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sábado, 11 de janeiro de 2014

Reflexões sobre o Centro Espírita

Reflexões sobre o Centro Espírita

Autor: J. Herculano Pires

Se os espíritas soubessem o que é o Centro Espírita, quais são realmente a sua função e a sua significação, o Espiritismo seria hoje o mais importante movimento cultural e espiritual da Terra.

Temos no Brasil – e isso é um consenso universal – o maior, mais ativo e produtivo movimento espírita do planeta. A expansão do Espiritismo em nossa terra é incessante e prossegue em ritmo acelerado. Mas o que fazemos, em todo este vasto continente espírita, é um imenso esforço de igrejificar o Espiritismo, de emparelhá-lo com as religiões decadentes e ultrapassadas, formando por toda parte núcleos místicos e, portanto fanáticos, desligados da realidade imediata. Dizia o Dr. Souza Ribeiro, de Campinas, nos últimos tempos de sua vida de lutas espíritas: "Não compareço a reuniões de espíritas rezadores! "E tinha razão, porque nessas reuniões ele só encontrava turba dos pedintes, suplicando ao Céu ajuda.

Ninguém estava ali para aprender a Doutrina, para romper a malha de teia de aranha do igrejismo piedoso e choramingas. A domesticação católica e protestante criara em nossa gente uma mentalidade de rebanho. O Centro Espírita tornou-se uma espécie de sacristia leiga em que padres e madres ignorantes indicavam aos pedintes o caminho do Céu. A caridade esmoler, fácil e barata, substituiu as gordas e faustosas doações à Igreja. Deus barateara a entrada a entrada do Céu, e até mesmo os intelectuais que se aproximam do Espiritismo e que tem o senso crítico, se transformam em penitentes. Associações espíritas, promissoramente organizadas, logo se transformam em grupos de rezadores pedinchões. O carimbo da igreja marcou fundo a nossa mentalidade em penúria. Mais do que subnutrição do povo, com seu cortejo trágico de endemias devastadoras, o igrejismo salvacionista depauperou a inteligência popular, com seu cortejo de carreirismo político – religioso, idolatria mediúnica, misticismo larvar, o que é pior, aparecimento de uma classe dirigente de supostos missionários e mestres farisaicos, estufados de vaidade e arrogância. São os guardiães dos apriscos do templo, instruídos para rejeitar os animais sacrificiais impuros, exigindo dos beatos a compra de oferendas puras nos apriscos sacerdotais. Essa tendência mística popular, carregada de superstições seculares, favorece a proliferação de pregadores santificados, padres vieiras sem estalo, tribunos de voz empostada e gesticulação ensaiada. Toda essa carga morta esmaga o nosso movimento doutrinário e abre as suas portas para a infestação do sincretismo religioso afro-brasileiro, em que os deuses ingênuos da selva africana e das nossas selvas superam e absorvem o antigo e cansado deus cristão.

Não há clima para o desenvolvimento da Cultura Espírita. As grandes instituições Espíritas Brasileiras e as Federações Estaduais investem-se por vontade própria de autoridade que não possuem nem podem possuir, marcadas que estão por desvios doutrinários graves, como no caso do roustainguismo da FEB e das pretensões retrógradas de grupelhos ignorantes de adulterados. Teve razões de sobra André Dumas, do Espiritismo Francês, em denunciar recentemente, em entrevista à revista Manchete, a situação católica e na verdade de anti-espírita do Movimento Espírita brasileiro. A domesticação clerical dos espíritas ameaça desfibrar todo o nosso povo, que por sua formação igrejeira tende a um tipo de alienação esquizofrênica que o Espiritismo sempre combateu, desde a proclamação de fé racional contra a fé cega e incoerente, submissa e farisaica das pregações igrejeiras.

Jesus ensinou a orar e vigiar, recomendou o amor e a bondade, pregou a humanidade, mas jamais aconselhou a viver de orações e lamúrias, santidade fingida, disfarçada em vãs aparências de humildade, que são sempre desmentidas pelas ambições e a arrogância incontroláveis do homem terreno.

Para restabelecermos a verdade espírita entre nós e reconduzirmos o nosso movimento a uma posição doutrinária digna e coerente, é preciso compreender que a Doutrina Espírita é um chamado viril à dignidade humana, à consciência do homem para deveres e compromissos no plano social e no plano espiritual, ambos conjugados em face das exigências da lei superior da Evolução Humana. Só nos aproximaremos da angelitude, o plano superior da Espiritualidade, depois de nos havermos tornado Homens.

Os espíritas atuais, na sua maioria, tanto no Brasil como no mundo, não compreenderam ainda que estão num ponto intermediário da filogênese da divindade. Superando os reinos inferiores da Natureza, segundo o esquema poético de Léon Denis, na seqüência divinamente fatal de Kardec: mineral, vegetal, animal e homem, temos o ponto neutro de gravidade entre duas esferas celestes, e esse ponto é o que chamamos ESPÍRITA. As visões fragmentárias da Realidade se fundem dialeticamente na concepção monista preparada pelo monoteísmo. Liberto, no ponto neutro, da poderosa reação da Terra, o espírita está em condições de se elevar ao plano angélico. Mas estar em condições é uma coisa, e dar esse passo para a divindade é outra coisa. Isso depende do grau de sua compreensão doutrinária e da sua vontade real e profunda, que afeta toda a sua estrutura individual. Por isso mesmo, surge então o perigo da estagnação no misticismo, plano ilusório da falsa divindade, que produz as almas viajoras de Plotino, que nada mais são do que os espíritos errantes de Kardec. Essas almas se projetam no plano da Angelitude, mas não conseguem permanecer nele, cedendo de novo a atração terrena da encarnação.

Muitas vezes repetem a tentativa, permanecendo errantes entre as hipóstases do Céu e da Terra. Plotino viu essa realidade na intuição filosófica e na vidência platônica. Mas Kardec a verificou em suas pesquisas espíritas, escudadas na observação racional dos fatos. Apoiado na Razão, essa bússola do Real, ele nos livrava dos psicotrópicos do misticismo, oferendo-nos a verdade exata da Doutrina Espírita. Nela temos a orientação precisa e segura dos planos ou hipóstases superiores, sem o perigo dos ciclos muitas vezes repetidos do chamado Círculo Vicioso das Reencarnações, que os ignorantes pretendem opor à realidade incontestável da reencarnação. Pois se existe esse círculo vicioso, é isso bastante para provar o processo reencarnatório. O vício não está no processo, mas na precipitação dos homens e dos espíritos não devidamente amadurecidos, que tentam forçar a Porta do Céu.

Se no Brasil sofremos os prejuízos do religiosismo ingênuo de nossa formação cultural, na França e nos demais países europeus -segundo as próprias declarações de André Dumas – o prejuízo provém de um cientificismo pretensioso, que despreza a tradição francesa da pesquisa científica espírita, procurando substituí-la pelas pesquisas e interpretações parapsicológicas. Esse menosprezo pedante pelo trabalho modelar de Kardec levou o próprio Dumas a desrespeitar a tradição secular da Revue Spirite, transformando-a num simulacro da revista científica do Ano 2.000. As pesquisas da parapsicologia seguiram o esquema de Kardec e foram cobrindo no tempo, sucessivamente, todas as conquistas do sábio francês. Pegada por pegada, Rhine e seus companheiros cobriram o rastro científico de Kardec. O mesmo já acontecera com Richet na metapsíquica, com Crookes e Zollner e todos os demais. Toda a pesquisa psíquica honesta é válida, nesse campo, até mesmo a dos materialistas russos atuais ficaram presas ao esquema de Kardec, o que prova a validade irrevogável desta. Começando pela observação dos fenômenos físicos, todas as Ciências Psíquicas, nascidas do Espiritismo fizeram a trajetória fatal traçada pelo gênio de Kardec e chegaram as suas mesmas conclusões.

