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sábado, 15 de setembro de 2012

Comentários de Emmanuel, Chico, Herculano Pires baseado no item 27 do Evangelho do Capítulo 5 Bem Aventurados os Aflitos..



autógrafos  bienal  do  livro


Chico Xavier

Francisco Cândido Xavier esteve no encerramento da II Bienal Internacional do Livro autografando livros por ele psicografados. Entre essas obras figura um volume de poemas intitulado “Flores de 0utono”, de autoria de Jesus Gonçalves, poeta hanseniano que desencarnou no Sanatório de Pirapitingui, neste Estado. O livro se divide em três partes: 1ª) poemas da fase em que o poeta era materialista; 2ª) poemas ela fase espírita do poeta; 3ª) poemas do após morte, psicografados por Chico Xavier.
A essa ultima parte pode agora ser acrescentado o soneto “Mensagem de Companheiro” que Chico nos conta como recebeu:
“Essa página foi produzida numa de nossas reuniões públicas recentes. Tínhamos conosco vários visitantes ligados a entes queridos, atualmente na condição de hansenianos. A nossa conversação, antecedendo as tarefas espirituais da noite, versava sobre companheiros transitoriamente separados do lar e da família. Iniciada a reunião, O Evangelho Segundo o Espiritismo nos ofereceu para estudo o item 27 do capítulo V, intitulado “Dever-se-á pôr termo às provas do próximo?”, que nos deu oportunidade a muitas reflexões.
Ao fim das tarefas nosso amigo Jesus Gonçalves escreveu a poesia que passo às suas mãos amigas, na idéia de que ela tenha utilidade para os seus sempre valiosos comentários.”
Realizada de 17 a 25 de junho de 1972 no Pavilhão Armando Arruda Pereira, Ibirapuera, São Paulo – Capital.

MENSAGEM DE COMPANHEIRO

Jesus Gonçalves

A ti, meu irmão, que assumiste comigo pesados encargos da existência num sanatório de hansenianos, sem possibilidades de cura física; a ti, para quem a ciência da Terra não conseguiu trazer, tanto quanto a mim, o medicamento salvador; a ti, que não tiveste, qual me ocorreu, a consolação dos egressos; a ti, que sofres entre a fé viva e a dúvida inquietante, entre a tentação à revolta e a aceitação da prova, acreditando-te freqüentemente esquecido pelas forças do Céu, ofereço a lembrança fraternal destes versos.

Não te admitas réu de afrontosa sentença,
Largado de hora em hora à sombra em que te esmagas,
Varando tanta vez humilhações e pragas
À feição de calhaus da humana indiferença.

Crueldade, paixão, injúria, crime, ofensa
Criaram-nos, um dia, a estampinha de chagas!...
No pretérito abriste o espinheiro em que vagas
E, embora a provação, trabalha, serve e pensa.

Ânsia, tribulação, abandono, amargura,
São recursos da lei com que a lei nos depura
O coração trancado em nódoas escondidas...

Bendize, amado irmão, as feridas que levas,
A dor extingue o mal e o pranto lava as trevas
Que trazemos em nós dos erros de outras vidas.

A ESTAMENHA DE CHAGAS

Irmão Saulo

Jesus Gonçalves utiliza em seus versos expressões como essas: túnica de chagas e estamenha de chagas para figurar a condição em que viveu no final da sua última existência terrena. A túnica de estamenha, grosseiro tecido de lã, era vestimenta comum na Judéia do tempo de Jesus. Evidente o simbolismo poético dessas expressões. Os judeus pobres vestiam-se de estamenha, enquanto os ricos usavam túnicas refulgentes dos mais finos tecidos. Mas na vida espiritual essa situação se invertia, como vemos na parábola evangélica de Lázaro e o rico.
No soneto de Jesus Gonçalves vemos o mesmo processo. A estamenha de chagas é tecida no passado da própria criatura pela sua crueldade e a sua arrogância. No tear do destino os fios da loucura humana são tecidos pelas nossas ações. E aquilo que tecemos é precisamente o que iremos vestir em próxima existência. Ninguém, portanto, está sujeito na Terra a uma “afrontosa sentença”, mas apenas submetido às conseqüências de seu próprio comportamento em vida anterior. A cada um segundo as suas obras, porque somente assim aprenderemos a vencer o mal, a superar nossas tendências inferiores, nosso egoísmo criminoso.
Os “recursos da lei” não representam condenação implacável, mas corrigenda necessária. Por isso escrevia Léon Denis: “A dor é uma lei de equilíbrio e educação”. Mas nem por isso devemos pensar que os sofredores não devem ser socorridos. A lei maior da caridade nos obriga a ajudar os que sofrem. É o que ensina o item 27 do capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo. É verdade que “a dor extingue o mal e o pranto lava as trevas”, mas a indiferença ante a dor e o pranto do próximo é também um mal que pode e deve ser extinto pela caridade. Socorrendo os que sofrem estaremos tecendo, no tear do nosso destino, os fios da sensatez e da bondade que nos preparam uma túnica de luz para o futuro.
 
Do livro “Na Era do Espírito”. Psicografia de Francisco C. Xavier e Herculano Pires. Espíritos Diversos

