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sábado, 29 de setembro de 2012

O OLHO BOM


"A candeia do corpo é o olho. Sendo, pois, o teu olho simples, também
todo o teu corpo será luminoso; mas, se for mau, também o teu corpo
será tenebroso." (Lucas, 11:34)
"A candeia do corpo são os olhos, de sorte que, se os teus olhos forem
bons, todo o teu corpo terá luz. Se, portanto, a luz que em ti há são
trevas, quão grandes serão tais trevas!". - (Mateus, 6:22)
O que teria Jesus pretendido dizer, quando discorreu sobre o "olho bom"? Será que o Mestre teria em mente referir-se a um olho sem doença, a um olho bonito, a um olho que enxerga bem, ou, ainda, é um capaz de fazer boa pontaria? E o olho mau, seria aquele que pouco vê, que não é bonito e está cheio de enfermidades?

Obviamente, não foi essa a intenção do Meigo Nazareno. O "olho bom", a que ele se referiu, é aquele que vê tudo com otimismo, que encara tudo com simpatia, que revela amor por tudo aquilo que o cerca, que procura ocultar o defeito alheio, fazendo evidenciar apenas as boas qualidades daqueles que com ele convivem.

Por outro lado, o "olho mau" é aquele que transmite pessimismo, que procura fazer evidenciar os erros e os vícios dos homens. E aquele que se compraz na maledicência, no ódio, inveja e no ciúme.

Corre mundo um conto que talvez seja lendário, mas encerra um ensinamento dos mais edificantes, o qual passamos a narrar: — Caminhava Jesus Cristo com seus apóstolos, numa de suas numerosas andanças entre a Judéia e a Galiléia, quando o pequeno grupo divisou o cadáver putrefato de um cachorro.
Os apóstolos, de maneira unânime, voltaram seus rostos, para não sentirem o terrível fétido. Jesus, no entanto, agiu de modo diverso. Aproximou-se do cadáver, abaixou-se, examinou bem e disse: Que belos dentes ele tinha!

Na verdade, onde todos os apóstolos estavam vendo apenas ossada e podridão, o olho bom do Meigo Pastor viu uma coisa boa — os belos dentes do animal.

Assim, devemos ser com relação a nós. Quando encontrarmos um irmão e nele notarmos tão-somente coisas más, devemos assumir que o nosso julgamento não é perfeito, por isso deveremos procurar nele uma coisa boa, uma virtude, que poderá vir a ser exaltada.

E interessante notar que o Cristo, através de suas palavras, fez com que o olho se tornasse o paradigma, para refletir tudo o que emana de nossa alma, ou reside nela. Realmente, uma pessoa que vê tudo pelo lado do Bem, é óbvio que já demonstra nítidos sinais de evolução moral e espiritual, por isso faz com que o amor norteie os seus rumos. Por outro lado, aquele que vê tudo pelo lado do mal, revela que a sua alma ainda está impregnada de sentimentos inferiorizados, fazendo jus ao que disse o Mestre: "Todo o seu corpo está tenebroso, e quão grandes serão essas trevas!"

Aqui cabe urna indagação: Será que Deus criou os seus filhos alguns com "olho bom" e outros com "olho mau"? Analisando-se a pergunta à luz da Lei da Reencarnação, tudo é elucidado. O que tem o "olho bom" é, indubitavelmente, o homem que já amargou um passado de lutas nobilitantes. Já edificou a sua alma nos embates que enfrentou em vidas pretéritas. Já passou por prolongadas experiências depuradoras, já se reencontrou, e hoje sente em seu coração grande amargura, quando vê alguém acometido de injustiças, ou passando por fases amargas no caminho da vida.

Em contrapartida, o que vê as coisas com seu "olho mau", é aquele que se rebela contra os desígnios de Deus, que se julga injustiçado, que não dá guarida aos ensinamentos evangélicos, que prefere viver distanciado do bem e da luz; por isso, passa a irradiar trevas e sentimentos negativos, uma vez que nada tem de bom para dar.

Busquemos nos Evangelhos paradigmas para o "olho bom" e para o "olho mau". Nenhum exemplo melhor que aquele propiciado por Caifás, o sumo sacerdote do tempo de Jesus. Enquanto o Mestre distribuía messes de luz, enquanto ministrava ensinamentos os mais edificantes, curando cegos e paralíticos, expulsando maus Espíritos, limpando leprosos e levantando criaturas desencaminhadas e quebrantadas, Caifás alimentava ódio de morte contra Ele, chegando a dizer:
- "Não considereis que vos convém que morra um só homem pelo povo, e que não venha a perecer toda a nação?" E o sumo sacerdote, que pela sua função deveria ser portador do "olho bom", não ficou satisfeito, enquanto soube que Jesus Cristo havia sido suspenso no madeiro infamante, entre dois facínoras.

Por outro lado, o melhor paradigma para o "olho bom" é o próprio que buscava a companhia de pecadores e criaturas marginalizadas, porque "São doentes os que precisam de médico", e Ele, o mais autêntico dos médicos da alma, sofrendo o ignominioso sacrifício do Calvário, perdoou as faltas cometidas pelos seus algozes, suplicando a Deus: "Pai! perdoai-lhes, porque não sabem o que estão fazendo."

Paulo A. Godoy

O SINAL DE JONAS


"Maligna é esta geração; ela pede um sinal, e não lhe será dado
outro sinal senão o sinal do profeta Jonas." - (Lucas, 11:29)
Niníve, capital da antiga Assíria, situada à margem do rio Tigre, era, na Antiguidade, uma cidade muito importante, com uma população superior a 120 mil habitantes. Como ocorria com apreciável parte das grandes cidades do passado, ela vivia mergulhada na corrupção, e entre os habitantes reinavam costumes dissolutos e numerosos desregramentos.
O profeta Jonas, devidamente instruído, via mediúnica, dirigiu-se àquela cidade e ali fez com que seus habitantes se compenetrassem do erro em que estava incorrendo. Durante 40 dias, o profeta fez as suas pregações; então, suas palavras foram acolhidas e, desde o próprio rei até o mais humilde servidor, todos se decidiram a levar a sério aquelas admoestações; assim, como forma de penitência, conforme o costume da época, todos cobriram-se com sacos e se assentaram sobre a cinza.
Com essa demonstração de arrependimento, a cidade foi poupada pela Justiça Divina, evitando-se a destruição que se avizinhava. Quando Jesus desempenhava o seu Messiado, foi procurado por um grupo de escribas, fariseus e saduceus, e dentre eles alguns estrangeiros, que lhe pediram um sinal dos Céus, para que vissem e acreditassem.
A resposta do Mestre foi peremptória: "Maligna é esta geração; ela pede um sinal, e não lhe será dado outro sinal senão o sinal de Jonas." Jesus Cristo proferiu estas palavras angustiado pela incompreensão e dureza dos corações humanos. Ele havia descido à Terra, para o cumprimento da promessa sobre o advento do Messias Redentor.
No desenvolvimento de sua transcendental missão, Ele havia propiciado os mais autênticos sinais: a leprosos, restaurando a vista de cegos, levantando paralíticos e, sobretudo, trazendo uma verdade nova que vinha iluminar a mente dos homens e os horizontes sombrios do mundo. Não obstante todas essas manifestações, ali estava o segmento de um povo que se considerava "eleito de Deus", que se mantinha profundamente empedernido, "duro de cerviz e incircunciso de coração.

Aquele grupo de pessoas foi pedir-lhe um sinal dos Céus, entretanto, os sinais estavam sendo dados diuturnamente; por isso, a sua resposta foi negativa. O sinal de Jonas deveria ser o suficiente para abalar as consciências endurecidas daqueles homens. Diante da personalidade de Jesus Cristo, Jonas não passava de um profeta de projeção relativamente pequena. No entanto, dirigindo-se à população de Nínive, apregoou que a cidade seria destruída por Deus se o seu povo não mudasse de comportamento. Todos receberam as palavras do profeta e, receosos da provável destruição, mudaram radicalmente o modo de vida.

Jesus Cristo, o maior Espírito dentre os que desceram fez persistente e profusa pregação entre os homens, mostrando-lhes como seus corações estavam endurecidos; desmascarou a hipocrisia dos escribas e dos fariseus, demonstrando a precariedade dos seus ensinos e a recalcitrância em obedecer às verdades que emanavam dos Céus, através dos profetas. Não obstante, suas palavras não foram aceitas por muitos e Ele foi condenado e crucificado. Em virtude dessa obstinação e da maldade reinante nos corações desses homens, "a Jerusalém que matava os seus profetas, que apedrejava todos aqueles que lhe eram enviados, foi destruída, dela não restando pedra sobre pedra". (Lucas, 13:34-35).
Quando o Mestre asseverou que nenhum sinal seria dado àquela geração adúltera, infiel, mas apenas o sinal do profeta Jonas, Ele pretendeu dizer que, se o povo fosse mais dócil, mais humilde, mais razoável, teria recebido as suas palavras, assim como o fez o povo de Nínive.
Na realidade, o sinal de Jonas era do conhecimento de todos, pois os escribas liam para o povo o livro do profeta Jonas, e, obviamente, a atitude do povo da capital da Assíria, acatando as suas admoestação e arrependendo-se de suas faltas, era notória para todos. Amargurado diante da incompreensão do seu povo, proclamou Jesus Cristo: "A rainha do sul se levantará no dia do juízo contra os homens desta geração, e os condenará, pois dos confins da Terra ela veio para ouvir a sabedoria de Salomão; eis aqui está quem é maior do que Salomão.
Os homens de Nínive se levantarão no dia do juízo contra esta geração e a condenarão, pois se converteram com a pregação de Jonas; e aqui está quem é maior do que Jonas." (Lucas, 11:31-32)
O apego dos escribas e fariseus aos preceitos das leis antigas era apenas aparente. Eles não aceitavam o sinal de Jonas e muito menos o de Jesus. Não se preocupavam com os sinais dados pelos antigos profetas, o que levou o Mestre a exclamar muito judiciosamente: "Não cuidadeis que sou eu que vos hei de acusar diante de meu Pai. Há um que vos acusa: Moisés, em que vós esperais.
Porque, se vós crêsseis em Moisés, certamente creríeis também em mim, pois de mim escreveu ele. Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?" (João, 5:45 a 47). A pregação de Jesus Cristo foi feita num clima de brandura, de persuasão. Dizia Ele: "já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe a vontade do seu senhor. Mas tenho vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer." (João, 15:15) Não obstante tudo isso, Ele não era aceito, nem na aparência, nem na realidade, pelos mentores do povo de Israel.
A corroboração desta assertiva encontramo-la em (João, 12:37-38): "E ainda que Ele tendo feito tantos milagres diante deles, não criam nele, para que se cumprisse a palavra do profeta Isaías, quando disse: "Senhor, quem acreditou em vossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor?"
Da mesma forma como os Espíritos dos homens são submetidos a penosos resgates individuais, quando malbaratam o legado precioso que Deus lhes concedeu, as cidades também experimentam quedas e dores, quando não dão guarida aos ensinos que, de um modo ou de outro, são proporcionados à sua população pelos mensageiros dos Céus.
As cidades de Sodoma e Gomorra foram destruídas em consequência de seus inúmeros desregramentos; no entanto, segundo a própria expressão de Jesus Cristo, menos rigor haverá para elas, no julgamento divino, do que para Corozaim, Betsaída, Cafarnaum e Jerusalém, onde autênticos sinais foram produzidos pela interferência do Mestre, sem que houvesse acontecido o devido aproveitamento.
Paulo A. de Godoy