As discordâncias interpretativas foram sempre marcadas indelevelmente pelos preconceitos e as precipitações da advertência de Descartes no Discurso do Método e pela sujeição aos interesses das Igrejas, como Kardec já assinalara em seu tempo. A questão da terminologia é puramente supérflua, e como dissera Kardec, serve apenas para provar a leviandade do espírito humano, mesmo dos sábios, sempre mais apegado à forma que ao fundo do problema. No Espiritismo o quadro fenomênico foi dividido por Kardec em duas seções: Fenômenos Físicos e Fenômenos Inteligentes. Na Metapsíquica, Richet apresentou o esquema de Metapsíquica objetiva e Metapsíquica subjetiva. Na Parapsicologia os fenômenos espíritas passaram a chamar-se Fenômeno Psi, com divisão de Psicapa ( objetivos ) e Psigama ( subjetivos ). Quanto aos métodos de pesquisa, Crookes e Richet ativeram-se à metodologia científica da época, e Rhine limitou-se a passar dos métodos qualitativos para os quantitativos, inventando aparelhagens apropriadas aos processos tecnológicos atuais, apelando à estatística como forma de controle e comprovação dos resultados, o que simplesmente corresponde às exigências atuais nas Ciências.

Kardec teve a vantagem de haver acentuado enfaticamente a necessidade de adequação do método ao objeto específico da pesquisa. O próprio método hipnótico de regressão da memória, para as pesquisas da reencarnação aplicado por Albert De Rochas do século passado, foi aproveitado pelo Prof. Vladimir Raikov. Na Romênia, o preconceito quanto ao Espiritismo gerou uma nova denominação para Parapsicologia: Psicotrônica. Com esse nome rebarbativo, os materialistas romenos pretendem exorcizar os perigos de renascimento espírita em seu país.

Todos esses fatos nos mostram que a Doutrina Espírita não chegou ainda a ser conhecida pelos seus próprios adeptos em todo o mundo. Integrado no processo doutrinário de trabalho e desenvolvimento, o Centro Espírita carecia até agora de um estudo sobre as suas origens, o seu sentido e a sua significação no panorama cultural do nosso tempo. É o que procuramos fazer neste volume, com as nossas deficiências, mas na esperança de que outros estudiosos procurem completar o nosso esforço. Lembrando o Apóstolo Paulo, podemos dizer que os espíritas estão no momento exato em que precisam desmamar das cabras celestes para se alimentarem de alimentos sólidos. Os que desejam atualizar a Doutrina, devem antes cuidar de se atualizarem nela.

Livro: O Centro Espírita

As "instruções" de Allan Kardec

As "instruções" de Allan Kardec

Autor: Canuto de Abreu. Livro: Bezerra de Menezes

A 5 de fevereiro de 1889 manifestava-se Allan Kardec através do médium Frederico Pereira da Silva Júnior, mais conhecido por Frederico Júnior, dizendo: “Eis que se aproxima para mim o momento de cumprir minha promessa, vindo fazer convosco em particular e com os espíritas em geral um estudo rápido e conciso, sobre a marcha da nossa doutrina nesta parte do planeta. É natural que a vossa bondade me forneça para isso o ensejo, na próxima sessão prática, servindo-me do médium com a mesma passividade com que o tem feito das outras vezes. A ele peço, particularmente, não cogitar de forma da nossa comunicação, não só porque dessa cogitação pode advir alteração dos pensamentos, como ainda porque acredito haver necessidade, sem ofensa à sua capacidade intelectual, de submeter a novos moldes, quanto à forma, aquilo que tenho dito e vou dizer em relação ao assunto.

Realmente, na sessão seguinte, na sede da “Sociedade Espírita Fraternidade”, no Rio de Janeiro, manifestou-se o Espírito do Codificador, dando as seguintes instruções ao espíritas brasileiros, que na época viviam em constantes dissensões e rivalidades.





INTRUÇÕES DE ALLAN KARDEC AOS ESPÍRITAS DO BRASIL, NA SOCIEDADE ESPÍRITA FRATERNIDADE, PELO MÉDIUM FREDERICO JÚNIOR



Paz e amor sejam convosco

Que possamos ainda uma vez, unidos pelos laços da fraternidade, estudar essa doutrina de paz e amor, de justiça e esperanças, graças à qual encontraremos a estreita porta da salvação futura - o gozo indefinido e imorredouro para as nossas almas humildes.

Antes de ferir os pontos que fazem o objetivo da minha manifestação, devo pedir a todos vós que me ouvis – a todos vós espíritas a quem falo neste momento – que me perdoem se porventura, na externação dos meus pensamentos, encontrardes alguma coisa que vos magoe, algum espinho que vos vá ferir a sensibilidade do coração.

O cumprimento de dever nos impõe que usemos de linguagem franca, rude mesmo, por isso que cada um de nós tem uma responsabilidade individual e coletiva e, para salvá-la, lançamos mão de todos os meios que se nos oferecem, sem contarmos muitas vezes com a pobreza de nossa inteligência, que não nos permite dizer aquilo que sentimos sem magoar, não raro, corações amigos, para os quais só desejamos a paz, o amor e as doçuras da caridade.

Certo de que ouvireis a minha súplica; certo de que, falando aos espíritas falo a uma agremiação de homens cheios de benevolência, encetei o meu pequeno trabalho, cujo único fim é desobrigar-me de graves compromissos, que tomei para com o nosso Criador e Pai.

Sempre compassivo e bom, volvendo os piedosos olhos à Humanidade escrava dos erros e das paixões do mundo, Deus torna uma verdade as palavras de seu amantíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, e manda o Consolador – o Espírito de Verdade – que vem abertamente falar da revelação messiânica a essa mesma Humanidade esquecida do seu Imaculado Filho – aquele que foi levado pelas ruas da amargura, sob o peso das iniquidade e das ingratidões dos homens!

Corridos os séculos, desenvolvido intelectualmente o espírito humano, Deus na sua sabedoria, achou que era chegado o momento de convidar os homens à meditação do Evangelho – precioso livro de verdades divinas – até então ensombrado pela letra, devido à deficiência da inteligência humana para compreendê-lo em Espírito.

Por toda a parte se fez luz; revelou-se à Humanidade o Consolador prometido, recebendo os povos – de acordo com o seu preparo moral e intelectual – missões importantes, tendentes a acelerar a marcha triunfante da Boa Nova

Todos foram chamados, a nenhum recesso da Terra deixou de apresentar-se o Consolador em nome desse Deus de misericórdia que não quer a morte do pecador – que não quer o extermínio dos ingratos – que antes os quer ver remidos dos desvarios da carne, da obcecação dos instintos!

Sendo assim, a esse pedaço de terra a que chamamos Brasil, foi dada também a revelação da revelação, firmando os vossos espíritos, antes de encarnarem, compromissos de que ainda não vos desobrigastes. E perdoai que o diga: tendes mesmo retardado o cumprimento deles e de graves deveres, levados por sentimentos que não convém agora perscrutar.

Ismael, o vosso Guia, tomando a responsabilidade de vos conduzir ao grande templo do amor e da fraternidade humana, levantou a sua bandeira, tendo inscrito nela – DEUS, CRISTO E CARIDADE. Forte pela sua dedicação, animado pela misericórdia de Deus, que nunca falta aos seus trabalhadores, sua voz santa e evangélica ecoou em todos os corações procurando atraí-los para um único agrupamento onde, unidos, teriam a força dos leões e a mansidão das pombas; onde unidos, pudessem afrontar todo o peso das iniquidade humanas; onde entrelaçados num único segmento – o do amor - , pudessem adorar o Pai em espírito e verdade; onde se levantasse a grande muralha da fé,

Contra a qual viessem quebrar-se todas as armas dos inimigos da luz; onde, finalmente, se pudesse formar um grande dique à onda tempestuosa das paixões, dos crimes e dos vícios que avassalam a Humanidade inteira!

