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quinta-feira, 7 de março de 2013

III - O QUE SE PODE TRANSFORMAR INTIMAMENTE- Vícios

01 - OS VÍCIOS
"Entre os vícios, qual o que podemos considerar radical?- Já o dissemos muitas vezes: o egoísmo. Dele se deriva todo o mal Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos existe egoísmo. Por mais que luteis contra eles, não chegareis a extirpá-los enquanto não os atacardes pela raiz, enquanto não lhes houverdes destruído a causa. Que todos os vossos esforços tendam para esse fim, porque nele se encontra a verdadeira chaga da sociedade. Quem nesta vida quiser se aproximar da perfeição moral, deve extirpar do seu coração todo sentimento de egoísmo, porque o egoísmo é incompatível com a justiça, o amor e a caridade: ele neutraliza todas as outras qualidades. " (Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Livro Terceiro. Capitulo XII. Perfeição Moral. Pergunta 913.)

Vamos ao encontro de alguns dos condicionamentos e dependências os seres humanos apresentam mais comumente. Certamente o conhecimento desses vícios nos colocará em confronto com eles e nos dará ensejo a uma aferição de como estamos situados os homens em geral. Ninguém, na nossa sociedade, é criticado, ou rejeitado, pelo fato de fumar, beber, jogar, comer bem ou ter suas aventuras sexuais. Tudo isso já foi até mesmo consagrado como natural e, portanto, aceito amplamente como "costumes da época".
Estamos alheios aos perigos e às consequências que os citados hábitos nos acarretam. Além disso, os meios de comunicação estão abertos, sem restrições, à propaganda envolvente e maciça que induz a humanidade ao fumo, ao álcool, ao jogo, à gula e ao sexo. É inacreditável como a sociedade parece se deixar mansamente conduzir, sem a menor reação coletiva, a tão perniciosos incentivos, difundidos por todos os meios.

Em alguns países já há restrições à propaganda de bebidas alcoólicas e de marcas de cigarros, o que representa alguma reação a esses produtos de consumo. No entanto, são igualmente produtos de consumo as revistas e os filmes que exploram o uso indiscriminado das funções sexuais e estimulam o erotismo, produtos esses que se constituem em agentes contaminadores do comportamento moral do homem, que nos induzem ao viciamento das idéias pelo desejo de satisfações ilusórias, fragmentando a resistência ao prazer inconsistente e enfraquecendo os laços das uniões conjugais bem formadas.

Os chamados "hotéis de alta rotatividade" multiplicam-se nos arredores das capitais brasileiras, comprovando a crescente onda da "liberdade sexual", resultado da enganosa suposição de que todas as nossas insatisfações possam ser solucionadas apenas por atos sexuais. Deixamos de abordar aqui o problema dos tóxicos, que são disseminados principalmente entre os jovens, levando-os às mais trágicas e dolorosas experiências, enquanto enriquecem as secretas organizações que manipulam o submundo dos traficantes. Explorados são os moços, precisamente no que diz respeito aos seus desajustes e carências, iludidos por aqueles aproveitadores que os enganam, oferecendo soluções fáceis, acorrentando-os em processos difíceis de recuperação.

Outro entorpecente e agente enganoso do homem é o jogo. O que se tem arrecadado das loterias demonstra o nível de preocupação do nosso trabalhador, que busca fora de si a sorte e o enriquecimento rápido. Ficam a imaginar em detalhes o que seria feito com o dinheiro ganho, centralizando nele a razão principal do que se pode pretender na vida. Mais sonhos e quimeras que apenas alimentam as consciências inadvertidas, desconhecedoras de que as dificuldades existem para desenvolver as potencialidades do nosso espírito, a capacidade de lutar e vencer com esforço próprio. Raramente encontramos campanhas ou propagandas esclarecedoras dos malefícios do fumo, do álcool, do jogo, da gula, dos abusos do sexo e dos prejuízos do tóxico.

Condicionada como está a tantos vícios, de que modo entrará a humanidade na nova fase do progresso moral preceituada por Kardec?
É impraticável conciliar aquele ensinamento com a enorme propagação dos vícios, que envolve cada vez mais as criaturas de todas as idades, incentivando os prazeres individuais sem qualquer senso de responsabilidade e nenhuma preocupação com suas consequências. Parece-nos sensato que deveríamos esperar exatamente o contrário, isto é, a crescente valorização dos homens pelos exemplos no bem e nas atitudes nobres, compatíveis com um clima de respeito ao próximo, de solidariedade humana, de zelo ao patrimônio orgânico e ao manancial de energias procriadoras que detemos.

Numa análise realista, para mudar os rumos da humanidade nesses dias em que pouco se entende da natureza espiritual do homem e da sua destinação além-túmulo, é de se esperar grandes transformações. Mas de que forma? Será que esse desejado progresso moral cairá dos céus sem qualquer esforço nosso? É evidente que será edificado pelos homens de boa vontade, pelos trabalhadores das últimas horas, pelos poucos escolhidos dos que possam restar dos muitos já chamados, pelos Aprendizes do Evangelho que resistirem ao mal e souberem enfrentar não mais as feras e as fogueiras dos circos romanos, porém as feras dos próprios instintos animais e o fogo da agressividade que precisamos atenuar, controlar e transformar.

E para superarmos os defeitos mais enraizados no nosso espírito precisamos fortalecer a nossa vontade, iniciando com a luta por eliminar os vícios mais comuns. Ninguém conseguirá vencer essa batalha se não estiver se preparando para enfrentá-la. Essa condição, no entanto, não se consegue sem trabalho, sem testemunho da vontade aplicada. É, sem dúvida, conquista individual que se pode progressivamente cultivar.

A - A IMAGINAÇÃO NOS VÍCIOS

A criatividade representa, no ser inteligente, um dos seus mais importantes atributos. Pela imaginação penetramos nos mais insondáveis terrenos das idéias. Dirigimos vôos ao infinito, descobrimos os véus no mundo da física, da Química, da Anatomia, da Fisiologia, fazemos evoluir as Ciências, criamos as invenções, desenvolvemos as artes e constatamos o espírito. Essa imaginação, por outro lado, tem sido mal conduzida pelo homem, tanto de modo consciente quanto por desejos inconscientes, levando-o a muitos dissabores, contrariedades, sofrimentos e outras consequências graves.

A capacidade mental do homem está condicionada ao alcance da sua imaginação e ao uso que dela faz no seu mundo íntimo. A faculdade de pensar apresenta uma característica dinâmica, que nos proporciona, pelas experiências acumuladas, a percepção sempre mais ampla da nossa realidade interior e do mundo que nos cerca, num crescente evoluir. Desse modo, as nossas experiências, em todas as áreas, servem de referência para novas e constantes mudanças. Nunca regredimos. Quando muito, momentaneamente estacionamos em alguns aspectos particulares, mas nos demais campos de aprendizagem realizamos avanços. É como num ziguezague mais ou menos tortuoso que vamos caminhando na nossa trajetória evolutiva, porém sempre na direção do tempo, que jamais se altera no sentido do seu avanço.

O homem, pela sua imaginação, cria as suas carências, envolve-se nos prazeres, absorve-se nas sensações e perde-se pelos torvelinhos do interesse pessoal. Cristaliza-se, por tempos, nos vícios que a sua própria inteligência criou, necessidades da sua condição inferior, que ainda se compraz nos instintos, reflexos da animalidade atuante em todos nós encarnados. O ser pensante sabe os males que lhe causam o fumo, o álcool, o jogo, a gula, os abusos do sexo, os entorpecentes, embora proporcionem instantes de fictício prazer e preenchimento daquelas necessidades que a sua mente plasmou.

Tornam-se, então, hábitos repetitivos, condicionamentos que comodamente aceitamos muitas vezes sem quaisquer reações contrárias. Quem conseguiria justificar com razões evidentes as necessidades de fumar, de beber, de jogar, de comer demasiado, e da prática livre do sexo? O organismo humano se adapta às cargas dos tóxicos ingeridos e o psiquismo fixa-se nas sensações. Na falta delas, o próprio organismo passa a exigir, em forma de dependências, as doses tóxicas ou as cargas emocionais às quais se habituara, e a criatura não consegue mais libertar-se; fica viciada. Sente-se, então, incapaz de agir e prossegue sem esforço, contaminando o corpo e a alma, escravizando-se inapelavelmente aos horrores do desequilíbrio e da enfermidade.

Transfere da vida presente para a subsequente certos reflexos ou impregnações magnéticas que o perispírito guarda pelas imantações recebidas do próprio corpo físico e do campo mental que lhe são peculiares. As predisposições e as tendências se transportam, de alguma forma, para a nova experiência corpórea e, nessas oportunidades de libertação que nos são oferecidas, muitas vezes sucumbimos aos mesmos vícios do passado distante. Admitimos, à luz do Espiritismo, um componente reencarnatório nos vícios, o que de certa forma esclarece os casos crônicos e patológicos provocados pelo fumo, álcool, gula, jogo e pelas aberrações sexuais. Raramente estamos sozinhos nos vícios. Contamos também com as companhias daqueles que se servem dos mesmos males, tanto encarnados como desencarnados, em maior ou menor intensidade de sintonia, funcionando como fator de indução à prática dos vícios que ambos usufruem.
Muitas vezes podemos querer deixar tal ou qual vício, mas aquelas companhias nos sugestionam, persuadem e induzem. Como "amigos" do nosso convívio, apelam diretamente, convencendo-nos e arrastando-nos. Como entidades espirituais, agem hipnoticamente no campo da imaginação, transmitindo as ondas magnéticas envolventes das sensações e desejos que juntos alimentamos. Desse modo, ao iniciar o trabalho de extirpar os vícios, podemos estar dentro de um processo em que os três componentes abordados se verifiquem, ou seja: a própria imaginação e o organismo condicionados, a tendência reencarnatória e a persuasão das companhias visíveis e invisíveis.