PARÁBOLA DA CANDEIA


"Ninguém, depois de acender uma cadeia, a cobre com um vaso ou a põe debaixo de uma cama; pelo contrário, coloca-a sobre um velador, a fim de que os que entram veja a luz. Porque não há coisa oculta que não venha a ser manifesta; nem coisa secreta que se não haja de saber e vir à luz. Vede, pois, como ouvis; porque ao que tiver, ser-lhe-á dado; e ao que não tiver, até aquilo que pensa ter, ser-lhe-á tirado".
(Lucas, VIII, 16-18)
"E continuou Jesus: Porventura vem a candeia para se pôr debaixo do módio ou debaixo da cama? Não é antes para se colocar no velador? Porque nada está oculto senão para ser manifesto; e nada foi escondido senão para ser divulgado. Se alguém tem ouvidos de ouvir, ouça. Também lhe disse: Atentai no que ouvis. A medida de que usais, dessa usarão convosco: e ainda se vos acrescentará. Pois ao que tem, ser-lhe-á dado; e ao que não tem, até aquilo que pensa ter, ser-lhe-á tirado".
(Marcos, IV, 21-25
1 - CAIRBAR SCHUTEL
A luz é indispensável à vida material e à vida espiritual. Sem luz não há vida; a vida é luz quer na esfera física, quer na esfera psíquica. Apague-se o Sol, fonte das luzes materiais e o mundo deixará, incontinenti, de existir. Esconda-se a luz da sabedoria e da religião sob o módio da má fé ou do preconceito, e a Humanidade não dará mais um passo, ficará estatelada debatendo-se em trevas.
Assim, pois, tão ridículo é acender uma candeia e colocá-la debaixo da cama, como conceber ou receber um novo conhecimento, uma verdade nova e ocultá-la aos nossos semelhantes. Acresce ainda que não é tão difícil encontrar o que se escondeu porque "não há coisa oculta que não venha a ser manifesta". Mais hoje, mais amanhã, um vislumbre de claridade denunciará a existência da candeia que está sob o leito ou sob o módio, e que desapontamento sofrerá o insensato que aí a colocou!
A recomendação feita na parábola é que a luz deve ser posta no velador a fim de que todos a vejam, por ela se iluminem, ou, então, para que essa luz seja julgada de acordo com a sua claridade. "Uma árvore má não pode dar bons frutos"; e o combustível inferior não dá, pela mesma razão, boa luz. Julga-se a árvore pelos frutos e o combustível pela claridade, pela pureza da luz que dá. A luz do azeite não se compara com a do petróleo, nem esta com a do acetileno; mas todas juntas não se equiparam à eletricidade.
Seja como for, é preciso que a luz esteja no velador, para se distinguir uma da outra. Daí a necessidade do velador. No sentido espiritual, que é justamente o em que Jesus falava, todos os que receberam a luz da sua doutrina precisam mostrá-la, não a esconderem sob o módio do interesse, nem sob o leito da hipocrisia. Quer seja fraca, média ou forte; ilumine na proporção do azeite, do petróleo, do acetileno ou da eletricidade, o mandamento é: "Que a vossa luz brilhe diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras (que são as irradiações dessa luz) glorifiquem o vosso Pai que está nos Ceús".
Ter luz e não fazê-la iluminar, é colocá-la sob o módio é o mesmo que não a ter; e aquele que não a tem e pensa ter, até o que parece ter ser-lhe-á tirado. Ao contrário, "aquele que tem, mais lhe será dado", isto é, aquele que usa o que tem em proveito próprio e de seus semelhantes, mais lhe será dado. A chama de uma vela não diminui, nem se gasta o seu combustível por acender cem velas; ao passo que estando apagada é preciso que alguém a acenda para aproveitar e fazer aproveitar sua luz.
Uma vela acendendo cem velas, aumenta a claridade, ao passo que, apagada, mantém as trevas. E como temos a obrigação de zelar, não só por nós como pelos nossos semelhantes, incorremos em grande responsabilidade pelo uso da "medida" que fizemos; se damos um dedal não podemos receber um alqueire; se uma oitava, não podemos contar com um quilo em restituição, e, se nada damos, o que havemos de receber? A luz não pode permaner sob o módio, nem debaixo da cama. A candeia, embora, matéria inerte, nos ensina o que devemos fazer, para que a palavra do Cristo permaneça em nós, possamos dar muitos frutos e sejamos seus discípulos.
Assim, o fim da luz é iluminar e o do sal é conservar e dar sabor. Sendo os discípulos de Jesus luz e sal, mister se faz que ensinem, esclareçam, iluminem, ao mesmo tempo que lhes cumpre conservar no ânimo de seus ouvintes, de seus próximos, a santa doutrina do meigo Rabino, valendo-se para isso do Espírito que lhe dá o sabor moral para ingerirem esse pão da vida que verdadeiramente alimenta e sacia.
Assim como a luz que não ilumina e o sal que não conserva para nada prestam, assim, também, os que se dizem discípulos do Cristo e não cumprem os seus preceitos, nem desempenham a tarefa que lhes está confiada, só servem para serem lançados fora da comunhão espiritual e serem pisados pelos homens. A candeia sob o módio não ilumina; o sal insípido não salga, não conserva, nem dá sabor.
CAIRBAR SCHUTEL
2 - PAULO ALVES GODOY
O mundo já foi contemplado com três grandes revelações: a primeira, quando do advento de Moisés; a segunda, com a vinda de Jesus Cristo e, a terceira, com a revelação do Espiritismo, ou a vinda do Espírito Consolador.
Quando Moisés levou a cabo a primeira, aqueles que o sucederam aureolaram-na com tantos aparatos exteriores e com tantos formalismos inócuos, que os seus ensinamentos se tomaram obscuros. Por isso, Deus, em Seu infinito amor, enviou Seu próprio Filho para trazer a segunda revelação, nova luz que passou a iluminar os horizontes do mundo; contudo, segundo afirma o evangelista João, logo no início do seu Evangelho "os homens temeram a luz porque suas obras eram más".
O Pai de misericórdia e amor, condoído dos homens, que ainda e dessa vez impregnaram a Doutrina do Cristo com sistemas inócuos e incompatíveis com a verdade, enviou o Espírito de Verdade a fim de restaurar as primícias dos ensinamentos do Meigo Rabi da Galiléia.
Veio o Espiritismo e os homens devem agora difundir as luzes de que essa Doutrina dimana, pois a sua finalidade básica " de afugentar da Terra as trevas da ignorância e do obscurantismo, colocando a luz sobre o velador, para que ela, como uma cidade edificada sobre uma montanha, seja vista por todos.
Não se deve jamais, consoante a recomendação de Jesus, acender uma lâmpada e colocá-Ia sob um vaso, porém, deve-se colocá-la sobre o velador, de forma a poder ser vista por todos.
Esse ensino de Jesus objetiva esclarecer que, qualquer pessoa que adquirir conhecimentos em torno de uma verdade, ainda que seja em pequena escala, não deverá guardar a luz desse conhecimento apenas para si, mas procurar divulgá-lo a fim de que todos venham a haurir dos seus benefícios.
Corroborando ainda mais a parábola, em outra parte do Evangelho, afirmou Jesus: "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos Céus". (Mateus 5: 16)
Assim como não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte, também resplandecerá a sua luz sobre a Terra, e sobressairá o homem compenetrado dos seus deveres, que se edificou moral e espiritualmente. Por isso, disse Jesus: "Vós sois a luz do mundo", referindo-se aos apóstolos, no entanto, tendo Ele dito que deveríamos nos tornar perfeitos, como perfeito é o Pai Celestial, é óbvio que todos nós temos o potencial para nos transformar em luzes do mundo.
Na Parábola da Candeia, Jesus Cristo preceituou a necessidade de darmos guarida às Suas recomendações, tornando-nos obreiros atuantes e de decisão inquebrantável, projetando-nos, não apenas pelas palavras, mas sobretudo pelos atos. É importante saber, entretanto, que para adquirirmos essa luz interior, há necessidade de nos desvencilharmos das viciações contraídas no desenrolar das vidas pretéritas e, isso se fará, através das reencarnações sucessivas que Deus, por excesso de misericórdia, nos concede.
Existe muita gente guardando, avarentamente, apenas para si, os conhecimentos que adquirem, não tolerando qualquer idéia de espargí-los. Isso sucede com os homens, em todos os campos de atividades humanas. Muitos passam seus conhecimentos apenas para seus filhos ou familiares, não concebendo a idéia de transferi-los a um estranho.
Guardar um ensinamento de ordem espiritual apenas para si, incita danos para o Espírito, uma vez que o Mestre preceituou na parábola que "não há coisa oculta que não haja de manifestar-se, nem escondida que não haja de saber-se e vir à luz". De nada adianta uma pessoa que conheceu determinada verdade, guardá-la somente para si, pois o tempo se encarregará de fazer com que ela seja manifesta para todos.
Nos séculos passados, muitas coisas erradas foram apregoadas como verdades fundamentais, e muitos mentores religiosos, com o objetivo de emprestar-Ihes maior autoridade não trepidaram em rotulá-las como "revelação do Espírito santo". Eram condenados às fogueiras os que ousavam delas discordar. Nos tempos modernos, com a ampliação dos sistemas de comunicação, já não poderá prevalecer essa sistemática, imposta pelo processo do "ferro e fogo".
Jesus Cristo veio trazer à Terra um manancial de verdades irretorquíveis, entretanto, essas verdades atentavam contra as inverdades apregoadas pelos doutores da Lei de sua época, e Ele teve que carregar pesada cruz até o cimo do Calvário, onde foi crucificado.
Deveremos, pois, propugnar para que as luzes dos nossos conhecimentos sejam manifestas a todos. Importa sermos como uma cidade edificada sobre um monte, para que as virtudes e a luz, que espargem de nós, sejam vistas e passem a beneficiar a todos.
Complementando os ensinamentos contidos na parábola da Candeia, ensinou-nos o Mestre: "Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grande serão essas trevas. A candeia do corpo são os olhos, de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz. Os vossos olhos refletem as trevas ou as luzes que residem dentro de vós".
Os nossos olhos, por sua vez, refletem tudo aquilo que reside no recesso de nossas almas e, como decorrência, devemos procurar nos enquadrar nos ensinamentos dos Evangelhos, processando dentro de nós a REFORMA ÍNTIMA, que Jesus Cristo simbolizou como sendo a conquista do Reino dos Céus.
Paulo Alves de Godoy
3 - RODOLFO CALLIGARIS
Estas palavras de Jesus: "não se deve pôr a candeia debaixo da cama, mas sobre o velador, a fim de que todos os que entrem, vejam a luz", dão-nos a entender, claramente, que as leis divinas devem ser expostas por aqueles que já tiveram a felicidade de conhecê-las, pois sem esse conhecimento paralisar-se-ia a marcha da evolução humana.
Não espalhar os preceitos cristãos, a fim de dissipar as trevas da ignorância que envollvem as almas, fora esconder egoisticamente a luz espiritual que deve beneficiar a todos.
Manda a prudência, entretanto, que se gradue a transmissão de todo e qualquer ensinamento à capacidade de assimilação daquele a quem se quer instruir, de vez que uma luz intensa demais o deslumbraria, ao invés de o esclarecer.
Cada idéia nova, cada progresso, tem que vir na época conveniente. Seria uma insensatez pregar elevados códigos morais a quem ainda se encontrasse em estado de selvageria, tanto quanto querer ministrar regras de álgebra a quem mal dominasse a tabuada.
Essa a razão por que Jesus, tão frequentemente, velava seus ensinos, servindo-se de figuras alegóricas, quando falava aos seus contemporâneos. Eram criaturas demasiado atrasadas para que pudessem compreender certas coisas. Já aos discípulos, em particular, explicava o sentido de muitas dessas alegorias, porque sabia estarem eles preparados para isso.
Mas, como frisa a parábola em tela, "nada há secreto que não haja de ser descoberto, nem nada oculto que não haja de ser conhecido e de aparecer publicamente". À medida que os hoomens vão adquirindo maior grau de desenvolvimento, procuram por si mesmos os conheciimentos que lhes faltam, no que são, aliás, auxiliados pela Providência, que se encarrega de guiá-los em suas pesquisas e lucubrações, projetando luz sobre os pontos obscuros e desconhecidos, para cuja inteligência se mostrem amadurecidos.
Os que, por se acharem mais adiantados, intelectual e moralmente, forem sendo iniciados no conhecimento das verdades superiores, e se valham delas, não para a dominação do próximo em proveito próprio, mas para edifiicar seus irmãos e conduzi-los na senda do aperfeiçoamento, maiores revelações irão tendo, horizontes cada vez mais amplos se lhes descortinarão à vista, pois é da lei que, "aos que já têm, ainda mais se dará."
Quanto aos que, estando de posse de umas tantas verdades, movidos por interesses rasteiros fazem disso um mistério cujo exame proíbem,- o que importa "colocar a luz debaixo da cama", nada mais se lhes acrescentará, e "até o pouco que têm lhes será tirado", para que deixem de ser egoístas e aprendam a dar de graça o que de graça hajam recebido.
A vida nos planos espirituais, questão que interessa profundamente os sistemas filosóficos e religiosos, por muitos e muitos séculos permaneceu como um enigma indevassável chegou, porém, o momento oportuno em que deveria "aparecer publicamente", e daí o advento do Espiritismo.
Rasgaram-se, então, os véus que encobriam esse imenso universo, tão ativo e real quanto o em que respiramos, e, à luz dessa nova revelação, a sobrevivência da alma deixa de ser apenas uma hipótese ou uma esperança, para firmar-se como confortadora e esplêndida reaalidade.
Rodolfo Calligaris

