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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno."Criminosos Arrependidos"


O Espírito de Castelnaudary
Rumores e outras estranhas e várias manifestações ocorridas numa casinha perto de Castelnaudary, faziam-na crer habitada por fantasmas, mal-assombrada, etc. Assim foi dita casa exorcizada em 1848, aliás sem resultado. O proprietário Sr. D., pretendendo habitá- la, faleceu repentinamente alguns anos depois; e seu filho, animado do mesmo desejo, ao penetrar-lhe um dos compartimentos, recebeu de mão desconhecida vigorosa bofetada e, como estivesse só, não teve a menor dúvida de uma origem oculta, razão esta que o levou a abandonar a casa definitivamente. No lugar corria uma versão segundo a qual um grande crime fora cometido ali.
O Espírito que dera a bofetada foi evocado na Sociedade de Paris, em 1859, e manifestou-se por sinais de tamanha violência, que foram improfícuos todos os esforços para acalmá-lo. Interrogado S. Luís a respeito do assunto, respondeu: "É um Espírito da pior espécie, verdadeiro monstro; fizemo-lo comparecer, mas não obstante tudo quanto lhe dissemos não foi possível obrigá-lo a escrever. Ele possui o seu livre-arbítrio, do qual o infeliz tem feito triste uso".
P. Este Espírito é passível de melhora?
R. Por que não? Pois não o são todos, este como os outros?
É possível entretanto que haja nisso dificuldades, porém a permuta do bem pelo mal acabará por sensibilizá-lo. Orai em primeiro lugar e, se o evocardes daqui a um mês, vereis a transformação operada.
Novamente evocado mais tarde, o Espírito mostrou-se mais brando e, pouco a pouco, submisso e arrependido. Explicações posteriores, ministradas não só por ele como por outros Espíritos, deram em resultado ficarmos sabendo que, em 1608, habitando aquela casa, assassinara um irmão por motivos de terrível ciúme, degolando-o durante o sono. Alguns anos decorridos, também assassinara a esposa.

Criminosos Arrependidos (continuação)
O seu falecimento ocorreu em 1659, na idade de 80 anos, sem que houvesse respondido por estes crimes, que pouca atenção despertaram naquela época de balbúrdias. Depois da morte, jamais cessara de praticar o mal, provocando vários acidentes, ocorridos naquela casa.
Um médium vidente que assistiu à primeira evocação o viu no momento em que pretendiam forçá-lo a escrever, quando sacudiu violentamente o braço do médium. De medonha catadura, trajava uma camisa ensangüentada, tendo na mão um punhal.
1. P. (A S. Luís) — Tende a bondade de nos descrever o gênero de suplício deste Espírito.
R. É atroz, porque está condenado a habitar a casa em que cometeu o crime, sem poder fixar o pensamento noutra coisa a não ser no crime, tendo-o sempre ante os olhos e acreditando na eternidade dessa tortura. Está como no momento do próprio crime, porque qualquer outra recordação lhe foi retirada e interdita toda comunicação com qualquer outro Espírito. Sobre a Terra, só pode permanecer naquela casa, e no Espaço só lhe restam solidão e trevas.
2. Haveria um meio de o desalojar dessa casa? Qual seria esse meio?
R. Quando alguém quer ficar livre de obsessões de semelhantes Espíritos, o meio é fácil — orar por eles. Contudo é precisamente isso que se deixa de fazer muitas vezes: prefere-se intimidá-los com exorcismos que, aliás, muito os divertem.
3. Insinuando às pessoas interessadas essa idéia de orar por ele, fazendo-o também nós, conseguiríamos desalojá-lo?
R. Sim, mas reparai que eu disse para orar e não para mandar orar.
4. Estando em tal situação há dois séculos, apreciará ele todo esse tempo como se fora encarnado, isto é, o tempo parecer-lhe-á tanto ou menos longo do que quando na Terra?
R. Mais longo; o sono não existe para ele.
5. Disseram-nos que o tempo não existe para os Espíritos e que um século, para eles, não passa de um instante na eternidade. Dar-se-á efetivamente esse fato para com todos os Espíritos?
R. Não, por certo, porquanto isso só se dá com os Espíritos que têm atingido elevadíssimo grau de adiantamento; para os inferiores, porém, o tempo é freqüentemente moroso, sobretudo quando sofrem.
6. Donde vinha esse Espírito antes da sua encarnação?
R. Tivera uma existência entre tribos das mais ferozes e selvagens e, precedentemente, em planeta inferior à Terra.
7. Severamente punido agora por esse crime, se-lo-ia igualmente pelos que porventura tivesse cometido, como é de supor, quando vivendo entre selvagens?
R. Sim, porém não tanto, uma vez que, por ser mais ignorante, menos alcançava a extensão do delito.
8. O estado em que se vê esse Espírito é o dos seres vulgarmente designados por danados?
R. Não, em absoluto, pois há condições ainda mais horrorosas. Os sofrimentos estão longe de ser os mesmos para todos, variando conforme seja o culpado mais ou menos acessível ao arrependimento. Para este, aquela casa é o seu inferno, outros trazem esse infer no em si mesmos, pelas paixões que os atormentam sem que possam saciá-las.
9. Não obstante a sua inferioridade, este Espírito é sensível aos efeitos da prece, o que também temos verificado com Espíritos da mesma forma perversos e da mais ínfima natureza; entretanto, Espíritos há que, esclarecidos, de inteligência mais desenvolvida, demonstram completa ausência de bons sentimentos e zombam de tudo o que há de mais sagrado; a nada se comovendo e até não dando tréguas ao seu cinismo...
R. A prece só aproveita ao Espírito que se arrepende; para aqueles que, cheios de orgulho, se revoltam contra Deus e que persistem no erro, exagerando-o mesmo, tal como procedem os infelizes; para eles a prece nada adianta nem adiantará senão quando tênue vislumbre de arrependimento começar a germinar-lhes na consciência. A ineficácia da prece também é para eles um castigo. Enfim, ela só alivia os não totalmente endurecidos.
10. Vendo-se um Espírito insensível à ação da prece, será motivo para que se deixe de orar por ele?
R. Não, porquanto, cedo ou tarde, a prece poderá triunfar do seu endurecimento e sugerir-lhe benéficos pensamentos. O mesmo acontece com determinados doentes nos quais a ação medicamentosa só se torna sensível depois de muito tempo, e vice-versa. Compenetrando-nos bem de que todos os Espíritos são capazes de progresso, e que nenhum é fatal e eternamente condenado, fácil nos será compreender a eficácia da prece em quaisquer circunstâncias. Por mais ineficaz que ela possa parecer-nos à primeira vista, a verdade é que contém germes em si mesma, bastante benéficos, para bem predisporem o Espírito, quando o não afetem imediatamente. Erro seria, pois, desanimarmos por não colher dela imediato resultado.
11. Quando esse Espírito for reencarnar, qual será a sua categoria?
R. Depende dele e do arrependimento que então tiver. Muitos colóquios com esse Espírito deram em resultado notável transformação do seu moral.
Eis aqui algumas das respostas dele.
12. (Ao Espírito). Por que não pudestes escrever da primeira vez que vos evocamos?
R. Porque não queria.
P. Mas por que?
R. Ignorância e embrutecimento.

