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terça-feira, 11 de setembro de 2012

MATEUS, 5º, 27 ao 30. Adultério no coração. Extirpação de todos os maus pensamentos


MATEUS: capítulo 5º, versículo 27. Aprendeste que aos antigos fora dito:
Não cometerás adultério. — 28. E eu te digo que quem quer que olhe para uma
mulher, cobiçando-a, já cometeu adultério no seu coração. 29. Se o teu olho
direito te for motivo de escândalo — arranca-o e atira-o longe de ti, porqüanto
melhor te é que pereça um dos membros do teu corpo do que ser todo este
lançado na geena. — 30. Se a tua mão direita te for motivo de escândalo —
corta-a e atira-a longe de ti, porqüanto melhor te é que pereça um dos
membros do teu corpo do que ir todo este para a geena.

São simbólicas as palavras de Jesus, constantes nestes versículos.
Devemos, pois, procurar-lhes o verdadeiro sentido. Elas têm, primeiramente,
uma acepção de ordem geral, porqüanto visam fazer compreensível que os homens
devem abster-se de toda má palavra, de toda ação má e de todos os
maus pensamentos.
Quanto ao dizer que devem ser arrancado o olho e cortada a mão que se
tornem causa de escândalo, bem se vê que também nesse ponto usou Ele de
uma linguagem figurada, composta de imagens materiais, como convinha aos
Espíritos daquela época. Falando a criaturas materiais, só por meio de tais
imagens podia impressioná-las fortemente.
O ensino moral, que delas decorre, é que não basta nos abstenhamos do
mal; que precisamos praticar o bem e que, para isso, mister se faz destruamos
em nós tudo o que possa ser causa de obrarmos mal, seja por atos, seja por
palavras, seja por pensamentos, sem atendermos ao sacrifício que porventura
nos custe a purificação dos nossos sentimentos.
Não se estranhe o dizermos que podemos obrar mal pelo pensamento.
Embora ela não exista perante os homens, porque estes não percebem o que
se passa no íntimo do Espírito, incorre em falta, aos do Senhor, tanto quanto se
praticasse uma ação má, aquele que formula um mau pensamento, porque. o
Senhor, que lê o íntimo dos seres, vê a mácula que na alma produz um pensamento
mau e toda mácula significa que a criatura se afastou do seu Criador.
Daí vem o ser a concupiscência, no dizer de Jesus, equiparada ao
adultério. Para Deus, o Espírito, em quem ela se manifestou, cometeu falta
Idêntica à em que teria caído, se houvera consumado o adultério, mesmo
porque, as mais das vezes, só uma dificuldade material qualquer impede que o
pensamento concupiscente se transforme em ato.