04 - OS MALEFÍCIOS DO JOGO


"Por que Deus concedeu a uns a riqueza e o poder, e a outros a miséria?"
- Para provar a cada um de uma maneira diferente. Aliás, vós o sabeis, essas provas são escolhidas pelos próprios Espíritos, que muitas vezes sucumbem ao realizá-las." (Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Livro Terceiro. Capítulo IX. Lei de Igualdade. Pergunta 814.)


"Qual dessas provas é a mais perigosa para o homem, a da desgraça ou a da riqueza?
— Tanto uma quanto a outra o são. A miséria provoca a murmuração contra a Providência; a riqueza leva a todos os excessos. " (Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Livro Terceiro. Capítulo IX. Lei de Igualdade. Pergunta 815.)


"Como explicar a sorte que favorece certas pessoas em circunstâncias que não dependem da vontade nem da inteligência, como no jogo, por exemplo? - Certos Espíritos escolheram antecipadamente determinadas espécies de prazer, e a sorte que os favorece é uma tentação. Aquele que ganha como homem, perde como Espírito: é uma prova para o seu orgulho e a sua cupidez." (Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Livro Terceiro. Capítulo X. Lei de Liberdade. Pergunta 865.)

O vício do jogo, pelas suas características e efeitos psíquicos sobre a personalidade do jogador, pode ser considerado como uma verdadeira neurose. O estado emocional durante o jogo, praticado nas suas mais variadas formas, leva o condicionado ao descontrole mental, às tensões psíquicas, às cargas desequilibradoras. Quando, de um lado, trabalhamos para serenar as nossas emoções, desenvolvendo o equilíbrio espiritual, no jogo destruímos, em poucas horas, o que podemos ter construído interiormente em alguns meses.
O tempo que se desperdiça numa diversão ociosa como o jogo, que consome horas irrecuperáveis, poderia muito bem ser aplicado em algo útil, proveitoso ao nosso espírito e ao próximo. Sacrificam-se, muitas vezes, famílias inteiras nas apostas feitas, onde alguns valores e propriedades são levianamente perdidos, levando-as, não raro, à miséria total. Na ânsia de recuperar num lance o que já perdeu, o jogador num gesto de desespero, aumenta o valor das apostas, afundando-se cada vez mais pelo descontrole da sua vontade.

As emoções fortes que dominam os jogadores fazem-nos presas fáceis dos espíritos inferiores, que os conduzem aos maiores desastres. A aceitação sem resistência dos convites de parceiros não deixa sequer o viciado pensar, dominado como está pelo desejo doentio de ganhar, fruto da ambição desmedida.

Muitos podem justificar os encontros de grupos amigos que se reúnem sistematicamente para jogar como oportunidades sociais de diversões, ou até de "confraternização". No entanto, se consultarmos honestamente o que nos impulsiona a essas reuniões, certamente identificaremos a ânsia de preencher um vazio indecifrável, resultante do lato de não termos algo mais produtivo com que nos ocupar, e segue-se, assim, com o tempo, o condicionamento ocioso.

Para libertar-se do jogo, o mecanismo utilizado é o mesmo: fortificar a vontade com razões seguras, amplamente encontradas na necessidade de equilíbrio emocional e de libertação das influências negativas, no desperdício de tempo útil, nas desgraças de que poderá ser vítima e de tantas outras razões. E no momento em que o desejo se manifestar ou o convite ao jogo for feito, busquemos com toda força as ideias positivas em nossa mente, reagindo, assim, às tentações. À proporção que formos reagindo, mais forte vai-se tornando a nossa vontade, e mais facilmente iremos controlando nossos desejos.

A vontade de adquirir pelo jogo uma boa soma de dinheiro, que venha preencher algumas necessidades ou realizar ambições materiais, denota completa falta de fé nos desígnios Divinos, que conhecem todas as nossas necessidades. É também uma forma de rebeldia e inconformação com as limitadas condições financeiras da nossa existência. É exatamente pela humildade, que cultivamos através do ganho material reduzido, que vamos retificando os abusos do pretérito. Estamos, então, contrariando o programa por nós mesmos escolhido na Espiritualidade, dando asas ás mesmas ambições que hoje ocultamente agem, refletindo as tendências enganosas em que já estivemos vivendo no ontem distante.

Observemos um pouco, indaguemos tranquilamente se a pressa de enriquecimento que desejamos, ao comprar bilhetes de loteria ou fazer apostas na loteria esportiva, nos fará realmente dignos em usufruir o que não ganhamos pelo nosso próprio esforço, obtido do nosso trabalho. Analisemos as promessas e barganhas que articulamos na nossa imaginação, prometendo-nos dar tal ou qual parcela para essa ou aquela obra de caridade, e confrontemos com o que entendemos como caridade desinteressada, realizada com o coração, sem espera de qualquer recompensa. Indubitavelmente, um dinheiro assim ganho não nos fará felizes, nem nos ajudará a crescer espiritualmente.

Só, e unicamente, nos serve e nos poderá pertencer provisoriamente aquilo que adquirimos com o nosso trabalho, com o nosso esforço. Aqueles contemplados pela sorte certamente assumem encargos sérios pelos bens recebidos, na condição de empréstimos, que podem levá-los ao precipício na sua escalada evolutiva, por não estarem preparados para bem administrar aqueles valores, comprometendo-se a existências futuras de extrema pobreza.