Evangelho Segundo o Espiritismo:Provas Voluntárias e Verdadeiro Cilício



• Um Anjo da Guarda •
Paris, 1863
26. Perguntais se é permitido abrandar as vossas provas. Essa pergunta lembra estas outras: é permitido ao que se afoga procurar salvar-se? E a quem espetou-se num espinho, retirá-lo? Ao que está doente, chamar um médico? As provas têm por fim exercitar a inteligência, assim como a paciência e a resignação. Um homem pode nascer numa posição penosa e difícil, precisamente para obrigá-lo a procurar os meios de vencer as dificuldades. Mérito consiste em suportar sem murmurações as conseqüências dos males que não se podem evitar, em perseverar na luta, em não se desesperar quando não se sai bem, e nunca em deixar as coisas correrem, que seria antes preguiça que virtude.
Essa questão nos conduz naturalmente a outra. Desde que Jesus disse: "Bem-aventurados os aflitos", há méritos em procurar as aflições, agravando as provas por meio de sofrimentos voluntários? A isso responderei muito claramente: sim, e um grande mérito, quando os sofrimentos e as privações têm por fim o bem do próximo, porque se trata da caridade pelo sacrifício; não, quando eles só têm por fim o bem próprio, porque se trata de egoísmo pelo fanatismo.
Há uma grande distinção a fazer. Quanto a vós, pessoalmente, contentai-vos com as provas que Deus vos manda, não aumenteis a carga já por vezes bem pesada; aceitai-as sem queixas e com fé, eis tudo o que Ele vos pede. Não enfraqueçais o vosso corpo com privações inúteis e macerações sem propósito, porque tendes necessidade de todas as vossas forças, para cumprir vossa missão de trabalho na Terra. Torturar voluntariamente, martirizar o vosso corpo, é infringir a lei de Deus, que vos dá os meios de sustentá-lo e de fortalecê-lo. Debilitá-lo sem necessidade é um verdadeiro suicídio. Usai, mas não abuseis: tal é a lei. O abuso das melhores coisas traz as suas punições, pelas conseqüências inevitáveis.
Bem outra é a questão dos sofrimentos que uma pessoa se impõe para aliviar o próximo. Se suportardes o frio e a fome para agasalhar e alimentar aquele que necessita, e vosso corpo sofrer com isso, eis um sacrifício que é abençoado por Deus. Vós, que deixais vossos toucadores perfumados para levar consolação aos aposentos infectos; que sujais vossas mãos delicadas curando chagas; que vos privais do sono para velar à cabeceira de um doente que é vosso irmão em Deus; vós enfim, que aplicais a vossa saúde na prática das boas obras, tendes nisso o vosso cilício, verdadeiro cilício de bênçãos, porque as alegrias do mundo não ressecaram o vosso coração. Vós não adormecestes no seio das voluptuosidades enlanguescedoras da fortuna, mas vos transformastes nos anjos consoladores dos pobres deserdados.
Mas vós que vos retirais do mundo para evitar suas seduções e viver no isolamento, qual a vossa utilidade na Terra? Onde está a vossa coragem nas provas, pois que fugis da luta e desertais do combate? Se quiserdes um cilício, aplicai-o à vossa alma e não ao vosso corpo; mortificai o vosso Espírito e não a vossa carne; fustigai o vosso orgulho; recebei as humilhações sem vos queixardes; machucai vosso amor-próprio; insensibilizai-vos para a dor da injúria e da calúnia, mais pungente que a dor física. Eis aí o verdadeiro cilício, cujas feridas vos serão contadas, porque atestarão a vossa coragem e a vossa submissão à vontade de Deus.
27. Deve-se por termo às provas do próximo, quando se pode, ou devemos, por respeito aos desígnios de Deus, deixá-las seguir o seu curso?
• Bernardim •
Espírito protetor, Bordeaux, 1863
_ Já vos dissemos e repetimos, muitas vezes, que estais na terra de expiação para completar as vossas provas, e que tudo o que vos acontece é conseqüência de vossas existências anteriores, as parcelas da dívida que tendes a pagar. Mas este pensamento provoca em certas pessoas reflexões que devem ser afastadas, porque podem ter funestas conseqüências.
Pensam alguns que, uma vez que se está na Terra para expiar, é necessário que as provas sigam o seu curso. Há outros que chegam a pensar que não somente devemos evitar de atenuá-las, mas também devemos contribuir para torná-las mais proveitosas, agravando-as. É um grande erro. Sim, vossas provas devem seguir o curso que Deus lhes traçou, mas acaso conheceis esse curso? Sabeis até que ponto elas devem ir, e se vosso Pai Misericordioso não disse ao sofrimento deste ou daquele vosso irmão: "Não irás além disto?" Sabeis se a Providência não vos escolheu, não como instrumento de suplício, para agravar o sofrimento do culpado, mas como bálsamo consolador, que deve cicatrizar as chagas abertas pela sua justiça?
Não digais, portanto, ao verdes um irmão ferido: "É a justiça de Deus, e é necessário que siga o seu curso", mas dizei, ao contrário: "Vejamos que meios nosso Pai Misericordioso me concedeu, para aliviar o sofrimento de meu irmão. Vejamos se o meu conforto moral, meu amparo material, meus conselhos, poderão ajudá-lo a transpor esta prova com mais força, paciência e resignação. Vejamos mesmo se Deus não me pôs nas mãos os meios de fazer cessar este sofrimento; se não me deu, como prova também, ou talvez como expiação, o poder de cortar o mal e substituí-lo pela bênção da paz".
Auxiliai-vos sempre, pois, em vossas provas mútuas, e jamais vos encareis como instrumentos de tortura. Esse pensamento deve revoltar todo homem de bom coração, sobretudo os espíritas. Porque o espírita, mais que qualquer outro, deve compreender a extensão infinita da bondade de Deus. O espírita deve pensar que sua vida inteira tem de ser um ato de amor e de abnegação, e que por mais que faça para contrariar as decisões do Senhor, sua justiça seguirá o seu curso. Ele pode, pois, sem medo, fazer todos os esforços para aliviar o amargor da expiação, porque somente Deus pode cortá-la ou prolongá-la, segundo o que julgar a respeito.
Não seria excessivo orgulho, da parte do homem, julgar-se com o direito de revolver, por assim dizer, a arma na ferida? De aumentar a dose de veneno para aquele que sofre, sob o pretexto de que essa é a sua expiação? Oh! Considerai-vos sempre como o instrumento escolhido para fazê-la cessar. Resumamos assim: estais todos na Terra para expiar; mas todos, sem exceção, deveis fazer todos os esforços para aliviar a expiação de vossos irmãos, segundo a lei de amor e caridade.
28. Um homem agoniza, presa de cruéis sofrimentos. Sabe-se que o seu estado é sem esperanças. É permitido poupar-lhe alguns instantes de agonia, abreviando-lhe o fim?
• São Luís •
Paris, 1860
_ Mas quem vos daria o direito de prejulgar os desígnios de Deus? Não pode ele conduzir um homem até a beira da sepultura, para em seguida retirá-lo, com o fim de fazê-lo examinar-se a si mesmo e modificar-lhe os pensamentos? A que extremos tenha chegado um moribundo, ninguém pode dizer com certeza que soou a sua hora final. A Ciência, por acaso, nunca se enganou nas suas previsões?
Bem sei que há casos que se podem considerar, com razão, como desesperados. Mas se não há nenhuma esperança possível de um retorno definitivo à vida e à saúde, não há também inúmeros exemplos de que, no momento do último suspiro, o doente se reanima e recobra suas faculdades por alguns instantes? Pois bem: essa hora de graça que lhe é concedida, pode ser para ele da maior importância, pois ignorais as reflexões que o seu Espírito poderia ter feito nas convulsões da agonia, e quantos tormentos podem ser poupados por um súbito clarão de arrependimento.
O materialista, que só vê o corpo, não levando em conta a existência da alma, não pode compreender essas coisas. Mas o espírita, que sabe o que se passa além-túmulo, conhece o valor do último pensamento. Aliviai os últimos sofrimentos o mais que puderdes, mas guardai-vos de abreviar a vida, mesmo que seja em apenas um minuto, porque esse minuto pode poupar muitas lágrimas no futuro.
29. Aquele que está desgostoso da vida, mas não querendo abreviá-la, será culpado, indo procurar a morte num campo de batalha, com o pensamento de torná-la útil?
• São Luís •
Paris, 1860
_Quer o homem se mate ou se faça matar, o objetivo é sempre o de abreviar a vida, e por conseguinte, há o suicídio de intenção, embora não haja de fato. O pensamento de que a sua morte servirá para alguma coisa é ilusório, simples pretexto, para disfarçar a ação criminosa e desculpá-lo aos seus próprios olhos. Se ele tivesse seriamente o desejo de servir à pátria, procuraria antes viver para dedicar-se à sua defesa, e não morrer, porque uma vez morto já não serve para nada. A verdadeira abnegação consiste em não temer a morte quando se trata de ser útil, em enfrentar o perigo e oferecer o sacrifício da vida, antecipadamente e sem pesar, se isso for necessário. Mas a intenção premeditada de procurar a morte, expondo-se para tanto ao perigo, mesmo a serviço, anula o mérito da ação.
30. Um homem se expôs a um perigo iminente para salvar a vida de um semelhante, sabendo que ele mesmo sucumbirá: isso pode ser considerado como suicídio?
• São Luís •
Paris, 1860
_ Não havendo a intenção de procurar a morte, não há suicídio, mas devotamento e abnegação, mesmo com a certeza de perecer. Mas quem pode ter essa certeza? Quem diz que a Providência não reservará um meio inesperado de salvação, no momento mais crítico? Não pode ela salvar até mesmo aquele que estiver na boca de um canhão? Pode ela, muitas vezes, querer levar a prova da resignação até o último limite, e então uma circunstância inesperada desvia o golpe fatal.
31. Os que aceitam com resignação os seus sofrimentos, por submissão à vontade de Deus e com vistas à sua felicidade futura, não trabalham apenas para eles mesmos, e podem tornar os seus sofrimentos proveitosos para outros?
• São Luís •
Paris, 1860
_ Esses sofrimentos podem ser proveitosos para outros, material e moralmente. Materialmente, se, pelo trabalho, as privações e os sacrifícios que se impõem contribuem para o bem-estar material do próximo. Moralmente, pelo exemplo que dão, com sua submissão à vontade de Deus. Esse exemplo do poder da fé espírita pode incitar os infelizes à resignação, salvando-os do desespero e de suas funestas conseqüências para o futuro.
Copyright 2004 - LAKE - Livraria Allan Kardec Editora
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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