LUCAS, 13º, 10 ao 13. Mulher doente, curvada


LUCAS: capítulo 13º, versículo 10. Certo sábado em que Jesus ensinava
numa das sinagogas deles, — 11, veio aí ter uma mulher possessa de um espírito
de enfermidade que a tornara doente, havia dezoito anos. Tão curvada era
que absolutamente não podia olhar para cima. — 12. Vendo-a, Jesus a
chamou e lhe disse: “Mulher, estás livre da tua doença.” — 13. E, Impondo-lhe
as mãos, ela se endireitou no mesmo Instante e rendeu graças a Deus.
Os judeus atribuíam a satanás, isto é, aos Espíritos, tudo o que não
podiam compreender, nem explicar. Daí o empregarem muitas vezes o termo
— “possessão” — referindo-se a casos que eram apenas de — doente.
O de que falam os versículos acima era um destes, de simples doença.
Verifica-se isso, notando-se o seguinte: ao passo que o Evangelista, de acordo
com o modo de ver de então e usando da linguagem então corrente, diz que a
mulher estava possessa de um “espírito de enfermidade” — spiritum infirmitatis
— Jesus, quando se lhe dirige, apenas diz: Mulher, estás livre da tua enfermidade
— “ab infiírmitate tua”. Entretanto, quando o caso era de possessão,
isto é, de obsessão, de subjugação, Ele intimava o Espírito obsessor a que se
afastasse.
Aquela mulher sofria de um amolecimento da medula espinhal e, como
conseqüência, de enfraquecimento da coluna vertebral, pelo que não podia
levantar o busto.
A cura se operou por efeito da aplicação, que Jesus lhe fez, mediante uma
ação espírito-magnética, ou de magnetismo espiritual, de fluídos apropriados a
restituir ao órgão enfraquecido a força de que carecia.
A natureza desses fluídos, bem como suas propriedades atuantes nos são
desconhecidas e ainda não estamos em condições de os poder conhecer.
Pelos efeitos, porém, que conhecemos e que, de boa-fé, são incontestáveis, do
“magnetismo humano”, podemos até certo ponto imaginar quais os que
produzirá o “magnetismo espiritual”, quando aplicado por um Espírito de
sublimada pureza e, portanto, de inexcedível poder, como o de Jesus.
Aliás, dos efeitos da aplicação desse magnetismo (espiritual), em toda a
sua amplitude, já podemos fazer idéia mais ou menos aproximada, sem
recorrermos à comparação com os que resultam da do magnetismo humano,
somente observando o que se passa nas sessões espíritas bem orientadas,
onde os nossos guias, embora se nos conservem invisíveis, secundam por
essa forma a nossa ação, desde que objetivamos dar alívio a um irmão nosso e
que para eles apelamos pela prece feita com fervor e fé.
Vê-se assim que nos corre o dever de estudar e praticar com ardor,
desinteresse e perseverança essa ciência celeste, que o Senhor nos confiou,
precioso tesouro que nos facultará fazer obras análogas às que Ele fez, o que
lograremos com o tempo, a continuidade do esforço, o desprendimento da
matéria e a assistência dos nossos guias e, em geral, dos espíritos de eleição.
Acrescentemos que o fato evangélico que apreciamos encerra um outro
ensinamento da maior importância, sobre o qual muito devemos meditar, para
o aproveitarmos bem, de modo a corrigirmos uma tendência que se vai
prejudicialmente generalizando. Essa tendência é a de atribuir-se toda e
qualquer doença a uma atuação de Espíritos e o ensino consiste em que
devemos examinar cuidadosamente cada caso que se nos apresente, a fim de
não confundirmos os que sejam de simples enfermidade com os em que os
sofrimentos decorrem, principalmente, da ação de espíritos malfazejos, por
índole, ou por inconsciência.

