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terça-feira, 8 de junho de 2021

A INCOERÊNCIA DA TRINDADE:"A Doutrina dos Espíritos proclama que Deus é nosso Pai, uno, indivisível, eterno, imutável, onipotente, onisciente."

 

A Doutrina que vos ensino não é minha, mas daquele que me enviou." (João, 7:16)


Seria incoerente alguém enviar-se a si próprio para o desempenho de determinada missão. Se o Cristo fosse o próprio Deus, conforme o apregoam as teologias, Ele falaria por si próprio, Deus, conforme o apregoam as teologias, Ele falaria por si próprio, não havendo necessidade de empregar subterfúgios, sustentando que a Doutrina que ensinava não era sua, mas daquele que o havia enviado.

No decurso do seu Messiado, Jesus deixou bem evidenciado que era uma personalidade distinta do Pai, e não uma entidade trina. Não deixou também de demonstrar a sua subordinação à vontade de uma entidade maior: Deus. Basta perlustrar as páginas dos Evangelhos, para constatar, de forma reiterada, que Ele veio à Terra num momento apropriado, a fim de revelar verdades novas, objetivando atualizar os velhos conceitos contidos na lei mosaica, os quais já estavam superados.

Fato concludente ocorreu no Horto das Oliveiras, quando o Cristo, em ardente prece dirigida ao Criador, por três vezes consecutivas, rogou que "se fosse possível passasse dele aquele cálice de amargura", acrescentando, logo a seguir: "Contudo, Senhor, seja feita a tua vontade e não a minha."

Se Ele fosse o próprio Deus, ou parte trina de Deus, não haveria necessidade de formular uma ação dessa natureza, dirigida a si próprio. Ele teria resolvido o problema de per si. No cimo do Calvário, pendurado na Cruz, Ele exclamou: "Pai, em tuas mãos entrego o meu Espírito", frase essa que também atesta, de forma clara, a sua dependência em relação ao Criador de todas as coisas.

Em pleno Século das Luzes, quando o Espírito de Verdade já está entre nós para estabelecer toda a Verdade, não há mais lugar para ensinamentos errôneos, nem podem prevalecer velharias, verdadeiros resíduos de discussões estéreis entre homens personalistas e eivados de interesses materiais. A crença na existência de um Deus único é uma das verdades que cumpre ser restabelecida.

Ninguém que se tenha aprofundado na análise dos preceitos 
evangélicos, ou meditado sobre as palavras do Cristo, podem em sã razão proclamar que neles exista qualquer afirmação categórica, ou de Jesus, que conduza à crença que Ele seja o próprio Deus, ou parte trina de Deus. O seu dizer "quem ver o Pai vê a mim, ou "Eu e o Pai somos uno", não significa em absoluto que Ele não tenha uma individualidade própria. Jesus Cristo foi um enviado de Deus e, portanto, seu representante na Terra. Como autêntico embaixador dos céus, que o via, claramente quem o havia enviado.

Os antigos israelitas, apesar de todos os seus preconceitos e vãs tradições alimentavam uma concepção mais realística sobre a unicidade de Deus, embora lhe atribuíssem características profundamente humanas. Não se nota nos livros do chamado Velho Testamento nenhuma passagem que sustente ser Deus uma entidade trina.

Ninguém desconhece que a implantação do dogma da Trindade foi imposição política, ou pelo menos contou com o apoio político do Imperador Constantino, de Roma, que, naquela época, havia se transformado em protetor dos cristãos. Houve intensas contendas, e Ário, que era radicalmente contrário à teoria da Trindade, juntamente com outras mentalidades esclarecidas, foi vencido, porque o Imperador não desejava criar problemas que afetassem a paz do Império. Implantado, nessa época, o dogma persistiu até o presente.

O Espiritismo vem esclarecer os homens em torno dessa questão, restabelecendo as coisas em seus devidos lugares. A Doutrina dos Espíritos proclama que Deus é nosso Pai, uno, indivisível, eterno, imutável, onipotente, onisciente. Jesus é o nosso Irmão Maior, que já colimou elevadíssimo grau de perfeição, mas ainda continua sujeito às leis evolutivas. O chamado Espírito Santo é a comunidade dos Espíritos esclarecidos, obreiros do bem, executores da vontade de Deus, na Terra, lídimos intermediários entre o Céu e a Terra, entre Deus e os homens, sempre sob a égide augusta de Jesus Cristo, o governador do nosso Planeta.

Paulo A. Godoy

sábado, 22 de maio de 2021

A FÉ SEGUNDO O NÍVEL EVOLUTIVO DE CADA UM. [...]As crianças (físicas na idade temporal ou intelectuais pela infância do "espírito"), interpretam fé como acreditar. [...]Os que vivem mais no plano astral (emocional) acham que a fé é um "sentimento", uma emoção, que se acende ou apaga, [...] Os intelectualizados que baseiam tudo no raciocínio horizontal e na pesquisa. preferem, como sinônimo de fé, a palavra convicção, certeza confiança.[...] Outros preferem considerar a fé: como demonstração de fidelidade[...]

                       A FÉ

Mat. 17-19-21
19. Então chegando-se os discípulos a Jesus em particular, perguntaram: "Por que não pudemos nós expulsá-lo"?
20. Jesus respondeu-lhes: "Por vossa falta de fé, pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para lá, e ele passará; e nada vos será impossível" .
21. Mas esse tipo não sai senão com oração e jejum".

Marc. 9:28-29
28. E tendo entrado ele em casa, perguntaramlhe seus discípulos particularmente: "Porque não pudemos nós expulsá-lo"?
29. Respondeu-lhes: "Esta espécie só pode sair pela oração e jejum".

Marcos tem o cuidado de avisar-nos que os discípulos se dirigiram ao Mestre "depois que estavam em casa", fato que Mateus assinala apenas com a expressão "em particular".

A pergunta revela ansiedade: "por que não pudemos expulsá-lo"?
E a resposta esclarece para todos: "por falta de fé".

Já havia sido dito que TUDO é possível ao que crê. E agora mais uma lição nos chega, com palavras "e comparações repetidas das lições rabínicas, onde era frequente a expressão "pequeno como grão de mostarda"; e também, para significar algo muito difícil, dizia se "como transportar montanhas". A uni-ão dos dois termos, porém, é particularidade do Evangelho.

