O texto colocado entre aspas, em seguida às perguntas,
é a resposta que os Espíritos deram. Para destacar as notas e explicações
aditadas pelo autor, quando haja possibilidade de serem confundidas com o
texto da resposta, empregou-se um outro tipo menor. Quando formam
capítulos inteiros, sem ser possível a confusão, o mesmo tipo usado para
as perguntas e respostas foi o empregado.
Caros amigos leitores , gostaríamos, na medida do possível ,contar com a interação de todos ,através de comentários , tornando se seguidores deste blog divulgando para seus conhecidos ,para que assim possamos estudar e aprendermos juntos , solidários e fraternos. Inscrevam-se no blog!
sexta-feira, 24 de maio de 2013
Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 107
O texto colocado entre aspas, em seguida às perguntas,
é a resposta que os Espíritos deram. Para destacar as notas e explicações
aditadas pelo autor, quando haja possibilidade de serem confundidas com o
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capítulos inteiros, sem ser possível a confusão, o mesmo tipo usado para
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Miramez
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Aprendendo com o livro dos espíritos questão 106
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é a resposta que os Espíritos deram. Para destacar as notas e explicações
aditadas pelo autor, quando haja possibilidade de serem confundidas com o
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capítulos inteiros, sem ser possível a confusão, o mesmo tipo usado para
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Miramez
sexta-feira, 17 de maio de 2013
Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 105
O texto colocado entre aspas, em seguida às perguntas,
é a resposta que os Espíritos deram. Para destacar as notas e explicações
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Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 104
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Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 103
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aditadas pelo autor, quando haja possibilidade de serem confundidas com o
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as perguntas e respostas foi o empregado.
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Miramez
sábado, 11 de maio de 2013
CONCLAMAÇÃO ESPÍRITA.
CONCLAMAÇÃO ESPÍRITA.
(...)
Novos problemas surgiram, de algum tempo a esta parte, trazendo-nos verdadeiros
desafios perante a realidade social desta dificílima quadra histórica da
Humanidade. Mais técnicas, mais inquietações, mais desorientação social, a
despeito dos imensos recursos de ordem tecnológica e das possibilidades de
bem-estar humano. Há, entretanto, apesar de todos os meios materiais, uma
atordoante corrida à procura soluções fáceis, pressionaste fenômeno da neurose
coletiva, como já acentuamos há pouco, noutra oportunidade. Há falta de paz
interior, ausência de um ponto de apoio espiritual. E já se anuncia até a “morte
de Deus”.
Pois
bem, prezados companheiros a realidade atual exige de nós muito mais do que
exigia nas décadas passadas ,...
Temos
de lutar muito, e cada vez mais, pela preservação dos princípios espíritas,
pela intangibilidade dos conceitos básicos da Doutrina, a fim de que a Seara
Espírita seja um ponto de equilíbrio indispensável nessa angustiosa conjuntura
em que se acentua uma série de crises: crise de compreensão, crise de amor.
Necessário se torna, imperioso mesmo, que nos entendamos em todos os sentidos e
procuremos manter a Doutrina Espírita na posição que lhe é realmente característica
como fonte de conhecimento e de amor. Necessário se torna, imperioso mesmo, que
nos entendamos em todos os sentidos e procuremos manter a Doutrina Espírita na
posição que lhe é realmente característica como fonte de conhecimento e de
amor. Todas as forças humanas de Movimento Espírita, embora entregues a tarefas
necessariamente diversificadas, devem voltar-se para o ideal maior, a fim de
que a mensagem espírita não seja desvirtuada nem confundida em sua legítima essência.
É,
finalmente, com a visão inequívoca da própria realidade e das responsabilidades
assumidas em sã consciência que conclamamos os nossos confrades, (...)
DEOLINDO
AMORIM.
(Presidente
da Associação Brasileira dos Jornalistas e Escritores Espíritas. Este documento
na sua integra foi lido no Congresso Federativo Nacional, da Federação Espírita
Brasileira, reunido em Brasília-DF, de 1o. A 3-10-1977.)
Fonte:
Revista “O REFORMADOR” - No. 1785. - Dezembro, 1977, - Editora FEB. - Rio de
Janeiro, RJ.
A Família como Instrumento de Redenção Espiritual
A Família como Instrumento de Redenção Espiritual
Autor: Deolindo Amorim e Hermínio C. Miranda.
... Reconcilia-te com o teu adversário – advertiu Cristo – enquanto estás a caminho com ele.
E não é precisamente no círculo aconchegante da família que estamos a caminho com aquele que a nossa insensatez converteu em adversário?
O espiritismo coloca, pois, sob perspectiva inteiramente renovada e até inesperada, além de criativa e realista, a difícil e até agora inexplicável problemática do inter-relacionamento familial. Se um membro de nossa família tem dificuldades em nos aceitar, em nos entender, em nos amar, podemos estar certos de que tais dificuldades foram criadas por nós mesmos num relacionamento anterior em que as nossas paixões ignoraram o bom senso.
- E a repulsão instintiva que se experimenta por algumas pessoas, donde se origina? Perguntou Kardec aos seus instrutores (LIVRO DOS ESPÍRITOS, Pergunta 389).
- São espíritos antipáticos que se adivinham e reconhecem, sem se falarem.
O ponto de encontro de muitas dessas antipatias, que necessitam do toque mágico do amor e do entendimento, é a família consangüínea, célula de um organismo mais amplo que é a família espiritual, que por sua vez, é a célula da instituição infinitamente mais vastas que são a família mundial e, finalmente, a universal.
A Doutrina considera a instituição do casamento como instrumento do “progresso na marcha da humanidade” e, reversamente, a abolição do casamento como “uma regressão à vida dos animais”. (Questões 695 e 696, de O LIVRO DOS ESPÍRITOS). Como vimos há pouco, é também essa a opinião dos cientistas especializados responsáveis.
Ao comentar as questões indicadas, Kardec acrescentou que – “O estado de natureza é o da união livre e fortuita dos sexos. O casamento constitui um dos primeiros atos de progresso nas sociedades humanas, porque estabelece a solidariedade fraterna e se observa entre todos os povos, se bem que em condições diversas”.
No que, mais uma vez, estão de acordo estudiosos do problema do ponto de vista científico e formuladores e divulgadores da Doutrina Espírita.
Isto nos leva à delicada questão do divórcio, reconhecido como uma das principais causas desagregadoras do casamento e, por extensão, da família.
O problema da indissolubilidade do casamento foi abordado pelos Espíritos, de maneira bastante sumária, na Questão nº. 697. Perguntados sobre se “Está na lei da Natureza, ou somente na lei humana a indissolubilidade absoluta do casamento”, responderam na seguinte forma:
- É uma lei muito contrária à da Natureza. Mas os homens podem modificar suas leis; só as da Natureza são imutáveis.
O que, exatamente, quer dizer isso?
Em primeiro lugar, convém chamar a atenção para o fato de que a resposta foi dada no contexto de uma pergunta específica sobre a indissolubilidade absoluta. Realmente, a lei natural ou divina não impõe inapelavelmente um tipo rígido de união, mesmo porque o livre arbítrio é princípio fundamental, direito inalienável do ser humano. “Sem o livre arbítrio – consta enfaticamente da Questão nº. 843 de O LIVRO DOS ESPÍRITOS – o homem seria máquina”.
A lei natural, por conseguinte, não iria traçar limites arbitrários às opções humanas, encadeando homens e mulheres a um severo regime de escravidão, que poderá conduzir a situações calamitosas em termos evolutivos, resultando em agravamento dos conflitos, em lugar de os resolver, ou pelo menos atenuá-los.
Ademais, como vimos lembrando repetidamente, o Espiritismo não se propõe a ditar regras de procedimento específico para cada situação da vida. O que oferece são princípios gerais, é uma estrutura básica, montada sobre a permanência e estabilidade de verdades testadas e aprovadas pela experiência de muitos milênios. Que dentro desse espaço se movimente a criatura humana no exercício pleno de seu livre arbítrio e decida o que melhor lhe convém, ante o conjunto de circunstâncias em que se encontra.
O casamento é compromisso espiritual previamente negociado e acertado, ainda que nem sempre aceito de bom grado pelas partes envolvidas. São muitos, senão maioria, os que se unem na expectativa de muitos anos de turbulência e mal-entendidos porque estão em débito com o parceiro que acolhem, precisamente para que se conciliem se ajustem, se pacifiquem e se amem ou, pelo menos, se respeitem e estimem.
Mergulhados, porém, na carne, os bons propósitos do devedor, que programou para si mesmo um regime de tolerância e autocontrole, podem falhar. Como também pode exorbitar da sua desejável moderação o parceiro que vem para receber a reparação, e em lugar de recolher com serenidade o que lhe é devido (e outrora lhe foi negado) em atenção, apoio, segurança e afeto, assume a atitude do tirano arbitrário que, além de exigir com intransigência o devido, humilha, oprime e odeia o parceiro que, afinal de contas, está fazendo o possível, dentro das suas limitações, para cumprir seu compromisso. Nesses casos, o processo de ajuste – que será sempre algo difícil mas poderá desenrolar-se em clima de mútua compreensão – converte-se em vingança irracional.