Constituiu-se esse agrupamento; a voz de Ismael foi sentida nos corações. Mas, oh! misérias humanas! À semelhança das sementes lançadas no pedregulho, eles não encontram terra boa para suas raízes e quando aquele Anjo Bom – aquele Enviado do Eterno – julgava ter em seu seio amigos e irmãos capazes de ajudá-lo na sua grande tarefa, santa e boa, as sementes foram mirrando ao fogo das paixões – foram-se encravando na rocha, apesar do orvalho da misericórdia divina as banhar constantemente para sua vivificação!

Ali, onde a humildade devera ter erguido tenda, o orgulho levantou o seu reduto; ali onde o amor devia alçar-se, sublime e esplêndido, até aos pés de Nosso Senhor Jesus Cristo, a indiferença cavou sulcos, a justiça se chamou injustiça, a fraternidade – dissensão!

Mas, pela ingratidão de uns, haveria de sacrificar-se a gratidão e a boa vontade de outros?

Pelo orgulho dos que já se arvoraram em mestres na sua ignorância, havia de sacrificar-se a humildade do discípulo perfeitamente compenetrado dos seus deveres? Não!

Assim, quando os inimigos da luz, quando o Espírito das trevas julgava esfacelada a bandeira de Ismael, símbolo da trindade divina, quando a voz iníqua já reboava no espaço glorificando o reino das trevas e amaldiçoando o nome do Mártir do Calvário, ele recolheu o seu estandarte e fez que se levantasse uma pequena tenda de combate com o nome – FRATERNIDADE!

Era este, com certeza, o ponto para o qual deviam convergir todas as forças dispersas – todos os que não recebiam a semente do pedregulho!

Certos de que acaso é palavra sem sentido e testemunha dos fatos que determinam o levantamento dessa tenda, todos os espíritas tinham o dever sagrado de vir aqui se agrupar, ouvir a palavra sagrada do bom Guia Ismael, único que dirige a propaganda da doutrina nesta parte do planeta, único que tem toda a responsabilidade da sua marcha e do seu desenvolvimento.

Mas, infelizmente, meus amigos, não pudestes compreender ainda a grande significação da palavra FRATERNIDADE.

Não é um termo, é um fato; não é sua palavra vazia, é um sentimento sem o qual vos achareis sempre fracos para essa luta que vós mesmos não podeis medir, tal a sua grandeza extraordinária!

Ismael tem o seu Templo e sobre ele a sua bandeira – Deus, Cristo e Caridade! Ismael tem a sua pequenina tenda, onde procura reunir todos os seus irmãos – todos aqueles que ouviram a sua palavra e a aceitaram como a verdade. Chamam-se FRATERNIDADE!

Pergunto-vos: Pertenceis à Fraternidade? Trabalhais para o levantamento desse Templo cujo lema é Deus, Cristo e Caridade?

Como, e de que modo?

Meus amigos! É possível que eu seja injusto convosco naquilo que vou dizer: - O vosso trabalho, feito todo de acordo – não com a doutrina – mas com o que interessa exclusivamente aos vossos sentimentos, não pode dar bom fruto. Esse trabalho, sem método, sem regime, sem disciplina, só pode, de acordo com a doutrina que esposastes, trazer espinhos que dilacerem vossas almas, dores pungentes aos vossos Espíritos, por isso que, desvirtuando os princípios em que ela assenta, dais entrada constante e funesta aquele que encontrando-vos desunidos pelo egoísmo, pelo orgulho, pela vaidade, facilmente vos acabrunhará, com todo o peso da sua iniquidade.

Entretanto, dar-se-ia o mesmo se estivésseis unidos? Porventura acreditais na eficiência de um grande exército dirigido por diversos generais, cada qual com seu sistema, com o seu método de operar e com pontos de mira divergentes? Jamais! Nessas condições sé encontrareis a derrota porquanto – vede bem, o que não podeis fazer com o Evangelho – unir-vos pelo amor do bem – fazem os vossos inimigos, unindo-vos pelo amor do mal!

Eles não obedecem a diversas orientações, nem colimam objetivos diversos; tudo converge para a doutrina espírita – revelação da revelação – que não lhes convém e que precisam destruir, para o que empregam toda a sua inteligência, todo do seu amor do mal, submetendo-se a uma única direção!

A luta cresce dia a dia, pois que a vontade de Deus, iniciando as suas criaturas nos mistérios da vida de além-túmulo, cada vez mais se torna patente. Encontrando-se, porém os vossos espíritos, em face da doutrina, no estado precário que acabo de assinalar, pergunto : - Com que elemento contam eles na temerosa ação em que se vão empenhar, cheios de responsabilidade?

Em que canto da Terra já se ergue o grande tabernáculo onde ireis elevar os vossos pensamentos – em que canto da Terra construístes a grande muralha contra o mal, contra a qual se hão de quebrar as armas dos vossos adversários?

Será possível que à semelhança das cinco virgens pouco zelosas, todo o cuidado da vossa paz tenhais perdido? Que repouseis sobre as outras que não dormem e que ansiosamente aguardam a vinda do seu Senhor?

Mas é assim, em que consiste o aproveitamento das lições que constantemente vos são dadas a fim de tornar uma verdade a vossa vigilância e uma santidade a vossa oração?

Se assim é, onde os frutos desse labor fecundado de todos os dias, dos vossos amigos de além-túmulo?

Acaso apodrecem roídas pela traça – trocados pelo bolor dos vossos arquivos repletos de comunicações?

Se assim é, e agora não há voltar atrás, porque já tendes a mão no arado, onde a segurança da vossa fé, a estabilidade da vossa crença, se entregues a vós mesmos, julgando-vos possuidores de grandes conhecimentos doutrinários, afastais, pela prática das vossas obras, aqueles que até hoje têm procurado incessantemente colocar-vos debaixo do grande lábaro – Deus, Cristo e Caridade?

Onde, torna a perguntar, a segurança da vossa fé, a estabilidade da vossa crença, se tendo uma única doutrina para apoio forte e inabalável, a subdividis, a multiplicais, ao capricho das vossas individualidades, sem contar com a coletividade que vos poderia dar a força, se constituíssem um elemento homogêneo, perfeitamente preparado pelos que se encarregam da revelação?

Mas onde a vantagem das subdivisões? Onde o interesse real para a doutrina e seu desenvolvimento, na dispersão que fazeis do vosso grande todo, dando já desse modo um péssimo exemplo aos profanos, por isso que pregais a fraternidade e vos dividis cheios de dissensões?

Onde as vantagens de tal proceder? Estarão na diversidade dos nomes que dais aos grupos? Por que isso? Será porque este ou aquele haja recebido maior doação do patrimônio divino? Será porque convenha a propaganda que fazeis?

Mas par a propaganda precisamos dos elementos constitutivos dela. Pergunto: - onde a Escola de Médiuns? Existe?

Porventura os homens que têm a boa vontade de estudar convosco os mistérios do Criador, preparando seus Espíritos para o ressurgir na outra vida, encontram em vós os instrumentos disciplinados – os médiuns perfeitamente compenetrados do importante papel que representam na família humana e cheio dessa seriedade, que dá uma idéia exata da grandeza da nossa doutrina?

Ou a vossa propaganda se limita tão somente a falar do Espiritismo? Ou os vossos deveres e as vossas responsabilidades, individuais e coletivas, se limitam a dar a nota do ridículo aquele que vos observam, julgando-vos doidos e visionários?

