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terça-feira, 14 de agosto de 2012

Evangelho em Casa por Meimei

terceira  reunião
Meimei
      
     
          No primeiro domingo de maio, o grupo mostrava-se a postos, na hora prevista.
         Achavam-se presentes não apenas Dona Romualda e Milota, que voltavam aos estudos, mas também Dona Matilde, uma senhora simpática que as seguia.
         Explicara Dona Romualda que ela e a filha; extremamente beneficiadas na semana anterior, não hesitavam em trazer Dona Matilde às orações, para que se reconfortasse, porquanto a estimada senhora, além de haver perdido o único filhinho, vitimado por insidiosa moléstia, lutava imensamente no lar, com a presença de sofredora irmã obsidiada.
            PRECE INCIAL
         Ante a quietude do recinto, Veloso orou com o habitual sentimento:
        
         -Cristo, Senhor Nosso, agora que começamos a ver, em espírito, guia=nos no caminho da verdade para que a sombra da ilusão não mais nos envolva.
         Inclina-nos para o bem de que necessitamos, e faze-nos conhecer os teus desígnios, a fim de que abracemos na vida o que seja melhor para nós. Assim seja.
LEITURA
         Concluída a prece, Veloso passou o Novo Testamento às mãos de Milota, que, após abri-lo, fez a reentrega do livro em que o orientador, depois de atento exame, leu o versículo 15, do capítulo 4, da Carta do Apóstolo Paulo aos Efésios:
         “Antes, seguindo a verdade em caridade, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo”.
         Indicando Marta para a continuidade da tarefa, passou a ler em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo IX, a mensagem sob o título “A Paciência”, assinada por “Um Espírito Amigo”.
COMENTÁRIO
         O diretor da reunião passou a elucidar:
         -Analisemos a mensagem que estamos recebendo em nossas preces de hoje.         O Apóstolo Paulo recomenda-nos “seguir a verdade em caridade”, para que venhamos a crescer no entendimento de Jesus, e O Evangelho Segundo o Espiritismo, na advertência da Esfera Superior, assevera-nos que “a paciência também é uma caridade”, e que nos cabe pratica-la, em obediência aos ensinos do Mestre.
         Quero crer que, na essência, estamos sendo prevenidos contra qualquer manifestação de crítica em nosso caminho.
         Que os outros possuem defeitos, tanto quanto os temos, é inegável. Mas, perdermos tempo na fixação deles, esquecendo que a vida evolui com a bênção de Deus, é futilidade e perturbação.
         Maledicência não resolve problema algum. Além disso, é sempre um corredor para a vala das trevas.
         Destacando os males alheios, olvidamos aqueles que são nossos.
         E, censurando, adotamos invariavelmente, perante a pessoa reprovada, a posição desagradável do aguilhão que lhe agita, no corpo, a parte ulcerada, sem dar-lhe remédio.
         A crítica é semelhante à soda cáustica sobre a ferida ou ao petróleo no incêndio.
         Só a loucura utilizaria uma e outro, à guisa de bálsamo para sanar uma chaga ou à feição da água para extinguir o fogo.
         A palavra maliciosa não ajuda nem mesmo aos nossos irmãos caídos no crime, visto que a acusação apenas lhes agrava o desprezo para consigo próprios e a revolta para com os outros.
         Quem faz a crítica de alguém, adotando semelhante procedimento, decerto indica a si mesmo para fazer algo melhor que o criticado.
         Ora, como fazer é mais importante que falar, faça o melhor quem se disponha à reprovação.
         Sabemos que as idéias são corporificadas em obras por nós mesmos.
         Se tivermos, portanto, que condenar esse ou aquele companheiro de trabalho ou de luta, ao invés de amargura-lo ou complica-lo, usando irritação e azedume, ajudamo-lo com o nosso próprio exemplo.
         Se uma criatura de nossas relações parece preguiçosa, não precisamos atrair-lhe a antipatia, ironizando-lhe a conduta.
         Trabalhemos nós mesmos, de maneira a acorda-la silenciosamente para o serviço.
         Surgindo viciado esse ou aquele amigo, não é justo que lhe busquemos a aversão com palavras cruéis, mas sim que lhe doemos, na demonstração de nossos exemplos, uma idéia nova da vida, para que se restaure.
         E não nos esqueçamos de que, às vezes, tudo resulta de mera suposição, porquanto, em muitos sucessos, o que se nos afigura preguiça ou viciação pode ser doença ainda oculta.
         Nós, os cristãos, não vêem Jesus exercendo a função de crítico em hora alguma. Aliás, empenhou-se em mostrar as qualidades nobres de todas as criaturas que lhe desfrutaram a convivência, aproveitando-as, sem se deter no que haviam sido, para ajuda-las a se encontrarem, como deviam ser. E, por fim, achou mais justo concretizar os seus princípios de perfeição na renúncia suprema, que clamar, ante o povo, contra os juízes de sua causa.
         É indispensável satisfazer à sábia fórmula do Evangelho, buscando “seguir a verdade em caridade”, porque a verdade, sem amor para com o próximo, é como luz que cega ou braseiro que requeima.
         Xingamentos, maldições, pragas, desesperos e exigências, não auxiliam. Servem apenas à intolerância e à separação que, em muitos casos, precedem a enfermidades e o crime.
         Cultivemos o bom exemplo. Nele deixou-nos o Cristo a única solução para os problemas de soerguimento e conduta.
         Quanto mais unidos a Jesus, mais amplas se nos fará a integração espontânea na caridade, em cujo clima toda censura desaparece.
CONVERSAÇÃO
         Veloso fez o sinal característico de quem havia terminado e já se inclinavam todos à conversação, quando um pássaro irrompeu no aposento, entrando pela janela escancarada.
         Houve surpresa.
         Lina deslocou-se, à pressa, com o evidente intuito de aprisiona-lo.
         O pai adiantou-se, porém, e explicou:
         -Ajudemos a pobre ave, Deve sentir-se desorientada na volta ao ninho.
         Dito isso, abriu uma outra janela, que se encontrava cerrada.
         Volteando no aposento revelava-se o passarinho assustadiço e cansado.
         Após o auxílio de Veloso, que o seguia de pé, ganhou o espaço livre e desapareceu.
         Os presentes sorriram, aliviados, e o entendimento da noite começou:
         VELOSO (Dirigindo-se a Lina) – Observou, minha filha? A ave repentinamente encarcerada suspirava pela liberdade. Não seria caridoso detê-la.
         CLÀUDIO – É como se um de nós estivesse perdido, a distância de nossa casa, não é, papai? Naturalmente, que o senhor e mãezinha ficariam ansiosos à nossa espera...
         VELOSO – Isso mesmo, meu filho.
         LINA – (Como querendo modificar o ambiente em que se via reprovada) – Papai, hoje tenho um assunto em que preciso muito de seus conselhos.
         VELOSO – Diga, filha. Estamos aqui para ouvir-nos uns aos outros.
         LINA – Tia Júlia e Silvia zombam de nós, quando o senhor está ausente. Dizem que Espiritismo é ilusão e que nós não devemos crer na comunicação dos que “morreram”...
         D. Zilda – Vocês estão rixando em matéria de religião?
         LINA – Nos não, mãezinha. Elas é que se riem de nós.
