CAPÍTULO 
        XIX
        ACÊRCA DO DIVÓRCIO
ACERCA 
  DO DIVÓRCIO 
1 
  - E aconteceu que, tendo Jesus acabado estes discursos, partiu de Galiléia, 
  e veio para os confins da Judéia, além do Jordão. 
2 
  - E seguiram-no muitas gentes, e curou ali os enfermos. 
3 
  - E chegaram-se a ele os fariseus, tentando-o, e dizendo: 
É 
  por ventura lícito a um homem repudiar a sua mulher, por qualquer causa? 
  
4 
  - Ele, respondendo, lhes disse: Não tendes lido que quem criou o homem, 
  desde o princípio fê-los macho e fêmea? E disse: 
5 
  - Por isso deixará o homem pai e mãe, e ajuntar-se-á com 
  sua mulher, e serão dois numa só carne. 
6 
  - Assim que já não são dois, mas uma só carne. Não 
  separe logo o homem o que Deus ajuntou. 
O 
  casamento é uma instituição divina. Por meio do casamento, 
  Deus providencia os corpos materiais para os espíritos encarnarem e progredirem; 
  porque, como sabemos, é só pelo trabalho incessante, que o espirito 
  realiza, ora nos círculos materiais, ora nos espirituais, é que 
  se efetua sua evolução. 
No 
  ambiente do lar, encontramos os elementos indispensáveis para novos surtos 
  de progresso e de redenção. É também no aconchego 
  do lar, que ensaiamos nossos primeiros passos de amor para com nossos semelhantes. 
  À medida que formos evoluindo, alargaremos o círculo de nosso 
  amor, até que o amor que hoje dedicamos à nossa família, 
  o dedicaremos à humanidade. Erram por conseguinte, os que querem ver 
  no casamento apenas a influência das leis materiais. Ao lado das leis 
  materiais, quase que instintivas, funcionam também puras e santificantes 
  leis morais. Se as leis do instinto ligam os corpos, as leis morais ligam as 
  almas, e determinam cinco espécies de casamentos, em nosso planeta, a 
  saber: 
CASAMENTOS 
  POR AFINIDADE: 
Almas 
  gêmeas isto é, com o mesmo grau de evolução, unem-se 
  para progredirem juntas. Dão-nos o exemplo do casamento perfeito. O lar 
  é harmonioso. A vida exemplar que o casal vive, constitui um modelo. 
  
CASAMENTOS 
  DE PROVAS:
 
  O casamento é uma prova de resignação, paciência, 
  tolerância e fraternidade. Espíritos de diversos graus evolutivos 
  reúnem-se no mesmo lar, onde se esforçam por viverem em harmonia, 
  apesar da disparidade de gostos, de idéias e de inclinações, 
  que os separam. 
CASAMENTOS 
  DE EXPIAÇÃO: 
Espíritos 
  culpados, que erraram juntos em encamações anteriores, reúnem-se 
  no mesmo lar, para retificarem os erros do passado. 
CASAMENTOS 
  DE RESGATE: 
O 
  casamento é de resgate, quando os membros da família procuram 
  resgatar dívidas, que contraíram uns para com os outros, em encarnações 
  anteriores. Assim, o homem que atirou à lama uma mulher, na encarnação 
  seguinte poderá pedir para vir a ser seu marido, para dignificá-la. 
  A mulher, por cuja causa um homem se desviou, poderá, em futura encarnação, 
  servir-lhe de arrimo, para ajudá-lo a voltar ao reto caminho. Os pais 
  que se descuraram da educação moral dos filhos, poderão 
  pedir nova encarnação, em que lhes seja concedido trabalharem 
  para a melhoria de seus filhos extraviados, resgatando desse modo, o mal que 
  lhes causaram. 
CASAMENTOS 
  DE RENÚNCIA: 
O 
  casamento é de renúncia quando um ou os dois cônjuges, embora 
  não mais necessitando de encarnações terrenas, contudo 
  se encarnam para apressarem o progresso de seus familiares, que se atrasaram 
  no caminho da evolução. 
Como 
  vemos além de formarem uma só carne, marido e mulher obedecem 
  a sublimes leis morais, que não podem ser transgredidas impunemente. 
  
