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quinta-feira, 16 de agosto de 2012
A ÚLTIMA TENTAÇÃO
Irmão X
Dizem que Jesus, na hora extrema, começou a
procurar os discípulos, no seio da agitada multidão que lhe cercava o madeiro,
em busca de algum olhar amigo em que pudesse reconfortar o espírito
atribulado...
Contemplou, em silêncio, a turba enfurecida.
Fustigado pelas vibrações de ódio e crueldade,
qual se devera morrer, sedento e em chagas, sob um montão de espinhos, começou a
lembrar os afeiçoados e seguidores da véspera...
Onde estariam seus laços amorosos da Galiléia?...
Recordou o primeiro contacto com os pescadores do
lago e chorou.
A saudade amargurava-lhe o coração.
Por que motivo Simão Pedro fora tão frágil? que
fizera ele, Jesus, para merecer a negação do companheiro a quem mais se
confiara?
Que razões teriam levado Judas a esquecê-lo? Como
entregara, assim, ao preço de míseras moedas, o coração que o amava tanto?
Onde se refugiara Tiago, em cuja presença tanto se
comprazia?
Sentiu profunda saudade de Filipe e Bartolomeu, e
desejou escutá-los.
Rememorou suas conversações com Mateus e refletiu
quão doce lhe seria poder abraçar o inteligente funcionário de Cafarnaum, de
encontro ao peito...
De reminiscência a reminiscência, teve fome da
ternura e da confiança das criancinhas galiléias que lhe ouviam a palavra,
deslumbradas e felizes, mas os meninos simples e humildes que o amavam
perdiam-se, agora, à distância...
Recordou Zebedeu e suspirou por acolher-se-lhe à
casa singela.
João, o amigo abnegado, achava-se ali mesmo, em
terrível desapontamento, mas precisava socorro para sustentar Maria, a
angustiada Mãe, ao pé da cruz.
O Mestre desejava alguém que o ajudasse, de perto,
em cujo carinho conseguisse encontrar um apoio e uma esperança...
Foi quando viu levantar-se, dentre a multidão
desvairada e cega, alguém que ele, de pronto, reconheceu.
Era a mesmo Espírito perverso que o tentara no
deserto, no pináculo do templo e no cimo do monte.
O Gênio da Sombra, de rosto enigmático, abeirou-se
dele e murmurou:
– Amaldiçoar, os teus amigos ingratos e dar-te-ei
o reino do mundo! Proclama a fraqueza dos teus irmãos de ideal, a fim de que a
justiça te reconheça a grandeza angélica e descerás, triunfante, da cruz!...
Dize que os teus amigos são covardes e duros, impassíveis e traidores e
unir-te-ei aos poderosos da Terra para que domines todas as consciências. Tu
sabes que, diante de Deus, eles não passara de míseros desertores...
Jesus escutou, com expressiva mudez, mas o pranto
manou-lhe mais intensamente da olhar translúcido.
– Sim – pensava –, Pedro negara-o, mas não por
maldade. A fragilidade do apóstolo podia ser comparada à ternura de uma oliveira
nascente que, com os dias, se transforma no tronco robusto e nobre, a desafiar a
implacável visita dos anos. Judas entregara-o, mas não por má-fé. Iludira-se com
a política farisaica e julgara poder substituí-lo com vantagem nos negócios do
povo.
Encontrou, no imo dalma, a necessária justificação
para todos e parecia esforçar-se por dizer o que lhe subia do coração.
Ansioso, o Espírito das Trevas aguardava-lhe a
pronúncia, mas o Cordeiro de Deus, fixando os olhos no céu inflamado de luz,
rogou em tom inesquecível:
– Perdoa,-lhes, Pai! Eles não sabem o que
fazem!...
O Príncipe das Sombras retirou-se apressado.
Nesse instante, porém, ao invés de deter-se na
contemplação de Jerusalém dominada de impiedade e loucura, o Senhor notou que o
firmamento rasgara-se, de alto a baixo, e viu que os anjos iam e vinham, tecendo
de estrelas e flores o caminho que o conduziria ao Trono Celeste.
Uma paz indefinível e soberana estampara-se-lhe no
semblante.
O Mestre vencera a última tentação e seguiria,
agora, radiante e vitorioso, para a claridade sublime da ressurreição eterna.
Do livro “Contos e Apólogos”. Irmão X. Psicografia
de Francisco Cândido Xavier.
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JESUS E O MUNDO
Emmanuel
Se Jesus não tivesse confiança na regeneração dos homens e
no aprimoramento do mundo, naturalmente, não teria vindo ao encontro das
criaturas e nem teria jornadeado nos escuros caminhos da terra.