         VELOSO – Filha, ainda hoje, o nosso tema foi a caridade para com todos. Júlia e Silvia não estão podendo compreende-las, ainda mais. A Doutrina Espírita confirma o Evangelho de Nosso Senhor. E ninguém poderá negar, em sã consciência, que Jesus voltou do túmulo pela ressurreição, a conversar com os discípulos e a orienta-los. Mas discutir, quase sempre é instalar a irritação na própria alma. Nós, os espíritas, segundo crêem, devemos responder aos que nos critiquem, mesmo aos mais amados, com os nossos próprios exemplos. Calemo-nos, fazendo o melhor ao nosso alcance, em favor dos que nos cercam. Nossa Doutrina necessita ser lida e conhecida, antes de tudo, em nossos atos.
         CLÁUDIO – Quem sabe tia Júlia e Silvia virão a receber algum conselho de vovó Rosália? Ela estará conosco, no domingo próximo, que será Dia das Mães, e, como é velha, poderá falar sem que elas se riam...
         VELOSO – Filho, não diga que vovó é velha. A palavra “velha”, em nos referindo às pessoas, é vocábulo descabido. Há criaturas que mostrando longa experiência no corpo, revelam consigo maior mocidade que a dos jovens; porquanto, a mocidade, acima de tudo, é um estado da alma. Quando afirmamos que alguém está velho, insinuamos que está gasto e imprestável e essa não é definição que se faça para quem quer que seja...
         D. ZILDA – A observação é muito oportuna. Aliás, não se pode olvidar que os meninos e moços de hoje serão as pessoas amadurecidas de amanhã.
         VELOSO – Sim, o tempo é instrutor da vida para todos, Mas, voltemo-nos para nossas visitas. Dona Romualda trouxe-nos Dona Matilde. Procuremos ouvi-las.
         D. ROMUALDA – Nossa Matilde tem uma irmã bastante obsidiada.
         D. MATILDE – É minha irmã Iracema. Há dois meses grita sem cessar, atacada por Espíritos turbulentos e viciosos... Soube que os prezados amigos mantém aqui está reunião espírita e decidi-me a rogar-lhes cooperação...
         VELOSO – Sim podemos incluir nossa irmã enferma em nossas preces.
         D. ROMUALDA – Mas, não podemos fazer aqui alguma doutrinação direta, atraindo os obsessores? Matilde é médium e serviria na posição de instrumento...
         VELOSO – Decerto há que considerar algum engano... O culto do Evangelho no lar não inclui o tratamento dos desencarnados infelizes. Essa tarefa permanece mais sob a responsabilidade dos nossos templos.
         D. ROMUALDA – Então não se justifica o socorro aos Espíritos infelizes, acaso existentes em nosso ambiente doméstico...
         VELOSO – De modo algum. Indiscutivelmente, se o problema surge no ambiente familiar, é claro o impositivo de fazer-se o possível no amparo aos sofredores dessa espécie; contudo, a própria vida nos ensina que a delinqüência pode ser interpretada por enfermidade da alma, e, assim, os delinqüentes devem ser internados em lugar adequado ao tratamento preciso. Insistir pela manifestação dos Espíritos conturbados, no culto evangélico mais íntimo seria o mesmo que buscar pessoas desorientadas na praça pública a fim de tumultuar-nos serviço tão grave.
         D. MATILDE – Sua opinião é respeitável... Mas, sou médium escrevente e ficaria confortada se pudesse aproveitar a oportunidade, pelo menos para receber, se possível, a palavra de Jorge, meu irmão há tempos desencarnado, que me vem amparando, de mais perto. Trata-se de um mentor esclarecido...
         VELOSO – Nesse caso, a argumentação é diferente. O amigo espiritual que nos ajude é sempre visita estimável. A educação não pode cerrar as portas a quantos lhe possam acender novas luzes. Ao término de nossa reunião, esperaremos a palavra do benfeitor a que se reporta.
         D. ROMUALDA – As explicações são muito lógicas.
         D. ZILDA – Não podemos esquecer igualmente que, em nossas tarefas evangélicas do lar, os vários irmãos desencarnados sofredores, que porventura nos acompanhem, ouvem palavras de consolação e absorvem idéias renovadoras.
         D. ROMUALDA – (Designando Dona Matilde que chora em silêncio) – Além das muitas provações em casa, Matilde acaba de perder um filhinho devorado pelo câncer... Menino de apenas alguns meses de idade...
         D. MATILDE – Meu pobre David! Desencarnar canceroso aos dez meses! ... (Dirigindo-se ao diretor da reunião) – Qual a sua opinião irmão Veloso? Teria sido um fim de prova?
         VELOSO – (Após meditar alguns instantes) – Tivemos um caso semelhante em nosso templo espírita, há precisamente dois meses. Confortando o pai sofredor, um amigo espiritual explicou-nos que o pequenino havia perpetrado o suicídio, em existência anterior. Depois de vasto período de agonia purgativa, nas esferas inferiores, reencarnou-se com as seqüelas da tortura que infligira a si próprio, a projetar no corpo tenro os desajustamentos de que se fazia portador. Quanto ao pequeno David, em que órgão se lhe manifestou a enfermidade?
         D. MATILDE – Nos intestinos.
         VELOSO – É possível tenha ele usado violento corrosivo na existência última, adquirindo grande perturbação no corpo espiritual.
         D. ROMUALDA – Como vemos, a Doutrina Espírita pede estudo para que venhamos a entender os nossos problemas.
         D. ZILDA – O que mais lamento é a minha dificuldade para ler. Trabalho num estabelecimento escolar e lido com crianças durante o dia inteiro. Entretanto, se procuro ler esse ou aquele volume que não se refira à escola, começo imediatamente a cochilar. É um sono terrível...
         D. ROMUALDA – De qualquer modo, no entanto, precisamos conhecer e confrontar, porque a vida, em si mesma, é um grande livro sem letras, em que as lições são as nossas próprias experiências.
         VELOSO – Dona Romualda está certa. Todo dia é ocasião de aprender.
         D. ZILDA – (Fixando carinhosamente Lina e Marta, depois de pequeno intervalo em que Dona Matilde enxuga as lágrimas) – Tenho hoje uma comunicação para o grupo. Marta anunciou no culto da semana passada que Lina passou a auxilia-la espontaneamente. Acontece que, com isso, Marta agora vem cooperando com mais tempo e carinho nos serviços da casa. A providência aliviou-me bastante e, podendo dispor assim de novos recursos, dediquei-me a nova tarefa. (E abrindo pequeno pacote que trouxera para a mesa) – Com possibilidades novas, fiz nesta semana um enxoval para bebê, que ofereceremos, em nome do nosso culto evangélico, a alguma de nossas irmãs em necessidade maiores e que esteja aguardando a hora divina da maternidade.
         LINA – Oh! Mãezinha!...
         MARTA – Que peças lindas!
         CLÁUDIO – Tudo tão bonito!...
         VELOSO – Estou feliz, vendo nossa casa começando a produzir o bem para os outros, sem prejuízo do orçamento doméstico. Disse-nos o Apóstolo que a fé sem obras é morta. Do ponto de vista do Evangelho, tudo segue melhorando, quando sentimos necessidade de auxiliar com desinteresse. Anotamos hoje um ensinamento edificante. O Evangelho ajudou nossa Lina a cumprir o próprio dever. O Evangelho e Lina cooperaram com Marta, a fim de que esta pudesse fazer um pouco a mais em seu trabalho e, agora, o Evangelho, Lina e Marta auxiliaram nossa Zilda a socorrer, em nome de nosso conjunto, a outro lar em lutas maiores que as nossas. Agradeçamos a Deus semelhantes bênçãos!...
        
