Caros amigos leitores , gostaríamos, na medida do possível ,contar com a interação de todos ,através de comentários , tornando se seguidores deste blog divulgando para seus conhecidos ,para que assim possamos estudar e aprendermos juntos , solidários e fraternos. Inscrevam-se no blog!

sábado, 4 de agosto de 2012

Atravessando a Floresta


PDF Imprimir E-mail
O espírita no mundo assemelha-se ao homem que se embrenha na selva... Determinado a vencê-la, ele precisa atravessar a floresta encontrando a grande clareira no vale ensolarado; no entanto as dificuldades são imensas para que as supere...
Ele se defrontará com os mais diversos perigos e obstáculos; sem bússola que o norteie, correrá o risco de perder-se na mata fechada; forças da Natureza conspirarão contra o tentame, porquanto a floresta, nunca dantes devassada, quer permanecer inexplorada...
À medida que avança, o homem se depara com cipoais a se enrodilharem nas pernas, provocando-lhes sucessivas quedas... Terrenos escorregadios, pântanos, areias movediças, serpentes, troncos praticamente intransponíveis, insetos de todas as espécies, mas o homem procede decidido a vencer a escura floresta, para alcançar, do outro lado, a claridade solar...
Assim, simbolicamente, acontece com o espírita. Podemos vê-lo no mundo atravessando a gigantesca floresta das provações; alem de lutar contra o próprio carma, contra as próprias limitações, ele se vê diante de problemas e empecilhos exteriores, no entanto precisa vencer o matagal espesso da vida turbulenta e alcançar o outro lado, varar a floresta, abrindo picadas para que outros, mais tarde, possam seguir-lhe os passos. Às vezes, o homem, na floresta, se sente como que detido pelas ramagens; caminhada vacilante, dois passos adiante, um passo atrás, esfalfado e sedento...
Assim também acontece com o espírita. Quantas vezes o companheiro de ideal supõe não esta realizando pregresso algum na romagem terrestre?! Quantas vezes se imaginam retrocedendo, em vez de avançar e se pergunta agoniado e aflito: - Estarei verdadeiramente caminhando, saindo do lugar, buscando a luz que me proponho?!...
Figuradamente, o espírita se defronta com o chão desnivelado da incompreensão e como trecho escorregadio da vaidade pessoal, todavia ele não deve se deter e não deve se lançar a essa aventura sem bússola que o norteie, para que não ande em círculo e não se perca no labirinto das amargas experiências de desilusão.
Com a bússola da fé, o espírita é convidado a caminhar, passo a passo, superando as dificuldades, podando os galhos pontiagudos de suas próprias mazelas, corrigindo-se em seus equívocos... Naturalmente lhe será lícito o descanso, mas não o desânimo; ser-lhe-á lícito o repouso no refazimento das energias, mas não a desistência diante do que se propõe...
A vida na terra se assemelha a uma floresta em que o espírito desencarnado se embrenha, como propósito de vará-la e alcançar o vale majestoso e belo de sua própria redenção espiritual.
De fato, o trilho é estreito, convenhamos, no entanto, que, dentro de um matagal, quanto mais estreito o trilho, com mais segurança e noção de ruma se poderá movimentar ao longo do seu curso...
Impossível abrir-se um caminho largo em meio à floresta sem lamentável perda de tempo, mesmo por que, para que o homem possa atravessá-la com êxito, não há necessidade que ele construa uma estrada ampla... Bastar-lhe-á pequeno espaço desimpedido, onde apóie os pés com firmeza para seguir adiante...
Que o espírita agradeça tudo o quanto possa constrangê-lo a manter-se na direção e tudo o quanto possa discipliná-lo para que chegue ao outro lado, no nosso caso, o outro lado significa o regresso à Vida Espiritual com a bagagem da experiência acumulada...
Que os companheiros de Doutrina Espírita compreendam, pois, o imperativo de seguirem adiante, com determinação e coragem, e continuem varando a floresta repleta de gritos e gemidos que nos representem o eco da própria consciência culpada.

Irmão José
Carlos a. Baccelli
Mediunidade, Corpo e Alma.

ALEGRIA


PDF Imprimir E-mail
 

Alegria como experiência de religiosidade é um valor que não tem preço. Essa sensação da alma, mais do que qualquer outra coisa, contagia e abranda o coração dos homens.