7 
  - Replicaram-lhe eles: Pois, por que mandou Moisés dar o homem à 
  sua mulher carta de desquite, e repudiá-la? 
8 
  - Respondeu-lhes: Porque Moisés, pela dureza de vossos corações, 
  vos permitiu repudiar a vossas mulheres, mas ao princípio não 
  foi assim. 
9 
  - Eu pois vos declaro que todo aquele que repudiar sua mulher, se não 
  é por causa da fornicação, e casar com outra, comete adultério, 
  e o que se casar com a que o outro repudiou, comete adultério. 
Quando 
  o egoísmo fala mais alto, endurecendo os corações dos cônjuges, 
  estes facilmente desprezam as leis morais, que lhes presidia à união, 
  e o casamento é, ordinariamente, rompido. Entretanto, ainda assim o Evangelho 
  proíbe a união dos cônjuges com terceiros, dando desta maneira 
  a entender claramente, que os laços do casamento são indissolúveis 
  aqui na terra enquanto os dois cônjuges estiverem encarnados. 
10 
  - Disseram-lhe seus discípulos: Se tal é a condição 
  de um homem a respeito de sua mulher, não convém casar-se. 
11 
  - Ao que ele respondeu: Nem todos são capazes desta resolução, 
  mas somente aqueles a quem isto foi dado. 
12 
  - Porque há uns castrados, que nasceram assim do ventre de sua mãe; 
  e há outros castrados, a quem outros homens fizeram tais; e há 
  outros castrados, que a si mesmo se castraram por amor do reino dos céus. 
  O que é capaz de compreender isto, compreenda-o. 
Ao 
  ouvirem tão novos ensinamentos e tão contrários ao costume 
  geral, os discípulos ficaram admirados. E Jesus lhes explica que, conquanto 
  fossem poucos, já existem na terra pessoas que compreendem o quanto de 
  sublime há no sagrado instituto da família. 
Os 
  que nasceram castrados, são aqueles que se desviaram pelo sexo, em encarnações 
  anteriores; e agora penetram na vida terrena, punidos naquilo por que pecaram. 
  
Os 
  que os homens castraram, são aqueles que sofreram essa crueldade, comum 
  no Oriente, ainda até há bem pouco tempo. 
Finalmente, 
  os que se castraram por amor do reino dos céus, são aqueles que 
  sabem dignificar as leis naturais do sexo, no sagrado instituto da família. 
  E também aqueles que, não tendo conseguido constituir família, 
  sabem manter-se em nobre e digna castidade. 
JESUS 
  ABENÇOA OS MENINOS 
13 
  - Então lhe foram apresentados vários meninos, para lhes impor 
  as mãos, e fazer oração por eles. E os discípulos 
  os repeliam com palavras ásperas. 
14 
  - Mas Jesus lhes disse: Deíxai os meninos, e não embaraceis que 
  eles venham a mim; porque destes tais é o reino dos céus. 
15 
  - E depois que lhes impôs as mãos, partiu dali. 
Destes 
  tais é o reino dos céus, significa que somente os que alcançaram 
  a pureza e a inocência das crianças, estão em estado de 
  merecerem a felicidade, que se origina sempre de uma consciência sem mácula. 
  
