Reflexões sobre o Centro Espírita
Autor: J. Herculano Pires
Se
os espíritas soubessem o que é o Centro Espírita, quais são realmente a
sua função e a sua significação, o Espiritismo seria hoje o mais
importante movimento cultural e espiritual da Terra.
Temos no Brasil – e isso é um consenso universal – o maior, mais ativo e
produtivo movimento espírita do planeta. A expansão do Espiritismo em
nossa terra é incessante e prossegue em ritmo acelerado. Mas o que
fazemos, em todo este vasto continente espírita, é um imenso esforço de
igrejificar o Espiritismo, de emparelhá-lo com as religiões decadentes e
ultrapassadas, formando por toda parte núcleos místicos e, portanto
fanáticos, desligados da realidade imediata. Dizia o Dr. Souza Ribeiro,
de Campinas, nos últimos tempos de sua vida de lutas espíritas: "Não
compareço a reuniões de espíritas rezadores! "E tinha razão, porque
nessas reuniões ele só encontrava turba dos pedintes, suplicando ao Céu
ajuda.
Ninguém estava ali para aprender a Doutrina, para romper a malha de teia
de aranha do igrejismo piedoso e choramingas. A domesticação católica e
protestante criara em nossa gente uma mentalidade de rebanho. O Centro
Espírita tornou-se uma espécie de sacristia leiga em que padres e madres
ignorantes indicavam aos pedintes o caminho do Céu. A caridade esmoler,
fácil e barata, substituiu as gordas e faustosas doações à Igreja. Deus
barateara a entrada a entrada do Céu, e até mesmo os intelectuais que
se aproximam do Espiritismo e que tem o senso crítico, se transformam em
penitentes. Associações espíritas, promissoramente organizadas, logo se
transformam em grupos de rezadores pedinchões. O carimbo da igreja
marcou fundo a nossa mentalidade em penúria. Mais do que subnutrição do
povo, com seu cortejo trágico de endemias devastadoras, o igrejismo
salvacionista depauperou a inteligência popular, com seu cortejo de
carreirismo político – religioso, idolatria mediúnica, misticismo
larvar, o que é pior, aparecimento de uma classe dirigente de supostos
missionários e mestres farisaicos, estufados de vaidade e arrogância.
São os guardiães dos apriscos do templo, instruídos para rejeitar os
animais sacrificiais impuros, exigindo dos beatos a compra de oferendas
puras nos apriscos sacerdotais. Essa tendência mística popular,
carregada de superstições seculares, favorece a proliferação de
pregadores santificados, padres vieiras sem estalo, tribunos de voz
empostada e gesticulação ensaiada. Toda essa carga morta esmaga o nosso
movimento doutrinário e abre as suas portas para a infestação do
sincretismo religioso afro-brasileiro, em que os deuses ingênuos da
selva africana e das nossas selvas superam e absorvem o antigo e cansado
deus cristão.
Não há clima para o desenvolvimento da Cultura Espírita. As grandes
instituições Espíritas Brasileiras e as Federações Estaduais investem-se
por vontade própria de autoridade que não possuem nem podem possuir,
marcadas que estão por desvios doutrinários graves, como no caso do
roustainguismo da FEB e das pretensões retrógradas de grupelhos
ignorantes de adulterados. Teve razões de sobra André Dumas, do
Espiritismo Francês, em denunciar recentemente, em entrevista à revista
Manchete, a situação católica e na verdade de anti-espírita do Movimento
Espírita brasileiro. A domesticação clerical dos espíritas ameaça
desfibrar todo o nosso povo, que por sua formação igrejeira tende a um
tipo de alienação esquizofrênica que o Espiritismo sempre combateu,
desde a proclamação de fé racional contra a fé cega e incoerente,
submissa e farisaica das pregações igrejeiras.
Jesus ensinou a orar e vigiar, recomendou o amor e a bondade, pregou a
humanidade, mas jamais aconselhou a viver de orações e lamúrias,
santidade fingida, disfarçada em vãs aparências de humildade, que são
sempre desmentidas pelas ambições e a arrogância incontroláveis do homem
terreno.
Para restabelecermos a verdade espírita entre nós e reconduzirmos o
nosso movimento a uma posição doutrinária digna e coerente, é preciso
compreender que a Doutrina Espírita é um chamado viril à dignidade
humana, à consciência do homem para deveres e compromissos no plano
social e no plano espiritual, ambos conjugados em face das exigências da
lei superior da Evolução Humana. Só nos aproximaremos da angelitude, o
plano superior da Espiritualidade, depois de nos havermos tornado
Homens.
Os espíritas atuais, na sua maioria, tanto no Brasil como no mundo, não
compreenderam ainda que estão num ponto intermediário da filogênese da
divindade. Superando os reinos inferiores da Natureza, segundo o esquema
poético de Léon Denis, na seqüência divinamente fatal de Kardec:
mineral, vegetal, animal e homem, temos o ponto neutro de gravidade
entre duas esferas celestes, e esse ponto é o que chamamos ESPÍRITA. As
visões fragmentárias da Realidade se fundem dialeticamente na concepção
monista preparada pelo monoteísmo. Liberto, no ponto neutro, da poderosa
reação da Terra, o espírita está em condições de se elevar ao plano
angélico. Mas estar em condições é uma coisa, e dar esse passo para a
divindade é outra coisa. Isso depende do grau de sua compreensão
doutrinária e da sua vontade real e profunda, que afeta toda a sua
estrutura individual. Por isso mesmo, surge então o perigo da estagnação
no misticismo, plano ilusório da falsa divindade, que produz as almas
viajoras de Plotino, que nada mais são do que os espíritos errantes de
Kardec. Essas almas se projetam no plano da Angelitude, mas não
conseguem permanecer nele, cedendo de novo a atração terrena da
encarnação.
Muitas vezes repetem a tentativa, permanecendo errantes entre as
hipóstases do Céu e da Terra. Plotino viu essa realidade na intuição
filosófica e na vidência platônica. Mas Kardec a verificou em suas
pesquisas espíritas, escudadas na observação racional dos fatos. Apoiado
na Razão, essa bússola do Real, ele nos livrava dos psicotrópicos do
misticismo, oferendo-nos a verdade exata da Doutrina Espírita. Nela
temos a orientação precisa e segura dos planos ou hipóstases superiores,
sem o perigo dos ciclos muitas vezes repetidos do chamado Círculo
Vicioso das Reencarnações, que os ignorantes pretendem opor à realidade
incontestável da reencarnação. Pois se existe esse círculo vicioso, é
isso bastante para provar o processo reencarnatório. O vício não está no
processo, mas na precipitação dos homens e dos espíritos não
devidamente amadurecidos, que tentam forçar a Porta do Céu.
Se no Brasil sofremos os prejuízos do religiosismo ingênuo de nossa
formação cultural, na França e nos demais países europeus -segundo as
próprias declarações de André Dumas – o prejuízo provém de um
cientificismo pretensioso, que despreza a tradição francesa da pesquisa
científica espírita, procurando substituí-la pelas pesquisas e
interpretações parapsicológicas. Esse menosprezo pedante pelo trabalho
modelar de Kardec levou o próprio Dumas a desrespeitar a tradição
secular da Revue Spirite, transformando-a num simulacro da revista
científica do Ano 2.000. As pesquisas da parapsicologia seguiram o
esquema de Kardec e foram cobrindo no tempo, sucessivamente, todas as
conquistas do sábio francês. Pegada por pegada, Rhine e seus
companheiros cobriram o rastro científico de Kardec. O mesmo já
acontecera com Richet na metapsíquica, com Crookes e Zollner e todos os
demais. Toda a pesquisa psíquica honesta é válida, nesse campo, até
mesmo a dos materialistas russos atuais ficaram presas ao esquema de
Kardec, o que prova a validade irrevogável desta. Começando pela
observação dos fenômenos físicos, todas as Ciências Psíquicas, nascidas
do Espiritismo fizeram a trajetória fatal traçada pelo gênio de Kardec e
chegaram as suas mesmas conclusões.
As discordâncias interpretativas foram sempre marcadas indelevelmente
pelos preconceitos e as precipitações da advertência de Descartes no
Discurso do Método e pela sujeição aos interesses das Igrejas, como
Kardec já assinalara em seu tempo. A questão da terminologia é puramente
supérflua, e como dissera Kardec, serve apenas para provar a leviandade
do espírito humano, mesmo dos sábios, sempre mais apegado à forma que
ao fundo do problema. No Espiritismo o quadro fenomênico foi dividido
por Kardec em duas seções: Fenômenos Físicos e Fenômenos Inteligentes.
Na Metapsíquica, Richet apresentou o esquema de Metapsíquica objetiva e
Metapsíquica subjetiva. Na Parapsicologia os fenômenos espíritas
passaram a chamar-se Fenômeno Psi, com divisão de Psicapa ( objetivos ) e
Psigama ( subjetivos ). Quanto aos métodos de pesquisa, Crookes e
Richet ativeram-se à metodologia científica da época, e Rhine limitou-se
a passar dos métodos qualitativos para os quantitativos, inventando
aparelhagens apropriadas aos processos tecnológicos atuais, apelando à
estatística como forma de controle e comprovação dos resultados, o que
simplesmente corresponde às exigências atuais nas Ciências.
Kardec teve a vantagem de haver acentuado enfaticamente a necessidade de
adequação do método ao objeto específico da pesquisa. O próprio método
hipnótico de regressão da memória, para as pesquisas da reencarnação
aplicado por Albert De Rochas do século passado, foi aproveitado pelo
Prof. Vladimir Raikov. Na Romênia, o preconceito quanto ao Espiritismo
gerou uma nova denominação para Parapsicologia: Psicotrônica. Com esse
nome rebarbativo, os materialistas romenos pretendem exorcizar os
perigos de renascimento espírita em seu país.
Todos esses fatos nos mostram que a Doutrina Espírita não chegou ainda a
ser conhecida pelos seus próprios adeptos em todo o mundo. Integrado no
processo doutrinário de trabalho e desenvolvimento, o Centro Espírita
carecia até agora de um estudo sobre as suas origens, o seu sentido e a
sua significação no panorama cultural do nosso tempo. É o que procuramos
fazer neste volume, com as nossas deficiências, mas na esperança de que
outros estudiosos procurem completar o nosso esforço. Lembrando o
Apóstolo Paulo, podemos dizer que os espíritas estão no momento exato em
que precisam desmamar das cabras celestes para se alimentarem de
alimentos sólidos. Os que desejam atualizar a Doutrina, devem antes
cuidar de se atualizarem nela.
Livro: O Centro Espírita
Caros amigos leitores , gostaríamos, na medida do possível ,contar com a interação de todos ,através de comentários , tornando se seguidores deste blog divulgando para seus conhecidos ,para que assim possamos estudar e aprendermos juntos , solidários e fraternos. Inscrevam-se no blog!
sábado, 11 de janeiro de 2014
As "instruções" de Allan Kardec
As "instruções" de Allan Kardec
Autor: Canuto de Abreu. Livro: Bezerra de Menezes
A 5 de fevereiro de 1889 manifestava-se Allan Kardec através do médium Frederico Pereira da Silva Júnior, mais conhecido por Frederico Júnior, dizendo: “Eis que se aproxima para mim o momento de cumprir minha promessa, vindo fazer convosco em particular e com os espíritas em geral um estudo rápido e conciso, sobre a marcha da nossa doutrina nesta parte do planeta. É natural que a vossa bondade me forneça para isso o ensejo, na próxima sessão prática, servindo-me do médium com a mesma passividade com que o tem feito das outras vezes. A ele peço, particularmente, não cogitar de forma da nossa comunicação, não só porque dessa cogitação pode advir alteração dos pensamentos, como ainda porque acredito haver necessidade, sem ofensa à sua capacidade intelectual, de submeter a novos moldes, quanto à forma, aquilo que tenho dito e vou dizer em relação ao assunto.
Realmente, na sessão seguinte, na sede da “Sociedade Espírita Fraternidade”, no Rio de Janeiro, manifestou-se o Espírito do Codificador, dando as seguintes instruções ao espíritas brasileiros, que na época viviam em constantes dissensões e rivalidades.
INTRUÇÕES DE ALLAN KARDEC AOS ESPÍRITAS DO BRASIL, NA SOCIEDADE ESPÍRITA FRATERNIDADE, PELO MÉDIUM FREDERICO JÚNIOR
Paz e amor sejam convosco
Que possamos ainda uma vez, unidos pelos laços da fraternidade, estudar essa doutrina de paz e amor, de justiça e esperanças, graças à qual encontraremos a estreita porta da salvação futura - o gozo indefinido e imorredouro para as nossas almas humildes.
