Caros amigos leitores , gostaríamos, na medida do possível ,contar com a interação de todos ,através de comentários , tornando se seguidores deste blog divulgando para seus conhecidos ,para que assim possamos estudar e aprendermos juntos , solidários e fraternos. Inscrevam-se no blog!
Mostrando postagens com marcador Reino de Deus. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Reino de Deus. Mostrar todas as postagens
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
Anúncio do Reino (*)
As anêmonas marchetavam a orla dos caminhos com verdadeiras explosões de delicadas e
volumosas flores de tons variegados.
As folhas de tabaco verdejantes compunham as paisagens exuberantes, na qual as árvores
frutíferas apresentavam os seus frutos abundantes aguardando a colheita.
A Primavera entoava hinos de luz e cor em toda parte, enquanto o casario à margem
noroeste do lago de Tiberíades em pequenos e volumosos aglomerados, que se estendiam
por quase vinte quilômetros, falavam sem palavras da expansão humana, política e social na
região.
A sinagoga de Cafarnaum, erguida aproximadamente um século antes de Jesus, era o
referencial para o culto religioso, estudos e resoluções administrativas da cidade.
Tiberíades, logo adiante, com as características helênicas, esplendia com as suas
majestosas construções em homenagem ao imperador Tibério César.
Mas entre as cidades grandiosas, os povoados, os aglomerados de casebre de agricultores,
pescadores e vinhateiros, salpicavam os caminhos movimentados à beira-mar ou entre
sebes oscilantes ao vento.
O Mestre dera início ao ministério e atraía multidões que se avolumavam ao seu lado, com
curiosidade, interesses pessoais, necessidade de todo tipo.
Eles a todos atendia, ampliando, porém, os Seus ensinamentos, a fim de que os indivíduos
se libertassem da miséria mais grave, a ignorância sobre si mesmos, a verdade e a vida.
Por isso, as lições se assemelhavam a pérolas que fossem sendo distendidas por todos os
lugares a fim de que, em momento próprio, pudessem ser enfeixadas em um grande colar
que unisse todos os indivíduos em um tesouro de amor.
Inicialmente, porque as obsessões fossem cruéis e inumeráveis, em intercâmbio de
impiedade que resultava da ignorância, o Mestre convidou os discípulos e deu-lhes poder de
expulsar os Espíritos impuros, assim como a energia curativa para os males do corpo e da
alma de todos quantos viessem até eles martirizados pelas doenças.
A seguir, enviou-os a diferentes partes para que pudessem preparar os alicerces do reino
que viria a ser implantado nos corações.
Recomendou-lhes prudência e coragem, generosidade e inteireza moral, a fim de que não se
imiscuíssem em questiúnculas descabidas, nem se perturbassem com os gentios, com os
discutidores inúteis, mas que fizessem todo o bem possível, curando as doenças, afastando
as perturbações, mas anunciando a Era que logo mais se iniciaria.
Era como a apoteótica Abertura de uma Sinfonia de incomparável beleza, anteriormente
jamais ouvida.
- Eu vos envio - disse Ele - como ovelhas para o meio dos lobos; sede prudentes como as
serpentes e simples como as pombas. Tende cuidado com os homens: hão de entregar-vos
aos tribunais...Mas não os temais, porque o Pai falará por vossas bocas.
Os amigos partiram emocionados, cantando esperanças no coração, sem ter idéia de como
reagiriam as criaturas à nova proposta.
Ensinaram pelos caminhos e veredas, detiveram-se nas praças e nas praias, narraram o que
haviam visto e ouvido, expuseram o pensamento do Rabi, mas não foram tomados em
consideração.
Somente quando as palavras foram coroadas pelos feitos, arrancando das traves invisíveis
das doenças, aqueles que as padeciam, é que lhes concediam alguma atenção, dando-lhes
as costas de imediato e sugerindo que viesse pessoalmente o Messias...para que o vissem e
pudessem testificá-lo.
Por sua vez, Jesus foi também pregar em outras cidades, especialmente a respeito de João,
o Batista, causando espanto a sua coragem, em razão do filho de Zebedeu e Isabel
encontrar-se prisioneiro na Peréia por ordem de Herodes, insuflado por sua mulher e
cunhada Herodíades, com quem vivia em concubinato.
Os ventos generosos da estação perfumada levaram a Mensagem de boca-a-boca,
disseminado-a por toda a parte até os confins das fronteiras no além Jordão.
Uma grande calmaria emocional passou a viger nas almas em expectativa. Os comentários
se faziam freqüentes e as interrogações levantavam-se nos grupos que se reuniam nos
diferentes lugares.
A música do Seu verbo iria inflamar os corações e provocar incêndios nos sentimentos e nas
mentes apaixonadas, que não estavam preparadas para a mudança radical de
comportamento que Ele propunha.
Já agora não era mais possível deter a odisséia em pleno desenvolvimento.
Quando os discípulos retornaram e relataram os acontecimentos que tiveram lugar à sua
volta, o Mestre definiu que aquele era o momento de dar curso ao messianato.
Ergueu-se como um gigante e se expôs por amor, arrostando todas as conseqüências dos
Seus severos sermões, Suas graves admoestações, Suas generosas concessões.
Esclareceu que o reino de Deus se encontrava dentro da criatura humana, que deverá
alcançá-lo com muito empenho e arrojada decisão, negociando tudo que é transitório para a
aquisição eterna.
Abrindo os braços às multidões que sempre o cercariam, naquela oportunidade abençoou o
mundo e os seus habitantes, compondo a mais notável sinfonia de todos os tempos,
musicada pelas Suas palavras e atos ao compasso do inefável amor.
_____________________
(*) Mateus : 10 - 1 e seguintes
Nota da autora espiritual
Livro : Até o Fim dos Tempos- Amélia Rodrigues/Divaldo
terça-feira, 14 de agosto de 2012
Evangelho em Casa-Por Memei
primeira
reunião
Meimei
Encorajada pelo esposo,
Dona Zilda, naquele belo domingo de abril, colocou sobre a mesa a melhor
toalha de que dispunha.
Alinhou dois
livros carinhosamente tratados – um exemplar do Novo Testamento e outro de
O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Em seguida,
trouxe pequeno vaso com água pura.
Soaram seis
horas da tarde.
O senhor
Veloso, chefe da família, entrou no aposento acompanhado de Lina e
Cláudio, filhinhos do casal, quase meninos, e de Marta, jovem servidora
que parecia ter mais de vinte anos de idade.
Dona Zilda
perguntou pela filha mais velha, Silvia, e por Dona Júlia, a irmã viúva
que residia junto deles, na mesma casa.
Veloso,
porém, notificou que ambas se haviam esquivado. Não desejavam partilhar o
nosso hábito doméstico.
Sem mais
demora, como se todos já houvessem estabelecido o propósito de a ninguém
reprovar, o pequeno grupo assentou-se tranqüilo.
Pairava
brando silêncio, quando Veloso ergueu a voz e orou, comovido.
PRECE INICIAL
Senhor
Jesus!
Quando
Deus não é colocado por centro de nossa vida, perdemos o rumo, quais
viajores que se distancia, da luz, caindo nas trevas... E és entre nós,
Senhor, a imagem mais fiel do Pai que nos criou.
Para nos
reunires a Ele. Concede-nos, assim, a força de percorre-lo! Inspira-nos a
compreensão de tua palavra, porquanto sabemos que o Reino de Deus, como
felicidade eterna, há de começar em nós mesmos.
Guia-nos,
Mestre, e ajuda-nos a entender-te à vontade! Assim seja.
LEITURA
Finda a prece, solicitou Veloso que
a filhinha abrisse o Novo Testamento ao acaso.
Efetuada a
operação, Lina passou o livro ao exame paterno.
O diretor da
pequenina assembléia deteve-se, por momentos, contemplando a fisionomia da
página, e leu, depois, o versículo 14, do capítulo 4, nos Apontamentos do
Apóstolo João Evangelista:
“Mas,
aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que
eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna”.
Logo após, atendendo à recomendação do
esposo, Dona Zilda consultou o Evangelho Segundo o Espiritismo, igualmente
ao acaso, e leu nas “Instruções dos Espíritos”, do capítulo XVII, a
mensagem de Lázaro, intitulada “O Dever”.
COMENTÁRIO
Feito silêncio, Veloso analisou,
sereno:
-Em nossa reunião temos o objetivo
de estudar os ensinamentos do Cristo, de modo a percebermos com mais
segurança o quadro de nossas obrigações.
Aceitamos a Doutrina Espírita, em
nome de Jesus, entretanto, como dignifica-la, sem conhecimento das lições
do Divino Mestre?
Na informação do evangelista, diz o
Senhor: “Quem beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque essa
água se fará nele qual fonte de água viva”.
Anotemos, em seguida, nos
ensinamentos coligidos por Allan Kardec, a palavra de Lázaro quanto à
excelência do dever como “Lei da Vida”.