B - A TENTAÇÃO NOS VÍCIOS

A somatória dos três componentes citados apresenta-se ao nosso intimo sob a forma de tentações. Interpretamos as tentações como sendo as manifestações de desejos veementes, de impulsos incontidos, a busca desesperada de prazeres ou necessidades que sabemos serem prejudiciais, mas que não estamos suficientemente fortes para conter. As tentações podem surgir em algumas circunstâncias como pela primeira vez, e podem repetir-se por muitas vezes, naqueles estados de ansiedade em que somos irresistivelmente impulsionados a cometer engimos para satisfazer desejos. As primeiras tentações estão, quase sempre, mescladas com a curiosidade, com o desejo de experimentar o desconhecido. Nesses casos, a influência dos já experimentados é, na maioria das vezes, o meio desencadeante dos vícios.
Alguém nos leva a praticá-los pela primeira vez quando assim cedemos às primeiras tentações. Esse procedimento é comum nos fumantes, nos alcoólatras, nos jogadores de azar, nos drogados, nos masturbadores. É a imitação que dá origem ao hábito, costume ou vício. Devemos considerar que todos nós somos tentados aos vícios e a muitos outros comprometimentos morais. Podemos ceder às tentações, mas a partir dos primeiros resultados colhidos nas experiências praticadas podemos nos firmar no propósito de não repeti-las e de não chegarmos à condição de viciados. Há também incontáveis ocasiões em que as tentações nem chegam a nos provocar, porque simplesmente não encontram eco dentro de nós. Isto é, já atingimos um nível de amadurecimento ou de consciência em que já não nos sintonizamos mais com aquelas categorias de envolvimentos ou de atrações. Não sentimos necessidade de experimentar o que possam nos sugerir; já nos libertamos, de alguma forma.

C - QUAL O NOSSO OBJETIVO?

Indiscutivelmente, todos nós colhemos, no sofrimento, os frutos amargos dos vícios, cedo ou tarde. Aí, na maioria, as criaturas despertam e começam a luta pela sua própria libertação. Não precisamos, porém, chegar às últimas consequências dos vícios para iniciar o trabalho de auto-descondicionamento. Podemos ganhar um tempo precioso e deliberadamente propormo-nos o esforço de extirpá-los de nós mesmos. É uma questão de ponderar com inteligência e colocar a imaginação a serviço da construção de nós mesmos. Esse é o nosso objetivo: compreender razoavelmente as características dos vícios e buscar os meios para eliminá-los.

Perguntamos: O que o amigo leitor acha que é fundamental em qualquer processo de conquista individual? É o querer? É a vontade posta em prática?É a ação concretizando o ideal?

Primeiro, perguntemos a nós mesmos se queremos deixar mesmo de fumar, de beber, de jogar, e se desejamos controlar a gula, o sexo.

E por quê? Temos razões para isso? O que nos motiva a iniciar esse combate? Será apenas para sermos bonzinhos? Ou teremos razões mais profundas? É claro que sabemos as respostas. O que ainda nos impede de assumirmos novas posições é o apego às coisas materiais, aos interesses pessoais, que visam a satisfazer os nossos sentidos físicos, digamos periféricos, ainda grosseiros e animais, indicativos de imperfeições. É uma questão de opção pessoal, livre e disposta a mudanças. A vontade própria poderá ser desenvolvida, até com pouco esforço; não será esse o problema para a nossa escolha. A questão é decidir e comprometer-se consigo mesmo a ir em frente.

Comecemos, então, por eliminar os vícios mais comuns, aqueles já citados, de conhecimento amplo e de uso social, que apresentaremos detalhadamente nos capítulos seguintes. Coloquemo-nos em posição de renunciar aos enganosos prazeres que os mesmos possam estar nos oferecendo e lutemos! Lutemos com todo o nosso empenho e não voltemos atrás!

D - FAÇA SUA AVALIAÇÃO INDIVIDUAL

1. Sente-se irresistivelmente condicionado a algum vício?
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2. Sofre as consequências maléficas que os mesmos provocam?
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3. Já tentou libertar-se voluntariamente de algum desses vícios?
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4. Analise como começou neles e conclua:

— Por livre desejo?
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- Por sugestão de alguém?
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5. Quando tentado a experimentar algum dos vícios sociais, cede facilmente?
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6 -. Percebe, por vezes, a sua imaginação articulando sensações que o satisfazem ao alimentá-las?
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7 - Já pensou que esse tipo de imaginação nos predispõe a cometê-las?
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8 - Tem dificuldades em afastar da mente os devaneios e os pensamentos ligados a prazeres íntimos?
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9 - Já chegou a compreender a necessidade de eliminar os vícios?
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10 - Acha que poderá com o próprio esforço deles se libertar?

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Ney P. Peres

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

TENTAÇÕES AFETIVAS

TENTAÇÕES AFETIVAS
Escrito por Joanna de Ângelis   
 

Esta sede insaciável de prazer renovado, leva-te ao desequilíbrio.

Essa busca irrefreável de afeto que te plenifique, conduz-te ao abismo da loucura.

Tal ansiedade por encontrar quem te compreenda e apóie, oferecendo-te segurança integral, empurra-te para os precipícios dos vícios dissolventes.

A pressa de encontrar quem esteja disposto a doar-te ternura, afasta os corações que pretendem ajudar-te, porque
em faixa afetiva diferente eles se te afeiçoam em espírito, enquanto vibras outra forma de necessidade.

A insatisfação, face ao muito que desfrutas, gera em ti distúrbio lamentável de comportamento, que ameaça a tua vida.

O que falta, a qualquer pessoa, é resultado do seu mau uso em oportunidade transata.

Carência de hoje, foi desperdício de ontem.

Ninguém há, que se encontre, na Terra, completo e realizado.

Na área da afetividade, a cada momento defrontamos amores eternos que depois se convertem em pesadelos de ódio e crime.

Muitas promessas "para toda a vida", às vezes, duram uma emoção desgastante e frustradoras.

Sorrisos e abraços, júbilos infindos de um momento, tornam-se, sem motivo aparente, carantonhas de rancor, agressões violentas e amarguras sem nome.

Tudo, no mundo corporal, é transitório, forma de aprendizagem para vivências duradouras, posteriormente.

Assim, evita sonhar, acalentando esperanças absurdas, nas quais pretendes submeter os outros aos teus caprichos pessoais, que também passarão com rapidez.

O que agora te parece importante, mais tarde estará em condição secundária.

Ontem aspiraste determinada conquista que, lograda, hoje não te diz mais nada.

Se desejas o amor de plenitude, canaliza as tuas forças para a caridade, transformando as tuas ansiedades em bem-estar noutros muito mais necessitados do que tu.

Não desvies a tônica da tua afetividade, colocando sentimentos imediatistas, que te deixarão ressaibos de desgostos e travos de fel.

A outra, a pessoa que, por enquanto, consideras perfeita e capaz de completar-te, é tão necessitada quanto o és tu.

Na ilusão, adornas-lhe o caráter, para descobrir, mais tarde, o ledo engano.

Conserva puro o teu afeto em relação ao próximo e não te facultes sonhos e fantasias.

Aquilo que mereces e de que necessitas, chegará no seu momento próprio.

Reencarnaste para aprender e preparar o futuro, não para fruir e viver em felicidade que ainda não podes desfrutar.

Cuidado, portanto, com as aspirações-tentações, que se podem converter em sombras na mente e em sofrimentos incontáveis para o coração.

Afirmou Jesus, que os Seus "discípulos seriam conhecidos por muito se amarem", sem que convertessem esse sentimento-luz em grilhão-treva de paixão.