A maioria das pessoas tem uma visão distorcida da alegria, pois a confunde com festas frívolas e divertimentos que provocam sensações intensas, risos exagerados; enfim, satisfações puramente emocionais.
Aliás, não há nada de errado em ser jovial, bem-humorado, festivo e risonho. Sentir as emoções terrenas inclui-se entre as prerrogativas que o Criador destinou a suas criaturas. Vivenciar a normalidade das sensações humanas é um processo natural estabelecido pelo Mente Celestial.
Talvez as religiões fundamentalistas tenham mesclado as idéias contidas nas palavras alegria e tentação. Na realidade, o Mestre ensinava a seus seguidores que vivessem com alegria. “Eu vos digo isso para que a minha alegria esteja em vós”, diz Jesus, “e vossa alegria seja plena”.
A verdadeira alegria está associada à entrega total da criatura nas mãos da Divindade, ou mesmo a aceitação de que a Inteligência Celestial a tudo provê e socorre.
É a confiança integral em que tudo está justo e certo e a convicção ilimitada nos desígnios infalíveis da Providência Divina.
A palavra aleluia tem origem no hebreu “hallelu-yah” e significa “louvai com júbilo o Senhor”. Tem sido usada como cântico de alegria ou de ação de graças pela liturgia de muitas religiões a fim de glorificar a Deus. A designação “sábado de aleluia”, utilizada pela Igreja Católica, tem como fundamento a exaltação à alegria, visto que nesse dia se comemora o reaparecimento de Jesus Cristo depois da crucificação.
Viver em estado de alegria é estar plenamente sintonizado com nossa paternidade divina, através das mensagens silenciosas e sábias que a Vida nos endereça.
A “entrega a Deus” é a base de toda a felicidade. No entanto, o problema reside em algumas religiões que recomendam a “entrega” não a Deus, mas a mandatários ou representantes “divinos”, ou mesmo a congregações doutrinárias que impõem obediência e subordinação a seus diretores.
Condutas semelhantes acontecem em seitas ou em grupos dissidentes de uma religião, em que há uma entrega incondicional dos adeptos ao líder religioso e que resulta, inicialmente, numa suposta sensação de alegria e satisfação.
Na realidade, quando existe subordinação na nossa “entrega a Deus”, ela não pode ser considerada real, pois, mais cedo ou mais tarde, a criatura vai notar que está encarcerada intimamente e que lhe falta a verdadeira comunhão com o Criador.
Viver “em estado de graça” ou em “comunhão com Deus” é estar perfeitamente harmonizados com nossa natureza espiritual. É a alegria de repetir com Jesus Cristo: “Eu estou no Pai e o Pai está em mim”.
A felicidade é um trabalho interior que quase nunca depende de forças externas. Deus representa a base da alegria de viver, pois a felicidade provém da habilidade de percebermos as “verdadeiras intenções” da ação divina que habita em nós e do discernimento de que tudo o que existe no Universo tem sua razão de ser.
O homem carrega na sua consciência a lei de Deus, afirmam os Espíritos Superiores a Allan Kardec. “A lei natural é a lei de Deus e a única verdadeira para a felicidade do homem. Ela lhe indica o que deve fazer e o que não deve fazer, e ele não é infeliz, senão quando se afasta dela”.
Alegria como experiência de religiosidade é um valor que não tem preço. Essa sensação da alma, mais do que qualquer outra coisa, contagia e abranda o coração dos homens.
“Ninguém fica feliz por decreto”; sente imensa satisfação apenas quem está iluminado pela chama celeste. Rejubila-se realmente aquele que se identificou com a Divindade e descobriu que “a lei natural é a lei de Deus e a única verdadeira para a felicidade do homem”.
A alegria espontânea realça a beleza e a naturalidade dos comportamentos humanos. Cultivar o reino espiritual em nós facilita-nos a aprendizagem de que a alegria real não é determinada por fatos ou forças externas, mas se encontra no silêncio da própria alma, onde a inspiração divina vibra incessantemente.
(Francisco do Espírito Santo Neto por Hammed. In: Os prazeres da alma)

Construção Moral do Ser


PDF Imprimir E-mail
 
Construção Moral do Ser

O processo de transformação espiritual é lento; como tudo o que acontece na natureza é obra de paciência. Nada se improvisa. Ninguém se renova de um dia para outro ou mesmo de um ano para outro.
A renovação intima é obra demorada, que acontece através de perseverantes e repetidos esforços.
Ninguém se acredite ser o que ainda não é e ninguém espere dos outros o que ainda não consegue oferecer à expectativa alheia.
Em imprescindível que o espírito combata, sem tréguas, a si mesmo, corrigindo-se, pacientemente, nos menores deslizes, porque somente policiando os seus pensamentos considerados insignificantes e as suas reações tidas por desprezíveis, é que o espírito irá se fortalecendo na resistência contra a tentação que, em síntese, é fruto de suas próprias imperfeições – com trabalho paciente, como paciente é o trabalho do escultor que transforma em anjo a pedra bruta, como paciente é o trabalho da bordadeira que entretece no linho os mais perfeitos diagramas e como paciente é o esforço da árvore que, primeiro, produz flores para, depois, produzir frutos.
Ninguém desanime, porém; ninguém se entregue ao desalento ou desista de si mesmo! O trabalho da renovação interior é como se fora o trabalho da construção de um edifício: primeiro, o alicerce; depois, as paredes e o teto. Se essa primeira fase é relativamente rápida, a segunda, a fase do acabamento da construção moral do ser, é mais longa, exige habilidade, serviço especializado, bom gosto, apuro...
Muitas vezes percebemo-los desanimados diante das fraquezas que lhes são próprias; tristes diante dos equívocos que cometem no cotidiano... É que muitos de nós outros acreditamos trazer o Evangelho no coração quando, na realidade, apenas ainda o carregamos nas mãos...
Compreendamos! Tenhamos paciência. Não critiquemos. Sejamos indulgentes e esforçados, perseguindo o objetivo sem esmorecimento.
Que a paz do Senhor nos envolva e nos possibilite seguir sempre adiante na realização do melhor, nem que a caminhada para diante aconteça conosco como a caminhada do caracol que, a custo, arrasta sobre as costas o seu próprio fardo!...

