a ele trazemos nossa quota-parte:

1º - Pela cessão do lucro de nossas obras, feitas e por fazer;
2º - Pelo aporte de valores mobiliários e imobiliários.
Assim, fazemos votos para a realização do nosso plano no interesse da Doutrina, e não para criarmos uma posição para nós, da qual não necessitamos. Foi para preparar os caminhos desta instalação que até hoje consagramos o produto de nossos trabalhos, como dissemos acima. Se nossos meios pessoais não nos permitem fazer mais, pelo menos teremos a satisfação de nela haver posto a primeira pedra.[6]

Reconhecimento, gratidão e modéstia...

Senhoras, senhores, e vós todos, meus caros e bons irmãos no Espiritismo.
A acolhida tão amiga e benevolente que recebo entre vós, desde a minha chegada, seria bastante para me encher de orgulho, se eu não compreendesse que tais testemunhos se dirigem menos à pessoa do que à Doutrina, da qual não passo de um dos mais humildes obreiros. É a consagração de um princípio e me sinto duplamente feliz, porque esse princípio deve um dia assegurar a felicidade do homem e o repouso da Sociedade, quando for bem compreendido, e ainda melhor quando for praticado. Seus adversários só o combatem porque não o compreendem. Cabe a nós; cabe aos verdadeiros espíritas, àqueles que veem no Espiritismo algo mais do que experiências mais ou menos curiosas, fazê-lo compreendido e propagá-lo, tanto pregando pelo exemplo quanto pela palavra. O Livro dos Espíritos teve como resultado demonstrar o seu alcance filosófico. Se esse livro tem qualquer mérito, seria presunção minha orgulhar-me disso, porque a doutrina que ele encerra não é criação minha. Toda honra pelo bem que ele fez cabe aos sábios Espíritos que o ditaram e que quiseram servir-se de mim. Posso, pois, ouvir o elogio sem que seja ferida a minha modéstia, e sem que o meu amor-próprio por isso fique exaltado. Se eu desejasse prevalecer-me disto, certamente teria reivindicado a sua concepção, em vez de atribuí-la aos Espíritos; e se se pudesse duvidar da superioridade daqueles que cooperaram, bastaria considerar a influência que ele exerceu em tão pouco tempo só pelo poder da lógica, e sem qualquer dos meios materiais próprios para superexcitar a curiosidade.
            Seja como for, senhores, a cordialidade do vosso acolhimento será para mim um poderoso encorajamento na tarefa laboriosa que empreendi e da qual fiz a razão de minha vida, porque me dá a certeza consoladora de que os homens de coração já não são tão raros neste século materialista, como gostam de proclamá-lo. Os sentimentos que fazem nascer em mim esses testemunhos benevolentes são melhor compreendidos do que expressados; e o que lhes dá, aos meus olhos, um valor inestimável, é que não têm por móvel qualquer consideração pessoal. Eu vô-lo agradeço do fundo do coração, em nome do Espiritismo, sobretudo em nome da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, que se sentirá feliz pelas demonstrações de simpatia que tendes a bondade de lhe dar, e orgulhosa de contar em Lyon tão grande número de bons e leais confrades. Permiti-me retraçar, nalgumas palavras, as impressões que levo de minha breve passagem entre vós.[7]

Prudência, indulgência e firmeza de propósitos...

Se os meus princípios são falsos, por que não apresentam outros que os substituam, fazendo-os prevalecer? Ao que parece, entretanto, de modo geral eles não são julgados irracionais, já que encontram aderentes em tão grande número. Mas, não será exatamente isso que excita o mau humor de certas pessoas? Se esses princípios não encontrassem partidários, se fossem ridículos, desde o primeiro enunciado seguramente deles não se falaria.
E quanto aos outros, os que pretendem que não avanço bastante rapidamente, esses desejariam me empurrar, - com boa intenção, quero crer, pois é sempre melhor pressupor o melhor que o pior, em um caminho onde não quero me arriscar. Sem, pois, me deixar influenciar seja pelas ideias de uns, seja pelas de outros, sigo a rota que eu mesmo tracei: tenho um objetivo, vejo-o, sei como e quando o atingirei e não me inquietam os clamores dos que passam por mim.
Crede, Senhores, as pedras não faltam em meu caminho. Passo por cima delas, mesmo das mais altas e pesadas. Se se conhecesse a verdadeira causa de certas antipatias e de certos afastamentos, muitas surpresas nos aguardariam![8]