NOTA SEMANAL
         O silêncio envolveu a assembléia, prenunciando o encerramento, e Veloso tomou a palavra sorrindo:
         -Já que nossa Zilda experimenta cansaço, relatarei aqui um episódio curioso que me foi narrado por um amigo. Poderemos denomina-lo:
O SUSTENTO DO CORPO E DO ESPÍRITO
         Certo aprendiz, em conversa com o professor, queixou-se de grande incapacidade para reter as lições.
         Sentia-se sonolento, desmemoriado...
         Ao cabo de alguns instantes de leitura, esquecia de todo os textos mais importantes, ainda mesmo os que se referissem às suas mais prementes necessidades.
         Que fazer para evitar a perturbação?
         Travou-se então entre os dois o seguinte diálogo:
         -Meu filho, quando tens sede, foges do copo d’água?
         -Impossível. Morreria torturado.
         -Quando nu, abandonas a veste?
         -De modo algum. Não dispenso o agasalho.
         -Esqueces de levar o alimento à boca, ao te apresentarem a refeição?
         -Nunca. Como poderia andar sem comer?
         -Pois também não podes viver sem educação – concluiu o orientador – Lembra-te dessa verdade e estarás acordado para os ensinamentos de nossos mestres.
         O mentor do grupo esboçou silencioso gesto de bom humor e salientou:
         -Nossa alma precisa estudar e conhecer, tanto quanto nosso corpo necessita de respirar e nutrir-se.
ENCERRAMENTO
         Veloso pediu aos circunstantes alguns minutos de silêncio para que Dona Matilde pudesse funcionar como médium de instrução e consolo.
         Atendida a solicitação, a senhora amiga desse assinalar a presença do irmão desencarnado, a que se referira, e, tomando do lápis, psicografou-lhe a seguinte mensagem:
                   Meus Irmãos.
                            Deus seja louvado!
                   A Terra é nossa escola e a dor é nossa lição.
                   Tende paciência para que o aprendizado não se perca.
                   Não podemos olvidar que o farão das provas corresponde sempre às nossas forças.
                   Matilde; guardemos esperança.
                   Nosso David permanece sob a assistência de abnegados Benfeitores da Vida Maior e nossa irmãzinha doente nunca esteve desamparada.
                   Os Mensageiros Divinos estão a postos.
                   Confiemos em Deus.
                                                                           Jorge.
         Veloso, satisfeito, destacou a importância dos conselhos recebidos e orou, encerrando a reunião.
        
