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Subsídios de outras obras
Miramez:
O que por vezes acontece, é que o Espírito em boas condições intelectuais
pode voltar à Terra em outra vida física, sem condições de se expressar, o
que, contudo, não significa regressão. O que ele sabe, está registrado
para a eternidade. Ser-nos-á de grande valor conhecermos o Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo, e mediante o conhecimento, esforçamo-nos para
praticá-lo, mesmo que seja na gradação que a vida nos apresenta, porque
nesse esforço constante nascerá em nós uma luz que nunca se apagará, capaz
de nos trazer para o coração momentos de paz e de alegria, a nos dizer que
existe a felicidade.
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Subsídio fornecido pelo site IPEAK
Livro dos Espíritos :
273. Será possível que um homem de raça civilizada reencarne, por expiação, numa raça de selvagens?
"É;
mas depende do gênero da expiação. Um senhor que tenha sido de grande
crueldade para os seus escravos poderá, por sua vez, tornar-se escravo e
sofrer os maus tratos que infligiu a seus semelhantes. Um, que em certa
época exerceu o mando, pode, em nova existência, ter que obedecer aos
que se curvaram ante a sua vontade. Ser-lhe-á isso uma expiação, que
Deus lhe imponha, se ele abusou do seu poder. Também um Espírito bom
pode querer encarnar no seio de povos selvagens, ocupando posição
influente, para fazê-los progredir. Em tal caso, desempenha uma missão."
Revista Espírita=> junho de 1863=>
Do Princípio da Não retrogação do Espírito
Tendo
sido várias vezes levantadas questões sobre o princípio da não
retrogradação dos Espíritos, princípio diversamente interpretado, vamos
tentar resolvê-las. O Espiritismo quer ser claro para todos e não deixar
aos seus futuros seguidores nenhum motivo para discussão de palavras,
por isso todos os pontos suscetíveis de interpretação serão elucidados
sucessivamente.
Os
Espíritos não retrogradam, no sentido de que nada perdem do progresso
realizado. Eles podem ficar momentaneamente estacionários, mas de bons
não podem tornar-se maus, nem de sábios, ignorantes. Tal é o princípio
geral, que só se aplica ao estado moral e não à situação material, que
de boa pode tornar-se má, se o Espírito a tiver merecido.
Façamos
uma comparação. Suponhamos um homem do mundo, instruído, mas culpado de
um crime que o conduz às galés. Certamente há para ele uma grande
descida como posição social e como bem-estar material. À estima e à
consideração sucederam o desprezo e a abjeção. Entretanto, ele nada
perdeu quanto ao desenvolvimento da inteligência. Levará à prisão as
suas faculdades, os seus talentos, os seus conhecimentos. É um homem
decaído, e é assim que devem ser compreendidos os Espíritos decaídos.
Deus pode, pois, ao cabo de certo tempo de prova, retirar de um mundo
onde não terão progredido moralmente, aqueles que o tiverem desconhecido, que
se tiverem rebelado contra as suas leis, mandando que expiem os seus
erros e o seu endurecimento num mundo inferior, entre seres ainda menos
adiantados. Aí serão o que eram antes, moral e intelectualmente, mas
numa condição infinitamente mais penosa, pela própria natureza do globo,
e sobretudo pelo meio no qual se acharem. Numa palavra, estarão na
posição de um homem civilizado forçado a viver entre os selvagens, ou de
um homem educado condenado à sociedade dos forçados. Eles perderam sua
posição e suas vantagens, mas não regrediram ao estado primitivo. De
adultos, não se tornaram crianças. Eis o que se deve entender pela não
retrogradação. Não tendo aproveitado o tempo, é para eles um trabalho a
recomeçar. Em sua bondade, Deus não quer deixá-los por mais tempo entre
os bons, cuja paz perturbam, e é por isto que ele os envia para viverem
entre homens que eles terão por missão fazer com que progridam,
ensinando-lhes o que sabem. Por esse trabalho eles próprios poderão
adiantar-se e se regenerarem, expiando as faltas passadas, como o
escravo que economiza pouco a pouco para um dia comprar sua liberdade.
Mas, como o escravo, muitos só economizam dinheiro, em vez de amontoar
virtudes, as únicas que podem pagar seu resgate.
Esta
tem sido, até agora, a situação de nossa Terra, mundo de expiação e de
provas, onde a raça adâmica, raça inteligente, foi exilada entre as
raças primitivas inferiores que a habitavam antes dela. Tal a razão pela
qual há tantas amarguras aqui, amarguras que estão longe de sentir no
mesmo grau os povos selvagens.
Há,
certamente, retrogradação do Espírito no sentido de que retarda seu
progresso, mas não do ponto de vista de suas aquisições, em razão das
quais e do desenvolvimento de sua inteligência, sua degradação social
lhe é mais penosa. É assim que o homem do mundo sofre mais num meio
abjeto do que aquele que sempre viveu na lama.
Segundo
um sistema que tem algo de especioso à primeira vista, os Espíritos não
teriam sido criados para se encarnarem e a encarnação não seria senão o
resultado de sua falta. Tal sistema cai pela mera consideração de que
se nenhum Espírito tivesse falido, não haveria homens na Terra, nem em
outros mundos. Ora, como a presença do homem é necessária para o
melhoramento material dos mundos; como ele concorre por sua inteligência
e sua atividade para a obra geral, ele é uma das engrenagens essenciais
da Criação. Deus não podia subordinar a realização desta parte de sua
obra à queda eventual de suas criaturas, a menos que contasse para tanto
com um número sempre suficiente de culpados para fornecer operários aos
mundos criados e por criar. O bom-senso repele tal ideia.