Joanna de Ângelis / Divaldo P. Franco
Do livro: Vigilância

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Necessidade de Vigilância


Clara Lila Gonzales de Araújo
Essa passagem de Jesus, ocorrida no horto de Getsêmani, no Monte das Oliveiras, também registrada em Marcos (14:38) e Lucas (22:46), tem sido ressaltada pelos Espíritos superiores, ao avaliarem o grau de imperfeição que nos caracteriza o ser, a cada oportunidade de encarnação. Afirma o Espírito Emmanuel, a esse respeito:
As mais terríveis tentações decorrem do fundo sombrio de nossa individualidade. [...] Renascemos na Terra com as forças desequilibradas do nosso pretérito para as tarefas do reajuste. Nas raízes de nossas tendências, encontramos as mais vivas sugestões de inferioridade. [...]1
Jesus nos fala a respeito das tentações e da vigilância em outros ensinamentos, por exemplo, ao ser transportado por um Espírito maléfico ao pináculo do templo e, depois, ao cume de uma montanha, sendo importunado pelo gênio perverso que, desejando tentá- lo, oferece-lhe todos os reinos do mundo e a glória que os cerca em troca de sua lealdade e adoração às forças do mal (Mateus, 4:1 a 11; Marcos, 1:12 e 13; e Lucas, 4:1 a 13). O episódio é citado em A gênese com a explicação de Allan Kardec de que o importante preceito não teria sido compreendido na sua qualidade, tendo a credulidade pública o interpretado, apenas, como fatos materiais. A análise, contida na obra citada, foi extraída da instrução dada pelo Espírito João Evangelista, recebida em Bordeaux, no ano de l862, conforme trecho que se segue:
Jesus não foi arrebatado. Ele apenas quis fazer que os homens compreendessem que a Humanidade se acha sujeita a falir e que deve manter-se sempre vigilante contra as más inspirações a que, pela sua natureza fraca, é impelida a ceder. A tentação de Jesus é, pois, uma figura e fora preciso ser cego para tomá-la ao pé da letra. [...] O Espírito do mal não teria nenhum poder sobre a essência do bem. [...]2
Inúmeras lições de Jesus chamam a nossa atenção para não sermos tentados. Podemos avaliá- -las do ponto de vista humano, pois a expressão tentação, para nós, significa problemas a enfrentar na luta pessoal por nós travada para aquisição dos bens que o mundo nos oferece, a qual é aspiração justa para a concretização de uma vida melhor, e das situações vividas ao lado daqueles que nos rodeiam. No entanto, há certos gozos materiais que podem levar- nos a cometer excessos, o que Deus permite para testar a nossa conduta:
Para estimular o homem ao cumprimento da sua missão e também para experimentá-lo por meio da tentação.3
O Criador nos testa a razão e nos preserva dos descomedimentos para não sermos vítimas de circunstâncias alheias à nossa vontade, fruto das opções equivocadas que nos agradam. A liberdade consiste exatamente em escolher o que nos atrai e influencia.
Possuímos compreensão do nosso estado moral e das decisões que tomamos, de acordo com os motivos de nossa preferência, mas que nem sempre poderão nos beneficiar espiritualmente? Que justificativa buscar para as infrações às leis morais que cometemos?
Ao discorrer sobre o Resumo teórico do móvel das ações humanas, Kardec analisa a questão do livre- -arbítrio:
Sem o livre-arbítrio o homem não teria nem culpa por praticar o mal, nem mérito em praticar o bem. Isto é de tal modo reconhecido que a censura ou o elogio, em nosso mundo, são feitos à intenção, isto é, à vontade. Ora, quem diz vontade, diz liberdade. O homem, portanto, não poderá buscar no seu organismo físico nenhuma desculpa para os seus delitos, sem abdicar da razão e da sua condição de ser humano, para se equiparar aos animais. [...]4
Outras ideias referentes ao tema são desenvolvidas no resumo da questão 872, de O livro dos espíritos, citado anteriormente, sobretudo ao destacar o conceito de fatalidade. Para o Espiritismo, a fatalidade “existe na posição que o homem ocupa na Terra e nas funções que aí desempenha”,4 concorde com o gênero de existência que o Espírito escolheu para si, de prova, expiação ou missão. Desse modo, sofremos, fatalmente, certos infortúnios a cada vinda ao corpo de carne e experimentamos os efeitos das tendências boas ou más que nos são peculiares. Nesse ponto, porém, acaba o inevitável, pois da nossa vontade depende ceder ou não a essas inclinações:
[...] Pode deixar de haver fatalidade no resultado de tais acontecimentos, visto depender do homem, pela sua prudência, modificar o curso das coisas. Nunca há fatalidade nos atos da vida moral.4
É fácil avaliar a situação moral em que nos encontramos, especialmente se identificarmos os vícios de que porventura não estejamos completamente libertos.
[...] nós os conhecemos pelas nossas tendências atuais, e para elas é que devemos voltar todas as atenções. Basta saber o que somos, sem que seja necessário saber o que fomos.5
Sem o desejo sério de nos melhorarmos, não tomaremos cuidado na urgência da essencial vigilância. Preocupado com o futuro de seus discípulos, por estar próximo ao termo de sua passagem pelos caminhos terrenos, Jesus diz para Pedro, no expressivo diálogo que manteve com ele, narrado na belíssima obra Boa nova:
[...] A criatura na Terra precisa aproveitar todas as oportunidades de iluminação interior, em sua marcha para Deus. Vigia o teu espírito ao longo do caminho. Basta um pensamento de amor para que te eleves ao Céu; mas, na jornada do mundo, também basta, às vezes, uma palavra fútil ou uma consideração menos digna para que a alma do homem seja conduzida ao estacionamento e ao desespero das trevas, por sua própria imprevidência! Nesse terreno [...], o discípulo do Evangelho terá sempre imenso trabalho a realizar [...].6
A tentação, portanto, constitui um ato moral e a vigilância é consequência do esforço que fazemos, de modo a conquistar a humildade, o desinteresse e a renúncia de nós mesmos. Entretanto, nem sempre conseguimos vencer intimamente. As dificuldades a enfrentar se originam, principalmente, de não sabermos distinguir as manifestações do nosso intelecto, que funcionam como auxiliar na reforma íntima, das demonstrações dos sentimentos, das emoções e do estado psíquico em geral, que afetam a nossa estabilidade interior. A renovação efetiva depende da disposição total do Espírito no aproveitamento de todas as suas possibilidades, na busca de novas maneiras de ser, de pensar, de agir, em substituição às vivências adquiridas em suas existências anteriores. Quantos de nós, intelectualmente favorecidos pela razão e pelo saber, não conseguimos vencer as lutas morais oferecidas pela misericórdia divina, por não aceitarmos as verdades eternas do Evangelho de Jesus que, se aplicadas, poderiam amenizar os sofrimentos e as decepções dos tempos atuais? Se todos os homens pensassem de forma consciente em Deus, não cometeriam tantos erros! Em nota a uma das questões de O livro dos espíritos, Kardec alerta-nos sobre a incapacidade do homem de entender a plenitude infinita de Deus:
A inferioridade das faculdades do homem não lhe permite compreender a natureza íntima de Deus. Na infância da Humanidade, o homem o confunde muitas vezes com a criatura, cujas imperfeições lhe atribui; mas, à medida que nele se desenvolve o senso moral, seu pensamento penetra melhor no âmago das coisas; então ele faz da Divindade uma ideia mais justa e mais conforme à sã razão, embora sempre incompleta.7
Por isso, avançamos nas descobertas e nos estudos das várias ciências e religiões utilizadas pelo homem, mas ainda nos colocamos num campo de vulgaridades, incapazes de valorizar as riquezas espirituais que nos cercam. O Espírito André Luiz transmite, em um de seus livros, a palavra sensata de Alexandre, instrutor devotado, em uma sessão de estudos mediúnicos, que traz apreciações interessantes sobre as concepções existentes a respeito da obra divina:
[...] Desde o primeiro dia de razão na mente humana, a ideia de Deus criou princípios religiosos, sugerindo-nos as regras de bem-viver. Contudo, à medida que se refinam conhecimentos intelectuais, parece que há menor respeito no homem para com as dádivas sagradas. [...]8
Peçamos a Deus a força necessária para vencermos a nós mesmos, conforme a oração dominical, ensinada por Jesus, ao rogar sinceramente: “E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal”. (Mateus, 6:13; Lucas, 11:4.)

1 XAVIER, Francisco C. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 110.
2 KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 15, it. 53, p. 438.
3 ______. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 712.
4 ______. ______. Q. 872.
5 ______. O céu e o inferno. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Pt. 2, cap. 6, it. Jacques Latour, p. 455.
6 XAVIER, Francisco C. Boa nova. 3. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 21.
7 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Comentário de Allan Kardec à q. 11.
8 XAVIER, Francisco C. Missionários da luz. Pelo Espírito André Luiz. 3. ed. especial. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 4, p. 41.

Revista O Reformador Janeiro de 2013

domingo, 30 de dezembro de 2012

QUAL DOS PODERES?


"E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei todo este poder e a glória, destes reinos
porque ela a mim me foi dado, e dou-a a quem eu quiser." - (Lucas, 4:6)
"E chegando-se Jesus falou-lhes, dizendo: É-me dada toda a autoridade
no Céu e na Terra." - (Mateus, 28:18)
No episódio simbólico, na tentação de Jesus, o espírito maligno oferece-lhe todo o poder e a glória deste mundo, em troca da Sua submissão, acrescentando ainda: "porque a mim foi dada toda a glória e dou-a a quem quero".

Por outro lado, o próprio Jesus, chegando à Galiléia (em Espírito), conclamou a multidão dos discípulos e disse-lhes: "E'-me dado todo o poder no Céu e na Terra".

Aparentemente há um conflito entre as duas citações evangélicas acima. Numa o Espírito do mal, personificado na figura lendária do diabo, proclama-se o detentor de todo o poder e glória deste mundo. Noutra o Cristo, após cumprir a sua redentora missão no mundo e ser crucificado, proclama em Espírito que toda a autoridade lhe foi outorgada, no Céu e na Terra.

O Mestre conquistou tudo aquilo que Lhe fora ofertado pelo Espírito das trevas, sem que lhe houvesse prestado qualquer tipo de subserviência. Ele, que desceu à Terra já investido desse poder, pelo fato de ser o Mentor maior do nosso mundo, e o Filho Ungido de Deus, confirmou a Sua posse após ter passado pelo mundo, nele implantando a Sua mensagem redentora, o que já o havia levado a dizer antes do martírio do Calvário: "Eu venci o príncipe deste mundo".

Realmente, desde os tempos mais primitivos, as forças das trevas vêm exercendo predomínio sobre muitos homens, pois estes preferem sempre o poder e a glória efêmera do mundo, as riquezas, o fausto e a opulência, relegando para segundo plano as conquistas das virtudes santificantes do Espírito, sintetizadas na implantação dos corações humanos, de tudo aquilo que Jesus no legou e que está contido nas páginas rutilantes dos Evangelhos.

O poder exercido pelas trevas é transitório, não persiste para sempre. A própria História da Humanidade nos tem demonstrado que os poderes e a glória conquistados pela força, pela violência, pela maldade, pela traição e pela prática das iniqüidades duram muito pouco. Para ilustração, mencionemos os grandes impérios que avassalaram nações e dominaram o mundo. Todos eles ruíram fragorosamente.

Os homens que a História registra como grandes heróis e conquistadores têm as suas memórias cultivadas nos monumentos de pedra, apenas pelos que sentem a mesma a volúpia de posse da vida terrena. Eles fundamentaram suas conquistas sobre dores, lágrimas e morte. O contrário sucede com os que aqui vieram, a fim de iluminar os horizontes sombrios do mundo, fazendo-o com os seus ensinos e exemplos edificantes.
A memória destes últimos permanece gravada no corações dos homens que se ufanam de propugnar pelas coisas do Espírito e pela implantação dos ensinamentos do Cristo em suas próprias almas. Estes procuram aplacar as dores, enxugar as lágrimas e ensinar o caminho da conquista da vida eterna.

Jamais se apagam dos corações humanos numerosas figuras exponenciais que amargara dores e aflições no desempenho de cruciantes apostolados no mundo, apregoando excelência do reinado do Espírito. Foram homens que experimentaram as perseguições e morte por causa das suas idéias reformadoras, por isso passaram a constituir verdadeiros elos entrelaçando o Céu e a Terra.
A glória e o poder de cunho terreno são efêmeros, e o homem pode desfrutar deles apenas durante uma vida no mundo, nada levando para a vida futura. Esse fastígio encerra-se no limiar do túmulo. Por outro lado, as conquistas processadas no campo do Espírito passam a ser parte intrínseca dos seres, e assim, levadas para a vida futura, por constituírem aquisições nobilitantes da alma ou um tesouro amealhado nos Céus.