Não podemos, por isso, perder a esperança e nem nos cabe o
desânimo, diante das pequenas e abençoadas lutas que o Céu nos concedeu,
entre as sombras das humanas experiências.
Da escola do mundo saíram diplomados em santificação
Espíritos sublimes, que hoje se constituem abençoados patronos da evolução
terrestre.
Não nos compete menosprezar o plano de aprendizagem que nos
alimenta e nos agasalha, que nos instrui e aperfeiçoa.
Se o melhor não auxilia ao pior, debalde aguardaremos a
melhoria da vida.
Se o bom desampara o mau, a fraternidade não passaria de
mera ilusão.
Se o sábio não ajuda ao ignorante, a educação redundaria em
mentira perigosa.
Se o humilde foge ao orgulhoso, surgiria o amor por
vocábulo inútil.
Se o aprendiz da gentileza menoscaba o prisioneiro da
impulsividade, o desequilíbrio comandaria a existência.
Se a virtude não socorre às vítimas do vício e se o bem não
se dispõe a salvar quantos se arrojam aos despenhadeiros do mal, de coisa
alguma serviria a predicação evangélica no campo de trabalho que a
Providência Divina nos confiou.
O Mestre não era do mundo, mas veio até nós para a redenção
do mundo. Sabia que os seus discípulos não pertenciam ao acervo moral da
Terra, mas enviou-os ao convívio com homens para que os homens se
transformassem nos servidores devotados do bem, convertendo o Planeta em
seu reino de Luz.
O cristão que foge ao contato com o mundo, a pretexto de
garantir-se contra o pecado, é uma flor parasitária e improdutiva na
árvore do Evangelho, e o Senhor, longe de solicitar ornamentos para a sua
obra, espera trabalhadores abnegados e fiéis que se disponham a remover o
solo com paciência, boa vontade e coragem, a fim de que a Terra se
habilite para a sementeira renovadora do grande amanhã.
Do livro Coragem. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
NA INTIMIDADE DOMÉSTICA
Emmanuel
A história do bom samaritano, repetidamente estudada,
oferece conclusões sempre novas.
O viajante compassivo encontra o ferido anônimo na estrada.
Não hesita em auxiliá-lo.
Estende-lhe as mãos.
Pensa-lhe as feridas.
Recolhe-o nos braços sem qualquer idéia de preconceito.
Conduze-o ao albergue mais próximo.
Garante-lhe a pousada.
Olvida conveniências e permanece junto dele, enquanto
necessário.
Abstém-se de indagações.
Parte ao encontro do dever, assegurando-lhe a assistência
com os recursos da própria bolsa, sem prescrever-lhe obrigações.
Jesus transmitiu-nos a parábola, ensinando-nos o exercício
da caridade real, mas, até agora, transcorridos quase dois milênios,
aplicamo-la, via de regra, às pessoas que não nos comungam o quadro
particular.
Quase sempre, todavia, temos os caídos do reduto doméstico.
Não descem de Jerusalém para Jericó, mas tombam da fé para
a desilusão e da alegria para a dor, espoliados nas melhores esperanças,
em rudes experiências.
Quantas vezes surpreendemos as vítimas da obsessão e do
erro, da tristeza e da provação, dentro de casa !
Julgamos, assim, que a parábola do bom samaritano produzirá
também efeitos admiráveis, toda vez que nos decidirmos a usá-la, na vida
íntima, compreendendo e auxiliando os vizinhos e companheiros, parentes e
amigos, sem nada exigir e sem nada perguntar.
(De “Coragem”, de
Francisco Cândido Xavier – Espíritos Diversos)
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HORA DIFÍCIL
Emmanuel
Os Amigos
Espirituais auxiliam aos companheiros encarnados na terra, em toda parte e
sempre. sobretudo, com alicerces na inspiração e no concurso indireto.
Serviço no bem do próximo, todavia, será para todos eles o veículo
essencial. Contato fraterno por tomada de ligação.
*
Suportarás
determinadas tarefas sacrificiais com paciência e, através daqueles que se
te beneficiam do esforço, os Mensageiros da Vida Superior te estenderão
apoio imprevisto.
Darás tua
contribuição no trabalho espontâneo, em campanhas diversas, a favor dos
necessitados, e, pelos irmãos que te cercam, oferecer-te-ão esperança e
alegria.
Visitarás o doente
e, utilizando o próprio doente, renovar-te-ão as idéias.
Socorrerás os menos
felizes, e, por intermédio daqueles que se lhes vinculam à provação e à
existência, dar-te-ão bondade e simpatia.