CONSÓRCIO MATRIMONIAL


Eurípedes Barsanulfo, o abençoado Missionário sacramentando, nas
inesquecíveis aulas que ministrava no Colégio “Allan Kardec”, tinha por hábito conclamar os jovens discípulos a que levassem em alta consideração o compromisso matrimonial e se fizessem pais de
muitos filhos.
Sempre que se fazia propício o ensejo, o iluminado Apóstolo tornava à valiosa conclamação.
Certo dia, um aluno mais arrojado, após escutar o conselho formoso, solicitando desculpas, inquiriu o mestre:
- “Seu” Eurípedes, o senhor que tanto nos aconselha ao matrimônio, por que não se casou?
Ouve um grande silêncio na classe.
Eurípedes fitou o adolescente, demoradamente. Com os olhos nublados e a voz embargada, respondeu de maneira inesquecível:
- Eu já sou casado, meu filho. Renunciei às satisfações pessoais, a fim de associar-me com a Humanidade sofredora de todo lugar...
Se amas, encontrarás em toda parte “os filhos do Calvário” esperando por ti. Tomá-los-ás, então, como irmãos, amigos, nubentes e filhos carentes do teu carinho e do teu auxílio.
Não titubeies, na decisão, ante eles e doa-te sem qualquer receio.