Se Jesus quisesse aceitar a sugestão das entidades trevosas, por certo teria evitado o sacrifício do Calvário, faria um conluio com os poderes terrenos, continuaria a deleitar-se com o vinho alegre de Caná, porém, a Humanidade jamais seria premiada com o tesouro inesgotável dos Evangelhos, fonte perene de consolação, de lenitivo para todos os males; por isso, Jesus disse, sentenciosamente: "Retira-te satanás!".

Apenas para melhor elucidar estes episódios, cumpre-nos esclarecer que as figuras de diabo, satanás, Lúcifer, Belzebu ou príncipe dos demônios não representam entidades personificadas, mas são simplesmente nomes genéricos, identificando os espíritos do mal. Na antiguidade remota, acreditava-se na existência do deus do mal e do deus do bem. Hoje ninguém aceita essa concepção, pois somente existe um Deus, Criador de todas as coisas, arquiteto do Universo e da vida.
Paulo A. Godoy

sábado, 15 de dezembro de 2012

A TENTAÇÃO DO REPOUSO


Num campo de lavoura, grande quantidade de vermes desejava destruir
um velho arado de madeira, muito trabalhador, que lhes perturbava os planos
e, em razão disso, certa ocasião se reuniram ao redor dele e começaram a
dizer:
— Por que não cuidas de ti? Estás doente e cansado...
— Afinal, todos nós precisamos de algum repouso ...
— Liberta-te do jugo terrível do lavrador!
— Pobre máquina! A quantos martírios te submetes!...
O arado escutou... escutou... e acabou acreditando.
Ele, que era tão corajoso, que nem sentia o mais leve incômodo nas mais
duras obrigações, começou a queixar-se do frio da chuva, do calor do Sol, da
aspereza das pedras e da umidade do chão.
Tanto clamou e chorou, implorando descanso, que o antigo companheiro
concedeu-lhe alguns dias de folga, a um canto do milharal.
Quando os vermes o viram parado, aproximaram-se em massa, atacandoo
sem compaixão.
Em poucos dias, apodreceram-no, crivando-o de manchas, de feridas e de
buracos.
O arado gemia e suspirava pelo socorro do lavrador, sonhando com o
regresso às tarefas alegres e iluminadas do campo...
Mas, era tarde.
Quando o prestimoso amigo voltou para utilizá-lo, era simplesmente um
traste inútil.
A história do arado é um aviso para nós todos.
A tentação do repouso é das mais perigosas, porque, depois da
ignorância, a preguiça é a fonte escura de todos os males.
Jamais olvidemos que o trabalho é o dom divino que Deus nos confiou
para a defesa de nossa alegria e para a conservação de nossa própria saúde.

O PROBLEMA DA TENTAÇÃO


O educador, em aula, tentava explicar aos meninos que o móvel das
tentações reside em nós mesmos; contudo, como os aprendizes mostravam
muita dificuldade para compreender, ele se fez acompanhar pelos alunos até
ao grande pátio do colégio.
Ai chegando, mandou trazer uma bela espiga de milho e perguntou aos
rapazes:
— Qual de vocês desejaria devorar esta espiga tal como está?
Os jovens sorriram, zombeteiramente, e um deles exclamou:
— Ora vejam!... quem se animaria a comer milho cru?
O professor então mandou vir à presença deles um dos cavalos que
serviam à escola, instalou alguns obstáculos à frente do animal e colocou a
espiga ao dispor dele, sobre pequena mesa.
O grande eqüino saltou, lépido, os impedimentos e avançou, guloso, para
o bocado.
O professor benevolente e amigo esclareceu, então, bondosamente, ante
os alunos surpreendidos:
— A tentação nos procura, segundo os sentimentos que trazemos no
campo íntimo. Quando cedemos a alguma fascinação indigna, é que a nossa
vontade permanece fraca, diante dos nossos desejos inferiores. As forças que
nos tentam correspondem aos nossos próprios impulsos. Não podemos imaginar
ou querer aquilo que desconhecemos. Por esse motivo, necessitamos
vigiar o cérebro e o coração, a fim de selecionarmos as sugestões que nos
visitam o pensamento.
E, terminando, afirmou:
— As situações boas ou más, fora de nós, são iguais aos propósitos bons
ou maus que trazemos conosco.

Meimei/Chico Xavier
Livro : Pai Nosso

sábado, 29 de setembro de 2012

5 - REMINISCÊNCIAS E TENDÊNCIAS



"As tendências instintivas do homem sendo uma reminiscência do seu passado, conclui-se que, pelo estudo dessas tendências, ele poderá conhecer as faltas que cometeu? — Sem dúvida, até certo ponto, mas é necessário ter em conta a melhora que se possa ter operado no Espírito e as resoluções que ele tomou no seu estado errante. A existência atual pode ser muito melhor que a precedente. "
(Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Capítulo VII. Retorno à Vida Corporal. Pergunta 398.)

"Sendo as vicissitudes da vida corpórea, ao mesmo tempo, uma expiação das faltas passadas e provas para o futuro, segue-se que, da natureza dessas vicissitudes, possa induzir-se o gênero da existência anterior? — Muito frequentemente, pois cada um é punido naquilo em que pecou. Entretanto, não se deve tirar disso uma regra absoluta; as tendências instintivas são um índice mais seguro, porque as provas que um Espírito sofre tanto se referem ao futuro quanto ao passado. "(Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Capítulo VII. Retorno à Vida Corporal. Pergunta 399.)


De que modo poderemos compreender melhor alguns traços ou disposições que parecem ser natos em nosso comportamento? -Certamente reconhecemos, por vezes, em nossa maneira de reagir, algumas manifestações que são típicas e que não temos nítida consciência do "porquê" de elas acontecerem incontroladamente. Essas manifestações podem estar contidas num enorme quadro de configurações de nossas reações interiores, assim chamadas predisposições, tendências, inclinações, pendores, impulsos compulsivos, e estão estreitamente relacionadas com os nossos hábitos e vícios, erros e defeitos.

O princípio da reencarnação, um dos fundamentos do Espiritismo, abre amplamente o entendimento dessas tendências instintivas, que constituem grande parte da atividade mental do homem, de forma inconsciente, incontrolada, impulsiva, irresistível. É muito grande o acervo de experiências marcantes que se gravaram em nosso espírito através das múltiplas reencarnações passadas, e que constitui o material adquirido e arquivado nas suas camadas magnéticas sutis.
Considerando-se a mente como nossa central geradora de forças, sediada no espírito, nela registram-se as impressões criadas nas experiências vividas em todas as épocas, de forma semelhante às trilhas magnéticas deixadas numa película plástica, ou como num computador eletrônico, que reúne incontáveis informações que permanecem guardadas por um processo de memorização (Memória de um aparelho computador, é a sua capacidade de processar, responder e guardar certo número de informações ou dados. O computador de fato processa informações ou dados, mas através do recebimento de informações. E também responde, emitindo os resultados. Porém, a "memória" do computador — para guardar dados - é externa ao aparelho, e se faz através de fitas, discos ou cartões).

Do mesmo modo, esses dados registrados na memória de certos aparelhos, quando indicam valores de carga acima ou abaixo de padrões estabelecidos, emitem sinais que vão provocar ações corretivas no complexo sistema de automatismos controladores, que podem regular o funcionamento de uma central abastecedora de energia elétrica, entre outros exemplos de aplicação. Ora, a nossa mente tem também o seu potencial de registro, de processamento e de resposta àquelas experiências vividas, que devem igualmente se acumular em microcamadas magnéticas sutis, inter-relacionadas, possivelmente em outras dimensões, capazes de reter sons, imagens, emoções, idéias.
Do mesmo modo, quando essas emoções e idéias ferem e comprometem certos padrões estabelecidos pelas leis morais, que constituem as leis divinas, ainda é a própria mente que, atingida no supraconsciente por aquelas perturbações do seu equilíbrio, vai emitir respostas corretivas em direção àqueles sulcos ou focos que permanecem em agitação enquanto não forem corrigidos: são os distúrbios, as desarmonias, distonias, inquietações, que a própria consciência guarda e acumula, superpondo no tempo os indeléveis registros carentes de renovação.

Aqueles pontos em desequilíbrio passam a comprometer o fluir normal das energias do espírito, criando tensões nas microcamadas magnéticas multidimensionais da mente, manifestando-se nas formas de afloramentos, de lampejos, de impulsos, que emergem das profundidades do inconsciente para o presente, de forma viva e atuante.

Para o espírito encarnado, condicionado ao novo equipamento orgânico e à atual programação reencarnatória, a lembrança daquelas experiências desagradáveis ficou momentaneamente submersa, e ele não se recorda, portanto, das ocorrências propriamente, mas elas agem, pois são de sua propriedade e foi a sua própria consciência que as registrou para voluntária ou compulsoriamente corrigi-las. Formam elas os processos e os conteúdos do nosso inconsciente e as suas manifestações acontecem de forma velada para o nosso consciente. Representam, assim, as reminiscências, que se caracterizam pelas tendências instintivas que trazemos.