Antes de ferir os pontos que fazem o objetivo da minha manifestação, devo pedir a todos vós que me ouvis – a todos vós espíritas a quem falo neste momento – que me perdoem se porventura, na externação dos meus pensamentos, encontrardes alguma coisa que vos magoe, algum espinho que vos vá ferir a sensibilidade do coração.
O cumprimento de dever nos impõe que usemos de linguagem franca, rude mesmo, por isso que cada um de nós tem uma responsabilidade individual e coletiva e, para salvá-la, lançamos mão de todos os meios que se nos oferecem, sem contarmos muitas vezes com a pobreza de nossa inteligência, que não nos permite dizer aquilo que sentimos sem magoar, não raro, corações amigos, para os quais só desejamos a paz, o amor e as doçuras da caridade.
Certo de que ouvireis a minha súplica; certo de que, falando aos espíritas falo a uma agremiação de homens cheios de benevolência, encetei o meu pequeno trabalho, cujo único fim é desobrigar-me de graves compromissos, que tomei para com o nosso Criador e Pai.
Sempre compassivo e bom, volvendo os piedosos olhos à Humanidade escrava dos erros e das paixões do mundo, Deus torna uma verdade as palavras de seu amantíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, e manda o Consolador – o Espírito de Verdade – que vem abertamente falar da revelação messiânica a essa mesma Humanidade esquecida do seu Imaculado Filho – aquele que foi levado pelas ruas da amargura, sob o peso das iniquidade e das ingratidões dos homens!
Corridos os séculos, desenvolvido intelectualmente o espírito humano, Deus na sua sabedoria, achou que era chegado o momento de convidar os homens à meditação do Evangelho – precioso livro de verdades divinas – até então ensombrado pela letra, devido à deficiência da inteligência humana para compreendê-lo em Espírito.
Por toda a parte se fez luz; revelou-se à Humanidade o Consolador prometido, recebendo os povos – de acordo com o seu preparo moral e intelectual – missões importantes, tendentes a acelerar a marcha triunfante da Boa Nova
Todos foram chamados, a nenhum recesso da Terra deixou de apresentar-se o Consolador em nome desse Deus de misericórdia que não quer a morte do pecador – que não quer o extermínio dos ingratos – que antes os quer ver remidos dos desvarios da carne, da obcecação dos instintos!
Sendo assim, a esse pedaço de terra a que chamamos Brasil, foi dada também a revelação da revelação, firmando os vossos espíritos, antes de encarnarem, compromissos de que ainda não vos desobrigastes. E perdoai que o diga: tendes mesmo retardado o cumprimento deles e de graves deveres, levados por sentimentos que não convém agora perscrutar.
Ismael, o vosso Guia, tomando a responsabilidade de vos conduzir ao grande templo do amor e da fraternidade humana, levantou a sua bandeira, tendo inscrito nela – DEUS, CRISTO E CARIDADE. Forte pela sua dedicação, animado pela misericórdia de Deus, que nunca falta aos seus trabalhadores, sua voz santa e evangélica ecoou em todos os corações procurando atraí-los para um único agrupamento onde, unidos, teriam a força dos leões e a mansidão das pombas; onde unidos, pudessem afrontar todo o peso das iniquidade humanas; onde entrelaçados num único segmento – o do amor - , pudessem adorar o Pai em espírito e verdade; onde se levantasse a grande muralha da fé,
Contra a qual viessem quebrar-se todas as armas dos inimigos da luz; onde, finalmente, se pudesse formar um grande dique à onda tempestuosa das paixões, dos crimes e dos vícios que avassalam a Humanidade inteira!
Constituiu-se esse agrupamento; a voz de Ismael foi sentida nos corações. Mas, oh! misérias humanas! À semelhança das sementes lançadas no pedregulho, eles não encontram terra boa para suas raízes e quando aquele Anjo Bom – aquele Enviado do Eterno – julgava ter em seu seio amigos e irmãos capazes de ajudá-lo na sua grande tarefa, santa e boa, as sementes foram mirrando ao fogo das paixões – foram-se encravando na rocha, apesar do orvalho da misericórdia divina as banhar constantemente para sua vivificação!
Ali, onde a humildade devera ter erguido tenda, o orgulho levantou o seu reduto; ali onde o amor devia alçar-se, sublime e esplêndido, até aos pés de Nosso Senhor Jesus Cristo, a indiferença cavou sulcos, a justiça se chamou injustiça, a fraternidade – dissensão!
Mas, pela ingratidão de uns, haveria de sacrificar-se a gratidão e a boa vontade de outros?
Pelo orgulho dos que já se arvoraram em mestres na sua ignorância, havia de sacrificar-se a humildade do discípulo perfeitamente compenetrado dos seus deveres? Não!
Assim, quando os inimigos da luz, quando o Espírito das trevas julgava esfacelada a bandeira de Ismael, símbolo da trindade divina, quando a voz iníqua já reboava no espaço glorificando o reino das trevas e amaldiçoando o nome do Mártir do Calvário, ele recolheu o seu estandarte e fez que se levantasse uma pequena tenda de combate com o nome – FRATERNIDADE!
Era este, com certeza, o ponto para o qual deviam convergir todas as forças dispersas – todos os que não recebiam a semente do pedregulho!
Certos de que acaso é palavra sem sentido e testemunha dos fatos que determinam o levantamento dessa tenda, todos os espíritas tinham o dever sagrado de vir aqui se agrupar, ouvir a palavra sagrada do bom Guia Ismael, único que dirige a propaganda da doutrina nesta parte do planeta, único que tem toda a responsabilidade da sua marcha e do seu desenvolvimento.
Mas, infelizmente, meus amigos, não pudestes compreender ainda a grande significação da palavra FRATERNIDADE.
Não é um termo, é um fato; não é sua palavra vazia, é um sentimento sem o qual vos achareis sempre fracos para essa luta que vós mesmos não podeis medir, tal a sua grandeza extraordinária!
Ismael tem o seu Templo e sobre ele a sua bandeira – Deus, Cristo e Caridade! Ismael tem a sua pequenina tenda, onde procura reunir todos os seus irmãos – todos aqueles que ouviram a sua palavra e a aceitaram como a verdade. Chamam-se FRATERNIDADE!
Pergunto-vos: Pertenceis à Fraternidade? Trabalhais para o levantamento desse Templo cujo lema é Deus, Cristo e Caridade?
Como, e de que modo?
Meus amigos! É possível que eu seja injusto convosco naquilo que vou dizer: - O vosso trabalho, feito todo de acordo – não com a doutrina – mas com o que interessa exclusivamente aos vossos sentimentos, não pode dar bom fruto. Esse trabalho, sem método, sem regime, sem disciplina, só pode, de acordo com a doutrina que esposastes, trazer espinhos que dilacerem vossas almas, dores pungentes aos vossos Espíritos, por isso que, desvirtuando os princípios em que ela assenta, dais entrada constante e funesta aquele que encontrando-vos desunidos pelo egoísmo, pelo orgulho, pela vaidade, facilmente vos acabrunhará, com todo o peso da sua iniquidade.
Entretanto, dar-se-ia o mesmo se estivésseis unidos? Porventura acreditais na eficiência de um grande exército dirigido por diversos generais, cada qual com seu sistema, com o seu método de operar e com pontos de mira divergentes? Jamais! Nessas condições sé encontrareis a derrota porquanto – vede bem, o que não podeis fazer com o Evangelho – unir-vos pelo amor do bem – fazem os vossos inimigos, unindo-vos pelo amor do mal!
Eles não obedecem a diversas orientações, nem colimam objetivos diversos; tudo converge para a doutrina espírita – revelação da revelação – que não lhes convém e que precisam destruir, para o que empregam toda a sua inteligência, todo do seu amor do mal, submetendo-se a uma única direção!
A luta cresce dia a dia, pois que a vontade de Deus, iniciando as suas criaturas nos mistérios da vida de além-túmulo, cada vez mais se torna patente. Encontrando-se, porém os vossos espíritos, em face da doutrina, no estado precário que acabo de assinalar, pergunto : - Com que elemento contam eles na temerosa ação em que se vão empenhar, cheios de responsabilidade?
Em que canto da Terra já se ergue o grande tabernáculo onde ireis elevar os vossos pensamentos – em que canto da Terra construístes a grande muralha contra o mal, contra a qual se hão de quebrar as armas dos vossos adversários?
Será possível que à semelhança das cinco virgens pouco zelosas, todo o cuidado da vossa paz tenhais perdido? Que repouseis sobre as outras que não dormem e que ansiosamente aguardam a vinda do seu Senhor?
Mas é assim, em que consiste o aproveitamento das lições que constantemente vos são dadas a fim de tornar uma verdade a vossa vigilância e uma santidade a vossa oração?
Se assim é, onde os frutos desse labor fecundado de todos os dias, dos vossos amigos de além-túmulo?
Acaso apodrecem roídas pela traça – trocados pelo bolor dos vossos arquivos repletos de comunicações?
Se assim é, e agora não há voltar atrás, porque já tendes a mão no arado, onde a segurança da vossa fé, a estabilidade da vossa crença, se entregues a vós mesmos, julgando-vos possuidores de grandes conhecimentos doutrinários, afastais, pela prática das vossas obras, aqueles que até hoje têm procurado incessantemente colocar-vos debaixo do grande lábaro – Deus, Cristo e Caridade?
Onde, torna a perguntar, a segurança da vossa fé, a estabilidade da vossa crença, se tendo uma única doutrina para apoio forte e inabalável, a subdividis, a multiplicais, ao capricho das vossas individualidades, sem contar com a coletividade que vos poderia dar a força, se constituíssem um elemento homogêneo, perfeitamente preparado pelos que se encarregam da revelação?
Mas onde a vantagem das subdivisões? Onde o interesse real para a doutrina e seu desenvolvimento, na dispersão que fazeis do vosso grande todo, dando já desse modo um péssimo exemplo aos profanos, por isso que pregais a fraternidade e vos dividis cheios de dissensões?
Onde as vantagens de tal proceder? Estarão na diversidade dos nomes que dais aos grupos? Por que isso? Será porque este ou aquele haja recebido maior doação do patrimônio divino? Será porque convenha a propaganda que fazeis?
Mas par a propaganda precisamos dos elementos constitutivos dela. Pergunto: - onde a Escola de Médiuns? Existe?
Porventura os homens que têm a boa vontade de estudar convosco os mistérios do Criador, preparando seus Espíritos para o ressurgir na outra vida, encontram em vós os instrumentos disciplinados – os médiuns perfeitamente compenetrados do importante papel que representam na família humana e cheio dessa seriedade, que dá uma idéia exata da grandeza da nossa doutrina?
Ou a vossa propaganda se limita tão somente a falar do Espiritismo? Ou os vossos deveres e as vossas responsabilidades, individuais e coletivas, se limitam a dar a nota do ridículo aquele que vos observam, julgando-vos doidos e visionários?
Meus amigos! Sei quanto é doloroso tudo isto que vos digo, pois que cada um dos meus pensamentos é uma dor que repassa profundamente o seu espírito. Sei que as vossas consciências sentem perfeitamente todo o peso das verdades que vos exponho. Mas eu vos disse ao começar: - temos responsabilidades e compromissos tomados, dos quais procuramos desobrigar-nos por todos os meios ao nosso alcance.
Se completa não está a minha missão na terra, se mereço ainda do Senhor a graça de vir esclarecer a doutrina que ai me foi revelada, dando-nos nossos conhecimentos compatível com o desenvolvimento das vossas inteligências, se vejo que cada dia que passa da vossa existência – iluminada pela sublime luz da revelação, se produzirdes um trabalho na altura da graça que vos foi concedida – é um motivo de escândalo para as vossas próprias consciências; devo usar desta linguagem rude do amigo, a fim de que possais, compenetrados verdadeiramente dos vossos deveres de cristãos e de espíritas, unir-vos num grande agrupamento fraterno, onde – avigorados pelo apoio mútuo e pela proteção dos bons – possais enfrentar o trabalho extraordinário que vos cumpre realizar para a emancipação dos vossos Espíritos, trabalho que inegavelmente ocasionará grande revolução na Humanidade, não só quanto à parte da ciência e da religião, como também na dos costumes!
Uma vez por todas vos digo, meus amigos: - Os vossos trabalhos, os vossos labores não podem ficar no estrito limite da boa vontade e da propaganda sem os meios elementares indicados pela mais simples razão.
Não vem absolutamente ao caso o reportas-vos às palavras de N.S. Jesus Cristo quando disse que a luz não se fez para ser colocada debaixo do alqueire. Não vem ao caso e não tem aplicação, porque não possuis luz própria!