O melhor é sermos obedientes, resignados, confiantes e trabalhadores, porque o nosso Pai, justo e bom, tudo sabe a nosso respeito e nos proporcionará, quando merecermos e estivermos em condições de saber distribuir, os bens materiais almejados. Abolir os impulsos do jogo, sob qualquer fornia que se apresente, é também exercício respaldado na fé e na valorização das oportunidades de trabalho, disciplinadoras das nossas ambições. É essa a atitude mais sensata do Aprendiz do Evangelho.

5 - REMINISCÊNCIAS E TENDÊNCIAS



"As tendências instintivas do homem sendo uma reminiscência do seu passado, conclui-se que, pelo estudo dessas tendências, ele poderá conhecer as faltas que cometeu? — Sem dúvida, até certo ponto, mas é necessário ter em conta a melhora que se possa ter operado no Espírito e as resoluções que ele tomou no seu estado errante. A existência atual pode ser muito melhor que a precedente. "
(Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Capítulo VII. Retorno à Vida Corporal. Pergunta 398.)

"Sendo as vicissitudes da vida corpórea, ao mesmo tempo, uma expiação das faltas passadas e provas para o futuro, segue-se que, da natureza dessas vicissitudes, possa induzir-se o gênero da existência anterior? — Muito frequentemente, pois cada um é punido naquilo em que pecou. Entretanto, não se deve tirar disso uma regra absoluta; as tendências instintivas são um índice mais seguro, porque as provas que um Espírito sofre tanto se referem ao futuro quanto ao passado. "(Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Capítulo VII. Retorno à Vida Corporal. Pergunta 399.)


De que modo poderemos compreender melhor alguns traços ou disposições que parecem ser natos em nosso comportamento? -Certamente reconhecemos, por vezes, em nossa maneira de reagir, algumas manifestações que são típicas e que não temos nítida consciência do "porquê" de elas acontecerem incontroladamente. Essas manifestações podem estar contidas num enorme quadro de configurações de nossas reações interiores, assim chamadas predisposições, tendências, inclinações, pendores, impulsos compulsivos, e estão estreitamente relacionadas com os nossos hábitos e vícios, erros e defeitos.

O princípio da reencarnação, um dos fundamentos do Espiritismo, abre amplamente o entendimento dessas tendências instintivas, que constituem grande parte da atividade mental do homem, de forma inconsciente, incontrolada, impulsiva, irresistível. É muito grande o acervo de experiências marcantes que se gravaram em nosso espírito através das múltiplas reencarnações passadas, e que constitui o material adquirido e arquivado nas suas camadas magnéticas sutis.
Considerando-se a mente como nossa central geradora de forças, sediada no espírito, nela registram-se as impressões criadas nas experiências vividas em todas as épocas, de forma semelhante às trilhas magnéticas deixadas numa película plástica, ou como num computador eletrônico, que reúne incontáveis informações que permanecem guardadas por um processo de memorização (Memória de um aparelho computador, é a sua capacidade de processar, responder e guardar certo número de informações ou dados. O computador de fato processa informações ou dados, mas através do recebimento de informações. E também responde, emitindo os resultados. Porém, a "memória" do computador — para guardar dados - é externa ao aparelho, e se faz através de fitas, discos ou cartões).

Do mesmo modo, esses dados registrados na memória de certos aparelhos, quando indicam valores de carga acima ou abaixo de padrões estabelecidos, emitem sinais que vão provocar ações corretivas no complexo sistema de automatismos controladores, que podem regular o funcionamento de uma central abastecedora de energia elétrica, entre outros exemplos de aplicação. Ora, a nossa mente tem também o seu potencial de registro, de processamento e de resposta àquelas experiências vividas, que devem igualmente se acumular em microcamadas magnéticas sutis, inter-relacionadas, possivelmente em outras dimensões, capazes de reter sons, imagens, emoções, idéias.
Do mesmo modo, quando essas emoções e idéias ferem e comprometem certos padrões estabelecidos pelas leis morais, que constituem as leis divinas, ainda é a própria mente que, atingida no supraconsciente por aquelas perturbações do seu equilíbrio, vai emitir respostas corretivas em direção àqueles sulcos ou focos que permanecem em agitação enquanto não forem corrigidos: são os distúrbios, as desarmonias, distonias, inquietações, que a própria consciência guarda e acumula, superpondo no tempo os indeléveis registros carentes de renovação.

Aqueles pontos em desequilíbrio passam a comprometer o fluir normal das energias do espírito, criando tensões nas microcamadas magnéticas multidimensionais da mente, manifestando-se nas formas de afloramentos, de lampejos, de impulsos, que emergem das profundidades do inconsciente para o presente, de forma viva e atuante.

Para o espírito encarnado, condicionado ao novo equipamento orgânico e à atual programação reencarnatória, a lembrança daquelas experiências desagradáveis ficou momentaneamente submersa, e ele não se recorda, portanto, das ocorrências propriamente, mas elas agem, pois são de sua propriedade e foi a sua própria consciência que as registrou para voluntária ou compulsoriamente corrigi-las. Formam elas os processos e os conteúdos do nosso inconsciente e as suas manifestações acontecem de forma velada para o nosso consciente. Representam, assim, as reminiscências, que se caracterizam pelas tendências instintivas que trazemos.

Como poderemos, então, pelo conhecimento, no estudo e na análise dessas tendências, trabalhar voluntariamente para retificá-las, corrigindo os acontecimentos transgressores? O Prof. Carlos Toledo Rizzini, em seu livro Evolução para o Terceiro Milênio (Capítulo 5. Desequilíbrios. Enfermidades. Item 18. Impulsos; impulsos convulsivos), trata com detalhes dos mecanismos de atuação dessas tendências instintivas que o mestre Kardec indagou aos Espíritos, como indicativas das nossas faltas cometidas no passado (O Livro dos Espiritos. Pergunta 398).
Diz-nos Carlos Rizzini (Parágrafo 2): impulso é um "estado de excitação do sistema nervoso central, que surge em resposta a um estímulo interno ou externo, o qual poderá ser uma pessoa, uma cena, uma conversa, uma palavra, insultos, bebida, etc." e, assim, "originado por forças inconscientes, aparece, posto isso, na área do consciente"... "Inúmeras vezes não sabemos a que coisa o inconsciente reagiu tão fortemente, a ponto de criar um impulso, que será sentido em forma de súbita emoção ou comando imperioso".
O parágrafo 6 do já citado item 18, pela sua importância no objetivo de dilatar o entendimento pessoal para as manifestações intempestivas do nosso ser, é transcrito abaixo:

"Um impulso pode renascer muitas vezes, fazendo com que o sujeito sinta o choque emocional sem ter conhecimento consciente da situação desagradável que está representada em sua mente inconsciente. Ocorre, portanto, uma dissociação entre a emoção sentida e as imagens correspondentes. Estas permanecem ignoradas, enquanto aquela se liberta diante do novo fato que serve de estímulo, e vem afetar o consciente. Nesse caso, a pessoa, diante de outra ou de algum acontecimento, sente-se invadida por imperioso impulso de agredir, ofender, fugir, tremer, gritar, calar-se, etc., sem compreender a razão do que está se passando com ela, razão que jaz no inconsciente sob a forma de recordação completa de um evento semelhante (ou equivalente), desta ou mais comumente de outra vida. O que sobe ao consciente, por obra do estímulo, é parte da energia ligada às lembranças, a qual vai desencadear o estado emotivo incompreendido".

"Mediante a exposição acima, compreende-se que, conforme as experiências gravadas no espírito, uma pessoa mantenha-se calma diante de situações desagradáveis que envolvam certos indivíduos, e profundamente irritada em face de outras sem importância, mas relacionadas com determinadas pessoas. E. G., o pai que não ouve o insulto de um filho e zanga-se com outro porque se atrasou cinco minutos para o jantar. Uns fatos atingem porções sensibilizadas do inconsciente (ou agitam certos conteúdos dele), e outros não encontram ressonância ali."

Diante dos vários estímulos que — no convívio com familiares, colegas de trabalho e pessoas em sociedade — podem desencadear os impulsos decorrentes de ódios, vinganças, orgulho ferido, inveja, ciúmes, personalismo, intolerâncias, impaciências, urdidos do passado, temos duas opções: 1° o perdão que corrige o desequilíbrio provocado na própria consciência e harmoniza o espírito com as leis divinas; e 2° a repetição do erro, que intensifica e agrava a transgressão, mantendo-nos infelizes e presos a resgates compulsórios em novas experiências, nessa ou em outra existência.

Essas tendências que trazemos de nascença, refletem a nossa realidade espiritual, estão ligadas à nossa história evolutiva, encerram a verdade que cada um traz dentro de si mesmo, no hoje, no agora, e que pode manifestar-se a qualquer instante, basta apenas haver um incentivo, uma provocação. Desse modo, a observação, o estudo, a análise desse nosso mundo de tantas cenas passadas, que se esconde no inconsciente, e que apenas se deixa conhecer pelos lampejos de nossos impulsos, são os meios que temos para desvendar nossos pontos fracos, que possivelmente vêm se repetindo de existência em existência, e com os quais temos lutado, procurando melhorar nesse plano e, quando na Espiritualidade, pelas resoluções tomadas de renovação.

André Luiz diz-nos ainda que os citados impulsos são facilmente superexcitados por estímulos constantes produzidos por espíritos desencarnados, cujas emissões mentais são idênticas às do encarnado que perseguem. Apresentamos, quase sempre, resquícios de nossas fraquezas ainda não superadas, oferecendo pasto fácil aos atentos inspetores invisíveis do mal que, inteligentemente, recorrem às nossas antigas debilidades para torpedear nossa resistência, induzindo-nos de forma envolvente, hipnótica, a repetir as mesmas reações que estamos assim a elas predispostos.

E nem sequer nos damos conta disso. Quando percebemos, já cometemos as mesmas intemperanças e novos esforços empenhamos para não repeti-las. Trazemos também, para a presente vida, certas inclinações de repetir hábitos e necessidades alimentados numa vida anterior mal conduzida, tais como os costumes de beber, fumar, comer demasiado, jogar, cometer gastos supérfluos e exageros no vestir, irresistível atração pelo sexo oposto, comodismo ocioso, preguiça, conquista de prestígio social, desejo de domínio, aquisição de riqueza, aumento de propriedades, etc.