O último versículo de Marcos (29) dá uma pequena desculpa aos discípulos: esse tipo (de espíritos) só pode sair pela oração e pelo jejum". Nem todos os códices têm "pelo jejum" (aleph, B, K ) , que é suprimido por Nestle, Swete, Lagrange, Huby e Pirot; Merck o coloca entre chaves; mas é mantido por von Soden, Vogels e Prat. Realmente, os rabinos ensinavam que "quem quer que ore sem ser atendido, ponha-se a jejuar" (cfr. Strack e Eillerbeck, o. c. , vol. 1, pág" 760). Esse versículo parece ter sido transportado para constituir o vers. 21 de Mateus, que falta em aleph, B, theta, em três minúsculos e em todas as versões copta, etiópica, siríaca hierosolymitana, e no mss. "k" da vetus latina, e na Vulgata.

Vem agora a lição sobre a fé. Preciosa e esclarecedora, incisiva e categórica. De fato, uma LIÇÃO.
O intelecto, na meditação em contato com o Eu verdadeiro ou com a individualidade ("em casa"),indaga das razões por que não conseguiu o domínio das emoções. E a resposta é taxativa: falta de fé.

A dúvida é o pior veneno para a criatura. Tiago (1:6-8) entendeu a lição do Mestre: "Peça-se com fé, sem hesitar, pois aquele que hesita é como a onda do mar impelida e agitada pelo vento; esse homem nada recebe do Senhor pois é homem de dupla alma, instável em todos os seus caminhos".(grifo nosso)

Que significa, afinal, pístis, a FÉ?
A definição vai depender do nível evolutivo em que cada um se encontre, para compreender o sentido da palavra. 

Vejamos:

1. As crianças (físicas na idade temporal ou intelectuais pela infância do "espírito"), interpretam fé como acreditar. Se acredito no que alguém me diz, sem pedir provas, demonstro fé na pessoa. Essa fé recebe geralmente o designativo de "fé do carvoeiro", ou do homem "crente" que, por não saber nada, acredita em tudo o que lhe dizem, sem capacidade para raciocinar por si: é a fé do simplório e do ignorante, exaltada em certos círculos humanos como virtude máxima, e até como condição essencial e única para a criatura "salvar-se".

2. Os que vivem mais no plano astral (emocional) acham que a fé é um "sentimento", uma emoção, que se acende ou apaga, aumenta e diminui, segundo o estado emocional da criatura. É a fé que se conquista diante de um ato de generosidade ou se perde, num segundo, diante de uma desilusão; mais baseada nos outros, com suas qualidades e defeitos, do que em si mesmos, em seu próprio conhecimento da verdade. É a fé que vibra altaneira e provoca, às vezes, gestos heróicos e repentinos, mas que também pode levar a extremos opostos de aridez e até de ateísmo absoluto, de materialidade total.

3. Os intelectualizados que baseiam tudo no raciocínio horizontal e na pesquisa. preferem, como sinônimo de fé, a palavra convicção, certeza confiança. Representa, então, uma virtude intelectual, um fruto da experiência, e não mais uma emoção. Supõe o conhecimento profundo do assunto: a certeza científica baseada nesse conhecimento é a fé. É a segurança do químico que, ao fazer as combinações de ácidos com bases, tem a certeza de que obterá um sal: fé absoluta, fé raciocinada e experimentada, com fundamento em fatos vividos e verificados sob controle.

4. Outros preferem considerar a fé: como demonstração de fidelidade (por exemplo, o Prof. Huberto Rohden, de quem recebemos uma carta a esse respeito). Esses, já vivendo acima do intelecto, sintonizados com a "razão" (ou individualidade), compreendem que a faculdade essencial à criatura é a fidelidade aos princípios. Uma vez conhecido o caminho e encontrado o Mestre, não haverá mais esmorecimentos nem desvios, não se permanecerá mais no saber, nem no dizer, nem mesmo no fazer, mas se exigirá de si mesmo o máximo, o SER, o SER TOTAL, INTEGRAL, ser igual ao Mestre, numa completa e total FIDELIDADE DE REPRODUÇÃO, como a cópia de carbono com o original, como a estátua de gesso com o molde de barro, como a imagem no espelho com quem se mira. Essa a interpretação que demos à quarta bem-aventurança (veja vol. 2): felizes os que buscam o ajustamento, a justeza, do modelado com o modelo, do cristão com o Cristo.

A qualquer dessas interpretações, podemos aplicar, cada um em seu grau, a lição ministrada: a fé, ainda que do tamanho de um grão de mostarda, ou seja, embora ainda esteja no início do desenvolvimento, nos primeiros passos da caminhada, já será suficiente para obter-se extraordinário efeito.

Lógico que o efeito corresponderá, em grandeza, ao adiantamento do nível evolutivo de quem a possuie a vive. Mas, não é mister diplomar-se como professor de matemática superior, para realizar as quatro operações. Desde que a faculdade exista, desde que a causa aja, o efeito é produzido. Para fazer luz numa lâmpada, não há necessidade de movimentar-se uma usina elétrica e nem mesmo de possante gerador: até uma pilha acende uma lâmpada de 6 volts, mas a luz é feita; é fraca, mas é luz.

Assim, a "montanha" poderá ser transportada de cá para lá. Seja uma montanha de dificuldades, ou de terra, ou de defeitos, ou de fluidos ou de correntes do astral, ou quaisquer outras.

A expressão "montanha" exprime, simplesmente, algo de grande, de imenso, de "impossível" de abraçar-se com os curtos braços humanos. Não há montanha que resista a quem tem fé: "nada é impossível ao que crê".

Quem meditar profundamente nessa frase, encontrará a força de vencer quaisquer obstáculos, quer interprete a fé como "crença", ou como "sentimento", ou como "convicção" ou como "fidelidade" a nosso-modelo, o CRISTO.

No entanto, há coisas que a fé opera apenas por meio da ORAÇÃO. Não é da "reza" repetida mecanicamente em novenas e trezenas, mas a oração da união total com o Cristo Interno, a meditação e o mergulho em que a criatura consegue "ajustar-se" totalmente ao Criador, em que a onda sonora sintoniza perfeitamente com a emissora, em que o cristão se CRISTIFICA (2.º Cor. 1:21).

A palavra "jejum" que aparece em alguns códices e é rejeitada por numerosos hermeneutas, tem sua razão de ser nesta interpretação, pois com ela não se entende o jejum da comida física, mas o jejum "da materialidade".

 Explicamo-nos: aquele que se desprende da matéria e vive unido do Espírito, ou seja, "que vive na matéria sem ser da matéria, ou que vive no mundo sem ser do mundo" (Huberto
Rohden), esse é o que "jejua". 

Com efeito, mesmo estando diante das iguarias tentadoras do mundo e de suas paixões, ele permanece sem nelas tocar, em oração (unido ao CRISTO) e em jejum (desligado da matéria). Então, está realmente ESPIRITUALIZADO, ou, melhor ainda, CRISTIFICADO. Esse é o que possui o poder máximo no domínio espiritual da Terra, com largas e profundas repercussões mesmo no domínio material, sem necessidade de buscar nem treinar "poderes", com exercícios exóticos.