Meus amigos! Sei quanto é doloroso tudo isto que vos digo, pois que cada um dos meus pensamentos é uma dor que repassa profundamente o seu espírito. Sei que as vossas consciências sentem perfeitamente todo o peso das verdades que vos exponho. Mas eu vos disse ao começar: - temos responsabilidades e compromissos tomados, dos quais procuramos desobrigar-nos por todos os meios ao nosso alcance.

Se completa não está a minha missão na terra, se mereço ainda do Senhor a graça de vir esclarecer a doutrina que ai me foi revelada, dando-nos nossos conhecimentos compatível com o desenvolvimento das vossas inteligências, se vejo que cada dia que passa da vossa existência – iluminada pela sublime luz da revelação, se produzirdes um trabalho na altura da graça que vos foi concedida – é um motivo de escândalo para as vossas próprias consciências; devo usar desta linguagem rude do amigo, a fim de que possais, compenetrados verdadeiramente dos vossos deveres de cristãos e de espíritas, unir-vos num grande agrupamento fraterno, onde – avigorados pelo apoio mútuo e pela proteção dos bons – possais enfrentar o trabalho extraordinário que vos cumpre realizar para a emancipação dos vossos Espíritos, trabalho que inegavelmente ocasionará grande revolução na Humanidade, não só quanto à parte da ciência e da religião, como também na dos costumes!

Uma vez por todas vos digo, meus amigos: - Os vossos trabalhos, os vossos labores não podem ficar no estrito limite da boa vontade e da propaganda sem os meios elementares indicados pela mais simples razão.

Não vem absolutamente ao caso o reportas-vos às palavras de N.S. Jesus Cristo quando disse que a luz não se fez para ser colocada debaixo do alqueire. Não vem ao caso e não tem aplicação, porque não possuis luz própria!

Fazei a luz pelo vosso esforço; iluminai todo o vosso ser com a doce claridade das virtudes; disciplinai-vos pelos bons costumes no Templo de Ismael, Templo onde se adora a Deus, se venera o Cristo e se cultiva a Caridade. Então sim; - distribuí a luz, ela vos pertence.

E vos pertence porque é um produto sagrado de vosso próprio esforço – uma brilhante conquista do vosso Espírito empenhado nas lutas sublimes da verdade.

Fora desses termos, podeis produzir trabalhos que causem embriaguez à vista, mas nunca que falem sinceramente ao coração. Podeis produzir emoções fortes, por isso que muitos são os que gostosamente se entregam ao culto maravilhoso; nunca, porém, deixarão as impressões suaves da verdade vibrando as cordas do amor divino no grande coração humano.

Fora dessa convenção ortodoxa, é possível que as plantas cresçam nos vossos grupos, mas é bem possível que também seus frutos sejam bastante amargos, bastante venenosos, determinando, ao contrário do que devia acontecer, a morte moral do vosso espírito – a destruição pela base do vosso Templo de trabalho!

Se o Evangelho não se tornar realmente em vossos espíritos um broquel, quem vos poderá socorrer, uma vez que a revelação tende a absorver todas as consciências, emancipando o vosso século? Se o evangelho nas vossas mãos apenas tem a serventia dos profanos livros que deleitam a alma e encantam o pensamento, que vos poderá socorrer no momento dessa revolução planetária que já se faz sentir, que dará o domínio da Terra aos bons, preparados para o seu desenvolvimento, que ocasionará a transmigração dos obcecados e endurecidos para o mundo que lhes for próprio?

Que será de vós – quem vos poderá socorrer – se à lâmpada do vosso Espírito faltar o elemento de luz com que possais ver a chegada inesperada de Jesus Cristo, testemunhando o valor dos bons e a fraqueza moral dos maus e dos ingratos?

Se fostes chamados às bodas do filho do vosso rei, por que não tomam os vossos Espíritos as roupagens dignas do banquete, trocando conosco o brinde do amor e da caridade pelo feliz consórcio do Cristo com o seu povo?

Se tudo está preparado, se só faltam os convivas, por que cedeis o vosso lugar aos coxos que virão como últimos, a ser os primeiros na mesa farta da caridade divina?

Esses pontos do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, ainda, apesar da revelação, não provocaram a vossa meditação?

Esse eco que ressoa por toda a atmosfera do vosso planeta, dizendo – os tempos são chegados! – será um gracejo dos enviados de Deus, com o fim de apavorar os vossos espíritos?

Será possível nos preparemos para os tempos que chegam, vivendo cheios de dissensões e de lutas , como se não constituíssemos uma única família, tendo para regência dos nossos atos e dos nossos sentimentos uma única doutrina?

Será possível nos preparemos para os tempos que chegam, dando a todo momento e a todos os instantes a nota do escândalo, apresentando-nos aos homens como criaturas cheias de ambições que não trepidam em lançar mãos até das coisas divinas para o gozo da carne e a satisfação das paixões do mundo?

Mas seria simplesmente uma obcecação do Espírito – pretender desobrigar-se dos seus compromissos e penetrar no reino de Deus coberto dessas paixões e dessas misérias humanas!

Isso eqüivaleria o não acreditardes naquilo mesmo em que dizeis que credes: seria zombar do vosso Criador que, não exigindo de vós sacrifício, vos pede, entretanto, não transformeis a sua casa de oração em covil de ladrões!

Meus amigos! Sem caridade não há salvação. Sem fraternidade não pode haver união.

Uni-vos, pois, pela fraternidade debaixo das vistas do bom Ismael, vosso Guia e protetor. Salvai-vos pela Caridade, distribuindo o bem por toda a parte, indistintamente, sem pensamento oculto. Aquele que vos pedem lhes deis da vossa crença ao menos um testemunho moral, que os possa obrigar a respeitar em vós o indivíduo bem intencionado e verdadeiramente cristão.

Sobre a propaganda que procurais fazer, exclusivamente para ao vosso seio maior de adeptos, direi: se os meios mais fáceis que tendes encontrado são a cura dos vossos irmãos obsessos, são as visitas domiciliares e a expansão dos fluidos, aí tendes um modesto trabalho para vossa meditação e estudo.

E, lendo, compreendendo, chamai-me todas as vezes que for do vosso agrado ouvir a minha palavra e eu virei esclarecer os pontos que achardes duvidosos. Virei, em novos termos, se for preciso, mostrar-vos que esse lado que vos parece fácil para a propaganda da vossa doutrina é o maior escolho lançado no vosso caminho, é a pedra colocada às rodas do vosso carro triunfante e será, finalmente, o motivo da vossa queda desastrosa, se não empenham numa tão grande causa.

Permita Deus que os espíritas, a quem falo, que os homens, a quem foi dada a graça de conhecerem em Espírito e verdade a doutrina de Nosso senhor Jesus Cristo, tenham a boa vontade de me compreender, a boa vontade de ver nas minhas palavras unicamente o interesse do amor que lhe consagro.