Numa situação dessas, mais freqüentes do que poderíamos supor, a indissolubilidade absoluta a que se refere a Codificação seria, de fato, uma lei antinatural. Se um dos parceiros da união, programada com o objetivo de promover uma retificação de comportamento, utilizou-se insensatamente da sua faculdade de livre escolha, optando pelo ódio e a vingança, quando poderia simplesmente recolher o que lhe é devido por um devedor disposto a pagar, seria injusto que a lei recusasse a este o direito de recuar do compromisso assumido, modificar seus termos, ou adiar a execução, assumindo, é claro, toda as responsabilidades decorrentes de seus atos, como sempre, aliás.
A lei divina não coonesta a violência que um parceiro se disponha a praticar sobre o outro. Além do mais, a dívida não é tanto com o indivíduo prejudicado quanto com a própria lei divina desrespeitada. No momento em que arruinamos ou assassinamos alguém, cometemos, claro, um delito pessoal de maior gravidade. É preciso lembrar, contudo, que a vítima também se encontra envolvida com a lei, que, paradoxalmente, irá exibir a reparação da falta cometida, não para vingá-la, mas para desestimular o faltoso, mostrando-lhe que cada gesto negativo cria a sua matriz de reparação. O Cristo foi enfático e preciso ao ligar sempre o erro à dor do resgate. “Vai e não peques mais, para que não te aconteça coisa pior”, disse ele.
Não há sofrimento inocente, nem cobrança injusta ou indevida. O que deve paga e o que está sendo cobrado é porque deve. Assim a própria vítima de um gesto criminoso é também um ser endividado perante a lei, por alguma razão concreta anterior, ainda que ignorada. Se, em lugar de reconciliar-se, ela se vingar, estará reabrindo sua conta como novo débito em vez de saldá-la.
A lei natural, portanto, não prescreve a indissolubilidade mandatária e absoluta do casamento, como a caracterizou Kardec na sua pergunta. Conseqüentemente, a lei humana não deve ser mais realista do que a outra que lhe é superior; deve ser flexível, abrindo espaço para as opções individuais do livre arbítrio.
Isso, contudo, está longe de significar uma atitude de complacência ou de estímulo à separação dos casais em dificuldades. O divórcio é admissível, em situações de grave conflito, nas quais a separação legal assume a condição de mal menor, em confronto com opções potencialmente mais graves que projetam ameaçadoras tragédias e aflições imprevisíveis: suicídios, assassinatos, e conflitos outros que destroem famílias e acarretam novos e pesados compromissos, em vez de resolver os que já vieram do passado por auto-herança.
Convém, portanto, atentar para todos os aspectos da questão e não ceder precipitadamente ao primeiro impulso passional ou solicitação do comodismo ou do egoísmo. Dificuldades de relacionamento são mesmo de esperar-se na grande maioria das uniões que se processam em nosso mundo ainda imperfeito. Não deve ser desprezado o importante aspecto de que o casamento foi combinado e aceito com a necessária antecipação, precisamente para neutralizar diferenças e dificuldades que persistem entre dois ou mais Espíritos.
O que a lei divina prescreve para o casamento é o amor, na sua mais ampla e abrangente conotação, no qual o sexo é apenas a expressão física de uma profunda e serena sintonia espiritual. Estas uniões, contudo, são ainda a exceção e não a norma. Ocorre entre aqueles que, na expressão de Jesus, Deus juntou, na imutável perfeição de suas leis. Que ninguém os separe, mesmo porque, atingida essa fase de sabedoria, entendimento e serenidade, os Espíritos pouco se importam de que os vínculos matrimoniais sejam indissolúveis ou não em termos humanos, dado que, para eles vige a lei divina que já os uniu pelo vínculo supremo do amor.
Em suma, recuar ante uma situação de desarmonia no casamento, de um cônjuge difícil ou de problemas aparentemente insolúveis é gesto e fraqueza e covardia de graves implicações. Somos colocados em situações dessas precisamente para resolver conflitos emocionais que nos barram os passos no caminho evolutivo. Estaremos recusando exatamente o remédio prescrito para curar mazelas persistente que se arrastam, às vezes, por séculos ou milênios aderidas à nossa estrutura espiritual.
A separação e o divórcio constituem, assim, atitudes que não devem ser assumidas antes de profunda análise e demorada meditação que nos levem à plena consciência das responsabilidades envolvidas.
Como escreveu Paulo com admirável lucidez e poder de síntese.
_ “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”.
O Espiritismo não é doutrina do não e sim da responsabilidade, Viver é escolher, é optar, é decidir. E a escolha é sempre livre dentro de um leque relativamente amplo de alternativas. A semeadura, costumamos dizer, é voluntária; a colheita é que é sempre obrigatória.
É no contexto da família que vem desaguar um volume incalculável de conseqüências mais ou menos penosas resultantes de desacertos anteriores, de decisões tomadas ao arrepio das leis flexíveis e, ao mesmo tempo, severas, que regulam o universo ético em que nos movimentamos.
Para que um dia possamos desfrutar o privilégio de viver em comunidades felizes e harmoniosas, aqui ou no mundo póstumo, temos de aceitar, ainda que relutantemente, as regras do jogo da vida. O trabalho da reconciliação com espíritos que prejudicamos com o descontrole de nossas paixões, nunca é fácil e, por isso, o comodismo nos empurra para o adiantamento das lutas e renúncias por onde passa o caminho da vitória.
Como foro natural de complexos problemas humanos e núcleo inevitável das experiências retificadoras que nos incumbe levar a bom termo, a família é instrumento da redenção individual e, por extensão, do equilíbrio social.
Não precisaria de nenhuma outra razão para ser estudada com seriedade e preservada com firmeza nas suas estruturas e nos seus propósitos educativos.
Autor: Deolindo Amorim e Hermínio C. Miranda.
... Reconcilia-te com o teu adversário – advertiu Cristo – enquanto estás a caminho com ele.
E não é precisamente no círculo aconchegante da família que estamos a caminho com aquele que a nossa insensatez converteu em adversário?
O espiritismo coloca, pois, sob perspectiva inteiramente renovada e até inesperada, além de criativa e realista, a difícil e até agora inexplicável problemática do inter-relacionamento familial. Se um membro de nossa família tem dificuldades em nos aceitar, em nos entender, em nos amar, podemos estar certos de que tais dificuldades foram criadas por nós mesmos num relacionamento anterior em que as nossas paixões ignoraram o bom senso.
- E a repulsão instintiva que se experimenta por algumas pessoas, donde se origina? Perguntou Kardec aos seus instrutores (LIVRO DOS ESPÍRITOS, Pergunta 389).
- São espíritos antipáticos que se adivinham e reconhecem, sem se falarem.
O ponto de encontro de muitas dessas antipatias, que necessitam do toque mágico do amor e do entendimento, é a família consangüínea, célula de um organismo mais amplo que é a família espiritual, que por sua vez, é a célula da instituição infinitamente mais vastas que são a família mundial e, finalmente, a universal.
A Doutrina considera a instituição do casamento como instrumento do “progresso na marcha da humanidade” e, reversamente, a abolição do casamento como “uma regressão à vida dos animais”. (Questões 695 e 696, de O LIVRO DOS ESPÍRITOS). Como vimos há pouco, é também essa a opinião dos cientistas especializados responsáveis.
Ao comentar as questões indicadas, Kardec acrescentou que – “O estado de natureza é o da união livre e fortuita dos sexos. O casamento constitui um dos primeiros atos de progresso nas sociedades humanas, porque estabelece a solidariedade fraterna e se observa entre todos os povos, se bem que em condições diversas”.
No que, mais uma vez, estão de acordo estudiosos do problema do ponto de vista científico e formuladores e divulgadores da Doutrina Espírita.
Isto nos leva à delicada questão do divórcio, reconhecido como uma das principais causas desagregadoras do casamento e, por extensão, da família.
O problema da indissolubilidade do casamento foi abordado pelos Espíritos, de maneira bastante sumária, na Questão nº. 697. Perguntados sobre se “Está na lei da Natureza, ou somente na lei humana a indissolubilidade absoluta do casamento”, responderam na seguinte forma:
- É uma lei muito contrária à da Natureza. Mas os homens podem modificar suas leis; só as da Natureza são imutáveis.
O que, exatamente, quer dizer isso?