Livro : Sabedoria do Evangelho Volume 4
Autor: Carlos Pastorino

terça-feira, 11 de maio de 2021

A MULTIDÃO E A TRAGÉDIA DO GÓLGOTA -


 FRAGMENTOS DOS TEXTOS:
 [...]  Não parecia que os peregrinos de Jerusalém haviam acorrido à cidade para as comemorações alegres da Páscoa, mas, tão somente, para procederem à condenação do humilde Messias de Nazaret[...]Como homem, estou contra este povo inconsciente e infeliz e tudo faria por salvar o inocente; mas, como romano, acho que uma província, como esta, não passa de uma unidade econômica do Império[...]Os ódios, confraternizando com os ciúmes, espalharam injúrias que eram glosadas pela ingratidão de muitos que lhe foram comensais da ternura e receberam de Suas mãos o pábulo da vida estuante. Fervilhando as constrições obsidentes[...]As hordas desenfreadas da Espiritualidade inferior galvanizam no ódio os que se permitem as licenças das paixões dissolventes. Sempre se repetirão aquelas cenas nos linchamentos das ruas, nas prisões arbitrárias, nas injustiças tornadas legais[...]A obsessão coletiva como tóxico morbífico domina os participantes da inominável atuação infeliz. Ele não se defende, não reclama, nada pede. Submete-se e confia em Deus...




       No grande dia do Calvário



Da câmara isolada, onde se reunia o apressado e reduzido conselho de patrícios, podiam observar-se os ecos rumorosos da turba amotinada, em espantosa gritaria. Um ajudante de ordens do governador, de nome Políbius, homem sensato e honesto, penetrou no recinto, pálido e quase trêmulo, dirigindo-se a Pilatos:Senhor governador, a multidão enfurecida ameaça invadir a casa, se não confirmardes a sentença condenatória de Jesus Nazareno, dentro do menor prazo possível… — Mas, isso é um absurdo — retrucou Pilatos, emocionado. — E, afinal, que diz o profeta em tais circunstâncias? Sofre tudo sem uma palavra de recriminação e sem um apelo oficial aos tribunais de justiça? — Senhor — replicou Políbius, igualmente impressionado —, o prisioneiro é extraordinário na serenidade e na resignação. Deixa-se conduzir pelos algozes com a docilidade de um cordeiro e nada reclama, nem mesmo o supremo abandono em que o deixaram quase todos os diletos discípulos da sua doutrina!

  Comovido com os seus padecimentos, fui falar-lhe pessoalmente e, inquirindo-o sobre os seus martírios, afirmou que poderia invocar as legiões de seus anjos e pulverizar toda a Jerusalém dentro de um minuto, mas que isso não estava nos desígnios divinos e, sim, a sua humilhação infamante, para que cumprissem as determinações das  Escrituras. (Isaias) 

Fiz-lhe ver, então, que poderia recorrer à vossa magnanimidade, a fim de se ordenar um processo dentro de nossos dispositivos judiciários, de maneira a comprovar sua inocência e, todavia, recusou semelhante recurso, alegando que prescinde de toda proteção política dos homens, para confiar tão somente numa justiça que diz ser a de seu Pai que está nos Céus!

 [...]que poderíamos fazer para evitar-lhe a morte nefanda, nas mãos criminosas da massa inconsciente?[...]sugiro a pena dos açoites na praça pública, por ver se assim conseguimos amainar as iras populares, evitando ao prisioneiro a morte ignominiosa nas mãos de celerados sem consciência

[...]Vivendo na Judeia há quase sete anos, conheço este povo e sei de suas temíveis atitudes, quando as suas paixões se desencadeiam.  O suplício foi, então, ordenado, no pressuposto de evitar maiores males.[...] Nesse instante doloroso, Públio e alguns romanos se ausentaram por momentos da câmara privada onde se reuniam, a fim de observarem os movimentos instintivos da massa fanática e ignorante. Não parecia que os peregrinos de Jerusalém haviam acorrido à cidade para as comemorações alegres da Páscoa, mas, tão somente, para procederem à condenação do humilde Messias de Nazaret.[...] Políbius, cientificando o governador de que a pena do açoite não havia saciado, infelizmente, as iras da população enfurecida, que reclamava a crucificação do condenado.

[...] Penosamente surpreendido, exclamou o senador, dirigindo-se a Pilatos, com intimidade: — Não tendes, porventura, algum prisioneiro com processo consumado, que possa substituir o profeta em tão horrorosas penas? As massas possuem alma caprichosa e versátil e é bem possível que a de hoje se  satisfaça com a crucificação de algum criminoso, em lugar desse homem, que pode ser um mago ou visionário, mas é um coração caridoso e justo. O governador da Judeia concentrou-se por momentos, recorrendo à memória, com o fim de encontrar a desejada solução. Lembrou-se então de Barrabás, personalidade temível, que se encontrava no cárcere aguardando a última pena, conhecido e odiado de todos pelo seu comprovado espírito de perversidade, respondendo afinal: — Muito bem!… Temos aqui um celerado, no cárcere, para alívio de todos, e que poderia, com efeito, substituir o profeta na morte infamante!… E mandando fazer o possível silêncio, de uma das eminências do edifício, ordenou que o povo escolhesse entre o bandido e Jesus. 

 Mas, com grande surpresa de todos os presentes, a multidão bradava com sinistro alarido numa torrente de impropérios: — Jesus!… Jesus!… Absolvemos Barrabás!… Condenamos a Jesus!… Crucificai-o!… Crucificai-o!… Todos os romanos se aproximaram das janelas, observando a inconsciência da massa criminosa, no ímpeto de seus instintos desencadeados. 

 — Que fazer diante de tal quadro? — perguntou Pilatos, emocionado, ao senador que o ouvia atentamente. 
 — Meu amigo — respondeu Públio, com energia ,— se a decisão dependesse tão somente de mim, fundamentá-la-ia em nossos códigos judiciários, cuja evolução não comporta mais uma condenação tão sumária como esta, e mandava dispersar a multidão inconsciente à pata de cavalo; mas, considero que as minhas atribuições transitórias, junto ao vosso governo, não me outorgam direito a tais desmandos e, além disso, tendes aqui uma experiência de sete anos consecutivos. De minha parte, suponho que tudo foi feito para que as decisões não fossem precipitadas.