13. Agora podeis deixar, quando vos apraz, a casa de Castelnaudary?
R. Permitem-me isso, porque aproveito os vossos conselhos.
P. Sentis algum alívio?
R. Começo a ter esperança.
14. Se nos fosse possível ver-vos, qual a vossa aparência?
R. Ver-me-íeis com a camisa, mas sem o punhal.
P. Por que não mais com o punhal? Que sumiço lhe destes?
R. Amaldiçoando-o, Deus arrebatou-me das vistas.
15. Se o filho do Sr. D. (o da bofetada) tornasse àquela casa, que lhe faríeis?
R. Nada, porque estou arrependido.
P. E se ele pretendesse ainda desafiar-vos?
R. Não me façais essa pergunta! Eu não me dominaria, isso está acima das minhas forças, pois sou um miserável.
16. Vislumbrais um termo aos vossos padecimentos?
R. Oh! Ainda não. É já muito o saber, graças à vossa intercessão, que esses padecimentos não serão eternos.
17. Tende a bondade de nos descrever a vossa situação antes de vos havermos evocado pela primeira vez. Não é preciso acrescentarmos que este pedido tem por fim sabermos como ser-vos úteis e não a simples e fútil curiosidade.
R. Disse-vos já que nada mais compreendia além do meu crime e que não podia abandonar a casa em que o cometi, a não ser para vagar no Espaço, solitário e desconhecido; disso não poderia eu dar-vos uma idéia, porque nunca pude compreender o que se passava. Desde que me alçava ao Espaço, era tudo negrume e vácuo ou, antes, não sei mesmo o que era...
Hoje o meu remorso é muito maior e no entanto não sou constrangido a permanecer naquela casa fatal, sendo-me permitido vagar na Terra e orientar-me pela observação de quanto aí vejo; compreendo melhor, assim, a enormidade dos meus crimes e, se menos sofro por um lado, por outro aumentam as torturas do remorso... Mas... ainda bem que tenho esperança.
18. Se tivésseis de reencarnar, que existência preferiríeis?
R. Não tenho meditado suficientemente acerca disso.
19. Durante o vosso longo insulamento — quase podemos dizer cativeiro — experimentastes algum remorso?
R. Nenhum e por isso sofri tão longamente. Somente quando o senti, foi que ele provocou, sem que disso me apercebesse, as circunstâncias determinantes da vossa evocação ao meu Espírito, para início da libertação. Obrigado, pois, a vós que de mim vos apiedastes e me esclarecestes.
Realmente temos visto avaros sofrerem à vista do ouro, que para eles não passava de verdadeira quimera; orgulhosos, atormentados pelo ciúme das honrarias prestadas a outros e não a eles; homens que dominavam na Terra, humilhados pela potência invisível, constrangidos à obediência, em presença de subordinados, que não mais lhes faziam curvaturas; ateus atônitos pela dúvida em face da imensidade, no mais absoluto insulamento, sem um ser que os esclarecesse.
No mundo dos Espíritos há recompensas para todas as virtudes, mas há também penalidades para todas as faltas; destas, aquelas que escaparam às leis dos homens são infalivelmente alcançadas pelas leis de Deus. Devemos ainda notar que as mesmas faltas, conquanto cometidas em circunstâncias idênticas, são diversamente punidas, conforme o grau de adiantamento do Espírito delinqüente.
Aos Espíritos mais atrasados, de natureza mais grosseira, como aquele de que acabamos de nos ocupar, são infligidos castigos de algum modo mais materiais que morais, ao passo que o contrário se dá para com aqueles cuja inteligência e sensibilidade estejam mais desenvolvidas. Aos primeiros impõe-se o castigo adequado à rudeza do seu discernimento, para compreenderem o erro e dele se libertarem. Assim é que a vergonha, por exemplo, causando pouca ou nenhuma impressão para estes, torna-se para aqueles intolerável.
No divino código penal, a sabedoria, a bondade, a providência de Deus para com as suas criaturas revelam-se até nas mínimas particularidades, sendo tudo proporcionado e disposto com admirável solicitude para facilitar ao culpado os meios de reabilitação. As mínimas aspirações são consideradas e recolhidas.
Pelos dogmas das penas eternas, ao contrário, são no inferno confundidos os grandes e pequenos criminosos, os culpados de momento e os reincidentes contumazes, os endurecidos e os arrependidos. Além disso, nenhuma tábua de salvação lhes é oferecida; a falta momentânea pode acarretar uma condenação eterna e, o que mais é, qualquer benefício que porventura hajam feito de nada lhes valerá. De que lado, pois, estará a verdadeira justiça, a verdadeira bondade?

Esta evocação nada tem de fortuita e como deveria aproveitar a esse infeliz, visto que ele já começava a compreender a enormidade do seu crime, os Espíritos guias julgaram oportuno esse socorro eficaz e facilitaram-lhe as circunstâncias propícias. É este um fato que temos visto reproduzir-se freqüentemente. Perguntar-se-á o que seria desse Espírito se não fosse evocado, o que será de todos os sofredores que o não podem ser, bem como daqueles em quem ninguém pensa... Poderíamos redarguir que os meios de que Deus dispõe para salvar as criaturas são inumeráveis, sendo a evocação um dentre esses meios, porém, não único certamente. Deus não deixa ninguém esquecido, além de que nos Espíritos suscetíveis de arrependimento, as preces coletivas devem exercer alguma influência.
O destino dos Espíritos sofredores não poderia ser por Deus subordinado à boa vontade e aos conhecimentos humanos.
Desde que os homens puderam estabelecer relações regulares com o mundo invisível, uma das primeiras conseqüências do Espiritismo foi o ensino dos serviços que por meio dessas relações podem prestar aos seus irmãos desencarnados.
Deus patenteia por esse modo a solidariedade existente entre todos os seres do Universo, ao mesmo tempo que dá a lei da natureza por base ao princípio da fraternidade. Deus demonstra-nos a feição verdadeira, útil e séria das evocações, até então desviadas da sua finalidade providencial pela ignorância e pela superstição.
Nunca faltaram socorros aos sofredores em qualquer época e, se evocações lhes proporcionam uma nova via de salvação, aproveitam ainda mais, talvez, aos encarnados, por lhes proporcionar novos meios de fazer o benefício e instruir-se ao mesmo tempo acerca das condições da vida futura.



TERIA O CHAMADO 'BOM LADRÃO' ido PARA O PARAÍSO?



"E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino,
E disse-lhe Jesus: "Em verdade te digo, que hoje estarás comigo no Paraíso."
- (Lucas, 23:42-43)
Teria o Espírito imperfeito do chamado Bom Ladrão ido para Paraíso, juntamente com o excelso Espírito de Jesus Cristo? Ele apenas proferiu algumas ligeiras palavras de simpatia, e será que isso teria sido o bastante para ele adentrar as alcandoradas regiões celestiais, da mesma maneira como o fez Jesus Cristo?

A Doutrina Espírita nos ensina que apenas os Espíritos puros, que já atingiram elevado índice de perfeição, terão acesso a essas elevadas regiões.

Entretanto, houve uma promessa emanada de Jesus: Hoje estarás comigo no Paraíso". É evidente que o Mestre, pendurado no madeiro infamante, não poderia jamais formular uma promessa em vão. Por isso, como ocorre com numerosos ensinamentos de Jesus, cumpre se deduza dessa passagem evangélica o sentido alegórico que ela encerra, interpretando-a, não pela "letra que mata", mas pelo "Espírito que vivifica".

Viver no Paraíso ou nas regiões umbralinas é simplesmente um estado consciencial. Um indivíduo que vive em constante estado de revolta, que pratica toda a sorte de maldades, que menospreza os mais comezinhos princípios da bondade e do amor, que espanca esposa e filhos, que se embriaga ou se chafurda nos vícios, que alimenta ódio contra os seus semelhantes, vive com a sua consciência num estado verdadeiramente infernal.
Não desfruta da paz de Espírito e está em constante estado de revolta interior, blasfemando contra tudo e contra todos. Por outro lado, um homem que pratica o bem sem mistura do mal, que sente o coração inundado dos sentimentos de amor ao próximo, que se rege pelas normas da brandura, da tolerância, da fraternidade, que vive em paz com os seus familiares, que abomina os vícios, os desregramentos, vive num estado conciencial de paz, de serenidade.

Com fundamento nesses dois parâmetros, pode-se afirmar que a criatura humana, mesmo aqui na Terra, pode viver no chamado Inferno ou no Paraíso.

O chamado Bom Ladrão, evidentemente, dado o gênero de vida que levava, prejudicandoo seu próximo, apropriando-se dos bens alheios e semeando a maldade e talvez até a morte, bem revelava o estado de inferioridade de seu Espírito. No entanto, condenado pela justiça dos homens a morrer na cruz, evidencia que os crimes por ele praticados eram de acentuada gravidade.
Todavia, suspenso no madeiro, sentiu, repentinamente, um sentimento de remorso, ao ver Jesus, um inocente, um expoente do amor, morrer de maneira tão infamante. Ele se condoeu; sentiu no âmago do seu coração que havia apenas praticado o mal, que não havia; amuado o seu próximo. Ao ouvir os impropérios que o outro ladrão, crucificado, dirigia a Jesus, exclamou: "E nós, na verdade, com justiça fomos condenados e estamos recebendo o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez."
E, dirigindo-se ao Mestre, disse: "Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino", merecendo a promessa de Jesus: "Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso". Espírito elevado que é, Jesus que assolava aquele seu irmão menor, viu o seu arrependimento, e, como o remorso é a porta da redenção espiritual, sentenciou: "Hoje estarás comigo no Paraíso."