O Guia da senhora Mally

Revista Espírita, agosto de 1859
(Sociedade, 8 de julho de 1859).
1. Evocação do guia da senhora Mally. - R. Eu venho, isso me é fácil.
2. Sob qual nome quereis que vos designemos? - R. Como quiserdes; por aquele sob o qual vós já me conhecíeis.
3. Que motivo vos ligou à senhora Mally e às suas filhas? - R. Primeiro, um antigo relacionamento, e uma amizade, uma simpatia que Deus sempre protege.
4. Diz-se que foi a sonâmbula, senhora de Dupuy, que vos deu à senhora Mally; isso é verdade? - R. Foi ela quem lhe disse que eu estava perto dela.
5. É que dependeis dessa sonâmbula? - R. Não.
6. Ela poderia vos retirar de perto dessa senhora? - R. Não.
7. Se essa sonâmbula viesse a morrer, isso teria sobre vós uma influência qualquer? - R. Nenhuma.
8. Faz muito tempo que vosso corpo morreu? - R. Sim, vários anos.
9. Que éreis em vossa vida? - R. Criança morta aos oito anos.
10. Sois feliz ou infeliz como Espírito? - R. Feliz; não tenho nenhuma inquietação pessoal, não sofro senão pelos outros; em verdade, que sofro muito por eles.
11. Fostes vós quem apareceu, na escada, à senhora Mally sob a forma de um jovem que ela tomou por um ladrão? - R. Não; era um companheiro.
12. E uma outra vez, sob a forma de um cadáver? Isso poderia impressioná-la lastimosamente; foi uma má peça que não anuncia a benevolência. - R. Longe disso em muitos casos; mas aqui era para dar, à senhora Mally, pensamentos mais corajosos; o que tem um cadáver de apavorante?
13. Tendes, pois, o poder de tornar-vos visível à vontade? - R. Sim, mas disse-vos que esse não era eu.
14. Éreis igualmente estranho às manifestações materiais que se produziram em sua casa? - R. Perdão! Isso sim; foi isso que me impus para ela, como trabalho material; mas realizei-lhe um trabalho bem mais útil e bem mais sério.
15. Podeis tomar-vos visível a todo mundo? - R. Sim.
16. Poderíeis tornar-vos visível aqui, para um de nós? - R. Sim; pedi a Deus para que assim possa só eu o posso, mas não ouso fazê-lo.
17. Se não quereis tornar-vos visível, poderíeis ao menos fazer-nos uma manifestação, para trazer, por exemplo, alguma coisa sobre a mesa? - R. Certamente, mas para o que de bom? Junto dela testemunho a minha presença por esse meio, mas junto a vós é inútil, uma vez que conversamos juntos.
18. O obstáculo não seria faltar-vos aqui o médium necessário para produzir essas manifestações? - R. Não, esse é um obstáculo fraco. Não vedes, freqüentemente, manifestações súbitas a pessoas que não são de modo algum médiuns?
19. Todo o mundo, pois, está apto a ter manifestações espontâneas? - R. Uma vez que em sendo homem, se é médium.
20. O Espírito não encontra, entretanto, na organização de certas pessoas, uma facilidade maior para se comunicar? - R. Sim, mas eu vos digo, e deveríeis sabê-lo, os Espíritos são poderosos por si mesmos, o médium não é nada. Não tendes a escrita direta, e para isso é necessário um médium? Não; da fé somente e um ardente desejo, e, freqüentemente ainda, isso se produz com o desconhecimento dos homens, quer dizer, sem fé e sem desejo.
21. Pensais que as manifestações, tais como a escrita direta, por exemplo, se tomarão mais comuns do que o são hoje? - R. Certamente; como entendeis, pois, a divulgação do Espiritismo?
22. Podeis nos explicar o que a jovem da senhora Mally recebia em sua mão e comia durante a sua doença? - R. Maná; uma substância formada por nós, que encerra o princípio contido no maná comum e a doçura de um doce.
23. Essa substância é formada com a mesma matéria das vestimentas e outros objetos que os Espíritos produzem por sua vontade e pela ação que têm sobre a matéria? - R. Sim, mas os elementos são muito diferentes; as partes que formam meu maná não são as mesmas das que tomo para formar a madeiras ou uma vestimenta.
24. (A São Luís). O elemento tomado pelo Espírito, para formar o seu maná, é diferente daquele que tomou para formar outra coisa? Sempre nos foi dito que não há senão um elemento primitivo universal, do qual os diferentes corpos não são senão modificações. - R. Sim; quer dizer que esse mesmo elemento primitivo esparso no espaço, aqui sob uma forma, e ali sob uma outra; isso é o que ele quer dizer; ele toma seu maná de uma parte desse elemento, que crê diferente, mas que é bem sempre o mesmo.
25. A ação magnética pela qual se dá a uma substância, a água, por exemplo, propriedades especiais, tem relação com a do Espírito que cria uma substância? - R. O magnetizador não desdobra absolutamente senão a vontade; é um Espírito que o ajuda, que se encarrega de preparar e de concentrar o remédio.
26. (Ao Guia). Reportamos no tempo fatos curiosos de manifestações da parte de um Espírito que designamos sob o nome de Follet de Bayonne; conheceis esse Espírito? - R. Não particularmente; mas segui o que fizestes com ele, e foi somente assim que o conheci de início.
27. É um Espírito de uma ordem inferior? - R. Inferior quer dizer mau? Não. Quer dizer simplesmente: não inteiramente bom, pouco avançado? Sim.
28. Agradecemos-vos por consentir vir e pelas explicações que nos destes. - R. Ao vosso serviço.
Nota. Esta comunicação nos oferece um complemento ao que dissemos nos dois artigos precedentes, sobre a formação de certos corpos pelos Espíritos. A substância dada à criança, durante sua enfermidade, evidentemente, era uma substância preparada por eles e que teve por efeito dar-lhe a saúde. Onde hauriram eles os princípios? No elemento universal transformado para o uso proposto. O fenômeno tão estranho de propriedades transmitidas pela ação magnética, problema até o momento inexplicado, e sobre o qual se alegraram tanto os incrédulos, encontra-se agora resolvido. Sabemos, com efeito, que não são apenas os Espíritos dos mortos que agem, mas que os dos vivos também têm sua parte de ação no mundo invisível: o homem com a tabaqueira disso nos forneceu a prova. O que há de espantoso, pois, em que a vontade de uma pessoa agindo pelo bem possa operar uma transformação na matéria primitiva, e dar-lhe propriedades determinadas? Está aí, em nosso entender, a chave de muitos dos efeitos pretendidos sobrenaturais, e dos quais teremos ocasião de falar. Foi assim que, pela observação, chegamos a nos dar conta das coisas, deixando-lhes a parte da realidade do maravilhoso. Mas quem diz que essa teoria seja verdadeira? Seja; ela tem pelo menos o mérito de ser racional e perfeitamente de acordo com os fatos observados; se algum cérebro humano dela encontre uma que julgue mais lógica do que a dada pelos Espíritos, serão comparadas; talvez, um dia, ficaremos contentes por termos aberto o caminho do estudo raciocinado do Espiritismo.
"Gostaria muito, disse-nos um dia uma pessoa, ter assim um Espírito servidor às minhas ordens, sob a condição de suportar algumas pequenas travessuras de sua parte." É uma satisfação da qual a gente goza, freqüentemente, sem dela suspeitar, porque todos os Espíritos que nos assistem não se manifestam de um modo ostensivo; mas não estão menos ao nosso lado, e sua influência, por ser oculta, não é menos real.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Amanhecer de esperanças