Naturalmente, aludindo à água que
nos oferta, reportava-se Jesus aos princípios redentores de que se fez
mensageiro.
Quem lhes absorva a essência
sublime decerto se renovará integralmente, abrindo novo caminho aos
próprios pés.
E, ligando a promessa do Senhor à
conceituação da mensagem lida, reconheceremos claramente que Jesus não
apenas nos reconfortou a existência física, descerrando-nos luminosa
esperança ao sentimento ou curando-nos os corpos doentes, mas, acima de
tudo, nos traçou normas de ação, ante as quais nos compete aperfeiçoar o
senso de disciplina.
A fim de compreendermos semelhante
verdade, estampou as suas instruções em sua própria conduta.
Desceu das Esferas Superiores, sem
preocupar-se com a dureza de nossos corações, e distribuiu amor e luz com
todas as criaturas.
Começou, no entanto, pelos mais
infortunados e mais tristes.
Andou entre os homens sem deles
exigir considerações e privilégios.
Nasceu numa estrebaria e morreu
numa cruz.
Amparou a quantos lhe partilharam a
marcha, sem pedir agradecimento ou moeda.
Todavia, cada máxima que lhe saiu
da boca representa um artigo da Lei Divina para a edificação do Reino de
Deus entre nós.
O Reino de Deus inclui, porém, todo
o Universo.
Assim, pois, onde palpite a
consciência, seja na Terra ou noutros mundos, os princípios de Jesus
constituem a religião viva.
Não é difícil, desse modo, aprender
que o Celeste Amigo demarcou-nos a estrada real para a verdadeira
felicidade, assim como entendemos trilhos sólidos, de acordo com a
experiência da engenharia, para que a locomotiva alcance a meta.
Que acontece, entretanto, ao
comboio que abandona as linhas da vida férrea? Descarrila, provocando
desastres. Ameaça a vida dos passageiros, além de estragar a si próprio.
Interpretemos nossos desejos e
ideais, tarefas e obrigações, como sendo passageiros que
transportamos conosco, e façamos de nossa mente o maquinista.
Se o maquinista não obedece às
regras instituídas para a viagem, que é a nossa própria existência,
converte-se a vida em aventura perigosa, na qual arruinamos os interesses
e aspirações de que sejamos depositários, e perturbamos, conseqüentemente,
a nós mesmos.
As lições de Jesus, portanto,
indicando-nos a bondade e o serviço, a paciência e a humildade, a caridade
e o perdão, expressam a senda que nos cabe trilhar, se quisermos viver em
harmonia com a Lei de Deus.
CONVERSAÇÃO
Terminando o comentário,
Veloso explicou que seria interessante uma palestra rápida, a fim de que
as idéias do “culto evangélico” fossem colocadas em movimento.
Depois da troca de expressivo olhar
com a mãezinha, foi Lina quem tomou a iniciativa, perguntando:
-Papai, por que motivo não temos um
retrato de Jesus, diante de nós, em nossas preces?
E o entendimento estabeleceu-se,
afável.
VELOSO – Filhinha; decerto não
somos contra o trabalho artístico que mentaliza o Divino Mestre as telas e
esculturas que encontramos a cada passo, e um lar espírita pode guardar
perfeitamente semelhantes recordações, sempre que não atentem conta a
dignidade do Senhor e contra o respeito que devemos à obra cristã;
contudo, nas atividades de nossa Doutrina, dispensamos apetrechos
materiais, a fim de que não olvidemos a presença do Eterno Amigo dentro de
nós mesmos.
CLÁUDIO – E a água, papai?... Por
que a água na mesa?
VELOSO – Meu filho, a água é,
reconhecidamente, um dos corpos mais sensíveis à magnetização. Nessa
condição, armazena os recursos balsamizantes e curativos que nos são
trazidos pelos Emissários Divinos ou por nossos Amigos Espirituais, em
visita ao nosso recinto de orações.
LINA – Se tia Júlia mora conosco,
não compreendo as razões por que se afasta de nossas preces.
D. ZILDA – Júlia tem idéias
religiosas diferentes das nossas.
LINA – E Silvia?
VELOSO – Silvia é hoje uma jovem
com vinte anos. Cresceu sem que lhe dedicássemos qualquer cuidado ao
problema da fé. Quando pequenina Ilda e nós, muito inexperientes em
matéria de responsabilidade, confiamo-la à guarda moral de Júlia. Não
podemos agora lhe reclamar uma atitude para a qual, em verdade, não a
preparamos. (E sorrindo) – Segundo é fácil de notas, estamos começando o
nosso culto do Evangelho em casa com um atraso de vinte anos...
CLAUDIO – Com que fim precisamos
estudar o Evangelho?
D. ZILDA – Para melhorar o coração,
meu filho, para aprendermos que todos somos filhos de Deus e que devemos
viver no mundo como irmãos uns dos outros.
MARTA – Para cumprirmos nossos
deveres com alegria.
CLAUDIO – Quer dizer (e fez um
rosto brejeiro) que Lina não deve rusgar tanto com a empregada.
VELOSO – Meu filho, retifique a
expressão, Marta não é nossa empregada, como se fora nossa escrava, e você
se referiu a ela em tom de desprezo. É um erro ferir, mesmo sem intenção,
aqueles que trabalham conosco, tratando-os como se estivéssemos em posição
inferior. Marta é abnegada auxiliar no estabelecimento de ensino a que
presta serviço e quanto seu pai é colaborador no escritório de que recebe
o pão. Sem que as mãos dela nos preparem a mesa, ser-nos-á difícil o
desempenho das nossas obrigações.
D. ZILDA – Nosso culto do Evangelho
é, assim, um meio para nos sentirmos mais compreensivos. Nem Lina precisa
agastar-se com Marta nem nós mesmos uns com os outros. A cada qual de nós
cabe o máximo de esforço para que a bondade e a ordem, o serviço e a
gentileza permaneçam aqui com todos, para que a felicidade, brilhando
conosco, se irradie de nós para os que nos cercam.
NOTA SEMANAL
Findo o entendimento geral, Veloso
disse:
-Concluamos nossos estudos, cada
semana, com alguma nota que nos enriqueça a meditação.
Nesse sentido, lembro-me hoje de
uma lenda que pertence ao pensamento mundial. Adaptando-a as nossas
necessidades, nomeá-la-ei:
O DEVER ESQUECIDO
Certo rei muito poderoso, sendo
obrigado a longa ausência, tomou de grande fortuna e entregou-se ao filho,
confiando-lhe a incumbência de levantar grande casa, tão bela quanto
possível.
Para
isso, o tesouro que lhe deixava nas mãos era suficiente.
Acontece,
porém, que o jovem, muito egoísta, arquitetou o plano de enganar o próprio
pai, de modo a gozar todos os prazeres imediatos da vida.
E passou
a comprar materiais inferiores.
Onde lhe
cabia empregar metais raros, utilizava latão; nos lugares em que devia
colocar o mármore precioso, punha madeira barata, e nos setores de
serviço, em que obra reclamava pedra sólida, aplicava terra batida...
Com isso,
obteve largas somas que consumiu, desorientado, junto de amigos loucos.
Quando o
monarca voltou, surpreendeu o príncipe abatido e cansado, a apresentar-lhe
uma cabana esburacada, ao invés de uma casa nobre.
O rei, no
entanto, deu-lhe a chave do pequeno casebre e disse-lhe, bondoso:
-A casa
que mandei edificar é para você mesmo, meu filho... Não me parece a
residência sonhada por seu pai, mas devo estar satisfeito com a que você
próprio escolheu...
Após ligeira pausa, Veloso advertiu:
O conto
impele-nos a judiciosas apreciações, quanto ao cumprimento exato de nossos
deveres.
Comparemos o soberano a Deus, nosso Pai.
O
príncipe da história poderia ter sido qualquer alma de nós.
A fortuna
para construirmos a moradia de nossa alma é a vida que Deus nos empresta.
Quase
sempre, contudo, gastamos o tesouro da existência em caprichosa ilusão,
para acabarmos relegados, por nossa própria culpa, aos pardieiros
apodrecidos do sofrimento.
Mas,
aqueles que se consagram à bênção do dever, por mais áspero que seja,
adquirem a tranqüilidade e a alegria que o Supremo Senhor lhe reserva, por
executarem, fiéis, a sua divina vontade, que planeja sempre o melhor a
nosso favor.
ENCERRAMENTO
Atendendo à solicitação de Veloso,
Dona Zilda orou, no encerramento:
-Senhor, agradecemos a riqueza
que nos concedeste, a exprimir-se no lar que nos reúne.
Aqui nos situaste por amor, para
que aprendamos a servir ao próximo, servindo a nós mesmos.
Inspira-nos resoluções elevadas,
a fim de que a correção no desempenho de nossos deveres nos faça mais
felizes e mais úteis.