Em primeiro lugar, convém chamar a atenção para o fato de que a resposta foi dada no contexto de uma pergunta específica sobre a indissolubilidade absoluta. Realmente, a lei natural ou divina não impõe inapelavelmente um tipo rígido de união, mesmo porque o livre arbítrio é princípio fundamental, direito inalienável do ser humano. “Sem o livre arbítrio – consta enfaticamente da Questão nº. 843 de O LIVRO DOS ESPÍRITOS – o homem seria máquina”.
A lei natural, por conseguinte, não iria traçar limites arbitrários às opções humanas, encadeando homens e mulheres a um severo regime de escravidão, que poderá conduzir a situações calamitosas em termos evolutivos, resultando em agravamento dos conflitos, em lugar de os resolver, ou pelo menos atenuá-los.
Ademais, como vimos lembrando repetidamente, o Espiritismo não se propõe a ditar regras de procedimento específico para cada situação da vida. O que oferece são princípios gerais, é uma estrutura básica, montada sobre a permanência e estabilidade de verdades testadas e aprovadas pela experiência de muitos milênios. Que dentro desse espaço se movimente a criatura humana no exercício pleno de seu livre arbítrio e decida o que melhor lhe convém, ante o conjunto de circunstâncias em que se encontra.
O casamento é compromisso espiritual previamente negociado e acertado, ainda que nem sempre aceito de bom grado pelas partes envolvidas. São muitos, senão maioria, os que se unem na expectativa de muitos anos de turbulência e mal-entendidos porque estão em débito com o parceiro que acolhem, precisamente para que se conciliem se ajustem, se pacifiquem e se amem ou, pelo menos, se respeitem e estimem.
Mergulhados, porém, na carne, os bons propósitos do devedor, que programou para si mesmo um regime de tolerância e autocontrole, podem falhar. Como também pode exorbitar da sua desejável moderação o parceiro que vem para receber a reparação, e em lugar de recolher com serenidade o que lhe é devido (e outrora lhe foi negado) em atenção, apoio, segurança e afeto, assume a atitude do tirano arbitrário que, além de exigir com intransigência o devido, humilha, oprime e odeia o parceiro que, afinal de contas, está fazendo o possível, dentro das suas limitações, para cumprir seu compromisso. Nesses casos, o processo de ajuste – que será sempre algo difícil mas poderá desenrolar-se em clima de mútua compreensão – converte-se em vingança irracional.
Numa situação dessas, mais freqüentes do que poderíamos supor, a indissolubilidade absoluta a que se refere a Codificação seria, de fato, uma lei antinatural. Se um dos parceiros da união, programada com o objetivo de promover uma retificação de comportamento, utilizou-se insensatamente da sua faculdade de livre escolha, optando pelo ódio e a vingança, quando poderia simplesmente recolher o que lhe é devido por um devedor disposto a pagar, seria injusto que a lei recusasse a este o direito de recuar do compromisso assumido, modificar seus termos, ou adiar a execução, assumindo, é claro, toda as responsabilidades decorrentes de seus atos, como sempre, aliás.
A lei divina não coonesta a violência que um parceiro se disponha a praticar sobre o outro. Além do mais, a dívida não é tanto com o indivíduo prejudicado quanto com a própria lei divina desrespeitada. No momento em que arruinamos ou assassinamos alguém, cometemos, claro, um delito pessoal de maior gravidade. É preciso lembrar, contudo, que a vítima também se encontra envolvida com a lei, que, paradoxalmente, irá exibir a reparação da falta cometida, não para vingá-la, mas para desestimular o faltoso, mostrando-lhe que cada gesto negativo cria a sua matriz de reparação. O Cristo foi enfático e preciso ao ligar sempre o erro à dor do resgate. “Vai e não peques mais, para que não te aconteça coisa pior”, disse ele.
Não há sofrimento inocente, nem cobrança injusta ou indevida. O que deve paga e o que está sendo cobrado é porque deve. Assim a própria vítima de um gesto criminoso é também um ser endividado perante a lei, por alguma razão concreta anterior, ainda que ignorada. Se, em lugar de reconciliar-se, ela se vingar, estará reabrindo sua conta como novo débito em vez de saldá-la.
A lei natural, portanto, não prescreve a indissolubilidade mandatária e absoluta do casamento, como a caracterizou Kardec na sua pergunta. Conseqüentemente, a lei humana não deve ser mais realista do que a outra que lhe é superior; deve ser flexível, abrindo espaço para as opções individuais do livre arbítrio.
Isso, contudo, está longe de significar uma atitude de complacência ou de estímulo à separação dos casais em dificuldades. O divórcio é admissível, em situações de grave conflito, nas quais a separação legal assume a condição de mal menor, em confronto com opções potencialmente mais graves que projetam ameaçadoras tragédias e aflições imprevisíveis: suicídios, assassinatos, e conflitos outros que destroem famílias e acarretam novos e pesados compromissos, em vez de resolver os que já vieram do passado por auto-herança.
Convém, portanto, atentar para todos os aspectos da questão e não ceder precipitadamente ao primeiro impulso passional ou solicitação do comodismo ou do egoísmo. Dificuldades de relacionamento são mesmo de esperar-se na grande maioria das uniões que se processam em nosso mundo ainda imperfeito. Não deve ser desprezado o importante aspecto de que o casamento foi combinado e aceito com a necessária antecipação, precisamente para neutralizar diferenças e dificuldades que persistem entre dois ou mais Espíritos.
O que a lei divina prescreve para o casamento é o amor, na sua mais ampla e abrangente conotação, no qual o sexo é apenas a expressão física de uma profunda e serena sintonia espiritual. Estas uniões, contudo, são ainda a exceção e não a norma. Ocorre entre aqueles que, na expressão de Jesus, Deus juntou, na imutável perfeição de suas leis. Que ninguém os separe, mesmo porque, atingida essa fase de sabedoria, entendimento e serenidade, os Espíritos pouco se importam de que os vínculos matrimoniais sejam indissolúveis ou não em termos humanos, dado que, para eles vige a lei divina que já os uniu pelo vínculo supremo do amor.
Em suma, recuar ante uma situação de desarmonia no casamento, de um cônjuge difícil ou de problemas aparentemente insolúveis é gesto e fraqueza e covardia de graves implicações. Somos colocados em situações dessas precisamente para resolver conflitos emocionais que nos barram os passos no caminho evolutivo. Estaremos recusando exatamente o remédio prescrito para curar mazelas persistente que se arrastam, às vezes, por séculos ou milênios aderidas à nossa estrutura espiritual.
A separação e o divórcio constituem, assim, atitudes que não devem ser assumidas antes de profunda análise e demorada meditação que nos levem à plena consciência das responsabilidades envolvidas.
Como escreveu Paulo com admirável lucidez e poder de síntese.
_ “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”.
O Espiritismo não é doutrina do não e sim da responsabilidade, Viver é escolher, é optar, é decidir. E a escolha é sempre livre dentro de um leque relativamente amplo de alternativas. A semeadura, costumamos dizer, é voluntária; a colheita é que é sempre obrigatória.
É no contexto da família que vem desaguar um volume incalculável de conseqüências mais ou menos penosas resultantes de desacertos anteriores, de decisões tomadas ao arrepio das leis flexíveis e, ao mesmo tempo, severas, que regulam o universo ético em que nos movimentamos.
Para que um dia possamos desfrutar o privilégio de viver em comunidades felizes e harmoniosas, aqui ou no mundo póstumo, temos de aceitar, ainda que relutantemente, as regras do jogo da vida. O trabalho da reconciliação com espíritos que prejudicamos com o descontrole de nossas paixões, nunca é fácil e, por isso, o comodismo nos empurra para o adiantamento das lutas e renúncias por onde passa o caminho da vitória.
Como foro natural de complexos problemas humanos e núcleo inevitável das experiências retificadoras que nos incumbe levar a bom termo, a família é instrumento da redenção individual e, por extensão, do equilíbrio social.
Não precisaria de nenhuma outra razão para ser estudada com seriedade e preservada com firmeza nas suas estruturas e nos seus propósitos educativos.
EADE-FEB-Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita- Livro 1 Cristianismo e Espiritismo - Módulo 2 - O Cristianismo - Roteiro 12 - Conversão e missão de Paulo de Tarso
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
1. Dados biográficos de Saulo de Tarso
Paulo é conhecido como o Apóstolo dos Gentios (Atos dos Apóstolos, 9:15;
Gálatas, 1:15-23; Efésios, 3:1-6), em razão do devotado trabalho evangélico que
realizou junto aos povos pagãos. Nasceu em Tarso, capital da Cilícia, no início
do séc. I da nossa era (Atos dos Apóstolos, 9:11; 21:39; 22:3), recebendo o nome
hebraico de Saulo. Fazia parte de uma família judaica helenística, da tribo de
Benjamim (Filipenses, 3:5 e Romanos, 11:1), cujos integrantes eram judeus da
diáspora. Na infância, aprendeu sobre a sua herança judaica na sinagoga local
de Tarso. No entanto, obteve os estágios finais de sua educação religiosa em
Jerusalém, sob a orientação do rabino Gamaliel (Atos dos Apóstolos, 5:34 e
22:3). Era também cidadão romano, por ter nascido numa província de Roma.