         -Amado Jesus, procurando-te a luz divina no Evangelho que nos deixaste, queremos ser mais úteis. Agrademos, Senhor, o amparo que nos dispensas e contamos com o teu auxílio para que sejamos amanhã melhores que hoje. Assim seja.
*
         Lina e Cláudio serviram a água fluidificada aos presentes e, enquanto se comentavam, em torno, a excelência da palavra do Cristo aos corações, Dona Romualda pedia a Dona Zilda algumas instruções sobre a melhor maneira de instituir o culto do Evangelho em sua própria casa.
Da Obra “EVANGELHO EM CASA” – Espírito: MEIMEI –
Médium: FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Evangelho em Casa-Por Memei

primeira  reunião
Meimei
 
         Encorajada pelo esposo, Dona Zilda, naquele belo domingo de abril, colocou sobre a mesa a melhor toalha de que dispunha.
         Alinhou dois livros carinhosamente tratados – um exemplar do Novo Testamento e outro de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
         Em seguida, trouxe pequeno vaso com água pura.
         Soaram seis horas da tarde.
         O senhor Veloso, chefe da família, entrou no aposento acompanhado de Lina e Cláudio, filhinhos do casal, quase meninos, e de Marta, jovem servidora que parecia ter mais de vinte anos de idade.
         Dona Zilda perguntou pela filha mais velha, Silvia, e por Dona Júlia, a irmã viúva que residia junto deles, na mesma casa.
         Veloso, porém, notificou que ambas se haviam esquivado. Não desejavam partilhar o nosso hábito doméstico.
         Sem mais demora, como se todos já houvessem estabelecido o propósito de a ninguém reprovar, o pequeno grupo assentou-se tranqüilo.
         Pairava brando silêncio, quando Veloso ergueu a voz e orou, comovido.
 
PRECE INICIAL
 
         Senhor Jesus!
         Quando Deus não é colocado por centro de nossa vida, perdemos o rumo, quais viajores que se distancia, da luz, caindo nas trevas... E és entre nós, Senhor, a imagem mais fiel do Pai que nos criou.
         Para nos reunires a Ele. Concede-nos, assim, a força de percorre-lo! Inspira-nos a compreensão de tua palavra, porquanto sabemos que o Reino de Deus, como felicidade eterna, há de começar em nós mesmos.
         Guia-nos, Mestre, e ajuda-nos a entender-te à vontade! Assim seja.
 
LEITURA
 
         Finda a prece, solicitou Veloso que a filhinha abrisse o Novo Testamento ao acaso.
         Efetuada a operação, Lina passou o livro ao exame paterno.
         O diretor da pequenina assembléia deteve-se, por momentos, contemplando a fisionomia da página, e leu, depois, o versículo 14, do capítulo 4, nos Apontamentos do Apóstolo João Evangelista:
         “Mas, aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna”.
         Logo após, atendendo à recomendação do esposo, Dona Zilda consultou o Evangelho Segundo o Espiritismo, igualmente ao acaso, e leu nas “Instruções dos Espíritos”, do capítulo XVII, a mensagem de Lázaro, intitulada “O Dever”.
 
COMENTÁRIO
 
         Feito silêncio, Veloso analisou, sereno:
         -Em nossa reunião temos o objetivo de estudar os ensinamentos do Cristo, de modo a percebermos com mais segurança o quadro de nossas obrigações.
         Aceitamos a Doutrina Espírita, em nome de Jesus, entretanto, como dignifica-la, sem conhecimento das lições do Divino Mestre?
         Na informação do evangelista, diz o Senhor: “Quem beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque essa água se fará nele qual fonte de água viva”.
         Anotemos, em seguida, nos ensinamentos coligidos por Allan Kardec, a palavra de Lázaro quanto à excelência do dever como “Lei da Vida”.
         Naturalmente, aludindo à água que nos oferta, reportava-se Jesus aos princípios redentores de que se fez mensageiro.
         Quem lhes absorva a essência sublime decerto se renovará integralmente, abrindo novo caminho aos próprios pés.
         E, ligando a promessa do Senhor à conceituação da mensagem lida, reconheceremos claramente que Jesus não apenas nos reconfortou a existência física, descerrando-nos luminosa esperança ao sentimento ou curando-nos os corpos doentes, mas, acima de tudo, nos traçou normas de ação, ante as quais nos compete aperfeiçoar o senso de disciplina.
         A fim de compreendermos semelhante verdade, estampou as suas instruções em sua própria conduta.
         Desceu das Esferas Superiores, sem preocupar-se com a dureza de nossos corações, e distribuiu amor e luz com todas as criaturas.
         Começou, no entanto, pelos mais infortunados e mais tristes.
         Andou entre os homens sem deles exigir considerações e privilégios.
         Nasceu numa estrebaria e morreu numa cruz.
         Amparou a quantos lhe partilharam a marcha, sem pedir agradecimento ou moeda.
         Todavia, cada máxima que lhe saiu da boca representa um artigo da Lei Divina para a edificação do Reino de Deus entre nós.
         O Reino de Deus inclui, porém, todo o Universo.
         Assim, pois, onde palpite a consciência, seja na Terra ou noutros mundos, os princípios de Jesus constituem a religião viva.
         Não é difícil, desse modo, aprender que o Celeste Amigo demarcou-nos a estrada real para a verdadeira felicidade, assim como entendemos trilhos sólidos, de acordo com a experiência da engenharia, para que a locomotiva alcance a meta.
         Que acontece, entretanto, ao comboio que abandona as linhas da vida férrea? Descarrila, provocando desastres. Ameaça a vida dos passageiros, além de estragar a si próprio.
         Interpretemos nossos desejos e ideais, tarefas e obrigações, como sendo passageiros que transportamos conosco, e façamos de nossa mente o maquinista.
         Se o maquinista não obedece às regras instituídas para a viagem, que é a nossa própria existência, converte-se a vida em aventura perigosa, na qual arruinamos os interesses e aspirações de que sejamos depositários, e perturbamos, conseqüentemente, a nós mesmos.
         As lições de Jesus, portanto, indicando-nos a bondade e o serviço, a paciência e a humildade, a caridade e o perdão, expressam a senda que nos cabe trilhar, se quisermos viver em harmonia com a Lei de Deus.
 