E' evidente que o Espírito do chamado Bom Ladrão não o acompanhou, mas passou a sentir um novo estado de Espírito; passou a desfrutar de serenidade, sentiu toda a extensão dos seus desvios e, interiormente, sentiu a necessidade do reajuste, de resgatar todo o mal que havia semeado.

Com isso, em novas reencarnações, que forçosamente deveria ter no futuro, viveria num estágio melhor, experimentaria em seu coração os benefícios da paz, da serenidade e do amor, esforçando-se por redimir-se dos delitos do pretérito; passaria a conceber que na Justiça Divina não existe a promoção pela graça, ou pelo milagre, na senda evolutiva, mas Deus, em sua infinita misericórdia, lhe daria novas oportunidades, a fim de se enquadrar no rol dos homens sensatos, ponderados, que vivem num estado de paz interior e de uma relativa felicidade.

Com isso, estaria ele desfrutando de um "Paraíso" consciencial, quando comparado com o estado verdadeiramente infernal em que viveu na existência que havia culminado com a sua crucificação.

O Mestre não falhou em sua promessa, pois o enquadrou numa senda diferente, que o conduziria melhor na caminhada rumo a Deus, diminuindo, paulatinamente, a distância que o separava do Criador; abreviaria o tempo necessário para, realmente, adentrar as regiões elevadas dos Planos Divinos, região comumente chamada de "Paraíso".
Paulo A. Godoy
Casos Controvertidos do Evangelho

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

CÓLERA: ''— Meu filho, tenha cuidado contra a irritação" // ..."Naquele instante, Sobreira, recordando as palavras de sua mãe, não pôde sofrear as lágrimas de arrependimento..."


CÓLERA

 Hilário Silva

Antônio Sobreira, a caminho da garagem onde mantinha pequena frota de caminhões, foi ver a mãezinha doente, que lhe pediu, logo após rápidos instantes de conversa:
— Meu filho, tenha cuidado contra a irritação. Em nossa reunião espírita de ontem à noite, nosso velho amigo Silvério Barcas, desencarnou num ato de imprudência, conclamou a todos trabalhassem contra a cólera. E você tem estado muito nervoso...
— Não se aflija, mãe — respondeu sorrindo.
Entretanto, mal dera alguns passos na rua, foi procurado por um motorista, que lhe disse:
— “Seu” Antônio, venha depressa. O Avelino, seu irmão, atropelou o seu filho.
Indignado, Sobreira entrou no veículo, como fera, e daí a minutos estava, de novo, à frente de casa.
Aglomerava-se o povo em torno de larga mancha de sangue.
Avelino, o seu irmão, dirigiu-se para ele e rogou, transtornado:
— Antônio, perdoe-me! Vinha passando em marcha regular, quando o Antoninho atravessou... Foi questão de um segundo...
— Onde está meu filho? — gritou Sobreira.
Uma senhora logo afirmou que o menino acidentado fora conduzido no colo materno para o hospital, junto de dois médicos que haviam passado, momentos antes.
— Você pagará tudo — falou Sobreira, aos berros para o irmão. — Arranjei o caminhão para você, a fim de matar a fome de sua família, e você mata o meu filho?! Mas você hoje me pagará tudo...
E sem ouvir mais nada, avançou para o pobre motorista, aos murros, deixando-o no chão com várias escoriações e equimoses.
Em seguida, cego de fúria, toma o automóvel, mas, atingindo o hospital, encontra na portaria a esposa sorridente, com o filhinho feliz.
— Graças a Deus — diz ela ao esposo —, nada aconteceu. Antoninho não teve um arranhão.
E o sangue no asfalto? — pergunta Sobreira, varado de assombro e remorso.
Somente então veio a saber que o sangue pertencia ao cachorro de estimação — o Totó, que acompanhava o menino, e que os médicos que haviam atendido, de passagem, eram ambos veterinários.
Naquele instante, Sobreira, recordando as palavras de sua mãe, não pôde sofrear as lágrimas de arrependimento...

Livro: “Almas em Desfile” Psicografia: Francisco C. Xavier e Waldo Vieira Espírito: Hilário Silva
 


 






quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno " Criminosos Arrependidos" parte 3


Benoist
(Bordéus, março de 1862)
Um Espírito apresenta-se espontaneamente ao médium sobre o nome de Benoist, dizendo ter morrido em 1704 e padecer horríveis sofrimentos.
1 . Que fostes na Terra?
R. Frade sem fé.
2. Foi a descrença a vossa única falta?
R. Só ela é bastante para acarretar outras.
3. Podereis dar-nos alguns pormenores acerca da vossa vida? Ser-vos-á levada em boa conta a sinceridade da confissão.
R. Pobre e indolente, ordenei-me para ter uma posição, sem pendor aliás para encargo dessa natureza. Inteligente, consegui essa posição; influente, abusei do meu poderio; vicioso, corrompi aqueles que tinha por missão salvar; cruel, persegui aqueles que me pareciam querer verberar os meus excessos; os pacíficos foram por mim inquietados.
As torturas da fome de muitas vítimas eram extintas amiúde pela violência. Agora sofro todas as torturas do inferno e as vítimas me ateiam fogo que me devora. A luxúria e a fome insaciáveis perseguem-me; abrasa-me a sede os lábios escaldantes sem que uma gota caia neles como refrigério. Orai pelo meu Espírito.
4. As preces feitas pelos finados deverão ser atribuídas a vós como aos outros?
R. Acreditais que sejam edificantes e no entanto elas têm para mim o valor daquelas que eu simulava fazer. Não executei o meu trabalho e, assim, recebo o salário.
5. Nunca vos arrependestes?
R. Há muito tempo; mas ele só veio pelo sofrimento. E como fui surdo ao clamor de vítimas inocentes, o Senhor também é surdo aos meus clamores. Justiça!
6. Reconheceis a Justiça do Senhor; pois bem, confiai na sua bondade e socorrei-vos do auxílio dele.
R. Os demônios berram mais do que eu; seus gritos sufocam-me; enchem-me a boca de betume fervente!... Eu o fiz, grande... (O Espírito não pode escrever a palavra Deus).
7. Não estais suficientemente liberto das idéias terrenas de modo que essas torturas são todas morais?
R. Sofro-as... sinto-as... vejo os meus carrascos, que tem todos uma cara conhecida, um nome que repercute em meu cérebro.
8. Mas que poderia impelir-vos ao cometimento de tantas infâmias?
R. Os vícios de que me achava saturado, a brutalidade das paixões.
9. Nunca implorastes a assistência dos bons Espíritos para vos ajudarem a sair dessa contingência?
R. Apenas vejo os demônios do inferno.
10. Quando estáveis na Terra temíeis esses demônios?
R. Não, absolutamente, visto que só cria em o nada. Os prazeres a todo transe constituíam o meu culto. E, já que lhes consagrei a vida, as divindades do inferno não mais me abandonaram, nem abandonarão!
11. Então não lobrigais um termo para esses sofrimentos?
R. O infinito não tem termo.
12. Mas Deus é infinito na sua misericórdia e tudo pode ter um fim quando lhe aprouver.
R. Se Ele o quisesse!
13. Por que vos viestes inscrever aqui?
R. Não sei mesmo como, mas eu queria falar e gritar para que me aliviassem.
14. E esses demônios não vos impedem de escrever?
R. Não, mas conservam-se à minha frente, e esperam-me... Também por isso eu desejaria não terminar.