Os acontecimentos se precipitavam incontroláveis.
A região desértica e triste, que reverdecera sob a chuva de esperanças da palavra do Batista, seria o cenário de inusitadas ocorrências, preparando o amanhecer de uma nova e demorada Era - a do amor.
*
O amor ainda não abrasava os corações. Apenas em pequenos grupos vicejava, unindo familiares e greis que se prendiam a interesses recíprocos.
Raramente o sentimento de amor a Deus oferecia equipamentos para uma vida de confiança e irrestrita dedicação à fé.
Da mesma forma, o amor à Pátria esmaecera nos corações e o mercenarismo era o recurso legal para formar os exércitos e defensores da sociedade.
O sentimento de fraternidade espontânea quão desinteressada cedia lugar à mesquinhez moral do comportamento que assinalava pela traição, discórdia e realização do ego.
O amor começaria naquele momento a distender as suas raízes e desabrochar-se pela aridez das criaturas, alternando o comportamento humano.
Não se tratava de uma tarefa simples e fácil, porquanto iria alterar os conceitos da Filosofia hedonista, do imediatismo, ensejando uma transformação da sociedade, que só os lentos milênios conseguiriam materializar.
Para tanto, fazia-se inadiável começar; para isso veio Jesus.
*
As tribulações que Ele experimenta foram rudes.
Era necessário macerar-se, a fim de permanecer em Deus e o Pai nEle.
Por isso, o demorado jejum se fizera indispensável.
Tratava-se da preparação silenciosa, mortificadora, a fim de poder enfrentar a algaravia, o tumulto e as competições traiçoeiras que logo mais viriam.
As tentações foram rechaçadas pelo Seu caráter rigoroso e o momento havia chegado. João acabara de ser preso e os prognósticos eram sombrios.
Ele ousara desafiar Herodes Ântipas com o verbo flamejante, censurando-lhe a conduta reprochável da vida em concubinato com a cunhada Heroíades.
Os pigmeus morais, que se fazem grandes no mundo, não perdoamos gigantes da verdade, que os incomodam ou desconsideram as suas malezas.
Como parecera que João, ultrapassara os limites do suportável, seguindo pelo assassinato legal, eram as únicas maneiras de silenciar-lhe a voz.
Clamando no deserto, ele viera anunciar o Construtor do mundo novo, e lograra chamar a atenção das massas, que acorriam a escutá-lo, a fim de que estivessem vigilantes.
Seria naqueles dias, e a hora se fazia próxima.
Desse modo, o seu encarceramento, parecendo encerrar-lhe o ministério público, era o sinal
de mudança dos tempos.
Nesse momento, apareceu Jesus, na Galiléia, anunciando o novo panorama. Sua voz, clara
e doce, com matizes de sabedoria e força, começou a informar: - Completou-se o tempo e o
reino de Deus está perto: arrependei-vos e acreditai na Boa Nova. (*)
Os ouvidos e corações que aguardavam, escutaram-no e logo a multidão se reuniu para escutá-lo.
O verbo inflamava-se ao expor as bases das Mensagens e os objetivos transformadores de que se fazia portadora.
Não se tratava de mais um recurso salvacionista de ocasião, mas, de todo um portentoso,
trabalho de iluminação de consciência com a natural transformação moral, que lhe era
subseqüente para a renovação e felicidade da criatura e do mundo.
Não era fácil absorver-lhe de imediato os profundos conteúdos. No entanto, a poderosa
irradiação de beleza e ternura que dele se espraiava seduzia quantos lhes escutavam o convite.
Sorrisos confraternizavam com esperanças de melhores tempos, os de superação dos sofrimentos.
As criaturas não se apercebem que antes da colheita farta, é necessário cortar a terra, matar a semente, cuidar da planta com o contributo do suor e da constância para fruir a etapa final,
que é o recolher sazonado.
Mas isso, naquele tempo, não importava.
Havia sede e fome de paz, de justiça e de pão, e como Ele prometia Boas notícias em torno
do reino de amor e fartura, o que interessava era consegui-lo de imediato.
Estavam sendo, porém lançadas as primeiras balizas; tornava-se preciso reunir os obreiros,
aqueles que iriam trabalhar nas fundações da nova sociedade humana.
Ele saiu, portanto, após o primeiro discurso e rumou na direção das bandas do mar da
Galiléia.
Seria aquela região capital do reino na sua face terrestre.
Ali estavam as gentes simples, sofridas, necessitadas, mais fáceis de ser trabalhadas, mais
susceptível ao amor.
Logo viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores.
As criaturas humanas, mergulhadas no oceano das paixões, necessitavam de ser resgatadas. Desse modo, ele disse aos dois homens, que se detiveram a olhá-lo:
- Vinde após mim e farei de vós pescadores de homens.
Dominados pela voz e pela magia da Sua presença, sem qualquer discussão ou comentário,
eles, de imediato, deixaram as redes e seguiram-no.
Iniciava-se uma odisséia como jamais houvera antes e nunca mais volveria a acontecer.
Os convidados deixavam tudo e acompanhavam-no.
Pareciam conhecê-Lo e o conheciam. Sentiam-se amados e amavam apesar dos seus limites.
Logo após, a pequena distância, Ele viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que
estavam no barco a consertar as redes, e também os chamou.
A Sua voz penetrava a acústica da alma, e sem outra alternativa, como se O aguardassem,
eles deixando no barco seu pai com os assalariados seguiram-no e dirigiram-se a Cafarnaum.
Eles não conheciam qualquer plano ou projeto, como era a empresa e qual o seu desempenho nela nada sabiam...Apenas de seguiram-no.
Era original a Sua mensagem.
Os potentados do mundo, quando desejam algo, planejam-no, estudam-no e discutem os programas.
Os convidados a participar das suas empresas debatem os interesses, argumentam em defesa dos seus desejos, tomam e gastam tempo em considerações e diálogo infindáveis.
Com Ele, não, tudo era diferente, porque a Sua era uma proposta única, irrecusável, incomum.
Com quatro amigos, dois irmãos e mais dois, Ele iniciou a mais portentosa marcha
revolucionária da Humanidade: a construção do reino de Deus nos corações.
No sábado, Ele entrou na sinagoga e passou a ensinar, fundamentado na Tradição e no texto do dia, sem ter recebido informação prévia do tema para a discussão.
Sua palavra exteriorizava autoridade superior aos escribas e fariseus, facultando que todos se deslumbrassem ate os seus ímpares conceitos, jamais antes escutados.
De nenhuma Causa a humanidade tomara conhecimento com aquelas características.
*
Enquanto João amargava a prisão em Masquerus, na Peréia, Jesus vinha à luz na
verdejante e sorridente Galiléia.
Um período entrava em crepúsculo, em sombras e outro iniciava em amanhecer de lúculas
alvinitentes, iluminadoras.
(*) Marcos: 1 - 14 a 21.
Nota da Autora Espiritual

Capítulo do Livro Árdua Ascensão que nos conta os bastidores que trouxeram o Espiritismo para o Brasil. Leiam e comentem.