Não permitas, Jesus amado,
venhamos a esquecer as nossas obrigações, perante os teus ensinamentos, e
abençoa-nos, hoje e sempre, Assim seja.
**
Dona Zilda distribuiu a água
cristalina em pequenas porções com os familiares, enquanto a alegria lhes
clareava o semblante. E Veloso, satisfeito, notou que Lina abraçava Marta,
pela primeira vez, de modo diferente...
Da Obra “EVANGELHO
EM CASA” – Espírito: MEIMEI –
Médium: FRANCISCO
CÂNDIDO XAVIER
domingo, 12 de agosto de 2012
Queria primeiro o acréscimo, para depois procurar o Reino
Contradições
entre teoria e prática doutrinária
– Quando se entende somente para os outros
– Uma lição mediúnica.
– Quando se entende somente para os outros
– Uma lição mediúnica.
Miranda, velho amigo estudioso da doutrina do Consolador e
pregador apreciado, uma dia me confessou: “Há muito que entro no Evangelho, mas
o Evangelho não entra em mim. Por incrível que pareça, quanto mais o leio,
quanto mais me absorvo nele, menos o sigo. Não sou mau, nem viciado em coisa
alguma, nada faço contra ninguém. Mas sou áspero, irritadiço, não tolero ofensas
e não entendo como se possa procurar primeiro o Reino de Deus, quando a Terra,
diariamente, exige tanto de mim”.
Respondi-lhe que nós todos somos assim. Todos temos os nossos
defeitos, as nossas deficiências de compreensão. Mas isso é natural, e não tem
importância, desde que lutemos para nos corrigir. Se fôssemos perfeitos não
estaríamos aqui, nem precisaríamos do Espiritismo. Estaríamos em mundo melhor,
em plano superior, na companhia daqueles que, para as várias religiões, são os
eleitos. Lembrei-lhe o que dizia Kardec: “O verdadeiro espírita se conhece pela
sua transformação moral.” Kardec não exigia a perfeição, mas o avanço constante
rumo a ela.
Miranda ouviu atentamente, com um pequeno volume do Evangelho
nas mãos. Concordou, em parte. Mas logo acrescentou: “E se me esforço, mas não
consigo melhorar-me? Já pensaste nisso? No drama do espírita que deseja
melhorar e não consegue? Volto a insistir no caso do Reino de Deus. Como posso
pensar nele, com a conta do empório no bolso e o ordenado já gasto? Essa é uma
imperfeição que não venço. Sou obrigado a mentir, a trapacear, para resolver a
situação.”
Perguntei-lhe se já havia examinado bem o conteúdo do ensino
evangélico a que se referia. Respondeu que sim. Perguntei-lhe, então, o que
entendia pelo Reino de Deus. Disse que entendia ser o reino da pureza, da
verdade e do amor. Buscá-lo, pois, seria portar-se de acordo com esses
princípios. Mas, como ser puro, se precisava mentir e trapacear? Como ser
verdadeiro, se precisava simular? Como cultivar o amor, se os semelhantes o
ofendiam, censuravam-no impiedosamente, amarguravam-no? Baixou a fronte,
pensativo, rodando nas mãos o volumezinho do Evangelho, como uma coisa inútil.
Suspirou e exclamou, num desabafo: “Acho que o melhor é deixar de falar na
doutrina. E fazer como se diz por aí: fé em Deus e unha no próximo!”
Procurei, ainda, consolá-lo por mil maneiras. Inútil. Miranda
estava amargurado consigo mesmo, revoltado. Mas à noite, aparentemente por
acaso, encontramo-nos com um médium amigo. Conversa vai, conversa vem,
resolvemos fazer uma prece em conjunto, para ajudar o Miranda. E mal a
terminávamos, uma entidade amiga se incorporava no médium, dirigindo-se ao companheiro,
desolado:
– Miranda, você não quer buscar o Reino de Deus e a sua justiça?
Pois então, meu irmão, busque o outro.
– Que outro? perguntou Miranda, assustado.
– O do Diabo e a sua injustiça.
– Mas o Diabo não existe – objetou Miranda – É uma invencionice,
uma interpretação errada dos textos. Chamas de diabo os espíritos imperfeitos,
como eu, que andam trapaceando por aí.
– Pois então, Miranda, continue no seu Reino e na sua
injustiça. Ninguém o obriga a buscar o Reino de Deus.
Miranda não se conteve. Lágrimas ardentes lhe correram pelo
rosto. Disse-me, depois que, no momento, todo o absurdo da sua atitude lhe
surgira de inopino aos olhos da alma. Então a entidade amiga, compassiva,
disse-lhe:
– Como vê, Miranda, meu irmão, não há outro caminho. Mancando
ou não, você tem mesmo é de seguir por aí. Em vez de mentir, confesse
humildemente aos credores a verdade da sua situação. Em vez de trapacear,
procure fazer negócios sérios. A princípio, vai ser um pouco difícil, porque o
seu passado é um tanto escuro. Mas, insista no caminho reto, e será ajudado.
Ponha o pé no Reino de Deus, e o acréscimo começará a aparecer. Até agora, você
tem falado do que entendeu. Agora, ponha em prática o entendimento, e fale do
que experimentou.
Ao sairmos da reunião, Miranda mostrava um semblante mais
tranqüilo. E, em breve, se abriu conosco, num desabafo salutar:
– É verdade, amigos, tenho falado do que entendi, mas não
tenho praticado. Nunca fui insincero nas minhas pregações. Mas acontece que eu
ensinava os outros, e eu mesmo não aprendia. Curioso! Eu desejava o acréscimo,
sem buscar o Reino! De agora em diante vou fazer o contrário. E os Espíritos me
ajudarão.
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
O CAMINHO DO REINO do Livro Cartas e Crônicas
05 - O CAMINHO DO REINO
Na tosca residência de Arão, o curtidor, dizia Jesus a Zacarias, dono de extensos vinhedos
em Jericó:
- O Reino de Deus será, por fim, a vitória do bem, no domínio dos homens!... O Sol cobrirá o
mundo por manto de alegria luminosa, guardando a paz triunfante. Os filhos de todos os
povos andarão vinculados uns aos outros, através do apoio mútuo. As guerras terão
desaparecido, arredadas da memória, quais pesadelos que o dia relega aos princípios da
noite!... Ninguém se lembrará de exigir o supérfluo e nem se esquecerá de prover os
semelhantes do necessário, quando o necessário se lhes faça preciso. A seara de um
lavrador produzirá o bastante para o lavrador que não conseguiu as oportunidades da
sementeira e o teto de um irmão erguer-se-á igualmente como refúgio do peregrino sequioso
de afeto, sem que a idéia do mal lhes visite a cabeça... A viuvez e a orfandade nunca mais
derramarão sequer ligeira lágrima de sofrimento, porquanto a morte nada mais será que
antecâmara da união no amor perpétuo que clareia o sem-fim. Os enfermos, por mais
aparentemente desvalidos, acharão leito repousante, e as moléstias do corpo deixarão de
ser monstros que espreitam a moradia terrestre, para significarem simplesmente notícias
breves das leis naturais no arcabouço das formas. O trabalho não será motivo de cativeiro e
sim privilégio sagrado da inteligência. A felicidade e o poder não marcarão o lugar dos que
retenham ouro e púrpura, mas o coração daqueles que mais se empenham no doce
contentamento de entender e servir. O lar não se erigirá em cadinho de provação, porque
brilhará incessantemente por ninho de bênçãos, em cujo aconchego palpitarão as almas
felizes que se encontram para bendizer a confiança e a ternura sem mácula. O homem
sentir-se-á responsável pela tranqüilidade comum, nos moldes da reta consciência,
transfigurando a ação edificante em norma de cada dia; a mulher será respeitada, na
condição de mãe e companheira, a que devemos, originariamente, todas as esperanças e
regozijos que desabrocham na Terra, e as crianças serão consideradas por depósitos de
Deus!... A dor de alguém será repartida, qual transitória sombra entre todos, tanto quanto o
júbilo de alguém se espalhará, na senda de todos, recordando a beleza do clarão estelar... A
inveja e o egoísmo não mais subsistirão, visto que ninguém desejará para os outros aquilo
que não aguarda em favor de si mesmo! Fontes deslizarão entre jardins, e frutos
substanciosos penderão nas estradas, oferecendo-se à fome do viajor, sem pedir-lhe nada
mais que uma prece de gratidão à bondade do Pai, de vez que todas as criaturas alentarão
consigo o anseio de construir o Céu na Terra que o todo misericordioso lhes entregou!...
Deteve-se Jesus contemplando a turba que o aplaudia, frenética, minutos depois da sua
entrada em Jerusalém para as celebrações da Páscoa, e, notando que os israelitas se
diferençavam entre si, a revelarem particularidades das regiões diversas de que procediam
acentuou:
- Quando atingirmos, coletivamente, o Reino dos Céus, ninguém mais nascerá sob qualquer
sinal de separação ou discórdia, porque a Humanidade se regerá pelos ideais e interesses
de um mundo só!...