De alguma forma somos testados, até sem saber, nas resoluções que tomamos quando na Erraticidade e na melhora que possamos ter operado no nosso Espírito, ao defrontarmo-nos com semelhantes experiências na presente vida. A correção, retificação do erro, ou o reequilíbrio de nossa consciência, não se realiza apenas com bons propósitos. É necessário dar provas, isto é, ao passar pelas mesmas ocorrências do ontem distante, refrear os nossos impulsos retrógrados com a luz do entendimento e transformá-los em impulsos evolutivos que nos libertam a alma.

É muito suave, reconfortante e tranquilizador o que sentimos ao superar uma má inclinação, um impulso de rancor, de irritação, um hábito desagradável, uma deficiência de conduta, um defeito moral, um vício ou costume. É como se fôssemos fortalecidos e agraciados dentro de nós mesmos por uma batalha vencida, uma conquista realizada.

Esse conteúdo emocional robustece o nosso espírito e amplia nossa consciência, equilibra nossas energias e restaura, nas camadas profundas do inconsciente, a saúde mental. Recuperamos nosso bem-estar e ampliamos nossa capacidade de amar.

A TERAPIA DAS VIDAS PASSADAS

Interessante trabalho vem sendo realizado há catorze anos por um psicólogo americano, Dr. Morris Netherton, que descreve, em seu recente livro "Past Lives Therapy" (Terapia das Vidas Passadas), como tem tratado, em seu consultório de psicoterapia, casos de traumas, fobias, distúrbios de comportamento, problemas sexuais, alcoolismo, enxaquecas, úlceras, epilepsias, gerados em acontecimentos e experiências muito marcantes de vidas anteriores. Segundo o Dr. Netherton, aqueles fatos ficaram indelevelmente registrados, como cicatrizes, no "inconsciente", passando a exercer pressões emocionais no indivíduo, até que conscientemente ele possa compreender o desenrolar histórico e o encadeamento dos fatos que lhe causam os problemas do presente.
O autor comenta que cada um traz registrada em si mesmo toda a sua história, encerrando as próprias verdades que, uma vez aceitas e deliberadamente assumidas como de nossa responsabilidade pessoal, começam então a funcionar, auxiliando-nos nas mudanças de comportamento. A partir disso, o processo de reequilíbrio tem sequência, os indivíduos compreendem as causas e os mecanismos dos seus males e realizam a própria cura na mudança das atitudes.

Desaparecem os sintomas e as criaturas voltam à normalidade, passando de apáticas a joviais, de agressivas a sociáveis, de introspectivas a comunicativas, de esquisitas a simpáticas, de enfermas a sãs. Há uma melhora geral nas pessoas, fruto da própria renovação mental. Comentamos esses resultados por encontrar importante subsídio comprobatório das reminiscências que todos apresentamos e que só depende de nós mesmos atenuá-las pelo trabalho consciente nas próprias mudanças de atitudes.

Inicia-se, então, todo o seu esforço de renovação, pelas mudanças íntimas no seu comportamento, que ele mesmo realiza naturalmente. O que lhe era obscuro e nebuloso no seu mundo interior passa a ser compreendido e explicado dentro de uma realidade que lhe é própria, vivida, sentida, percebida. Ele mesmo entende o que deve e precisa corrigir, e o faz deliberadamente, exatamente nos aspectos que ele, melhor do que ninguém, conhece. É, portanto, um "impacto esclarecedor" vivido com todas as cores, emoções, imagens e percepções.

PARA APLICAÇÃO: IDENTIFIQUE AQUI AS CONSEQUÊNCIAS INDIVIDUAIS DO SEU PASSADO

O espírito de Emmanuel, no livro Leis de Amor, nos enseja todo um conjunto de respostas que esclarecem, de modo prático e objetivo, as consequências de nossas faltas do passado, e os seus processos de retificação, regeneração, reabilitação ou emendas. Vejamos, então, como identificá-los em nós e tiremos o necessário proveito do que a seguir condensamos.
(Nota: Leia a cada Causa, nas Doenças, e procure nas páginas adiante, o seu Efeito correspondente, no item de igual número, de l à 7. Leia o Ontem, Na Família, Na Profissão e no Mundo, e procure adiante, na numeração correspondente, o resultado em cada Hoje, de 8 à 20.)


NAS DOENÇAS

CAUSA

1. Ação errada em diferentes setores da vida:

a) ódios, vinganças, agressões;
b) irritação, intolerância, intemperança;
c) extravagâncias no comer;
d) alcoolismo, entorpecentes;
e) maledicência, calúnia;
f) desequilíbrios do sexo;
g) crimes;
h) fumo.

2. Intelectuais que aplicaram mal ou deterioraram o conhecimento e os recursos do sentimento com prejuízos à coletividade.

3. Artistas que corromperam a inteligência alheia nos abusos da imaginação viciosa provocados pelas suas obras ao próximo.

4. Oradores, tribunos e pessoas que influenciaram mal pela palavra, caluniando, ferindo, comprometendo criaturas na maledicência.

5. Utilização desregrada do sexo, no terreno das paixões irresponsáveis, prejudicando corações e provocando tragédias.

6. Casos profundos de cometimentos graves, nos crimes, suicídios, sacrifícios físicos a pessoas, atos de delinquência, abusos da força.

7. Imprudência, desmazelo, revolta, preguiça, embriaguez, cólera, ociosidade, desânimo.

Na Família

Ontem

8. Filhos do passado, onde inoculamos o egoísmo e a intolerância.

9. Irmãos que arrojamos à intemperança e à delinquência.

10. Jovem que induzimos ao desequilíbrio e à crueldade.

11. Esposo que precipitamos na deserção, com os próprios desenganos e traições.

12. Mulher que menosprezamos, obrigando-a a resvalar no poço da loucura.

13. Amigos com os quais construímos sólida amizade e entendimento no reconforto da segurança recíproca.

Na Profissão Ontem

14. Pensadores que corrompiam a mente popular com as depravações.

15. Conquistadores militares, tiranos que forjaram a miséria física e moral dos semelhantes.

16. Dominadores políticos que dilapidaram a confiança do povo.

17. Guerreiros e soldados que usavam as armas para praticar seus instintos destruidores.

18. Carrascos rurais, agiotas desnaturados, defraudadores da economia pública e mordomos do solo, convertidos em agentes do furto.

19. Mulheres ocupadas na maledicência e na intriga, prejudicando a liberdade e o progresso.

No Mundo

Ontem

20. Protagonistas de tragédias passionais, criminosos de guerra, aproveitadores de lutas civis, exploradores do sofrimento humano, caluniadores, empreiteiros do aborto e da devassidão, malfeitores.

NAS DOENÇAS

EFEITO

1. Vinca o perispírito com desequilíbrios que o predispõem a determinadas enfermidades, conforme o órgão atingido:

a) cardiopatias;
b) doenças hepáticas;
c) ulcerações, gastralgias;
d) loucura, idiotia;
e) surdez, mudez;
f) cansaço precoce, distrofia muscular, epilepsia, câncer;
g) mutilações dolorosas;
h) asmas, bronquites, doenças pulmonares.

2. Impedimentos cerebrais como alavancas coercitivas contra as tendências do mau uso da intelectualidade.

3. Moléstias ou mutilações que os incapacitem de cair nos mesmos erros.

4. Deficiências vocais e auditivas para não repetirem as mesmas inclinações.

5. Doenças inibidoras das funções genéticas, como meios de contenção dos impulsos inferiores das paixões.

6. Idiotia, loucura, cegueira, paralisias congênitas irreversíveis, deformações irremediáveis, como celas regenerativas para correção compulsória dos delitos cometidos.

7. Desequilíbrios e moléstias nessa mesma existência, consequentes dos prejuízos das funções dos órgãos físicos.

Na Família
Hoje

8. Pais despóticos.

9. Filhos rebeldes e viciados.

10. Filha desatinada nos desregramentos do coração.

11. Marido desleal ou ingrato.

12. Esposa desorientada e incompreensiva.

13. Parentes abnegados que nos auxiliam.

Na Profissão
Hoje

14. Professores laboriosos aprendendo a ministrar disciplinas.

15. Administradores capacitados à distribuição de valores e tarefas edificantes.

16. Comerciantes e agricultores auxiliando as mesmas comunidades que deprimiram.

17. Mecânicos, operários metalúrgicos e carpinteiros, dignificando o metal e a madeira que perverteram.

18. Servidores humildes do solo, no preparo, no plantio e colheita, nas zonas rurais com o suor as dividas que antes contraíram.

19. Servidoras domésticas, presas a obrigações caseiras, junto de caçarolas e tanques de lavar.
No Mundo

Hoje

20. Voltam em tribulações compatíveis com os débitos assumidos, às vezes junto às próprias no mesmo familiar, ou sofrem desastres dolorosos, acidentes, flagelos, incêndios, nas ocorrências individuais ou coletivas.
Ney P. Peres

29 - Vigilância, Abnegação


A - Vigilância

"Todo pensamento impuro pode se originar de duas fontes: a própria imperfeição da alma ou uma funesta influência que sobre ela se exerça. Neste último caso, há sempre indício de uma fraqueza, que nos torna aptos a receber essa influência, demonstrando que somos almas imperfeitas. Dessa forma, aquele que falir não poderá alegar como desculpa a influência de um Espirito estranho, desde que esse Espírito não o teria induzido ao mal se o tivesse encontrado inacessível à sedução."

(Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XXVIII. Coletânea de Preces Espíritas. Para Resistir a Uma Tentação, 20. Prefácio.)

A condição interior de atenção para com as próprias emoções, desejos, impulsos, pensamentos, gestos, olhares, atitudes e respostas verbalizadas consiste na preocupação em pautar nossas reações dentro de padrões condizentes com o conhecimento evangélico. A observação de nós mesmos deverá ser aplicada de modo permanente, e não apenas quando já ocorreu a transgressão. Entendemos claramente que a vigilância define um trabalho preventivo e não corretivo.
A vigilância tem, assim, sua atuação como meio de combate aos defeitos, de algum modo já conhecidos ou identificados, para que, com a devida antecedência e precaução, evitemos as ocorrências dos mesmos. O trabalho preventivo, a exemplo do que se desenvolve na especializada área da Segurança do Trabalho, procura relacionar numa atividade os riscos de acidentes e seus graus. As causas de acidentes são muito bem estudadas e todas as campanhas de prevenção visam à conscientização do homem que executa um trabalho produtivo, para que o desempenhe dentro de certas normas de segurança, específicas a cada tipo de atividade.