(Atos dos Apóstolos, 22:25-28; 23:27). A Cilícia era um distrito da Ásia Menor,
situado próximo da Síria, pertencendo à província de Acaia.
O limite, ao norte, era o Monte Tauro [ou Taurus]. Estava dividida em duas províncias:
Cilícia Traquéa e Cilícia Pádias, a primeira muito montanhosa e agreste, e a segunda,
embora também em parte coberta de rochedos, dispunha de algumas planícies férteis.
Importante estrada cortava o país de este a oeste, passando pela cidade de Tarso. [...] Nos
tempos romanos a Cilícia exportava grande quantidade de lã caprina, chamada cilicium,
da qual se faziam tendas. Esse foi, aliás o ofício de Saulo, de vez que era praxe entre os de
sua raça, inclusive os mais ricos e ilustrados, aprender sempre um ofício manual. 4
Atualmente, a Cilícia pertence à Turquia. Pelo ocidente se liga a Europa,
através do estreito de Bosfóro; pelo oriente, com o Irã e a Rússia; fazendo
fronteira com o Iraque e a Síria, ao sul. 5 A terra natal do apóstolo contava com cerca
de 500.000 habitantes, na época do seu nascimento, possuindo um
bom porto e um centro comercial movimentado e importante. Era uma cidade
cosmopolita que desempenhou relevante papel nas guerras civis dos romanos e
estava isenta de pagar impostos a Roma. Tarso era formada de uma população
heterogênea de marcada influência grega.
A Cilícia era altamente civilizada ao longo da costa, mas bárbara nos altiplanos do Monte
Taurus. Tarso, a capital, era famosa pelos seus filósofos e por suas escolas. Os judeus da
diáspora estabeleceram ali importante colônia, como também em Antioquia, Mileto,
Éfeso, Esmirna [...]. 6
Essas cidades fariam parte do roteiro da pregação evangélica do apóstolo.
Em Jerusalém, conquistou uma posição de importância, como fariseu,
(Atos dos Apóstolos, 23: 6; 26:5 e Filipenses, 3:5), tornando-se membro do
Sinédrio. Paulo possuía poderosa inteligência e considerável cultura, fatores
que muito o favoreceram em suas viagens missionárias. Falava fluentemente
o grego, o latim, além do hebraico. Elevado à posição de doutor da Lei, vivia
em Jerusalém, desfrutando do prestígio que a posição lhe impunha, junto ao
sinédrio, e em razão das relações de sua família.
2. A perseguição de Saulo de Tarso aos cristãos
Com a morte de Estêvão, a vida do impetuoso doutor da Lei sofre profunda
e irreversível transformação. Alucinado por descobrir que Estêvão é o mesmo
Jeziel, irmão desaparecido da sua amada noiva Abigail, vê desmoronar os seus
sonhos matrimoniais. 12
Abigail, por outro lado, afastada de Saulo, se converte ao Cristianismo,
recebendo de Ananias as luzes sagradas da nova revelação. 14
Não muito tempo depois da sua conversão ao Cristianismo, Abigail cai
irremediavelmente doente, vindo a morrer nos braços de um Saulo enlouquecido
de dor. 14
Durante três dias, Saulo deixou-se ficar em companhia dos amigos generosos, recordando
a noiva inesquecível. Profundamente abatido, procurava remédio para as mágoas íntimas,
na contemplação da paisagem que Abigail tanto amara. [...] Acusava a si próprio de não
haver chegado mais cedo para arrebatá-la à enfermidade dolorosa.
Pensamentos amargos o atormentavam, tomado de angustioso arrependimento. Afinal,
com a rigidez das suas paixões, aniquilara todas as possibilidades de ventura.
Com o rigorismo de sua perseguição implacável, Estêvão encontrara o suplício terrível; com o
orgulho inflexível do coração, atirara a noiva ao antro indevassável do túmulo. Entretanto,
não podia esquecer que devia todas as coincidências penosas àquele Cristo crucificado,
que não pudera compreender. 16
Ensandecido pela dor, o orgulhoso fariseu transferiu sua mágoa e revolta
para Jesus e para seus seguidores.
Saulo de Tarso galvanizava o ódio pessoal ao Messias escarnecido. Agora que se encontrava
só [...] buscaria concentrar esforços na punição e corretivo de quantos encontrava
transviados da Lei. Julgando-se prejudicado pela difusão do Evangelho, renovaria processos
da perseguição infamante. Sem outras esperanças, sem novos ideais, já que lhe
faltavam os fundamentos para constituir um lar, entregar-se-ia de corpo e alma à defesa
de Moisés, preservando a fé e a tranqüilidade dos compatrícios. 15
Elabora então um plano de perseguição aos cristãos, especialmente dirigido
a Ananias, responsável direto pela conversão de Abigail.
Posteriormente, apresenta esse plano ao Sinédrio, esclarecendo que, a
despeito da paz reinante em Jerusalém, obtida pelo encarceramento dos principais
líderes da igreja do “Caminho”, o mesmo não acontecia nas cidades de
Jope e Cesaréia onde eram freqüentes os distúrbios provocados pelos adeptos
do Cristo. 15 Concluindo a exposição, afirma:
Não somente nesses núcleos precisamos desenvolver a obra saneadora, mas, ainda,
agora, chegam-se notícias alarmantes de Damasco, a requerem providências imediatas.
Localizam-se ali perigosos elementos. Um velho chamado Ananias, lá está perturbando
a vida de quantos necessitam de paz nas sinagogas. Não é justo que o mais alto tribunal
da raça de desinteresse das coletividades israelitas noutros setores. Proponho, então,
estendermos o benefício dessa campanha a outras cidades. Para esse fim, ofereço todos os
meus préstimos pessoais, sem ônus à causa que servimos. Bastar-me-á, tão só, o necessário
documento de habilitação, a fim de acionar todos os recursos que me pareçam acertados,
inclusive o da própria pena de morte, quando se julgue necessária e oportuna. 17
3. A conversão de Saulo de Tarso ao Cristianismo
O plano de Saulo foi totalmente aceito pelo Sinédrio que lhe concedeu
liberdade para agir livremente.
De posse das cartas de habilitação para agir convenientemente, em cooperação com as
sinagogas de Damasco, aceitou a companhia de três varões respeitáveis, que se ofereceram
a acompanhá-lo na qualidade de servidores muito amigos. A fim de três dias, a pequena
caravana se deslocou de Jerusalém para a extensa planície da Síria. 18
As ações de Paulo antes da sua conversão, iniciada, propriamente, na
estrada de Damasco foram guiadas por uma consciência mal informada. Assume
a postura do inquisidor religioso que não oferece espaço mental para as
orientações superiores ou para ponderações justas proferidas por amigos, por
exemplo, as de Gamaliel. Não satisfeito com a perseguição que promoveu em
Jerusalém, pediu cartas ao príncipe dos sacerdotes para aprisionar, nas sinagogas
de Damasco, os cristãos que ali buscavam abrigo. (Atos dos Apóstolos,
9: 1-2).
Aproximando-se de Damasco, subitamente uma luz vinda do céu o envolveu de claridade.
Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: «Saulo, Saulo, por que me persegues?»
Ele perguntou: «quem és, Senhor?» E a resposta: «Eu sou Jesus, a quem tu estás perseguindo.
Mas levante-te, entra na cidade, e te dirão o que deves fazer.» Os homens que
com ele viajavam detiveram-se, emudecidos de espanto, ouvindo a voz mas não vendo
ninguém. Saulo ergueu-se do chão. Mas, embora tivesse os olhos abertos, não via nada.
Conduzindo-o, então, pela mão, fizeram-no entrar em Damasco. Esteve três dias sem
ver, e nada comeu ou bebeu. Ora, vivia em Damasco um discípulo chamado Ananias.
O Senhor lhe disse em visão: «Ananias!» Ele respondeu: «Estou aqui Senhor!» E o Senhor
prosseguiu: «Levanta-te, vai pela rua chamada Direita e procura, na casa de Judas, por
alguém de nome Saulo, de Tarso. Ele está orando e acaba de ver e acaba de ver numa
visão um homem chamado Ananias entrar e lhe impor as mãos para que recobre a vista.»