CONVERSAÇÃO
 
            Terminando o comentário, Veloso explicou que seria interessante uma palestra rápida, a fim de que as idéias do “culto evangélico” fossem colocadas em movimento.
         Depois da troca de expressivo olhar com a mãezinha, foi Lina quem tomou a iniciativa, perguntando:
         -Papai, por que motivo não temos um retrato de Jesus, diante de nós, em nossas preces?
         E o entendimento estabeleceu-se, afável.
         VELOSO – Filhinha; decerto não somos contra o trabalho artístico que mentaliza o Divino Mestre as telas e esculturas que encontramos a cada passo, e um lar espírita pode guardar perfeitamente semelhantes recordações, sempre que não atentem conta a dignidade do Senhor e contra o respeito que devemos à obra cristã; contudo, nas atividades de nossa Doutrina, dispensamos apetrechos materiais, a fim de que não olvidemos a presença do Eterno Amigo dentro de nós mesmos.
         CLÁUDIO – E a água, papai?... Por que a água na mesa?
         VELOSO – Meu filho, a água é, reconhecidamente, um dos corpos mais sensíveis à magnetização. Nessa condição, armazena os recursos balsamizantes e curativos que nos são trazidos pelos Emissários Divinos ou por nossos Amigos Espirituais, em visita ao nosso recinto de orações.
         LINA – Se tia Júlia mora conosco, não compreendo as razões por que se afasta de nossas preces.
         D. ZILDA – Júlia tem idéias religiosas diferentes das nossas.
         LINA – E Silvia?
         VELOSO – Silvia é hoje uma jovem com vinte anos. Cresceu sem que lhe dedicássemos qualquer cuidado ao problema da fé. Quando pequenina Ilda e nós, muito inexperientes em matéria de responsabilidade, confiamo-la à guarda moral de Júlia. Não podemos agora lhe reclamar uma atitude para a qual, em verdade, não a preparamos. (E sorrindo) – Segundo é fácil de notas, estamos começando o nosso culto do Evangelho em casa com um atraso de vinte anos...
         CLAUDIO – Com que fim precisamos estudar o Evangelho?
         D. ZILDA – Para melhorar o coração, meu filho, para aprendermos que todos somos filhos de Deus e que devemos viver no mundo como irmãos uns dos outros.
         MARTA – Para cumprirmos nossos deveres com alegria.
         CLAUDIO – Quer dizer (e fez um rosto brejeiro) que Lina não deve rusgar tanto com a empregada.
         VELOSO – Meu filho, retifique a expressão, Marta não é nossa empregada, como se fora nossa escrava, e você se referiu a ela em tom de desprezo. É um erro ferir, mesmo sem intenção, aqueles que trabalham conosco, tratando-os como se estivéssemos em posição inferior. Marta é abnegada auxiliar no estabelecimento de ensino a que presta serviço e quanto seu pai é colaborador no escritório de que recebe o pão. Sem que as mãos dela nos preparem a mesa, ser-nos-á difícil o desempenho das nossas obrigações.
         D. ZILDA – Nosso culto do Evangelho é, assim, um meio para nos sentirmos mais compreensivos. Nem Lina precisa agastar-se com Marta nem nós mesmos uns com os outros. A cada qual de nós cabe o máximo de esforço para que a bondade e a ordem, o serviço e a gentileza permaneçam aqui com todos, para que a felicidade, brilhando conosco, se irradie de nós para os que nos cercam.
 
NOTA SEMANAL
 
         Findo o entendimento geral, Veloso disse:
         -Concluamos nossos estudos, cada semana, com alguma nota que nos enriqueça a meditação.
         Nesse sentido, lembro-me hoje de uma lenda que pertence ao pensamento mundial. Adaptando-a as nossas necessidades, nomeá-la-ei:
 
 
O DEVER ESQUECIDO
 
         Certo rei muito poderoso, sendo obrigado a longa ausência, tomou de grande fortuna e entregou-se ao filho, confiando-lhe a incumbência de levantar grande casa, tão bela quanto possível.
         Para isso, o tesouro que lhe deixava nas mãos era suficiente.
         Acontece, porém, que o jovem, muito egoísta, arquitetou o plano de enganar o próprio pai, de modo a gozar todos os prazeres imediatos da vida.
         E passou a comprar materiais inferiores.
         Onde lhe cabia empregar metais raros, utilizava latão; nos lugares em que devia colocar o mármore precioso, punha madeira barata, e nos setores de serviço, em que obra reclamava pedra sólida, aplicava terra batida...
         Com isso, obteve largas somas que consumiu, desorientado, junto de amigos loucos.
         Quando o monarca voltou, surpreendeu o príncipe abatido e cansado, a apresentar-lhe uma cabana esburacada, ao invés de uma casa nobre.
         O rei, no entanto, deu-lhe a chave do pequeno casebre e disse-lhe, bondoso:
         -A casa que mandei edificar é para você mesmo, meu filho... Não me parece a residência sonhada por seu pai, mas devo estar satisfeito com a que você próprio escolheu...
         Após ligeira pausa, Veloso advertiu:
         O conto impele-nos a judiciosas apreciações, quanto ao cumprimento exato de nossos deveres.
         Comparemos o soberano a Deus, nosso Pai.
         O príncipe da história poderia ter sido qualquer alma de nós.
         A fortuna para construirmos a moradia de nossa alma é a vida que Deus nos empresta.
         Quase sempre, contudo, gastamos o tesouro da existência em caprichosa ilusão, para acabarmos relegados, por nossa própria culpa, aos pardieiros apodrecidos do sofrimento.
         Mas, aqueles que se consagram à bênção do dever, por mais áspero que seja, adquirem a tranqüilidade e a alegria que o Supremo Senhor lhe reserva, por executarem, fiéis, a sua divina vontade, que planeja sempre o melhor a nosso favor.
        