Enlevado, Zacarias fitou-o com ansiosa expectação e ponderou com respeito:
- Senhor, vim de Jericó para o culto às tradições de nossos antepassados; todavia, acima de
tudo, aspirava a encontrar-te e ouvir-te... Envelheci, arando a gleba e sonhando com a paz!...
Tenho vivido nos princípios de Moisés; no entanto, do fundo de minha alma, quero chegar ao
Reino de Deus do qual te fazes mensageiro nos tempos novos!... Mestre! Mestre!... Para
buscar-te percorri a trilha de minha estância até aqui, passo a passo... De vila em vila, de
casa em casa, um caminho existe, claro, determinado... Qual é, porém, Senhor, o Caminho
para o Reino de Deus?
- A estrada para o Reino de Deus é uma longa subida... – começou Jesus, explicando.
Eis, contudo, que filas de manifestantes penetraram o recinto, interrompendo-lhe a frase e
arrebatando-o à praça fronteiriça, recoberta de flores.
* * *
Zacarias, em êxtase, demandou o sítio de parentes, no vale de Hinom, demorando-se por
dois dias em comentários entusiastas, ao redor das promessas e ensinos do Cristo, mas, de
retorno à cidade, não surpreende outro quadro que não seja a multidão desvairada e
agressiva...
Não mais a glorificação, não mais a festa. Diante do ajuntamento, o Mestre, em pessoa, não
mais querido. Aqueles mesmos que o haviam honorificado em cânticos de louvor apupavamno
agora com requintes de injúria.
O velho de Jericó, translúcido de espanto, viu que o Amado Amigo, cambaleante e suarento,
arrastava a cruz dos malfeitores... Ansiou abraçá-lo e esgueirou-se, dificilmente, suportando
empuxões e zombarias do populacho... Rente ao madeiro, notou que um grupo de mulheres
chorosas abrigava o Mestre a parada imprevista e, antecedendo-se-lhes à palavra, ajoelhouse
diante dele e clamou:
- Senhor!... Senhor!...
Jesus retirou do lenho a destra ferida, afagou-lhe, por instantes, os cabelos que o tempo
alvejara, lembrando o linho quando a estriga descansa junto da roca, e falou, humilde:
- Sim, Zacarias, os que quiserem alcançar o Reino de Deus subirão ladeira escabrosa...
Em seguida, denotou a atenção de quem escutava os insultos que lhe eram endereçados...
Finda a pausa ligeira, apontou para o amigo, com um gesto, a poeira e o pedregulho que se
avantajavam à frente e, como a recordar-lhe a pergunta que deixara sem resposta, afirmou
com voz firme:
- Para a conquista do Reino de Deus, este é o caminho...
Na tosca residência de Arão, o curtidor, dizia Jesus a Zacarias, dono de extensos vinhedos
em Jericó:
- O Reino de Deus será, por fim, a vitória do bem, no domínio dos homens!... O Sol cobrirá o
mundo por manto de alegria luminosa, guardando a paz triunfante. Os filhos de todos os
povos andarão vinculados uns aos outros, através do apoio mútuo. As guerras terão
desaparecido, arredadas da memória, quais pesadelos que o dia relega aos princípios da
noite!... Ninguém se lembrará de exigir o supérfluo e nem se esquecerá de prover os
semelhantes do necessário, quando o necessário se lhes faça preciso. A seara de um
lavrador produzirá o bastante para o lavrador que não conseguiu as oportunidades da
sementeira e o teto de um irmão erguer-se-á igualmente como refúgio do peregrino sequioso
de afeto, sem que a idéia do mal lhes visite a cabeça... A viuvez e a orfandade nunca mais
derramarão sequer ligeira lágrima de sofrimento, porquanto a morte nada mais será que
antecâmara da união no amor perpétuo que clareia o sem-fim. Os enfermos, por mais
aparentemente desvalidos, acharão leito repousante, e as moléstias do corpo deixarão de
ser monstros que espreitam a moradia terrestre, para significarem simplesmente notícias
breves das leis naturais no arcabouço das formas. O trabalho não será motivo de cativeiro e
sim privilégio sagrado da inteligência. A felicidade e o poder não marcarão o lugar dos que
retenham ouro e púrpura, mas o coração daqueles que mais se empenham no doce
contentamento de entender e servir. O lar não se erigirá em cadinho de provação, porque
brilhará incessantemente por ninho de bênçãos, em cujo aconchego palpitarão as almas
felizes que se encontram para bendizer a confiança e a ternura sem mácula. O homem
sentir-se-á responsável pela tranqüilidade comum, nos moldes da reta consciência,
transfigurando a ação edificante em norma de cada dia; a mulher será respeitada, na
condição de mãe e companheira, a que devemos, originariamente, todas as esperanças e
regozijos que desabrocham na Terra, e as crianças serão consideradas por depósitos de
Deus!... A dor de alguém será repartida, qual transitória sombra entre todos, tanto quanto o
júbilo de alguém se espalhará, na senda de todos, recordando a beleza do clarão estelar... A
inveja e o egoísmo não mais subsistirão, visto que ninguém desejará para os outros aquilo
que não aguarda em favor de si mesmo! Fontes deslizarão entre jardins, e frutos
substanciosos penderão nas estradas, oferecendo-se à fome do viajor, sem pedir-lhe nada
mais que uma prece de gratidão à bondade do Pai, de vez que todas as criaturas alentarão
consigo o anseio de construir o Céu na Terra que o todo misericordioso lhes entregou!...
Deteve-se Jesus contemplando a turba que o aplaudia, frenética, minutos depois da sua
entrada em Jerusalém para as celebrações da Páscoa, e, notando que os israelitas se
diferençavam entre si, a revelarem particularidades das regiões diversas de que procediam
acentuou:
- Quando atingirmos, coletivamente, o Reino dos Céus, ninguém mais nascerá sob qualquer
sinal de separação ou discórdia, porque a Humanidade se regerá pelos ideais e interesses
de um mundo só!...
Enlevado, Zacarias fitou-o com ansiosa expectação e ponderou com respeito:
- Senhor, vim de Jericó para o culto às tradições de nossos antepassados; todavia, acima de
tudo, aspirava a encontrar-te e ouvir-te... Envelheci, arando a gleba e sonhando com a paz!...
Tenho vivido nos princípios de Moisés; no entanto, do fundo de minha alma, quero chegar ao
Reino de Deus do qual te fazes mensageiro nos tempos novos!... Mestre! Mestre!... Para
buscar-te percorri a trilha de minha estância até aqui, passo a passo... De vila em vila, de
casa em casa, um caminho existe, claro, determinado... Qual é, porém, Senhor, o Caminho
para o Reino de Deus?
- A estrada para o Reino de Deus é uma longa subida... – começou Jesus, explicando.
Eis, contudo, que filas de manifestantes penetraram o recinto, interrompendo-lhe a frase e
arrebatando-o à praça fronteiriça, recoberta de flores.
* * *
Zacarias, em êxtase, demandou o sítio de parentes, no vale de Hinom, demorando-se por
dois dias em comentários entusiastas, ao redor das promessas e ensinos do Cristo, mas, de
retorno à cidade, não surpreende outro quadro que não seja a multidão desvairada e
agressiva...
Não mais a glorificação, não mais a festa. Diante do ajuntamento, o Mestre, em pessoa, não
mais querido. Aqueles mesmos que o haviam honorificado em cânticos de louvor apupavamno
agora com requintes de injúria.
O velho de Jericó, translúcido de espanto, viu que o Amado Amigo, cambaleante e suarento,
arrastava a cruz dos malfeitores... Ansiou abraçá-lo e esgueirou-se, dificilmente, suportando
empuxões e zombarias do populacho... Rente ao madeiro, notou que um grupo de mulheres
chorosas abrigava o Mestre a parada imprevista e, antecedendo-se-lhes à palavra, ajoelhouse
diante dele e clamou:
- Senhor!... Senhor!...
Jesus retirou do lenho a destra ferida, afagou-lhe, por instantes, os cabelos que o tempo
alvejara, lembrando o linho quando a estriga descansa junto da roca, e falou, humilde:
- Sim, Zacarias, os que quiserem alcançar o Reino de Deus subirão ladeira escabrosa...
Em seguida, denotou a atenção de quem escutava os insultos que lhe eram endereçados...
Finda a pausa ligeira, apontou para o amigo, com um gesto, a poeira e o pedregulho que se
avantajavam à frente e, como a recordar-lhe a pergunta que deixara sem resposta, afirmou
com voz firme:
- Para a conquista do Reino de Deus, este é o caminho...