Irmão José
Carlos A. Baccelli
Mediunidade Corpo e Alma

Síndrome de Pilatos

PDF Imprimir E-mail
Estamos ouvindo um companheiro em sofrimento externando a própria dor através das lágrimas e aqui estamos com a nossa palavra de fé e de incentivo ao trabalho de uma casa espírita, que, assim, pode ser comparada a um hospital erguido entre dois lados Vida...
Desencarnados enfermos e encarnados doentes, todos, ao mesmo tempo, necessitando do concurso do Divino Médico... Mas os enfermeiros, por vezes, também adoecem os médicos, não raro, igualmente, são pacientes; todos somos necessitados de tratamento dentro desse grande hospital...
Às vezes, temos a impressão de que estamos em pleno campo de batalha: granadas e metralhas, companheiros feridos, esvaindo-se em sangue, fraturas expostas... Precisamos de amparo mútuo, aquele que possui o movimento das pernas pode carregar aquele que, ferido, se arrasta. E o que está ferido nas pernas, se ainda enxerga, pode guiar quem teve a visão prejudicada...
Aparemo-nos uns aos outros, compreendamo-nos nas fraquezas que nos dizem respeito, entendamos a necessidade individual de aprimoramento e nos esforcemos pelo melhor no cotidiano.
As dificuldades existem, existirão sempre, a luta prosseguirá... Vez por outra, podemos escutá-los refletindo no silêncio do próprio recolhimento: - Meu Deus, por que tantos conflitos?!...
Saibam que quem não incomoda não é incomodado; quem não incomoda o mal não é incomodado por ele; o acomodado permanece inerte, no lugar que lhe diz respeito...
Reparemos a história do Cristianismo... Séculos de intrigas, de lutas, ambição pelo poder, sempre o interesse de alguns prevalecendo sobre o de muitos, o interesse do Senhor sendo postergado... Interesses que, infelizmente, ainda prevalecem sobre os interesses divinos... Se não interesse material, emocional; se não interesse emocional, intelectual, se não intelectual, interesse social... Deturpamos as palavras, desvirtuamos assuntos, interpretamos de forma equivocada, induzimos a falsas deduções...
Fomentamos a discórdia, melindres e nos consideramos isentos, livres de qualquer responsabilidade... Padecemos da Síndrome de Pilatos: pedimos a bacia com água para lavar as mãos; mergulhamos mãos sujas em águas barrentas...
Compreendamos, de forma superior, os acontecimentos; preservemos a obra defendamos a Doutrina, resguardemos o ideal... Responderemos bem pelas mais pelas nossas intenções do que pelos nossos atos!
Que o Senhor nos fortaleça, mantenha esta casa em paz, este grupo, os companheiros unidos no trabalho e na fraternidade. Não pedimos ao Senhor a paz que não merecemos, mas rogamos à Ele a paz que nos seja possível, pela intercessão de sua infinita misericórdia!

Irmão José

Mediunidade Corpo e Alma
Carlos A. Baccelli

Homens Fora do Corpo


PDF Imprimir E-mail

Conforme dissemos, os espíritos nada mais são que homens fora do corpo. Por incrível que pareça, não lhes basta à condição de desencarnados para que se liberem dos seus equívocos.
Os espíritos que entram em contato com os médiuns, em sua grande maioria, carecem de maiores esclarecimentos; muitos deles, mesmo depois da morte, continuam sustentando os seus pontos de vista...
As dimensões espirituais nas quais ainda nos movimentamos guardam grande similitude com os caminhos humanos ninguém encontra, de improviso, a região paradisíaca mencionada pelas religiões tradicionalistas. Aqui, onde presentemente estagiamos, existem, inclusive, os que questionam os Evangelhos, os que se opõem à idéia da reencarnação, os que não aceitam a tese do intercâmbio com os encarnados...
Médiuns sem uma formação doutrinária ideal, com base em Jesus e Kardec, correm o risco de se transformarem em intérpretes de grupos de espíritos que julgam ter a primazia da Verdade. Assim é que, no movimento espírita, encontramos correntes de espíritos que defendem a tese do corpo fluídico de Jesus concepção filosófica que começou no seio da própria igreja Católica desde os primórdios ou, ainda, a opinião controvertida de Ramatis, espírito orientalista, que tem conseguido fazer seguidores desavisados.
Enganam-se os que pensam que todos os medianeiros sejam espíritas; o mundo está repleto de sensitivos falsos Cristos e falsos profetas interpretando mensagens de grupos de Espíritos para a Terra espíritos que ainda se vinculam à igreja, espíritos apegados aos rigorismos das letras evangélicas, espíritos que, no corpo e fora dele, tentam influenciar o movimento espírita no Brasil, como, por exemplo, os adeptos de certos gurus indianos que se afirmam a reencarnação de Deus!...
Os médiuns e companheiros espíritas, embora respeitosamente, não devem ter receio de questionar os espíritos, que se pronunciam junto aos homens de acordo com as luzes que hajam alcançado. Muitos deles, é bom que se diga, tateiam, depois da morte, nas sombras em que se movimentam...
A codificação Espírita não foi concebida por um único cérebro, nem é fruto dos ditados póstumos de um único espírito. A universalidade do ensino dos Espíritos, com base no Evangelho do Cristo, em que se alicerça toda a civilização cristã, é que lhe garante autenticidade.
O que se afaste da Obra Kardequiana não é espírita: poderá ser Espiritualismo, mas não Espiritismo!
Allan Kardec, sem dúvida, não teve a pretensão da última palavra, mas o que vier depois dele, para obter o aval da Doutrina, necessita de lhe guardar fidelidade aos princípios básicos.
Dentro em breve, a mediunidade, como faculdade inerente a todos os homens, se geralizará, como, aliás, já vem acontecendo teremos médiuns católicos, médiuns pentecostais, médiuns messiânicos, médiuns budistas, médiuns livres pensadores... Não nos espantemos. No Além, existem espíritos para toda a natureza de médiuns. A luta maior da Doutrina não será, pois, em defesa da tese da sobrevivência, mas, sim, para preservar as lições do Senhor que, infelizmente, vêm encontrando certa resistência por parte, inclusive, de alguns confrades espíritas.

Livro: Conversando com os Médiuns.
Espírito: Odilon Fernandes.
Médium: Carlos A Baccelli.