Fazei a luz pelo vosso esforço; iluminai todo o vosso ser com a doce claridade das virtudes; disciplinai-vos pelos bons costumes no Templo de Ismael, Templo onde se adora a Deus, se venera o Cristo e se cultiva a Caridade. Então sim; - distribuí a luz, ela vos pertence.
E vos pertence porque é um produto sagrado de vosso próprio esforço – uma brilhante conquista do vosso Espírito empenhado nas lutas sublimes da verdade.
Fora desses termos, podeis produzir trabalhos que causem embriaguez à vista, mas nunca que falem sinceramente ao coração. Podeis produzir emoções fortes, por isso que muitos são os que gostosamente se entregam ao culto maravilhoso; nunca, porém, deixarão as impressões suaves da verdade vibrando as cordas do amor divino no grande coração humano.
Fora dessa convenção ortodoxa, é possível que as plantas cresçam nos vossos grupos, mas é bem possível que também seus frutos sejam bastante amargos, bastante venenosos, determinando, ao contrário do que devia acontecer, a morte moral do vosso espírito – a destruição pela base do vosso Templo de trabalho!
Se o Evangelho não se tornar realmente em vossos espíritos um broquel, quem vos poderá socorrer, uma vez que a revelação tende a absorver todas as consciências, emancipando o vosso século? Se o evangelho nas vossas mãos apenas tem a serventia dos profanos livros que deleitam a alma e encantam o pensamento, que vos poderá socorrer no momento dessa revolução planetária que já se faz sentir, que dará o domínio da Terra aos bons, preparados para o seu desenvolvimento, que ocasionará a transmigração dos obcecados e endurecidos para o mundo que lhes for próprio?
Que será de vós – quem vos poderá socorrer – se à lâmpada do vosso Espírito faltar o elemento de luz com que possais ver a chegada inesperada de Jesus Cristo, testemunhando o valor dos bons e a fraqueza moral dos maus e dos ingratos?
Se fostes chamados às bodas do filho do vosso rei, por que não tomam os vossos Espíritos as roupagens dignas do banquete, trocando conosco o brinde do amor e da caridade pelo feliz consórcio do Cristo com o seu povo?
Se tudo está preparado, se só faltam os convivas, por que cedeis o vosso lugar aos coxos que virão como últimos, a ser os primeiros na mesa farta da caridade divina?
Esses pontos do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, ainda, apesar da revelação, não provocaram a vossa meditação?
Esse eco que ressoa por toda a atmosfera do vosso planeta, dizendo – os tempos são chegados! – será um gracejo dos enviados de Deus, com o fim de apavorar os vossos espíritos?
Será possível nos preparemos para os tempos que chegam, vivendo cheios de dissensões e de lutas , como se não constituíssemos uma única família, tendo para regência dos nossos atos e dos nossos sentimentos uma única doutrina?
Será possível nos preparemos para os tempos que chegam, dando a todo momento e a todos os instantes a nota do escândalo, apresentando-nos aos homens como criaturas cheias de ambições que não trepidam em lançar mãos até das coisas divinas para o gozo da carne e a satisfação das paixões do mundo?
Mas seria simplesmente uma obcecação do Espírito – pretender desobrigar-se dos seus compromissos e penetrar no reino de Deus coberto dessas paixões e dessas misérias humanas!
Isso eqüivaleria o não acreditardes naquilo mesmo em que dizeis que credes: seria zombar do vosso Criador que, não exigindo de vós sacrifício, vos pede, entretanto, não transformeis a sua casa de oração em covil de ladrões!
Meus amigos! Sem caridade não há salvação. Sem fraternidade não pode haver união.
Uni-vos, pois, pela fraternidade debaixo das vistas do bom Ismael, vosso Guia e protetor. Salvai-vos pela Caridade, distribuindo o bem por toda a parte, indistintamente, sem pensamento oculto. Aquele que vos pedem lhes deis da vossa crença ao menos um testemunho moral, que os possa obrigar a respeitar em vós o indivíduo bem intencionado e verdadeiramente cristão.
Sobre a propaganda que procurais fazer, exclusivamente para ao vosso seio maior de adeptos, direi: se os meios mais fáceis que tendes encontrado são a cura dos vossos irmãos obsessos, são as visitas domiciliares e a expansão dos fluidos, aí tendes um modesto trabalho para vossa meditação e estudo.
E, lendo, compreendendo, chamai-me todas as vezes que for do vosso agrado ouvir a minha palavra e eu virei esclarecer os pontos que achardes duvidosos. Virei, em novos termos, se for preciso, mostrar-vos que esse lado que vos parece fácil para a propaganda da vossa doutrina é o maior escolho lançado no vosso caminho, é a pedra colocada às rodas do vosso carro triunfante e será, finalmente, o motivo da vossa queda desastrosa, se não empenham numa tão grande causa.
Permita Deus que os espíritas, a quem falo, que os homens, a quem foi dada a graça de conhecerem em Espírito e verdade a doutrina de Nosso senhor Jesus Cristo, tenham a boa vontade de me compreender, a boa vontade de ver nas minhas palavras unicamente o interesse do amor que lhe consagro.
ALLAN KARDEC
Autor: Canuto de Abreu. Livro: Bezerra de Menezes
A 5 de fevereiro de 1889 manifestava-se Allan Kardec através do médium Frederico Pereira da Silva Júnior, mais conhecido por Frederico Júnior, dizendo: “Eis que se aproxima para mim o momento de cumprir minha promessa, vindo fazer convosco em particular e com os espíritas em geral um estudo rápido e conciso, sobre a marcha da nossa doutrina nesta parte do planeta. É natural que a vossa bondade me forneça para isso o ensejo, na próxima sessão prática, servindo-me do médium com a mesma passividade com que o tem feito das outras vezes. A ele peço, particularmente, não cogitar de forma da nossa comunicação, não só porque dessa cogitação pode advir alteração dos pensamentos, como ainda porque acredito haver necessidade, sem ofensa à sua capacidade intelectual, de submeter a novos moldes, quanto à forma, aquilo que tenho dito e vou dizer em relação ao assunto.
Realmente, na sessão seguinte, na sede da “Sociedade Espírita Fraternidade”, no Rio de Janeiro, manifestou-se o Espírito do Codificador, dando as seguintes instruções ao espíritas brasileiros, que na época viviam em constantes dissensões e rivalidades.
INTRUÇÕES DE ALLAN KARDEC AOS ESPÍRITAS DO BRASIL, NA SOCIEDADE ESPÍRITA FRATERNIDADE, PELO MÉDIUM FREDERICO JÚNIOR
Paz e amor sejam convosco
Que possamos ainda uma vez, unidos pelos laços da fraternidade, estudar essa doutrina de paz e amor, de justiça e esperanças, graças à qual encontraremos a estreita porta da salvação futura - o gozo indefinido e imorredouro para as nossas almas humildes.
Antes de ferir os pontos que fazem o objetivo da minha manifestação, devo pedir a todos vós que me ouvis – a todos vós espíritas a quem falo neste momento – que me perdoem se porventura, na externação dos meus pensamentos, encontrardes alguma coisa que vos magoe, algum espinho que vos vá ferir a sensibilidade do coração.
O cumprimento de dever nos impõe que usemos de linguagem franca, rude mesmo, por isso que cada um de nós tem uma responsabilidade individual e coletiva e, para salvá-la, lançamos mão de todos os meios que se nos oferecem, sem contarmos muitas vezes com a pobreza de nossa inteligência, que não nos permite dizer aquilo que sentimos sem magoar, não raro, corações amigos, para os quais só desejamos a paz, o amor e as doçuras da caridade.
Certo de que ouvireis a minha súplica; certo de que, falando aos espíritas falo a uma agremiação de homens cheios de benevolência, encetei o meu pequeno trabalho, cujo único fim é desobrigar-me de graves compromissos, que tomei para com o nosso Criador e Pai.
Sempre compassivo e bom, volvendo os piedosos olhos à Humanidade escrava dos erros e das paixões do mundo, Deus torna uma verdade as palavras de seu amantíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, e manda o Consolador – o Espírito de Verdade – que vem abertamente falar da revelação messiânica a essa mesma Humanidade esquecida do seu Imaculado Filho – aquele que foi levado pelas ruas da amargura, sob o peso das iniquidade e das ingratidões dos homens!
Corridos os séculos, desenvolvido intelectualmente o espírito humano, Deus na sua sabedoria, achou que era chegado o momento de convidar os homens à meditação do Evangelho – precioso livro de verdades divinas – até então ensombrado pela letra, devido à deficiência da inteligência humana para compreendê-lo em Espírito.
Por toda a parte se fez luz; revelou-se à Humanidade o Consolador prometido, recebendo os povos – de acordo com o seu preparo moral e intelectual – missões importantes, tendentes a acelerar a marcha triunfante da Boa Nova
Todos foram chamados, a nenhum recesso da Terra deixou de apresentar-se o Consolador em nome desse Deus de misericórdia que não quer a morte do pecador – que não quer o extermínio dos ingratos – que antes os quer ver remidos dos desvarios da carne, da obcecação dos instintos!
Sendo assim, a esse pedaço de terra a que chamamos Brasil, foi dada também a revelação da revelação, firmando os vossos espíritos, antes de encarnarem, compromissos de que ainda não vos desobrigastes. E perdoai que o diga: tendes mesmo retardado o cumprimento deles e de graves deveres, levados por sentimentos que não convém agora perscrutar.
Ismael, o vosso Guia, tomando a responsabilidade de vos conduzir ao grande templo do amor e da fraternidade humana, levantou a sua bandeira, tendo inscrito nela – DEUS, CRISTO E CARIDADE. Forte pela sua dedicação, animado pela misericórdia de Deus, que nunca falta aos seus trabalhadores, sua voz santa e evangélica ecoou em todos os corações procurando atraí-los para um único agrupamento onde, unidos, teriam a força dos leões e a mansidão das pombas; onde unidos, pudessem afrontar todo o peso das iniquidade humanas; onde entrelaçados num único segmento – o do amor - , pudessem adorar o Pai em espírito e verdade; onde se levantasse a grande muralha da fé,
Contra a qual viessem quebrar-se todas as armas dos inimigos da luz; onde, finalmente, se pudesse formar um grande dique à onda tempestuosa das paixões, dos crimes e dos vícios que avassalam a Humanidade inteira!
Constituiu-se esse agrupamento; a voz de Ismael foi sentida nos corações. Mas, oh! misérias humanas! À semelhança das sementes lançadas no pedregulho, eles não encontram terra boa para suas raízes e quando aquele Anjo Bom – aquele Enviado do Eterno – julgava ter em seu seio amigos e irmãos capazes de ajudá-lo na sua grande tarefa, santa e boa, as sementes foram mirrando ao fogo das paixões – foram-se encravando na rocha, apesar do orvalho da misericórdia divina as banhar constantemente para sua vivificação!
Ali, onde a humildade devera ter erguido tenda, o orgulho levantou o seu reduto; ali onde o amor devia alçar-se, sublime e esplêndido, até aos pés de Nosso Senhor Jesus Cristo, a indiferença cavou sulcos, a justiça se chamou injustiça, a fraternidade – dissensão!
Mas, pela ingratidão de uns, haveria de sacrificar-se a gratidão e a boa vontade de outros?
Pelo orgulho dos que já se arvoraram em mestres na sua ignorância, havia de sacrificar-se a humildade do discípulo perfeitamente compenetrado dos seus deveres? Não!
Assim, quando os inimigos da luz, quando o Espírito das trevas julgava esfacelada a bandeira de Ismael, símbolo da trindade divina, quando a voz iníqua já reboava no espaço glorificando o reino das trevas e amaldiçoando o nome do Mártir do Calvário, ele recolheu o seu estandarte e fez que se levantasse uma pequena tenda de combate com o nome – FRATERNIDADE!
Era este, com certeza, o ponto para o qual deviam convergir todas as forças dispersas – todos os que não recebiam a semente do pedregulho!
Certos de que acaso é palavra sem sentido e testemunha dos fatos que determinam o levantamento dessa tenda, todos os espíritas tinham o dever sagrado de vir aqui se agrupar, ouvir a palavra sagrada do bom Guia Ismael, único que dirige a propaganda da doutrina nesta parte do planeta, único que tem toda a responsabilidade da sua marcha e do seu desenvolvimento.
Mas, infelizmente, meus amigos, não pudestes compreender ainda a grande significação da palavra FRATERNIDADE.