ENCERRAMENTO
 
         Atendendo à solicitação de Veloso, Dona Zilda orou, no encerramento:
         -Senhor, agradecemos a riqueza que nos concedeste, a exprimir-se no lar que nos reúne.
         Aqui nos situaste por amor, para que aprendamos a servir ao próximo, servindo a nós mesmos.
         Inspira-nos resoluções elevadas, a fim de que a correção no desempenho de nossos deveres nos faça mais felizes e mais úteis.
         Não permitas, Jesus amado, venhamos a esquecer as nossas obrigações, perante os teus ensinamentos, e abençoa-nos, hoje e sempre, Assim seja.
 
**
         Dona Zilda distribuiu a água cristalina em pequenas porções com os familiares, enquanto a alegria lhes clareava o semblante. E Veloso, satisfeito, notou que Lina abraçava Marta, pela primeira vez, de modo diferente...
 
 
Da Obra “EVANGELHO EM CASA” – Espírito: MEIMEI –
Médium: FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Caros Irmãos.

Meus irmãos sejam sempre bem vindos a este blog que tem por finalidade divulgar a Doutrina Espírita, e gostaríamos muito que se manifestassem com comentários,sugestões, respondendo enquetes para melhor podermos contribuirmos para melhorarmos e atendermos a todos nas necessidades do dia a dia com mensagens de ânimo, coragem, autoconhecimento , esperança , entendimento, solidariedade.
Que Deus nos abençoe
Negy

ADVENTO DO ESPÍRITO DE VERDADE

Evangelho Segundo o Espiritismo.
Cap. 6

8. Deus consola os humildes e dá força aos aflitos que lha
pedem. Seu poder cobre a Terra e, por toda a parte, junto
de cada lágrima colocou ele um bálsamo que consola. A
abnegação e o devotamento são uma prece contínua e encerram
um ensinamento profundo. A sabedoria humana
reside nessas duas palavras. Possam todos os Espíritos
sofredores compreender essa verdade, em vez de clamarem
contra suas dores, contra os sofrimentos morais que neste
mundo vos cabem em partilha. Tomai, pois, por divisa estas
duas palavras: devotamento e abnegação, e sereis fortes,
porque elas resumem todos os deveres que a caridade e
a humildade vos impõem. O sentimento do dever cumprido
vos dará repouso ao espírito e resignação. O coração bate
então melhor, a alma se asserena e o corpo se forra aos
desfalecimentos, por isso que o corpo tanto menos forte se
sente, quanto mais profundamente golpeado é o espírito. –
O Espírito de Verdade. (Havre, 1863.)

O CÍRCULO DE ORAÇÃO


F.Labouriau
Noite de 11 de agosto de 1955.
Em finalizando as nossas tarefas no socorro aos sofredores desencarnados, comparece o irmão José Xavier que nos recomenda fraternalmente:
- Solicitamos dos companheiros alguns momentos de acurada meditação para articularmos
com mais segurança o “tono vibratório” de nossa reunião, porque, hoje, um novo amigo, o Professor Labouriau, ocupará o canal mediúnico, a fim de expressar-se quanto ao valor de um círculo de oração.   
Com efeito, daí a instantes transfigura-se o médium.
A entidade comunicante senhoreira-lhe todas as forças. Levanta-se. Fala-nos à maneira de um preceptor interessado na educação dos aprendizes. E transmite-nos o fulgurante estudo que oferecemos neste capítulo.
 
Comentemos a importância de um círculo de oração nos serviços de assistência medianímica, como um aparelho acelerador de metamorfose espiritual.
Imaginemo-lo assim como um cíclotron da ciência atomística dos tempos modernos.
Os companheiros do grupo funcionam como eletroímãs, carregados de força magnética positiva, e negativa, constituindo uma corrente alternada de alta freqüência, através da qual o socorro do Plano Superior, transmitido por intermédio do dirigente físico, exterioriza-se como sendo um projetil de luz sobre o desencarnado em sombra que, simbolizando o núcleo atômico a ser atingido, permanece justaposto ao alvo mediúnico.
No bombardeio nuclear, sabemos que um próton, arremessado sobre o objetivo, imprime-lhe transformação compulsória à estrutura essencial.
Um átomo elevar-se-á na escala do sistema periódico, na medida das cargas dos corpúsculos que lhe forem agregados.
Assim sendo, a projeção de um próton sobre certa unidade química determina a subida de um ponto em sua posição na série estequiogenética.
A carga do único próton do núcleo do átomo de Hidrogênio, de número atômico 1, arrojada sobre o Lítio, cujo número atômico é 3, modificá-lo-á para Berílio, que tem número atômico 4; ou, sobre o Alumínio, de número atômico 13, alterá-lo-á para Silício, cujo número atômico é 14.
Nesse mesmo critério, a injeção de um núcleo de átomo de Hélio com seus dois prótons, de número atômico 2, sobre Berílio, de número atômico 4, adicionar-lhe-á dois pontos acima, convertendo-o em Carbono, cujo número atômico é 6.
Recorremos a figurações elementares do mundo químico para dizer que no círculo de oração o impacto das energias emitidas de nosso plano, através do orientador encarnado, em base de radiações por enquanto inacessíveis à perquirição terrestre, provoca sensíveis alterações na mente perturbada, conduzida à assistência cristianizadora.
Consciências estagnadas nas trevas da ignorância ou da insânia perversa, são trazidas à retorta mediúnica para receberem o bombardeio controlado de forças e idéias transformadoras que lhes renovam o campo íntimo, e, daí, nasce a guerra franca e sem quartel, declarada a todos os grupos respeitáveis do Espiritismo pelas Inteligências que influenciam na sombra e que fazem do vampirismo a sua razão de ser.
Todos vós, que recolhestes do Senhor os mandatos do esclarecimento, os recursos da mediunidade  e os títulos da cooperação, no trato com os reinos do Espírito, sabei que para conservardes um círculo de oração, equilibrado e seguro, é imprescindível pagar os mais altos tributos de sacrifício, porque, em verdade, retendes convosco poderosa máquina de transmutação espiritual, restaurando almas enfermas e transviadas em núcleo de ação eficiente, que vale por reduto precioso de operações da Esfera divina, no amparo às necessidades e problemas da Terra.
Unamo-nos, assim, no trabalho do Cristo, como obreiros da Grande Fraternidade, mantendo-nos diligentes e alertas, na batalha incessante do bem contra o mal em que devemos servir para a vitória da Luz.
 