Ananias respondeu: «Senhor, ouvi de muitos, a respeito deste homem, quantos males fez
a teus santos em Jerusalém. E está aqui com a autorização dos chefes dos sacerdotes para
prender a todos os que invocam o teu nome.» Mas o Senhor insistiu: «Vai, porque este
homem é para mim um instrumento de escol para levar o meu nome diante das nações
pagãs, dos reis, e dos filhos de Israel. Eu mesmo lhe mostrarei quanto lhe é preciso sofrer
em favor do meu nome.» Ananias partiu. Entrou na casa, impôs sobre ele as mãos e disse:
«Saulo, meu irmão, o Senhor me enviou, Jesus o mesmo que te apareceu no caminho
por onde vinhas. É para que recuperes a vista e fique repleto do Espírito Santo.» Logo
caíram-lhe dos olhos umas como escamas, e recobrou a vista. Recebeu, então, o batismo
e, tendo tomado alimento, sentiu-se reconfortado. Saulo esteve alguns dias com os
discípulos em Damasco e, imediatamente, nas sinagogas, começou a proclamar Jesus,
afirmando que ele é o filho de Deus. Todos os que o ouviam ficavam estupefatos e diziam:
«mas não é este o que devastava em Jerusalém os que invocavam esse nome, e veio para
cá expressamente com o fim de prendê-los e conduzi-los aos chefes sacerdotes?» Saulo,
porém, crescia mais e mais em poder e confundia os judeus que moravam em Damasco,
demonstrando que Jesus é o Cristo. (Atos dos Apóstolos, 9: 3-22)
Os acontecimentos relativos à conversão de Saulo, merecem reflexões mais aprofundadas.
O socorro concedido a Paulo de Tarso oferece, porém, ensinamento profundo. Antes de
recebê-lo, o ex-perseguidor rende-se incondicionalmente ao Cristo; penetra a cidade, em
obediência à recomendação divina, derrotado e sozinho, revelando extrema renúncia,
onde fora aplaudido triunfador. Acolhido em hospedaria singela, abandonado de todos
os companheiros, confiou em Jesus e recebeu-lhe a sublime cooperação. É importante
notar, contudo, que o Senhor, utilizando a instrumentalidade de Ananias, não lhe cura
senão os olhos, restituindo-lhe o dom de ver. Paulo sente que lhe caem escamas dos
órgãos visuais e, desde então, oferecendo-se ao trabalho do Cristo, entra no caminho
do sacrifício, a fim de extrair, por si mesmo, as demais escamas que lhe obscureciam as
outras zonas do ser. 19
É raro alguém transformar-se tão rapidamente, como aconteceu com
Saulo. Sob o influxo da presença e chamamento do Mestre, na estrada de
Damasco, o impetuoso fariseu muda radicalmente a sua posição na vida: de
perseguidor passa a ser protetor de todos os cristãos.
Não é difícil imaginar os sacrifícios e conflitos que o doutor de Tarso
vivenciou para se transformar em discípulo sincero do Evangelho. Deve ter
experimentado enormes dificuldades nos inevitáveis testemunhos. Importa
considerar, porém, o significativo amparo fraternal que recebeu de muitos,
um bálsamo para aliviar as suas chagas morais. Neste sentido, esclarece Emmanuel:
O Mestre, para estender a sublimidade do seu programa salvador, pede braços humanos
que o realizem e intensifiquem. Começou o apostolado, buscando o concurso de Pedro
e André, formando, em seguida, uma assembléia de doze companheiros para atacar
o serviço da regeneração. [...] Ainda mesmo quando surge, pessoalmente, buscando
alguém para a sua lavoura de luz, qual aconteceu na conversão de Paulo, o Mestre não
dispensa a cooperação dos servidores encarnados. Depois de visitar o doutor de Tarso,
diretamente, procura Ananias, enviando-o a socorrer o novo discípulo. 11
4. A missão de Paulo
Todos os Apóstolos do Mestre haviam saído do teatro humilde de seus gloriosos ensinamentos;
mas, se esses pescadores valorosos eram elevados Espíritos em missão,
precisamos considerar que eles estavam muito longe da situação de espiritualidade do
Mestre, sofrendo as influências do meio a que foram conduzidos. Tão logo se verificou
o egresso do Cordeiro às regiões da Luz, a comunidade cristã, de modo geral, começou
a sofrer a influência do judaísmo, e quase todos os núcleos organizados, da doutrina,
pretenderam guardar feição aristocrática, em face das novas igrejas e associações que
se fundavam nos mais diversos pontos do mundo. É então que Jesus resolve chamar
o Espírito luminoso e enérgico de Paulo de Tarso ao exercício do seu ministério.
Essa deliberação foi um acontecimento dos mais significativos na história do Cristianismo.
As ações e as epístolas de Paulo tornam-se poderoso elemento de universalização da
nova doutrina. De cidade em cidade, de igreja em igreja, o convertido de Damasco, com
o seu enorme prestígio, fala do Mestre, inflamando os corações. A princípio, estabelece
entre ele e os demais apóstolos uma penosa situação de incompreensibilidade, mas sua
influência providencial teve por fim evitar uma aristocracia injustificável dentro da comunidade
cristã, nos seus tempos inesquecíveis de simplicidade e pureza. 10
Concluindo o seu período em Damasco, onde recebeu o auxílio de Ananias
e conheceu a mensagem de Jesus, Saulo parte para o deserto, vivendo no oásis
de Palmira como humilde tecelão de tendas. Nessa localidade, prossegue no seu
aprendizado, tendo oportunidade de vir a conhecer o idoso Esequias, irmão de
Gamaliel, cristão valoroso, assim como o casal Prisca (Priscila) e Áquila, judeus
também convertidos ao Cristianismo. (Veja, a propósito, maiores informações
sobre esse período da vida de Saulo, no livro de Emmanuel, Paulo e Estêvão,
segunda parte, capítulos 1 e 2).
Retornando a Jerusalém, após estágio no deserto, os cristãos fugiam dele,
temerosos. Por influência de Barnabé, Saulo foi conduzido aos apóstolos que,
após ouvirem o relato dos acontecimentos na estrada de Damasco, passaram a
aceitá-lo como discípulo. Sendo, porém, ameaçado de morte por alguns judeus,
os apóstolos levaram-no a Cesáreia e, depois, a Tarso. (Atos dos Apóstolos,
9: 2-30)
Os cristãos que se dispersaram após a morte de Estêvão, em conseqüência
da perseguição de Saulo, espalharam-se pela Fenícia, Chipre e Antioquia, pregando,
nessas localidades, os ensinamentos de Jesus. A notícia desta pregação,
porém, se espalhou, chegando aos ouvidos de Barnabé, que se encontrava em
Jerusalém. Entusiasmado, este apóstolo partiu para Tarso em busca de Paulo
e, durante um ano, pregaram juntos o Evangelho na igreja recém-criada de
Antioquia, para judeus e gentios. Foi em Antioquia, que os discípulos, pela
primeira vez, foram chamados de “cristãos”. (Atos dos Apóstolos, 11: 25-26)
A palavra cristão significa «[...] partidários ou sectários do Cristo (gr. Chistós,
forma popular de Chrestós). Ao criarem esta alcunha, os gentios de Antioquia
tomaram o título de “Cristo” (Ungido, Messias) por um nome próprio». 2
A missão de Paulo não foi fácil. Sofreu toda sorte de atribulações. No
entanto, a partir da sua conversão na estrada de Damasco, em torno do ano
36 da nossa era, [...] ele vai consagrar toda a sua vida ao serviço de Cristo que
o “conquistou” (Filipenses, 3:12). Depois de uma temporada na Arábia e do
regresso a Damasco (Gálatas, 1:17), onde ele já prega (Atos dos Apóstolos, 9:20),
sobe a Jerusalém pelo ano 39 (Gálatas, 1:18; Atos dos Apóstolos, 9: 30),
de onde é reconduzido a Antioquia por Barnabé, com o qual ensina (Atos dos
Apóstolos, 9:26-27 e 11: 25-26). 3
A missão de Paulo pode ser resumida em três palavras: fé, esperança e
caridade. «Agora, portanto, permanecem fé, esperança e caridade, estas três
coisas. A maior delas, porém, é a caridade.» (1 Corintios, 13:13)
A fé é uma posse antecipada do que se espera, um meio de demonstrar as realidades que
não se vêem. E para demonstrá-lo, discorreu longamente sobre todas as coisas maravilhosas
que os hebreus haviam aceitado, no passado, pelo puro e singular testemunho da fé.
Ancorava-se a fé na retidão do homem, pois o justo vive pela sua fé, sustentando-se nela,
confiante nela. Não, contudo uma fé passiva, de braços cruzados, nem uma fé apoiada
simplesmente nos velhos preceitos da lei de Moisés. A fé precisava ser ativa, construtiva,
fraterna, atuante, fortalecida na esperança, dinamizada na caridade. 7
A esperança, em Paulo, está intimamente ligada à fé «[...] que, por sua
vez, vem do testemunho daqueles que viram e falaram com um ser oficialmente
morto.» 9
A ressurreição do Cristo é o seu argumento decisivo em relação à esperança.