A Mediunidade da Palavra

A Mediunidade da Palavra PDF Imprimir E-mail

Não nos esqueçamos de que somos todos médiuns da palavra, no cotidiano. Todos nós, normalmente quando na carne, exercemos a mediunidade da palavra.
A palavra é a materialização do pensamento, é o somatório do que se pensa e do que se sente. Através da palavra, influenciamos, induzimos criaturas à ação, criamos oportunidades... através da palavra, norteamos ou desequilibramos, elevamos ou rebaixamos, iluminamos ou obscurecemos.
Todos os homens estão no exercício legítimo da palavra. O verbo na criatura encarnada é o que mais trabalha... O homem faz mais com os lábios do que com as mãos, daí o significado e a importância de se selecionarem os assuntos para conversação do dia-a-dia. É a palavra que move o mundo – a palavra escrita, a palavra verbalizada, a palavra da imagem televisiva que se propaga a longas distâncias, a palavra das ondas hertzianas, a palavra no livro, no gesto, na atitude...
“No princípio era o Verbo”, ou seja, no princípio era a Palavra. Deus criou através da palavra: ” Faça-se a luz, e a luz se fez”... A palavra tem poder criador. A mediunidade da palavra extrapola qualquer outro dom medianímico... Pode mais, inclusive, que todas as faculdades mediúnicas reunidas, porquanto todas elas estão a serviço da palavra, que, por sua vez, está a serviço da idéia, da idéia do bem, do belo, da justiça, da idéia do que é nobre alto e digno.
Reflitamos nisto e não esqueçamos de que, em nossa motivação diária, estaremos através da palavra, à semelhança de um espelho, refletindo o que pensamos, o que intelectualmente se processa dentro de nós, o que concebemos, o que assimilamos.
Importante direcionarmos todo e qualquer assunto para o bem e não nos afastarmos da Verdade, nem que seja da Verdade transitória; já que estamos longe da Verdade absoluta, pelo menos sejamos fiéis à Verdade relativa e que a palavra pelo menos nos exteriorize a intenção correta em favor de todos.
O Evangelho surgiu através da mediunidade da palavra... Jesus conversando com o povo, esclarecendo, contando parábolas, fazendo citações.
Meditemos e nos consideremos todos, principalmente quando na experiência física, médiuns no constante exercício da palavra. O que estará a nossa palavra refletindo? Luz ou sombra? Estará a serviço do bem ou do mal? Qual é a nossa aspiração, o nosso objetivo? O que pretendemos? Já se disse, com razão, que a palavra é o nosso retrato sonoro... Pelo que dizemos, nos revelamos, porquanto a palavra é constituída de vibrações que vão além de si mesma e além do próprio cuidado com que emolduramos o pensamento através do vocabulário.


Carlos A. Baccelli
Odilon Fernandes

A Grande Educadora-Chama-se Dor.


Autor: Léon Denis

Chama-se Dor.



Revela-se na desventura do amante, na desolação da orfandade, na angústia da miséria, no alquebramento da saúde, no esquife do ser querido que se foi deixando atrás de si a lágrima e o luto, no opróbrio da desonra, na humilhação do cárcere, no aviltamento dos prostíbulos, na tragédia dos cadafalsos, na insatisfação dos ideais, na tortura das impossibilidades – no acervo das desilusões contra que se confunde e se decepciona o coração da Humanidade.



Não obstante, a Dor é a grande amiga a zelar pela espécie humana, junto dela exercendo missão elevada e santa.



Estendendo sobre as criaturas suas asas, úmidas sempre do orvalho regenerador das lágrimas, a Dor corrige, educa, aperfeiçoa, exalta, redime e glorifica o sentimento humano a cada vibração que lhe extrai através do sofrimento.



O diamante escravizado em sua ganga sofre inimagináveis dilacerações sob o buril do lapidário até poder ostentar toda a real pureza do grande valor que encerra. Assim também será a nossa alma, que precisará provar o amargor das desventuras para se recobrir dos esplendores das virtudes imortais cujos germens o Sempiterno lhe decalcou no ser desde os longínquos dias do seu princípio!



A alma humana é o diamante raro que a Natureza – Deus – criou para, por si mesmo, aperfeiçoar-se no desdobrar dos milênios, até atingir a plenitude do inimaginável valor que representa, como imagem e semelhança dAquele mesmo Foco que a concebeu. Mas o diamante – Homem – acha-se envolvido das brutezas das paixões inferiores. É um diamante bruto! Chega o dia, porém, em que os germes da imortalidade, nele decalcados, se revolucionam nos refolhos da sua consciência, nele palpitando, então, as ânsias por aquela perfeição que o aguarda, num destino glorificador: - Foi criado para as belezas do Espírito e vê-se bruto o inferior! Destinado a fulgir nos mostruários de esferas redimidas, reconhece-se imperfeito e tardo nas sombras da matéria! Sonha com a sublimização das alegrias em pátrias divinais, onde suas ânsias pelo ideal serão plenamente saciadas, mas se confessa verme, porquanto não aprendeu ainda sequer a dominar os instintos primitivos!



Então o diamante – Homem – inicia, por sua vontade própria, a trajetória indispensável do aperfeiçoamento dos valores que consigo traz em estado ignorado, e entra a sacudir de si a crosta das paixões que o entravam e entenebrecem.



E essa marcha para o Melhor, essa trajetória para o Alto denomina-se Evolução!



A luta, então, apresenta-se rude! É dolorosa, e lenta, e fatigante, e terrível! Dele requer todas as reservas de energias morais, físicas e mentais. Dilacera-lhe o coração, tortura-lhe a alma, e o martirológico, quase sempre, segue com ele, rondando-lhe os passos!



Mas seu destino é imortal, e ele prossegue!



E prosseguindo, vence!...



Então, já não é o bruto de antanho...



O diamante tornou-se jóia preciosa e refulge agora, pleno de méritos e satisfações eternas, nos grandes mostruários da Espiritualidade – esferas de luz que bordam o infinito do Eterno Artista, que é Deus!