Não é um termo, é um fato; não é sua palavra vazia, é um sentimento sem o qual vos achareis sempre fracos para essa luta que vós mesmos não podeis medir, tal a sua grandeza extraordinária!
Ismael tem o seu Templo e sobre ele a sua bandeira – Deus, Cristo e Caridade! Ismael tem a sua pequenina tenda, onde procura reunir todos os seus irmãos – todos aqueles que ouviram a sua palavra e a aceitaram como a verdade. Chamam-se FRATERNIDADE!
Pergunto-vos: Pertenceis à Fraternidade? Trabalhais para o levantamento desse Templo cujo lema é Deus, Cristo e Caridade?
Como, e de que modo?
Meus amigos! É possível que eu seja injusto convosco naquilo que vou dizer: - O vosso trabalho, feito todo de acordo – não com a doutrina – mas com o que interessa exclusivamente aos vossos sentimentos, não pode dar bom fruto. Esse trabalho, sem método, sem regime, sem disciplina, só pode, de acordo com a doutrina que esposastes, trazer espinhos que dilacerem vossas almas, dores pungentes aos vossos Espíritos, por isso que, desvirtuando os princípios em que ela assenta, dais entrada constante e funesta aquele que encontrando-vos desunidos pelo egoísmo, pelo orgulho, pela vaidade, facilmente vos acabrunhará, com todo o peso da sua iniquidade.
Entretanto, dar-se-ia o mesmo se estivésseis unidos? Porventura acreditais na eficiência de um grande exército dirigido por diversos generais, cada qual com seu sistema, com o seu método de operar e com pontos de mira divergentes? Jamais! Nessas condições sé encontrareis a derrota porquanto – vede bem, o que não podeis fazer com o Evangelho – unir-vos pelo amor do bem – fazem os vossos inimigos, unindo-vos pelo amor do mal!
Eles não obedecem a diversas orientações, nem colimam objetivos diversos; tudo converge para a doutrina espírita – revelação da revelação – que não lhes convém e que precisam destruir, para o que empregam toda a sua inteligência, todo do seu amor do mal, submetendo-se a uma única direção!
A luta cresce dia a dia, pois que a vontade de Deus, iniciando as suas criaturas nos mistérios da vida de além-túmulo, cada vez mais se torna patente. Encontrando-se, porém os vossos espíritos, em face da doutrina, no estado precário que acabo de assinalar, pergunto : - Com que elemento contam eles na temerosa ação em que se vão empenhar, cheios de responsabilidade?
Em que canto da Terra já se ergue o grande tabernáculo onde ireis elevar os vossos pensamentos – em que canto da Terra construístes a grande muralha contra o mal, contra a qual se hão de quebrar as armas dos vossos adversários?
Será possível que à semelhança das cinco virgens pouco zelosas, todo o cuidado da vossa paz tenhais perdido? Que repouseis sobre as outras que não dormem e que ansiosamente aguardam a vinda do seu Senhor?
Mas é assim, em que consiste o aproveitamento das lições que constantemente vos são dadas a fim de tornar uma verdade a vossa vigilância e uma santidade a vossa oração?
Se assim é, onde os frutos desse labor fecundado de todos os dias, dos vossos amigos de além-túmulo?
Acaso apodrecem roídas pela traça – trocados pelo bolor dos vossos arquivos repletos de comunicações?
Se assim é, e agora não há voltar atrás, porque já tendes a mão no arado, onde a segurança da vossa fé, a estabilidade da vossa crença, se entregues a vós mesmos, julgando-vos possuidores de grandes conhecimentos doutrinários, afastais, pela prática das vossas obras, aqueles que até hoje têm procurado incessantemente colocar-vos debaixo do grande lábaro – Deus, Cristo e Caridade?
Onde, torna a perguntar, a segurança da vossa fé, a estabilidade da vossa crença, se tendo uma única doutrina para apoio forte e inabalável, a subdividis, a multiplicais, ao capricho das vossas individualidades, sem contar com a coletividade que vos poderia dar a força, se constituíssem um elemento homogêneo, perfeitamente preparado pelos que se encarregam da revelação?
Mas onde a vantagem das subdivisões? Onde o interesse real para a doutrina e seu desenvolvimento, na dispersão que fazeis do vosso grande todo, dando já desse modo um péssimo exemplo aos profanos, por isso que pregais a fraternidade e vos dividis cheios de dissensões?
Onde as vantagens de tal proceder? Estarão na diversidade dos nomes que dais aos grupos? Por que isso? Será porque este ou aquele haja recebido maior doação do patrimônio divino? Será porque convenha a propaganda que fazeis?
Mas par a propaganda precisamos dos elementos constitutivos dela. Pergunto: - onde a Escola de Médiuns? Existe?
Porventura os homens que têm a boa vontade de estudar convosco os mistérios do Criador, preparando seus Espíritos para o ressurgir na outra vida, encontram em vós os instrumentos disciplinados – os médiuns perfeitamente compenetrados do importante papel que representam na família humana e cheio dessa seriedade, que dá uma idéia exata da grandeza da nossa doutrina?
Ou a vossa propaganda se limita tão somente a falar do Espiritismo? Ou os vossos deveres e as vossas responsabilidades, individuais e coletivas, se limitam a dar a nota do ridículo aquele que vos observam, julgando-vos doidos e visionários?
Meus amigos! Sei quanto é doloroso tudo isto que vos digo, pois que cada um dos meus pensamentos é uma dor que repassa profundamente o seu espírito. Sei que as vossas consciências sentem perfeitamente todo o peso das verdades que vos exponho. Mas eu vos disse ao começar: - temos responsabilidades e compromissos tomados, dos quais procuramos desobrigar-nos por todos os meios ao nosso alcance.
Se completa não está a minha missão na terra, se mereço ainda do Senhor a graça de vir esclarecer a doutrina que ai me foi revelada, dando-nos nossos conhecimentos compatível com o desenvolvimento das vossas inteligências, se vejo que cada dia que passa da vossa existência – iluminada pela sublime luz da revelação, se produzirdes um trabalho na altura da graça que vos foi concedida – é um motivo de escândalo para as vossas próprias consciências; devo usar desta linguagem rude do amigo, a fim de que possais, compenetrados verdadeiramente dos vossos deveres de cristãos e de espíritas, unir-vos num grande agrupamento fraterno, onde – avigorados pelo apoio mútuo e pela proteção dos bons – possais enfrentar o trabalho extraordinário que vos cumpre realizar para a emancipação dos vossos Espíritos, trabalho que inegavelmente ocasionará grande revolução na Humanidade, não só quanto à parte da ciência e da religião, como também na dos costumes!
Uma vez por todas vos digo, meus amigos: - Os vossos trabalhos, os vossos labores não podem ficar no estrito limite da boa vontade e da propaganda sem os meios elementares indicados pela mais simples razão.
Não vem absolutamente ao caso o reportas-vos às palavras de N.S. Jesus Cristo quando disse que a luz não se fez para ser colocada debaixo do alqueire. Não vem ao caso e não tem aplicação, porque não possuis luz própria!
Fazei a luz pelo vosso esforço; iluminai todo o vosso ser com a doce claridade das virtudes; disciplinai-vos pelos bons costumes no Templo de Ismael, Templo onde se adora a Deus, se venera o Cristo e se cultiva a Caridade. Então sim; - distribuí a luz, ela vos pertence.
E vos pertence porque é um produto sagrado de vosso próprio esforço – uma brilhante conquista do vosso Espírito empenhado nas lutas sublimes da verdade.
Fora desses termos, podeis produzir trabalhos que causem embriaguez à vista, mas nunca que falem sinceramente ao coração. Podeis produzir emoções fortes, por isso que muitos são os que gostosamente se entregam ao culto maravilhoso; nunca, porém, deixarão as impressões suaves da verdade vibrando as cordas do amor divino no grande coração humano.
Fora dessa convenção ortodoxa, é possível que as plantas cresçam nos vossos grupos, mas é bem possível que também seus frutos sejam bastante amargos, bastante venenosos, determinando, ao contrário do que devia acontecer, a morte moral do vosso espírito – a destruição pela base do vosso Templo de trabalho!
Se o Evangelho não se tornar realmente em vossos espíritos um broquel, quem vos poderá socorrer, uma vez que a revelação tende a absorver todas as consciências, emancipando o vosso século? Se o evangelho nas vossas mãos apenas tem a serventia dos profanos livros que deleitam a alma e encantam o pensamento, que vos poderá socorrer no momento dessa revolução planetária que já se faz sentir, que dará o domínio da Terra aos bons, preparados para o seu desenvolvimento, que ocasionará a transmigração dos obcecados e endurecidos para o mundo que lhes for próprio?
Que será de vós – quem vos poderá socorrer – se à lâmpada do vosso Espírito faltar o elemento de luz com que possais ver a chegada inesperada de Jesus Cristo, testemunhando o valor dos bons e a fraqueza moral dos maus e dos ingratos?
Se fostes chamados às bodas do filho do vosso rei, por que não tomam os vossos Espíritos as roupagens dignas do banquete, trocando conosco o brinde do amor e da caridade pelo feliz consórcio do Cristo com o seu povo?
Se tudo está preparado, se só faltam os convivas, por que cedeis o vosso lugar aos coxos que virão como últimos, a ser os primeiros na mesa farta da caridade divina?
Esses pontos do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, ainda, apesar da revelação, não provocaram a vossa meditação?
Esse eco que ressoa por toda a atmosfera do vosso planeta, dizendo – os tempos são chegados! – será um gracejo dos enviados de Deus, com o fim de apavorar os vossos espíritos?
Será possível nos preparemos para os tempos que chegam, vivendo cheios de dissensões e de lutas , como se não constituíssemos uma única família, tendo para regência dos nossos atos e dos nossos sentimentos uma única doutrina?
Será possível nos preparemos para os tempos que chegam, dando a todo momento e a todos os instantes a nota do escândalo, apresentando-nos aos homens como criaturas cheias de ambições que não trepidam em lançar mãos até das coisas divinas para o gozo da carne e a satisfação das paixões do mundo?
Mas seria simplesmente uma obcecação do Espírito – pretender desobrigar-se dos seus compromissos e penetrar no reino de Deus coberto dessas paixões e dessas misérias humanas!
Isso eqüivaleria o não acreditardes naquilo mesmo em que dizeis que credes: seria zombar do vosso Criador que, não exigindo de vós sacrifício, vos pede, entretanto, não transformeis a sua casa de oração em covil de ladrões!
Meus amigos! Sem caridade não há salvação. Sem fraternidade não pode haver união.
Uni-vos, pois, pela fraternidade debaixo das vistas do bom Ismael, vosso Guia e protetor. Salvai-vos pela Caridade, distribuindo o bem por toda a parte, indistintamente, sem pensamento oculto. Aquele que vos pedem lhes deis da vossa crença ao menos um testemunho moral, que os possa obrigar a respeitar em vós o indivíduo bem intencionado e verdadeiramente cristão.
Sobre a propaganda que procurais fazer, exclusivamente para ao vosso seio maior de adeptos, direi: se os meios mais fáceis que tendes encontrado são a cura dos vossos irmãos obsessos, são as visitas domiciliares e a expansão dos fluidos, aí tendes um modesto trabalho para vossa meditação e estudo.
E, lendo, compreendendo, chamai-me todas as vezes que for do vosso agrado ouvir a minha palavra e eu virei esclarecer os pontos que achardes duvidosos. Virei, em novos termos, se for preciso, mostrar-vos que esse lado que vos parece fácil para a propaganda da vossa doutrina é o maior escolho lançado no vosso caminho, é a pedra colocada às rodas do vosso carro triunfante e será, finalmente, o motivo da vossa queda desastrosa, se não empenham numa tão grande causa.
Permita Deus que os espíritas, a quem falo, que os homens, a quem foi dada a graça de conhecerem em Espírito e verdade a doutrina de Nosso senhor Jesus Cristo, tenham a boa vontade de me compreender, a boa vontade de ver nas minhas palavras unicamente o interesse do amor que lhe consagro.
ALLAN KARDEC
O CULTIVADOR INFIEL
O CULTIVADOR INFIEL
Irmão X
-
Não me conformo
– repetia irritado, o Dr. Novais Magalhães – o Espiritismo popular é vespeiro de
confusão. Onde já se viu tamanha bagagem de embustes? É verdadeira escola de
loucos e, freqüentemente, não se compreende tão elevado número de débeis
mentais.