(...) Como homem, estou contra este povo inconsciente e infeliz e tudo faria por salvar o inocente; mas, como romano, acho que uma província, como esta, não passa de uma unidade econômica do Império, não nos competindo, a nós outros, o direito de interferência nos seus grandes problemas morais e presumindo desse modo, que a responsabilidade desta morte nefanda deve caber agora, exclusivamente, a essa turba ignorante e desesperada e aos sacerdotes ambiciosos e egoístas que a dirigem.

 Pilatos enterrou a fronte nas mãos, como a refletir maduramente naquelas ponderações; mas, antes que pudesse externar sua opinião, eis que Políbius aparece aflito, exclamando em atitude discreta: — Senhor governador, é preciso apressar vossa decisão. Espíritos maldizentes começam a duvidar da vossa fidelidade aos poderes do César, compelidos pela intriga dos sacerdotes do templo, colocando a vossa dignidade em terreno equívoco para todos… 

Além disso, a populaça tenta invadir a casa, tornando-se necessário assumirdes atitude decisiva, sem perda de um minuto.  Pilatos ficou rubro de cólera, diante de semelhantes injunções, exclamando irritado, como se estivesse sob o jugo do mais singular dos determinismos: — Está bem! Lavarei as mãos deste ignominioso delito! O povo de Jerusalém será satisfeito… 

 E, procedendo a esse ato que o celebrizaria para sempre, dirigiu algumas palavras ao condenado, mandando, em seguida, recolhe-lo a uma cela, onde pudesse permanecer alguns minutos, sem as grosseiras investidas da turba impetuosa, antes que a multidão o conduzisse ao Gólgota, que, na linguagem usual, deverá ser traduzido por Lugar da Caveira. 

 Um sol abrasador tornara sufocante e insuportável a atmosfera. Saciada, afinal, a fúria da multidão nos seus desvairamentos infelizes, numerosos soldados seguiram o prisioneiro, que demandava o monte da crucificação, a passos vacilantes sob o madeiro da ignomínia, que a justiça da época destinava aos bandidos e aos ladrões. Até o momento de sua saída sob a cruz, ninguém se interessara por ele, junto à autoridade do governador da Judeia... Depreendia daí o senador que, quantos seguiam o Mestre de Nazaret nas margens do lago, em Cafarnaum, o haviam abandonado inteiramente. De uma das janelas do palácio, considerou, penalizado, o desprezo infligido àquele homem que um dia, o dominara com a força magnética da sua personalidade incompreensível, observando a ondulação da turba enfurecida, ao sair o inesquecível cortejo. Ao lado do Mestre não se via mais a carinhosa assistência dos discípulos e seus numerosos seguidores. Apenas algumas mulheres — entre as quais se destacava o vulto impressionante e agoniado de sua mãe — o amparavam afetuosamente, no doloroso e derradeiro transe. Aos poucos, a praça extensa aquietou-se ao calor sufocante da tarde que se avizinhava. À distância, ouvia-se ainda a vozearia da plebe, aliado ao relinchar dos cavalos e ao tinir das armaduras. 

 Impressionados com o espetáculo que, aliás, não era incomum na Palestina, reuniram-se os romanos em uma das salas amplas do palácio governamental, em animada palestra, comentando os instintos e paixões ferozes da plebe enfurecida. Daí a minutos, Cláudia mandava servir doces, vinhos e frutas, e, enquanto a conversação timbrava os problemas da província e as intrigas da corte de Tibério, mal imaginava aquele punhado de criaturas que, na cruz grosseira e humilde do Gólgota, ia acender-se uma gloriosa luz para todos os séculos terrestres.. 

Emmanuel 
Trecho do livro: Há dois mil anos , Cap.8-1ª parte.

                     ***

         O Calvário e a obsessão

[...]Os ódios, confraternizando com os ciúmes, espalharam injúrias que eram glosadas pela ingratidão de muitos que lhe foram comensais da ternura e receberam de Suas mãos o pábulo da vida estuante. Fervilhando as constrições obsidentes que se impunham, os adversários da liberdade espiritual da Terra, em desgoverno no Mundo Espiritual, dominaram os que se não armaram de vigilância e equilíbrio, tornando-se fáceis presas do anti-Cristo, a fim de que a tragédia do Gólgota se consumasse.

[...] As hordas desenfreadas da Espiritualidade inferior galvanizam no ódio os que se permitem as licenças das paixões dissolventes. Sempre se repetirão aquelas cenas nos linchamentos das ruas, nas prisões arbitrárias, nas injustiças tornadas legais, quando as massas afluem aos espetáculos hediondos e se asselvajam, tornando-se homicidas incomparáveis...
 
Como podiam aquelas gentes desconhecer a brandura do Pastor Divino, esquecer Suas concessões e "prodígios"? 

[...] A covardia moral, abrindo as faculdades psíquicas ao intercâmbio com os Espíritos imperfeitos e obsessores, todo o bem recebido negou, a fim de poupar-se. Transformou o inocente em algoz, em revolucionário desnaturado e elegeu o crime como elemento de justiça. 

O grande espetáculo da loucura coletiva se aproxima do Calvário. A obsessão coletiva como tóxico morbífico domina os participantes da inominável atuação infeliz. Ele não se defende, não reclama, nada pede. Submete-se e confia em Deus. Jesus é o exemplo, o ideal para a consunção do desar que vencerá os séculos a mais horrenda explosão coletiva que passará à História… 

 Amélia Rodrigues

                        * * *

Para Nossa Reflexão , trecho do Evangelho Segundo O Espiritismo, por Larcodaire:

[...]Deverá ele ainda expulsar os vendilhões do templo, que maculam tua casa, esse recinto de orações? E, quem sabe?, oh, homens, se Deus vos concedesse essa graça, se não o renegaríeis de novo, como outrora? Se não o acusaríeis de blasfemo, por vir abater o orgulho dos fariseus modernos? Talvez, mesmo, se não o faríeis seguir de novo o caminho do Gólgota?

Evangelho Segundo O Espiritismo Cap.7 item 11

segunda-feira, 10 de maio de 2021

A INTOLERÂNCIA "E João disse: Mestre, vimos um que em teu nome expulsava os demônios e lho proibimos, porque não te segue conosco". "E Jesus lhe disse: Não o proibais, porque quem não é contra nós é por nós. " (Lucas, 9:49-50)

A INTOLERÂNCIA

"E João disse: Mestre, vimos um que em teu nome expulsava os demônios e lho proibimos,porque não te segue conosco". "E Jesus lhe disse: Não o proibais, porque quem não é contra nós é por nós. " (Lucas, 9:49-50)

A intolerância sempre constituiu um dos grandes entraves na senda da evolução humana.
No campo da ciência ela foi a causa do retardamento de muitas descobertas, pois, no passado, tudo aquilo que ultrapassava o limite acanhado do conhecimento humano, era levado na conta de "engenho e arte do demônio".