Há dispositivos de proteção nas máquinas, há cores e sinalização, há meios de prevenção contra incêndios e há também os equipamentos de proteção individual para uso do trabalhador. Estes são alguns dos meios para evitar acidentes. Muito análogos ao que queremos aqui relacionar com a nossa vigilância interior são, em Segurança do Trabalho, os chamados "atos inseguros". Sabe o operário que, ao executar um "ato inseguro", poderá lhe ocorrer um acidente, como por exemplo: trabalhar na construção de edifício sobre andaimes sem guarda-corpo; subir em postes sem o cinto de segurança; operar máquinas de desbaste sem óculos de proteção; remover peças com as mãos sem luvas em prensas de moldagem, etc.
Então, o que poderá também acontecer àquele que, conhecendo as suas fraquezas ou inseguranças, se arrisca a determinadas situações de perigo? Estará se expondo a sofrer um deslize moral, a lhe ocorrer um acidente de graves consequências. O que precisamos conhecer bem são as nossas próprias situações de risco, para não cometermos erros, caindo em tentações, e depois amargurar os arrependimentos das nossas falhas.

As tentações são os nossos riscos; estamos a elas sujeitos, e a nossa própria insegurança é resultado das imperfeições que ainda temos. Contamos sempre com os meios de proteção e de segurança individuais nos Espíritos Protetores, que, até certo ponto, afastam-nos das influências perigosas. Cabe-nos, no entanto, agir com firmeza, resistindo às tentações conhecidas.
Podemos muito bem evitar os "atos inseguros", escapando das situações de perigo, ou nos munindo dos meios de proteção para enfrentá-las.

Como formas de proteção, além do auxílio espiritual, contamos com a prece, a vontade, o esclarecimento, o esforço próprio. Ninguém melhor do que nós mesmos para precavermo-nos das situações que representam riscos às nossas próprias inseguranças morais.
Relacionemos algumas delas, talvez as mais comuns:

a) Diante dos convites de companhias que nos estimulam ao fumo, ao jogo, ao álcool, ao tóxico;

b) Nas discussões de assuntos polêmicos, que nos levam a intrigas, agressões, contendas;

c) Nas elaborações de pensamentos eróticos, que nos predispõem aos condicionamentos do sexo;

d) Na direção dos olhares maliciosos, que nos conduzem à cobiça;

e) Nas economias exageradas dos gastos, que se resumem em avareza;

f) Nas absorções de ressentimentos ou amarguras, que se cristalizam em intolerâncias, incompreensões;

g) Nos comentários desavisados, que nos conduzem à maledicência;

h) Nos afloramentos das emoções fortes, que nos fazem manifestar orgulho, presunção;

i) Nos ímpetos de defesa das nossas idéias, que refletem o personalismo;
j) Nas inquietações por algo desejado, que definem a impaciência;

l) Nos esquecimentos de obrigações assumidas, que caracterizam a negligência;

m) Nos descansos prolongados, que indicam ociosidade.

"Reconhece-se que um pensamento é mau quando ele se distancia da caridade — base de toda moral verdadeira; quando tem por princípio o orgulho, a vaidade e o egoísmo; quando sua concretização pode prejudicar alguém; quando, enfim, nos induza a coisas diferentes das que quereríamos que os outros nos fizessem."

B - Abnegação

"A piedade, quando bem sentida, é amor; o amor é devo lamento; devotamento é esquecimento, esquecimento de si mesmo, e este esquecimento é a abnegação em favor da criatura menos feliz, é a virtude por excelência, praticada pelo Divino Mestre e ensinada em sua doutrina tão santa e sublime; quando essa doutrina for restabelecida em sua pureza primitiva, quando for admitida por todos os povos, fará a Terra feliz, fazendo reinar em sua face a concórdia, a paz e o amor."

(Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XIII. Que a Mão esquerda Não Saiba o Que Faz a Direita. Item 17. A Piedade - Michel.)

A abnegação é indicativa daquilo que fazemos em favor de alguém, ou de alguma causa, sem interesse próprio, com esquecimento de nós mesmos, ou até com sacrifício do que possa nos pertencer.

Há alguns exemplos na História das Civilizações de criaturas abnegadas, que se dedicaram ao bem-estar do próximo, trabalhando de alguma forma para deixar aos homens uma contribuição marcante nas áreas do conhecimento, das descobertas científicas, das investigações, das religiões, dos direitos humanos, da moral, da caridade, etc. Por esse espírito de sacrifício próprio deixaram seus nomes aureolados de respeito e admiração.

Na própria História do Brasil rendemos homenagens aos personagens cívicos que colocaram o interesse da nação brasileira acima dos seus e dos das elites da época.

É o que muito nos falta hoje: pureza de intenções, abnegação, sacrifício de interesses, renúncia a proveitos pessoais, amor às causas nobres, dedicação às criaturas na miséria, desprendimento dos valores materiais. Devemos reconhecer, também, que há inúmeros corações vivendo em silêncio dando extraordinários exemplos de abnegação, sem fazer qualquer menção ao que realizam, ou sem serem identificados publicamente.

Todos temos, no entanto, possibilidades de praticar a abnegação, se não integralmente dedicados a uma obra mas, em nosso tempo disponível, procurando algo realizar sem remuneração, com desprendimento, dedicados a certas benemerências ao próximo, de qualquer natureza.

A prática da abnegação concretiza o exercício da caridade, dever humano que não podemos dispensar de nossas obrigações. O benefício desinteressado é o único agradável a Deus. Quem presta sua ajuda aos pequeninos que nada têm, sabe de antemão que não receberá deles agradecimentos ou retribuições. Por essa razão os serviços dedicados aos mais carentes devem caracterizar a caridade autêntica.

Admitimos que também podemos treinar a abnegação nas pequenas coisas, todas as vezes que voluntariamente renunciamos a algo nosso em favor do próximo.

A abnegação é o oposto do egoísmo. Praticando-a, o combatemos naturalmente.

Vejamos, em nossas atividades corriqueiras, algumas das muitas oportunidades que temos de praticar a abnegação:

a) Dedicando algumas horas do nosso lazer numa atividade assistência!;

b) Ministrando esclarecimentos evangélicos às criaturas em aprendizagem;

c) Oferecendo graciosamente os próprios serviços profissionais, onde possam ser mais úteis, aos que não os possam pagar;

d) Ensinando, sem interesse financeiro, os conhecimentos que detemos em quaisquer áreas;

e) Trabalhando no próprio lar, em algumas horas livres, na confecção de roupas e agasalhos para famílias carentes;

f) Contribuindo, com trabalho pessoal, no plantão vigilante a familiares ou amigos em convalescença;

g) Procurando conduzir o que realizarmos na esfera política ou social em benefício da maioria desprivilegiada, mesmo sacrificando
interesses próprios;

h) Indagando sempre, em nossas deliberações administrativas, se estamos atendendo aos princípios de justiça, tolerância e bondade para com o próximo;

i) Pautando tudo que fizermos nas produções diárias dentro do ideal de perfeição, aprimorando sempre para o melhor ao nosso alcance.

"A beneficência é bem compreendida, quando se limita ao círculo de pessoas da mesma opinião, da mesma crença ou do mesmo partido? — Não, é imperioso sobretudo abolir o espírito de seita e de partido, pois todos os homens são irmãos. O verdadeiro cristão vê irmãos em todos os seus semelhantes, e para socorrer o necessitado não busca saber a sua crença, a sua opinião, seja ela qual for." (Id., ibid. Item 20. Luís.)

Ney P. Peres

06 - OS MALEFÍCIOS DOS ABUSOS SEXUAIS

Ney Prieto Peres
"O aborto provocado é um crime, qualquer que seja a época da concepção? - Há sempre crime, no momento em que se transgride a lei de Deus. A mãe, ou qualquer outro, cometerá sempre um crime ao tirar a vida à criança antes do seu nascimento, porque isso é impedir a alma de passar pelas provas de que o corpo devia ser o instrumento. " Allan Kardec.O Livro dos Espíritos. Capítulo VII. Retorno à Vida Corporal. Pergunta 358.)

Também pelos abusos sexuais comprometemos o nosso corpo físico e o nosso equilíbrio emocional, dispersando as energias vitais procriadoras e enfraquecendo a nossa mente com imagens eróticas e perniciosas. Como todo ato natural, a união sexual representa uma manifestação divina quando as condições espirituais e os reais objetivos são seguidos. Da união sexual decorre a continuidade da espécie, possibilitando aos espíritos em processo de encarnação a oportunidade para seu desenvolvimento.

No ato sexual, além das atividades propriamente geradoras, importante permuta de hormônios e princípios magnéticos ativos processam-se entre o homem e a mulher. Além do aspecto biológico, há também, na união sexual, a permuta de vibrações sutis e de elementos espirituais vitalizantes de que ambos se abastecem no equilíbrio necessário das uniões afetivas dignas.

Desse modo, não nos cabe deturpar uma manifestação divina dos nossos espíritos como através dos tempos vem sendo feito. Dirigimo-nos em particular aos jovens que, na fase de sua formação física e moral, possam estar desperdiçando as suas energias procriadoras, tão importantes no fortalecimento do sistema cerebral e de todos os seus órgãos do corpo. Devemos canalizar o seu dinamismo energético na prática sadia de atividades produtivas, nos estudos, nos esportes nas artes, na música, além das oportunidades de ajuda ao próximo que oferece a Assistência Social e o trabalho junto às crianças faveladas nos serviços de Moral Cristã.

Nosso esforço em reformular os conceitos e as manifestações desavisadas do sexo é indispensável, improrrogável. Convém controlar os impulsos sexuais, moderá-los com justificativas cristãs, coerentes com a pureza em que se devem manter o corpo e o espírito. Mudar a nossa imaginação viciada no que se relaciona ao sexo e às suas manifestações. Orientar definitivamente os desejos de prazer procurados nas expressões animalizadoras, esforçando-se no trabalho de se espiritualizar em todos os sentidos, dentro de princípios renovadores.

A corrente tendenciosa, nos nossos dias, de dar livre expansão aos impulsos sexuais incorre numa completa distorção dos sentimentos de afeição e respeito. Sexo exige, antes de tudo, responsabilidade por parte de quem o pratica. E digam as consciências que propagam o "amor livre" até onde estão dispostas a assumir, em nome desse "amor", as consequências dos seus atos livres! União de corpos pressupõe união de almas, afeto, compromisso de um para com o outro num propósito sério.