15. É a primeira vez que deste modo escreveis?
R. Sim.
P. E sabíeis que os Espíritos podiam assim aproximar-se dos homens?
R. Não.
P. Como pois o percebestes?
R. Não sei.
16. Que sensações experimentastes ao acercar-vos de mim?
R. Um como entorpecimento dos meus terrores.
17. Como vos apercebestes da vossa presença aqui?
R. Como quando se desperta de um sono.
18. Como procedestes para comunicar comigo?
R. Não posso compreender, mas tu também não sentiste?
19. Não se trata de mim, porém de vós... Procurai assegurar-vos do que fazeis enquanto eu escrevo.
R. És o meu pensamento em tudo, eis tudo.
20. Não tivestes pois o desejo de me fazer escrever?
R. Não, sou eu quem escreve e tu pensas por mim.
21. Procurai assegurar-vos do vosso estado, porque os bons Espíritos que vos cercam vos ajudarão.
R. Não, que os anjos não vêm ao inferno. Tu não estás só?
P. Vedes em torno.
R. Sinto que me auxiliam a atuar sobre ti... a tua mão obedece-me... não te toco, aliás, e seguro-te... Como? Não sei...
22. Implorai a assistência dos vossos protetores. Vamos pedir a ambos.
R. Queres deixar-me? Fica comigo, porque vão reapossar-se de mim. Eu te peço... Fica! Fica!...
23. Não posso demorar-me por mais tempo. Voltai diariamente para orarmos juntos e os bons Espíritos vos auxiliarão.
R. Sim, desejo o perdão. Orai por mim, que não posso fazê-lo.
(O Guia do médium) — Coragem, meu filho, porque lhe será concedido o que pedes, se bem que longe esteja ainda o fim da expiação. As atrocidades por ele cometidas não têm número nem conta e maior é a sua culpa porque possuía inteligência, instrução e luzes para guiar-se. Tendo falido com conhecimento de causa, mais terríveis lhe são os sofrimentos, os quais, não obstante, se suavizarão com o auxílio e o exemplo da prece, de modo que lhes possa ver o fim, confortado pela esperança. Deus o vê no caminho do arrependimento e já lhe concedeu a graça de poder comunicar-se a fim de ser encorajado e confortado.
Pensa nele muitas vezes, pois nós te o entregamos para fortalecer-se nas boas resoluções que lhe poderão advir dos teus conselhos. Ao seu arrependimento sucederá o desejo da reparação, e pedirá então uma nova existência para praticar o bem como compensação do mal praticado. Quando Deus estiver satisfeito a respeito dele e o vir resoluto e firme, far-lhe-á entrever as divinas luzes que o hão de conduzir à salvação, recebendo-o no Seu seio como pai ao filho pródigo. Tem fé e nós te ajudaremos a completar o teu trabalho.
Paulino.
Colocamos este Espírito entre os criminosos, posto que não atingido pela justiça humana, porque o crime se contém nos atos e não no castigo infligido pelos homens. O mesmo se dá com o que se segue.


sábado, 8 de dezembro de 2012

SIRVAMOS SEMPRE


Reunião pública de 06.11.61
1ª. Parte, cap. VII, § 16
Não apenas nos dias de arrependimento e reparação.
Em todas as circunstâncias, o serviço é o antídoto do mal.
***
Caíste na trama de enganos terríveis e arrepiaste caminho, sonhando reabilitar-te.
Não desperdices a riqueza das horas, amontoando lamentações.
Levanta-te e serve nos lugares onde esparziste a sombra dos próprios erros, e granjearás,
na humildade, apoio infalível ao reajuste.
***
Arrostas duros problemas na vida particular.
Livra-te do fardo inútil da aflição sem proveito.
Reanima-te e serve no quadro de provações em que te situas, e a diligência funcionará, por
tutora prestigiosa, abrindo-te a senda ao concurso fraterno.
***
Padeces obscura posição no edifício social.
Segue imune ao micróbio da inveja.
Movimenta-te e serve no anonimato e o devotamento surgir-te-á por luminosa escada á
subida.
***
Sofres o assalto de calúnias ferozes.
Esquece a vingança, que seria aviltamento em ti mesmo.
Silencia e serve, olvidando as ofensas, e conquistarás, no perdão com atividade no bem,
escudo invencível contra os dardos da injúria.
***
Suportas afrontoso assédio de espíritos inferiores, inclinando-te á queda na obsessão.
Abstém-te da queixa improfícua.
Resiste e serve, dedicando-te ao socorro dos que choram em dificuldades maiores, e
surpreenderás, na beneficência, o acesso à simpatia e á renovação dos próprios adversários.
***
Preguiça é o ópio das trevas.
Os que não trabalham transformam-se facilmente em focos de tédio e ociosidade, revolta e
desespero, desequilíbrio e ressentimento, pessimismo e loucura.
***
Sirvamos sempre.
Quem busca realmente servir, nunca dispõe de motivos para se arrepender.

Livro: Justiça Divina
Emmanuel/Chico Xavier

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Por que Perdoar?


JOSÉ SIQUARA DA ROCHA
É comum ouvir-se dizer: - “Não perdôo!” – Ou então: “Perdôo, mas não
esqueço!”
Perdoar com restrições não é perdoar. O perdão deve ser, tem quer ser
total, pleno, sem reservas. O perdão faz bem ao psiquismo, ao físico e à alma de
quem perdoa.
Quando uma pessoa diz que perdoa mas não esquece, está guardando
mágoa e estabelecendo uma condição de sofrimento psíquico-físico e até para a
própria alma, porque esta se conserva cativa a uma vibração negativa.
Quando Pedro perguntou ao Mestre quantas vezes devia perdoar, se até
sete vezes, a resposta foi incisiva:
- “Não sete vezes mas setenta vezes sete”, querendo portanto dizer que
devemos perdoar sempre.
O perdão tem valor ético e místico para quem perdoa, porque com esse ato
ou atitude nós nos libertamos – certamente perdão de verdade, não só de
palavras, mas com sentimento, com amor! – de enorme carga negativa de ódio,
mágoa, suspeição, preconceito, contra quem quer que seja.
Quando temos um pensamento, uma atitude positiva, beneficiamos a nós
mesmos em primeiro lugar. Quando pensamos ou agimos contrariamente, já
prejudicamos inicialmente a nós mesmos, porque já sofremos a ação inicial da
nossa própria vibração negativa.
Quando perdoamos de verdade estamos nos beneficiando, mesmo que
não nos tenha sido solicitado esse perdão, porque aliviados daquela carga
terrível, o que não importa dizer que quem foi perdoado passe de imediato a uma
situação de beatitude, de isenção de culpa. O perdoado não recai de imediato em
estado de pureza.
O perdão, como diz Hermínio C. Miranda em “Cristianismo – a mensagem
esquecida”, p. 145, “não nos repõe em estado de pureza instantânea por um
passe de mágica ou graça divina; ele apenas – e já é muito – nos coloca de novo
na trilha e diz: - ‘Agora você vai e repare o mal que praticou’.

E diz ainda: “O corolário do perdão não é pois a beatificação súbita da
alma, que fica pronta para ir para o céu, é a oportunidade renovada para o
trabalho retificador”.
(Grifo nosso)
O perdoado pode não ter solicitado esse perdão, e a sua culpa continua...
se houver.
Quando, porém, ele se conscientiza do erro, pelo remorso ou pela
conclusão simples e lógica de que errou, pelo reconhecimento do erro, sente a
necessidade de repará-lo. Então aí vai enfrentar a tarefa da reparação, vai ao
trabalho da retificação que lhe exigirá providências saneadoras na pratica do bem,
do amor. Haverá o domínio do egoísmo, do orgulho e a expressão da humildade
sem humilhação, numa demonstração de equilíbrio interior. Em última análise,
portanto, nós em verdade não perdoamos o erro, a falta de alguém. Ninguém tem
essa condição de perdoar. Quando dizemos perdoar e em verdade perdoamos,
apenas, como ficou dito, nos libertamos de uma carga negativa de ódio, de
mágoa, de preconceitos ou suspeição.
Sabemos que, em face da sua justiça ser infinita, nem Deus perdoa no
sentido como entendemos o perdão. Ele simplesmente, em face de sua infinita
misericórdia, nos dá as oportunidades necessárias para que, com a reparação
devida, perdoemos a nós mesmos.
Cada um, portanto, perdoa a si mesmo quando, no esforço constante da
renovação, da reparação, da volta ao caminho direcional para a Verdade, para o
Amor, atinge a meta da reposição, de retificação para o seu reequilíbrio, para a
rearmonização com a Lei do Amor, desrespeitada pelo seu negativo agir.
Na consideração dos atributos da Divindade Criadora, vamos nos fixar na
sua infinita Justiça. Segundo a concepção dos homens, a justiça é cega e por isso
a representam de olhos vendados, para que ela não se deixe influenciar e seja
inflexível no seu julgar. Essa é a justiça dos homens, que é incapaz de procurar,
de conhecer a Verdade para então exarar o seu julgamento, a sua sentença. E
por isso mesmo são do conhecimento de todos nós as injustiças sem conta,
cometidas em nome da Justiça.
Com a divina justiça não acontece assim; ela não tem uma venda nos olhos
mas, na sua onipresença e na sua oniconsciência, tudo conhece, tudo vê, tudo
sabe. É então absolutamente imparcial, não condenando nem perdoando.
No uso do seu livre-arbítrio e da sua relativa liberdade, os Espíritos
cumprem ou não as divinas leis e, neste último caso, como culpados, têm de
arrostar as conseqüências, chegar à conscientização de seu erro e, de motopróprio,
tentar o equilíbrio, a rearmonização, procurando desfazer, compensar,
zerar o seu débito. Desaparecida a causa, cessa o efeito totalmente.
A justiça infinita de Deus aí não interfere, mas se faz presente a sua infinita
misericórdia, segundo a qual o Espírito culposo, em erro, tem todas as
oportunidades para essa volta às origens.
Volta às origens sim, porque sendo todos filhos de Deus, têm de exibir a
sua origem divina, e esse foi o grande empenho de Jesus na sua caminhada entre
nós.
Por isso é que a Lei que regula as nossas ações, atendendo à infinita
justiça do Pai, a Lei de Causa e Efeito não é boa nem má. Ela “anota” os
procedimentos de cada um e a sua ação acompanha a todos os Espíritos, que
são levados mais cedo ou mais tarde à senda da ordem, do equilíbrio, após os
desatinos cometidos no uso do seu livre-arbítrio.
A reparação, devendo ser completa, é no entanto freqüentemente atenuada
em face da misericórdia do Pai, atendendo às modificações operadas no sentir e
no agir de cada um.
A Lei de Causa e Efeito não funciona, portanto, como a Lei de Talião, do
dente por dente, olho por olho.
A conscientização do erro, o desejo e o propósito de emenda e reparação,
a prece, a prática da caridade na vivência do Amor, são condições capazes de
atenuar, como ficou dito, o cumprimento rigoroso da Lei.
Como diz ainda Hermínio Miranda, “as leis atuam independentemente da
nossa vontade ou crença na sua eficácia, e o perdão está implícito no
cumprimento das leis divinas”.