No setor do aculturamento ela foi responsável pelo marasmo e pelas trevas que prevaleceram entre os homens durante muitos séculos, evitando que eles, através do conhecimento da verdade, se libertassem do preconceito e da superstição.

No seio das religiões, a intolerância se fez sentir em todo o seu aspecto negativo, sendo responsável por grande número de perseguições, de torturas e de morte. Sempre que surgia na Terra um Espírito mais saliente querendo impulsionar o esclarecimento espiritual do homem, ele era catalogado como herege e como tal perseguido e até morto.

O próprio Jesus Cristo foi vítima da intolerância dos seus contemporâneos, por isso, para nos legar a sua mensagem de paz e de amor, ele teve de enfrentar a fúria sanguinolenta de muitos fanáticos, perecendo finalmente pendurado numa cruz, no alto do Calvário.

A passagem evangélica que estamos enfocando, nos elucida sobre o pensamento de Jesus Cristo sobre a intolerância: ele repreendeu severamente um dos seus apóstolos pelo fato de ter proibido a uma pessoa que não os acompanhava, de também expulsar maus Espíritos.

Enquanto no cenário terreno as religiões se digladiam e fecham as portas a qualquer gênero de entendimento, tudo por causa de ingênuas divergências doutrinárias, o Mestre, cujos atos devem servir de paradigma para o nosso proceder, declara enfaticamente a João:
"Quem não é contra nós é por nós".

Os discípulos de Jesus, impregnados dos prejuízos do arcaico sistema religioso prevalecente entre os judeus, não haviam ainda se despojado do tradicional e aberrante hábito de considerar heresia tudo aquilo que não fosse referendado pela religião imperante. Vendo aquele homem que expelia os maus Espíritos, João enchesse de zelo e, após proibir o homem de praticar atos daquela natureza procurou apressadamente o Mestre, a fim de denunciar aquilo que considerava um trabalho paralelo e autêntica usurpação de poderes.

Agindo daquele modo, o apóstolo julgava estar prestando inestimável serviço à Boa Nova e, certamente, esperava o beneplácito do Mestre para o seu ato de intolerância.

A réplica, no entanto, foi adversa: "Não o proibais, por que, quem não é contra nós é por nós".

O Meigo Rabi da Galiléia deu assim inequívoca demonstração de tolerância e é pena que o seu exemplo não tenha servido decorrer dos séculos, de esteio para uma mais íntima aproximação entre os vários agrupamentos cristãos, os quais, apesar de viver sob o pálio de uma só doutrina, porfiam em se colocarem na mais acesa intolerância, refratários a quaisquer concessões ou gesto de aproximação.

No Velho Testamento encontramos uma passagem quase idêntica:
Devido ao abusivo costume reinante entre muitos médiuns, profetas judeus, de invocarem Espíritos para consultá-los sobre coisas fúteis, sem um objetivo mais sério, o médium-mor que era Moisés vetou terminantemente que se continuasse esse intercâmbio, proibindo que se invocassem os chamados mortos.
Muitos médiuns sensatos existiam, no entanto, entre os judeus, e entre eles dois rapazes sinceros, cujos nomes eram Eldad e Medad. Esses jovens estavam no campo entrando em contato com Espíritos quando, passando por ali um homem, apressou-se em denunciar o fato a Moisés, julgando assim estar prestando valioso serviço ao Grande Legislador.

Conforme narra o livro de Números, Cap. 11, V. 26 a 29, esse homem chegou todo agitado perto do libertador dos hebreus e delatou:
"Senhor! Eldad e Medad estão no campo profetizando!" Josué, o lugar-tenente de Moisés, que ali estava ao lado asseverou:
"Senhor Meu Moisés, proiba-lhos".

Mas Moisés não se importunou, pois conhecia o caráter da Mediunidade de Eldad e Medad e se limitou a responder a Josué:
"Tens tu ciúmes de mim? Oxalá que todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhe desse o seu Espírito."

Assim como Jesus reconheceu que o homem que expelia os maus Espíritos em seu nome, estava trabalhando pela mesma causa, embora em caminho diverso, Moisés também suspirava pelo mediunismo sadio entre o seu povo, alegrando-se com o fato de dois de seus patrícios estarem entrando em sintonia com os Espíritos do Senhor, para fins edificantes.

Ambos deram vibrante demonstração de tolerância e compenetração dos reais objetivos que animam aqueles que desejam cooperar na tarefa comum de entrelaçamento entre os homens, com vistas a uma mais estreita aproximação com o Alto.

Afirmou João em seu Evangelho que "a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam" (João, 1:5).

Essa passagem deixa entrever claramente que Jesus Cristo veio como autêntica luz a iluminar o caminho dos homens, mas a intolerância destes fez com que a sua mensagem fosse incompreendida, e as forças das trevas conseguiram fazer com que largos anos de obscurantismo suplantassem a voz da verdade, retardando a implantação dos ideais cristãos, da forma como foram ensinados pelo Cristo, fundamentados sobre a pureza e a singeleza.

Nos Evangelhos encontramos uma narrativa bastante elucidativa: Jesus Cristo não foi recebido numa aldeia de Samaritanos. Os seus apóstolos, revoltados, perguntaram-lhe:
"Queres que façamos descer fogo do céu e os consuma, assim como o fez Elias?". E a resposta do Mestre foi a seguinte: "Não sabeis que espírito sois, porque o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las". E dirigiram-se para outra aldeia.

Preferindo dirigir-se para outra aldeia, em vez de concordar com a sugestão dos apóstolos Tiago e João, de procurarem consumir o povo que não os recebera, Jesus Cristo, mais uma vez, demonstrou que a tolerância deve sempre nortear os rumos daqueles que se arrogam ao título de cristãos verdadeiros.

Paulo A. Godoy

quarta-feira, 5 de maio de 2021

O IRMÃO DO FILHO PRÓDIGO"(...)O irmão do Filho Pródigo, por outro lado, representa a outra parcela de seres humanos: aqueles que se encastelam nas muralhas dos dogmas, julgando-se os únicos herdeiros das coisas celestes e os monopolizadores da verdade, arrogando-se o qualificativo de eleitos ou escolhidos, não tolerando jamais que os seus irmãos, que eles qualificam de hereges venham a ser um dia recebidos na Casa do Pai, com o mesmo amor e carinho a eles dispensados. "(...)