Kardec e a Bíblia

Kardec e a Bíblia

A Bíblia é um dos livros mais conhecidos de todos os povos. É sem dúvida um dos maiores sucessos editoriais de todos os tempos, pois trata-se de um dos livros mais vendidos em toda historia da humanidade e um dos mais traduzidos para vários idiomas.[1]
Em todos os tempos estudiosos se debruçaram sobre seus os textos para analisá-los. Textos estes que foram sempre motivos de muitas contradições e já geraram, e ainda hoje são, responsáveis por guerras de grandes conseqüências.
Sempre existiram aqueles que a interpretaram em seu sentido literal, outros ao contrário, viram em suas narrativas alegorias, e buscaram extrair destas alegorias um ensinamento moral mais profundo e de grande alcance. Há ainda os que sempre a tiveram por uma revelação divina escrita pelo próprio Criador de todas as coisas que assumira em vários momentos nomes distintos.
Hoje, historiadores e cientistas conseguem fazer um apanhado mais próximo da realidade e com o avanço da crítica textual definem autores, datas, e a origem de textos, com maior precisão e com menores chances de erro, porém, as polêmicas continuam porque o sentido velado destes mesmos textos, afirmam alguns, só podem ser percebidos com os olhos da alma, com a profunda integração dos estudiosos com as forças transcendentais da vida e com um estudo minucioso de cada palavra ali contida com um objetivo, mesmo que este, por origem divina, tenha passado despercebido até mesmo de seus autores físicos.
Este livro influenciou muitos povos, fez história, ergueu e destruiu impérios, marcou constituições e determinou atitudes políticas em todos os tempos.
Em nosso movimento espírita não têm sido menos polêmicos os estudos de seu conteúdo, e até com certa descrença alguns espíritas têm perguntado: “deve o espírita estudar a Bíblia?” Outros têm ido mais além respondendo que não, e há ainda aqueles, apesar de minoria, que não concordam nem mesmo com o estudo do Novo Testamento, dizendo que bastam as anotações do Codificador do espiritismo em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.
A estes dirigimos estas linhas dizendo que estão eles em grande contradição com os próprios textos básicos de nossa literatura espírita, pois estes informam-nos claramente ser o espiritismo uma filosofia cristã, e que Jesus é o Guia e Modelo para todos nós que trilhamos o caminho evolutivo traçado por Deus desde a criação de todas as coisas.
O Evangelho Segundo o Espiritismo é uma obra ímpar, de grande importância, e de qualidade incontestável, porém não foi escrito com o objetivo de elucidar todo o conteúdo do Novo Testamento, seu propósito maior foi ampliar, explicando, o conteúdo moral do Evangelho de Jesus e fazer uma conexão deste com a revelação dos Espíritos Superiores.
Além de O Evangelho Segundo o Espiritismo, que é o livro mais conhecido da literatura espírita, Kardec responde a esta nossa questão de que se deve a Bíblia ser estudada pelos espíritas em vários outros textos contidos na codificação.
É preciso antes de tudo lembrar que Kardec foi um cientista, um educador e um sábio de seu tempo, e deste modo, e por fazer tudo isso com uma competência tal que o projetou para muito além de seus dias, não se viu impedido de aceitar desafios; desta feita estudou minuciosamente não só a Bíblia como textos sagrados de várias outras filosofias religiosas ponderando com saber e lógica sobre as contradições de cada um e de seu sentido espiritual mais profundo.
Já na questão 59 de O Livro dos Espíritos disserta sobre colocações bíblicas a respeito da Criação com considerações que devem ser ponderadas por todos nós.
Como introdução a estas questões, na pergunta de nº 50, questiona sobre o início da humanidade no orbe induzindo os Espíritos a falarem sobre o figura mítica de Adão, figura esta bem colocada para todos nós nos primeiros movimentos do livro Gênesis atribuído até então, a Moisés.
Os Espíritos informam a Kardec que Adão não foi o primeiro nem o único homem a povoar a Terra àquele tempo, e dizem mais:

“O homem, cuja tradição se conservou sob o nome de Adão, foi dos que sobreviveram, em certa região, a alguns dos grandes cataclismos que revolveram em diversas épocas a superfície do globo, e se constituiu tronco de uma das raças que atualmente o povoam. As leis da Natureza se opõem a que os progressos da Humanidade, comprovados muito tempo antes do Cristo, se tenham realizado em alguns séculos, como houvera sucedido se o homem não existisse na Terra senão a partir da época indicada para a existência de Adão."[2]

Como dissemos, na questão 59 Kardec amplia, fruto de seus estudos, os comentários sobre colocações bíblicas concernentes à Criação, dizendo que a Bíblia, se interpretada literalmente, erra não só quanto a Adão não ser o primeiro e único homem que originou a humanidade, como também comenta sobre a impossibilidade de ter sido criado o mundo em seis dias de vinte quatro horas apenas; e também sobre a questão do movimento da Terra, que, em determinada época, pareceu se opor aos textos bíblicos que a viam imóvel, além de outras questões importantes sobre quando se deu o início da criação, que o Gênesis situa há quatro mil anos antes de Cristo, e que a ciência mostra ser inverossímil esta data, pela anterioridade de fósseis encontrados que datavam de tempo muito anterior a este.
Depois de pormenorizados comentários a respeito deste tema e de outros, Kardec conclui perguntando:
Dever-se-á daí concluir que a Bíblia é um erro?
Ao que ele mesmo com a sabedoria e o bom senso que lhe eram peculiares responde:

"Não; a conclusão a tirar-se é que os homens se equivocaram ao interpretá-la."[3]

Mostrando para todos nós que deveríamos estudar a Bíblia, como ele fez, e que caberia aos espíritas reinterpretá-la às luzes da ciência espírita.
Mais adiante, no livro A Gênese, Kardec volta ao tema dizendo:

"De todas as Gêneses antigas, a que mais se aproxima dos modernos dados científicos, sem embargo dos erros que contém, postos hoje em evidência, é incontestavelmente a de Moisés. Alguns desses erros são mesmo mais aparentes do que reais e provêm, ou de falsa interpretação atribuída a certos termos, cuja primitiva significação se perdeu, ao passarem de língua em língua pela tradução, ou cuja acepção mudou com os costumes dos povos, ou, também, decorrem da forma alegórica peculiar ao estilo oriental e que foi tomada ao pé da letra, em vez de se lhe procurar o espírito."[4]