O PORQUÊ DO ESPIRITISMO NO BRASIL

Quando se estruturava a programática da reencarnação do Missionário Allan Kardec, em Lyon, na França, como Embaixador do Cristo, para dar início à Era do Espírito Imortal, considerando-se as tarefas que ali desenvolvera, dezenove séculos atrás, na condição de sacerdote druida, tiveram em mente, os Instrutores da Humanidade, eleger Paris para tal advento, levando-se em conta o elenco dos obreiros da latinidade que o acompanhariam, antecipando-o e dando prosseguimento ao extraordinário acontecimento.
Graças às vivências anteriores, em que amadurecera as experiências relevantes e acurara a sabedoria, mártir, mais de uma vez, sacrificado em holocausto dos ideais humanistas, filosóficos e cristãos, Allan Kardec mergulharia na densa névoa carnal, após a França retirar dos ombros a hegemonia política dos Bourbons, quando as aspirações máximas da humanidade, que a revolução de 89 viera implantar, abrissem campo aos supremos anseios da felicidade.
Nenhuma país reunia condições, naquele momento histórico, que pudessem rivalizar com as ali conquistadas, e lugar algum, exceto Paris, dispunha dos requisitos culturais e tradições da inteligência para o tentame ímpar.
En douceur1, os gênios benfeitores do homem estabeleceram que a França, mais uma vez, hospedaria o Missionário, a fim de que dali partissem, pulcras e imbatíveis, as diretrizes para o pensamento em relação ao futuro.
Laboratório de idéias que fermentavam ante a força dos elementos em debate, estavam presentes, então, todos os recursos para a avaliação dos conceitos expostos, no momento em que a Ciência, libertando-se das algemas dogmáticas e dos preconceitos do magister dixit2, alicerçava os seus fundamentos na insuperável linguagem dos fatos testados nas experimentações incessantes.
Ao mesmo tempo, a Filosofia arrebentara os grilhões das escolas ancestrais e abria campo a novos cometimentos, aliando-se, no futuro, ao materialismo dialético, histórico e mecanicista, num afã de destruir o passado para edificar o futuro em bases inteiramente descomprometidas com quaisquer vinculações precedentes.
Nesse ínterim, a Religião, dividida em ortodoxias, rivais que se digladiavam reciprocamente, apresentava a paisagem desvitalizada do Cristianismo, numa Instituição formal e de superfície, que em nada recordava o Revolucionário do Amor, que libertara as consciências para um reino sem fronteiras, onde pudessem viger a fraternidade sem limite e a paz sem qualquer convulsão.
As idéias, em conseqüência, nesse campo de batalha, muitas vezes nasciam ao amanhecer, envelheciam ao meio-dia e morriam à noite, sepultadas, logo depois, nos jazigos do esquecimento.
"Melhor ser vaiado em Paris - afirmava-se, então - e no mundo inteiro ignorado, do que aplaudido em toda parte, mas, em Paris, desconhecido."
Não era jactância, nem presunção, e sim o retrato vivo de uma cidade que se sabia iluminada, de um povo ateniense que a habitava consciente das próprias conquistas. C'est tout dire3.
Ora, esperava-se que o impacto de uma ciência nova, de cujos alicerces ressumasse um conteúdo filosófico, no barátro das escolas de pensamento as mais proeminentes, deveria ser amortecido pelo choque decorrente do atrito com as demais áreas ideológicas, conforme havia sucedido antes e acontecia continuamente. Isto, porém, não se deu em relação ao Espiritismo.
Incontestado na sua origem - o fenômeno da imortalidade da alma, confirmado através da comunicação mediúnica -, porque todas as contradições que se levantaram careciam de estrutura experimental e as aguerridas acusações de que padecera resvalavam pela rampa do fanatismo, religioso ou do materialista sem os subsídios dos fatos, sobreviveu, adquirindo cidadania científica.
Concomitantemente, o seu contexto filosófico, remontando às mais antigas doutrinas do reencarnacionismo oriental, do pitagorismo e do idealismo grego, constitui a única forma cultural de compreender Deus e a origem da vida, o homem e as causas das aflições, o destino e a finalidade do ser na Terra...
Ao mesmo tempo, afirmando que Jesus é o "Ser mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para servir-lhe de Modelo e Guia"4, ressuscita a Sua Doutrina, em toda a sua grandeza moral, cujos princípios dividiram a História, trazendo as linhas mestras do comportamento ético-social do indivíduo em relação a Deus, a si próprio e ao seu próximo.
Resistindo a todas objurgatórias, assim como demonstrando-as falsas, o Espiritismo venceu os acanhados dom-quixotes das lutas inglórias e saiu dos arraiais sitiados onde parecia submetido, para ganhar as léguas do mundo...
Religião do amor, empreendia a batalha da transformação do mundo por meio da renovação e aprimoramento ético do homem, que se utiliza do progresso intelectual para adquirir o moral, definitivo, religando, em perfeita união, o Criador à Sua criatura.
Quando Allan Kardec desencarnou, a Doutrina permaneceu e firmou os seus pilotis no cerne da cultura adversa que, lentamente, o absorveu e aceitou, face ao desempenho dos seus adeptos e à fortaleza dos conceitos apresentados, que decorrem da demonstração experimental, resistente a quaisquer suspeitas e indisposições adredemente estabelecidas.
Entretanto, quando se organizavam os roteiros para o advento do Consolador na Terra, mediante a Doutrina Espírita, os abnegados e sábios Mentores da França foram informados de que ali se iniciaria o programa, que, todavia, se iria fixar, por algum tempo, em outro país, de onde se dilataria, abraçando todo o planeta ao largo dos séculos...
A alma francesa contribuiria com o tesouro cultural para os primórdios da "fé raciocinada", contudo, seria num continente jovem, num povo em formação, no qual se caldeavam raças e caracteres, que mais ampla e facilmente se desenvolveria, especialmente, levando-se em conta a falta de carmas coletivos naquela nacionalidade.