Na estrada de Damasco, ele viu o Cristo vivo e recoberto de luz, depois de
estar oficialmente morto há vários anos. Dessa forma, para Paulo, a descoberta
mais retumbante foi que o ser não morre para sempre; que existe a grandeza
da imortalidade, a existência de outro corpo leve e luminoso que permite a
sobrevivência do Espírito; de que há um reino de glórias e alegrias à espera de
cada um de nós; de que é preciso aceitar a leve tribulação do momento que
passa, como ele afirmava, em troca de um enorme caudal de glória eterna.
A fé e esperança, porém, embora pessoais, e, muitas vezes, incomunicáveis, intransferíveis
por simples tradição, não seriam conquistas inativas, estáticas e infrutíferas. Na dinâmica
do amor, convertido em caridade, elas poderiam expandir-se, acendendo em outros
corações o fogo sagrado. Da esperança primeiro, para, só mais tarde, chegar à terceira
irmã: a fé, como um retorno sobre si mesma. [...] A fé e o amor devem contemplar o
futuro com o olhar da confiança e, portanto, da esperança. A fé, unida à esperança, pode
ser apenas egoísmo. A esperança e o amor podem não ser suficientes para construir a fé
e, nesse caso, a felicidade seria apenas uma hipótese. É preciso as três, como acentuou
Paulo, e todos aspirassem às três, mas a maior delas é o amor... 8
Fica claro, assim, porque um dos mais belos textos de sua autoria é o
capítulo 13, da primeira epístola aos coríntios, que versa sobre a caridade e o
amor. Assim como o capítulo 11, epístola aos hebreus, que trata da fé.
Não nos esqueçamos, contudo, de que, balanceado as duas, em sua mente privilegiada,
ele conclui que o amor ainda é mais importante do que a própria fé, especialmente
a dinâmica do amor que se expressa na caridade, no serviço ao próximo, a tônica do
pensamento de Jesus. 7
A fé foi, sem dúvida, o instrumento que garantiu a Paulo a força moral
para vencer as vicissitudes da vida. Todavia, soube compreender que somente
o amor faz o homem elevar-se aos píncaros da felicidade verdadeira.
Coloca assim, sem equívoco, a caridade acima até da fé. É que a caridade está ao alcance
de toda gente: do ignorante, como do sábio, do rico, como do pobre, e independe de
qualquer crença em particular. Faz mais: define a verdadeira caridade, mostra-a não só
na beneficência, como no conjunto de todas as qualidades do coração, na bondade e na
benevolência para com o próximo. 1
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Tradução de Guillon
Ribeiro. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Cap. 15, item 7, p. 249.
2. A BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2002, p. 1922 (Atos dos
Apóstolos, 11:26 e nota de rodapé; “h“).
3. ______. Atos dos Apóstolos, 9:26-27, p. 1918; 11:25-26, p. 1922.
4. MIRANDA, Hermínio C. As marcas do Cristo. Volume 1. 4. ed. Rio de
Janeiro: FEB, 1999, p. 25.
5. ______. p. 26.
6. ______. p. 27.
7. ______. Cristianismo: a mensagem esquecida. 1.ed. Matão: O Clarim, 1998.
Cap. 11 (Fé, esperança e caridade) p. 221.
8. ______. p. 221-222.
9. ______. p. 226-227.
10. XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel.
32. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 14 (A edificação cristã) p. 125-126
(A missão de Paulo).
11. ______. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2006. Cap. 149 (Escamas), p. 333-334.
12. ______. Paulo e Estevão: episódios históricos do Cristianismo primitivo.
Pelo Espírito Emmanuel. 43 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Primeira parte,
cap. 8 (A morte de Estevão), p. 175-207.
13. ______. p. 217.
14. ______. Cap. 9 (Abigail cristã), p. 227.
15. ______. Cap. 10 (No caminho de Damasco), p. 230.
16. ______. p. 237.
17. ______. p. 237-238.
18. ______. p. 238-239.
19. ______. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 34. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2006. Cap. 17 (Cristo e nós), p. 51-52.
1. Dados biográficos de Saulo de Tarso
Paulo é conhecido como o Apóstolo dos Gentios (Atos dos Apóstolos, 9:15;
Gálatas, 1:15-23; Efésios, 3:1-6), em razão do devotado trabalho evangélico que
realizou junto aos povos pagãos. Nasceu em Tarso, capital da Cilícia, no início
do séc. I da nossa era (Atos dos Apóstolos, 9:11; 21:39; 22:3), recebendo o nome
hebraico de Saulo. Fazia parte de uma família judaica helenística, da tribo de
Benjamim (Filipenses, 3:5 e Romanos, 11:1), cujos integrantes eram judeus da
diáspora. Na infância, aprendeu sobre a sua herança judaica na sinagoga local
de Tarso. No entanto, obteve os estágios finais de sua educação religiosa em
Jerusalém, sob a orientação do rabino Gamaliel (Atos dos Apóstolos, 5:34 e
22:3). Era também cidadão romano, por ter nascido numa província de Roma.
(Atos dos Apóstolos, 22:25-28; 23:27). A Cilícia era um distrito da Ásia Menor,
situado próximo da Síria, pertencendo à província de Acaia.
O limite, ao norte, era o Monte Tauro [ou Taurus]. Estava dividida em duas províncias:
Cilícia Traquéa e Cilícia Pádias, a primeira muito montanhosa e agreste, e a segunda,
embora também em parte coberta de rochedos, dispunha de algumas planícies férteis.
Importante estrada cortava o país de este a oeste, passando pela cidade de Tarso. [...] Nos
tempos romanos a Cilícia exportava grande quantidade de lã caprina, chamada cilicium,
da qual se faziam tendas. Esse foi, aliás o ofício de Saulo, de vez que era praxe entre os de
sua raça, inclusive os mais ricos e ilustrados, aprender sempre um ofício manual. 4
Atualmente, a Cilícia pertence à Turquia. Pelo ocidente se liga a Europa,
através do estreito de Bosfóro; pelo oriente, com o Irã e a Rússia; fazendo
fronteira com o Iraque e a Síria, ao sul. 5 A terra natal do apóstolo contava com cerca
de 500.000 habitantes, na época do seu nascimento, possuindo um
bom porto e um centro comercial movimentado e importante. Era uma cidade
cosmopolita que desempenhou relevante papel nas guerras civis dos romanos e
estava isenta de pagar impostos a Roma. Tarso era formada de uma população
heterogênea de marcada influência grega.
A Cilícia era altamente civilizada ao longo da costa, mas bárbara nos altiplanos do Monte
Taurus. Tarso, a capital, era famosa pelos seus filósofos e por suas escolas. Os judeus da
diáspora estabeleceram ali importante colônia, como também em Antioquia, Mileto,
Éfeso, Esmirna [...]. 6
Essas cidades fariam parte do roteiro da pregação evangélica do apóstolo.
Em Jerusalém, conquistou uma posição de importância, como fariseu,
(Atos dos Apóstolos, 23: 6; 26:5 e Filipenses, 3:5), tornando-se membro do
Sinédrio. Paulo possuía poderosa inteligência e considerável cultura, fatores
que muito o favoreceram em suas viagens missionárias. Falava fluentemente
o grego, o latim, além do hebraico. Elevado à posição de doutor da Lei, vivia
em Jerusalém, desfrutando do prestígio que a posição lhe impunha, junto ao
sinédrio, e em razão das relações de sua família.
2. A perseguição de Saulo de Tarso aos cristãos
Com a morte de Estêvão, a vida do impetuoso doutor da Lei sofre profunda
e irreversível transformação. Alucinado por descobrir que Estêvão é o mesmo
Jeziel, irmão desaparecido da sua amada noiva Abigail, vê desmoronar os seus
sonhos matrimoniais. 12
Abigail, por outro lado, afastada de Saulo, se converte ao Cristianismo,
recebendo de Ananias as luzes sagradas da nova revelação. 14
Não muito tempo depois da sua conversão ao Cristianismo, Abigail cai
irremediavelmente doente, vindo a morrer nos braços de um Saulo enlouquecido
de dor. 14
Durante três dias, Saulo deixou-se ficar em companhia dos amigos generosos, recordando
a noiva inesquecível. Profundamente abatido, procurava remédio para as mágoas íntimas,
na contemplação da paisagem que Abigail tanto amara. [...] Acusava a si próprio de não
haver chegado mais cedo para arrebatá-la à enfermidade dolorosa.
Pensamentos amargos o atormentavam, tomado de angustioso arrependimento. Afinal,
com a rigidez das suas paixões, aniquilara todas as possibilidades de ventura.
Com o rigorismo de sua perseguição implacável, Estêvão encontrara o suplício terrível; com o
orgulho inflexível do coração, atirara a noiva ao antro indevassável do túmulo. Entretanto,
não podia esquecer que devia todas as coincidências penosas àquele Cristo crucificado,
que não pudera compreender. 16
Ensandecido pela dor, o orgulhoso fariseu transferiu sua mágoa e revolta
para Jesus e para seus seguidores.