O IRMÃO DO FILHO PRÓDIGO

"E o seu filho mais velho estava no campo; e quando veio, e chegou perto da casa, ouviu músicas e danças." (Lucas 15:25)


A Parábola do Filho Pródigo, narrada no capítulo 15, versículos 11 a 32, do Evangelho segundo Lucas, é indubitavelmente uma das mais belas páginas do Livro da Vida. Ela objetiva pulverizar a teoria das penas eternas e colocar em situação de suma relevância a infinita misericórdia de Deus.

No desenvolvimento da parábola, deparamos com a afirmativa de ter o Filho Pródigo saído de sua casa acumulado de bens, entretanto, malbaratando aquilo que recebera, dentro em pouco nada possuía e, após muita luta, corroído pelo remorso e pela fome, viu-se na dura contingência de regressar ao lar paterno, onde foi recebido com intenso júbilo e com as mais vivas demonstrações de amor.

A parábola encerra, no entanto, uma última parte. Descreve o irmão do Filho Pródigo, o qual, voltando do campo e vendo a festa que o pai mandara fazer, em regozijo pela volta do seu filho que estava perdido e foi achado, que estava morto e reviveu, encheu-se de ciúmes e assediado por um sentimento egoístico, verberou acerbamente o procedimento do pai, ao qual qualificou de injusto.

O seu argumento, dirigindo-se ao pai, foi o seguinte: - Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos. Vindo porém, este teu filho, que desperdiçou a tua fazenda com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado.

É óbvio, na narrativa evangélica, que o Fiho Pródigo representa aquele que Deus coloca nos caminhos da vida, para o aprendizado comum e que, por uma razão ou outra, vem a falhar no desempenho das tarefas peculiares ao seu processos evolutivo.

Em outras palavras, o Filho Pródigo da Parábola simboliza a parcela de criaturas humanas que é cumulada de bens para o desempenho satisfatório de determinada tarefa e que, por invigilância, prevaricação ou qualquer outro fator, vem a fracassar, retornando ao mundo espiritual sem ter praticado atos meritórios, mas como um morto que reviveu, dotado de experiência suficiente para poder prosseguir em sua tarefa ascensional rumo ao Criador, em vidas futuras, na Terra ou em outras moradas da Casa do Pai. Tudo isso confirmando o dizer evangélico de que há mais alegria nos Céus por um pecador que se regenera, do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento.

O irmão do Filho Pródigo, por outro lado, representa a outra parcela de seres humanos: aqueles que se encastelam nas muralhas dos dogmas, julgando-se os únicos herdeiros das coisas celestes e os monopolizadores da verdade, arrogando-se o qualificativo de eleitos ou escolhidos, não tolerando jamais que os seus irmãos, que eles qualificam de hereges venham a ser um dia recebidos na Casa do Pai, com o mesmo amor e carinho a eles dispensados.
Esses homens avocam a si o título de herdeiros do reino de Deus, fazendo-o simplesmente pelo fato de se assentarem nos bancos das igrejas e templos da Terra, cumprindo exteriormente as ordenações que suas religiões prescrevem, revoltando-se intimamente pelo fato de cobrir Deus com o seu infinito amor todos aqueles que estiveram sobrecarregados nos caminhos da vida, mas que uma experiência tardia levou de volta ao caminho do bem.

Foi a atitude egoísta de homens que pensam desse modo que levou o Cristo a proclamar: "Muitos virão do oriente e do ocidente e assentar-se-ão ao lado de Abraão, lsaac e Jacó, no Reino dos Céus."

Foi a demonstração de completa ausência de amor expressada por esses homens que levou o Cristo a exclamar: - Os publicanos e as meretrizes entrarão no Reino dos Céus adiante de vós !

Quando do advento de Jesus Cristo, muitos dos seus contemporâneos se arroganm o qualificativo de fllhos de Abraão, julgando que isso era o bastante para lhes garantir pronto acesso aos planos espirituais superiores que eles acreditavam ser a morada dos antigos profetas e patriarcas, entre eles Abraão, lsaac e Jacó. No entanto, João Batista, como precursor do advento de Jesus, disse-lhes, peremptoriamente: Não presumais de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão, porque eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão.
Mesmo a uma pessoa com o coração empedernido, no decorrrer de muitas reencarnações Deus faz com que se transmude em Espírito apto a habitar as moradas reservadas àqueles que souberam realmente seguir as pegadas dos profetas e dos grandes missionários que já vieram à Terra.

O fato de uma pessoa pertencer a esta ou àquela escola religiosa, ser deste ou daquele pensamento filosófico, desta ou daquela corrente científica, não é o bastante para que ela se enquadre nas recomendações de Jesus Cristo atinentes à observância e vivência dos seus ensinos. É imperioso, acima de tudo, o desprendimento das coisas da Terra, o abandono dos vícios e, mais do que tudo, a conquista da reforma íntima, sinônimo de conquista do Reino dos Céus, o que se faz unicamente pela prática do amor sem limitações.

Paulo A. Godoy

Livro: O Evangelho Pede Licença

terça-feira, 4 de maio de 2021

DORMIA O CRISTO OU DORMIMOS NÓS?(...)" Queremos que as coisas mudem para melhor, mas não queremos mudar , esquecidos de que as coisas não mudam, são os homens que mudam; não os outros homens, mas nós mesmos...."

A tarde chegara de mansinho. O dia fora longo e cansativo, pois eram muitas as  solicitações . Mateus diz que lhe haviam trazido muitos possessos e enfermos. Ele os curou dos males físicos e espirituais, mas a multidão continuava a envolve- lo. Marcos não menciona os endemoniados e doentes neste ponto, mas informa que ele pregara longamente em parábolas , como era de seu hábito: a parábola do semeador, a da lâmpada , a da medida - a medida com que medis , com essa mesma sereis medidos - , a da semente que cresce sozinha , a do grão de mostarda. Lucas também reporta as parábolas, mas não coloca o episódio da tempestade na mesma sequência que os seus dois companheiros evangelistas. Todos, porém,se referem com grande precisão a cena dramática no mar.

E certo , a vista dos relatos , que Jesus pediu que o transportassem a outra margem do lago. Marcos , mais minucioso, acrescenta que os apóstolos despediram o povo e o levaram enquanto outras embarcações o seguiram.

São unânimes os narradores em assegurar que o Mestre logo adormeceu, e , enquanto ele dormia, levantou se uma tempestade. Mateus diz que era tão grande o temporal que as ondas chegavam  a  encobrir a barca. Marcos diz apenas que era uma" forte borrasca" , enquanto Lucas confirmava a inundação do barco pelas aguas revoltas.

        Muita gente deve questionar a possibilidade de armar-se uma tempestade desse porte num reduzido mar interior.