A Dor, pois, é para o Espírito humano o que o Sol é para as trevas da noite tempestuosa: - Ressurreição! Porque, se este aclara os horizontes da Terra, levantando com seu brilho majestoso o esplendor da Natureza, aquela desenvolve em nosso ego os magnificentes dons que nele jaziam ignorados: - fecunda a inteligência, depurando o sentimento sob as lições da experiência, educando o caráter, dignificando, elevando, num progredir constante, todo o ser daquele em quem se faz vibrar, tal como o Sol, que vivifica e benfaz as regiões em que se mostra.



A Dor é o Sol da Alma...



A criatura que ainda não sofreu convenientemente carrega em si como que a aridez que desola os pólos glaciais e, como estes, é inacessível às elevadas manifestações do Bem, isto é, às qualidades redentoras que a Dor produz. Nada possuirá para oferecer aos que se lhe aproximam pelos caminhos da existência senão a indiferença que em seu ser se alastra, pois que é na desventura que se aprende a comungar com o Bem, e não pode saber senti-lo quem não teve ainda as fibras da alma tangidas pela inspiração da Dor!



O orgulho e o egoísmo, cancerosas chagas que corrompem as belas tendências do Espírito para os surtos evolutivos que o levarão a redimir-se; as vaidades perturbadoras do senso, as ambições desmedidas, funestas, que não raro arrastam o homem a irremediáveis, precipitosas situações; as torpes paixões que tudo arrebatam e tudo ferem e tudo esmagam na sua voragem avassaladora que infestam a alma humana, inferiorizando-a ao nível da brutalidade, e os quais a Dor, ferindo, cerceia, para implantar depois os fachos imortais de virtudes tais como a humildade, a fé, o desinteresse, a tolerância, a paciência, a prudência, a discrição, o senso do dever e da justiça, os dons do amor e da fraternidade e até os impulsos da abnegação e do sacrifício pelo bem alheio – remanescentes daquelas mesmas sublimes virtudes que de Jesus Nazareno fizeram o mensageiro do Eterno!



Ela, a Dor, é o maior agente do Sempiterno na obra gigantesca da regeneração humana! É a retorta de onde o Sentimento sairá purificado dos vírus maléficos que o infelicitam! Quanto maior o seu jugo, mais benefícios concederá ao nosso ego – tal como o diamante, que mais cintila, alindado, quanto maior for o número dos golpes que lhe talharem as facetas! É a incorruptível amiga e protetora da espécie humana:- zelando pela sua elevação espiritual, inspirando nobres e fraternas virtudes! Ela é quem, no Além-Túmulo, nos leva a meditar, através da experiência, produzindo em nosso ser a ciência de nós mesmos, o critério indispensável para as conquistas do futuro, de que hauriremos reabilitação para a consciência conturbada. É quem, a par do Amor, impele as criaturas à comiseração pelos demais sofredores, e a comiseração é o sentimento que arrasta à Beneficiência. E é ainda ela mesma que nos enternece o coração, fazendo-nos avaliar pelo nosso o infortúnio alheio, predispondo-nos aos rasgos de proteção e bondade; e proteger os infelizes é amar o próximo, enquanto que amar o próximo é amar a Deus, pautando-se pela suprema lei recomendada no Decálogo e exemplificada pelo Divino Mestre!



Por isso mesmo, o coração que sofre não é desgraçado, mas sim venturoso, porque renasce para as auroras da Perfeição, marcha para o destino glorioso, para a comunhão com o Criador Onipotente! Prisioneiro do atraso, o homem somente se desespera sob os embates da Dor porque não a pode compreender ainda. Ela, porém, é magnânima e não maléfica. Não é desventura, é necessidade. Não é desgraça, é progresso. Não é castigo, é lição. Não é aniquilamento, é experiência. Nem é martírio, mas prelúdio de redenção! Notai que – depois do sacrifício na Cruz do Calvário foi que Jesus se aureolou da glória que converterá os séculos:



- “Quando eu for suspenso, atrairei todos a mim”. – Ele próprio o confirmou, falando a seus discípulos.



Sob o seu ferrete é que nos voltamos para aquele misericordioso Pai que é o nosso último e seguro refúgio, a nossa consolação suprema!



As ilusões passageiras da Terra, os prazeres e as alegrias levianas que infestam o mundo, aviltando o sentimento de cada um, nunca fizeram de seus idólatras almas aclaradas pelas chamas do amor a Deus. É que – para levantar na aridez das nossas almas a pira redentora da Fé só há um elemento capaz, e esse elemento é a Dor! Ela, e só ela, é bastante poderosa para reconciliar os homens – filhos pródigos – com o seu Criador e Pai!



Seu concurso é, portanto, indispensável para nos aperfeiçoar o caráter, e inestimável é o seu valor educativo. Serena, vigilante, nobre heróica – ela é o infalível corretivo às ignomínias do coração humano!



Nada há mais belo e respeitável do que uma alma que se conservou serena e comedida em face do infortúnio. Palpita nessa alma a epopéia de todas as vitórias! Responde por um atestado de redenção! Seu triunfo, conquanto ignorado pelo mundo, repercutiu nas regiões felizes do Invisível, onde o comemoraram os santos, os mártires de todos os tempos, os gênios da sabedoria e do bem, almas redimidas e amigas que ali habitam, as quais, como todos os homens que viveram e vivem sobre a Terra, também conheceram as correções da Dor, ela é a lei que aciona a Humanidade nos caminhos para o Melhor até a Perfeição!



Ó almas que sofreis! Enxugai o vosso pranto, calai o vosso desespero! Amai antes a vossa Dor e dela fazei o trono da vossa Imortalidade, pois que, ao findar dessa trajatória de lágrimas a que as existências vos obrigam – é a glorificação eterna que recebereie por prêmio!