Fé na vida futura, respeito, humildade ante a lisonja e outras armadilhas da inveja

É ainda preciso, entretanto, mencionar as pessoas que são postas, relativamente a mim, em posições falsas, ridículas e comprometedoras, e que procuram se justificar, em última instância, recorrendo a pequenas calúnias: os que esperavam seduzir-me pelos elogios, crendo poder levar-me a servir aos seus desígnios e que reconheceram a inutilidade de suas manobras para atrair minha atenção; aqueles que não elogiei nem incensei e que isso esperavam de mim; aqueles, enfim, que não me perdoam por ter adivinhado suas intenções e que são como a serpente sobre a qual se pisa. Se todas essas pessoas decidissem se colocar, por um instante sequer, em uma posição extraterrena e ver as coisas um pouco mais do alto, compreenderiam bem a puerilidade de quanto as preocupa e não se espantariam com a pouca importância que a tudo isso dão os verdadeiros espíritas. É que o Espiritismo abre horizontes tão vastos que a vida corporal, curta e efêmera, se apaga com todas as suas vaidades e suas pequenas intrigas, ante o infinito da vida espiritual.
Não devo, entretanto, omitir uma censura que me foi endereçada: a de nada fazer para trazer de novo a mim as pessoas que se afastam. Isso é verdadeiro e a reprovação fundamentada; eu a mereço, pois jamais dei um único passo nesse sentido e aqui estão os motivos de minha indiferença. Aqueles que de mim se aproximam, fazem-no porque isto Ihes convém; é menos por minha pessoa do que pela simpatia que Ihes despertam os princípios que professo. Os que se afastam fazem-no porque não Ihes convenho ou porque nossa maneira de ver as coisas reciprocamente não concorda. Por que, então, iria eu contrariá-los, impondo-me a eles? Parece-me mais conveniente deixá-los em paz. Ademais, honestamente, carece-me tempo para isso. Sabe-se que minhas ocupações não me deixam um instante para o repouso. Além disso, para um que parte, há mil que chegam. Julgo um dever dedicar-me, acima de tudo, a estes e é isso que faço. Orgulho? Desprezo por outrem? Oh! Não! Honestamente, não! Eu não desprezo ninguém; lamento os que agem mal, rogo a Deus e aos Bons Espíritos que façam nascer neles melhores sentimentos;  e isso é tudo. Se retornam, são sempre recebidos com júbilo. Mas correr ao seu encalço, isso não me é possível fazer, mesmo em razão do tempo que de mim reclamam as pessoas de boa vontade, e, depois, porque não empresto a certos indivíduos a importância que eles a si próprios atribuem. Para mim, um homem é um homem, isto apenas! Meço seu valor por seus atos, por seus sentimentos, nunca por sua posição social. Pertença ele às mais altas camadas da sociedade, se age mal, se é egoísta e negligente de sua dignidade é, a meus olhos, inferior ao operário que procede corretamente, e eu aperto mais cordialmente a mão de um homem humilde, cujo coração estou a ouvir, do que a de um potentado cujo peito emudeceu. A primeira me aquece, a segunda me enregela.
Homens da mais alta posição honram-me com sua visita, porém nunca, por causa deles, um operário ficou na antecâmara. Muitas vezes, em meu salão, o príncipe se assenta ao lado do operário; se se sentir humilhado, eu direi que ele não é digno de ser espírita. Mas sinto-me feliz em dizer, eu os vi, muitas vezes, apertarem-se as mãos, fraternalmente, e, então, um pensamento me ocorria: "Espiritismo, eis um dos teus milagres; este é o prenúncio de muitos outros prodígios!"[9]

Tolerância, moderação, bondade, benevolência, singeleza, dedicação e amorosidade...