Saulo de Tarso galvanizava o ódio pessoal ao Messias escarnecido. Agora que se encontrava
só [...] buscaria concentrar esforços na punição e corretivo de quantos encontrava
transviados da Lei. Julgando-se prejudicado pela difusão do Evangelho, renovaria processos
da perseguição infamante. Sem outras esperanças, sem novos ideais, já que lhe
faltavam os fundamentos para constituir um lar, entregar-se-ia de corpo e alma à defesa
de Moisés, preservando a fé e a tranqüilidade dos compatrícios. 15
Elabora então um plano de perseguição aos cristãos, especialmente dirigido
a Ananias, responsável direto pela conversão de Abigail.
Posteriormente, apresenta esse plano ao Sinédrio, esclarecendo que, a
despeito da paz reinante em Jerusalém, obtida pelo encarceramento dos principais
líderes da igreja do “Caminho”, o mesmo não acontecia nas cidades de
Jope e Cesaréia onde eram freqüentes os distúrbios provocados pelos adeptos
do Cristo. 15 Concluindo a exposição, afirma:
Não somente nesses núcleos precisamos desenvolver a obra saneadora, mas, ainda,
agora, chegam-se notícias alarmantes de Damasco, a requerem providências imediatas.
Localizam-se ali perigosos elementos. Um velho chamado Ananias, lá está perturbando
a vida de quantos necessitam de paz nas sinagogas. Não é justo que o mais alto tribunal
da raça de desinteresse das coletividades israelitas noutros setores. Proponho, então,
estendermos o benefício dessa campanha a outras cidades. Para esse fim, ofereço todos os
meus préstimos pessoais, sem ônus à causa que servimos. Bastar-me-á, tão só, o necessário
documento de habilitação, a fim de acionar todos os recursos que me pareçam acertados,
inclusive o da própria pena de morte, quando se julgue necessária e oportuna. 17
3. A conversão de Saulo de Tarso ao Cristianismo
O plano de Saulo foi totalmente aceito pelo Sinédrio que lhe concedeu
liberdade para agir livremente.
De posse das cartas de habilitação para agir convenientemente, em cooperação com as
sinagogas de Damasco, aceitou a companhia de três varões respeitáveis, que se ofereceram
a acompanhá-lo na qualidade de servidores muito amigos. A fim de três dias, a pequena
caravana se deslocou de Jerusalém para a extensa planície da Síria. 18
As ações de Paulo antes da sua conversão, iniciada, propriamente, na
estrada de Damasco foram guiadas por uma consciência mal informada. Assume
a postura do inquisidor religioso que não oferece espaço mental para as
orientações superiores ou para ponderações justas proferidas por amigos, por
exemplo, as de Gamaliel. Não satisfeito com a perseguição que promoveu em
Jerusalém, pediu cartas ao príncipe dos sacerdotes para aprisionar, nas sinagogas
de Damasco, os cristãos que ali buscavam abrigo. (Atos dos Apóstolos,
9: 1-2).
Aproximando-se de Damasco, subitamente uma luz vinda do céu o envolveu de claridade.
Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: «Saulo, Saulo, por que me persegues?»
Ele perguntou: «quem és, Senhor?» E a resposta: «Eu sou Jesus, a quem tu estás perseguindo.
Mas levante-te, entra na cidade, e te dirão o que deves fazer.» Os homens que
com ele viajavam detiveram-se, emudecidos de espanto, ouvindo a voz mas não vendo
ninguém. Saulo ergueu-se do chão. Mas, embora tivesse os olhos abertos, não via nada.
Conduzindo-o, então, pela mão, fizeram-no entrar em Damasco. Esteve três dias sem
ver, e nada comeu ou bebeu. Ora, vivia em Damasco um discípulo chamado Ananias.
O Senhor lhe disse em visão: «Ananias!» Ele respondeu: «Estou aqui Senhor!» E o Senhor
prosseguiu: «Levanta-te, vai pela rua chamada Direita e procura, na casa de Judas, por
alguém de nome Saulo, de Tarso. Ele está orando e acaba de ver e acaba de ver numa
visão um homem chamado Ananias entrar e lhe impor as mãos para que recobre a vista.»
Ananias respondeu: «Senhor, ouvi de muitos, a respeito deste homem, quantos males fez
a teus santos em Jerusalém. E está aqui com a autorização dos chefes dos sacerdotes para
prender a todos os que invocam o teu nome.» Mas o Senhor insistiu: «Vai, porque este
homem é para mim um instrumento de escol para levar o meu nome diante das nações
pagãs, dos reis, e dos filhos de Israel. Eu mesmo lhe mostrarei quanto lhe é preciso sofrer
em favor do meu nome.» Ananias partiu. Entrou na casa, impôs sobre ele as mãos e disse:
«Saulo, meu irmão, o Senhor me enviou, Jesus o mesmo que te apareceu no caminho
por onde vinhas. É para que recuperes a vista e fique repleto do Espírito Santo.» Logo
caíram-lhe dos olhos umas como escamas, e recobrou a vista. Recebeu, então, o batismo
e, tendo tomado alimento, sentiu-se reconfortado. Saulo esteve alguns dias com os
discípulos em Damasco e, imediatamente, nas sinagogas, começou a proclamar Jesus,
afirmando que ele é o filho de Deus. Todos os que o ouviam ficavam estupefatos e diziam:
«mas não é este o que devastava em Jerusalém os que invocavam esse nome, e veio para
cá expressamente com o fim de prendê-los e conduzi-los aos chefes sacerdotes?» Saulo,
porém, crescia mais e mais em poder e confundia os judeus que moravam em Damasco,
demonstrando que Jesus é o Cristo. (Atos dos Apóstolos, 9: 3-22)
Os acontecimentos relativos à conversão de Saulo, merecem reflexões mais aprofundadas.
O socorro concedido a Paulo de Tarso oferece, porém, ensinamento profundo. Antes de
recebê-lo, o ex-perseguidor rende-se incondicionalmente ao Cristo; penetra a cidade, em
obediência à recomendação divina, derrotado e sozinho, revelando extrema renúncia,
onde fora aplaudido triunfador. Acolhido em hospedaria singela, abandonado de todos
os companheiros, confiou em Jesus e recebeu-lhe a sublime cooperação. É importante
notar, contudo, que o Senhor, utilizando a instrumentalidade de Ananias, não lhe cura
senão os olhos, restituindo-lhe o dom de ver. Paulo sente que lhe caem escamas dos
órgãos visuais e, desde então, oferecendo-se ao trabalho do Cristo, entra no caminho
do sacrifício, a fim de extrair, por si mesmo, as demais escamas que lhe obscureciam as
outras zonas do ser. 19
É raro alguém transformar-se tão rapidamente, como aconteceu com
Saulo. Sob o influxo da presença e chamamento do Mestre, na estrada de
Damasco, o impetuoso fariseu muda radicalmente a sua posição na vida: de
perseguidor passa a ser protetor de todos os cristãos.
Não é difícil imaginar os sacrifícios e conflitos que o doutor de Tarso
vivenciou para se transformar em discípulo sincero do Evangelho. Deve ter
experimentado enormes dificuldades nos inevitáveis testemunhos. Importa
considerar, porém, o significativo amparo fraternal que recebeu de muitos,
um bálsamo para aliviar as suas chagas morais. Neste sentido, esclarece Emmanuel:
O Mestre, para estender a sublimidade do seu programa salvador, pede braços humanos
que o realizem e intensifiquem. Começou o apostolado, buscando o concurso de Pedro
e André, formando, em seguida, uma assembléia de doze companheiros para atacar
o serviço da regeneração. [...] Ainda mesmo quando surge, pessoalmente, buscando
alguém para a sua lavoura de luz, qual aconteceu na conversão de Paulo, o Mestre não
dispensa a cooperação dos servidores encarnados. Depois de visitar o doutor de Tarso,
diretamente, procura Ananias, enviando-o a socorrer o novo discípulo. 11
4. A missão de Paulo
Todos os Apóstolos do Mestre haviam saído do teatro humilde de seus gloriosos ensinamentos;
mas, se esses pescadores valorosos eram elevados Espíritos em missão,
precisamos considerar que eles estavam muito longe da situação de espiritualidade do
Mestre, sofrendo as influências do meio a que foram conduzidos. Tão logo se verificou
o egresso do Cordeiro às regiões da Luz, a comunidade cristã, de modo geral, começou
a sofrer a influência do judaísmo, e quase todos os núcleos organizados, da doutrina,
pretenderam guardar feição aristocrática, em face das novas igrejas e associações que
se fundavam nos mais diversos pontos do mundo. É então que Jesus resolve chamar
o Espírito luminoso e enérgico de Paulo de Tarso ao exercício do seu ministério.
Essa deliberação foi um acontecimento dos mais significativos na história do Cristianismo.