Salve, ó Dor bendita, nobre e fiel educadora do coração humano!



E glória ao Espiritismo, que nos veio demonstrar a redenção das almas através da Dor!



(Mensagem recebida pela médium Yvonne Pereira)



Revista Reformador – Fevereiro 1978

Mensagem do Blog

Meus caros confrades e irmãos de jornada, iniciamos nosso blog há poucos dias, e estamos contando com as participações de todos para melhor construir esta ferramenta importante para a divulgação do espiritismo que leva as palavras de divulgadores, articulistas, de espíritos abnegados aos que buscam consolo, elucidações , aperfeiçoamento  moral , saúde, esperança, ânimo, coragem ....
Esperamos interagir através de comentários para aprendermos e ensinarmos na medida de nossa evolução e conhecimento , contamos com a colaboração de todos vocês e agradecemos a força que nos estimula.
Saudações Fraternas
Negy
OBS: Por favor votem na enquete ao lado.

A morte divide as fases da nossa Vida



Autor: Martins Peralva

"Necessário vos é nascer de novo" (Jesus a Nicodemos)





Entre inúmeros benefícios que decorrem do estudo e da assimilação da Doutrina Espírita, podemos indicar, sem dificuldade, aquele que orienta o homem acerca do milenário problema da Morte.

Inegavelmente, sem qualquer partidarismo, somos levados a compreender que só o Espiritismo estuda o velho problema, com riqueza de pormenores, uma vez que sobre tal assunto muito pouco, ou que nada, disseram as demais religiões, que se limitaram, simplesmente, a admitir e anunciar a existência do Mundo Espiritual.

Sem as consoladores luzes da nossa amada Doutrina, marcharia o homem para o túmulo - diremos melhor; para a Pátria da Verdade - sem idéia segura do que lhe acontecerá após o choque biológico do desenlace.

Nenhuma noção da morte.

Nenhum conhecimento das leis admiráveis que rege a vida no plano espiritual.

Nenhuma informação sobre o que sucede a ama durante e depois da desencarnação.

Em suma, verdadeiro cego, ante o mundo grandioso que o aguarda; um indígena, atônito, perplexo nos pórticos de estranha, quão maravilhosa civilização.

Essa ignorância, praticamente total, a respeito de tão importante problema, é a triste herança de velhas e novas religiões mestras no ocultar e fantasiar a realidade da vida além das fronteiras terrenas.

Religiões que procederam e procedem à maneira dos cronistas sociais modernas: depois eu conto¼

O Espiritismo é profundamente, intensamente realista, tanto nesse como em todos os assuntos de interesse da alma eterna.

Identificando a criatura, sem subterfúgio de qualquer espécie, com os seus postulados, fazendo-a absorver a parcela de verdade que ela suporta, torna-se tranqüila ante a perspectiva da desencarnação.

Não cremos, nem anunciamos um Céu grandioso, adquirível à custa de promessas, espórtulas, louvaninhas ou petitórios, nem um inferna tenebroso, eterno, de onde jamais sairemos.

O nosso conceito a respeito da morte e de suas conseqüências, se alicerça no Evangelho: "A cada um será dado de acordo com as suas obras".

Seria, naturalmente, leviandade afirmarmos que o Espiritismo já revelou, em toda a sua extensão e plenitude, a vida no plano extrafísico.

Expressando, todavia, a misericórdia divina, vem erguendo gradualmente, em doses nem sempre homeopáticas, a cortina que separa o mundo físico do mundo espiritual, consentindo estendamos o olhar curioso, indagativo, sobre o belo panorama da vida além da carne.

O espírita convicto não teme a morte, nem para si nem para os outros, mas procurar cumprir, da melhor maneira possível, apesar de suas imperfeições, imperfeições que não desconhece, os deveres que lhe cabem na erra, aguardando, assim, confiante, a qualquer tempo, hora e lugar, o momento da Grande Passagem.

Não a considera pavorosa, lúgubre, terrificante, tampouco a define por suave e milagrosa porta de redenção e felicidade.

O Espiritismo ensina, com apoio no Cristianismo, que não há das vidas, mas sim duas fases, que se prolongam, de uma só vida.

Se a Doutrina preleciona: "nascer, morre, renascer ainda, progredir continuamente" Jesus notifica a Nicodemos: "necessário vos é nascer de novo".

A uma daquelas fases, dá-se o nome de Etapa Corporal. Vai do berço ao túmulo. À outra, dá-se o nome de Etapa Espiritual. Vai do túmulo ao berço.

A nossa alma é como o Sol, que se esconde no horizonte, ao pôr de um dia, para, no alvorecer de novo dia, retornar pelo mesmo caminho.

A vida, em si mesma, é sublime cadeia de experiências que se repetem, séculos e mais séculos, até que obtenhamos a perfeição.

Maravilhosa cadeia, cujos elos se entrelaçam, se entrosam, se harmonizam, justapostos...

Pensando atuando dentro da conceituação, estranha para muitos, por enquanto, porém muito lógica e racional para nós, sabe o espírita, em tese, o que a Morte, como fenômeno simplesmente transitivo, lhe reservará.

Sabe que o sistema de vida adotado aqui na Terra, o seu comportamento ético, terá justa e equânime correspondência no mundo espiritual que é indefectivamente, um prolongamento do terráqueo.

Boas sementes, bons frutos produzem.

Más sementes, amargos frutos produzem.

Seremos, aqui e em qualquer parte, o resultado de nós mesmos, de nossos atos, pensamentos e palavras, sem embargo da generosas intercessões de amigos que se nos anteciparam na Grande Viagem.