Estas 
  palavras de Jesus também são uma ordem, para que as crianças 
  sejam instruídas em seu Evangelho, desde pequeninas. Embaraçar 
  as crianças e mesmo repeli-las para que não se acerquem de Jesus, 
  simboliza a indiferença dos pais em não cuidarem da educação 
  evangélica de seus filhinhos. Proceder assim é um erro de lamentáveis 
  conseqüências espirituais; porque os pais se esquecem de indicar 
  aos filhos o caminho que facilmente os conduziria a Deus. 
É 
  muito comum depararmos com pais espíritas, que militam nas fileiras do 
  Espiritismo como médiuns ou como pregadores, e não sabem encaminhar 
  seus filhos para o caminho da espiritualidade e da evangelização, 
  deixando-os entregues a si mesmos. O resultado é que os filhos inexperientes, 
  privados do auxílio da experiência dos pais, desviam-se com facilidade, 
  preparando colheitas de lágrimas e de sofrimentos para si próprios 
  e para os pais que não souberam, ou não quiseram guiá-los 
  pelo caminho reto. 
O 
  MANCEBO RICO 
16 
  - E eis que, chegando-se a ele um, lhe disse: Bom Mestre, que obras boas devo 
  fazer, para alcançar a vida eterna? 
17 
  - Jesus lhe respondeu: Porque me perguntas tu o que é bom? Bom só 
  Deus o é. Porém, se tu queres entrar na vida, guarda os mandamentos. 
  
18 
  - Ele lhe perguntou: Quais? E Jesus lhe disse: Não cometerás homicídio. 
  Não adulterarás. Não cometerás furto. Não 
  dirás falso testemunho. 
19 
  - Honra a teu pai e à tua mãe, e amarás ao teu próximo 
  como a ti mesmo. 
20 
  - O mancebo lhe disse: Eu tenho guardado tudo isso desde a minha mocidade; que 
  é que me falta ainda? 
21 
  - Jesus lhe respondeu: Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, e dá-o 
  aos pobres e terás um tesouro no céu; depois vem, e segue-me. 
  
22 
  - O mancebo, porém, como ouviu esta palavra, retirou-se triste; porque 
  tinha muitos bens. 
Para 
  que ao desencarnar, o espírito atinja as regiões superiores do 
  mundo espiritual, não lhe basta somente guardar os mandamentos divinos. 
  É preciso que além de uma vida nobre e pura, tenha a coragem suficiente 
  de se desprender das coisas da terra. 
Respondendo 
  Jesus ao moço rico, que se desfizesse do que possuía em benefício 
  dos que nada tinham, mostrou-lhe que ainda lhe faltava a virtude da renúncia, 
  isto é, pensar nos outros antes de pensar em si. E lhe demonstrando que 
  precisava adquirir a virtude da renúncia, Jesus ensinou ao moço 
  rico que o excessivo apego às riquezas da terra, amarra a alma às 
  regiões inferiores, e não a deixa elevar-se para Deus. 
Ao 
  dizer Jesus que só Deus é bom, dá-nos uma lição 
  de humildade, pois, por nós próprios nada somos, se a bondade 
  divina não nos amparar. 
23 
  - E Jesus disse aos seus discípulos: Em verdade vos digo que um rico 
  dificultosamente entrará no reino dos céus. 
24 
  - Ainda vos digo mais: Que mais fácil é passar um camelo 
  pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino dos céus. 
O 
  poder e os gozos materiais que a riqueza proporciona; o orgulho que alimenta 
  nos corações; a sedução que exerce sobre as almas; 
  tudo isso torna a prova da riqueza uma das mais difíceis, que um espírito 
  tem de suportar no caminho da perfeição. 
A 
  riqueza é cheia de méritos para o futuro espiritual de uma alma, 
  quando é bem empregada; porque a riqueza é uma das alavancas do 
  progresso do mundo. Os ricos são os despenseiros dos bens materiais de 
  Deus. E como tal, devem zelar para que nada falte aos que nada possuem. E que 
  não seja por meio da fria caridade, que se limita a distribuir apenas 
  algumas moedas; mas sim, pelo exercício da caridade ativa, que consiste 
  em promover o trabalho, a instrução. O bem-estar e a moralização 
  da família humana. E como, ordinariamente, o rico se esquece de seus 
  deveres de mordomo, e usa, egoisticamente, só para si próprio, 
  os bens que lhe foram confiados, torna-se difícil sua ascenção 
  para Deus. 
25 
  - Ora os discípulos, ouvidas estas palavras, conceberam grande espanto, 
  dizendo: Quem poderá logo salvar-se? 
26 
  - Porém Jesus, olhando para eles, disse: Aos homens é isto impossível, 
  mas a Deus tudo é possível. 
Na 
  verdade, para Deus não é difícil que um rico se salve, 
  porque existe a lei da reencarnação, a qual permite a cada um 
  retificar os erros cometidos. Assim, aquele que empregou mal a riqueza, não 
  está perdido, porque é vontade de Deus que não se perca 
  nenhum de seus filhos; nas futuras encarnações, corrigirá 
  os maus atos que praticou pelo emprego errôneo da riqueza. E então 
  estará salvo. 
27 
  - Então, respondendo, Pedro lhe disse: Eis aqui estamos nós que 
  deixamos tudo, e te seguimos; que galardão pois será o nosso? 
  