-
Mas, doutor
– ponderava o Matos Lessa – há observações interessantes que cumpre não
desprezar. Nem tudo é caso grosseiro ou indigno de análise. Claro que no
intercÂmbio com o invisível há que destacar deficiências mediúnicas. Se alguém
se incumbe de um recado nosso, logicamente misturará suas expressões individuais
no esforço de transmissão necessária.É o caso do médium. Se um político ou um
cientista, distantes do lar ou do trabalho, apenas encontrassem humilde
carregador capacitado à transmissão de uma mensagem à família ou aos colegas,
naturalmente não sacrificariam o objetivo essencial ao processo exterior do
serviço. É razoável que o portador satisfaça ao encargo, todavia, emprestando à
colaboração características que lhe sejam peculiares. O dever, entretanto,
estará cumprido, os detalhes, por certo, na maioria das vezes, deixarão a
desejar.
-o-
-
Não
concordo, porém – reafirma o doutor – A observação justa não dispensa o método
rigoroso. A meu ver, a sobrevivência está muito longe de ser provada, através
das supostas comunicações com o Além. Temos somente apreciável acervo de
fenômenos da própria subconsciência. As mensagens nunca ultrapassam a esfera de
cultura do médium, os efeitos físicos são perfeitamente explicáveis pelo
conhecimento do magnetismo em nossa época. Nada observo que transceda o
paralelismo psico-fisiólogico da ciência oficial.
-o-
Continuava a discussão
acalorada, cheia de persuasão por parte do Lessa e de argumentos pesados do
rigoroso investigador.
O Dr. Magalhães,
entretanto, jamais cedia terreno. Sua mente de pesquisador vivia repleta de
conceitos clássicos a derramarem-se-lhe da boca em terminologia científica. Não
apenas Matos Lessa vivia a duelar verbalmente com ele. Amigos vários tentavam
inutilmente renovar-lhe as interpretações. Novais era, porém, irredutível.
Exibia chaves da ciência comum para todos os casos da fenomenologia. De qualquer
reunião respeitável a que comparecia, intado pelos companheiros, retirava-se
mostrando sorriso irônico e invariável ao canto dos lábios.
-o-
-
Não observou
aquela mensagem dirigida à senhora Castanheira? – Indagava o Morais, velho amigo
dele. O médium desconhecia as particularidades da comunicação. Notou os nomes
familiares? E a descrição da moléstia do filho? Como interpretará você o
fenômeno, sem o concurso do Espiritismo?
Sorria o observador
renitente, acentuando:
-
Simples
transmissão telepática. Nada mais que isto. A ansiedade da família Castanheira
envolveu a organização mediúnica e produziram-se as páginas de conselho. Ora,
ora, o cérebro humano é aparelho que mal conhecemos...
-
Mas, meu
amigo – atalhava o outro -= semelhante conclusão não satisfaz. Além disto,
outros casos existem mais surpreendentes.
E Morais desfiava longo
rosário de narrações, enquanto o doutor Magalhães de desfazia em comentários
sobre automatismo, mecanicismo, subconsciência, patologia, telepatia,
criptonesia, telecnesia, psicogênese e outras teses respeitáveis do
metapsiquismo contemporâneo.
-o-
Ao fim da longa
conversação, o investigador rematava:
-
Afinal de
contas, não me farei ao mar da ilusão. Quero fatos tangíveis, expressões
palpáveis. O Espiritismo popular com os seus doutrinadores ignorantes e médiuns
embusteiros não atrai estudiosos de valor intelectual. Sou honesto, meu caro, e
o homem honesto deve ser verdadeiro.
-
Não somos
menos leais – aduzia o companheiro serenamente – e não desrespeitamos os
postulados científicos. No entanto – e acentuava com inflexão firme – será
admissível que a simples enunciação de palavras complicadas resolva problemas
grandiosos da existência humana? A teoria não realiza coisa alguma por si só.
Você, meu caro Magalhães, pode ser excelente educador, na expressão verbal, mas
não é irmão.
-
Que
pretendes dizer? – perguntou Novais agastado.
-
O educador
explica, retalha, demonstra friamente e, por vezes, não vai além da lição
teórica. O irmão é companheiro de luta, partilha as dores e alegrias do
trabalho, compreende e consola.
-
Alto lá! Não
confundamos ciência e fé religiosa, raciocínio e sentimentalidade. A lógica não
toma apartamentos ao coração. Sigamos pelo método. Não tolero as farças
mediúnicas, com as velhas exortações descabidas e indigestas.
E toda argumentação
tornava-se inútil. Por mais que se falasse de vôos sublimes à Espiritualidade
Superior, Novais fixava olhos e pensamentos no chão duro das interpretações sem
esperança. Ninguém lhe discutia a honestidade, nem lhe negava inteligência. Mas,
a sua atitude mental era sempre irritante. Onde o amor dos espíritos
benevolentes e sábios semeava consolações e energia novas, atirava ele dúvidas e
desencantos.
-o-
Semelhava-se ao jardineiro
infiel que, ao em vez de auxiliar a planta e protege-la, arranca-a da base
vital, no intuito de contar-lhe as folhas, observar-lhe a seiva e analizar-lhe
as raízes, muito antes da promessa de fruto.
Mas, como toda criatura
terrestre, o doutor Novais Magalhães também entregou o corpo às exigências da
morte. Com grande surpresa, porém, verificou que continuava vivo como dantes.
Grande ansiedade por esclarecimentos particulares, enorme sede espiritual de
revelação; entretanto, a solidão era absoluta. Ninguém para atender-lhe a fome
do coração. Novais começou a caminhar a esmo, ponderando agora as barreiras
sensoriais.
-o-
Ah! Se encontrasse um
médium! Alguém que lhe pudesse levar pequeno recado à família, humilde notícias
aos colegas! Ainda que esse médium fosse de vulgar instrução, aproveitar-lhe-ia
o concurso sem hesitar... E se algum espírito amigo viesse encaminha-lo a
serviços novos? No entanto, o Dr. Magalhães não podia esperar colheitas onde
nada havia semeado, no capítulo da fraternidade e da consolação.
O que mais o assombrava,
porém, eram as sendas por onde se dirigia ansioso. Apenas divisava árvores
mortas, ervas ressequidas, arbustos quebrados e, de quando em quando, a voz de
alguém se mantinha invisível lhe gritava,ironicamente, aos ouvidos: “Mau
jardineiro! Mau jardineiro! Cultivador infiel!...”
-o-
Novais, que começara
indagando, vivia, agora entre a súplica e a lágrima.
Após muitos anos de dor,
surgiu, enfim, alguém, na paisagem desolada. Tratava-se também dum jardineiro. O
antigo observador fitou-o surpreso. Era um velhinho de olhar muito doce, cabeça
aureolada de fios de neve, empunhando instrumentos agrícolas.
Magalhães aproximou-se e
lhe pediu socorro, angustiadamente. Face às amorosas interpelações do velho
amigo, relatou a própria história, narrando-lhe as indagações do passado e as
desilusões a que fora conduzido, afirmando sua honestidade e dedicação extrema
ao método.
O ancião sorriu generoso e
falou:
-
Quando na
Terra, conheceu a formiga?
-
Sim... –
respondeu Novais, estanhando a pergunta.
-
Pois é, meu
amigo, o seu caso é semelhante ao dela. A formiga é prodígio de inteligência e
organização. Edifica o próprio lar, trabalha metodicamente, preserva com rigor o
patrimônio que a natureza lhe confere. É minuciosa, mas é também um assombro de
operosidade e de método; mas... nunca olha para o alto e, enquanto vive no
campo, é sempre a mesma formiga...
-o-
Magalhães compreendeu a
alusão e chorou com amargura; mas, o amorável mensageiro tomou-lhe a dextra e
murmurou com brandura:
-
Venha
comigo. Aprenderá doravante a zelar as plantas de Deus. Compreenderá agora que,
se a investigação é justa, a verdade palpita acima dela, pedindo compreensão
para as bênçãos da vida. Esqueça a sombra e busquemos a luz. Se a ciÊncia é
necessária para o aprendizado de caminhos da Terra, é preciso não esquecer que o
amor traça os caminhos o Céu.
Livro – Histórias e
Anotações – Francisco Cândido Xavier – Irmão X
Digitado por – Valeria
Guida
FALANDO A PIRATININGA
FALANDO A
PIRATININGA
Humberto de Campos
18 de agosto de 1935
Tive ensejo de afirmar aí
no mundo que, se algum dia conseguisse liquidar todo o meu débito para com a
terra maranhense e o Senhor decidisse mergulhar meu espírito no Letes da
carne, eu desejaria ser paulista ou baiano.
São Paulo e Bahia foram
os dois braços fortes que me ampararam na provação. Minha dívida para com
ambos é sagrada e irresgatável. Era do seio afetuoso da Bahia, terra mãe do
Brasil, que me chegavam os brados de incitamento para a luta; e dos celeiros
fartos e generosos de São Paulo vinha a maior parte do meu pão.
Em seu território vivem
os meus melhores amigos e do santuário do seu afeto subiram para Deus, em
favor do escritor humilde e enfermo, as preces mais comovedoras e mais
sinceras, as quais não lhe iluminaram apenas as estradas pedregosas da Vida,
mas constituíram igualmente uma lâmpada suave no seu caminho da Morte.
Ignoro quando o Senhor
resolverá o retorno do meu espírito aos tormentos da Terra, mas quero, antes
de meditar nos calabouços da carne, falar do reconhecimento do meu coração.
Todas as coisas do Brasil
falam particularmente à nossa alma: Piratininga é, porém, o poema de ouro e
de aço das energias do seu povo. Sua história, dentro da história da
Pátria, é uma afirmação gloriosa de heroísmo sagrado. O mesmo espírito de
liberdade e de autonomia, que nos primórdios de sua organização lhe motivou
o desejo de aureolar a fronte de Amador Bueno com uma coroa de rei,
emancipando-se da sua condição subalterna, trabalha hoje, como trabalhou no
passado, para eternizar com o braço realizador a epopéia da sua grandeza.
Entre as energias moças
da terra há um delírio contagioso de ação e de trabalho. O esforço
carinhoso do homem une-se à exuberância da seiva e São Paulo - desfralda,
nas linhas vanguardeiras, o lábaro do seu progresso e das suas conquistas.
Do conforto de suas cidades modernas eleva-se para o céu a oração do labor
que Deus escuta, premiando-lhe a operosidade com as alegrias da fartura.
E dizem que Anchieta,
ainda hoje, em companhia daqueles que lançaram a primeira pedra na base do
glorioso edifício piratiningano, passeia, entre as bênçãos dos seus
cafezais e das suas estradas, enviando sagrada exortação aos que pelejam.
Ele, que soube aliar, no mundo, a energia do homem às virtudes do apóstolo
vê do espaço infinito, a sublimidade da sua obra, e quando se aproxima das
praias antigamente desertas e dos lugares onde as florestas desapareceram,
sob os milagres do progresso, as juritis morenas da terra fremem as asas de
arminho, tecendo um pálio inesperado para cobrir a fronte do homem
prodigioso que lhes levou a palavra do Evangelho.
Abençoam-no das alturas
os indígenas redimidos pela sua fraterna solicitude, e, sob a proteção
afetuosa das aves, Anchieta sorri, contemplando a sua Piratininga que
trabalha e floresce.
Sempre me referi às
coisas de São Paulo com o carinhoso enternecimento da minha admiração.
E agora, longe das
perturbações a que nos submete a carne, infligindo-nos a mais amargosa das
escravidões, posso apreciar melhormente as suas afirmações de grandeza.
Tenho a visão nítida dos seus valorosos feitos, da enérgica projeção dos
ideais da sua gente intrépida, cuja atividade se desdobra no ambiente da
confraternização de todas as raças, fundindo-se no seu seio os mais
enobrecedores sentimentos da fraternidade humana.
São Paulo de hoje é a
bússola dos que hão de estudar amanhã a etnologia brasileira.
Ao lado dos seus
numerosos institutos de civilização e cultura, Piratininga terá a sua
"Sociedade de Estudos Psíquicos" como realidade nova do ideal
espiritualista, que, arregimentando as fileiras dos estudiosos, se prepara a
fim de constituir a luz da humanidade futura.
Abre-se, desse modo, no
cenário da sua evolução, mais um centro de beneméritos, cuja ação não
estará circunscrita à pesquisa científica, mas também ao levantamento do
nível moral da sociedade, intensificando os elos da fraternidade cristã;
por que os verdadeiros estudiosos sabem que, se a ciência contemporânea
não está falida, não pode, nas suas condições do momento, oferecer ao homem
a chave das felicidades imortais.
A Humanidade está faminta
desse amor que só Deus pode outorgar.