É preciso então estarmos inclinados ao perdão, lembrando sempre as
palavras de Jesus: “Quando te baterem numa face, mostra-lhes também a outra.
Quando te obrigarem a caminhar mil passos, anda também, com eles dois mil.
Quando te tornarem a capa, entrega-lhes também a camisa. Não resistais ao
mal!”

Vale lembrar ainda as palavras da segunda parte da oração ensinada pelo
Mestre aos seus discípulos, conhecida como a “Oração Dominical” ou “Pai
Nosso”: - “Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos (...)” Se em
verdade não aprendemos a perdoar, como seremos perdoados?!
A imensa maioria dos que se dizem cristãos repete essas palavras sem a
necessária consciência do que está a dizer, da sua gravidade.
Deus, portanto, como ficou dito, não perdoa. Nós é que deveremos
entender que perdoamos a nós mesmos, quando nos conscientizamos de nossas
culpas e as reparamos com a prática, a vivência do Amor.

Ele também não castiga por que, Amor Infinito, não quer que qualquer das
suas criaturas sofra. Nós castigamos a nós mesmos quando descumprimos as
Suas divinas leis. .

Revista o Reformador Maio de 1999

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno " Criminosos Arrependidos" parte 2


Leamire
Condenado à pena última pelo júri de Aisne e executado a 31 de dezembro de 1857. Evocado em 29 de janeiro de 1858.
1 . Evocação
— R. Aqui estou.
2. Vendo-nos, que sensação experimentais?
R. A sensação da vergonha.
3. Conservastes a vossa consciência até o último momento?
R. Sim.
4. Após a execução tivestes imediata noção dessa nova existência?
R. Eu estava imerso em grande perturbação, da qual, aliás, ainda não me libertei. Senti uma dor imensa e me parecia ser o coração que a sofria. Vi rolar não sei o que aos pés do cadafalso; vi o sangue que escorria e mais pungente se me tornou a minha dor.
P. Era uma dor puramente física, análoga àquela que proviria de um grande ferimento, pela amputação de um membro, por exemplo?
R. Não; figurai-vos antes um remorso, uma grande dor moral.

5. Mas a dor física do suplício, quem a experimentava: o corpo ou o Espírito?
R. A dor moral estava em meu Espírito, sentindo o corpo a dor física; mas o Espírito desligado também dela se ressentia.
6. Vistes o corpo mutilado?
R. Vi qualquer coisa informe, à qual me parecia integrado; entretanto, reconhecia-me intacto, isto é, que eu era eu mesmo...
P. Que impressões vos advieram desse fato?
R. Eu sentia muito a minha dor, estava completamente ligado a ela.
7. Será verdade que o corpo vive ainda alguns instantes depois da decapitação, tendo o supliciado a consciência das suas idéias?
R. O Espírito retira-se pouco a pouco; quanto mais o retêm os laços materiais, menos pronta é a separação.
8. Dizem que se tem notado a expressão da cólera e movimentos na fisionomia de alguns supliciados como se estes quisessem falar; será isso efeito de contrações nervosas ou um ato da vontade?
R. Da vontade, uma vez que o Espírito não está desligado.
9. Qual o primeiro sentimento que experimentastes ao entrar na vossa nova existência?
R. Um sofrimento intolerável, uma espécie de remorso pungente cuja causa ignorava.
10. Acaso vos achastes reunido aos vossos cúmplices supliciados ao mesmo tempo?
R. Infelizmente, sim, por desgraça nossa, pois essa visão recíproca é um suplício contínuo, exprobrando-se uns aos outros os seus crimes.
11. Tendes encontrado as vossas vítimas?
R. Vejo-as... são felizes; seus olhares perseguem-me... sinto que me varam o ser e embalde tento fugir-lhes.
P. Que impressão vos causam esses olhares?
R. Vergonha e remorso. Ocasionei-os voluntariamente e ainda os abomino.
P. Qual a impressão que lhes causais vós?
R. Piedade, é sentimento que lhes percebo a meu respeito.
12. Terão por sua vez o ódio e o desejo de vingança?
R. Não; os olhares que me lançam me lembram a minha expiação. Vós não podeis avaliar o suplício horrível de tudo devermos àqueles a quem odiamos.
13. Lamentais a perda da vida corporal?
R. Apenas lamento os meus crimes. Se o fato ainda dependesse de mim, não mais sucumbiria.
14. O pendor para o mal estava na vossa natureza, ou fostes ainda influenciado pelo meio em que vivestes?
R. Sendo eu um Espírito inferior, a tendência para o mal estava na minha própria natureza. Quis elevar-me rapidamente, mas pedi mais do que comportavam as minhas forças. Supondo-me forte, acabei por ceder às tentações do mal.
15. Se tivésseis recebido sãos princípios de educação, ter-vos-íeis desviado da senda criminosa?
R. Sim, mas eu havia escolhido a condição do nascimento.
P. Acaso não vos poderíeis ter tornado homem de bem?
R. Um homem fraco é incapaz tanto para a prática do bem como para o do mal. Poderia, talvez, corrigir na vida o mal inerente à minha natureza, mas nunca me elevar à prática do bem.
16. Quando encarnado acreditáveis em Deus?
R. Não.
P. Mas falam que à última hora vos arrependestes...
R. Porque acreditei num Deus vingativo, era natural que o temesse...
17. Parece-vos justo o castigo que vos aplicaram na Terra?
R. Sim.
18. Esperais obter o perdão dos vossos crimes?
R. Não sei.
P. Como pretendeis repará-los?
R. Por novas provações, conquanto me pareça que uma eternidade existe entre mim e elas.

19. Onde vos achais agora?
R. Estou no meu sofrimento.
P. Perguntamos qual o lugar onde vos encontrais...
R. Perto do médium.
20. Uma vez que assim é, sobre que forma vos veríamos, se isso nos fosse possível?
R. Ver-me-íeis sob a minha forma corpórea: a cabeça separada do tronco.
P. Podereis aparecer-nos?
R. Não; deixai-me.
21. Podereis dizer-nos como vos evadistes da prisão de Montlidier?
R. Nada mais sei... é tão grande o meu sofrimento, que apenas guardo a lembrança do crime... Deixai-me.
22. Poderíamos concorrer para vos aliviar desse sofrimento?
R. Fazei votos para que sobrevenha a expiação.




sexta-feira, 23 de novembro de 2012

I- Remorsos e arrependimentos.