“Dependeria de mim abrir as portas da alta sociedade, porém nunca fui nelas bater. Isso exigiria um tempo que prefiro empregar mais utilmente. Coloco em primeira instância o consolo que é preciso oferecer aos que sofrem, erguer a coragem dos caídos, arrancar um homem de suas paixões, do desespero, do suicídio, detê-lo talvez no limiar do crime! Não vale mais isto do que os lambris dourados? Guardo milhares de cartas que para mim mais valem do que todas as honrarias da Terra e que olho como verdadeiros títulos de nobreza. Assim, pois, não vos espanteis se deixo partir aqueles que me dão as costas.
Tenho adversários, eu sei! Mas o número deles não é tão grande quanto poderia fazer supor a enumeração mencionada. Eles se encontram nos grupos que citei, mas são apenas indivíduos isolados e seu número pouca coisa é em comparação com os que desejam testemunhar-me sua simpatia. Além disso nunca conseguiram perturbar-me o repouso, nem uma vez sequer suas maquinações e suas diatribes me emocionaram e devo acrescentar que essa profunda indiferença de minha parte, o silêncio que oponho aos seus ataques, não é o que os exaspera menos. Por mais que façam, jamais conseguirão fazer-me sair da moderação e da regra que tenho por conduta. Nunca se poderá dizer que respondi à injúria com injúria. As pessoas que me conhecem na intimidade podem dizer se jamais os mencionei; se alguma vez, na Sociedade, foi dita uma única palavra, se foi feita uma única alusão relativamente a qualquer um deles. Mesmo pela "Revista” jamais respondi às suas agressões, se dirigidas à minha pessoa, e Deus sabe que elas não têm faltado!
De que adianta, ademais, seu malquerer? De nada! Nem contra a doutrina nem contra mim. A doutrina espírita prova, por sua marcha progressiva, que nada tem a temer. Quanto a mim, não ocupo nenhuma posição, por isso nada existe que me pode ser tirado; não peço nada, nada solicito e, assim, nada me pode ser recusado. Não devo nada a ninguém, desse modo nada há que me possa ser cobrado; não falo mal de ninguém, nem mesmo daqueles que o dizem de mim. Em que poderiam, então, prejudicar-me? É certo que se pode atribuir a mim o que eu não disse e isso já se fez mais de uma vez. Mas, aqueles que me conhecem são capazes de distinguir o que digo daquilo que não sou capaz de dizer e eu agradeço a quantos, em semelhantes circunstâncias, souberam responder por mim. O que afirmo, estou sempre pronto a repetir na presença de quem quer que seja, e quando afirmo não ter dito ou feito uma coisa, julgo-me no direito de ser acreditado.
Ademais, o que representa tudo isso em face do objetivo que nós, os Espíritas sinceros e devotados, perseguimos conjuntamente? Desse futuro imenso que se desenrola diante dos nossos olhos? Acreditai-me, Senhores, fora preciso ver como um roubo perpetrado contra a grande obra, os instantes que perdêssemos preocupados com essas mesquinharias. De minha parte agradeço a Deus por me haver, já aqui na Terra, concedido tantas compensações morais ao preço de tribulações tão passageiras, bem como pela alegria de assistir ao triunfo da doutrina espírita.
            Peço-vos perdão, Senhores, por vos haver, por tão longo tempo, entretido com assuntos relativos a mim, mas acredito útil estabelecer nitidamente esta posição, a fim de que vos seja possível saber em quem acreditar, de conformidade com as circunstâncias e para que possais estar convencidos de que minha linha de conduta está traçada e que dela nada me fará desviar. De resto, creio que destas observações, - abstração feita de minha pessoa - poderão resultar alguns ensinamentos úteis.[10]


“... Ele morreu esta manhã, entre 11 e 12 horas, subitamente, ao entregar um número da Revue a um caixeiro de livraria que acabava de comprá-lo; ele se curvou sobre si mesmo, sem proferir uma única palavra: estava morto... Paris, 31 de março de 1869.”[11]


[1] O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VI - O Cristo consolador  - Consolador prometido, item 4.
[2] Revista Espírita, dezembro de 1868 - Constituição transitória do Espiritismo
[3] Revista Espírita, junho de 1865 - Relatório do caixa do Espiritismo.
[4] Idem
[5] Revista Espírita, dezembro de 1868 - Constituição transitória do Espiritismo.
[6] Idem
[7] Revista Espírita, outubro de 1860- Banquete oferecido pelos Espíritas Lioneses ao Sr. Allan Kardec.
[8] Viagem Espírita em 1862 – Discursos pronunciados nas reuniões gerais dos espíritas de Lyon e Bordeaux - Discurso I
[9] Idem
[10] Viagem Espírita em 1862 – Discursos pronunciados nas reuniões gerais dos espíritas de Lyon e Bordeaux - Discurso I
[11] Catálogo Racional, Obras que podem server para fundar uma biblioteca espírita – Ed. Masdras, 2004.