Um frio terrível de
desespero e desgraça sopra entre os homens, que se esqueceram da meditação e
da prece. E a Ciência é a figura do Édipo eletrizado sob os fatalismos
inelutáveis do destino. O erro dos que investigam é buscar a sabedoria sem
preparar o coração, invertendo as determinações imperiosas da Vida.
Piratininga está, pois,
preparando o coração de seus filhos, e das suas arcas ricas e generosas se
derramará muito pão espiritual para os celeiros empobrecidos.
Dos empórios da sua
grandeza saíram no passado as bandeiras civilizadoras, rasgando o coração
das selvas compactas e, na atualidade, novas bandeiras sairão, rompendo o
cipoal da descrença em que os homens se emaranharam, para dizer a palavra
da verdade e do amor. As suas armas de agora serão os ensinos do Evangelho,
e o seu objetivo, a descoberta do filão do ouro espiritual.
Um júbilo inexprimível
entorna-se do meu coração, dirigindo aos paulistas a minha palavra
inexpressiva da tribuna da Morte; e tomado de orgulhosa alegria, posso
hoje exclamar:
- "Eu te agradeço, ó
Senhor! tão preciosos favores, porque, graças à tua bondade, pude hoje
falar com S. Paulo, no momento em que se entregava com valoroso desassombro
à obra da imortalidade, que é a obra do Evangelho. . ."
Do livro Crônico de Além Túmulo. Psicografia
de Francisco Cândido Xavier.
O Dossiê Canuto Abreu
O Dossiê Canuto Abreu
Figura
ímpar de vasta cultura e erudição, o Dr. Silvino Canuto Abreu
certamente foi uma das pessoas que mais contribuíram para a preservação
da memória do Espiritismo. Sua obras são impecáveis, tanto pelo gosto
quanto no estilo. Escrevia e falava com fluência os idiomas clássicos e
suas principais derivações modernas, o que lhe permitia o acesso aos
textos e relíquias literárias da antiguidade religiosa oriental e
greco-romana.
Dessa forma ele nos brindou com pérolas do tipo “O Evangelho por fora”, cujas ricas notas excedem a prória narrativa, mas que nos ensina um olhar especial e diferenciado sobre as coisas e a essência da Codificação. Depois que lemos um exemplar presenteado pelo confrade Azamar Trindade, nunca mais usamos a expressão Espírito de Verdade, mas simplesmente “Espírito Verdade”.
No apetitoso “ O Livro dos Espíritos e sua tradição histórica e lendária”, também editado pelo Instituto de Cultura Espírita de São Paulo, nos deliciamos com uma fictícia - ou seria real? - descrição dos acontecimentos cotidianos que marcaram o lançamento do Livro dos Espíritos, no dia 18 de abril de 1857. Conduzindo o relato, o nosso cronista descreve os fatos desde as primeiras horas da manhã, quando o lote da publicação chega para ser exposto na livraria Dentu até as últimas horas da noite, num coquetel comemorativo, reunindo no pequeno apartamento de Rivail e Amélie todas as pessoas que colaboraram diretamente para que edição viesse à público. É um texto perfeito para um roteiro de cinema. Sobre esse episódio Chico Xavier, em relato para Suely Caldas Schubert, disse que, naquela manhã, ao sair da livraria, Kardec encontrou-se com George Sand e ofereceu o seu exemplar histórico do Livro para a conhecida escritora e ex-companheira de Chopin.
Temos ainda, com seu toque de genialidade, a tradução da primeira edição do Livro dos Espíritos, feita especialmente para comemorar o 100 anos do evento, em 1957. Também não podemos esquecer seus artigos publicados na Revista Santa Aliança (Metapsíquica), nos quais mergulhamos nas mais remotas raízes da tradição herética lyonesa e nos fatos que as ligam com os adeptos do Espiritismo nos tempos modernos. Com o mesmo talento, biografou o Dr. Bezerra de Menezes, fornecendo ricos subsídios para a história da formação das primeiras instituições espíritas no século XIX.
O Dr. Silvino, na condição de médico e adepto da homeopatia, nos legou também um precioso acervo a respeito das atividades dos fundadores dessa modalidade curativa e suas ligações e afinidades com o kardecismo. Frequentou importantes círculos espíritas na França, sempre em busca de “novidades antigas” , tendo convivido com o escritor Gabriel Dellane, filho de uma das médiuns de Allan Kardec e produto autêntico da primeira geração de espíritas históricos:
“Assisti a trabalhos por ele presididos. Ouvi suas lições práticas. Suas longas e cintilantes narrativas. Suas discussões, em que às vezes erguia a voz, exaltado pela convicção posta em dúvida, e logo a baixava, sorridente, ao perceber a porta do misticismo, que detestava como cientista.”
Mas de todas as suas contribuições, sempre com grande fôlego intelectual, destaca-se uma revelação pessoal, feita diante de várias testemunhas, cuja versão e repercussão tornaram-se maiores do que o próprio fato. Diante do espanto dessas pessoas, Canuto conduziu-os ao seu escritório e sacou dos seus arquivos os tais textos e aprofundou ainda mais a gravidade da revelação , dado ao impacto ali causado na mente dos presentes e suas consequências no universo social espírita. Ele se referia às cartas redigidas por Allan Kardec e dirigidas a Léon Denis contendo denúncias de traição ao Espiritismo contra o advogado J.B. Roustaing.
Para quem alimenta uma imagem sacralizada do Codificador, que era um cientista nato, esta não é uma informação fácilmente compreensível sobre Allan Kardec. Para quem foi educado para cultuar a natureza mística das instituições espíritas, o questionamento científico da figura de Roustaing não combina com a postura serena do mestre lyonês, mesmo que os textos por ele escritos e publicados na Revue digam ao contrário. Acreditam também alguns confrades mais moderados que essa grave questão será esquecida ou melhor compreendida com o passar do tempo. Em todo caso, ela já faz parte da história das nossas controvérsias e merece registro.
Polêmicas que fiquem à parte, pois o que nos interessa realmente é apresentar a fígura clássica de Canuto Abreu aos nossos leitores. Tarefa difícil, já que, sempre que o colocamos em destaque, surge na sua biografia as afinidades e também alguns embates entre ele e algumas personalidades influentes do nosso movimento.
Canuto e Herculano
“Nas comemorações do bicentenário de Allan Kardec, realizadas em Paris em outubro de 2004, ocorreu um fato muito curioso. No congresso internacional preparado para homenagear o nascimento Codificador registrou-se a presença de centenas de representantes de diversos países – a maioria brasileiros – e de médiuns de grande prestígio no movimento espírita brasileiro. Uma grande expectativa estava no ar. Que personalidades espirituais se manifestariam naquele evento histórico? Talvez os Espíritos que colaboraram na Codificação e na Sociedade Espírita de Paris? Talvez Chico Xavier, Emmanuel, André Luiz, Herculano Pires? Ou então Amélie Boudet ou mesmo o próprio Allan Kardec? Nenhum deles. Muitos participantes confessaram uma certa decepção e surpresa com a manifestação já aguardada do Espírito Léon Denis, mas poucos esperavam uma comunicação de Canuto Abreu, um dos maiores admiradores e divulgadores da obra de Kardec e que caiu no esquecimento e na desconsideração de muitos espíritas logo após o fato que iremos relatar. Em 1957, durante as comemorações do centenário da Codificação, o Dr. Canuto tinha reservado uma grande surpresa para a comunidade espírita. Durante anos se empenhou pessoalmente para traduzir a primeira versão de “O Livro dos Espíritos” e publicou, com recursos próprios, uma interessante versão bilíngüe da obra. O nosso caro confrade tinha todas as razões para crer que estava dando uma preciosa contribuição cultural para a memória do Espiritismo. Era considerado o mais erudito dos espíritas e, por isso, foi convidado para discursar na abertura da grande festa organizada pelos paulistas no Ginásio do Pacaembu. Quase dez mil pessoas ouviram, encantadas, a descrição romanceada feita pelo orador sobre o histórico dia 18 de abril de 1857. Na mesa das autoridades estavam Luiz Monteiro de Barros, Paulo Toledo Machado e Abrahão Sarraf, representando a USE; Carlos Jordão da Silva, pelo Conselho Federativo Nacional, os vereadores Freitas Nobre e Matilde de Carvalho; João Teixeira de Paula, do jornal Unificação; Luisa Peçanha Camargo Branco e Eurides de Castro, da comissão organizadora do evento; e Herculano Pires, do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Na foto histórica Canuto e Herculano aparecem lado a lado numa aparente harmonia fraternal. Passados os festejos, Herculano, preocupado com uma possível confusão de diferenças e semelhanças entre as duas edições históricas do Livro dos Espíritos, não conseguiu segurar o seu ímpeto vigilante e publicou um artigo agressivo fazendo pesadas críticas ao trabalho do Dr. Canuto. Extremamente sentido e magoado, o Dr. Canuto Abreu mandou recolher os exemplares da preciosa edição documental. Afastou-se completamente do movimento espírita, apagando-se em triste reclusão e anonimato. Nunca reclamou publicamente da crítica, nem tampouco justificou sua atitude de afastamento. Os exemplares permaneceram guardados no porão de sua residência por mais de meio século, sendo depois resgatado pelo Museu Espírita de São Paulo”.
Nova História do Espiritismo – Dalmo Duque dos Santos. Editora Corifeu. Rio de janeiro.
Relatos da imprensa espírita sobre o assunto
Dessa forma ele nos brindou com pérolas do tipo “O Evangelho por fora”, cujas ricas notas excedem a prória narrativa, mas que nos ensina um olhar especial e diferenciado sobre as coisas e a essência da Codificação. Depois que lemos um exemplar presenteado pelo confrade Azamar Trindade, nunca mais usamos a expressão Espírito de Verdade, mas simplesmente “Espírito Verdade”.
No apetitoso “ O Livro dos Espíritos e sua tradição histórica e lendária”, também editado pelo Instituto de Cultura Espírita de São Paulo, nos deliciamos com uma fictícia - ou seria real? - descrição dos acontecimentos cotidianos que marcaram o lançamento do Livro dos Espíritos, no dia 18 de abril de 1857. Conduzindo o relato, o nosso cronista descreve os fatos desde as primeiras horas da manhã, quando o lote da publicação chega para ser exposto na livraria Dentu até as últimas horas da noite, num coquetel comemorativo, reunindo no pequeno apartamento de Rivail e Amélie todas as pessoas que colaboraram diretamente para que edição viesse à público. É um texto perfeito para um roteiro de cinema. Sobre esse episódio Chico Xavier, em relato para Suely Caldas Schubert, disse que, naquela manhã, ao sair da livraria, Kardec encontrou-se com George Sand e ofereceu o seu exemplar histórico do Livro para a conhecida escritora e ex-companheira de Chopin.
Temos ainda, com seu toque de genialidade, a tradução da primeira edição do Livro dos Espíritos, feita especialmente para comemorar o 100 anos do evento, em 1957. Também não podemos esquecer seus artigos publicados na Revista Santa Aliança (Metapsíquica), nos quais mergulhamos nas mais remotas raízes da tradição herética lyonesa e nos fatos que as ligam com os adeptos do Espiritismo nos tempos modernos. Com o mesmo talento, biografou o Dr. Bezerra de Menezes, fornecendo ricos subsídios para a história da formação das primeiras instituições espíritas no século XIX.
O Dr. Silvino, na condição de médico e adepto da homeopatia, nos legou também um precioso acervo a respeito das atividades dos fundadores dessa modalidade curativa e suas ligações e afinidades com o kardecismo. Frequentou importantes círculos espíritas na França, sempre em busca de “novidades antigas” , tendo convivido com o escritor Gabriel Dellane, filho de uma das médiuns de Allan Kardec e produto autêntico da primeira geração de espíritas históricos:
“Assisti a trabalhos por ele presididos. Ouvi suas lições práticas. Suas longas e cintilantes narrativas. Suas discussões, em que às vezes erguia a voz, exaltado pela convicção posta em dúvida, e logo a baixava, sorridente, ao perceber a porta do misticismo, que detestava como cientista.”
Mas de todas as suas contribuições, sempre com grande fôlego intelectual, destaca-se uma revelação pessoal, feita diante de várias testemunhas, cuja versão e repercussão tornaram-se maiores do que o próprio fato. Diante do espanto dessas pessoas, Canuto conduziu-os ao seu escritório e sacou dos seus arquivos os tais textos e aprofundou ainda mais a gravidade da revelação , dado ao impacto ali causado na mente dos presentes e suas consequências no universo social espírita. Ele se referia às cartas redigidas por Allan Kardec e dirigidas a Léon Denis contendo denúncias de traição ao Espiritismo contra o advogado J.B. Roustaing.