 
Do livro Vozes do Grande Além. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

MESTRE E APRENDIZ


    
Espírito: EMMANUEL.
 
     ... E respondendo ao discípulo que lhe pedira ensinasse a orar, disse o Mestre generoso:
     Quando rogares amor, não abandones o próximo ao frio da indiferença.
     Quando suplicares o dom da fé viva, não relegue teu irmão à descrença ou à tortura mental.
     Quando pedires luz, não condenes teu companheiro à perturbação nas trevas.
     Quando solicitares a bênção da esperança, não espalhes o fel da desilusão.
     Quando implorares socorro, não olvides a assistência que deves aos mais necessitados.
     Quando rogares consolação, não veicules o desespero à margem do caminho.
     Quando pedires perdão, desculpa os que te ofendem.
     Quando suplicares justiça, em favor da própria segurança, não te descuides da harmonia de todos que precisas assegurar ao preço de tua renunciação e de tua humildade, a benefício dos que te cercam.
     Se reclamares pela claridade da paz, não entendas a sombra da discórdia; se pedires compreensão, não critiques; se aguardares concurso do Céu, não menosprezes a colaboração que o mundo te pede à boa vontade.
     Assim como fizeres aos outros, assim será feito a ti mesmo.
     Segundo plantares, colherás.
     Não olvides, assim, que a Vontade do Senhor é também a Lei Eterna e que tudo te responderá na vida, conforme os teus próprios apelos.
     Vai, pois, e, orando, perdoa e ajuda sempre!...
     Foi então que o aprendiz, reconhecendo que não basta simplesmente pedir para receber a felicidade, passou a construí-la através do serviço à felicidade dos outros, compreendendo, por fim, que somente pelo trabalho incessante no bem poderia orar em perfeita comunhão com a Bondade de Deus.
 
LIVRO ANTOLOGIA MEDIÚNICA DO NATAL - Psicografia: Francisco Cândido Xavier - Espíritos Diversos