Como poderemos, então, pelo conhecimento, no estudo e na análise dessas tendências, trabalhar voluntariamente para retificá-las, corrigindo os acontecimentos transgressores? O Prof. Carlos Toledo Rizzini, em seu livro Evolução para o Terceiro Milênio (Capítulo 5. Desequilíbrios. Enfermidades. Item 18. Impulsos; impulsos convulsivos), trata com detalhes dos mecanismos de atuação dessas tendências instintivas que o mestre Kardec indagou aos Espíritos, como indicativas das nossas faltas cometidas no passado (O Livro dos Espiritos. Pergunta 398).
Diz-nos Carlos Rizzini (Parágrafo 2): impulso é um "estado de excitação do sistema nervoso central, que surge em resposta a um estímulo interno ou externo, o qual poderá ser uma pessoa, uma cena, uma conversa, uma palavra, insultos, bebida, etc." e, assim, "originado por forças inconscientes, aparece, posto isso, na área do consciente"... "Inúmeras vezes não sabemos a que coisa o inconsciente reagiu tão fortemente, a ponto de criar um impulso, que será sentido em forma de súbita emoção ou comando imperioso".
O parágrafo 6 do já citado item 18, pela sua importância no objetivo de dilatar o entendimento pessoal para as manifestações intempestivas do nosso ser, é transcrito abaixo:

"Um impulso pode renascer muitas vezes, fazendo com que o sujeito sinta o choque emocional sem ter conhecimento consciente da situação desagradável que está representada em sua mente inconsciente. Ocorre, portanto, uma dissociação entre a emoção sentida e as imagens correspondentes. Estas permanecem ignoradas, enquanto aquela se liberta diante do novo fato que serve de estímulo, e vem afetar o consciente. Nesse caso, a pessoa, diante de outra ou de algum acontecimento, sente-se invadida por imperioso impulso de agredir, ofender, fugir, tremer, gritar, calar-se, etc., sem compreender a razão do que está se passando com ela, razão que jaz no inconsciente sob a forma de recordação completa de um evento semelhante (ou equivalente), desta ou mais comumente de outra vida. O que sobe ao consciente, por obra do estímulo, é parte da energia ligada às lembranças, a qual vai desencadear o estado emotivo incompreendido".

"Mediante a exposição acima, compreende-se que, conforme as experiências gravadas no espírito, uma pessoa mantenha-se calma diante de situações desagradáveis que envolvam certos indivíduos, e profundamente irritada em face de outras sem importância, mas relacionadas com determinadas pessoas. E. G., o pai que não ouve o insulto de um filho e zanga-se com outro porque se atrasou cinco minutos para o jantar. Uns fatos atingem porções sensibilizadas do inconsciente (ou agitam certos conteúdos dele), e outros não encontram ressonância ali."

Diante dos vários estímulos que — no convívio com familiares, colegas de trabalho e pessoas em sociedade — podem desencadear os impulsos decorrentes de ódios, vinganças, orgulho ferido, inveja, ciúmes, personalismo, intolerâncias, impaciências, urdidos do passado, temos duas opções: 1° o perdão que corrige o desequilíbrio provocado na própria consciência e harmoniza o espírito com as leis divinas; e 2° a repetição do erro, que intensifica e agrava a transgressão, mantendo-nos infelizes e presos a resgates compulsórios em novas experiências, nessa ou em outra existência.

Essas tendências que trazemos de nascença, refletem a nossa realidade espiritual, estão ligadas à nossa história evolutiva, encerram a verdade que cada um traz dentro de si mesmo, no hoje, no agora, e que pode manifestar-se a qualquer instante, basta apenas haver um incentivo, uma provocação. Desse modo, a observação, o estudo, a análise desse nosso mundo de tantas cenas passadas, que se esconde no inconsciente, e que apenas se deixa conhecer pelos lampejos de nossos impulsos, são os meios que temos para desvendar nossos pontos fracos, que possivelmente vêm se repetindo de existência em existência, e com os quais temos lutado, procurando melhorar nesse plano e, quando na Espiritualidade, pelas resoluções tomadas de renovação.

André Luiz diz-nos ainda que os citados impulsos são facilmente superexcitados por estímulos constantes produzidos por espíritos desencarnados, cujas emissões mentais são idênticas às do encarnado que perseguem. Apresentamos, quase sempre, resquícios de nossas fraquezas ainda não superadas, oferecendo pasto fácil aos atentos inspetores invisíveis do mal que, inteligentemente, recorrem às nossas antigas debilidades para torpedear nossa resistência, induzindo-nos de forma envolvente, hipnótica, a repetir as mesmas reações que estamos assim a elas predispostos.

E nem sequer nos damos conta disso. Quando percebemos, já cometemos as mesmas intemperanças e novos esforços empenhamos para não repeti-las. Trazemos também, para a presente vida, certas inclinações de repetir hábitos e necessidades alimentados numa vida anterior mal conduzida, tais como os costumes de beber, fumar, comer demasiado, jogar, cometer gastos supérfluos e exageros no vestir, irresistível atração pelo sexo oposto, comodismo ocioso, preguiça, conquista de prestígio social, desejo de domínio, aquisição de riqueza, aumento de propriedades, etc.

De alguma forma somos testados, até sem saber, nas resoluções que tomamos quando na Erraticidade e na melhora que possamos ter operado no nosso Espírito, ao defrontarmo-nos com semelhantes experiências na presente vida. A correção, retificação do erro, ou o reequilíbrio de nossa consciência, não se realiza apenas com bons propósitos. É necessário dar provas, isto é, ao passar pelas mesmas ocorrências do ontem distante, refrear os nossos impulsos retrógrados com a luz do entendimento e transformá-los em impulsos evolutivos que nos libertam a alma.

É muito suave, reconfortante e tranquilizador o que sentimos ao superar uma má inclinação, um impulso de rancor, de irritação, um hábito desagradável, uma deficiência de conduta, um defeito moral, um vício ou costume. É como se fôssemos fortalecidos e agraciados dentro de nós mesmos por uma batalha vencida, uma conquista realizada.

Esse conteúdo emocional robustece o nosso espírito e amplia nossa consciência, equilibra nossas energias e restaura, nas camadas profundas do inconsciente, a saúde mental. Recuperamos nosso bem-estar e ampliamos nossa capacidade de amar.

A TERAPIA DAS VIDAS PASSADAS

Interessante trabalho vem sendo realizado há catorze anos por um psicólogo americano, Dr. Morris Netherton, que descreve, em seu recente livro "Past Lives Therapy" (Terapia das Vidas Passadas), como tem tratado, em seu consultório de psicoterapia, casos de traumas, fobias, distúrbios de comportamento, problemas sexuais, alcoolismo, enxaquecas, úlceras, epilepsias, gerados em acontecimentos e experiências muito marcantes de vidas anteriores. Segundo o Dr. Netherton, aqueles fatos ficaram indelevelmente registrados, como cicatrizes, no "inconsciente", passando a exercer pressões emocionais no indivíduo, até que conscientemente ele possa compreender o desenrolar histórico e o encadeamento dos fatos que lhe causam os problemas do presente.
O autor comenta que cada um traz registrada em si mesmo toda a sua história, encerrando as próprias verdades que, uma vez aceitas e deliberadamente assumidas como de nossa responsabilidade pessoal, começam então a funcionar, auxiliando-nos nas mudanças de comportamento. A partir disso, o processo de reequilíbrio tem sequência, os indivíduos compreendem as causas e os mecanismos dos seus males e realizam a própria cura na mudança das atitudes.

Desaparecem os sintomas e as criaturas voltam à normalidade, passando de apáticas a joviais, de agressivas a sociáveis, de introspectivas a comunicativas, de esquisitas a simpáticas, de enfermas a sãs. Há uma melhora geral nas pessoas, fruto da própria renovação mental. Comentamos esses resultados por encontrar importante subsídio comprobatório das reminiscências que todos apresentamos e que só depende de nós mesmos atenuá-las pelo trabalho consciente nas próprias mudanças de atitudes.

Inicia-se, então, todo o seu esforço de renovação, pelas mudanças íntimas no seu comportamento, que ele mesmo realiza naturalmente. O que lhe era obscuro e nebuloso no seu mundo interior passa a ser compreendido e explicado dentro de uma realidade que lhe é própria, vivida, sentida, percebida. Ele mesmo entende o que deve e precisa corrigir, e o faz deliberadamente, exatamente nos aspectos que ele, melhor do que ninguém, conhece. É, portanto, um "impacto esclarecedor" vivido com todas as cores, emoções, imagens e percepções.

PARA APLICAÇÃO: IDENTIFIQUE AQUI AS CONSEQUÊNCIAS INDIVIDUAIS DO SEU PASSADO

O espírito de Emmanuel, no livro Leis de Amor, nos enseja todo um conjunto de respostas que esclarecem, de modo prático e objetivo, as consequências de nossas faltas do passado, e os seus processos de retificação, regeneração, reabilitação ou emendas. Vejamos, então, como identificá-los em nós e tiremos o necessário proveito do que a seguir condensamos.
(Nota: Leia a cada Causa, nas Doenças, e procure nas páginas adiante, o seu Efeito correspondente, no item de igual número, de l à 7. Leia o Ontem, Na Família, Na Profissão e no Mundo, e procure adiante, na numeração correspondente, o resultado em cada Hoje, de 8 à 20.)


NAS DOENÇAS

CAUSA

1. Ação errada em diferentes setores da vida:

a) ódios, vinganças, agressões;
b) irritação, intolerância, intemperança;
c) extravagâncias no comer;
d) alcoolismo, entorpecentes;
e) maledicência, calúnia;
f) desequilíbrios do sexo;
g) crimes;
h) fumo.

2. Intelectuais que aplicaram mal ou deterioraram o conhecimento e os recursos do sentimento com prejuízos à coletividade.

3. Artistas que corromperam a inteligência alheia nos abusos da imaginação viciosa provocados pelas suas obras ao próximo.

4. Oradores, tribunos e pessoas que influenciaram mal pela palavra, caluniando, ferindo, comprometendo criaturas na maledicência.

5. Utilização desregrada do sexo, no terreno das paixões irresponsáveis, prejudicando corações e provocando tragédias.

6. Casos profundos de cometimentos graves, nos crimes, suicídios, sacrifícios físicos a pessoas, atos de delinquência, abusos da força.

7. Imprudência, desmazelo, revolta, preguiça, embriaguez, cólera, ociosidade, desânimo.

Na Família

Ontem

8. Filhos do passado, onde inoculamos o egoísmo e a intolerância.

9. Irmãos que arrojamos à intemperança e à delinquência.

10. Jovem que induzimos ao desequilíbrio e à crueldade.

11. Esposo que precipitamos na deserção, com os próprios desenganos e traições.

12. Mulher que menosprezamos, obrigando-a a resvalar no poço da loucura.

13. Amigos com os quais construímos sólida amizade e entendimento no reconforto da segurança recíproca.

Na Profissão Ontem

14. Pensadores que corrompiam a mente popular com as depravações.

15. Conquistadores militares, tiranos que forjaram a miséria física e moral dos semelhantes.

16. Dominadores políticos que dilapidaram a confiança do povo.

17. Guerreiros e soldados que usavam as armas para praticar seus instintos destruidores.

18. Carrascos rurais, agiotas desnaturados, defraudadores da economia pública e mordomos do solo, convertidos em agentes do furto.