Para quem alimenta uma imagem sacralizada do Codificador, que era um cientista nato, esta não é uma informação fácilmente compreensível sobre Allan Kardec. Para quem foi educado para cultuar a natureza mística das instituições espíritas, o questionamento científico da figura de Roustaing não combina com a postura serena do mestre lyonês, mesmo que os textos por ele escritos e publicados na Revue digam ao contrário. Acreditam também alguns confrades mais moderados que essa grave questão será esquecida ou melhor compreendida com o passar do tempo. Em todo caso, ela já faz parte da história das nossas controvérsias e merece registro.
Polêmicas que fiquem à parte, pois o que nos interessa realmente é apresentar a fígura clássica de Canuto Abreu aos nossos leitores. Tarefa difícil, já que, sempre que o colocamos em destaque, surge na sua biografia as afinidades e também alguns embates entre ele e algumas personalidades influentes do nosso movimento.
Canuto e Herculano
“Nas comemorações do bicentenário de Allan Kardec, realizadas em Paris em outubro de 2004, ocorreu um fato muito curioso. No congresso internacional preparado para homenagear o nascimento Codificador registrou-se a presença de centenas de representantes de diversos países – a maioria brasileiros – e de médiuns de grande prestígio no movimento espírita brasileiro. Uma grande expectativa estava no ar. Que personalidades espirituais se manifestariam naquele evento histórico? Talvez os Espíritos que colaboraram na Codificação e na Sociedade Espírita de Paris? Talvez Chico Xavier, Emmanuel, André Luiz, Herculano Pires? Ou então Amélie Boudet ou mesmo o próprio Allan Kardec? Nenhum deles. Muitos participantes confessaram uma certa decepção e surpresa com a manifestação já aguardada do Espírito Léon Denis, mas poucos esperavam uma comunicação de Canuto Abreu, um dos maiores admiradores e divulgadores da obra de Kardec e que caiu no esquecimento e na desconsideração de muitos espíritas logo após o fato que iremos relatar. Em 1957, durante as comemorações do centenário da Codificação, o Dr. Canuto tinha reservado uma grande surpresa para a comunidade espírita. Durante anos se empenhou pessoalmente para traduzir a primeira versão de “O Livro dos Espíritos” e publicou, com recursos próprios, uma interessante versão bilíngüe da obra. O nosso caro confrade tinha todas as razões para crer que estava dando uma preciosa contribuição cultural para a memória do Espiritismo. Era considerado o mais erudito dos espíritas e, por isso, foi convidado para discursar na abertura da grande festa organizada pelos paulistas no Ginásio do Pacaembu. Quase dez mil pessoas ouviram, encantadas, a descrição romanceada feita pelo orador sobre o histórico dia 18 de abril de 1857. Na mesa das autoridades estavam Luiz Monteiro de Barros, Paulo Toledo Machado e Abrahão Sarraf, representando a USE; Carlos Jordão da Silva, pelo Conselho Federativo Nacional, os vereadores Freitas Nobre e Matilde de Carvalho; João Teixeira de Paula, do jornal Unificação; Luisa Peçanha Camargo Branco e Eurides de Castro, da comissão organizadora do evento; e Herculano Pires, do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Na foto histórica Canuto e Herculano aparecem lado a lado numa aparente harmonia fraternal. Passados os festejos, Herculano, preocupado com uma possível confusão de diferenças e semelhanças entre as duas edições históricas do Livro dos Espíritos, não conseguiu segurar o seu ímpeto vigilante e publicou um artigo agressivo fazendo pesadas críticas ao trabalho do Dr. Canuto. Extremamente sentido e magoado, o Dr. Canuto Abreu mandou recolher os exemplares da preciosa edição documental. Afastou-se completamente do movimento espírita, apagando-se em triste reclusão e anonimato. Nunca reclamou publicamente da crítica, nem tampouco justificou sua atitude de afastamento. Os exemplares permaneceram guardados no porão de sua residência por mais de meio século, sendo depois resgatado pelo Museu Espírita de São Paulo”.
Nova História do Espiritismo – Dalmo Duque dos Santos. Editora Corifeu. Rio de janeiro.
Relatos da imprensa espírita sobre o assunto
Os Documentos de Canuto Abreu
Os confrades Carlos de Brito Imbassahy (RJ) e Jamil Salomão (SP) divulgaram há alguns anos a notícia de que foram entregues ao Dr. Canuto de Abreu, em Paris, pouco antes de estourar a Guerra de 1939, documentos de Allan Kardec, incluindo cartas suas endereçadas a Roustaing, acusando-o de controverter a ordem doutrinária e de traidor dos postulados espíritas.
Escreveu Carlos de Brito Imbassahy, sob o título "Dr. Canuto de Abreu" ("Mundo Espírita", PR, de 31.08.1980): "Os tempos se passam". Indo a São Paulo em companhia do Olympio (que fazia vez de meu irmão), e da esposa, fomos almoçar com o Dr. Canuto de Abreu; nesta tarde, ele nos leva para os seus arquivos particulares e nos mostra um "dossier" contando-nos a história.
"Estava na França pouco antes de estourar a Guerra de 1939 quando, intempestivamente, fui procurado por dois cidadãos que se apresentaram e se disseram que ali estavam por ordem espiritual. Os cidadãos haviam recebido instrução de seus guias que deveria vir do Brasil uma determinada pessoa em tais circunstâncias que coincidiam exatamente com as minhas (dizia o Dr. Canuto) e que a esse cidadão deveriam ser entregues os arquivos particulares do próprio Allan Kardec, pois a Europa iria passar uma fase conturbada de guerra e, se esses documentos fossem encontrados, seriam destruídos".
Ali estava, diante de mim e de Olympio, a letrinha de Kardec, suas opiniões e um envelope "confidencial-não pode ser publicado". Mostrou-me seu conteúdo dizendo:
"Gostaria de doar este acervo à Federação Espírita Brasileira, mas ela é roustainguista e, na certa, não vai admitir que seja ela própria a portadora de documentos que condenam "Os Quatro Evangelhos" (de Roustaing!).
Disse isso e mostrou-me duas cartas manuscritas onde, por cima, lia-se:
"Carta enviada ao senhor João Batista Roustaing, cartas essas que são um libelo terrível, no qual acusa o "colega" de controverter a ordem doutrinária, deixando-se envolver por mistificadores cujo único objetivo era desmoralizar o sistema de comunicação com os mortos."
Jamil Salomão (CF do ABC, janeiro/1990) escreveu, sob o título "J. B. Roustaing, o Judas do Espiritismo":
"Esta afirmativa é atribuída a Allan Kardec", feita em uma carta endereçada ao insigne escritor Léon Denis, cujo próprio original se encontra em poder do Dr. Canuto de Abreu, conhecido intelectual e espírita da capital de São Paulo, que possuía farto material que pertencia a Kardec. Numa Visita fraterna ao Dr. Canuto, pelos idos de 1974, em companhia do Dr. Freitas Nobre e da médica Dra. Marlene Severino Nobre, ouvimos essas revelações surpreendentes, pois desconhecíamos a existência de um documento de tal importância. Imediatamente foi solicitado ao Dr. Canuto de Abreu permissão para a divulgar o material, bem como obter cópia do mesmo, a fim de ser noticiado no jornal "A Folha Espírita", que estava sendo lançado naquela época, como o primeiro jornal espírita a ser colocado nas bancas públicas e com distribuição nacional. O Dr. Canuto se mostrou temeroso, não permitindo a divulgação da carta de Kardec, na qual atribuía a Roustaing a condição de traidor dos postulados espíritas, ao lançar "Os Quatro Evangelhos", atribuindo-lhes o título de "Revelação da Revelação", o que poderia ser motivo de uma cisão no movimento espírita."(...) Comentário: Quanto ao escrúpulo do Dr. Canuto de Abreu, e agora de seus familiares, em não dar publicidade às cartas de Allan Kardec contra Roustaing, ocorre-nos lembrar à distinta família que, se o plano espiritual se preocupou com a preservação dos documentos de Kardec, incluídas as referidas cartas, não foi para que elas permanecessem desconhecidas do público espírita. É óbvio, caso contrário os espíritos deixariam que tais documentos fossem destruídos pelos invasores alemães, como estava previsto. Com essa atitude, a nosso ver, equivocada, da respeitável família Canuto de Abreu, apenas se exumaram, em Paris, as cartas de Allan Kardec para dar lhes nova sepultura, no Brasil. E perguntamos: Para que? Consultando sobre o paradeiro dessas cartas, informou Carlos de Brito Imbassahy que conforme lhe disseram, elas estariam em poder de um neto do Dr. Canuto de Abreu. Fazemos este apelo a quem guarde estas cartas de Allan Kardec: que as entregue para divulgação, a um jornal de grande circulação, "Correio Fraterno do ABC" ou "Jornal Espírita", a meu ver, os mais credenciados para dar-lhes publicidade.
Espíritas Verdadeiros! Esclareçam-se sobre os erros contidos na obra de Roustaing, estudando uma ou todas as seguintes obras e respectivos autores, indicados por Erasto de Carvalho Prestes, Niterói, RJ (página 2): Luciano Costa ("Kardec e não Roustaing"); José Herculano Pires ("O Roustainguismo à Luz dos Textos"); Júlio Abreu Filho ("Erros Doutrinários"); Ricardo Machado ("Máscaras Abaixo"); Henrique Andrade ("A Bem da Verdade"); Wilson Garcia ("Corpo Fluídico"); Gélio Lacerda da Silva ("Conscientização Espírita"); Nazareno Tourinho ("Retalhos de um Atalho" e "As Tolices e Pieguices da Obra de Roustaing"). "De nada valeu exumar, em Paris, as cartas de Allan Kardec a Roustaing, porque lhes foi dado nova sepultura, no Brasil." Correio Fraterno do ABC, ano XXXII, nº 343 página 7, de Agosto de 1999, sob o título “APELO AOS PARENTES DO DR. CANUTO DE ABREU”, assinada por Gélio Lacerda da Silva.
Mensagem de Canuto Abreu no Congresso de 2004
Allan Kardec!
Este nome é um marco de um tempo novo. É uma legenda de luz e de força moral que edifica um tempo especial de regeneração humana, e que, ao longo de mais de seis décadas, esteve no mundo das formas para materializar os ensinamentos do Mundo Etéreo, junto às almas terrenas.
Alma de escol, sem embargo, Allan Kardec veio ao planeta para representar no campo físico a Equipe Luminosa do Espírito da Verdade, que jorrava claridade sobre o orbe sob a ação venturosa do Cristo Excelso.
Nesse tempo em que o Espiritismo está no mundo, como esplendente Sol diluindo os miasmas da longa noite moral humana, ainda que pouco a pouco, são incontáveis aqueles que vêm recebendo o sustento para viver com entusiasmo, a motivação para prosseguir nas árduas lutas, sem pensar em fugir dos proscênios dificultosos dessas graves experiências das sociedades terrenas.
Quantos se arredaram das idéias suicidas, pelo entendimento de que ninguém morre essencialmente?
Quantos desistiram do abortamento por terem admitido o acinte que tal coisa representa contra as divinas leis de Deus?
Quantos se decidiram por manter iluminada por Jesus a estrutura do lar, ao verificarem sua importância para o progresso familiar?
Quantos se dedicaram a estudar as leis da vida e a estudar-se, anelando o entendimento e a melhoria de si mesmos?
Quantos abriram mão dos preconceitos de raça, de cor da epiderme, de gênero, de cultura e tantos outros, libertando-se dessa forma de ignorância que se demora no seio das sociedades?
Quantos que se esforçam por servir, por amar, desejosos de se tornarem cada vez mais úteis no campo da existência?
Quantos hão renunciado às pressões do homem-velho, na corajosa busca dos valores do homem-novo, conforme as considerações do Apóstolo Paulo?
Quantos sofrem e choram seus tormentos de agora, conscientes quanto às razões desses complexos dramas, sem se permitir murchar pelo desânimo, ante a visão lúcida que o Espiritismo enseja?
Hoje, quando reconhecemos, na Pátria Espiritual, os inúmeros equívocos que costumamos cometer, quando caminhantes da vilegiatura corporal, vale considerar a importância de fazer com que a gloriosa informação da Codificação penetre nossa intimidade, a fim de que respiremos esse portentoso pensamento espírita, convertendo-o em nossa real filosofia de vida, o que nos capacitará para a conquista da felicidade.
Quantos que ainda supõem que é possível ser espírita sem ajustar a própria existência aos preceitos da Codificação, e que se enganam com essa suposição?