"Sobre alguns pontos, há, sem dúvida, notável concordância entre a Gênese moisaica e a doutrina científica; mas, fora erro acreditar que basta se substituam os seis dias de 24 horas da criação por seis períodos indeterminados, para se tornar completa a analogia. Não menor erro seria o acreditarse que, afora o sentido alegórico de algumas palavras, a Gênese e a Ciência caminham lado a lado, sendo uma, como se vê, simples paráfrase da outra."[5]

Na continuidade deste capítulo XII do mesmo livro A Gênese, Kardec faz uma detalhada comparação entre o que diz a ciência sobre os períodos geológicos de formação planetária e os seis dias da criação conforme as anotações mosaicas, vindo a dizer:

"Desse quadro comparativo, o primeiro fato que ressalta é que a obra de cada um dos seis dias não corresponde de maneira rigorosa, como o supõem muitos, a cada um dos seis períodos geológicos. A concordância mais notável se verifica na sucessão dos seres orgânicos, que é quase a mesma, com pequena diferença, e no aparecimento do homem, por último. É esse um fato importante.
Há também coincidência, não quanto à ordem numérica dos períodos, mas quanto ao fato em si, na passagem em que se lê que, ao terceiro dia, «as águas que estão debaixo do céu se reuniram num só lugar e apareceu o elemento árido». É a expressão do que ocorreu no período terciário, quando as elevações da crosta sólida puseram a descoberto os continentes e repeliram as águas, que foram formar os mares. Foi somente então que apareceram os animais terrestres, segundo a Geologia e segundo Moisés."
[6]

Não é nosso objetivo neste texto singelo fazer comentários mais profundos sobre as considerações de Kardec, nem muito menos acrescentar algo como interpretação dos textos mosaicos, apenas mostrar que o Codificador estudava a Bíblia e nos ensinava como fazer. Deste modo, ele recorre aos termos originais do hebraico várias vezes para melhor compreender a essência do que queriam dizer os autores bíblicos, comenta outros textos como os do dilúvio, da perda do paraíso, nos mostrando ser possível fazer uma exegese fundamentada nos ensinamentos espíritas e assim muito aprender com esta literatura, que diga-se de passagem é de ótima qualidade.
E ainda neste mesmo capítulo de A Gênese reitera o que havia dito em O Livro dos Espíritos:

"Não rejeitemos, pois, a Gênese bíblica; ao contrário, estudemo-la, como se estuda a história da infância dos povos.
Trata-se de uma época rica de alegorias, cujo sentido oculto se deve pesquisar; que se devem comentar e explicar com o auxílio das luzes da razão e da Ciência. Fazendo, porém, ressaltar as suas belezas poéticas e os seus ensinamentos velados pela forma imaginosa, cumpre se lhe apontem expressamente os erros, no próprio interesse da religião. Esta será muito mais respeitada, quando esses erros deixarem de ser impostos à fé, como verdade, e Deus parecerá maior e mais poderoso, quando não lhe envolverem o nome em fatos de pura invenção."
[7]