19. Mulheres ocupadas na maledicência e na intriga, prejudicando a liberdade e o progresso.

No Mundo

Ontem

20. Protagonistas de tragédias passionais, criminosos de guerra, aproveitadores de lutas civis, exploradores do sofrimento humano, caluniadores, empreiteiros do aborto e da devassidão, malfeitores.

NAS DOENÇAS

EFEITO

1. Vinca o perispírito com desequilíbrios que o predispõem a determinadas enfermidades, conforme o órgão atingido:

a) cardiopatias;
b) doenças hepáticas;
c) ulcerações, gastralgias;
d) loucura, idiotia;
e) surdez, mudez;
f) cansaço precoce, distrofia muscular, epilepsia, câncer;
g) mutilações dolorosas;
h) asmas, bronquites, doenças pulmonares.

2. Impedimentos cerebrais como alavancas coercitivas contra as tendências do mau uso da intelectualidade.

3. Moléstias ou mutilações que os incapacitem de cair nos mesmos erros.

4. Deficiências vocais e auditivas para não repetirem as mesmas inclinações.

5. Doenças inibidoras das funções genéticas, como meios de contenção dos impulsos inferiores das paixões.

6. Idiotia, loucura, cegueira, paralisias congênitas irreversíveis, deformações irremediáveis, como celas regenerativas para correção compulsória dos delitos cometidos.

7. Desequilíbrios e moléstias nessa mesma existência, consequentes dos prejuízos das funções dos órgãos físicos.

Na Família
Hoje

8. Pais despóticos.

9. Filhos rebeldes e viciados.

10. Filha desatinada nos desregramentos do coração.

11. Marido desleal ou ingrato.

12. Esposa desorientada e incompreensiva.

13. Parentes abnegados que nos auxiliam.

Na Profissão
Hoje

14. Professores laboriosos aprendendo a ministrar disciplinas.

15. Administradores capacitados à distribuição de valores e tarefas edificantes.

16. Comerciantes e agricultores auxiliando as mesmas comunidades que deprimiram.

17. Mecânicos, operários metalúrgicos e carpinteiros, dignificando o metal e a madeira que perverteram.

18. Servidores humildes do solo, no preparo, no plantio e colheita, nas zonas rurais com o suor as dividas que antes contraíram.

19. Servidoras domésticas, presas a obrigações caseiras, junto de caçarolas e tanques de lavar.
No Mundo

Hoje

20. Voltam em tribulações compatíveis com os débitos assumidos, às vezes junto às próprias no mesmo familiar, ou sofrem desastres dolorosos, acidentes, flagelos, incêndios, nas ocorrências individuais ou coletivas.
Ney P. Peres

29 - Vigilância, Abnegação


A - Vigilância

"Todo pensamento impuro pode se originar de duas fontes: a própria imperfeição da alma ou uma funesta influência que sobre ela se exerça. Neste último caso, há sempre indício de uma fraqueza, que nos torna aptos a receber essa influência, demonstrando que somos almas imperfeitas. Dessa forma, aquele que falir não poderá alegar como desculpa a influência de um Espirito estranho, desde que esse Espírito não o teria induzido ao mal se o tivesse encontrado inacessível à sedução."

(Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XXVIII. Coletânea de Preces Espíritas. Para Resistir a Uma Tentação, 20. Prefácio.)

A condição interior de atenção para com as próprias emoções, desejos, impulsos, pensamentos, gestos, olhares, atitudes e respostas verbalizadas consiste na preocupação em pautar nossas reações dentro de padrões condizentes com o conhecimento evangélico. A observação de nós mesmos deverá ser aplicada de modo permanente, e não apenas quando já ocorreu a transgressão. Entendemos claramente que a vigilância define um trabalho preventivo e não corretivo.
A vigilância tem, assim, sua atuação como meio de combate aos defeitos, de algum modo já conhecidos ou identificados, para que, com a devida antecedência e precaução, evitemos as ocorrências dos mesmos. O trabalho preventivo, a exemplo do que se desenvolve na especializada área da Segurança do Trabalho, procura relacionar numa atividade os riscos de acidentes e seus graus. As causas de acidentes são muito bem estudadas e todas as campanhas de prevenção visam à conscientização do homem que executa um trabalho produtivo, para que o desempenhe dentro de certas normas de segurança, específicas a cada tipo de atividade.

Há dispositivos de proteção nas máquinas, há cores e sinalização, há meios de prevenção contra incêndios e há também os equipamentos de proteção individual para uso do trabalhador. Estes são alguns dos meios para evitar acidentes. Muito análogos ao que queremos aqui relacionar com a nossa vigilância interior são, em Segurança do Trabalho, os chamados "atos inseguros". Sabe o operário que, ao executar um "ato inseguro", poderá lhe ocorrer um acidente, como por exemplo: trabalhar na construção de edifício sobre andaimes sem guarda-corpo; subir em postes sem o cinto de segurança; operar máquinas de desbaste sem óculos de proteção; remover peças com as mãos sem luvas em prensas de moldagem, etc.
Então, o que poderá também acontecer àquele que, conhecendo as suas fraquezas ou inseguranças, se arrisca a determinadas situações de perigo? Estará se expondo a sofrer um deslize moral, a lhe ocorrer um acidente de graves consequências. O que precisamos conhecer bem são as nossas próprias situações de risco, para não cometermos erros, caindo em tentações, e depois amargurar os arrependimentos das nossas falhas.

As tentações são os nossos riscos; estamos a elas sujeitos, e a nossa própria insegurança é resultado das imperfeições que ainda temos. Contamos sempre com os meios de proteção e de segurança individuais nos Espíritos Protetores, que, até certo ponto, afastam-nos das influências perigosas. Cabe-nos, no entanto, agir com firmeza, resistindo às tentações conhecidas.
Podemos muito bem evitar os "atos inseguros", escapando das situações de perigo, ou nos munindo dos meios de proteção para enfrentá-las.

Como formas de proteção, além do auxílio espiritual, contamos com a prece, a vontade, o esclarecimento, o esforço próprio. Ninguém melhor do que nós mesmos para precavermo-nos das situações que representam riscos às nossas próprias inseguranças morais.
Relacionemos algumas delas, talvez as mais comuns:

a) Diante dos convites de companhias que nos estimulam ao fumo, ao jogo, ao álcool, ao tóxico;

b) Nas discussões de assuntos polêmicos, que nos levam a intrigas, agressões, contendas;

c) Nas elaborações de pensamentos eróticos, que nos predispõem aos condicionamentos do sexo;

d) Na direção dos olhares maliciosos, que nos conduzem à cobiça;

e) Nas economias exageradas dos gastos, que se resumem em avareza;

f) Nas absorções de ressentimentos ou amarguras, que se cristalizam em intolerâncias, incompreensões;

g) Nos comentários desavisados, que nos conduzem à maledicência;

h) Nos afloramentos das emoções fortes, que nos fazem manifestar orgulho, presunção;

i) Nos ímpetos de defesa das nossas idéias, que refletem o personalismo;
j) Nas inquietações por algo desejado, que definem a impaciência;

l) Nos esquecimentos de obrigações assumidas, que caracterizam a negligência;

m) Nos descansos prolongados, que indicam ociosidade.

"Reconhece-se que um pensamento é mau quando ele se distancia da caridade — base de toda moral verdadeira; quando tem por princípio o orgulho, a vaidade e o egoísmo; quando sua concretização pode prejudicar alguém; quando, enfim, nos induza a coisas diferentes das que quereríamos que os outros nos fizessem."

B - Abnegação

"A piedade, quando bem sentida, é amor; o amor é devo lamento; devotamento é esquecimento, esquecimento de si mesmo, e este esquecimento é a abnegação em favor da criatura menos feliz, é a virtude por excelência, praticada pelo Divino Mestre e ensinada em sua doutrina tão santa e sublime; quando essa doutrina for restabelecida em sua pureza primitiva, quando for admitida por todos os povos, fará a Terra feliz, fazendo reinar em sua face a concórdia, a paz e o amor."

(Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XIII. Que a Mão esquerda Não Saiba o Que Faz a Direita. Item 17. A Piedade - Michel.)

A abnegação é indicativa daquilo que fazemos em favor de alguém, ou de alguma causa, sem interesse próprio, com esquecimento de nós mesmos, ou até com sacrifício do que possa nos pertencer.

Há alguns exemplos na História das Civilizações de criaturas abnegadas, que se dedicaram ao bem-estar do próximo, trabalhando de alguma forma para deixar aos homens uma contribuição marcante nas áreas do conhecimento, das descobertas científicas, das investigações, das religiões, dos direitos humanos, da moral, da caridade, etc. Por esse espírito de sacrifício próprio deixaram seus nomes aureolados de respeito e admiração.

Na própria História do Brasil rendemos homenagens aos personagens cívicos que colocaram o interesse da nação brasileira acima dos seus e dos das elites da época.

É o que muito nos falta hoje: pureza de intenções, abnegação, sacrifício de interesses, renúncia a proveitos pessoais, amor às causas nobres, dedicação às criaturas na miséria, desprendimento dos valores materiais. Devemos reconhecer, também, que há inúmeros corações vivendo em silêncio dando extraordinários exemplos de abnegação, sem fazer qualquer menção ao que realizam, ou sem serem identificados publicamente.

Todos temos, no entanto, possibilidades de praticar a abnegação, se não integralmente dedicados a uma obra mas, em nosso tempo disponível, procurando algo realizar sem remuneração, com desprendimento, dedicados a certas benemerências ao próximo, de qualquer natureza.

A prática da abnegação concretiza o exercício da caridade, dever humano que não podemos dispensar de nossas obrigações. O benefício desinteressado é o único agradável a Deus. Quem presta sua ajuda aos pequeninos que nada têm, sabe de antemão que não receberá deles agradecimentos ou retribuições. Por essa razão os serviços dedicados aos mais carentes devem caracterizar a caridade autêntica.