COMUNHÃO COM DEUS




Irmão X - Humberto de Campos
As elucidações do Mestre, relativamente à oração, sempre encontravam nos discípulos certa perplexidade, quase que invariavelmente em virtude das idéias novas que continham, acerca da concepção de Deus como Pai carinhoso e amigo. Aquela necessidade de comunhão com o seu amor, que Jesus não se cansava de salientar, lhes aparecia como problema obscuro, que o homem do mundo não conseguiria realizar.
A esse tempo, os essênios constituíam um agrupamento de estudiosos das ciências da alma, caracterizando as suas atividades de modo diferente, porque sem públicas manifestações de seus princípios. Desejoso de satisfazer à curiosidade própria, João procurou conhecer-lhes, de perto, os pontos de vista, em matéria das relações da comunidade com Deus e, certo dia, procurou o Senhor, de modo a ouvi-lo mais amplamente sobre as dúvidas que lhe atormentavam o coração:
- Mestre - disse ele, solícito -, tenho desejado sinceramente compreender os meus deveres atinentes à oração, mas sinto que minh’alma está tomada de certas hesitações. Anseio por esta comunhão perene com o Pai; todavia, as idéias mais antagônicas se opõem aos meus desejos. Ainda agora, manifestando meu pensamento, acerca de minhas necessidades espirituais, a um amigo que se instrui com os essênios, asseverou-me ele que necessito compreender que toda edificação espiritual se deve processar num plano oculto. Mas, suas observações me confundiram ainda mais. Como poderei entender isso? Devo, então, ocultar o que haja de mais santo em meu coração?
O Messias, arrancado de suas meditações, respondeu com brandura:
- João, todas as dúvidas que te assaltam se verificam pelo motivo de não haveres compreendido, até agora, que cada criatura tem um santuário no próprio espírito, onde a sabedoria e o amor de Deus se manifestam, através das vozes da consciência. Os essênios levam muito longe a teoria do labor oculto, pois, antes de tudo, precisamos considerar que a verdade e o bem devem ser patrimônio de toda a Humanidade em comum. No entanto, o que é indispensável é saber dar a cada criatura, de acordo com as suas necessidades próprias. Nesse ponto, estão muito certos quanto ao zelo que os caracteriza, porque os ungüentos reservados a um ferido não se ofertam ao faminto que precisa de pão. Também eu tenho afirmado que não poderei ensinar tudo o que desejara aos meus discípulos, sendo compelido a reservar outras lições do Evangelho do Reino para o futuro, quando a magnanimidade divina permitir que a voz do Consolador se faça ouvir entre os homens sequiosos de conhecimento. Não tens observado o número de vezes em que necessito recorrer a parábolas para que a revelação não ofusque o entendimento geral? No que se refere à comunhão de nossas almas com Deus, não me esqueci de recomendar que cada espírito ore no segredo do seu íntimo, no silêncio de suas esperanças e aspirações mais sagradas. É que cada criatura deve estabelecer o seu próprio caminho para mais alto, erguendo em si mesma o santuário divino da fé e da confiança, onde interprete sempre a vontade de Deus, com respeito ao seu destino. A comunhão da criatura com o Criador é, portanto, um imperativo da existência e a prece é o luminoso caminho entre o coração humano e o Pai de infinita bondade.
O apóstolo escutou as observações do Mestre, parecendo meditar austeramente. Entretanto, obtemperou:
- Mas, a oração deve ser louvor ou súplica?
Ao que Jesus respondeu com bondade:
- Por prece devemos interpretar todo ato de relação entre o homem e Deus. Devido a isso mesmo, como expressão de agradecimento ou de rogativa, a oração é sempre um esforço da criatura em face da Providência Divina. Os que apenas suplicam podem ser ignorantes, os que louvam podem ser somente preguiçosos. Todo aquele, porém, que trabalha pelo bem, com as suas mãos e com o seu pensamento, esse é o filho que aprendeu a orar, na exaltação ou na rogativa, porque em todas as circunstâncias será fiel a Deus, consciente de que a vontade do Pai é mais justa e sábia do que a sua própria.
- E como ser leal a Deus, na oração? - interrogou o apóstolo, evidenciando as suas dificuldades intelectuais. - A prece já não representa em si mesma um sinal de confiança?
Jesus contemplou-o com a sua serenidade imperturbável e retrucou:
- Será que também tu não entendes? Não obstante a confiança expressa na oração e a fé tributada à providência superior, é preciso colocar acima delas a certeza de que os desígnios celestiais são mais sábios e misericordiosos do que o capricho próprio; é necessário que cada um se una ao Pai, comungando com a sua vontade generosa e justa, ainda que seja contrariado em determinadas ocasiões. Em suma, é imprescindível que sejamos de Deus. Quanto às lições dessa fidelidade, observemos a própria natureza, em suas manifestações mais simples. Dentro dela, agem as leis de Deus e devemos reconhecer que todas essas leis correspondem à sua amorosa sabedoria, constituindo-se suas servas fiéis, no trabalho universal. Já ouviste falar, alguma vez, que o Sol se afastou do céu, cansado da paisagem escura da Terra, alegando a necessidade de repousar? A pretexto de indispensável repouso, teriam as águas privado o globo de seus benefícios, em certos anos? Por desagradável que seja em suas características, a tempestade jamais deixou de limpar as atmosferas. Apesar das lamentações dos que não suportam a umidade, a chuva não deixa de fecundar a terra! João, é preciso aprender com as leis da natureza a fidelidade a Deus! Quem as acompanha, no mundo, planta e colhe com abundância. Observar a lealdade para com o Pai é semear e atingir as mais formosas searas da alma no infinito. Vê, pois, que todo o problema da oração está em edificarmos o reino do céu entre os sentimentos de nosso íntimo, compreendendo que os atributos divinos se encontram também em nós.
O apóstolo guardou aqueles esclarecimentos, cheio de boa vontade no sentido de alcançar a sua perfeita compreensão.
- Mestre - confessou, respeitoso -, vossas elucidações abrem uma estrada nova para minh’alma; contudo, eu vos peço, com a sinceridade da minha afeição, me ensineis, na primeira oportunidade, como deverei entender que Deus está igualmente em nós.
O Messias fixou nele o olhar translúcido e, deixando perceber que não poderia ser mais explícito com o recurso das palavras, disse apenas:
- Eu to prometo.
A conversação que vimos de narrar verificara-se nas cercanias de Jerusalém, numa das ausências eventuais do Mestre do círculo bem-amado de sua família espiritual em Cafarnaum.
No dia seguinte, Jesus e João demandaram Jericó, a fim de atender ao programa de viagem organizado pelo primeiro.
Na excursão a pé, ambos se entretinham em admirar as poucas belezas do caminho, escassamente favorecido pela Natureza. A paisagem era árida e as árvores existentes apresentavam as frondes recurvadas, entremostrando a pobreza da região, que não lhes incentivava o desenvolvimento.
Não longe de uma pequena herdade, o Mestre e o apóstolo encontraram um rude lavrador, cavando grande poço à beira do caminho. Bagas de suor lhe desciam da fronte; mas, seus braços fortes iam e vinham à terra, na ânsia de procurar o líquido precioso.
Ante aquele quadro, Jesus estacionou com o discípulo, a pretexto de breve descanso, e, revelando o interesse que aquele esforço lhe despertava, perguntou ao trabalhador:
- Amigo, que fazes?
- Busco a água que nos falta - redargüiu com um sorriso o interpelado.
- A chuva é assim tão escassa nestas paragens? - tornou Jesus, evidenciando afetuoso cuidado.
- Sim, nas proximidades de Jericó, ultimamente, a chuva se vem tornando uma verdadeira graça de Deus.
O homem do campo prosseguiu no seu trabalho exaustivo; mas, apontando para ele, o Messias disse a João, em tom amigo:
Este quadro da Natureza é bastante singelo; porém, é na simplicidade que encontramos os símbolos mais puros. Observa, João, que este homem compreende que sem a chuva não haveria mananciais na Terra; mas, não pára em seu esforço, procurando o reservatório que a Providência Divina armazenou no subsolo. A imagem é pálida; todavia, chega para compreenderes como Deus reside também em nós. Dentro do símbolo, temos de entender a chuva como o favor de sua misericórdia, sem o qual nada possuiríamos. Esta paisagem deserta de Jericó pode representar a alma humana, vazia de sentimentos santificadores. Este trabalhador simboliza o cristão ativo, cavando junto dos caminhos áridos, muitas vezes com sacrifício, suor e lágrimas, para encontrar a luz divina em seu coração. E a água é o símbolo mais perfeito da essência de Deus, que tanto está nos céus como na Terra.
O discípulo guardou aquelas palavras, sabendo que realizara uma aquisição de claridades imorredouras. Contemplou o grande poço, onde a água clara começava a surgir, depois de imenso esforço do humilde trabalhador que a procurava desde muitos dias, e teve nítida compreensão do que constituía a necessária comunhão com Deus. Experimentando indefinível júbilo no coração, tomou das mãos do Messias e as osculou, com a alegria do seu espírito alvoroçado. Confortado, como alguém que vencera grande combate íntimo, João sentiu que finalmente compreendera."

Do livro Boa Nova. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.