Estou feliz por vos ver todos reunidos pela mesma fé e o amor de Deus Todo-poderoso, nosso divino senhor. Possa ele sempre vos guiar num bom caminho, vos cumular com seus benefícios, o que fará se vos tornar dignos disso.
Amai-vos sempre uns aos outros como irmãos; prestai-vos um apoio mútuo, e que o amor ao próximo não seja para vós uma palavra vazia de sentido.
Lembrai-vos de que a caridade é a mais bela das virtudes, e que, de todas, é a mais agradável a Deus; não somente essa caridade que dá um óbolo aos infelizes, mas aquela que vos faz compadecer de nossos irmãos infelizes; que vos faz partilhar suas dores morais, aliviar os fardos que os oprimem, a fim de lhes tornar a dor menos viva e a vida mais fácil.
Lembrai-vos de que o arrependimento sincero obtém o perdão de todas as faltas, tanto a bondade de Deus é grande, o remorso nada tem de comum com o arrependimento. O remorso, meus irmãos, é já o prelúdio do castigo; o arrependimento, a caridade, a fé, vos conduzirão às felicidades reservadas aos bons Espíritos.
Ouvireis a palavra de um Espírito superior, bem amado de Deus; recolhei-vos, e abri vosso coração às lições que ele vos dará.
UM ANJO GUARDIÃO.

Revista Espírita 1860 - Maio

sábado, 17 de novembro de 2012

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno " Espíritos Sofredores" parte 8

François Riquier

Era um velho celibatário, avarento e muito popular, falecido em C..., em 1857, legando aos parentes colaterais considerável fortuna. Em tempo fora locador de uma inquilina, que mais tarde o esquecera completamente, ignorando até se ainda, ou não, vivia. Em 1862, uma filha desta senhora, sujeita a crises de catalepsia seguidas de espontâneo sono magnético e também bom médium escrevente, viu, num desses sonos, o Sr. Riquier, o qual, assegurava, pretendia dirigir-se à sua mãe.
Passados alguns dias, uma vez que se manifestara espontaneamente confirmando aquele intuito, entretiveram com ele a seguinte conversação:
- P. Que pretendeis de nós?
- R. O dinheiro do qual se apossaram, os miseráveis, a fim de o repartirem! Venderam fazendas, casas, tudo para se locupletarem! Desbarataram meus bens como se não mais me pertencessem. Fazei que se me faça justiça, já que a mim me não ouvem, e não quero presenciar infâmias tais. Dizem que eu era usurário, e guardaram-me o cobre. Por que não mo querem restituir? Acharão que foi mal ganho?
- P. Mas vós estais morto, meu caro senhor, e não tendes mais necessidade alguma de dinheiro. Implorai a Deus para vos conceder uma nova existência de pobreza a fim de expiardes a usura desta última.
- R. Não, eu não poderei viver na pobreza. Preciso do meu dinheiro, sem o qual não posso viver. Demais, não preciso de outra existência, porque vivo estou atualmente.
- P. (Foi-lhe feita a seguinte pergunta no intuito de chamá-lo à realidade.) Sofreis?
- R. Oh! sim. Sofro piores torturas que as da mais cruel enfermidade, pois é minha alma quem as padece. Tendo sempre em mente a iniquidade de uma vida que foi para muitos motivo de escândalos, tenho a consciência de ser um miserável indigno de piedade, mas o meu sofrimento é tão grande que mister se faz me auxiliem a sair desta situação deplorável.
- P. Oraremos por vós.
- R. Obrigado! Orai para que eu esqueça os meus bens terrenos, sem o que não poderei arrepender-me. Adeus e obrigado. François Riquier, Rue de la Charité nº 14.
É curioso ver-se este Espírito indicar a moradia como se estivesse vivo.
A senhora deu-se pressa em verificá-la e ficou muito surpreendida por ver que era justamente a última casa que Riquier habitara. Eis como, após cinco anos, ainda ele não se considerava morto, antes experimentava a ansiedade, bem cruel para um usurário, de ver os bens partilhados pelos herdeiros. A evocação, provocada indu-bitavelmente por qualquer Espírito bom, teve por fim fazer-lhe compreender o seu estado e predispô-lo ao arrependimento.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

CAPÍTULO III JOÃO BATISTA


JOÃO BATISTA
1 - Naqueles dias pois veio João Batista pregando no deserto da Judéia.
2 - E dizendo: Fazei penitência; porque está próximo o reino dos céus.
3 - Porque este é de quem falou o Profeta Isaías, dizendo:
Voz do que clama no deserto; aparelhai o caminho do Senhor; endireítai as suas veredas.
4 - Ora o mesmo João tinha um vestido de peles de camelo e uma cinta de couro em roda de seus rins; e a sua comida era gafanhotos e mel silvestre.
5 - Então vinha a ele Jerusalém e toda a Judéia e toda a terra da comarca do Jordão.
6 - E confessando os seus pecados, eram por ele batizados no Jordão.
7 - Mas vendo que muitos dos fariseus e dos saduceus vinham ao seu batismo, lhes disse: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira vindoura?
8 - Fazei pois dignos frutos de penitência.
9 - E não queirais dizer dentro de vós mesmos: Nós temos por pai a Abrahão; porque eu vos digo que poderoso é Deus para fazer que nasçam destas pedras filhos a Abrahão.
10 - Porque já o machado está posto à raiz das árvores. Toda a árvore pois que não dá bom fruto será cortada e lançada no fogo.
11 - Eu na verdade vos batizo em água para vos trazer à penitência; porém o que há de vir depois de mim é mais poderoso do que eu; e eu não sou digno de lhe ministrar o calçado; ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo .
12 - A sua pá na sua mão se acha; e ele a limpará muito bem a sua eira; e recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará as palhas num fogo que jamais se apagará.
A figura máscula de João Batista inicia a idade evangélica, na qual estamos. Pregador rude, homem de um viver austeríssimo, desprezou as comodidades da vida, a ponto de se alimentar com o que achava no deserto e de se vestir com a pele de animais. Assim impressionou fortemente o povo, que acorria a ouvi-la e a pedir-lhe conselhos. Poderoso médium inspirado, foi o transmissor das mensagens do Alto, pelas quais se anunciava a chegada do Mestre e o começo dos trabalhos de regeneração da humanidade.
A todos os que queriam tornar-se dignos do reino dos céus, João aconselhava que fizessem penitência.
Qual seria essa penitência, primeiro passo a ser dado em direção ao reino de Deus?
Não eram as longas orações, nem os donativos e esmolas; nem as peregrinações aos lugares santos nem as construções de capelas; nem os jejuns nem os votos nem as promessas; não era a adoração de imagens nem a entronização delas.
A penitência não consistia em formalidades exteriores, mas sim na reforma do caráter e na retificação dos atos errados que cada um tinha praticado.
De que valem formalidades exteriores se o íntimo de cada qual permanece o mesmo? As práticas exteriores podem enganar os homens, mas não enganam a Deus, nosso Pai.
Qual o valor da confissão de erros a um homem, que, geralmente, erra tanto quanto seus irmãos?
Permanecendo o erro de pé, pode haver justificativa diante de Deus, nosso Pai?
A verdadeira confissão se faz quando se procura a pessoa a quem se ofendeu e com ela se conserta o erro.
Roubaste teu irmão? Restitui-lhe o que lhe roubaste.
Defraudaste alguém? Entrega-lhe o que lhe pertence.
Cometeste adultério? Purifica-te por um viver honesto.
Tens vícios? Abandona-os.
És mau, vingativo, rancoroso? Torna-te bom, perdoa, sê indulgente.
És rico? Ajuda o pobre.
És pobre? Não murmures contra tua situação.
És sábio? Instrui o ignorante.
És forte? Ampara o fraco.
És empregado? Obedece diligentemente.
És patrão? Sê humano para com teus subalternos.
Sois pais? Encaminhai vossos filhos pelas veredas do bem.
Sois esposos? Tratai·vos com carinho, amor e amizade, fazendo do lar um santuário de virtudes, de abnegação e de devotamento.
Sois filhos? Respeitai vossos pais.
Estes são alguns dos dignos frutos de penitência que João ordenava que se fizessem.
Já o machado está posto à raiz das árvores é uma das mais belas, sugestivas e vigorosas das figuras usadas por João, para demonstrar-nos o que sucederá depois de a Terra ter recebido o Evangelho.
O Evangelho é a lei eterna de Deus, reguladora dos atos de cada um de nós, não só no plano terreno, como em qualquer outro plano do Universo. O Pai promulgou uma só lei para seus filhos, não importa em que plano habitem.
O Evangelho é o Regulamento Moral que cumpre observar. Ora, acontecerá que serão banidos da Terra os espíritos que não se conformarem com a lei evangélica. Os endurecidos no mal e nos vícios e sem vontade de se reformarem, desencarnarão. Depois de desencarnados não se reencarnarão mais na terra; emigrarão da terra para planos do Universo que estiverem de acordo com seus caracteres.
E Jesus terá limpa sua eira, isto é, a terra será habitada somente pelos espíritos evangelizados. E a palha, isto é os espíritos que não aceitarem o Evangelho, em novos ambientes sofrerão as transformações que os levarão, futuramente, a caminho do Bem. 