Admitimos que também podemos treinar a abnegação nas pequenas coisas, todas as vezes que voluntariamente renunciamos a algo nosso em favor do próximo.

A abnegação é o oposto do egoísmo. Praticando-a, o combatemos naturalmente.

Vejamos, em nossas atividades corriqueiras, algumas das muitas oportunidades que temos de praticar a abnegação:

a) Dedicando algumas horas do nosso lazer numa atividade assistência!;

b) Ministrando esclarecimentos evangélicos às criaturas em aprendizagem;

c) Oferecendo graciosamente os próprios serviços profissionais, onde possam ser mais úteis, aos que não os possam pagar;

d) Ensinando, sem interesse financeiro, os conhecimentos que detemos em quaisquer áreas;

e) Trabalhando no próprio lar, em algumas horas livres, na confecção de roupas e agasalhos para famílias carentes;

f) Contribuindo, com trabalho pessoal, no plantão vigilante a familiares ou amigos em convalescença;

g) Procurando conduzir o que realizarmos na esfera política ou social em benefício da maioria desprivilegiada, mesmo sacrificando
interesses próprios;

h) Indagando sempre, em nossas deliberações administrativas, se estamos atendendo aos princípios de justiça, tolerância e bondade para com o próximo;

i) Pautando tudo que fizermos nas produções diárias dentro do ideal de perfeição, aprimorando sempre para o melhor ao nosso alcance.

"A beneficência é bem compreendida, quando se limita ao círculo de pessoas da mesma opinião, da mesma crença ou do mesmo partido? — Não, é imperioso sobretudo abolir o espírito de seita e de partido, pois todos os homens são irmãos. O verdadeiro cristão vê irmãos em todos os seus semelhantes, e para socorrer o necessitado não busca saber a sua crença, a sua opinião, seja ela qual for." (Id., ibid. Item 20. Luís.)

Ney P. Peres

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Amanhecer de esperanças

Os acontecimentos se precipitavam incontroláveis.
A região desértica e triste, que reverdecera sob a chuva de esperanças da palavra do Batista, seria o cenário de inusitadas ocorrências, preparando o amanhecer de uma nova e demorada Era - a do amor.
*
O amor ainda não abrasava os corações. Apenas em pequenos grupos vicejava, unindo familiares e greis que se prendiam a interesses recíprocos.
Raramente o sentimento de amor a Deus oferecia equipamentos para uma vida de confiança e irrestrita dedicação à fé.
Da mesma forma, o amor à Pátria esmaecera nos corações e o mercenarismo era o recurso legal para formar os exércitos e defensores da sociedade.
O sentimento de fraternidade espontânea quão desinteressada cedia lugar à mesquinhez moral do comportamento que assinalava pela traição, discórdia e realização do ego.
O amor começaria naquele momento a distender as suas raízes e desabrochar-se pela aridez das criaturas, alternando o comportamento humano.
Não se tratava de uma tarefa simples e fácil, porquanto iria alterar os conceitos da Filosofia hedonista, do imediatismo, ensejando uma transformação da sociedade, que só os lentos milênios conseguiriam materializar.
Para tanto, fazia-se inadiável começar; para isso veio Jesus.
*
As tribulações que Ele experimenta foram rudes.
Era necessário macerar-se, a fim de permanecer em Deus e o Pai nEle.
Por isso, o demorado jejum se fizera indispensável.
Tratava-se da preparação silenciosa, mortificadora, a fim de poder enfrentar a algaravia, o tumulto e as competições traiçoeiras que logo mais viriam.
As tentações foram rechaçadas pelo Seu caráter rigoroso e o momento havia chegado. João acabara de ser preso e os prognósticos eram sombrios.
Ele ousara desafiar Herodes Ântipas com o verbo flamejante, censurando-lhe a conduta reprochável da vida em concubinato com a cunhada Heroíades.
Os pigmeus morais, que se fazem grandes no mundo, não perdoamos gigantes da verdade, que os incomodam ou desconsideram as suas malezas.
Como parecera que João, ultrapassara os limites do suportável, seguindo pelo assassinato legal, eram as únicas maneiras de silenciar-lhe a voz.
Clamando no deserto, ele viera anunciar o Construtor do mundo novo, e lograra chamar a atenção das massas, que acorriam a escutá-lo, a fim de que estivessem vigilantes.
Seria naqueles dias, e a hora se fazia próxima.
Desse modo, o seu encarceramento, parecendo encerrar-lhe o ministério público, era o sinal
de mudança dos tempos.
Nesse momento, apareceu Jesus, na Galiléia, anunciando o novo panorama. Sua voz, clara
e doce, com matizes de sabedoria e força, começou a informar: - Completou-se o tempo e o
reino de Deus está perto: arrependei-vos e acreditai na Boa Nova. (*)
Os ouvidos e corações que aguardavam, escutaram-no e logo a multidão se reuniu para escutá-lo.
O verbo inflamava-se ao expor as bases das Mensagens e os objetivos transformadores de que se fazia portadora.
Não se tratava de mais um recurso salvacionista de ocasião, mas, de todo um portentoso,
trabalho de iluminação de consciência com a natural transformação moral, que lhe era
subseqüente para a renovação e felicidade da criatura e do mundo.
Não era fácil absorver-lhe de imediato os profundos conteúdos. No entanto, a poderosa
irradiação de beleza e ternura que dele se espraiava seduzia quantos lhes escutavam o convite.
Sorrisos confraternizavam com esperanças de melhores tempos, os de superação dos sofrimentos.
As criaturas não se apercebem que antes da colheita farta, é necessário cortar a terra, matar a semente, cuidar da planta com o contributo do suor e da constância para fruir a etapa final,
que é o recolher sazonado.
Mas isso, naquele tempo, não importava.
Havia sede e fome de paz, de justiça e de pão, e como Ele prometia Boas notícias em torno
do reino de amor e fartura, o que interessava era consegui-lo de imediato.
Estavam sendo, porém lançadas as primeiras balizas; tornava-se preciso reunir os obreiros,
aqueles que iriam trabalhar nas fundações da nova sociedade humana.
Ele saiu, portanto, após o primeiro discurso e rumou na direção das bandas do mar da
Galiléia.
Seria aquela região capital do reino na sua face terrestre.
Ali estavam as gentes simples, sofridas, necessitadas, mais fáceis de ser trabalhadas, mais
susceptível ao amor.
Logo viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores.
As criaturas humanas, mergulhadas no oceano das paixões, necessitavam de ser resgatadas. Desse modo, ele disse aos dois homens, que se detiveram a olhá-lo:
- Vinde após mim e farei de vós pescadores de homens.
Dominados pela voz e pela magia da Sua presença, sem qualquer discussão ou comentário,
eles, de imediato, deixaram as redes e seguiram-no.
Iniciava-se uma odisséia como jamais houvera antes e nunca mais volveria a acontecer.
Os convidados deixavam tudo e acompanhavam-no.
Pareciam conhecê-Lo e o conheciam. Sentiam-se amados e amavam apesar dos seus limites.
Logo após, a pequena distância, Ele viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que
estavam no barco a consertar as redes, e também os chamou.
A Sua voz penetrava a acústica da alma, e sem outra alternativa, como se O aguardassem,
eles deixando no barco seu pai com os assalariados seguiram-no e dirigiram-se a Cafarnaum.
Eles não conheciam qualquer plano ou projeto, como era a empresa e qual o seu desempenho nela nada sabiam...Apenas de seguiram-no.
Era original a Sua mensagem.
Os potentados do mundo, quando desejam algo, planejam-no, estudam-no e discutem os programas.
Os convidados a participar das suas empresas debatem os interesses, argumentam em defesa dos seus desejos, tomam e gastam tempo em considerações e diálogo infindáveis.
Com Ele, não, tudo era diferente, porque a Sua era uma proposta única, irrecusável, incomum.
Com quatro amigos, dois irmãos e mais dois, Ele iniciou a mais portentosa marcha
revolucionária da Humanidade: a construção do reino de Deus nos corações.
No sábado, Ele entrou na sinagoga e passou a ensinar, fundamentado na Tradição e no texto do dia, sem ter recebido informação prévia do tema para a discussão.
Sua palavra exteriorizava autoridade superior aos escribas e fariseus, facultando que todos se deslumbrassem ate os seus ímpares conceitos, jamais antes escutados.
De nenhuma Causa a humanidade tomara conhecimento com aquelas características.
*
Enquanto João amargava a prisão em Masquerus, na Peréia, Jesus vinha à luz na
verdejante e sorridente Galiléia.
Um período entrava em crepúsculo, em sombras e outro iniciava em amanhecer de lúculas
alvinitentes, iluminadoras.
(*) Marcos: 1 - 14 a 21.
Nota da Autora Espiritual