As grandes provas de amor são dadas exatamente na medida da capacidade de renúncia e de sacrifício, em respeito e zelo pela criatura amada, e, como decorrência, em assumir a vida daqueles seres gerados por esse mesmo amor. O sexo exerce enorme influência em nossa vida, o seu potencial de realização pode ser comparado a uma grande represa que armazena e controla vultuosa massa de água, canalizando-a e transportando-a por condutos, fazendo-a movimentar potentes turbinas, geradoras de energia elétrica, distribuída em incontáveis benefícios. Conter, disciplinar, canalizar todo o nosso potencial de energias sexuais que está sediado na alma, utilizando-o nas realizações proveitosas em que colocamos o nosso entusiasmo, o nosso dinamismo, o nosso coração, é obra divina, digna e edificante.

Os abusos e as distorções do sexo levam, à semelhança de um dique rompido, às inundações desastrosas, ao desequilíbrio emocional, ao envolvimento nas teias grosseiras da nossa animalidade, ao embotamento dos nossos valores criadores e ao viciamento da nossa imaginação. "A união permanente de dois seres é um progresso na marcha da humanidade." (Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Pergunta 695.) "A abolição do casamento é o retorno à vida dos animais." .)

Resumimos, com Emmanuel (Emmanuel. Vida e Sexo. Introdução.), todas as considerações úteis relativas ao sexo nas seguintes normas: "Não proibição, mas educação. Não abstinência imposta, mas emprego digno, com o devido respeito aos outros e a si mesmo. Não indisciplina, mas controle. Não impulso livre, mas responsabilidade".

Aos Aprendizes do Evangelho é feito um convite à ponderação e ao posicionamento com relação a esse importante problema que a Humanidade enfrenta, e que, cada um, na tentativa de realizar a sublimação pessoal, tantas vezes já recomeçou nas oportunidades reencarnatórias, ou seja, o aprendizado na aplicação do sexo à luz do amor e da vida.

A - UM ROTEIRO PARA AUTO-ANÁLISE

No campo das afeições, ao analisarmos a gradação dos nossos impulsos de sentimentos em relação a outrem, parece ficar evidente a sequência que vai da simples simpatia à união propriamente dita, num processo crescente de aproximação e envolvimento de almas.
Com o intuito de facilitar a nossa reflexão quanto aos aspectos das manifestações afetivas, indicamos, a nosso ver, a sequência natural e crescente que estamos sujeitos a passar, nas ligações do coração.

Enumeramos nessa sequência três fases naturais: 1ª. aproximação; 2ª. contato; 3ª. ligação.

1ª. - Aproximação: Esta fase se inicia na "simpatia", prossegue na "admiração", estabelece-se na "amizade". Até esse ponto o nível de aproximação é o mais comum entre as criaturas, e não ultrapassou os limites de um relacionamento social. Das "amizades" podem surgir as expressões ou impulsos de "carinho", que são os primeiros sintomas de afeição mais profunda. A partir dessa etapa podemos ou não atingir a segunda fase.

2ª. - Contato: Esta fase tem seu começo na "atração" entre pessoas, quando já penetramos no terreno emocional. Da "atração" surge o "desejo" e logo após o contato na forma de "carícias". O nível de aprofundamento a que se pode chegar nesse estágio leva, conseqüentemente, à ligação.

3ª. - Ligação: Nesta etapa, o contato atinge certos níveis de "sensações" mútuas, chegando irresistivelmente ao seu clímax no relacionamento sexual. Ao chegar nesse ponto, subentende-se uma aceitação de parte a parte, que pressupõe ter sido completada a terceira fase, e que, para existir, implica na "responsabilidade" de ambos em assumir, um para o outro, uma vida em comum, numa "união" de propósitos. Laços mais estreitos foram tecidos e agora, num relacionamento conjugal, espera-se concretizar todo um conjunto de ideais.

Em resumo:
1ª. fase - Aproximação

• simpatia
• admiração
• amizade
• carinho
2ª. fase - Contato

• atração
• desejo
• carícia

3ª. fase - Ligação

- sensação
- relação sexual
- responsabilidade
- união

Onde encontramos os desequilíbrios?

Quando não nos é permitido transgredir de uma fase a outra. Senão, vejamos: ao nos aproximarmos de alguém e ao sentirmos "carinho", além de "simpatia", "admiração" e "amizade", estamos começando a entrar na fase de "contato". Portanto, caso não possamos ultrapassar uma simples "amizade", a atitude coerente é não passar dos sentimentos de "carinho".

Quando há um encaminhamento para o "contato" pela "atração" e "desejo", torna-se mais difícil impedir o aprofundamento, que poderá marchar para uma "ligação". É o que ninguém quer fazer, ou seja, parar na hora certa, impedir que os envolvimentos progridam. Quando não reagimos adequadamente e estabelecemos as "ligações" ilícitas, cometemos adultério, colhemos os dissabores, perturbamos os compromissos assumidos anteriormente, destruímos laços afetivos, comprometemos nossa consciência que fugiu às responsabilidades.

Nas transgressões, ao passarmos de uma das etapas à seguinte, encontramos os desequilíbrios afetivos e os enganos do coração, que devemos evitar. Vamos assim realizando a nossa auto-análise e nos posicionando prudentemente dentro desse esquema apresentado. Levemos em conta que as ligações afetivas ilícitas constituem o terreno das provas mais difíceis de serem superadas, e que por elas nos comprometemos a pesados encargos nesta e em vidas futuras.

Analisemos o que nos diz Mateus e o que esclarece Allan Kardec, relativamente ao adultério. Embora a nossa maioria social esteja embriagada nas manifestações desenfreadas do sexo, não acreditamos que essas verdades a seguir colocadas tenham sido superadas nos atuais dias controvertidos.

"Ouvistes o que foi dito aos Antigos: Não cometereis adultério. Porém, eu vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher com mau desejo para com ela, já em seu coração adulterou com ela." (Mateus, 5 :27-28.)

"É necessário fazer uma distinção importante. À medida que a alma que está no caminho errado adianta-se na vida espiritual, instrui-se e, pouco a pouco, despe-se das imperfeições conforme sua vontade seja mais ou menos forte, em virtude do livre-arbítrio. Todo pensamento menos puro é resultante da pouca evolução da alma, mas, de acordo com o desejo que alimenta de aprimorar-se, mesmo esse pensamento menos puro se lhe propicia uma oportunidade de adiantar-se, porque ela o repele com energia.
É indício do esforço despendido para apagar uma mancha e não ceder, se surgir uma nova oportunidade de satisfazer a um desejo menos digno, e, após ter resistido, sentir-se-á mais robustecido e alegre pela vitória conquistada. Ao contrário, a alma que não teve boas resoluções procura uma ocasião de praticar o erro e, se não o efetiva, não é por virtude de sua vontade, mas por falta de oportunidade.
É, pois, tão culpada quanto o seria se o tivesse cometido. Em resumo, o progresso está realizado na pessoa que nem ao menos concebe um pensamento menos puro, o progresso está em vias de realização na que tem um pensamento dessa natureza e o repele, e, naquela que ao surgir tal pensamento nele se compraz, o mal está em todo seu vigor. Numa o trabalho está feito, na outra, por fazer. E Deus, que é justo, leva em consideração todos esses fatores na responsabilidade dos atos e pensamentos dos homens."(Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo VIII. Bem-aventurados os Puros de Coração. Pecado por Pensamentos. Adultério.)

B - ALGUMAS AUTO-AFIRMAÇÕES PARA DOMINAR DESEJOS SEXUAIS

Para superar as eventuais fraquezas e a pouca firmeza nos propósitos de dominar os impulsos eróticos e os pensamentos de prazer sexual, sugerimos repetir com frequência as afirmações que seguem, procurando sentir o mais profundamente possível o seu conteúdo:

"QUERO TRANQUILAMENTE SUPERAR OS ENVOLVIMENTOS ERÓTICOS E COMPREENDER AS ATRAÇÕES SEXUAIS COMO IMPULSOS DINÂMICOS DA ALMA E EXPRESSÕES DE AMOR EM VIAS DE SUBLIMAÇÃO".

"BUSCO ADQUIRIR EQUILÍBRIO, BEM-ESTAR, SAÚDE E APLICAR AS ENERGIAS SEXUAIS DA ALMA EM TRABALHO PRODUTIVO".

"DESPERDIÇAR ENERGIAS PROCRIADORAS É AUMENTAR TENSÕES, COMPROMETER O EQUILÍBRIO PSÍQUICO E DESGASTAR OS RECURSOS ORGÂNICOS".

"TENHO VONTADE E ENERGIA SUFICIENTES PARA REPELIR OS DESEJOS SEXUAIS QUE AINDA POSSAM ME ATORMENTAR".

"EVITAREI, CALMA E FIRMEMENTE, PENSAMENTOS OU IMAGENS QUE DESPERTEM SENSAÇÕES E DESEJOS SEXUAIS".

02 - FUMAR É SUICÍDIO


"Quando o homem está mergulhado, de qualquer maneira, na atmosfera do vicio, o mal não se torna para ele um arrastamento quase irresistível? — Arrastamento, sim; irresistível, não. Porque no meio dessa atmosfera de vícios encontra, às vezes, grandes virtudes. São Espíritos que tiveram a força de resistir, e que tiveram, ao mesmo tempo, a missão de exercer uma boa influência sobre os seus semelhantes."
(Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Livro Terceiro. Capítulo I. A Lei Divina ou Natural. Pergunta 645.)
Procuramos, aqui, tecer algumas considerações sobre o vício do fumo, hábito puramente imitativo e que não tem qualquer justificativa

A - O FUMAR, COMO COMEÇOU?

O costume herdado dos animais de farejar, cheirar e provar o gosto, certamente levou o homem, em épocas muito distantes a experimentar o gosto da fumaça. Provavelmente, alguns homens pré-históricos mais astutos resolveram enrolar algumas folhinhas secas e provar sua fumaça. Através dos tempos, devem ter experimentado muitas delas, não as aprovando pelo seu gosto amargo. No entanto, aquela folha larga e amarelada, depois balizada de Nicotiana Tabacum, deve ter provocado algo de estranho no experimentador pela ação ativa do alcalóide que ela contém (bastam apenas 40 a 60 miligramas dele para matar um homem).