ALLAN KARDEC

FALANDO A PIRATININGA

FALANDO  A  PIRATININGA

Humberto de Campos
18 de agosto de 1935
 
Tive ensejo de afirmar aí no mundo que, se algum dia conseguisse liquidar todo o meu débito para com a terra maranhense e o Senhor decidisse mergulhar meu espírito no Letes da carne, eu desejaria ser paulista ou baiano.
São Paulo e Bahia foram os dois braços fortes que me ampararam na provação. Minha dívida para com ambos é sagrada e irresgatável. Era do seio afetuoso da Bahia, terra mãe do Brasil, que me chegavam os brados de incitamento para a luta; e dos celeiros fartos e generosos de São Paulo vinha a maior parte do meu pão.
Em seu território vivem os meus melhores amigos e do santuário do seu afeto subiram para Deus, em favor do escritor humilde e enfermo, as preces mais comovedoras e mais sinceras, as quais não lhe iluminaram apenas as estradas pedregosas da Vida, mas constituíram igualmente uma lâmpada suave no seu caminho da Morte.
Ignoro quando o Senhor resolverá o retorno do meu espírito aos tormentos da Terra, mas quero, antes de meditar nos calabouços da carne, falar do reconhecimento do meu coração.
Todas as coisas do Brasil falam particularmente à nossa alma: Piratininga é, porém, o poema de ouro e de aço das energias do seu povo. Sua história, dentro da história da Pátria, é uma afirmação gloriosa de heroísmo sagrado. O mesmo espírito de liberdade e de autonomia, que nos primórdios de sua organização lhe motivou o desejo de aureolar a fronte de Amador Bueno com uma coroa de rei, emancipando-se da sua condição subalterna, trabalha hoje, como trabalhou no passado, para eternizar com o braço realizador a epopéia da sua grandeza.
Entre as energias moças da terra há um delírio contagioso de ação e de trabalho. O esforço carinhoso do homem une-se à exuberância da seiva e São Paulo - desfralda, nas linhas vanguardeiras, o lábaro do seu progresso e das suas conquistas. Do conforto de suas cidades modernas eleva-se para o céu a oração do labor que Deus escuta, premiando-lhe a operosidade com as alegrias da fartura.
E dizem que Anchieta, ainda hoje, em companhia daqueles que lançaram a primeira pedra na base do glorioso edifício piratiningano, passeia, entre as bênçãos dos seus cafezais e das suas estradas, enviando sagrada exortação aos que pelejam. Ele, que soube aliar, no mundo, a energia do homem às virtudes do apóstolo vê do espaço infinito, a sublimidade da sua obra, e quando se aproxima das praias antigamente desertas e dos lugares onde as florestas desapareceram, sob os milagres do progresso, as juritis morenas da terra fremem as asas de arminho, tecendo um pálio inesperado para cobrir a fronte do homem prodigioso que lhes levou a palavra do Evangelho.
Abençoam-no das alturas os indígenas redimidos pela sua fraterna solicitude, e, sob a proteção afetuosa das aves, Anchieta sorri, contemplando a sua Piratininga que trabalha e floresce.
Sempre me referi às coisas de São Paulo com o carinhoso enternecimento da minha admiração.
E agora, longe das perturbações a que nos submete a carne, infligindo-nos a mais amargosa das escravidões, posso apreciar melhormente as suas afirmações de grandeza. Tenho a visão nítida dos seus valorosos feitos, da enérgica projeção dos ideais da sua gente intrépida, cuja atividade se desdobra no ambiente da confraternização de todas as raças, fundindo-se no seu seio os mais enobrecedores sentimentos da fraternidade humana.
São Paulo de hoje é a bússola dos que hão de estudar amanhã a etnologia brasileira.
Ao lado dos seus numerosos institutos de civilização e cultura, Piratininga terá a sua "Sociedade de Estudos Psíquicos" como realidade nova do ideal espiritualista, que, arregimentando as fileiras dos estudiosos, se prepara a fim de constituir a luz da humanidade futura.
Abre-se, desse modo, no cenário da sua evolução, mais um centro de beneméritos, cuja ação não estará circunscrita à pesquisa científica, mas também ao levantamento do nível moral da sociedade, intensificando os elos da fraternidade cristã; por que os verdadeiros estudiosos sabem que, se a ciência contemporânea não está falida, não pode, nas suas condições do momento, oferecer ao homem a chave das felicidades imortais.
A Humanidade está faminta desse amor que só Deus pode outorgar.   
Um frio terrível de desespero e desgraça sopra entre os homens, que se esqueceram da meditação e da prece. E a Ciência é a figura do Édipo eletrizado sob os fatalismos inelutáveis do destino. O erro dos que investigam é buscar a sabedoria sem preparar o coração, invertendo as determinações imperiosas da Vida.
Piratininga está, pois, preparando o coração de seus filhos, e das suas arcas ricas e generosas se derramará muito pão espiritual para os celeiros empobrecidos.
Dos empórios da sua grandeza saíram no passado as bandeiras civilizadoras, rasgando o coração das selvas compactas e, na atualidade, novas bandeiras sairão, rompendo o cipoal da descrença em que os homens se emaranharam, para dizer a palavra da verdade e do amor. As suas armas de agora serão os ensinos do Evangelho, e o seu objetivo, a descoberta do filão do ouro espiritual.
Um júbilo inexprimível entorna-se do meu coração, dirigindo aos paulistas a minha palavra inexpressiva da tribuna da Morte; e tomado de orgulhosa alegria, posso hoje exclamar:
- "Eu te agradeço, ó Senhor! tão preciosos favores, porque, graças à tua bondade, pude hoje falar com S. Paulo, no momento em que se entregava com valoroso desassombro à obra da imortalidade, que é a obra do Evangelho. . ."
 
Do livro Crônico de Além Túmulo. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

sábado, 10 de agosto de 2013

CONVITE À ALEGRIA


“Mas eu vos tornarei a ver e o vosso coração se encherá de alegria e
essa alegria ninguém vo-la tirará.”
(João: capítulo 16º, versículo 22.)

A constrição(pressão) dos muitos problemas a pouco e pouco vem deixando ressaibos(sinais) de amarguras e tens a impressão de que os melhores planos traçados nos painéis da esperança, agora são lembranças que a dura realidade
venceu.

Tantos esforços demoradamente envidados (empregados) parecem redundar(resultar) em lamentáveis escombros.

A fortuna fácil que alguns amigos granjearam e o êxito na ribalta social por outros lobrigado, afirmam o que consideras o fracasso das tuas aspirações.

Na jornada quotidiana “marcas passos”.

Na disputa das posições segues ladeira acima.

No círculo das amizades cais na “rampa do desprezo”.

No reduto da família és um “estranho em casa Aguilhões e escolhos surgem, multiplicam-se e estás a ponto de desistir.

Mesmo assim, cultiva a alegria.
Sorri ante a dadivosa oportunidade de ascender em espírito, quando outros estacionam ou decaem.

Exulta por dispores do tesouro que é a oportunidade feliz de não apenas te libertares das dívidas como também granjeares títulos de enobrecimento interior.

Rejubila-te com a honra de liberar-te quando outros se comprometem.

Triunfos e lauréis são antes responsabilidades e empréstimos de que somente poucos, quase raros espíritos conseguem desincumbir-se sem gravames ou insucessos dolorosos.

O sol que oscula a fonte e rocia a pétala da rosa é o mesmo que aquece o charco e o transforma, em nome do Nosso Pai, como a dizer-nos que o Seu amor nos chega sempre em qualquer situação e lugar em que nos encontremos.

Recorda a promessa de Jesus de voltar a encontrar-se contigo, dando-te a alegria que ninguém poderá tomar.

Cultiva, assim, a alegria, que independe das coisas de fora, mas que nasce na fonte cantante e abençoada do solo do coração e verte linfa abundante como rio de paz, por todos os dias até a hora da libertação — começo feliz da via por onde seguirás na busca da ventura plena.

Do Livro Convite a Vida . Joana de Angelis

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

“ DEUS TEM CAMINHOS PARA TODOS OS FILHOS EXTRAVIADOS “


 
 
               Pedro Augusto Souza Gonçalves, jovem de 22 anos, inconformado com sua moléstia crônica – sofrendo desde os oito anos de idade, com certa freqüência, de fortes convulsões epilépticas, resistentes a tratamento médico constante-, pôs um ponto final em sua vida física, com certeiro projétil, a sete de junho de 1988.
            Residia no Rio de Janeiro, RJ, sua terra natal, com seus pais João Francisco Gonçalves Netto e Elza Souza Gonçalves, em Copacabana, à Avenida Atlântica, 4022 apartamento 502.
           
