Suely Caldas Schubert
“Uma só garantia séria existe para o
ensino dos Espíritos: a concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de
grande número de médiuns
estranhos uns aos outros e em vários lugares. (...) Essa verificação universal constitui uma garantia para a unidade
futura do Espiritismo e anulará todas as teorias contraditórias. Aí é que, no porvir, se encontrará o
critério da verdade.”
Allan Kardec (ESE
Introdução: Autoridade da Doutrina Espírita)
A visão criteriosa e profunda do
Codificador estabeleceu que a autoridade da Doutrina Espírita repousa na
universalidade do ensino dos espíritos e na concordância entre estes ensinos.
Trata Kardec, porém, não de
comunicações relativas a interesses secundários, mas dos princípios da
Doutrina. Quer isso dizer que as revelações dos espíritos, a partir da
Codificação aos tempos atuais e futuros, deverão sempre ser submetidas a esse
controle, ou seja, ao crivo da razão. Tudo o que venha dos espíritos necessita
ser analisado, conforme aconselha Kardec.
Esse processo, utilizado por Kardec na
composição de O Livro dos Espíritos e demais obras da Codificação, é bem o
exemplo do cuidado e atenção que se deve
ter em relação a tudo o que venha da Espiritualidade por intermédio dos
médiuns.
Nas reuniões mediúnicas na Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas, bem como naquelas realizadas nos lares da sra.
Plainemaison e da família Baudin, especialmente, o mestre lionês constatou, no intercâmbio com os espíritos,
as suas diferentes condições e capacidades e que estes, considerados
individualmente, não estão de posse de
toda a verdade; que o conhecimento de cada um é proporcional ao seu estado evolutivo.
Desde o início de suas pesquisas,
Kardec compreendeu que os espíritos inferiores e mal intencionados procuram
enganar os encarnados, mistificando, encobrindo a sua verdadeira condição,
utilizando nomes famosos, de vultos veneráveis, utilizando termos como Deus,
amor, caridade, citações de frases do Evangelho, às vezes com tal sutileza que
enganam até os mais experientes médiuns e outras pessoas, ingênuas e de boa-fé ,
que tomam conhecimento dessas mensagens. Esses espíritos, não raramente,
propõem mudanças, dizem-se encarregados de alguma missão elevada cujo
finalidade, segundo eles, é ajudar as pessoas a progredir.
Ressalta o Codificador :
“Toda teoria, em manifesta contradição
com o bom-senso, com uma lógica rigorosa e com dados positivos já adquiridos,
deve ser rejeitada por mais respeitável que seja o nome que traga como
assinatura.” (ESE Introdução pág.31)
Na advertência acima encontramos pontos
importantes que devem merecer uma
reflexão mais atenta. Observemos que é uma frase bastante incisiva, que não
deixa margem a dúvidas. Qualquer teoria, portanto, que apresente os três pontos
citados: contradição com o bom-senso, com uma lógica rigorosa e com dados
positivos já adquiridos, deve ser rejeitada. E acrescenta: por mais
respeitável seja o nome que a assina.
Este o crivo da razão.
Interessante mencionarmos que os
espíritos bem-intencionados, os bons espíritos, os espíritos superiores, enfim,
não temem a análise de suas mensagens, não ficam melindrados, aborrecidos ou
magoados; primeiro porque já venceram esses sentimentos negativos; segundo porque nada têm a temer quanto ao conteúdo das suas
comunicações. Só os espíritos inferiores, os mistificadores, os pseudo-sábios
se agastam com isso, tanto quanto os médiuns pelos quais transmitem suas mensagens.
As armas que esses espíritos utilizam
são, via de regra, a ironia, o sarcasmo, o deboche, as insinuações dúbias, o
tom acusador.
Para
se ter uma idéia da forma como atuam recomendamos a leitura do capítulo 31 de O
Livro dos Médiuns, onde estão registradas algumas comunicações apócrifas. Em
nota ao final do capítulo, Kardec leciona:
“De fato, a facilidade com que algumas
pessoas aceitam tudo o que vem do mundo invisível, sob o pálio de um grande
nome, é que anima os Espíritos embusteiros. A lhes frustar os embustes é que
todos devem consagrar a máxima atenção; mas, a tanto ninguém pode chegar, senão
com a ajuda da experiência adquirida por meio de um estudo sério. Daí o repetirmos incessantemente: Estudai,
antes de praticardes, é esse o único meio de não adquirirdes experiência à
vossa própria custa.” (grifamos)
Temos observado que, nos últimos
tempos, esses critérios têm sido deixados de lado, pois aceita-se tudo o que é
novidade, algumas realmente estranhas, sem nenhum respaldo doutrinário, que
contrariam o bom-senso, e tudo isso fartamente divulgado, como se não fosse
importante manter-se a fidelidade à Codificação.
A falta de estudo, a inexperiência, a
ingenuidade podem levar a pessoa a uma situação difícil. O espírito Erasto, um dos expoentes da
falange do Espírito de Verdade, faz uma advertência em O Livro dos Médiuns que
requer a nossa atenção:
“Na dúvida, abstém-te, diz um dos
vossos velhos provérbios. Não admitais, portanto, senão o que seja, aos vossos
olhos, de manifesta evidência. Desde que uma opinião nova venha a ser
expendida, por pouco que vos pareça duvidosa, fazei-a passar pelo crisol da
razão e da lógica e rejeitai desassombradamente o que a razão e o bom-senso
reprovarem. Melhor é repelir dez
verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea.” (grifamos)
(cap. XX it.230)
A Doutrina Espírita, como é do
conhecimento geral, não proíbe nada, cada um escolhe livremente o seu caminho e
as opções de vida, no uso do seu livre-arbítrio, tornando-se responsável pela própria conduta.
Entretanto é imprescindível atentar
para o fato de que, acima de tudo, como espíritas, devemos ser fiéis à Doutrina
dos Espíritos.
Ao comemoramos o sesquicentenário do
lançamento de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, nosso pensamento se volta à data de 18 de abril
de 1857, no momento em que Allan Kardec,
emocionado, tem em suas mãos, pela primeira vez, a obra impressa, a 1ª edição.
Talvez não avaliasse, em sua natural modéstia, que naquele instante o advento
do Consolador prometido por Jesus estava se concretizando. Seu esforço, sua
abnegação ao cumprimento da missão que lhe fora confiada, sua renúncia íntima e
silenciosa o levaram a dedicar os anos restantes de sua vida à causa da
Doutrina Espírita.
Assim, que a nossa homenagem ao
Codificador esteja impregnada de nosso profundo amor e respeito à grandiosa obra por ele
empreendida.
Amar a Doutrina é preservá-la de
alterações, de mudanças, de atualizações que lhe desfigurariam os princípios
norteadores e luminosos.
Sejam para Allan Kardec as palavras do
Espírito de Verdade:
“As grandes missões só aos homens de
escol são confiadas e Deus mesmo os coloca, sem que eles o procurem, no meio e
na posição em que possam prestar concurso eficaz.” (O Livro dos Médiuns cap.
XXXI it. XV)
Fonte:http://suelycaldasschubert.webnode.com.br/artigos/