Ajudarás a criança
desprotegida e, mobilizando quantos se lhe interessam pelo destino,
descerrar-te-ão vantagens inesperadas.
Desculparás ofensas
recebidas e, servindo-se dos próprios beneficiários de tua generosidade e
tolerância, surpreender-te-ão com facilidades e bênçãos a te enriquecerem
as horas.
*
Permaneça o
tarefeiro na tarefa que lhe cabe e os emissários do Senhor encontrarão
sempre meios de lhe prestarem assistência e cooperação. entretanto, eles
também, os doadores da luz, sofrem, por vezes, a intromissão da hora
difícil. Quando o obreiro se deixa invadir pelo desânimo, eis que os
processos de intercâmbio entram em perturbação e colapso, de vez que,
entorpecida a vontade, o trabalhador descamba para a inércia e a inércia,
onde esteja, cerra os canais do auxílio, instalando o deserto espiritual.
Do Livro “Coragem”.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
QUANDO O TÉDIO APAREÇA
Emmanuel
Quando o desalento te ameace o caminho, pensa nos outros,
naqueles que não dispõem de tempo para qualquer entrevista com o tédio.
Se te acreditar amargurando lições demasiado severas no
educandário da vida, freqüenta, de quando em quando, a escola das grandes
provações, onde os aprendizes se acomodam na carteira das lágrimas. Muitos
jazem na rua, estendendo mãos fatigadas aos que passam com pressa... Em
maioria, são doentes que a onda renovadora do grupo social atirou à praia
da assistência pública ou mães aflitas a quem as exigências de filhos
pequeninos ainda não permitem a liberalidade de uma profissão...
Provavelmente, alguém dirá que entre eles se encontram
oportunistas e malfeitores que se fantasiam de enfermos para te assaltarem
a bolsa em nome da piedade. Compreendemos semelhante alegação e
justificamo-la, porque o mal existe sempre onde lhe queiramos destacar a
presença e, conquanto te roguemos o benefício da prece, em favor dos que
agem assim, mais por ignorância que por maldade, apelamos para que
consultes ainda aquelas outras salas de aula que se enfileiram no recinto
dos hospitais e nos albergues esquecidos. Acompanha os estudos daqueles
cujo corpo se carrega de feridas dolorosas para agradeceres a pele sadia
que te veste a figura ou segue a cartilha de agoniadas emoções dos que se
recolhem nos manicômios, sorvendo angústia e desespero nos resvaladouros
da loucura ou da obsessão, a fim de valorizares o cérebro tranqüilo que te
coroa a existência... Visita os asilos que resguardam a sucata do
sofrimento humano e observa as disciplinas dos que foram entregues às
meditações da penúria, para quem um simples sanduíche é um brinde raro e
partilha os exercícios de saudade e de dor dos que foram abandonados pelos
entes que mais amam, a fim de abençoares o pão de tua casa e os afetos que
te enriquecem os dias.
Quando o tédio te procure, vai à escola da caridade... Ela
te acordará para as alegrias puras do bem e te fará luz no coração,
livrando-te das trevas que costumam descer sobre as horas vazias.
Do livro Coragem. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
DECÁLOGO DO BOM ÂNIMO
André
Luiz
1 - Dificuldades? Não perca tempo, lamuriando. Trabalhe.
2 - Críticas? Nunca aborrecer-se com elas. Aproveite-as no
que mostrem de útil.
3 - Incompreensões? Não busque torná-las maiores, através
de exigências e queixas. Facilite o caminho.
4 - Intrigas? Não lhes estenda a sombra. Faça alguma luz
com o óleo da caridade.
5 - Perseguições? Jamais revidá-las. Perdoe esquecendo.
6 - Calúnias? Nunca enfurecer-se contra as arremetidas do
mal. Sirva sempre.
7 - Tristezas? Afaste-se de qualquer disposição ao
desânimo. Ore abraçando os próprios deveres.
8 - Desilusões? Por que debitar aos outros a conta de
nossos erros? Caminhe para frente, dando ao mundo e à vida o melhor ao seu
alcance.
9 - Doenças? Evite a irritação e a inconformidade.
Raciocine nos benefícios que os sofrimentos do corpo passageiro trazem à
alma eterna.
10 - Fracassos? Não acredite em derrotas. Lembre-se de que,
pela bênção de Deus, você está agora em seu melhor tempo – o tempo de
hoje, no qual você pode sorrir e recomeçar, renovar e servir, em meio de
recursos imensos.
Do livro Coragem. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
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