        O chamado mar da Galiléia é , na verdade, um lago , através do qual fui o rio Jordão. Fica entre o atual Estado de Israel , de um lado , a Síria de outro , uma ponta da Jordânia , ao sul. Depois de atravessar o lago, o Jordão segue para o sul na direção do  mar Morto, onde termina o curso.

       O mar da Galiléia era conhecido nos tempos do Antigo Testamento por mar de Chinnereth ou Chineneroth. Tanto nos livros dos Macabeus como nas obras de Flavius Josephus é chamado de Gennesar. Nos Evangelhos o nome preferido é o mar da Galiléia, mas Lucas chama-o de Lago de Genesaré (5:1) , e João duas vezes menciona-o com o nome de Tiberíades, que , aliás, ficou consagrado na designação moderna, Bahr Tabariyeh (6:1 e  21:1).

      Toda região é um roteiro sentimental da peregrinação do Cristo, que ali viveu uma boa parte dos seus anos de pregação. Um pouco ao norte, Cafarnaum, mais abaixo , Magdala e , depois, Tiberíades. Do outro lado, Betsaida e Gadara com a Decápolis, ao sul.

     A Enciclopédia Britânica informa que as " elevações em torno do mar são cinzentas e desnudas no verão, mas se cobrem de vegetação na primavera" . " O lago - informa pouco adiante -  está profundamente embutido no meio das elevações e , consequentemente , sujeito a súbitas ventanias e violentas tempestades, que se armam rapidamente; a navegação não está livre de riscos." Os grifos são meus e servem apenas para destacar a observação moderna que confirma integralmente a informação dos evangelistas segundo a qual as tempestades são ali súbitas e violentas.

    É certo, pois, que  ao iniciar a viagem para a outra margem, o tempo estava bom e as águas calmas. O Mestre logo adormeceu e dormia ainda no fragor da tormenta.

A narrativa evangélica é extremamente sóbria e feita com enorme economia de palavras, especialmente de adjetivos.
Quando os autores dizem que a borrasca era forte e que as águas invadiam o barco, podemos acreditar neles. Aqueles homens viviam em torno do lago, onde pescavam na subsistência.
Conheciam os perigos e estavam afeitos a eles. Não há dúvida, pois, de que a tormenta foi de assustar e , por isso, decidiram despertar o Mestre, com a leve sugestão de uma censura na pergunta que lhe formularam, segundo Marcos: será que ele não se importava de que eles morressem?

   Mateus diz que Jesus primeiro os censurou pela falta de fé que haviam demonstrado com o pavor.A lição que fica, no entanto, é unânime e todos reproduzem a estupefação dos que estavam com ele na barca, ao comentarem entre si:
  - Quem é este homem a quem até os ventos e o mar obedecem?
  A pergunta ressoa até hoje, nos descampados imensos da História.

Um grupo de homens simples e puros de coração, ignorantes dos grandes mistérios da vida, seguia fielmente o seu Mestre. Dia e noite estavam à sua volta, ouviam no pregar, faziam lhe perguntas , assistiam ao seu trabalho junto aos pobres, aos doentes, aos possessos; viam no conviver com os publicanos e renegados e, no entanto, não têm noção exata de quem é ele realmente . Nunca viram alguém calar os elementos enfurecidos. Jamais alguém demonstrou tanta calma, tanta segurança e fé. E, no entanto, bastou que ele se reclinasse por alguns momentos na barca para que pensassem que os havia abandonado à sua sorte, no esquecimento do sono.

  Hoje, quando tantos séculos rolaram sobre aquela cena dramática e profunda no seu conteúdo , não temos mais o direito de especular acerca da sua grandeza. Sabemos que ele é grande, sabemos que ele não dorme, sabemos que ele mesmo ausente dos nossos olhos imperfeitos em algum ponto deste mundo e em toda parte , ele vela,dirige,aconselha,cura,prega,ensina,ama e espera.Sabemos que a sua mensagem original ficou enovelada pelo pensamento daqueles que em vez de se tornarem prisioneiros do Cristo, como dizia Paulo, preferiram a tentativa inglória e improfícua de aprisionarem o Cristo, a fim de colocá- lo a serviço de suas paixões.

E agora que novas borrascas se armam sobre o mundo - e não mais sobre o manso mar da Galiléia - , muitos temem pelos seus destinos e bradam ao Cristo , desesperados e aflitos , achando que ele dormiu e os esqueceu.

Outros muitos desejam aproveitar a confusão da tormenta para implantar de uma vez, na Terra , o reinado da treva e da prepotência. Alguns destes , num doloroso processo de auto ilusão , se dizem trabalhadores do Cristo e que , depois de restabelecido o processo do poder incontestado , reabrirão os Evangelhos para pregar novamente a palavra do Senhor

Como? Que lhe diria o Mestre se isso acontecesse?
- Jamais vos conheci, afastai vos de mim, agentes da iniquidade! (Mat. 7:23)
Não são aqueles que dizem Senhor! Senhor! que entrarão no reino dos céus, advertiu Jesus, mas aqueles que fazem a vontade do Pai, isto é, cumprem a Sua lei, trabalham incessantemente pela harmonização interior, entregam-se às tarefas do amor, não as da discórdia, da vingança, da opressão.

Estamos novamente em pleno mar da Galiléia. A tormenta agita o barco que as ondas invadem e ameaçam tragar. O céu está negro e fechado, pesado e opressivo. O terror se instalou no coração de muitos, a indiferença em outros, a loucura em tantos, a ignorância em multidões inteiras. E o Cristo mais uma vez parece dormir... Mais uma vez parece esquecido da angústias daqueles que se voltam para ele como último alento de esperança. Parece... Ou será que nós é que dormimos? Ou será que nós é que o esquecemos?

Estejamos em paz, ainda que a tormenta se avolume, e ela vai fatalmente avolumar-se . Encontramo-nos à soleira de uma nova era. chegaram os tempos anunciados das dores, porque infelizmente , na imperfeita humana condição, as mudanças trazem dores no seu bojo. Não que sejam dolorosas em si; nós é que temos preferido anestesiar o conformismo. Queremos que as coisas mudem para melhor, mas não queremos mudar , esquecidos de que as coisas não mudam, são os homens que mudam; não os outros homens, mas nós mesmos.

Estejamos certos, pois, de que o Cristo não dorme, nem nos abandonou à nossa sorte. Sua mensagem renovada pelo Espiritismo está conosco, integral, restabelecida, explicada além do que ele nos confiou naquela época,porque se ainda agora muito vacilamos no entendimento da sua palavra, que poderemos dizer daqueles tempos recuados em que até mesmo os que com ele conviviam pensavam que ele dormia...?