            Porém, apenas três meses após o lamentável episódio, Pedro Augusto, em Uberaba, comunicou-se novamente com seus queridos progenitores, em longa e confortadora mensagem, “ relatando fatos de que apenas ele, seus pais e irmãos tinham conhecimento”, conforme esclarecimento de seu pai.
            Agora, mais consciente de sua provação terrena, ele sofre, submetendo-se a “ severo tratamento “, e sente-se profundamente arrependido, mas otimista diante do futuro, ao afirmar que “ a esperança já está em meu coração “ e “ Deus tem caminhos para todos os filhos extraviados “.
 
            Querida Mãezinha Elza e meu pai João.
            Estou informado de que pude vir até aqui, trazer-lhes as minhas notícias, pela concessão de amigos que consideraram o merecimento dos pais queridos, porque, de mim mesmo, ainda me encontro nas faixas de severo tratamento.
            Perdoem-me a tribulação que lhes causei com a minha deserção da vida.  Confesso-lhes que tudo fiz para evitar aquele amargo desfecho de minhas inquietações.  Nervos doentes substituindo a fé que me cabia acalentar, a fim de vencer em minha provação.  Estava longe de compreender que todas as criaturas suportam o fardo de que precisarão se desvencilhar, um dia, para se encontrarem consigo mesmas.
            Mãezinha Elza, lutei muito.  Assim pensei, admitindo erroneamente que milhares de pessoas não sofriam muito mais do que eu mesmo.  Detinha a vantagem de viver ao lado dos familiares queridos e parecia cego para não reconhecer que nada me faltava para ser tranqüilo e feliz.
            Um ponto, porém, me atormentava o pensamento.  Cedo reconheci que eu não poderia constituir uma família como desejava e deixei-me iludir com isso, quando há tantas crianças doentes e desajustadas esperando o amparo de alguém que lhes tutele a existência infortunada.  Esqueci-me de que eu poderia incorporar-me no trabalho de uma instituição das muitas que amparam os pequeninos sofredores... E, porque não me seria possível uma vida igual à vida de outros rapazes, a idéia de revolta contra a vida se apoderou de mim.
            Estou aqui nesta mesma sala onde estive um dia, buscando orientação e esclarecimento, e se não me foi possível a demora de mais alguns dias para ouvir os amigos que me reconfortariam, explicando-me o que seja a provação na vida de alguém, agora vejo todos e ouço a todos os que trocam opiniões, reconhecendo que me seria tão fácil suportar a carência de meus recursos genésicos, abraçando a vida que a Divina Providência me reservara.
            Penso, atualmente, na legião de jovens aos quais algumas frases bastariam para esclarecê-los e traçar-lhes novos rumos!
            Não sei explicar-lhes o conflito que passou a possuir-me, desde que alguns companheiros me informaram de que as minhas dificuldades orgânicas eram irreversíveis!  Criando nomes supostos para disfarçar-me, tentei ouvir muitos médicos ou acadêmicos de Medicina que me ouviam com atenção.  Todos eram unânimes na opinião de que eu era vítima de problema sem solução.
            Ao mesmo tempo, inflamava-me com o propósito de casar-me e ser feliz num lar, em que pudesse usufruir a vida de um homem comum.  No entanto, a depressão, de que me vi acometido, ganhou todas as minhas resistências e entreguei-me à desencarnação voluntária, ignorando que a vida continuava.
            Não tenho recursos para evadir-me da realidade e, por isso, preciso assumir o meu gesto infeliz.  Sou claro em minhas afirmativas porque estou diante dos pais queridos, aos quais não posso enganar, conquanto reconheça que me competia uma entrevista com ambos na intimidade da família, e com isso, talvez, conseguisse um caminho para a minha própria libertação.
            Pais queridos, perdoem-me aquele projétil que eu devia ter evitado, perdoem-me a ingratidão a que me entreguei quase inconscientemente, e continuem nas orações por mim, de vez que me envergonho de expor aqui a minha fragilidade.
            No instante terrível em que me vi arrasado pelas próprias mãos encontrei rente comigo aquele benfeitor, que ainda me segue as experiências, fornecendo-me as chaves do conhecimento superior – esse amigo humanitário e abnegado que me colheu nos braços, quando já não possuía qualquer recurso de auto-sustentação.  Ele me solicitou chamá-lo pelo nome de vovô Francisco, e me abençoa e socorre em todos os meus obstáculos, e me afirma que Deus tem caminhos para todos os filhos extraviados.  Estou consolado com a possibilidade de dizer-lhes isso.
            Estou melhorando, porque os meus primeiros dias, aqui na Vida Espiritual, foram momentos do alucinado que já deixei de ser.
            Muito grato por virem até aqui, na idéia de que colheriam alguma notícia do filho devedor que sou eu, sensibilizando-me com a decisão de romperem com os empeços da viagem, a fim de que eu pudesse rogar-lhes a bênção.
            Pais queridos, do meu amanhã ainda nada sei, mas a confiança em Deus está novamente comigo e, com isso, compreendo que todas as minhas lutas serão superadas sem que eu, por enquanto, saiba como.  Peço-lhes desculparem o filho infeliz  que era tão feliz em nossa família e não sabia.
            Deus me favorecerá com oportunidades de trabalho para que me sinta reposto no caminho da segurança e do bem.  Sofri muito e ainda sofro, mas a esperança já está em meu coração e sei que aprenderei a viver e a servir.
            Não posso continuar porque a emoção me constringe a garganta e o pensamento, mas seguirei adiante com a certeza de que me desculparam a leviandade e a doença, e me amam com o mesmo carinho dos dias passados.  Mãezinha Elza, as suas lágrimas me lavaram a alma, e com o seu amor me sinto à frente de novo dia.
            Pais queridos, a todos os nossos entreguem as minhas lembranças, e recebam o coração do filho que não  soube compreendê-los, mas que os ama com todas as forças da própria vida.
            Até que eu volte melhor amanhã do que hoje me sinto, guardem as saudades e o imenso carinho do filho sempre mais reconhecido,
                                                                                  Pedro Augusto.
 
 
                                               Notas e Identificações
 
1 – Psicografada em reunião pública do GEP, na noite de 17 de setembro de 1988.
2 – ainda me encontro nas faixas de severo tratamento – Refere-se ao tratamento médico do corpo espiritual ( Ver item cinco do Capítulo 9 )
3 – Estou aqui,  nesta mesma sala  onde estive um dia – De fato, esteve no GEP, em Uberaba, em março de 1986.
4 – vovô Francisco – Trata-se, provavelmente, do bisavô paterno, desencarnado no Estado do Espírito Santo, no início do século.
5 – Pedro Augusto – Pedro Augusto Souza Gonçalves nasceu no Rio de Janeiro, a oito de outubro de 1965.  Dedicava-se à arte fotográfica, possuindo um laboratório completo, e pretendia estabelecer-se nesse ramo de atividade ou similar.        
 Livro Porto De Alegria -  Francisco Cândido Xavier  Espíritos Diversos
 
 