Quantos que ainda crêem na ventura post-mortem longe dos esforços para a superação de limitações e obstáculos encontrados nas vias mundanas, e que se frustram no além?
Acho-me sob intensa emoção. Lutamos, durante um tempo longo, junto aos valorosos Benfeitores do nosso Movimento Espírita Internacional, para que este momento fosse corporificado aqui, nos campos fluídicos da alma francesa. E o Senhor da Vida no-lo consentiu. Mais do que isso, destacou eminentes Numes de vários países para formar a coordenação deste evento, a efeméride do IV Congresso Espírita Mundial, sob a inspiração do próprio Codificador.
Cabe-nos vibrar, então, ao se fecharem as cortinas deste Congresso, certos de que suas luzes não se apagarão. Os elementos energéticos que absorvemos aqui, resguardados por luminosos Prepostos de Jesus, acompanhar-nos-ão como inspiração para os trabalhos futuros e como medicação valiosa para que, daqui para a frente, logremos o fortalecimento da alma para estudar, para amar e servir, mais conscientes dos nossos deveres para conosco, para com Jesus e para com a vida, agora aclarada em seus fundamentos pelos ensinamentos do Espiritismo que, vitorioso no mundo, impulsiona-nos a ter maior clareza e penetração da razão, ao mesmo tempo que, dedicados ao bem, possamos ser felizes.
Deixo o meu abraço emocionado a todos quantos vibraram, vibram e vibrarão com essa realização bendita no solo francês, e a todos desejo paz e muita luz junto à Seara do Espiritismo.
Servidor de todos, agradecido e vibrante,
Sylvino Canuto Abreu
(Mensagem psicografada pelo médium Raul Teixeira, por ocasião da sessão de encerramento do IV Congresso Espírita Mundial, em 05.10.2004, Paris-França)
Os confrades Carlos de Brito Imbassahy (RJ) e Jamil Salomão (SP) divulgaram há alguns anos a notícia de que foram entregues ao Dr. Canuto de Abreu, em Paris, pouco antes de estourar a Guerra de 1939, documentos de Allan Kardec, incluindo cartas suas endereçadas a Roustaing, acusando-o de controverter a ordem doutrinária e de traidor dos postulados espíritas.
Escreveu Carlos de Brito Imbassahy, sob o título "Dr. Canuto de Abreu" ("Mundo Espírita", PR, de 31.08.1980): "Os tempos se passam". Indo a São Paulo em companhia do Olympio (que fazia vez de meu irmão), e da esposa, fomos almoçar com o Dr. Canuto de Abreu; nesta tarde, ele nos leva para os seus arquivos particulares e nos mostra um "dossier" contando-nos a história.
"Estava na França pouco antes de estourar a Guerra de 1939 quando, intempestivamente, fui procurado por dois cidadãos que se apresentaram e se disseram que ali estavam por ordem espiritual. Os cidadãos haviam recebido instrução de seus guias que deveria vir do Brasil uma determinada pessoa em tais circunstâncias que coincidiam exatamente com as minhas (dizia o Dr. Canuto) e que a esse cidadão deveriam ser entregues os arquivos particulares do próprio Allan Kardec, pois a Europa iria passar uma fase conturbada de guerra e, se esses documentos fossem encontrados, seriam destruídos".
Ali estava, diante de mim e de Olympio, a letrinha de Kardec, suas opiniões e um envelope "confidencial-não pode ser publicado". Mostrou-me seu conteúdo dizendo:
"Gostaria de doar este acervo à Federação Espírita Brasileira, mas ela é roustainguista e, na certa, não vai admitir que seja ela própria a portadora de documentos que condenam "Os Quatro Evangelhos" (de Roustaing!).
Disse isso e mostrou-me duas cartas manuscritas onde, por cima, lia-se:
"Carta enviada ao senhor João Batista Roustaing, cartas essas que são um libelo terrível, no qual acusa o "colega" de controverter a ordem doutrinária, deixando-se envolver por mistificadores cujo único objetivo era desmoralizar o sistema de comunicação com os mortos."
Jamil Salomão (CF do ABC, janeiro/1990) escreveu, sob o título "J. B. Roustaing, o Judas do Espiritismo":
"Esta afirmativa é atribuída a Allan Kardec", feita em uma carta endereçada ao insigne escritor Léon Denis, cujo próprio original se encontra em poder do Dr. Canuto de Abreu, conhecido intelectual e espírita da capital de São Paulo, que possuía farto material que pertencia a Kardec. Numa Visita fraterna ao Dr. Canuto, pelos idos de 1974, em companhia do Dr. Freitas Nobre e da médica Dra. Marlene Severino Nobre, ouvimos essas revelações surpreendentes, pois desconhecíamos a existência de um documento de tal importância. Imediatamente foi solicitado ao Dr. Canuto de Abreu permissão para a divulgar o material, bem como obter cópia do mesmo, a fim de ser noticiado no jornal "A Folha Espírita", que estava sendo lançado naquela época, como o primeiro jornal espírita a ser colocado nas bancas públicas e com distribuição nacional. O Dr. Canuto se mostrou temeroso, não permitindo a divulgação da carta de Kardec, na qual atribuía a Roustaing a condição de traidor dos postulados espíritas, ao lançar "Os Quatro Evangelhos", atribuindo-lhes o título de "Revelação da Revelação", o que poderia ser motivo de uma cisão no movimento espírita."(...) Comentário: Quanto ao escrúpulo do Dr. Canuto de Abreu, e agora de seus familiares, em não dar publicidade às cartas de Allan Kardec contra Roustaing, ocorre-nos lembrar à distinta família que, se o plano espiritual se preocupou com a preservação dos documentos de Kardec, incluídas as referidas cartas, não foi para que elas permanecessem desconhecidas do público espírita. É óbvio, caso contrário os espíritos deixariam que tais documentos fossem destruídos pelos invasores alemães, como estava previsto. Com essa atitude, a nosso ver, equivocada, da respeitável família Canuto de Abreu, apenas se exumaram, em Paris, as cartas de Allan Kardec para dar lhes nova sepultura, no Brasil. E perguntamos: Para que? Consultando sobre o paradeiro dessas cartas, informou Carlos de Brito Imbassahy que conforme lhe disseram, elas estariam em poder de um neto do Dr. Canuto de Abreu. Fazemos este apelo a quem guarde estas cartas de Allan Kardec: que as entregue para divulgação, a um jornal de grande circulação, "Correio Fraterno do ABC" ou "Jornal Espírita", a meu ver, os mais credenciados para dar-lhes publicidade.
Espíritas Verdadeiros! Esclareçam-se sobre os erros contidos na obra de Roustaing, estudando uma ou todas as seguintes obras e respectivos autores, indicados por Erasto de Carvalho Prestes, Niterói, RJ (página 2): Luciano Costa ("Kardec e não Roustaing"); José Herculano Pires ("O Roustainguismo à Luz dos Textos"); Júlio Abreu Filho ("Erros Doutrinários"); Ricardo Machado ("Máscaras Abaixo"); Henrique Andrade ("A Bem da Verdade"); Wilson Garcia ("Corpo Fluídico"); Gélio Lacerda da Silva ("Conscientização Espírita"); Nazareno Tourinho ("Retalhos de um Atalho" e "As Tolices e Pieguices da Obra de Roustaing"). "De nada valeu exumar, em Paris, as cartas de Allan Kardec a Roustaing, porque lhes foi dado nova sepultura, no Brasil." Correio Fraterno do ABC, ano XXXII, nº 343 página 7, de Agosto de 1999, sob o título “APELO AOS PARENTES DO DR. CANUTO DE ABREU”, assinada por Gélio Lacerda da Silva.
Mensagem de Canuto Abreu no Congresso de 2004
Allan Kardec!
Este nome é um marco de um tempo novo. É uma legenda de luz e de força moral que edifica um tempo especial de regeneração humana, e que, ao longo de mais de seis décadas, esteve no mundo das formas para materializar os ensinamentos do Mundo Etéreo, junto às almas terrenas.
Alma de escol, sem embargo, Allan Kardec veio ao planeta para representar no campo físico a Equipe Luminosa do Espírito da Verdade, que jorrava claridade sobre o orbe sob a ação venturosa do Cristo Excelso.
Nesse tempo em que o Espiritismo está no mundo, como esplendente Sol diluindo os miasmas da longa noite moral humana, ainda que pouco a pouco, são incontáveis aqueles que vêm recebendo o sustento para viver com entusiasmo, a motivação para prosseguir nas árduas lutas, sem pensar em fugir dos proscênios dificultosos dessas graves experiências das sociedades terrenas.
Quantos se arredaram das idéias suicidas, pelo entendimento de que ninguém morre essencialmente?
Quantos desistiram do abortamento por terem admitido o acinte que tal coisa representa contra as divinas leis de Deus?
Quantos se decidiram por manter iluminada por Jesus a estrutura do lar, ao verificarem sua importância para o progresso familiar?
Quantos se dedicaram a estudar as leis da vida e a estudar-se, anelando o entendimento e a melhoria de si mesmos?
Quantos abriram mão dos preconceitos de raça, de cor da epiderme, de gênero, de cultura e tantos outros, libertando-se dessa forma de ignorância que se demora no seio das sociedades?
Quantos que se esforçam por servir, por amar, desejosos de se tornarem cada vez mais úteis no campo da existência?
Quantos hão renunciado às pressões do homem-velho, na corajosa busca dos valores do homem-novo, conforme as considerações do Apóstolo Paulo?
Quantos sofrem e choram seus tormentos de agora, conscientes quanto às razões desses complexos dramas, sem se permitir murchar pelo desânimo, ante a visão lúcida que o Espiritismo enseja?
Hoje, quando reconhecemos, na Pátria Espiritual, os inúmeros equívocos que costumamos cometer, quando caminhantes da vilegiatura corporal, vale considerar a importância de fazer com que a gloriosa informação da Codificação penetre nossa intimidade, a fim de que respiremos esse portentoso pensamento espírita, convertendo-o em nossa real filosofia de vida, o que nos capacitará para a conquista da felicidade.
Quantos que ainda supõem que é possível ser espírita sem ajustar a própria existência aos preceitos da Codificação, e que se enganam com essa suposição?
Quantos que ainda crêem na ventura post-mortem longe dos esforços para a superação de limitações e obstáculos encontrados nas vias mundanas, e que se frustram no além?
Acho-me sob intensa emoção. Lutamos, durante um tempo longo, junto aos valorosos Benfeitores do nosso Movimento Espírita Internacional, para que este momento fosse corporificado aqui, nos campos fluídicos da alma francesa. E o Senhor da Vida no-lo consentiu. Mais do que isso, destacou eminentes Numes de vários países para formar a coordenação deste evento, a efeméride do IV Congresso Espírita Mundial, sob a inspiração do próprio Codificador.
Cabe-nos vibrar, então, ao se fecharem as cortinas deste Congresso, certos de que suas luzes não se apagarão. Os elementos energéticos que absorvemos aqui, resguardados por luminosos Prepostos de Jesus, acompanhar-nos-ão como inspiração para os trabalhos futuros e como medicação valiosa para que, daqui para a frente, logremos o fortalecimento da alma para estudar, para amar e servir, mais conscientes dos nossos deveres para conosco, para com Jesus e para com a vida, agora aclarada em seus fundamentos pelos ensinamentos do Espiritismo que, vitorioso no mundo, impulsiona-nos a ter maior clareza e penetração da razão, ao mesmo tempo que, dedicados ao bem, possamos ser felizes.
Deixo o meu abraço emocionado a todos quantos vibraram, vibram e vibrarão com essa realização bendita no solo francês, e a todos desejo paz e muita luz junto à Seara do Espiritismo.
Servidor de todos, agradecido e vibrante,
Sylvino Canuto Abreu
(Mensagem psicografada pelo médium Raul Teixeira, por ocasião da sessão de encerramento do IV Congresso Espírita Mundial, em 05.10.2004, Paris-França)
Fonte: http://observadorespirita.blogspot.com.br/2008/03/o-dossi-canuto-abreu.html
Aprendendo com o Livro dos Espíritos Questão 130
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Aprendendo com o Livro dos Espíritos Questão 129
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Aprendendo com o Livro dos Espíritos Questão 128
O texto colocado entre aspas, em seguida às perguntas,
é a resposta que os Espíritos deram. Para destacar as notas e explicações
aditadas pelo autor, quando haja possibilidade de serem confundidas com o
texto da resposta, empregou-se um outro tipo menor. Quando formam
capítulos inteiros, sem ser possível a confusão, o mesmo tipo usado para
as perguntas e respostas foi o empregado.
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