É sobre o Novo Testamento que Kardec mais se ocupa com interpretações de grande inteligência.
Na introdução de o Evangelho Segundo o Espiritismo mostra que esta obra priorizaria o conteúdo moral dos ensinamentos de Jesus, deixando para outros momentos temas mais polêmicos que podiam dividir as opiniões. Mesmo assim mostra-nos a importância de fazermos uma análise histórica, cultural e sociológica daquele período em que Jesus viveu, e vai mais além, tanto analisando algumas expressões idiomáticas do hebraico, como fazendo uma conexão entre as filosofias de Sócrates e Platão, com os ensinamentos de Jesus e com a Doutrina Espírita que surgia.
Nos livros A Gênese e em Obras Póstumas, obra publicada após o seu desenlace, volta ao tema desta vez analisando à luz do Espiritismo temas, como dissemos anteriormente, mais polêmicos.
No primeiro Kardec analisa os ditos “milagres” feitos por Jesus, como curas, ressurreições, profecias, entre outros. Mostrando-nos que o que foi chamado de milagre nada mais era do que um desconhecimento do homem sobre algumas leis da natureza. Jesus, por ser um Espírito de grande evolução, de alta hierarquia espiritual, tinha conhecimento destas leis e agia consoante a vontade do Pai atuando nas causas dos problemas, atingindo assim resultados incompreendidos pelo ser humano comum
Kardec teve a coragem de dizer sem perder entendimento em matéria de religiosidade, que a Lei Divina não pode ser derrogada nem por Jesus e nem mesmo por Deus, portanto não havia milagres, mas tudo se dava como fruto de ação consciente num nível mais profundo de espiritualidade.
Já no livro Obras Póstumas o Codificador faz um estudo minucioso sobre a natureza de Jesus, mostrando-nos, com maestria, baseado nas próprias palavras do Mestre e na opinião de suas testemunhas vivas, os apóstolos, que Jesus não era Deus, e esta crença que surgiu nos séculos posteriores do cristianismo não tinha fundamentação bíblica e era pura deturpação dos textos originais das escrituras.
Estes textos devem ser meditados e estudados por todos os espíritas como resposta àquela questão que comentamos no início, de que se deve ou não o espírita estudar a Bíblia. Servindo para outros irmãos ligados a outras crenças religiosas para mostrá-los que o Espiritismo além de ser uma filosofia cristã também se preocupa em estudar a Bíblia tendo por exemplo, o seu Codificador.
E mesmo outros estudiosos dos textos sagrados que realizam importantes comentários sobre as escrituras citando historiadores e profitentes de várias crenças, deviam conhecer um pouco mais de Kardec e a sua opinião sobre esta, que como dissemos no início, é uma das obras mais importantes da literatura mundial.
[1] Alguns autores dão como mais seis bilhões de exemplares vendidos e mais de dois mil idiomas em que foram traduzidos os originais.
[2] O Livro dos Espíritos, questão 51
[3] Ibidem, questão 59
[4] A Gênese, cap. IV item 5
[5] Gênese, cap. XII item 3
[6] Ibidem, item 6
[7] Ibidem, item 12

Estudo escrito por Cláudio Fajardo

No Princípio era o Verbo...” (João, 1: 1)

No Princípio

“No Princípio era o Verbo...” (João, 1: 1)