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A ÚLTIMA TENTAÇÃO


Irmão X
Dizem que Jesus, na hora extrema, começou a procurar os discípulos, no seio da agitada multidão que lhe cercava o madeiro, em busca de algum olhar amigo em que pudesse reconfortar o espírito atribulado...
Contemplou, em silêncio, a turba enfurecida.
Fustigado pelas vibrações de ódio e crueldade, qual se devera morrer, sedento e em chagas, sob um montão de espinhos, começou a lembrar os afeiçoados e seguidores da véspera...
Onde estariam seus laços amorosos da Galiléia?...
Recordou o primeiro contacto com os pescadores do lago e chorou.
A saudade amargurava-lhe o coração.
Por que motivo Simão Pedro fora tão frágil? que fizera ele, Jesus, para merecer a negação do companheiro a quem mais se confiara?
Que razões teriam levado Judas a esquecê-lo? Como entregara, assim, ao preço de míseras moedas, o coração que o amava tanto?
Onde se refugiara Tiago, em cuja presença tanto se comprazia?
Sentiu profunda saudade de Filipe e Bartolomeu, e desejou escutá-los.
Rememorou suas conversações com Mateus e refletiu quão doce lhe seria poder abraçar o inteligente funcionário de Cafarnaum, de encontro ao peito...
De reminiscência a reminiscência, teve fome da ternura e da confiança das criancinhas galiléias que lhe ouviam a palavra, deslumbradas e felizes, mas os meninos simples e humildes que o amavam perdiam-se, agora, à distância...
Recordou Zebedeu e suspirou por acolher-se-lhe à casa singela.
João, o amigo abnegado, achava-se ali mesmo, em terrível desapontamento, mas precisava socorro para sustentar Maria, a angustiada Mãe, ao pé da cruz.
O Mestre desejava alguém que o ajudasse, de perto, em cujo carinho conseguisse encontrar um apoio e uma esperança...
Foi quando viu levantar-se, dentre a multidão desvairada e cega, alguém que ele, de pronto, reconheceu.
Era a mesmo Espírito perverso que o tentara no deserto, no pináculo do templo e no cimo do monte.
O Gênio da Sombra, de rosto enigmático, abeirou-se dele e murmurou:
– Amaldiçoar, os teus amigos ingratos e dar-te-ei o reino do mundo! Proclama a fraqueza dos teus irmãos de ideal, a fim de que a justiça te reconheça a grandeza angélica e descerás, triunfante, da cruz!... Dize que os teus amigos são covardes e duros, impassíveis e traidores e unir-te-ei aos poderosos da Terra para que domines todas as consciências. Tu sabes que, diante de Deus, eles não passara de míseros desertores...
Jesus escutou, com expressiva mudez, mas o pranto manou-lhe mais intensamente da olhar translúcido.
– Sim – pensava –, Pedro negara-o, mas não por maldade. A fragilidade do apóstolo podia ser comparada à ternura de uma oliveira nascente que, com os dias, se transforma no tronco robusto e nobre, a desafiar a implacável visita dos anos. Judas entregara-o, mas não por má-fé. Iludira-se com a política farisaica e julgara poder substituí-lo com vantagem nos negócios do povo.
Encontrou, no imo dalma, a necessária justificação para todos e parecia esforçar-se por dizer o que lhe subia do coração.
Ansioso, o Espírito das Trevas aguardava-lhe a pronúncia, mas o Cordeiro de Deus, fixando os olhos no céu inflamado de luz, rogou em tom inesquecível:
– Perdoa,-lhes, Pai! Eles não sabem o que fazem!...
O Príncipe das Sombras retirou-se apressado.
Nesse instante, porém, ao invés de deter-se na contemplação de Jerusalém dominada de impiedade e loucura, o Senhor notou que o firmamento rasgara-se, de alto a baixo, e viu que os anjos iam e vinham, tecendo de estrelas e flores o caminho que o conduziria ao Trono Celeste.
Uma paz indefinível e soberana estampara-se-lhe no semblante.
O Mestre vencera a última tentação e seguiria, agora, radiante e vitorioso, para a claridade sublime da ressurreição eterna.
Do livro “Contos e Apólogos”. Irmão X. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

As Penas Futuras Segundo o Espiritismo . A carne é fraca

Livro selecionado: "O Céu e o Inferno"
Capítulo VII
As Penas Futuras Segundo o Espiritismo
A carne é fraca
Há tendências viciosas que são evidentemente inerentes ao Espírito, pois que se ligam mais ao moral do que ao físico. Outras parecem antes resultar do organismo e por isso acredita-se que acarretam menos responsabilidade: tais são as predisposições à cólera, à preguiça, à sensualidade etc.
Hoje está perfeitamente reconhecido pelos filósofos espiritualistas que os órgãos cerebrais correspondentes às diversas aptidões devem o seu desenvolvimento à atividade do Espírito. Esse desenvolvimento é, assim, um efeito e não uma causa. Um homem não é músico porque tenha a bossa da música, mas ele tem essa bossa porque o seu espírito é músico.
Se a ação do Espírito influi no cérebro, deve igualmente influir sobre outras partes do organismo. O Espírito é assim o artífice do seu próprio corpo que ele modela, por assim dizer, apropriando-o às suas necessidades e à manifestação das suas tendências. Assim sendo, a perfeição corporal das raças adiantadas não seria conseqüência de criações distintas, mas o resultado do trabalho do espírito que aperfeiçoa o seu instrumento na medida em que as suas faculdades se desenvolvem.
Por uma conseqüência natural desse princípio, as disposições morais do Espírito devem modificar as funções sanguíneas, dando-lhes maior ou menor atividade, bem como provocar secreções mais ou menos abundantes da bilis ou de outros fluidos. É assim, por exemplo, que o glutão sente a boca encher-se de água ao ver comidas apetitosas. Não é a comida em si que pode excitar os orgãos do gosto, desde que não há nenhum contato. É pois o Espírito, cuja sensualidade foi despertada, que age pelo pensamento sobre esses órgãos, enquanto para outra pessoa a visão dessa comida não produz nenhum efeito.(25)
É ainda por essa mesma razão que uma pessoa sensível verte lágrimas com facilidade. Não é a existência de lágrimas em abundância que dá sensibilidade ao Espírito, mas é a sensibilidade do Espírito que provoca a secreção abundante de lágrimas. Sob a influência da sensibilidade espiritual o organismo apropriou-se a essa disposição natural do Espírito, como o do glutão se apropriou à disposição do seu Espírito.
Seguindo esta ordem de idéias, compreende-se que um espírito irascível deve impulsionar um temperamento bilioso, de maneira que um homem não é colérico por ser bilioso, mas é bilioso porque o seu Espírito é colérico. Acontece o mesmo com todas as demais disposições instintivas. Um Espírito fraco e indolente dará ao seu organismo uma condição de atonia em relação ao seu caráter, enquanto um espírito ativo e enérgico transmitirá ao seu sangue e aos seus nervos disposições bastante diferentes. A ação do Espírito sobre o físico é de tal maneira evidente, que vemos freqüentemente graves desordens orgânicas se produzirem por efeito de violentas comoções morais. A expressão comum: a emoção pôs-lhe o sangue a ferver não é tão desprovida de senso como se poderia pensar. Ora, o que poderia agitar o sangue se não o Espírito por suas disposições morais?(26)
(25) As famosas experiências de Pavlov com a salivação dos cães demonstraram, no campo da psicologia fisiológica, materialista, a verdade desta afirmação de Kardec. Os reflexos condicionados não devem o seu condicionamento à ação dos alimentos sobre os órgãos gustativos, mas ao conhecimento mental do animal aos sinais da campainha que anunciam o alimento. No homem, esse processo é mais refinado. (N. de T.)
(26) A Medicina Psicossomática, a Psicoterapêutica em geral, e atualmente a Parapsicologia vieram confirmar cientificamente, em nossos dias, através de pesquisas e experiências, a verdade desse princípio. (N. do T.)

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Capítulo VII
As Penas Futuras Segundo o Espiritismo
A carne é fraca (continuação)
Pode-se admitir que o temperamento é, pelo menos em parte, determinado pela natureza do Espírito, que é causa e não efeito. Dizemos em parte porque há casos em que o físico influi evidentemente sobre o moral. É quando um estado mórbido ou anormal é determinado por uma causa externa, acidental, independente do Espírito, como a temperatura, o clima, os vícios hereditários que influem na constituição, um mal-estar passageiro, etc. O moral do Espírito pode então ser afetado nas suas manifestações pelo estado patológico, sem que a sua natureza própria seja por isso modificada.
Desculpar-se dos seus defeitos com a fraqueza da carne é, pois, lançar mão de um sofisma para escapar à responsabilidade. A carne só é fraca quando o Espírito é fraco, o que inverte a questão e deixa ao Espírito a responsabilidade de todos os seus atos. A carne, que não tem pensamento nem vontade, jamais prevalece sobre o Espírito, que é o ser pensante e dotado de vontade. É o Espírito que dá à carne as qualidades correspondentes aos seus instintos, como um artista imprime na sua obra material o selo do seu gênio. O Espírito liberto dos instintos da animalidade modela um corpo que não é mais um tirano das suas aspirações de espiritualização. É então que o homem come para viver, porque viver é uma necessidade, mas não vive para comer.
A responsabilidade moral dos nossos atos na vida permanece, portanto, inteiramente nossa. Mas a razão nos diz que as conseqüências dessa responsabilidade devem estar em relação com o desenvolvimento intelectual do Espírito. Quanto mais ele for esclarecido, menos desculpável será, porque com a inteligência e o senso moral nascem as noções do bem e do mal, do justo e do injusto.(27)
Esta lei explica os insucessos da Medicina em certos casos. Desde que o temperamento é um efeito e não causa, os esforços feitos para modificá-lo são necessariamente embaraçados pelas disposições morais do Espírito, que opõe uma resistência inconsciente e neutraliza a ação terapêutica. É pois sobre a causa primeira que se deve agir. Dai, se possível, coragem ao poltrão e vereis cessarem os efeitos fisiológicos do medo.(28)
Isto prova mais uma vez a necessidade, para a arte de curar, de levar em conta a ação do elemento espiritual sobre o organismo. (Ver Revista Espírita de Março de 1869).

(27) Kardec deixa de lado, nesse texto, o problema das influenciações espíritas na conduta humana, para acentuar a responsabilidade individual e intransferível de cada um na prática dos seus atos. Mesmo porque as influências espíritas dependem das condições morais do homem. Assim como não podemos atribuir à carne as nossas imperfeições, também não podemos atribuí-Ias aos nossos inimigos ou perseguidores invisíveis. Pois eles só conseguem agir sobre nós na medida em que correspondemos aos seus estímulos. Sem a nossa aceitação, as suas sugestões e até mesmo os seus impulsos não produzem efeito. (N. do T.)
(28) Esta posição espírita coincide hoje plenamente com a posição das Ciências no campo da Medicina. Bastaria o desenvolvimento da Medicina Psicossomática para demonstrá-lo. Mas o avanço da Parapsicologia vai mais longe, abrindo caminho para a compreensão do problema da influenciação espiritual e das conseqüências da reencarnação na vida presente. Leia-se a respeito o livro La Guerison par Ia pensée, de Robert Tocquet, Paris, 1970, e o livro 20 Casos Sugestivos de Reencarnação, de lan Stevenson, tradução da Editora Edicel, Brasília (DF), 1970. (N. do T.)