HORAS DE TRANSIÇÃO


Emmanuel 
 
          Cultiva a paciência e resguarda-te em paz.
          Recorda a multidão descontrolada, ante o perigo iminente.
          Memoriza os desastres ocorridos, seja nos recintos fechados ou nos estádios abertos, quando algum grito alucinante anuncia determinadas perturbações.
          Grupos amedrontados se entrechocam, por vezes a se ferirem, ou a se massacrarem mutuamente.
          Semelhante imagem se aplica igualmente à Terra, nos dias de transição, quais os da atualidade, em que milhões de criaturas encontram problemas a se agigantarem de extensão.
          O mundo, nesses eventos, lembra efetivamente um anfiteatro de proporções imensas, no qual vastas multidões sofrem a pressão de acontecimentos cruéis.
          E essas crises pesam sobre a vida particular, motivando estranhos comportamentos na esfera de individuo para individuo.
          E assim que anotamos companheiros de experiência a se desorientarem, nas mais diversas condições de trabalho e de luta.
          Esse exige a desvinculação apressada de compromissos que abraçou voluntariamente pouco lhe importando as lagrimas daqueles que se estorcegam de dor, em se observando lesados nos sentimentos mais caros; outro pisa sobre os irmãos indefesos que tombam, aqui e ali, sem perguntar pelos sofrimentos que causam; aquele agride quantos lhe cruzem o caminho; e ainda outros muitos assumem atitudes infelizes, precipitando-se na mutilação deles mesmos, a pretexto de senhorearem a frente do escape.
          Se te encontras  diante de situações assim complexas, em que pessoas amadas parecem enlouquecidas, no anseio unicamente dos interesses próprios, desertando de obrigações respeitáveis, dilapidando alheios sentimentos, depredando corações ou largando-se nos gestos temerários que lhes acarretam inimagináveis padecimentos, acalma-te e ora, serve e espera.
          A tormenta é transitória.
          Lembra o Sol renascente, recompondo o campo, após uma noite de tempestade e entenderás a harmonia inarredável com que a vida marca as obras de Deus.
 
Livro- “Pronto Socorro” – Autor – Emmanuel – Psicografia – Francisco Candido Xavier.
Digitado por Doris Day.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

DEZ APONTAMENTOS DE PAZ

DEZ  APONTAMENTOS  DE  PAZ
 André Luiz
 
1º Aprenda a desculpar infinitamente para que os seu erros, à frente dos outros, sejam esquecidos e perdoados.
2º Cale-se, diante do escárnio e da ofensa, sustentando o silêncio edificante, capaz de ambientar-lhe a palavra fraterna em momento oportuno.
3º Não cultive desafetos, recordando que a aversão por determinada criatura é, quase sempre, o resultado da aversão que lhe impuseste.
4º Não permita que o egoísmo e a vaidade, o orgulho e a discórdia se enraízem no seu coração, lembrando que toda a idéia de superstimação dos próprios valores é adubo nos espinheiros da irritação e do ódio.
5º Perante o companheiro que se rendeu às tentações de natureza inferior, deixe que a compaixão lhe ilumine os pontos de vista, pensando que, em outras circunstâncias, poderia você ocupar-lhe a indesejável situação e o lugar triste.
6o Não erga a sua voz demasiado e nem tempere a sua frase com fel para que a sua palavra não envenene as chagas do próximo.
7º Levante-se, cada dia, com a disposição de servir sem a preocupação de ser servido, de auxiliar sem retribuição e cooperar sem recompensa, para que a solidariedade espontânea te favoreça com os créditos e recursos da simpatia.
8º Esqueça a calúnia e a maledicência, a perversidade e as aflições que lhe dilaceram a alma, entendendo nas dores e obstáculos do mundo as suas melhores oportunidades de redenção.
9º Lembre-se de que os seus credores estão registrando a linguagem de seus exemplos e perdoar-lhe-ão as faltas e os débitos, à medida que você se fizer o benfeitor desinteressado de muitos.
10º Não julgue que o serviço da paz seja mero problema da boca mas, sim, testemunho de amor renúncia, regeneração e humildade da própria vida, porque, somente ao preço de nosso próprio suor, na obra do bem, é que conseguiremos reconciliar-nos, mais depressa, com os nossos adversários, segundo a lição do Senhor.
Se vos internardes pelo terreno baldio da queixa, em breve, vos achareis mergulhados no charco de compridos lamentações.
 