Marcadores:
Alvorada do Reino,
Caridade,
Doutrina Espírita,
Histórias do Evangelho,
Irmão X,
Mensagens,
Mundo de Regeneração,
Reino de Deus,
Reino dos Céus
terça-feira, 7 de agosto de 2012
A Vontade
A vontade
O estudo do ser, a que consagramos a primeira parte
desta obra, deixou-nos entrever a poderosa rede de forças, de energias ocultas
em nós. Mostrou-nos que todo o nosso futuro, em seu desenvolvimento ilimitado,
lá está contido no gérmen. As causas da felicidade não se acham em lugares
determinados no espaço; estão em nós, nas profundezas misteriosas da alma, o
que é confirmado por todas as grandes doutrinas.
“O reino dos céus está dentro de vós”, disse o Cristo.
O mesmo pensamento está por outra forma expresso nos Vedas:
“Tu trazes em ti um amigo sublime que não conheces.”
A sabedoria persa não é menos afirmativa: “Vós viveis
no meio de armazéns cheios de riquezas e morreis de fome à porta.” (Suffis Ferdousis).
Todos os grandes ensinamentos concordam neste ponto: É
na vida íntima, no desabrochar de nossas potências, de nossas faculdades, de
nossas virtudes, que está o manancial das felicidades futuras.
Olhemos atentamente para o fundo de nós mesmos,
fechemos nosso entendimento às coisas externas e, depois de havermos habituado
nossos sentidos psíquicos à escuridade e ao silêncio, veremos surgir luzes
inesperadas, ouviremos vozes fortificantes e consoladoras. Mas, há poucos
homens que saibam ler em si, que saibam explorar as jazidas que encerram
tesouros inestimáveis. Gastamos a vida em coisas banais, improfícuas;
percorremos o caminho da existência sem nada saber de nós mesmos, das riquezas
psíquicas, cuja valorização nos proporcionaria gozos inumeráveis.
Há em toda alma humana dois centros ou, melhor, duas
esferas de ação e expressão. Uma delas, a exterior, manifesta a personalidade,
o “eu”, com suas paixões, suas fraquezas, sua mobilidade, sua insuficiência.
Enquanto ela for a reguladora de nosso proceder, teremos a vida inferior,
semeada de provações e males. A outra, interna, profunda, imutável, é, ao mesmo
tempo, a sede da consciência, a fonte da vida espiritual, o templo de Deus em
nós. É somente quando esse centro de ação domina o outro, quando suas impulsões
nos dirigem, que se revelam nossas potências ocultas e que o Espírito se afirma
em seu brilho e beleza. É por ele que estamos em comunhão com “o Pai que habita
em nós”, segundo as palavras do Cristo, com o Pai que é o foco de todo o amor,
o princípio de todas as ações.
Por um desses centros perpetuamo-nos em mundos
materiais, onde tudo é inferioridade, incerteza e dor; pelo outro temos entrada
nos mundos celestes, onde tudo é paz, serenidade, grandeza. Somente pela
manifestação crescente do Espírito divino em nós chegaremos a vencer o “eu”
egoísta, a associar-nos plenamente à obra universal e eterna, a criar uma vida
feliz e perfeita.
Por que meio poremos em movimento as potências internas
e as orientaremos para um ideal elevado? Pela vontade! Os usos persistentes,
tenazes, dessa faculdade soberana permitir-nos-á modificar a nossa natureza,
vencer todos os obstáculos, dominar a matéria, a doença e a morte.
É pela vontade que dirigimos nossos pensamentos para um
alvo determinado. Na maior parte dos homens os pensamentos flutuam sem cessar.
Sua mobilidade constante e sua variedade infinita oferecem limitado acesso às
influências superiores. É preciso saber se concentrar, colocar o pensamento
acorde com o pensamento divino. Então, a alma humana é fecundada pelo Espírito
divino, que a envolve e penetra, tornando-a apta a realizar nobres tarefas,
preparando-a para a vida do espaço, cujos esplendores ela começa fracamente a
entrever desde este mundo. Os Espíritos elevados vêem e ouvem os pensamentos
uns dos outros, com os quais são harmonias penetrantes, ao passo que os nossos
são, as mais das vezes, somente discordâncias e confusão. Aprendamos, pois, a
servir-nos de nossa vontade e, por ela, a unir nossos pensamentos a tudo o que
é grande, à harmonia universal, cujas vibrações enchem o espaço e embalam os
mundos.
*
A vontade é a maior de todas as potências; é, em sua
ação, comparável ao ímã. A vontade de viver, de desenvolver em nós a vida,
atrai-nos novos recursos vitais; tal é o segredo da lei de evolução. A vontade
pode atuar com intensidade sobre o corpo fluídico, ativar-lhe as vibrações e,
dessa forma, apropriá-lo a um modo cada vez mais elevado de sensações,
prepará-lo para mais alto grau de existência.
O princípio de evolução não está na matéria, está na
vontade, cuja ação tanto se estende à ordem invisível das coisas como à ordem
visível e material. Esta é simplesmente a conseqüência daquela. O princípio
superior, o motor da existência, é a vontade. A vontade divina é o supremo
motor da vida universal.
O que importa, acima de tudo, é compreender que podemos
realizar tudo no domínio psíquico; nenhuma força permanece estéril quando se
exerce de maneira constante, visando alcançar um desígnio conforme ao direito e
à justiça.
É o que se dá com a vontade; ela pode agir tanto no
sono como na vigília, porque a alma valorosa, que para si mesma estabeleceu um
objetivo, procura-o com tenacidade em ambas as fases de sua vida e determina
assim uma corrente poderosa, que mina devagar e silenciosamente todos os
obstáculos.
Com a preservação dá-se o mesmo que com a ação. A vontade,
a confiança e o otimismo são outras tantas forças preservadoras, outros tantos
baluartes opostos em nós a toda causa de desassossego, de perturbação, interna
e externa. Bastam, às vezes, por si sós, para desviar o mal; ao passo que o
desânimo, o medo e o mau-humor nos desarmam e nos entregam a ele sem defesa. O
simples fato de olharmos de frente para o que chamamos o mal, o perigo, a dor,
a resolução de os afrontarmos, de os vencermos, diminuem-lhes a importância e o
efeito.
Os americanos têm, com o nome de mind cure (cura mental) ou ciência cristã, aplicado esse método à
terapêutica e não se pode negar que os resultados obtidos são consideráveis.
Esse método resume-se na fórmula seguinte: “O pessimismo enfraquece; o otimismo
fortalece.” Consiste na eliminação gradual do egoísmo, na união completa com a
Vontade Suprema, causa das forças infinitas. Os casos de cura são numerosos e
apóiam-se em testemunhos irrecusáveis.[i]
De resto, foi esse – em todos os tempos e com formas diversas
– o princípio da saúde física e moral.
Na ordem física, por exemplo, não se destroem os
infusórios, os infinitamente pequenos, que vivem e se multiplicam em nós; mas
se ganham forças para melhor lhes resistir. Da mesma forma, nem sempre é
possível, na ordem moral, afastar as vicissitudes da sorte, mas se pode
adquirir força bastante para suportá-las com alegria, sobrepujá-las com esforço
mental, dominá-las por tal forma que percam todo o aspecto ameaçador, para se
transformarem em auxiliares de nosso progresso e de nosso bem.
Em outra parte demonstramos, apoiando-nos em fatos recentes,
o poder da alma sobre o corpo na sugestão e auto-sugestão.[ii]
Limitar-nos-emos a lembrar outros exemplos ainda mais concludentes.
Louise Lateau, a estigmatizada de Bois-d'Haine, cujo
caso foi estudado por uma comissão da Academia de Medicina da Bélgica, fazia,
meditando sobre a Paixão do Cristo, correr à vontade o sangue dos seus pés,
mãos e lado esquerdo. A hemorragia durava muitas horas.[iii]
Pierre Janet observou casos análogos na Salpêtrière, em
Paris. Uma extática apresentava estigmas nos pés quando lhos metiam num aparelho.[iv]
Louis Vivé, em suas crises, a si mesmo dava ordem de sangrar-se
em horas determinadas e o fenômeno produzia-se com exatidão.
Encontra-se a mesma ordem de fatos em certos sonhos,
bem como nos fenômenos chamados “noevi” ou sinais de nascença.[v] Em
todos os domínios da observação, achamos a prova de que a vontade impressiona a
matéria e pode submetê-la a seus desígnios. Essa lei manifestas-se com mais
intensidade ainda no campo da vida invisível. É em virtude das mesmas regras
que os Espíritos criam as formas e os atributos que nos permitem reconhecê-los
nas sessões de materialização.
Pela vontade criadora dos grandes Espíritos e, acima de
tudo, do Espírito divino, uma vida repleta de maravilhas desenvolve-se e se
estende, de degrau em degrau, até ao infinito, nas profundezas do céu, vida
incomparavelmente superior a todas as maravilhas criadas pela arte humana e
tanto mais perfeita quanto mais se aproxima de Deus.