O BATISMO DE JESUS
13 - Então veio Jesus da Galiléia ao Jordão ter com João, para ser batizado por ele.
14 - Porém João impedia, dizendo: Eu sou o que devo ser batizado por ti e tu vens a mim?
15 - E respondendo, Jesus lhe disse: Deixa por ora; porque assim nos convém cumprir toda a justiça. E ele então o deixou.
16 - E depois que Jesus foi batizado, saiu logo para fora da água; e eis que se lhe abriram os céus; e viu o Espírito de Deus, que descia como pomba e que vinha sobre ele.
17 - E eis uma voz dos céus que dizia: - Este é meu filho amado, no qual tenho posto toda minha complacência.
Este ponto, em que os Evangelistas tratam do batismo do Mestre, deu origem a intermináveis discussões, que sempre se reacendem ao depararem com circunstâncias favoráveis.
Todas as seitas que se constituíram ao influxo das palavras evangélicas, adotaram o batismo. Algumas de um modo racional, pois só permitem que seus adeptos se batizem na idade em que possam julgar o ato que praticam. Outras obrigam seus seguidores a se batizarem na primeira infância, idade em que lhes é impossível avaliarem a cerimônia na qual tomam parte inconscientemente.
O batismo em nossos dias é uma formalidade exterior, sem significado moral e serve apenas para a satisfação de vaidades e preconceitos arraigados nos corações dos pais.
O Espiritismo não adota o batismo. O batismo, diante das revelações do Espiritismo, é uma cerimônia do passado, inútil no presente.
E por que Jesus se batizou?
Porque lhe convinha cumprir toda a justiça, segundo ele próprio o declara a João.
O Precursor encerra o período das fórmulas exteriores, com as quais até então se adorava o Pai. Jesus inaugura o período em que se presta veneração a Deus em espírito e verdade, no santuário da consciência de cada um de seus filhos.
O batismo de João era bem diferente do que conhecemos em nossos dias. Pregando no deserto as alvoradas do reino dos céus, dirigia enérgico convite a todos para que se preparassem para o luminoso dia da redenção. Seduzidos pela sua palavra vibrante de fé, muitos dos ouvintes se arrependiam da vida delituosa que tinham levado e confessavam-lhe as faltas, como penhor de que não tornariam a cometê-las.. E João batizava-os, isto é, lavava-os, dando a entender que o arrependimento sincero, seguido do firme propósito de não mais reincidir no erro, limpa o espírito, como a água limpa o corpo.
E João prega que Jesus batizaria no Espírito Santo e no fogo. Entrando Jesus na água para ser batizado, é como se dissesse: Até agora foi assim; daqui por diante, será conforme lhes vou ensinar.
E seu batismo é do Espírito Santo e de fogo.
O avaro que deixa de ser avarento.
O hipócrita, que se torna sincero.
O orgulhoso que se torna humilde.
O mau que se torna bom.
Os viciados que abandonam os vícios.
Os inimigos que esquecem os ódios que os separavam e se abraçam à luz do Evangelho.
O forte que se lembra de proteger o fraco.
O rico que procura concorrer para o bem-estar dos pobres. O pobre que não murmura.
Os que, apesar de seus padecimentos, bendizem a vontade de de Deu.
Todos esses não sofrem um verdadeiro batismo de fogo? O batismo de fogo, pois, com o qual Jesus nos batiza, é o esforço que ele nos convida a fazer para que nos livremos das paixões inferiores, que nos dominam; livres delas, estaremos batizados, isto é, puros diante de Deus, nosso Pai.
O Espírito Santo é a denominação dada à coletividade dos espíritos desencarnados, que lutam pela implantação do reino de Deus na face da terra. .
Batizar-se no Espírito Santo significa receber-se a mediunidade. Todos os que recebem a mediunidade se colocam à disposição dos espíritos do Senhor para os trabalhos de evangelização que se desenvolvem no plano terrestre. É um batismo de renúncia, devotamento, abnegação e humildade. Todos são chamados para o sagrado batismo do Espírito Santo, porque todos podem trabalhar para o advento do reino dos céus.
Quando Jesus saiu da água, João viu a legião dos fulgurantes espíritos que seguiam Jesus e ouviu o cântico que entoavam ao Senhor nas alturas. E para ser compreendido pelo povo, traduziu a visão celeste por um símbolo material.
Eliseu Rigonatti

Livro : O Evangelho dos Humildes.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O BATISMO


"Todavia, não era o próprio Jesus que batizava, mas os seus discípulos." - (João, 4:2)
A cerimônia do Batismo, no verdadeiro sentido de Banho Expiatório, não foi criada por João Batista. Essa prática já existia na Índia, milhares de anos antes de existir na Europa, tendo dali passado para o Egito. Na índia, eram as águas do rio Ganges consideradas sagradas, tendo propriedade purificadora. Do Ganges passou-se para o rio Indus, igualmente considerado sagrado, de onde se propagou para o rio Nilo, também tido na conta de sagrado, para, por fim, terminar no rio Jordão, onde João usava as águas para o mesmo fim e como um simples ritualismo.

Coube, pois, a S. Cipriano, a tarefa de criar o dogma do Batismo de Água, embora S. Tertuliano dissesse que "as crianças não precisam dessa formalidade por serem jovens e não saberem o que fazem. Até os adultos, disse ele, podem ser dispensados desse rito, desde que possuam fé.

Os primitivos cristãos não batizavam seus filhos ao nascer. Esperavam anos e anos, para que, quando o fizessem, pudesse esse rito apagar todos os pecados cometidos, sendo esse ato, às vezes, adiado até a hora da morte. Entre os judeus, a Circuncisão era a prática ritualística aplicada às crianças, e não o Batismo de Água. O Evangelho de Lucas (2:21) diz, textualmente: E quando os oito dias foram cumpridos para circuncidar o menino, foi lhe dado o nome de Jesus.

Segundo os teólogos, o Batismo é um sacramento que tem a propriedade de extirpar o pecado original de Adão e Eva, dois personagens lendários que nunca existiram na face da Terra.
Demais, Deus seria extremamente injusto se fizesse as Humanidades de todos os tempos contraírem o mesmo pecado de duas criaturas ingênuas.

O Evangelista Marcos (1:9) afirma: E aconteceu naqueles dias que Jesus, indo de Nazaré, da Galiléia, foi balizado por João, no Jordão. Aqui cabem várias indagações: Foi Jesus também purificado pelas águas do Jordão. Também foi Ele contaminado pelo decantado pecado original? Porventura não foi Jesus o mais elevado Espírito encarnado na Terra? Não é Ele o Ungido de Deus?

O Cristo submeteu-se ao Batismo de Água, praticado por João, para não menosprezar o cerimonial que o seu Precursor havia escolhido para atrair as multidões e prepará-las para o próximo advento do Messias. E fato notório que João, sentindo que o Mestre era muito superior a ele, lhe pedisse que o batizasse, tendo Jesus se negado a fazê-lo, dizendo: "Deixa por agora", demonstrando, assim, o pouco apreço que dava a esse ritual externo, uma vez que Ele havia descido à Terra para combater a superstição, o fanatismo e o obscurantismo.

Antes de ter visto o Cristo, disse João Batista: Aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de desatar; ele vos batizará com o Espírito e com fogo. (Mateus, 3:11). Após conhecer o Mestre e capacitar-se de sua superioridade, João Batista afirmou: É necessário que eu diminua, para que ele cresça (João, 3:30), reconhecendo, assim, que a sua tarefa de Precursor estava no fim, e o Batismo de Água deveria ser suplantado pelo Batismo do Fogo.

Alguns dos apóstolos de Jesus também foram discípulos de João Batista, por isso, continuaram a dar apreço ao Batismo de Água, mas, conforme disse João em seu Evangelho (4:2), Jesus mesmo não batizava, mas os seus discípulos.