A França, onde renasceram os atenienses, estava assinalada por glórias e misérias, guerras externas e lutas intestinas que lhe não permitiriam, por enquanto, a dilatação dos ensinamentos cristãos nos enfoques da vivência moderna, demonstrando moralmente a grandeza do Espiritismo.
Desse modo, tão logo estivesse implantado o ideal espírita, seria trasladada a árvore evangélica, de cuja seiva a ciência se sustentaria para os arrojados cometimentos futuros e em cuja filosofia racional as criaturas se nutririam, adquirindo o vigor para as existências enobrecidas.
O Brasil, porque destituído de débitos coletivos mais graves, houvera sido escolhido para esse segundo período da realização e crescimento espiritista.
Sem comentar os acontecimentos de menor gravidade histórica, a escravatura negra e a guerra do Paraguai pesam-lhe na economia evolutiva.
A primeira, como herança dos colonizadores, que a Princesa Isabel encerrou, mediante a Lei Áurea, e a segunda, a nação, no futuro se reabilitaria, por meio de inestimável auxílio ao progresso do país irmão, que lhe fora vítima, após a provocação perpetrada pelo seu então ditador Rosas...
Convencionou-se, desse modo, que muitos franceses fossem transferidos, em Espírito, para as terras novas, a fim de receberem a Doutrina, oportunamente, quando para o Continente americano do sul fosse transportada.
Esse acordo precedeu ao renascimento de Allan Kardec, em Lyon, que anuíra de boa mente com o estabelecido.
Sem embargo, porque na psicosfera da nacionalidade francesa permanecessem dezenas de milhares de revolucionários frustrados, infelizes, vitimados pela arma de José Guillotin, que os ventres das mulheres aturdidas se negavam a receber em maternidade redentora, assim abortando em larga escala, foi concertado que o Brasil receberia esses Espíritos sofridos, de modo a auxiliá-los no processo da evolução, reparando as faltas e ajustando-se ás linhas do progresso intelecto-moral, ao mesmo tempo que contribuiriam para a fraternidade e a liberdade de consciência de que o Espiritismo se faz paradigma por excelência.
O método dialético e o cartesiano utilizados por Allan Kardec para estruturar a Codificação no cimento da lógica e do fato, exigem atenção e discernimento para de início serem penetrados.
Dessa forma, tão logo os reflexos doutrinários da Mensagem alcançaram as praias brasileiras da cultura, nos primórdios dos anos 60, do século XIX, a sintonia filosófica dos antigos revolucionários, dos lidadores da latinidade gaulesa, reencontrou o pensamento, de imediato adotando a sua ética e aceitando os seus postulados que, ao tempo que lhe falavam à mente arguta, sensibilizavam-nos, acalmando-lhes os sentimentos controvertidos e angustiados...
Não seja, pois, de estranhar-se a predestinação do Brasil para o labor espírita nem a sua aceitação ampla e profunda por todos os segmentos da sua sociedade desde o princípio, salvadas raras exceções.
Após a desencarnação de Allan Kardec, companheiros seus de lide e médiuns que cooperaram na realização da Obra colossal, retornaram ao corpo, na pátria brasileira, para darem continuação ao programa estabelecido com entranhada fidelidade aos postulados que exigem dedicação, renúncia até ao sacrifício, e fé estribada na razão.
Renasceram, portanto, em número expressivo, espíritas por segunda vez, alguns outros que conheceram a Doutrina antes do retorno ao corpo, a fim de promoverem a grande arrancada da divulgação e da realização doutrinária, capacitando-se a devolvê-la ao berço de origem e ao mundo, na mesma pureza e limpidez com que a herdaram do insigne Missionário.
Não que tudo transcorresse em clima de facilidade e mesmo de harmonia, porque onde se encontra o homem, aí se fazem presentes as suas paixões.
O trabalho se apresentava e prossegue gigantesco.
Faze derrubar velhas e arcaicas estruturas do comportamento ancestral, utilitarista e apaixonado, para dos escombros emergir uma nova mentalidade aberta à vida, que faculte espaços à solidariedade e ao amor, constitui um desafio dos mais expressivos. Ainda mais, se for examinado que muitos dos modernos trabalhadores da seara espírita são antigas personagens comprometidas com facções religiosas beligerantes, bem como partidos políticos exaltados, ora aprendendo disciplina e submissão, transferidas das posições relevantes para as de serviço, que o mergulho no corpo não pôde obnubilar completamente as anteriores impressões que lhes caracterizavam antes a conduta.
Penetrando no espírito do Espiritismo, ressumam, inevitavelmente, em todas as criaturas, as suas antigas predisposições, seja na área da informação científica, ou da filosófica, ou da religiosa. Todavia, na síntese perfeita em que se apresenta a Doutrina, como campo de harmonia desses três fundamentos do conhecimento humano, é que se expressa o conteúdo do Espiritismo que não pode nem deve ter dissociado nenhum dos seus membros.
Objetivando, porém, essencialmente, preparar o homem para a continuação da vida além do túmulo com todas as responsabilidades que lhe dizem respeito, é inevitável que a feição moral, rica de religiosidade, desperte-lhe os sentimentos superiores, plasmando-lhe a conduta evangélica, conseqüência natural da comprovação científica e da compreensão filosófica.
Outrossim, porque consoladora, alcança de imediato o ser perdido nos abismos do desespero, da angústia e da saudade, liberando-o dos tormentos, por atingir o âmago das questões que desencadeiam os sofrimentos e acenar-lhe com as esperanças felizes, mediante a ação do trabalho e a experiência auto-iluminativa da caridade.
Eis por que os litigantes de ontem, os delinqüentes do passado, que arrastam pelos séculos os caprichos e efeitos dos crimes, vieram reencontrar-se no pequeno burgo interiorano da comunidade brasileira, cenário novo para as lutas de redenção. Formavam no grupo dos que haviam sido transferidos, reencarnando-se ou não, para as plagas onde não tinham compromisso infelizes e poderiam com melhores probabilidades redimir-se, purificando-se no crisol das aflições que o encontra com o Espiritismo decantaria, na sucessão das experiências da evolução.