Se o homem conhecesse a extensão dos recursos que nele
germinam, talvez ficasse deslumbrado e, em vez de se julgar fraco e temer o
futuro, compreenderia a sua força, sentiria que ele próprio pode criar esse
futuro.
Cada alma é um foco de vibrações que a vontade põe em movimento.
Uma sociedade é um agrupamento de vontades que, quando estão unidas, concentradas
num mesmo fito, constituem centro de forças irresistíveis. As humanidades são
focos ainda mais poderosos, que vibram através da imensidade.
Pela educação e exercício da vontade, certos povos
chegam a resultados que parecem prodígios.
A energia mental, o vigor de espírito dos japoneses,
seu desprezo pela dor, sua impassibilidade diante da morte, causaram pasmo aos
ocidentais e foram para eles uma espécie de revelação. O japonês habitua-se
desde a infância a dominar suas impressões, a nada deixar trair dos desgostos,
das decepções, dos sentimentos por que passa, a ficar impenetrável, a não se
queixar nunca, a nunca se encolerizar, a receber sempre com boa cara os
reveses.
Tal educação retempera os ânimos e assegura a vitória
em todos os terrenos. Na grande tragédia da existência e da História, o
heroísmo representa o papel principal e é a vontade que faz os heróis.
Esse estado de espírito não é privilégio dos japoneses.
Os hindus chegam também, com o emprego do que eles chamam a hatha-yoga, ou exercício da vontade, a
suprimir em si o sentimento da dor física.
Numa conferência feita no Instituto Psicológico de
Paris e que Les Annales des Sciences
Psychiques, de novembro de 1906, reproduziram, Annie Besant cita vários
casos notáveis devidos a essas práticas persistentes.
Um hindu possuirá bastante poder de vontade para
conservar um braço erguido até se atrofiar. Outro deitar-se-á numa cama eriçada
de pontas de ferro sem sentir nenhuma dor. Encontra-se mesmo esse poder em
pessoas que não praticaram a hatha-yoga.
A conferencista cita o caso de um de seus amigos que, tendo ido à caça do tigre
e tendo recebido, por causa da imperícia de um caçador, uma bala na coxa,
recusou submeter-se à ação do clorofórmio para a extração do projétil,
afirmando ao cirurgião que teria suficiente domínio sobre si mesmo para ficar
imóvel e impassível durante a operação. Esta efetuou-se; o ferido tinha plena
consciência de si mesmo e não fez um só movimento. “O que para outro teria sido
uma tortura atroz, nada era para ele; havia fixado sua consciência na cabeça e
nenhuma dor sentira. Sem ser yogui,
possuía o poder de concentrar a vontade, poder que, nas Índias, se encontra freqüentemente.”
Pelo que se acaba de ler, pode-se julgar quão diferente
dos nossos são a educação mental e o objetivo dos asiáticos. Tudo, neles, tende
a desenvolver o homem interior, sua vontade, sua consciência, à vista dos
vastos ciclos de evolução que se lhes abrem, enquanto o europeu adota, de
preferência, como objetivo, os bens imediatos, limitados pelo círculo da vida
presente. Os alvos em que se põe à mira nos dois casos são diferentes; e essa
divergência resulta da concepção essencialmente diferente do papel do ser no
universo. Os asiáticos consideraram por muito tempo, com um espanto misturado
de piedade, nossa agitação febril, nossa preocupação pelas coisas contingentes
e sem futuro, nossa ignorância das coisas estáveis, profundas, indestrutíveis,
que constituem a verdadeira força do homem. Daí o contraste surpreendente que
oferecem as civilizações do Oriente e do Ocidente. A superioridade pertence
evidentemente à que abarca mais vasto horizonte e se inspira nas verdadeiras
leis da alma e de seu futuro. Pode ter parecido atrasada aos observadores
superficiais, enquanto as duas civilizações fizeram paralelamente sua evolução,
sem que entre uma e outra houvesse choques excessivos. Mas, desde que as necessidades
da existência e a pressão crescente dos povos do Ocidente forçaram os asiáticos
a entrar na corrente dos progressos modernos – tal é o caso dos japoneses –,
pode-se ver que as qualidades eminentes dessa raça, manifestando-se no domínio
material, podiam assegurar-lhes igualmente a supremacia. Se esse estado de
coisas se acentuar, como é de recear, se o Japão conseguir arrastar consigo
todo o Extremo Oriente, é possível que mude o eixo da dominação do mundo e
passe de uma raça para outra, principalmente se a Europa persistir em não se
interessar pelo que constitui o mais alto objetivo da vida humana e em
contentar-se com um ideal inferior e quase bárbaro.
Mesmo restringindo o campo de nossas observações à raça
branca, aí vamos verificar também que as nações de vontade mais firme, mais
tenaz, vão pouco a pouco tomando predomínio sobre as outras. É o que se dá com
os povos anglo-saxônios e germânicos. Estamos vendo o que a Inglaterra tem
podido realizar, através dos tempos, para execução de seu plano de ação. A
Alemanha, com seu espírito de método e continuidade, soube criar e manter uma
poderosa coesão em detrimento de seus vizinhos, não menos bem dotados do que
ela, mas menos resolutos e perseverantes. A América do Norte prepara também
para si um grande lugar no concerto dos povos.
A França é, pelo contrário, uma nação de vontade fraca
e volúvel. Os franceses passam de uma idéia a outra com extrema mobilidade e a
esse defeito não são estranhas as vicissitudes de sua História. Seus primeiros
impulsos são admiráveis, vibrantes de entusiasmo. Mas, se com facilidade
empreendem uma obra, com a mesma facilidade a abandonam, quando o pensamento já
a vai edificando e os materiais se vão reunindo silenciosamente ao seu
derredor. Por isso o mundo apresenta, por toda parte, vestígios meio apagados
de sua ação passageira, de seus esforços depressa interrompidos.
Além disso, o pessimismo e o materialismo, que cada vez
mais se alastram entre eles, tendem também a amesquinhar as qualidades
generosas de sua raça. O positivismo e o agnosticismo trabalham
sistematicamente para apagar o que restava de viril na alma francesa; e os
recursos profundos do espírito francês atrofiam-se por falta de uma educação
sólida e de um ideal elevado.
Aprendamos, pois, a criar uma “vontade de potência”, de
natureza mais elevada do que a sonhada por Nietzsche. Fortaleçamos em torno de
nós os espíritos e os corações, se não quisermos ver nossas sociedades votadas
à decadência irremediável.
*
Querer é poder! O poder da vontade é ilimitado. O
homem, consciente de si mesmo, de seus recursos latentes, sente crescerem suas
forças na razão dos esforços. Sabe que tudo o que de bem e bom desejar há de,
mais cedo ou mais tarde, realizar-se inevitavelmente, ou na atualidade ou na
série das suas existências, quando seu pensamento se puser de acordo com a Lei
divina. E é nisso que se verifica a palavra celeste: “A fé transporta
montanhas.”
Não é consolador e belo poder dizer: “Sou uma
inteligência e uma vontade livres; a mim mesmo me fiz, inconscientemente,
através das idades; edifiquei lentamente minha individualidade e liberdade e
agora conheço a grandeza e a força que há em mim. Amparar-me-ei nelas; não deixarei
que uma simples dúvida as empane por um instante sequer e, fazendo uso delas
com o auxílio de Deus e de meus irmãos do espaço, elevar-me-ei acima de todas
as dificuldades; vencerei o mal em mim; desapegar-me-ei de tudo o que me
acorrenta às coisas grosseiras para levantar o vôo para os mundos felizes!”
Vejo claramente o caminho que se desenrola e que tenho
de percorrer. Esse caminho atravessa a extensão ilimitada e não tem fim; mas,
para guiar-me na estrada infinita, tenho um guia seguro – a compreensão da lei
de vida, progresso e amor que rege todas as coisas; aprendi a conhecer-me, a
crer em mim e em Deus. Possuo, pois, a chave de toda elevação e, na vida imensa
que tenho diante de mim, conservar-me-ei firme, inabalável na vontade de enobrecer-me
e elevar-me, cada vez mais; atrairei, com o auxílio de minha inteligência, que
é filha de Deus, todas as riquezas morais e participarei de todas as maravilhas
do Cosmo.
Minha vontade chama-me: “Para frente, sempre para
frente, cada vez mais conhecimento, mais vida, vida divina!” E com ela
conquistarei a plenitude da existência, construirei para mim uma personalidade
melhor, mais radiosa e amante. Saí para sempre do estado inferior do ser
ignorante, inconsciente de seu valor e poder; afirmo-me na independência e
dignidade de minha consciência e estendo a mão a todos os meus irmãos,
dizendo-lhes:
Despertai de vosso pesado sono; rasgai o véu material
que vos envolve, aprendei a conhecer-vos, a conhecer as potências de vossa alma
e a utilizá-las. Todas as vozes da Natureza, todas as vozes do espaço vos
bradam: “Levantai-vos e marchai! Apressai-vos para a conquista de vossos
destinos!”