Proporcionando alegria e amparo, alimento e instrução, aqui na Terra, aos nossos semelhantes, a Lei nos assegurará, no Plano Espiritual, instrução e alimento, amparo e alegria.

Tais noções, hauridas no Espiritismo, tornam o homem mais responsável e mais cuidadoso, mais esclarecido e mais consciente, compelindo-o a passos mais seguros, dentro da Vida - em suas duas faces - para que a Vida lhe sorria, agora e sempre.

Evidentemente, sem subestimar, nem sobreestimar a morte, o espírita caminha, luta, sofre, trabalha e evolui conscientemente, na direção do Infinito Bem, felicidade, os renas cimentos, sucessivos a que se referiu Jesus, no diálogo com Nicodemos.

A Família como Instrumento de Redenção Espiritual

Autor: Deolindo Amorim e Hermínio C. Miranda.


... Reconcilia-te com o teu adversário – advertiu Cristo – enquanto estás a caminho com ele.

E não é precisamente no círculo aconchegante da família que estamos a caminho com aquele que a nossa insensatez converteu em adversário?

O espiritismo coloca, pois, sob perspectiva inteiramente renovada e até inesperada, além de criativa e realista, a difícil e até agora inexplicável problemática do inter-relacionamento familial. Se um membro de nossa família tem dificuldades em nos aceitar, em nos entender, em nos amar, podemos estar certos de que tais dificuldades foram criadas por nós mesmos num relacionamento anterior em que as nossas paixões ignoraram o bom senso.

- E a repulsão instintiva que se experimenta por algumas pessoas, donde se origina? Perguntou Kardec aos seus instrutores (LIVRO DOS ESPÍRITOS, Pergunta 389).

- São espíritos antipáticos que se adivinham e reconhecem, sem se falarem.

O ponto de encontro de muitas dessas antipatias, que necessitam do toque mágico do amor e do entendimento, é a família consangüínea, célula de um organismo mais amplo que é a família espiritual, que por sua vez, é a célula da instituição infinitamente mais vastas que são a família mundial e, finalmente, a universal.

A Doutrina considera a instituição do casamento como instrumento do “progresso na marcha da humanidade” e, reversamente, a abolição do casamento como “uma regressão à vida dos animais”. (Questões 695 e 696, de O LIVRO DOS ESPÍRITOS). Como vimos há pouco, é também essa a opinião dos cientistas especializados responsáveis.

Ao comentar as questões indicadas, Kardec acrescentou que – “O estado de natureza é o da união livre e fortuita dos sexos. O casamento constitui um dos primeiros atos de progresso nas sociedades humanas, porque estabelece a solidariedade fraterna e se observa entre todos os povos, se bem que em condições diversas”.

No que, mais uma vez, estão de acordo estudiosos do problema do ponto de vista científico e formuladores e divulgadores da Doutrina Espírita.

Isto nos leva à delicada questão do divórcio, reconhecido como uma das principais causas desagregadoras do casamento e, por extensão, da família.

O problema da indissolubilidade do casamento foi abordado pelos Espíritos, de maneira bastante sumária, na Questão nº. 697. Perguntados sobre se “Está na lei da Natureza, ou somente na lei humana a indissolubilidade absoluta do casamento”, responderam na seguinte forma:

- É uma lei muito contrária à da Natureza. Mas os homens podem modificar suas leis; só as da Natureza são imutáveis.

O que, exatamente, quer dizer isso?

Em primeiro lugar, convém chamar a atenção para o fato de que a resposta foi dada no contexto de uma pergunta específica sobre a indissolubilidade absoluta. Realmente, a lei natural ou divina não impõe inapelavelmente um tipo rígido de união, mesmo porque o livre arbítrio é princípio fundamental, direito inalienável do ser humano. “Sem o livre arbítrio – consta enfaticamente da Questão nº. 843 de O LIVRO DOS ESPÍRITOS – o homem seria máquina”.

A lei natural, por conseguinte, não iria traçar limites arbitrários às opções humanas, encadeando homens e mulheres a um severo regime de escravidão, que poderá conduzir a situações calamitosas em termos evolutivos, resultando em agravamento dos conflitos, em lugar de os resolver, ou pelo menos atenuá-los.

Ademais, como vimos lembrando repetidamente, o Espiritismo não se propõe a ditar regras de procedimento específico para cada situação da vida. O que oferece são princípios gerais, é uma estrutura básica, montada sobre a permanência e estabilidade de verdades testadas e aprovadas pela experiência de muitos milênios. Que dentro desse espaço se movimente a criatura humana no exercício pleno de seu livre arbítrio e decida o que melhor lhe convém, ante o conjunto de circunstâncias em que se encontra.

O casamento é compromisso espiritual previamente negociado e acertado, ainda que nem sempre aceito de bom grado pelas partes envolvidas. São muitos, senão maioria, os que se unem na expectativa de muitos anos de turbulência e mal-entendidos porque estão em débito com o parceiro que acolhem, precisamente para que se conciliem se ajustem, se pacifiquem e se amem ou, pelo menos, se respeitem e estimem.

Mergulhados, porém, na carne, os bons propósitos do devedor, que programou para si mesmo um regime de tolerância e autocontrole, podem falhar. Como também pode exorbitar da sua desejável moderação o parceiro que vem para receber a reparação, e em lugar de recolher com serenidade o que lhe é devido (e outrora lhe foi negado) em atenção, apoio, segurança e afeto, assume a atitude do tirano arbitrário que, além de exigir com intransigência o devido, humilha, oprime e odeia o parceiro que, afinal de contas, está fazendo o possível, dentro das suas limitações, para cumprir seu compromisso. Nesses casos, o processo de ajuste – que será sempre algo difícil mas poderá desenrolar-se em clima de mútua compreensão – converte-se em vingança irracional.