LIVRO:  MENTORES E SEAREIROS  -  Francisco Cândido Xavier e Autores Diversos
 

terça-feira, 2 de julho de 2013

MANIA DE ENFERMIDADE

MANIA  DE  ENFERMIDADE
Humberto de campos
– Vamos Luísa! – exclamava Inácio Penaranda, dirigindo-se à esposa afetuosamente – creio estimarás o tema evangélico desta noite. Prometem-nos valiosas conclusões, relativamente à mediunidade e seu exercício. Ao que suponho, os esclarecimentos apresentarão singular interesse para nós ambos.
Luísa apoiou o rosto na mão direita, num gesto muito seu, e disse com enfado:
– Ora, Inácio, achas que posso cometer a imprudência de enfrentar a noite chuvosa? E a minha nevralgia? A gripe do Carlos e o reumatismo de mamãe? Não teria ouvido para as lições a que te referes. Francamente, não posso compreender tuas boas disposições invariáveis.
Inácio aprimorava o nó da gravata e respondia:
– Compreendo os teus cuidados, mas devo lembrar que há três anos te esquivas à minha companhia. Naturalmente, devo ser o primeiro a encarecer tuas virtudes de filha e mãe; creio, porém, que exageras o sentido das enfermidades. Em vão procura interessar-te nos problemas da fé, inutilmente busco inclinar-te a mente para os problemas mais nobres da vida. Não sabes falar senão de doenças, insânias, ventosas, injeções e comprimidos. Vives quase esmagada por expectativas angustiosas. A chuva aborrece-te, o frio te atormenta, o vento leve te atemoriza. Tudo isso é de lamentar, porque nossa casa não se formou no pântano da ignorância, mas nos alicerces de conhecimentos sólidos. Nossa fé consagra a iluminação íntima como patrimônio mais precioso do mundo. Por que, então, viver assim, descrente de Deus e de ti mesma?
A Srª Penaranda esboçou um gesto de sensibilidade ofendida e redargüiu chorando:
– Sempre as mesmas exortações ásperas! Quando me poderás compreender? Sabe Deus minhas lutas, meus esforços para reaver a saúde perdida!...
– Certamente, Deus não desconhece nossos trabalhos, mas também não poderia aplaudir nossas inquietações injustificadas.
Dona Luísa cravou os olhos no companheiro, extremamente excitada, e bradou:
– Céus! Que infelicidade a minha! Que mágoa irremediável! Estou só, ninguém me compreende. Valha-me Nosso Senhor Jesus - Cristo!...
Após dirigir-lhe um olhar de piedade, o marido despedia-se:
– Não precisas aumentar a lamentação. Até logo.
A companheira torcia as mãos, desconsolada; todavia, escoados alguns minutos, correu à porta de saída a gritar:
– Inácio! Inácio!
Ele voltou a indagar os motivos do chamamento.
– A capa! – explicava a dona da casa, ansiosamente. – Esqueceste a capa... Lembra-te de que me sinto aniquilada. Não queiras também arruinar a saúde.
Inácio, resignado, vestiu o capote impermeável e saiu calmamente.
Aquela mania da Srª. Penaranda, contudo, era muito velha. Dona Luísa não enxergava senão miasmas e pestilências por todos os lados. Embora as dores que cultivava, grande parte do dia era por ela empregado em esfregar metodicamente o assoalho, receosa do acúmulo de pó. Nunca permitia que o filho se levantasse da cama antes que o Sol inundasse as dependências da casa; trazia a velha genitora quase totalmente enfaixada num quarto escuro, rodeada de ungüentos e caixas de injeções, e para si mesma descobria diariamente os mais extravagantes sintomas. Referia-se a dores nos braços, nas pernas, no rosto. Dizia-se vitima de todos os sofrimentos físicos. A imaginação enfermiça engendrava moléstias nas mais ínfimas sensações e, na residência dos Penaranda, nos fins de mês, as contas da farmácia superavam todas as demais despesas reunidas. Debalde o marido lhe oferecera as luzes do Espiritismo cristão, ansioso por modificar-lhe as disposições mentais. Dona Luísa furtava-se às observações mais sérias e não sabia viver senão entre sustos, pavores e preocupações. Raro o dia em que, ao voltar dos serviços habituais, o companheiro não a encontrava afogada em grosso costume de lã, hermeticamente encafuada na alcova, a lamentar o vento, a umidade, a nuvem...
De quando em quando, valia-se Inácio de oportunidades da conversação comum, tentando incutir idéias novas no espírito da companheira, de modo a criar-lhe ambiente diverso. A teimosa senhora não se resignava a omitir comentários a doenças de toda sorte.
Quando a situação doméstica se tornou mais grave, o chefe da família não se conteve e intimou a esposa a ocupar-se de assuntos mais elevados, compelindo-a a examinar nobres problemas espirituais e a ouvir preleções evangélicas em sua companhia.
Dona Luisa atendeu, porém constrangidamente, a queixar-se amargurada. No curso das reuniões a que compareceu forçada pelo marido, causava compaixão a quantos lhe ouviam a palavra lamentosa. A infeliz criatura não andava; arrastava-se. Suas considerações sobre a vida eram acompanhadas de suspiros comovedores, como se a sua palestra não devesse passar de gemidos longos. Não ouvia as dissertações construtivas nem participava das orações no ambiente geral. Apenas prestava atenção às consolações de Salatiel, o amorável benfeitor invisível que comparecia a quase todas as reuniões. À maneira de criança viciada a receber carinhos, cheia de noção exclusivista, Dona Luisa agarrava-se às expressões de conforto, completamente alheia aos apelos de ordem espiritual. Parecia, contudo, tão esmagada de padecimentos físicos, que a Srª. Marcondes, devotada médium do Grupo, se ofereceu voluntariamente a levar-lhe socorros espirituais na própria residência. A família Penaranda aceitou, sumamente reconhecida. Enquanto Inácio examinava a possibilidade da renovação mental da esposa, antegozava Dona Luisa o momento em que pudesse conversar com o Espírito Salatiel, quase a sós, para comentar as enfermidades numerosas que lhe invadiam o corpo e lhe assaltavam o lar.
Começaram os trabalhos de assistência, em círculo muito íntimo.
O dono da casa não cabia em si de esperança e contentamento.
Na primeira noite de orações, Salatiel discorreu sobre a Providência do Eterno Pai e as divinas possibilidades da criatura. O verbo amoroso e sábio da venerável entidade extravasava luz de esclarecimento e mel de sabedoria. Mas, com enorme surpresa dos presentes, fenda a preleção, Dona Luisa adiantou-se, interpelando o instrutor invisível:
– Meu caro protetor, antes de vos retirardes gostaria de vos ouvir sobre as dores que venho sentindo no braço esquerdo.
Depois de prolongado silêncio, o amigo espiritual, como o homem educado a atender uma criança, respondeu qualquer coisa que a induzia à confiança no Poder Divino.
A consulente não se deu por satisfeita e pediu explicações para a comichão que sentia nos pés; também sobre o abatimento do filhinho e um exame dos órgãos de sua velha mãe. Sentindo-se crivado de interrogações inoportunas, o benfeitor invisível prometeu alongar-se convenientemente no assunto, na reunião da semana seguinte.
Com efeito, na sessão imediata, compareceu Salatiel e endereçou significativa mensagem à Srª. Penaranda.
– Minha irmã – dizia ele solicitamente –, não construas cárcere mental para as tuas possibilidades criadoras na vida. É razoável que o doente procure remédio, como o sedento se encaminha à fonte amiga que lhe desaltera a sede. Não envenenes, porém, os teus dias no mundo com a idéia de enfermidades. Por que esperar a saúde completa, num plano de material imperfeito como a Terra? Se o planeta é, reconhecidamente, uma escola, é justo não possa constituir morada exclusiva de educadores. Se a reencarnação é desgaste de arestas, como aguardar expressão de pureza absoluta nos elementos em atrito? O corpo humano é campo de forças vivas. Milhões de indivíduos celulares ai se agitam, à moda dos homens nas colônias e cidades tumultuosas. Há contínuos serviços renovadores na assimilação e desassimilação. Se isto é inevitável, como aguardar perfeita harmonia orgânica na máquina celular desmontável e perecível? Lembra-te de que esse laboratório corporal, transformável e provisório, é o templo onde poderás adquirir a saúde eterna do Espírito. Andaria acertado o crente que se deixasse deter voluntariamente no lodo que recobre as paredes da sua casa de oração, indiferente à intimidade sublime e profunda do santuário? É justo que as figurações externas requisitem a nossa atenção, mas não podemos esquecer o essencial, o imperecível e o melhor. Pondera minhas despretensiosas palavras e liberta a mente encarcerada nas sombras transitórias, recordando o ensinamento de Jesus quando asseverou que nosso tesouro estará sempre onde colocarmos o coração.
Dona Luísa, porém, continuou impermeável às admoestações nobres e elevadas. Não valeram conselhos de Salatiel, com amorosas interpretações do marido e dos irmãos na fé.
Os anos agravaram-lhe preocupações e manias, até que a morte do corpo se encarregou de atirá-la a novas experiências.
Qual não lhe foi, porém, a surpresa dolorosa ao ver-se sozinha, abandonada, sem ninguém?! Guardava a nítida convicção de haver transposto o limiar do sepulcro, mas continuava prostrada, experimentando vertigens, dores, comichões. Tomada de pavor, observava os pés e mãos singularmente inchados, a epiderme manchada de notas gangrenosas dos derradeiros dias na Terra. Orava, e contudo as suas orações pareciam sem eco espiritual.
Quanto tempo durou esse martírio? Luísa Penaranda não poderia responder.
Chegou, no entanto, o dia em que pôde lobrigar o vulto de Salatiel, depois de muitas lágrimas.
– Oh! venerável amigo! – exclamou a desencarnada, agarrando-lhe as mãos – por que semelhantes sofrimentos? Não é certo que deixei a experiência terrestre? Não ouvi muitas vezes que a morte é libertação?
Enquanto o generoso emissário a contemplava, compadecido, a infeliz continuava:
– Onde a justiça de Deus que eu esperava? Nunca fui má para os outros...
A essa altura, o benfeitor espiritual tomou a palavra e esclareceu:
– Sim, Luísa, nunca foste má para os outros, mas foste cruel contigo mesma. Não sabes que toda libertação ou escravização podem começar na Terra ou nos círculos invisíveis? Sepulcro é mudança de casa, nunca de situação espiritual. A morte do corpo não elimina o campo que plantamos. Aliás, é a sua mão que nos oferece a colheita. Preferiste a idéia de enfermidade, cultivaste-a, alentaste-a. É natural que teu campo aqui seja o da enfermidade. Não existe outro para quem, como tu, não quis pensar noutra coisa.
E, ante o olhar assombrado da infeliz, Salatiel rematava:
– Existe o Reino de Deus que aguarda a glorificação de todas as criaturas, e existem os reinos do «eu», onde nos internamos pelas criações do próprio capricho.
Abandonemos os reinos inferiores das nossas ilusões, minha boa amiga! Procuremos o Reino de Deus, infinito e eterno!...
A Srª. Penaranda sentiu arfar-lhe o peito, alucinada de esperanças novas.
– Leva-me contigo, generoso Salatiel! Livra-me destes dolorosos padecimentos!... Ensina-me o caminho da Liberdade!...
O mensageiro lançou-lhe um olhar fraterno e, fazendo menção de retirar-se, acentuou:
– Posso, como outrora, convidar-te, não, porém, arrastar-te. O problema pertence ao teu foro individual.
O trabalho é do teu campo. Arranca-lhe a erva daninha e semeia-o de novo. Vem conosco, Luísa. Ajuda-te. Se te sentes verdadeiramente cansada da escravidão em que tens vivido, recorda que para a libertação do Espírito todo minuto é tempo de começar.
 
 
Livro “Reportagens e Além Túmulo”. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.