A todos vós que vergais ao peso da vida, que,
julgando-vos sós e fracos, vos entregais à tristeza, ao desespero, ou que
aspirais ao nada, venho dizer: “O nada não existe; a morte é um novo nascimento,
um encaminhar para novas tarefas, novos trabalhos, novas colheitas; a vida é
uma comunhão universal e eterna que liga Deus a todos os seus filhos.”
A vós todos, que vos credes gastos pelos sofrimentos e
decepções, pobres seres aflitos, corações que o vento áspero das provações
secou; Espíritos esmagados, dilacerados pela roda de ferro da adversidade,
venho dizer-vos:
“Não há alma que não possa renascer, fazendo brotar
novas florescências. Basta-vos querer para sentirdes o despertar em vós de
forças desconhecidas. Crede em vós, em vosso rejuvenescimento em novas vidas;
crede em vossos destinos imortais. Crede em Deus, Sol dos sóis, foco imenso, do
qual brilha em vós uma centelha, que se pode converter em chama ardente e
generosa!
“Sabei que todo homem pode ser bom e feliz; para vir a
sê-lo basta que o queira com energia e constância. A concepção mental do ser,
elaborada na obscuridade das existências dolorosas, preparada pela vagarosa
evolução das idades, expandir-se-á à luz das vidas superiores e todos
conquistarão a magnífica individualidade que lhes está reservada.
“Dirigi incessantemente vosso pensamento para esta
verdade: podeis vir a ser o que quiserdes. E sabei querer ser cada vez maiores
e melhores. Tal é a noção do progresso eterno e o meio de realizá-lo; tal é o
segredo da força mental, da qual emanam todas as forças magnéticas e físicas.
Quando tiverdes conquistado esse domínio sobre vós mesmos, não mais tereis que
temer os retardamentos nem as quedas, nem as doenças, nem a morte; tereis feito
de vosso “eu” inferior e frágil uma alta e poderosa individualidade!”
XXI
Léon Denis.
[i] Ver W. James, Reitor da Universidade
Harvard, L'Expérience Religieuse,
págs. 86, 87. Tradução francesa de Abauzit. Félix Alcan, editor, Paris, 1906.
[iii] Dr.
Warlomont - Louise Lateau, la stigmatisée
de Bois-d'Haine, Bruxelas, 1873.
[iv] P.
Janet, “Une extatique”, Bulletin de
1'Institut Psychologique, julho, agosto, setembro de 1901.
[v] Ver,
entre outros, o Bulletin de la Société
Psychique de Marseille, outubro de 1903.
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
MEU REINO NAO É DESTE MUNDO
“Vós sois de baixo, eu sou de
cima, vós sois deste mundo. eu não sou
deste mundo,”
(João, 11:2.1)
“Não são do mundo. como eu do mundo não sou.”
(João 17:16)
“O meu reino não é deste mundo,
se o meu reino fosse deste mundlo,
pelejariam os meus servos, para que eu
não fosse entregue aos judeu, mas agora
o meu reino não é daqui.”
(João, IK:3hi
Os Espíritos benfeitores afirmam que Jesus Cristo é o preposto de Deus para as
coisas deste mundo, Ele é, portanto, quem governa este minúsculo orbe que faz parte
das muitas moradas que constituem a casa do Pai.
Isso é comprovado por João Evangelista que, referindo-se a Jesus, sustenta:
“Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez”,
O próprio Jesus proclama isso quando os judeus insistiam em afirmar que o
Cristo seria da linhagem de Davi: “Como é então que via, em Espírito, lhe chama
Senhor, dizendo: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita até que
eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés. Se Davi, pois, lhe chama Senhor,
como pode ser ele seu filho?”
Jesus Cristo foi indubitavelmente a mais singular figura que desceu à Terra. Os
seus Evangelhos, entrecortados dos mais sublimados ensinamentos, são repositório da
mais elevada moral e, além disso, encerram equação para os mais agudos problemas
que assoberbam os homens.
Quando o Mestre disse a Pilatos que o seu reino não é deste mundo,
acrescentou a palavra agora, o que significa que, por enquanto, o seu reino não é
deste mundo, mas o será quando o homem estiver vivendo compenetrado da verdade,
quando a palavra fraternidade deixar de ser mera utopia, quando a Humanidade
formar um só rebanho sob a orientação de um só pastor.
João Evangelista acrescenta em seu Evangelho que “Jesus estava no mundo, e
o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, e os
seus não o receberam. Veio como uma luz brilhando nas trevas, mas as trevas não a
compreenderam”.
É óbvio, portanto, que no futuro, quando o Reino de Deus se implantar
definitivamente nos corações humanos, através da consumação da reforma íntima das
criaturas, o reino de Jesus também o será deste mundo, que no momento é apenas
uma estância de expiação e de dor.
Isso não significa que estejamos deserdados. Jesus é o nosso Mestre, o nosso
orientador, o nosso redentor. Os grandes luminares da Espiritualidade superior
continuam a descer a este mundo a fim de impulsionar o progresso. Milhares e
milhares de mensagens são enviadas à Terra pelos nossos benfeitores espirituais. Os
Espíritos se comunicam por toda a parte, cumprindo a profecia de Joel: “E nos
últimos dias derramarei do meu Espírito sobre toda a carne”.
Ainda há pouco mais de um século o mundo recebeu a revelação do Espírito de
Verdade, instaurando na Terra a Doutrina dos Espíritos, que veio propiciar aos
homens a possibilidade de anteverem uma nova luz a impulsioná-los para Deus, a fim
de que, dentro de mais alguns séculos, seja definitivamente implantado na Terra o
Reinado do Espírito. Nessa época poderá então o Mestre afirmar: “Agora o meu reino
também é deste mundo”
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
Edificação do Reino
Nem na alegria excessiva que ensurdece.
Nem na tristeza demasiada que deprime.
Nem na ternura incondicional que prejudica.
Nem na severidade indiscriminada que destrói.
Nem na cegueira afetiva que jamais corrige.
Nem no rigor que resseca.
Nem no absurdo afirmativo que é dogma.
Nem no absurdo negativo que é vaidade.
Nem nas obras sem fé que se reduzem a pedra e pó.
Nem na fé sem obras que é estagnação da alma.
Nem no movimento sem ideal de elevação que é cansaço vazio.
Nem no ideal de elevação sem movimento que é ociosidade brilhante.
Nem cabeça excessivamente voltada para o firmamento com inteira despreocupação do valioso trabalho na Terra.
Nem pés definitivamente chumbados ao chão do Planeta com integral esquecimento dos apelos do Céu.
Nem exigência a todo instante.
Nem desculpa sem-fim.
O Reino Divino não será concretizado na Terra, através de atitudes extremistas.
O próprio Mestre asseverou-nos que a sublime realização está no meio de nós.
A edificação do Reino Divino é obra de aprimoramento, de
ordem, esforço e aplicação aos desígnios do Mestre, com bases no
trabalho metódico e na harmonia necessária.
Não te prendas excessivamente às dificuldades do dia de ontem, nem te inquietes demasiado pelos prováveis obstáculos de amanhã.
Vive e age bem no dia de hoje, equilibra-te e vencerás.
XAVIER, Francisco Cândido. Vinha de Luz. Pelo Espírito Emmanuel. 14.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1996. Capítulo 177. terça-feira, 24 de julho de 2012
NO REINO EM CONSTRUÇÃO
NO REINO EM CONSTRUÇÃO
Emmanuel
“Na casa de meu Pai há muitas moradas; se assim não fosse,
já eu vo-lo feria dito, pois me vou para vos preparar o lugar.”
- JESUS -JOAO, 14: 2.
já eu vo-lo feria dito, pois me vou para vos preparar o lugar.”
- JESUS -JOAO, 14: 2.
“Entretanto, nem todos os Espíritos que encarnam na Terra vão para ai em expiação “
-.1 Cap. III, 14.
-.1 Cap. III, 14.
Escutaste o pessimismo que se esmera em procurar as deficiências da
Humanidade, como quem se demora deliberadamente nas arestas agressivas
do mármore de obra-prima Inacabada e costumas dizer que a Terra está
perdida.
Observa, porém, as multidões que se esforçam silenciosamente pela santificação do porvir.
Compulsaste as folhas da imprensa, lendo a história do autor de
homicídio lamentável e sob a extrema revolta, trouxeste ao labirinto das
opiniões contraditórias a tua própria versão do acontecimento,
asseverando que estamos todos no teatro do crime.
Recorda, contudo, os milhões de pais e mães, tocados de abnegação e
heroísmo,que abraçam todos os sacrifícios no lar para que a delinqüência
desapareça.