Assim inicia o evangelista o quarto Evangelho. Enquanto outros iniciam apresentando-nos Jesus, a origem de sua família, seu nascimento e as ocorrências deste, o autor de João nos fala da origem profunda do Cristo. Em uma tradução mais fiel, “no princípio: o Logos”.A expressão no princípio, em grego en arkê, em hebraico, beréshit, nos fala de uma origem; alguns analistas têm visto este princípio desvinculado de qualquer idéia de tempo, seria assim atemporal; Deus é eterno e incriado, deste modo a criação seria eterna, algo que jamais começou. Todavia podemos também entender este princípio como um momento escolhido no tempo para iniciar um relato. Dizemos assim, pois desta forma fica mais fácil a compreensão de algo que transcende o nosso entendimento: a origem de tudo.
Assim, temos o princípio de acordo com o estado evolutivo individual de cada um. Para uns a vida começa com o nascimento físico, outros aceitam com facilidade a pré-existência da alma. Entre estes últimos há os que crêem que a vida inteligente só acontece a partir do reino animal ou hominal, entretanto há aqueles que já vêem o princípio inteligente no mineral, ou até mesmo antes deste.
O evangelista escreveu em grego, todavia, pensava em hebraico, daí a importância de analisarmos este beréshit. De que princípio fala o texto, da origem do universo material? Das dimensões tempo e espaço? Ou simplesmente da fundação de nosso Orbe? Como dissemos, cabe a cada um analisar de acordo com a sua possibilidade evolutiva.
Os rabinos observam que a primeira letra do alfabeto hebraico é o “aleph”. Esta simbolizaria Deus em sua unidade; “beth”, a segunda, a inicial de beréshit representaria assim, a dualidade. Portanto, beréshit (princípio), seria a entrada do universo na dualidade, a criação do mundo corpóreo.
No princípio: o Logos. Logos é uma palavra grega que foi traduzida como verbo, ou palavra. Todavia, seu correspondente hebraico davar, significa também inteligência, informação criadora. Deste modo logos não é verbo ou palavra em seu sentido habitual, mas a palavra criadora, o poder criador. Seria o espírito de Deus manifesto na criação, o Deus imanente.
Assim podemos entender melhor o primeiro versículo deste inspirado Evangelho:
“No princípio era o Logos e o Logos estava em Deus e o Logos era Deus.”Façamos agora uma analogia deste versículo com versículo inicial do Gênesis:
“No princípio, criou Deus os céus e a terra.” (Gn, 1: 1) No texto original temos o nome Elohîms para designar o Deus que hoje conhecemos. Deus é único, singular, absoluto; porém Elohîms é plural. Segundo Chouraqui (1995, pág.31)[1], nas línguas semíticas, Elohîms é o termo genérico para designar o conjunto de divindades. Seriam assim, dentro da terminologia espírita, os Espíritos Puros, aqueles que segundo André Luiz realizam uma Co-Criação em plano maior. Relata-nos o autor espiritual:
“Nessa substância original, ao influxo do próprio Senhor Supremo, operam as Inteligências Divinas a Ele agregadas, em processo de comunhão indescritível…”
“(…)Essas Inteligências Gloriosas tomam o plasma divino e convertem-no em habitações cósmicas, de múltiplas expressões, radiantes ou obscuras, gaseificadas ou sólidas, obedecendo a leis predeterminadas…” (Evolução em Dois Mundos, cap. 1, 1ª parte)
Emmanuel também nos esclarece a respeito:
“Rezam as tradições do mundo espiritual que na direção de todos os fenômenos, do nosso sistema, existe uma Comunidade de Espíritos Puros e Eleitos pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se conservam as rédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias.” (À Caminho da Luz cap. 1)Estas anotações estão em pleno acordo com o que nos ensinam os Espíritos na Codificação, em O Livro dos Espíritos encontramos:
“Deus não exerce ação direta sobre a matéria. Ele encontra agentes dedicados em todos os graus da escala dos mundos.” (Questão 536 letra b).Portanto, quem constrói e formam os mundos físicos e materiais são os Espíritos destacados pelo Senhor Supremo para esta função, e Elohîms, Cristos, Logos, na verdade são nomes que expressam esses “agentes dedicados” que servem a Deus desde o princípio dos tempos.
A partir das ideais expostas neste texto colocamos a seguinte questão:
Informa-nos O Livro dos Espíritos na questão 17 que não é dado ao homem conhecer o princípio das coisas, que isto tudo ainda é para ele um mistério. E esta palavra repete-se por várias vezes nesta obra mostrando nossa incapacidade de compreensão. Porém, já podemos questionar algumas coisas que nos parecem claras.
Deus é Uno, sua Lei é imutável e sua criação tem um modelo único, não sendo possível que sua Lei determine que uma ocorrência aconteça ora de um jeito ora de outro.
Se assim é não podemos conceber que em sua origem o espírito tenha sido criado simples e ignorante. É preciso refletir sobre isso, e os espíritas têm de discutir esta questão. Pensamos que quando os espíritos assim disseram na questão 115 de “O Livro dos Espíritos” não estavam se referindo à origem e sim ao início de um ciclo evolutivo. A prova de que esta pode ser a realidade é que eles mesmos repetem várias vezes que o princípio das coisas ainda é para o homem um mistério.
Uma outra prova desta impossibilidade é que se os espíritos fossem criados simples e ignorantes e tivessem necessidade de passar pelo mundo material para chegarem à condição de Espíritos Puros, quem seriam os “agentes dedicados”, os Cristos, ou Construtores dos primeiros mundos físicos? E estes quando criados seriam habitados por quem? Teria Deus operado diretamente sobre a matéria no início da Criação e só depois parado de assim o fazer? Particularmente cremos que não.
Este não é um artigo de contestação, sinceramente não temos esse objetivo. Não gostamos de polêmica. A nossa proposta é simplesmente levar os Espíritas atuais a pensar sobre o assunto e ajudar-nos no eterno questionamento:
Quem somos, de onde viemos, para onde vamos?

[1] No Princípio (Gênesis).

Estudo escrito por Cláudio Fajardo

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