Numa situação dessas, mais freqüentes do que poderíamos supor, a indissolubilidade absoluta a que se refere a Codificação seria, de fato, uma lei antinatural. Se um dos parceiros da união, programada com o objetivo de promover uma retificação de comportamento, utilizou-se insensatamente da sua faculdade de livre escolha, optando pelo ódio e a vingança, quando poderia simplesmente recolher o que lhe é devido por um devedor disposto a pagar, seria injusto que a lei recusasse a este o direito de recuar do compromisso assumido, modificar seus termos, ou adiar a execução, assumindo, é claro, toda as responsabilidades decorrentes de seus atos, como sempre, aliás.

A lei divina não coonesta a violência que um parceiro se disponha a praticar sobre o outro. Além do mais, a dívida não é tanto com o indivíduo prejudicado quanto com a própria lei divina desrespeitada. No momento em que arruinamos ou assassinamos alguém, cometemos, claro, um delito pessoal de maior gravidade. É preciso lembrar, contudo, que a vítima também se encontra envolvida com a lei, que, paradoxalmente, irá exibir a reparação da falta cometida, não para vingá-la, mas para desestimular o faltoso, mostrando-lhe que cada gesto negativo cria a sua matriz de reparação. O Cristo foi enfático e preciso ao ligar sempre o erro à dor do resgate. “Vai e não peques mais, para que não te aconteça coisa pior”, disse ele.

Não há sofrimento inocente, nem cobrança injusta ou indevida. O que deve paga e o que está sendo cobrado é porque deve. Assim a própria vítima de um gesto criminoso é também um ser endividado perante a lei, por alguma razão concreta anterior, ainda que ignorada. Se, em lugar de reconciliar-se, ela se vingar, estará reabrindo sua conta como novo débito em vez de saldá-la.

A lei natural, portanto, não prescreve a indissolubilidade mandatária e absoluta do casamento, como a caracterizou Kardec na sua pergunta. Conseqüentemente, a lei humana não deve ser mais realista do que a outra que lhe é superior; deve ser flexível, abrindo espaço para as opções individuais do livre arbítrio.

Isso, contudo, está longe de significar uma atitude de complacência ou de estímulo à separação dos casais em dificuldades. O divórcio é admissível, em situações de grave conflito, nas quais a separação legal assume a condição de mal menor, em confronto com opções potencialmente mais graves que projetam ameaçadoras tragédias e aflições imprevisíveis: suicídios, assassinatos, e conflitos outros que destroem famílias e acarretam novos e pesados compromissos, em vez de resolver os que já vieram do passado por auto-herança.

Convém, portanto, atentar para todos os aspectos da questão e não ceder precipitadamente ao primeiro impulso passional ou solicitação do comodismo ou do egoísmo. Dificuldades de relacionamento são mesmo de esperar-se na grande maioria das uniões que se processam em nosso mundo ainda imperfeito. Não deve ser desprezado o importante aspecto de que o casamento foi combinado e aceito com a necessária antecipação, precisamente para neutralizar diferenças e dificuldades que persistem entre dois ou mais Espíritos.

O que a lei divina prescreve para o casamento é o amor, na sua mais ampla e abrangente conotação, no qual o sexo é apenas a expressão física de uma profunda e serena sintonia espiritual. Estas uniões, contudo, são ainda a exceção e não a norma. Ocorre entre aqueles que, na expressão de Jesus, Deus juntou, na imutável perfeição de suas leis. Que ninguém os separe, mesmo porque, atingida essa fase de sabedoria, entendimento e serenidade, os Espíritos pouco se importam de que os vínculos matrimoniais sejam indissolúveis ou não em termos humanos, dado que, para eles vige a lei divina que já os uniu pelo vínculo supremo do amor.

Em suma, recuar ante uma situação de desarmonia no casamento, de um cônjuge difícil ou de problemas aparentemente insolúveis é gesto e fraqueza e covardia de graves implicações. Somos colocados em situações dessas precisamente para resolver conflitos emocionais que nos barram os passos no caminho evolutivo. Estaremos recusando exatamente o remédio prescrito para curar mazelas persistente que se arrastam, às vezes, por séculos ou milênios aderidas à nossa estrutura espiritual.

A separação e o divórcio constituem, assim, atitudes que não devem ser assumidas antes de profunda análise e demorada meditação que nos levem à plena consciência das responsabilidades envolvidas.

Como escreveu Paulo com admirável lucidez e poder de síntese.

_ “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”.

O Espiritismo não é doutrina do não e sim da responsabilidade, Viver é escolher, é optar, é decidir. E a escolha é sempre livre dentro de um leque relativamente amplo de alternativas. A semeadura, costumamos dizer, é voluntária; a colheita é que é sempre obrigatória.

É no contexto da família que vem desaguar um volume incalculável de conseqüências mais ou menos penosas resultantes de desacertos anteriores, de decisões tomadas ao arrepio das leis flexíveis e, ao mesmo tempo, severas, que regulam o universo ético em que nos movimentamos.

Para que um dia possamos desfrutar o privilégio de viver em comunidades felizes e harmoniosas, aqui ou no mundo póstumo, temos de aceitar, ainda que relutantemente, as regras do jogo da vida. O trabalho da reconciliação com espíritos que prejudicamos com o descontrole de nossas paixões, nunca é fácil e, por isso, o comodismo nos empurra para o adiantamento das lutas e renúncias por onde passa o caminho da vitória.

Como foro natural de complexos problemas humanos e núcleo inevitável das experiências retificadoras que nos incumbe levar a bom termo, a família é instrumento da redenção individual e, por extensão, do equilíbrio social.

Não precisaria de nenhuma outra razão para ser estudada com seriedade e preservada com firmeza nas suas estruturas e nos seus propósitos educativos.