Conheceis jovens que se transviaram. na leviandade, desvairando-se em
golpes de selvageria e loucura e, examinando acremente determinados
sucessos que devem estar catalogados na patologia da mente, admites que a
juventude moderna se encontra em adiantado processo de desagregação do
caráter.
Relaciona, todavia, os milhões de rapazes e meninas, debruçados sobre
livros e máquinas, através do labor e do estudo, em muitas
circunstâncias imolando o próprio corpo à fadiga precoce, para
integrarem dignamente a legião do progresso.
Sabes que há companheiros habituados aos prazeres noturnos e, ao vê-los
comprando o próprio desgaste a prego de ouro, acreditas que toda a
comunidade humana jaz entregue à demência e ao desperdício.
Reflete, entretanto, nos milhões de cérebros e braços que atravessam a
noite, no recinto das fábricas e junto dos linotipos, em hospitais e
escritórios, nas atividades da limpeza e da vigilância,de modo a que a
produção e a cultura, a saúde e a tranqüilidade do povo sejam
asseguradas.
Marcaste o homem afortunado que enrijeceu mãos e bolsos, na sovinice, e
esposas a convicção de que todas as pessoas abastadas são modelos
completos; de avareza e crueldade.
Considera, no entanto, os milhões de tarefeiros do serviço e da
beneficência, que diariamente colocam o dinheiro em circulação, a fim de
que os homens conheçam a honra de trabalhar e a alegria de viver.
Não condenes a Terra pelo desequilíbrio de alguns.
Medita, em todos os que se encontram suando e sofrendo, lutando e
amando, no levantamento do futuro melhor, e reconhecerás que o Divino
Construtor do Reino de Deus no mundo está esperando também por ti.
Extraído do Livro da Esperança. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
sábado, 21 de julho de 2012
PEDRO, O APÓSTOLO( entrevista de Pedro)
Humberto de Campos
25 de agosto de 1936
Enquanto a Capital dos
mineiros, dirigida pelos seus elementos eclesiásticos, se prepara, esperando
as grandes manifestações de fé do segundo Congresso Eucarístico Nacional,
chegam os turistas elegantes e os peregrinos invisíveis. Também eu quis
conhecer de perto as atividades religiosas dos conterrâneos de Augusto de
Lima.
Na Praça Raul Soares,
espaçosa e ornamentada, vi o monumento dos congressistas, elevando-se em
forma de altar, onde os altos religiosos serão celebrados. No topo, a
custódia, rodeada de arcanjos petrificados, guardando o símbolo suave e
branco da eucaristia, e, cá em baixo, nas linhas irregulares da terra, as
acomodações largas e fartas, de onde o povo assistirá, comovido, às
manifestações de Minas católica.
Foi nesse ambiente que
a figura de um homem trajado à israelita, lembrando alguns tipos que em
Jerusalém se dirigem, freqüentemente, para o lugar sagrado das lamentações,
aguçou a minha curiosidade incorrigível de jornalista.
- Um judeu?! –
exclamei, aguardando as novidades de uma entrevista.
- Sim, fui judeu, há
algumas centenas de anos – respondeu laconicamente o interpelado.
Sua réplica exaltou a
minha bisbilhotice e procurei atrair a atenção da singular personagem.
- Vosso nome? –
continuei.
- Simão Pedro.
- O Apóstolo?
E a veneranda figura
respondeu afirmativamente, colando ao peito os cabelos respeitáveis da barba
encanecida.
Surpreso e sedento da
sua palavra, contemplei aquela figura hebraica, cheia de simplicidade e
simpatia. Ao meu cérebro afluíam centenas de perguntas, sem que pudesse
coordená-las devidamente.
- Mestre – disse-lhe,
por fim -, Vossa palavra tem para o mundo um valor inestimável. A
cristandade nunca vos julgou acessível na face da Terra, acreditando que vos
conserváveis no Céu, de cujas portas resplandecentes guardáveis a chave
maravilhosa. Não teríeis algumas mensagens do Senhor para transmitir à
Humanidade, neste momento angustioso que as criaturas estão vivendo?
E o Apóstolo
venerável, dentro da sua expressão resignada e humilde, começou a falar:
- Ignoro a razão por
que revestiram a minha figura, na Terra, de semelhantes honrarias. Como
homem, não fui mais que um obscuro pescador da Galiléia e, como discípulo do
Divino Mestre, não tive a fé necessária nos momentos oportunos. O Senhor não
poderia, portanto, conferir-me privilégios, quando amava todos os seus
apóstolos com igual amor.
- É conhecida, na
história das origens do Cristianismo, a vossa desinteligência com Paulo de
Tarso. Tudo isso é verdadeiro?
- De alguma forma,
tudo isso é verdade – declarou bondosamente o Apóstolo. – Mas, Paulo tinha
razão. Sua palavra enérgica evitou que se criasse uma aristocracia
injustificável, que, sem ele, teria que desenvolver-se fatalmente entre os
amigos de Jesus, que se haviam retirado de Jerusalém para as regiões da
Batanéia.
- Nada desejais dizer
ao mundo sobre a autenticidade dos Evangelhos?
- Expressão autêntica
da biografia e dos atos do Divino Mestre, não seria possível acrescentar
qualquer coisa a esse livro sagrado. Muita iniqüidade se tem verificado no
mundo em nome do estatuto divino, quando todas as hipocrisias e injustiças
estão nele sumariamente condenadas.
- E no capítulo dos
milagres?
- Não é propriamente
milagre o que caracterizou as ações práticas do Senhor. Todos os seus atos
foram resultantes do seu imenso poder espiritual. Todas as obras a que se
referem os Evangelistas são profundamente verdadeiras.
E, como quem retrocede
no tempo, o Apóstolo monologou:
- Em Carfanaum, perto
de Genesaré, e em Betsaida, muitas vezes acompanhei o Senhor nas suas
abençoadas peregrinações. Na Samaria, ao lado de Cesaréia de Felipe, vi suas
mãos carinhosas dar vistas aos cegos e consolação aos desesperados. Aquele
sol claro e ardente da Galiléia ainda hoje ilumina toda a minha alma e,
tantos séculos depois de minhas lutas no mundo, ao lado de alguns
companheiros procuro reivindicar para os homens a vida perfeita do
Cristianismo, com o advento do Reino de Deus, que Jesus desejou fundar, com
o seu exemplo, em cada coração...
- Os filósofos
terrenos são quase unânimes em afirmar que o Cristo não conhecia a evolução
da ciência grega, naquela época, e que as suas parábolas fazem supor a sua
ignorância acerca da organização política do Império Romano: seus apóstolos
falam de reis e príncipes que não poderiam ter existido.
- A ação do Cristo –
retrucou o Apóstolo – vai mais além que todas as atividades e investigações
das filosofias humanas. Cada século que passa imprime um brilho novo à sua
figura e um novo fulgor ao seu ensinamento. Ele não foi alheio aos trabalhos
do pensamento dos seus contemporâneos. Naquele tempo, as teorias de
Lucrécio, expandidas alguns anos antes da obra do Senhor, e as lições de
Filon em Alexandria, eram muito inferiores às verdades celestes que Ele
vinha trazer à Humanidade atormentada e sofredora...
E, quando a figura
venerada de Simão parecia prestes a prosseguir na sua jornada, inquiri,
abruptamente:
- Qual o vosso
objetivo, atualmente, no Brasil?
- Venho visitar a obra
do Evangelho aqui instituída por Ismael, filho de Abraão e de Agar, e
dirigida dos espaços por abnegados apóstolos da fraternidade cristã.
- E estais igualmente
associado às festas do segundo Congresso Eucarístico Nacional? – perguntei.
Mas, o bondoso
Apóstolo expressou uma atitude de profunda incompreensão, ao ouvir as minhas
derradeiras palavras.
Foi quando, então, lhe
mostrei o rico monumento festivo, as igrejas enfeitadas de ouro, os
movimentos de recepção aos prelados, exclamando ele, afinal:
- Não, meu filho!...
Esperam-me longe destas ostentações mentirosas os humildes e os
desconsolados. O Reino de Deus ainda é a promessa para todos os pobres e
para todos os aflitos da Terra. A Igreja romana, cujo chefe se diz possuidor
de um trono que me pertence, está condenada no próprio Evangelho, com todas
as suas grandezas bem tristes e bem miseráveis. A cadeira de São Pedro é
para mim uma ironia muito amarga... Nestes templos faustosos não há lugares
para Jesus, nem para os seus continuadores...
- E que sugeris,
Mestre, para esclarecer a verdade?
Mas, nesse momento, o
Apóstolo venerando enviou-me um gesto compassivo e piedoso, continuando o
seu caminho, depois de amarrar, resignadamente, o cordão das sandálias.
Do livro Crônicas de Além Túmulo. Psicografia
de Francisco Cândido Xavier.
Assinar:
Postagens (Atom)