A
encarnação é, pois, uma necessidade para o Espírito que, realizando a
sua missão providencial, trabalha para seu próprio adiantamento pela
atividade e pela inteligência que ele deve desenvolver a fim de prover à
sua vida e ao seu bem-estar. Mas a encarnação torna-se uma punição
quando, não tendo feito o que devia, o Espírito é constrangido a
recomeçar sua tarefa e multiplica suas existências corpóreas penosas por
sua própria culpa. Um estudante só é graduado após ter passado por
todas as classes. Essas classes são um castigo? Não. Elas são uma
necessidade, uma condição indispensável ao seu avanço. Mas se, pela
preguiça, for obrigado a repeti-las, aí é uma punição. Ser aprovado em
algumas é um mérito. O que é certo, portanto, é que a encarnação na
Terra é uma punição para muitos que a habitam, porque poderiam tê-la
evitado, ao passo que eles talvez a tenham duplicado, triplicado,
centuplicado, por sua própria culpa, assim retardando sua entrada em
mundos melhores. O que é errado é admitir, em princípio, a encarnação
como um castigo.
Outra
questão muitas vezes discutida é esta: Como o Espírito foi criado
simples e ignorante, com a liberdade de fazer o bem ou o mal, não teria
ele uma queda moral quando toma o mau caminho, considerando-se que ele
chega a fazer o mal que não fazia antes?
Esta
proposição não é mais sustentável que a precedente. Só há queda na
passagem de um estado relativamente bom a um pior. Ora, criado simples e
ignorante, o Espírito está, em sua origem, num estado de nulidade moral
e intelectual, como a criança que acaba de nascer. Se não fez o mal,
também não fez o bem; não é feliz nem infeliz; age sem consciência e sem
responsabilidade. Como nada tem, nada pode perder, nem pode
retrogradar. Sua responsabilidade só começa no momento em que se
desenvolve o seu livre-arbítrio. Seu estado primitivo não é, pois, um
estado de inocência inteligente e raciocinada. Consequentemente, o mal
que fizer mais tarde, infringindo as leis de Deus e abusando das
faculdades que lhe foram dadas, não é um retorno do bem ao mal, mas a
consequência do mau caminho por onde entrou.
Isto
nos conduz a outra questão. Nero, por exemplo, enquanto encarnado como
Nero, pode ter cometido mais maldades do que na sua precedente
encarnação? A isto respondemos sim, o que não implica que na existência
em que tivesse feito menos mal ele fosse melhor. Para começar, o mal
pode mudar de forma sem ser um mal maior ou menor. A posição de Nero,
como imperador, tendo-o posto em evidência, permitiu que seus atos
fossem mais notados. Numa existência obscura ele pode ter cometido atos
igualmente repreensíveis, posto que em menor escala, e que passaram
despercebidos. Como soberano, ele pôde mandar incendiar uma cidade. Como
uma pessoa comum, pôde queimar uma casa e fazer perecer a família. Um
assassino vulgar que mata alguns viajantes para despojá-los, se
estivesse no trono seria um tirano sanguinário, fazendo em grande escala
o que a posição só lhe permite fazer em escala reduzida.
Considerando
a questão sob outro ponto de vista, diremos que um homem pode fazer
mais mal numa existência que na precedente, mostrar vícios que não
tinha, sem que isto implique uma degeneração moral. Muitas vezes são as
ocasiões que faltam para fazer o mal. Quando o princípio existe em
estado latente, vem a ocasião e os maus instintos se desvelam.
A
vida ordinária nos oferece numerosos exemplos dessa ordem: Um homem que
era tido como bom, de repente revela vícios que ninguém suspeitava, e
que causam admiração. É simplesmente porque soube dissimular, ou porque
uma causa provocou o desenvolvimento de um mau germe. É bem certo que
aquele em quem os bons sentimentos estão fortemente arraigados não tem
nem mesmo o pensamento do mal. Quando tal pensamento existe, é que o
germe existe. Frequentemente apenas falta a execução.
Depois,
como dissemos, o mal, posto que sob diferentes formas, não deixa de ser
o mal. O mesmo princípio vicioso pode ser a fonte de uma porção de atos
diversos, provenientes de uma mesma causa. O orgulho, por exemplo, pode
fazer cometer um grande número de faltas, às quais se está exposto,
enquanto o princípio radical não for extirpado. Um homem pode, pois,
numa existência, ter defeitos que não teria manifestado numa outra e que
não são senão consequências várias de um mesmo princípio vicioso.
Para
nós, Nero é um monstro, porque cometeu atrocidades. Mas é crível que
esses homens pérfidos, hipócritas, verdadeiras víboras que semeiam o
veneno da calúnia, despojam as famílias pela astúcia e pelo abuso de
confiança, que cobrem suas torpezas com a máscara da virtude para
chegarem com mais segurança a seus fins e receberem elogios quando só
merecem a execração, é crível, dizíamos nós, que eles sejam melhores do
que Nero? Certamente não. Serem reencarnados num Nero, para eles não
seria uma regressão, mas uma ocasião para se mostrarem sob nova face.
Nessa condição, eles exibirão os vícios que ocultavam. Ousarão fazer
pela força o que faziam pela astúcia, eis toda a diferença. Mas essa
nova prova não lhes tornará o castigo senão mais terrível se, em vez de
aproveitar os meios que lhes são dados para reparar, deles se servem
para o mal. Entretanto, cada existência, por pior que seja, é uma
ocasião de progresso para o Espírito. Ele desenvolve a inteligência e
adquire experiência e conhecimentos que mais tarde o ajudarão a
progredir moralmente.