Paulo de Tarso, o intrépido apóstolo que combatia a idolatria e os ritualismos de qualquer natureza, escreveu em sua I Epístola aos Coríntios (1:14-17): Dou graças a Deus, porque a nenhum de vós batizei, senão Crispo e a Caio, para que ninguém diga que fostes batizados em meu nome. E batizei também a família de Estéfanes; além deles, não sei se batizei algum outro. Porque Cristo me enviou, não para batizar, mas para evangelizar. Paulo dava graças a Deus por ter parado de batizar, como o faziam alguns dos discípulos de Jesus.

Muitas pessoas acham que o fato de ter o Cristo sido batizado dá autenticidade a esse ritual; entretanto, convém lembrar que o Mestre também foi circuncidado, e nenhum cristão adota essa prática, que é apenas cumprida pelos judeus. Mateus, em (3:16), nada fala sobre o Espírito Santo, diz apenas: O Espírito de Deus desceu sobre ele como uma pomba.

O Batismo de Fogo é uma difícil fase da vida do ser humano. O arrependimento sincero de seus erros e as transgressões de vidas passadas são a fase preparatória para o Batismo de Fogo, o qual acontece quando ele inicia uma luta pela sua renovação, reparando os males cometidos em outras vidas. É quando, também, dá demonstração de seu propósito de reformar-se interiormente. Simbolicamente, significa esterilizar-se das contaminações contraídas no decurso de suas várias reencarnações.

O Batismo pelo Espírito é a constância na prática do Bem, com a consequente evolução moral, obtendo, por mérito, o reconhecimento do Plano Espiritual Superior. É quando o indivíduo consegue sintonia com o Mundo Maior, como sucedeu com os apóstolos de Jesus, no Dia de Pentecostes. Isso é colimado, através de um árduo Batismo de Fogo, quando ele luta, sem esmorecimento, num longo aprendizado, vencendo as provações e se aprimorando espiritualmente.
Jesus Cristo desceu à Terra, a fim de submeter todos os seus irmãos, filhos de Deus, ao Batismo de Fogo e do Espírito, pois somente, assim, todos os homens e mulheres atingirão a reforma interior, o que, aliás, o objetivo básico do advento do Cristo, na Terra.
Paulo A. Godoy
Casos controvertidos do Evangelho,

sábado, 29 de setembro de 2012

O SINAL DE JONAS


"Maligna é esta geração; ela pede um sinal, e não lhe será dado
outro sinal senão o sinal do profeta Jonas." - (Lucas, 11:29)
Niníve, capital da antiga Assíria, situada à margem do rio Tigre, era, na Antiguidade, uma cidade muito importante, com uma população superior a 120 mil habitantes. Como ocorria com apreciável parte das grandes cidades do passado, ela vivia mergulhada na corrupção, e entre os habitantes reinavam costumes dissolutos e numerosos desregramentos.
O profeta Jonas, devidamente instruído, via mediúnica, dirigiu-se àquela cidade e ali fez com que seus habitantes se compenetrassem do erro em que estava incorrendo. Durante 40 dias, o profeta fez as suas pregações; então, suas palavras foram acolhidas e, desde o próprio rei até o mais humilde servidor, todos se decidiram a levar a sério aquelas admoestações; assim, como forma de penitência, conforme o costume da época, todos cobriram-se com sacos e se assentaram sobre a cinza.
Com essa demonstração de arrependimento, a cidade foi poupada pela Justiça Divina, evitando-se a destruição que se avizinhava. Quando Jesus desempenhava o seu Messiado, foi procurado por um grupo de escribas, fariseus e saduceus, e dentre eles alguns estrangeiros, que lhe pediram um sinal dos Céus, para que vissem e acreditassem.
A resposta do Mestre foi peremptória: "Maligna é esta geração; ela pede um sinal, e não lhe será dado outro sinal senão o sinal de Jonas." Jesus Cristo proferiu estas palavras angustiado pela incompreensão e dureza dos corações humanos. Ele havia descido à Terra, para o cumprimento da promessa sobre o advento do Messias Redentor.
No desenvolvimento de sua transcendental missão, Ele havia propiciado os mais autênticos sinais: a leprosos, restaurando a vista de cegos, levantando paralíticos e, sobretudo, trazendo uma verdade nova que vinha iluminar a mente dos homens e os horizontes sombrios do mundo. Não obstante todas essas manifestações, ali estava o segmento de um povo que se considerava "eleito de Deus", que se mantinha profundamente empedernido, "duro de cerviz e incircunciso de coração.

Aquele grupo de pessoas foi pedir-lhe um sinal dos Céus, entretanto, os sinais estavam sendo dados diuturnamente; por isso, a sua resposta foi negativa. O sinal de Jonas deveria ser o suficiente para abalar as consciências endurecidas daqueles homens. Diante da personalidade de Jesus Cristo, Jonas não passava de um profeta de projeção relativamente pequena. No entanto, dirigindo-se à população de Nínive, apregoou que a cidade seria destruída por Deus se o seu povo não mudasse de comportamento. Todos receberam as palavras do profeta e, receosos da provável destruição, mudaram radicalmente o modo de vida.

Jesus Cristo, o maior Espírito dentre os que desceram fez persistente e profusa pregação entre os homens, mostrando-lhes como seus corações estavam endurecidos; desmascarou a hipocrisia dos escribas e dos fariseus, demonstrando a precariedade dos seus ensinos e a recalcitrância em obedecer às verdades que emanavam dos Céus, através dos profetas. Não obstante, suas palavras não foram aceitas por muitos e Ele foi condenado e crucificado. Em virtude dessa obstinação e da maldade reinante nos corações desses homens, "a Jerusalém que matava os seus profetas, que apedrejava todos aqueles que lhe eram enviados, foi destruída, dela não restando pedra sobre pedra". (Lucas, 13:34-35).
Quando o Mestre asseverou que nenhum sinal seria dado àquela geração adúltera, infiel, mas apenas o sinal do profeta Jonas, Ele pretendeu dizer que, se o povo fosse mais dócil, mais humilde, mais razoável, teria recebido as suas palavras, assim como o fez o povo de Nínive.
Na realidade, o sinal de Jonas era do conhecimento de todos, pois os escribas liam para o povo o livro do profeta Jonas, e, obviamente, a atitude do povo da capital da Assíria, acatando as suas admoestação e arrependendo-se de suas faltas, era notória para todos. Amargurado diante da incompreensão do seu povo, proclamou Jesus Cristo: "A rainha do sul se levantará no dia do juízo contra os homens desta geração, e os condenará, pois dos confins da Terra ela veio para ouvir a sabedoria de Salomão; eis aqui está quem é maior do que Salomão.
Os homens de Nínive se levantarão no dia do juízo contra esta geração e a condenarão, pois se converteram com a pregação de Jonas; e aqui está quem é maior do que Jonas." (Lucas, 11:31-32)
O apego dos escribas e fariseus aos preceitos das leis antigas era apenas aparente. Eles não aceitavam o sinal de Jonas e muito menos o de Jesus. Não se preocupavam com os sinais dados pelos antigos profetas, o que levou o Mestre a exclamar muito judiciosamente: "Não cuidadeis que sou eu que vos hei de acusar diante de meu Pai. Há um que vos acusa: Moisés, em que vós esperais.
Porque, se vós crêsseis em Moisés, certamente creríeis também em mim, pois de mim escreveu ele. Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?" (João, 5:45 a 47). A pregação de Jesus Cristo foi feita num clima de brandura, de persuasão. Dizia Ele: "já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe a vontade do seu senhor. Mas tenho vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer." (João, 15:15) Não obstante tudo isso, Ele não era aceito, nem na aparência, nem na realidade, pelos mentores do povo de Israel.
A corroboração desta assertiva encontramo-la em (João, 12:37-38): "E ainda que Ele tendo feito tantos milagres diante deles, não criam nele, para que se cumprisse a palavra do profeta Isaías, quando disse: "Senhor, quem acreditou em vossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor?"
Da mesma forma como os Espíritos dos homens são submetidos a penosos resgates individuais, quando malbaratam o legado precioso que Deus lhes concedeu, as cidades também experimentam quedas e dores, quando não dão guarida aos ensinos que, de um modo ou de outro, são proporcionados à sua população pelos mensageiros dos Céus.
As cidades de Sodoma e Gomorra foram destruídas em consequência de seus inúmeros desregramentos; no entanto, segundo a própria expressão de Jesus Cristo, menos rigor haverá para elas, no julgamento divino, do que para Corozaim, Betsaída, Cafarnaum e Jerusalém, onde autênticos sinais foram produzidos pela interferência do Mestre, sem que houvesse acontecido o devido aproveitamento.
Paulo A. de Godoy