As ações e as epístolas de Paulo tornam-se poderoso elemento de universalização da
nova doutrina. De cidade em cidade, de igreja em igreja, o convertido de Damasco, com
o seu enorme prestígio, fala do Mestre, inflamando os corações. A princípio, estabelece
entre ele e os demais apóstolos uma penosa situação de incompreensibilidade, mas sua
influência providencial teve por fim evitar uma aristocracia injustificável dentro da comunidade
cristã, nos seus tempos inesquecíveis de simplicidade e pureza. 10
Concluindo o seu período em Damasco, onde recebeu o auxílio de Ananias
e conheceu a mensagem de Jesus, Saulo parte para o deserto, vivendo no oásis
de Palmira como humilde tecelão de tendas. Nessa localidade, prossegue no seu
aprendizado, tendo oportunidade de vir a conhecer o idoso Esequias, irmão de
Gamaliel, cristão valoroso, assim como o casal Prisca (Priscila) e Áquila, judeus
também convertidos ao Cristianismo. (Veja, a propósito, maiores informações
sobre esse período da vida de Saulo, no livro de Emmanuel, Paulo e Estêvão,
segunda parte, capítulos 1 e 2).
Retornando a Jerusalém, após estágio no deserto, os cristãos fugiam dele,
temerosos. Por influência de Barnabé, Saulo foi conduzido aos apóstolos que,
após ouvirem o relato dos acontecimentos na estrada de Damasco, passaram a
aceitá-lo como discípulo. Sendo, porém, ameaçado de morte por alguns judeus,
os apóstolos levaram-no a Cesáreia e, depois, a Tarso. (Atos dos Apóstolos,
9: 2-30)
Os cristãos que se dispersaram após a morte de Estêvão, em conseqüência
da perseguição de Saulo, espalharam-se pela Fenícia, Chipre e Antioquia, pregando,
nessas localidades, os ensinamentos de Jesus. A notícia desta pregação,
porém, se espalhou, chegando aos ouvidos de Barnabé, que se encontrava em
Jerusalém. Entusiasmado, este apóstolo partiu para Tarso em busca de Paulo
e, durante um ano, pregaram juntos o Evangelho na igreja recém-criada de
Antioquia, para judeus e gentios. Foi em Antioquia, que os discípulos, pela
primeira vez, foram chamados de “cristãos”. (Atos dos Apóstolos, 11: 25-26)
A palavra cristão significa «[...] partidários ou sectários do Cristo (gr. Chistós,
forma popular de Chrestós). Ao criarem esta alcunha, os gentios de Antioquia
tomaram o título de “Cristo” (Ungido, Messias) por um nome próprio». 2
A missão de Paulo não foi fácil. Sofreu toda sorte de atribulações. No
entanto, a partir da sua conversão na estrada de Damasco, em torno do ano
36 da nossa era, [...] ele vai consagrar toda a sua vida ao serviço de Cristo que
o “conquistou” (Filipenses, 3:12). Depois de uma temporada na Arábia e do
regresso a Damasco (Gálatas, 1:17), onde ele já prega (Atos dos Apóstolos, 9:20),
sobe a Jerusalém pelo ano 39 (Gálatas, 1:18; Atos dos Apóstolos, 9: 30),
de onde é reconduzido a Antioquia por Barnabé, com o qual ensina (Atos dos
Apóstolos, 9:26-27 e 11: 25-26). 3
A missão de Paulo pode ser resumida em três palavras: fé, esperança e
caridade. «Agora, portanto, permanecem fé, esperança e caridade, estas três
coisas. A maior delas, porém, é a caridade.» (1 Corintios, 13:13)
A fé é uma posse antecipada do que se espera, um meio de demonstrar as realidades que
não se vêem. E para demonstrá-lo, discorreu longamente sobre todas as coisas maravilhosas
que os hebreus haviam aceitado, no passado, pelo puro e singular testemunho da fé.
Ancorava-se a fé na retidão do homem, pois o justo vive pela sua fé, sustentando-se nela,
confiante nela. Não, contudo uma fé passiva, de braços cruzados, nem uma fé apoiada
simplesmente nos velhos preceitos da lei de Moisés. A fé precisava ser ativa, construtiva,
fraterna, atuante, fortalecida na esperança, dinamizada na caridade. 7
A esperança, em Paulo, está intimamente ligada à fé «[...] que, por sua
vez, vem do testemunho daqueles que viram e falaram com um ser oficialmente
morto.» 9
A ressurreição do Cristo é o seu argumento decisivo em relação à esperança.
Na estrada de Damasco, ele viu o Cristo vivo e recoberto de luz, depois de
estar oficialmente morto há vários anos. Dessa forma, para Paulo, a descoberta
mais retumbante foi que o ser não morre para sempre; que existe a grandeza
da imortalidade, a existência de outro corpo leve e luminoso que permite a
sobrevivência do Espírito; de que há um reino de glórias e alegrias à espera de
cada um de nós; de que é preciso aceitar a leve tribulação do momento que
passa, como ele afirmava, em troca de um enorme caudal de glória eterna.
A fé e esperança, porém, embora pessoais, e, muitas vezes, incomunicáveis, intransferíveis
por simples tradição, não seriam conquistas inativas, estáticas e infrutíferas. Na dinâmica
do amor, convertido em caridade, elas poderiam expandir-se, acendendo em outros
corações o fogo sagrado. Da esperança primeiro, para, só mais tarde, chegar à terceira
irmã: a fé, como um retorno sobre si mesma. [...] A fé e o amor devem contemplar o
futuro com o olhar da confiança e, portanto, da esperança. A fé, unida à esperança, pode
ser apenas egoísmo. A esperança e o amor podem não ser suficientes para construir a fé
e, nesse caso, a felicidade seria apenas uma hipótese. É preciso as três, como acentuou
Paulo, e todos aspirassem às três, mas a maior delas é o amor... 8
Fica claro, assim, porque um dos mais belos textos de sua autoria é o
capítulo 13, da primeira epístola aos coríntios, que versa sobre a caridade e o
amor. Assim como o capítulo 11, epístola aos hebreus, que trata da fé.
Não nos esqueçamos, contudo, de que, balanceado as duas, em sua mente privilegiada,
ele conclui que o amor ainda é mais importante do que a própria fé, especialmente
a dinâmica do amor que se expressa na caridade, no serviço ao próximo, a tônica do
pensamento de Jesus. 7
A fé foi, sem dúvida, o instrumento que garantiu a Paulo a força moral
para vencer as vicissitudes da vida. Todavia, soube compreender que somente
o amor faz o homem elevar-se aos píncaros da felicidade verdadeira.
Coloca assim, sem equívoco, a caridade acima até da fé. É que a caridade está ao alcance
de toda gente: do ignorante, como do sábio, do rico, como do pobre, e independe de
qualquer crença em particular. Faz mais: define a verdadeira caridade, mostra-a não só
na beneficência, como no conjunto de todas as qualidades do coração, na bondade e na
benevolência para com o próximo. 1
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Tradução de Guillon
Ribeiro. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Cap. 15, item 7, p. 249.
2. A BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2002, p. 1922 (Atos dos
Apóstolos, 11:26 e nota de rodapé; “h“).
3. ______. Atos dos Apóstolos, 9:26-27, p. 1918; 11:25-26, p. 1922.
4. MIRANDA, Hermínio C. As marcas do Cristo. Volume 1. 4. ed. Rio de
Janeiro: FEB, 1999, p. 25.
5. ______. p. 26.
6. ______. p. 27.
7. ______. Cristianismo: a mensagem esquecida. 1.ed. Matão: O Clarim, 1998.
Cap. 11 (Fé, esperança e caridade) p. 221.
8. ______. p. 221-222.
9. ______. p. 226-227.
10. XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel.
32. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 14 (A edificação cristã) p. 125-126
(A missão de Paulo).
11. ______. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2006. Cap. 149 (Escamas), p. 333-334.
12. ______. Paulo e Estevão: episódios históricos do Cristianismo primitivo.
Pelo Espírito Emmanuel. 43 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Primeira parte,
cap. 8 (A morte de Estevão), p. 175-207.
13. ______. p. 217.
14. ______. Cap. 9 (Abigail cristã), p. 227.
15. ______. Cap. 10 (No caminho de Damasco), p. 230.
16. ______. p. 237.
17. ______. p. 237-238.
18. ______. p. 238-239.
19. ______. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 34. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2006. Cap. 17 (Cristo e nós), p. 51-52.
Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 102
O texto colocado entre aspas, em seguida às perguntas,
é a resposta que os Espíritos deram. Para destacar as notas e explicações
aditadas pelo autor, quando haja possibilidade de serem confundidas com o
texto da resposta, empregou-se um outro tipo menor. Quando formam
capítulos inteiros, sem ser possível a confusão, o mesmo tipo usado para
as perguntas e respostas foi o empregado.
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