Historicamente, consta que em 1560 o embaixador francês João Nicot enviou à rainha Catarina de Medicis as primeiras remessas daquele vegetal, cultivado em seus jardins em Lisboa, porque o julgava uma erva perfumada e dotada de propriedades terapêuticas. A rainha patrocinou a difusão do fumo como medicamento, utilizando-o em pílulas, pomadas, xaropes, infusões, banhos, etc. Porém, desses usos surgiram — o que a rainha encobriu — inúmeros envenenamentos, intoxicações e mortes. O idealista Nicot, que deu seu nome ao alcalóide nicotina, enquadrado entre os "venenos eufóricos", deve ter experimentado no Plano Espiritual os arrependimentos de sua triste iniciativa, acompanhando os casos mórbidos que suas perfumadas folhinhas provocaram.

B - O FALSO PRAZER - UMA ILUSÃO

O hábito de fumar começa, em geral, na infância ou na adolescência, incentivado pelos mais velhos e tendo exemplos até mesmo dentro de casa. São os garotos provocados pelos coleguinhas que fumam e que, na sua imaginação, já se sentem homens feitos (como se o fumar fosse uma condição de ser adulto). A tentativa é feita, provoca tosse e tonturas, mas dizem eles — são os sacrifícios do noviciado. O melhor vem depois: dá charme, auto-segurança, estímulo cerebral, é bacana, as menininhas gostam. Enfim, atende a tudo aquilo que o adolescente deseja: auto-afirmação, prestígio entre os amiguinhos, pose de artista, companhias a qualquer hora, namoradinhas, e, nesse contexto, a ilusão do prazer de ser querido e estar realizado. Faz parte do grupo. Quem não fuma, não entra na "patota".

Entretanto, ninguém conta nem fala das desvantagens e dos males do fumo. Ninguém vê e nem pode examinar os tóxicos que a fumacinha leva ao organismo. Hoje já se fala, até na televisão, sobre o alcatrão e a nicotina que o cigano contém, mas o que é mesmo isso? Ah, isso ninguém conhece. E ninguém conhece porque não é divulgado, porque não interessa divulgar. O que interessa é vender. E os nossos amiguinhos caem como patinhos, levados também pelas exuberantes propagandas dos fabricantes, sem saberem nada sobre os venenos que ingerem, sobre as doenças que provocam, as mortes que causam. E sem saberem que as estatísticas médicas provam que, dentre oito fumantes, um certamente sofrerá de câncer, e ainda que cada cigarro encurta a vida do homem em quatorze minutos. Falem dessas verdades aos garotos que queiram ensinar outros a fumar.

C - O QUE SOFRE O ORGANISMO HUMANO?

A quantidade de nicotina absorvida varia de 2,5 a 3,5 miligramas por cigarro. Ao ser tragada, a fumaça entra pelos pulmões carregando vários gases voláteis, que se condensam no alcatrão, passando à corrente sanguínea juntamente com a nicotina. Esta é tóxica, venenosa; o alcatrão é cancerígeno. Esses componentes agem na intimidade celular, principalmente nas células do sistema nervoso central, modificando o seu metabolismo, ou seja, as transformações físico-químicas que lhes permitem realizar os trabalhos de assimilação e desassimilação das substâncias necessárias à sua função. Essas alterações provocam no fumante a sensação momentânea de bem-estar, com supressão dos estados de ansiedade, medo, culpa. É o efeito de uma ação tóxica e mórbida levada ao sistema nervoso central. Aos instantes iniciais de estímulos segue-se um retardo da atividade cerebral e, em seguida, depressão, apatia, angústia.

Esses elementos químicos tóxicos, além desses efeitos, agravam as doenças cardíacas, como a angina, o enfarte, a hipertensão, a arterios­clerose. As vias respiratórias se irritam e, progressivamente, intoxicam-se, dando origem a traqueítes, bronquites crônicas, enfïsemas pulmonares, insuficiência respiratória, além dos casos de câncer bucal, da faringe, da laringe, do pulmão e do esôfago. A mulher é ainda mais sensível aos efeitos da nicotina, principalmente na gravidez, quando a nicotina atravessa a placenta, ocasionando danos ao feto, contamina o leite materno e pode também provocar abortos, natimortos e prematuros. Há também casos de esterilidade acarretada pelo fumo.

Em trabalhos recentes, ficou comprovada a diminuição da capacidade visual dos fumantes de 26% ou mais. A ação tóxica afeta também as glândulas, dificultando as funções orgânicas. Numa universidade norte-americana, uma pesquisa provou que os índices de reprovação são bem maiores entre os fumantes do que entre os não-fumantes. Porém, o que melhor retrata esse quadro é o fato de um fumante que absorve dois maços por dia, durante 30 anos, ter sua vida diminuída em 8 ou 10 anos. Portanto, esta é, indubitavelmente, uma forma de suicídio.

D - O PERISPÍRITO FICA IMPREGNADO

Os efeitos nocivos do fumo transpõem os níveis puramente físicos, atingindo o envoltório sutil e vibratório que modela, vivifica e abastece o organismo humano, denominado perispírito ou corpo espiritual. O perispírito, na região correspondente ao sistema respiratório, fica, graças ao fumo, impregnado e saturado de partículas semimateriais nocivas que absorvem vitalidade, prejudicando o fluxo normal das energias espirituais sustentadoras, as quais, através dele, se condensam para abastecer o corpo físico. O fumo não só introduz impurezas no perispírito - que são visíveis aos médiuns videntes, à semelhança de manchas, formadas de pigmentos escuros, envolvendo os órgãos mais atingidos, como os pulmões —, mas também amortece as vibrações mais delicadas, bloqueando-as, tornando o homem até certo ponto insensível aos envolvimentos espirituais de entidades amigas e protetoras.

Após o desencarne, os resultados do vício do fumo são desastrosos, pois provocam uma espécie de paralisia e insensibilidade aos trabalhos dos espíritos socorristas por longo período, como se permanecesse num estado de inconsciência e incomunicabilidade, ficando o desencarnado prejudicado no recebimento do auxílio espiritual. Numa entrevista dada ao jornalista Fernando Worm (publicada na Folha Espirita, agosto de 1978, ano V, n° 53), Emmanuel, através de Chico Xavier, responde às seguintes perguntas:

F.W. A ação negativa do cigarro sobre o perispírito do fumante prossegue após a morte do corpo físico? Até quando?
Emmanuel: O problema da dependência continua até que a impregnação dos agentes tóxicos nos tecidos sutis do corpo espiritual ceda lugar à normalidade do envoltório perispiritual, o que, na maioria das vezes, tem a duração do tempo em que o hábito perdurou na existência física do fumante. Quando a vontade do interessado não está suficientemente desenvolvida para arredar de si o costume inconveniente, o tratamento dele, no Mundo Espiritual, ainda exige quotas diárias de sucedâneos dos cigarros comuns, com ingredientes análogos aos dos cigarros terrestres, cuja administração ao paciente diminui gradativamente, até que ele consiga viver sem qualquer dependência do fumo.

F.W. Como descreveria a ação dos componentes do cigarro no perispírito de quem fuma?
Emmanuel: As sensações do fumante inveterado, no Mais Além, são naturalmente as da angustiosa sede de recursos tóxicos a que se habituou no Plano Físico, de tal modo obcecante que as melhores lições e surpresas da Vida Maior lhe passam quase que inteiramente despercebidas, até que se lhe normalizem as percepções. O assunto, no entanto, com relação à saúde corpórea, deveria ser estudado na Terra mais atentamente, já que a resistência orgânica decresce consideravelmente com o hábito de fumar, favorecendo a instalação de moléstias que poderiam ser claramente evitáveis. A necropsia do corpo cadaverizado de um fumante em confronto com o de uma pessoa sem esse hábito estabelece clara diferença.

E - DEIXAR DE FUMAR: UM TRABALHO DE REFORMA INTIMA

O esclarecimento trazido pelo Espiritismo vem aduzir maior número de razões, e com maior profundidade, àqueles defendidos pela Medicina e Saúde Pública. Dentro de um propósito transformista, que a vivência doutrinária nos evidencia, é indispensável abandonar o fumo, principalmente os que se dedicam aos trabalhos de assistência espiritual, que veiculam energias vitalizantes, transmitidas nos serviços de passes.

O zelo e o respeito ao organismo, que nos é legado na presente existência, devem nos levar a compreender que não temos o direito de comprometê-lo com a carga de toxinas que o fumo acrescenta, alertando-nos com relação a esse problema. A necessidade de cada vez mais nos capacitarmos espiritualmente não pode dispensar a libertação de vícios, dentre eles o fumo. Encontramos inúmeras razões que justificam o deixar de fumar e não conseguimos enumerar uma apenas que, objetivamente, justifique o vício.

F - A VONTADE É A FERRAMENTA FUNDAMENTAL

Há vários métodos que ensinam como deixar de fumar, porém todos partem de um pressuposto: Vontade.
A vontade pode ser fraca ou forte, e ela diz muito do propósito e da capacidade de decisão que imprimimos à nossa vida. A vontade, como vimos, pode ser fortalecida por afirmações repetidas por nós mesmos, como forças desencadeadoras de nossas potencialidades psíquicas, pensando e até dizendo: "eu quero deixar de fumar", "eu não tenho necessidade do fumo", "eu vou deixar de fumar". Assim, vamos fortalecendo a vontade e, ao largarmos o cigarro, devemos fazê-lo de uma só vez, pois não é aconselhável deixar aos poucos. O acompanhamento médico, porém, é recomendado em qualquer caso.

Resistir de todos os modos aos impulsos que naturalmente vão surgir: dessa forma, no decorrer dos dias, a autoconfiança aumenta. Com isso desenvolvemos um treinamento de grande valor com relação ao domínio e ao controle da vontade, conduzindo-a em direção ao aperfeiçoamento interior, trabalho esse do qual sempre nos afastamos, levados por envolvimentos de toda sorte. Nada se conquista sem trabalho. E, vencendo o fumo, capacitamo-nos a superar outros condicionamentos que nos prejudicam igualmente na caminhada ev