28 
  - E Jesus lhes disse: Em verdade vos afirmo que vós, quando no dia da 
  regeneração estiver o Filho do homem sentado no trono da sua glória, 
  vós, torno a dizer, que me seguistes, também estareis sentados 
  sobre doze tronos, e julgareis as doze tribos de Israel. 
Paupérrimos 
  como eram, mesmo ao pouco que possuíam, os apóstolos souberam 
  renunciar, a fim de auxiliarem Jesus na grandiosa tarefa de regeneração 
  da humanidade. É justo, pois, que continuem a ser no mundo espiritual 
  os principais colaboradores de Jesus, na obra de evangelização 
  que se processa no mundo. 
Jesus 
  simboliza nas doze tribos de Israel a humanidade, e no cargo de juiz que confere 
  a cada apóstolo, a supremacia que conquistaram no trabalho evangélico. 
  
29 
  - E todo o que deixar, por amor do meu nome, a casa, ou os irmãos ou 
  as irmãs ou o pai ou a mãe ou a mulher ou os filhos ou as fazendas, 
  receberá cento por um, e possuirá a vida eterna. 
Os 
  interesses espirituais deverão sempre ser colocados acima dos interesses 
  materiais, e mesmo acima dos laços transitórios da família. 
  Por mais que amemos a casa, os irmãos, as irmãs, o pai, a mãe, 
  a mulher, o marido, os filhos e nossas riquezas, jamais consintamos que nos 
  sirvam de embaraço em nosso caminho para a espiritualidade. Especialmente 
  os médiuns e todos os que foram convocados para a luta no campo do Espiritismo, 
  nunca deverão deixar que os obstáculos criados no ambiente doméstico, 
  lhes façam esquecer de seus deveres sublimes. É comum os familiares 
  de um médium servirem de tentação para desviá-la 
  do desempenho de suas responsabilidades mediúnicas. Às vezes, 
  nossos entes queridos ainda não alcançaram 
  o grau de compreensão espiritual, que lhes possibilitaria avaliarem o 
  que significa o trabalho na seara de Jesus. E nesse estado de incompreensão, 
  criam dificuldades de toda a sorte, perturbando o trabalho do discípulo 
  fiel. É contra essa espécie de tentação, que Jesus 
  quer que nos precatemos. Ele aqui nos quer dizer que sejamos suficientemente 
  fortes para não cedermos, colocando acima de tudo, o trabalho divino 
  que nos foi confiado. 
30 
  - Porém, muitos primeiros virão a ser os últimos, e muitos 
  últimos virão a ser os primeiros. 
Nem 
  sempre os que primeiro recebem as palavras de Jesus, têm o ânimo 
  suficientemente forte para perseverarem até o fim, na observância 
  de seus ensinamentos. Há os que se desviam ou recebem as lições 
  com indiferença, sendo-lhes necessário longo período retificador, 
  antes de conquistarem o reino dos céus. E acontece que há os que 
  recebem as palavras de Jesus por último, e se esforçam de tal 
  modo por segui-las, que facilmente alcançam e deixam para trás 
  os que primeiro as ouviram. Vemos suceder a mesma coisa no Espiritismo: quantos 
  há que ouvem as lições espíritas desde cedo e, no 
  entanto, nenhum progresso espiritual conseguem; e quantos ingressam no Espiritismo 
  já no fim de suas encarnações, e ainda produzem ótimos 
  frutos espirituais para suas almas. 
Eliseu 
  Rigonatti