(Espírito de Victor Hugo - Divaldo Pereira Franco - Obra: Árdua Ascensão).



Notas do compilador: 1 - En douceur = devagar, sem pressa; 2 - Magister dixit = expressão dogmática com que os escolásticos da Idade Média ofereciam, como argumento sem réplica, a opinião do mestre (Aristóteles), como também diziam os discípulos de Pitágoras. Modernamente, diz-se de todo chefe de escola, doutrina ou partido; pode, também, ser dita a expressão ipso dixit (grego: Autos ephe); 3 - C'est tout dire = É quanto basta; 4 - "Jesus é o Ser mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para servir-lhe de Modelo e Guia" - resposta dos Espíritos Superiores à pergunta 625 de "O Livro dos Espíritos".

Obs. do compilador: Fatos importantes são esclarecidos por Victor Hugo neste artigo. Todos personagens proeminentes (revolucionários e filósofos) que criaram as condições para as mudanças nos séculos 18 e 19, foram antigos atenienses reencarnados. Ele também afirma que Allan Kardec em encarnações anteriores havia sido mártir e sacrificado em holocausto (Em outras informações de Espíritos sabemos que Kardec havia sido Jan Huss).

DUPLA BENEFICÊNCIA


Emmanuel

A caridade, na forma externa, é suficientemente conhecida.
Toda organização assistencial é uma bênção de Deus, atenuando a penúria e o sofrimento onde surja.
Existe, porém, a beneficência mais íntima, que se comunica, de alma para alma, nas bases do silêncio e da compreensão.
*
A caridade mais íntima socorre a pessoa em necessidade sem aparecer; fala-lhe aos recessos do espírito sem palavras articuladas; apoia-lhe a vida sem mostrar-se; e ilumina-lhe o coração, sem ofuscar-lhe o entendimento.
*
Experimenta semelhante trabalho e observarás quanta alegria se te exteriorizará da existência.
*
Se conheces a necessidade de alguém, não esperes que esse alguém se coloque de joelhos a suplicar-te favor e estender-lhe o auxílio de que possas dispor; na hipótese de te faltarem recursos para isso, encontrarás os meios de sugerir a companheiros outros para que o façam, sem que a tua influência se mostre.
*
Quanto te convenças de que essa ou aquela criatura te requisita atenção para determinado assunto, ainda mesmo que disponhas de tempo escasso, podes dedicar-lhe alguns momentos, nos quais a tua palavra lhe signifique o apreço que te merece.
*
Nos problemas de natureza familiar, descobrirás, sem dificuldade, a trilha mental, no instante justo, através da qual consigas transitar, restaurando a harmonia doméstica, sem esperar agradecimentos.
*
Ante o amigo que se suponha em erro, saberás despertar-lhe as qualidades superiores que, porventura, estejam adormecidas, afastando-lhe os pensamentos de quaisquer sombras.
*
Perante uma criatura querida que te haja desfechado essa ou aquela ofensa, reconhecerás que estará ela em momento difícil e que te cabe esquecer o contratempo havido, já que em lugar desse ou daquele ofensor, poderíamos estar nós com os desacertos e precipitações que ainda nos caracterizam.
*
Não nos esqueçamos da beneficência externa que nos irmana uns aos outros, através da existência recíproca, nas experiências do cotidiano, mas atendamos à beneficência mais íntima, que ampara sem mostrar-se, erguendo sentimentos e levantando almas para a elevação de hoje, que perdurará nas alegrias do hoje e sempre.
 
 
Espírito: EMMANUEL Médium: Francisco Cândido Xavier Livro:"Convivência"-

TRABALHO E CRÍTICA


Emmanuel

Trabalho edificante em andamento no Plano Físico, onde se reúnem milhões de criaturas diferentes entre si, não se desenvolve sem críticas.
*
A pancadaria verbal cercará os obreiros.
E explodem objurgatórias, tais quais estas:
- Por que tanta lentidão nos detalhes?
- É impossível não estejam vendo as falhas com que se mostram...
- Aquele cooperador é um desastre...
- Não se compreende uma realização assim tão elevada em mãos tão incompetentes.
- Não consigo colaborar com gente tão despreparada...
- Tudo cairá sobre a turma irresponsável!
- Estão todos errados...
- Aguardemos o fracasso final...
*
Quando essas vozes se façam ouvir, não temas e prossegue trabalhando.
*
Imperfeições todos temos e teremos, até que possamos alcançar o Plano Divino.
*
Problemas evidenciam presença e colaboração.
Dificuldades trazem observações e observações justas geram insegurança.
*
Deixa que a censura te vigie e segue adiante.
Apesar de nossos erros e acima de todas as nossas deficiências, a construção do Bem não nos pertence; essencialmente, pertence a Jesus que zelará por ela, em nome de Deus.
E sabemos que o trabalho de Jesus não pode e nem deve parar.
*
A vida não nos pede o impossível para que nos integremos nos mecanismos da caridade, extinguindo as provações que atormentam a Terra, mas, para que o mal desapareça, espera de cada um de nós essa ou aquela migalha do bem.
 
Espírito: EMMANUEL Médium: Francisco Cândido Xavier Livro:"Convivência"-

ANTE OS ADVERSÁRIOS


Emmanuel

É possível encontres alguns adversários nas melhores realizações a que te entregas.
*
Se isso acontece, habitualmente estás diante de uma pessoa desinformada ou doente que te recebe com evidentes demonstrações de desapreço.
E quando esse alguém, não consegue asserenar-te o campo íntimo a certas reações negativas, por vezes, alteia a voz e se faz mais inconveniente nas provocações.
*
De qualquer modo, tolera o opositor com paciência e serenidade.
Ouve-lhe as frases ásperas em silêncio e reflete no desgosto ou na enfermidade em que provavelmente se encontre.
*
Quando haverá sofrido a criatura, até que se obrigue a trazer o coração simbolicamente transformado num vaso de fel?
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Anota por ti mesmo que todos aqueles que ferem estarão talvez feridos.
*
Age à frente dos inimigos de teus ideais ou de teus pontos de vista, com entendimento e tolerância.
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Advertiu-nos o Divino Mestre: - “Ora por aqueles que te perseguem ou caluniam.”
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O Cristo nunca nos exortou ao revide ou à discussão sem proveito.
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Induziu-nos a orar por todos os adversários ou acusadores gratuitos, dando-nos a entender que eles todos já carregam consigo sofrimento bastante, sem que necessitemos agravar-lhes as tribulações. E ainda mesmo que estejam semelhantes companheiros agindo de maneira insincera, saibamos confiá-los ao tempo, de vez que, para que se lhes reajuste os mais íntimos sentimentos, bastar-lhes-á-viver.
 
Espírito: EMMANUEL Médium: Francisco Cândido Xavier Livro:"Convivência"-