Livro: Candeias na noite escura
João Marcus
Pseudônimo de Hermínio C. Miranda

quinta-feira, 29 de abril de 2021

O ÓBULO DA VIÚVA POBRE " Seu ato foi, portanto, um ato de santidade, porque de suprema renúncia."

O ÓBULO DA VIÚVA POBRE
 
"Sentando-se Jesus em frente ao gazofilácio, observava como o povo punha ali as suas dádivas. Muitos ricos deitavam grandes quantias; chegando, porém, uma pobre viúva, lançou duas pequenas moedas, que valem um quadrante. Chamando, então, Jesus os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu mais que todos os ofertantes; pois estes deram do que lhes sobrava; ela, porém, da sua pobreza deu tudo o que possuía, tudo de que dispunha para o seu sustento".

Vendo em Jesus o Mestre, o Educador que ensina através das páginas do livro da vida fazendo do mundo uma escola, vamos considerar o fruto de sua observação, com respeito à dádiva dos ricos e à da viúva pobre. 

 Narra o texto que Jesus acompanhava o gesto daqueles que depositavam no tesouro do templo as suas ofertas. O excelso intérprete da justiça divina verificou que os homens ricos lançavam vultosas somas no gazofilácio, julgando, talvez, assegurar com seu ouro uma bela posição no reino dos céus. O que, porém, chamou a atenção dele, de modo particular, foi a insignificante oferta da viúva pobre, que deitou no cofre sacro duas moedinhas de cobre, no valor dum quadrante, ou seja, 4 centavos.

O Mestre observa a atitude daquela mulher, penetra o seu íntimo, devassa os recessos mais secretos do seu coração e predica assim aos discípulos: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deitou mais na arca do templo que todos os ofertantes. Porque estes deram do que lhes sobrava; ela, porém, da sua pobreza deu tudo o que possuía, tudo o que tinha reservado para o seu sustento. É significativa a expressão — em verdade vos digo — com que Jesus costumava preceder as sentenças graves que proferia. Em verdade quer dizer na realidade, de fato, isto é assim, e não como os homens querem que seja, ou supõem que há de ser.

A linguagem humana é capciosa: traduz o convencionalismo de cada época; reflete a opinião sempre errônea e falsa da conceituação vigente adotada pela maioria, ou, ainda, a expressão da ignorância oficializada pelos usos e costumes sociais. Apartando-se deste círculo vicioso, o Sábio Instrutor da humanidade acentua que o seu dizer é — em verdade — isto é, fora de todo o conceito terreno eivado de dolo; fora de todo o juízo humano pronunciado levianamente, sem conhecimento de causa, na ignorância dos fatores ocultos que determinam os acontecimentos e os fenômenos que caem sob o domínio dos sentidos.

Ele estava em condições de apreciar os fatos da vida com justeza, pois que não os julgava pelas aparências, porém mediante plena compreensão dos elementos que entram em jogo para produzi-lo. Daí a sua autoridade acerca dos julgamentos que emitia e das lições que ministrava, fazendo-as preceder desta advertência: em verdade vos digo. Vejamos, agora, o que Ele, em verdade, nos ensina neste caso do óbolo da viúva pobre.

A maneira como Jesus aprecia o mérito ou demérito das nossas obras difere, sobremaneira, do critério, usado pelos homens. No episódio, que ora nos serve de tema, vemos que Ele reputou a oferenda da viúva como a maior de todas depositadas no gazofilácio. Nada obstante, foi a menor, a mais pequenina numericamente falando. Isto porque o Mestre se louvou, não nas aparências, isto é, no que se podia perceber com os sentidos, mas nos motivos íntimos que impeliram os ofertantes a lançar suas dádivas na arca do templo. Por que o fizeram eles? Quais os fatores que preponderaram no ânimo dos ricos para que dessem grandes somas?
A vaidade, talvez, porque as ofertas eram feitas publicamente; o interesse — quem sabe? — de comprar com o seu ouro a simpatia dos deuses, esperando, por esse processo, alcançar a desejada felicidade futura; ou, ainda, para serem agradáveis aos influentes sacerdotes e aos poderosos pontífices, usufrutários e desfrutadores das rendas do templo. Tais motivos, por si só, invalidam, moralmente, as mais vultosas dádivas. Os que agiram visando àqueles alvos já receberam a sua recompensa, de acordo com os planos concebidos.

Quanto à viúva, cabe-lhe o mérito da máxima sinceridade com que agiu. Essa virtude é que dá valimento ao seu gesto. Ela considerava a espórtula ao templo como um dever sagrado, portanto imprescindível. A prova do que dizemos está no esforço que fez; mais do que esforço, no sacrifício, visto como se privou do único recurso pecuniário de que dispunha, o qual se destinava ao seu próprio sustento! Seu ato foi, portanto, um ato de santidade, porque de suprema renúncia.

A soma total de todo o ouro, deitado, no decurso dos séculos, no gazofilácio do famoso templo de Jerusalém, não valia, por certo, a excelsitude do sentimento que, do fundo do coração daquela pobre mulher desprotegida, a compeliu a privar-se das suas duas únicas moedinhas, reservadas para atender à mais premente e cruel das necessidades humanas — que é o pão de cada dia.

O Soberano Intérprete da divina justiça costumava computar, no seu julgamento, os valores morais, e não somente os de ordem material, como fazem os homens. Por isso teve em maior estimação a mesquinha oferta da viúva, comparada com a opulenta doação dos ricos: estes, sem nenhum esforço deram uma insignificante parcela do muito que possuíam. O juízo humano se funda no testemunho dos sentidos. O juízo divino se baseia no critério da razão e no senso do coração. A verdade, como disse muito bem Flammarion, não está no que vemos, mas naquilo que escapa à apreciação dos nossos órgãos visuais.

A balança da excelsa justiça não pesou o ouro que os ricos deitaram no gazofilácio, mas sim, o ouro que eles retiveram em seu poder. Estabelecido o confronto, constatou que a dádiva foi exígua. No que respeita, porém, à viúva pobre, a oferta foi maravilhosa, pois que ela havia dado tudo quanto tinha. Quem dá tudo que possui dá o máximo. Não é possível haver dádiva maior. Tal o critério que Jesus empregou ao proferir a sentença: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu mais que todos os ricos.

Pela ordem destas considerações, ou seja, por associação natural de idéias em torno deste episódio evangélico, ocorre-nos à mente um fato que nos vem provar quanto a nossa sociedade vive divorciada dos precípuos elementos de justiça. Queremos nos referir à maneira de aquilatar-se o valor do trabalho, de onde decorre, conseqüentemente, a distribuição da riqueza. Costuma-se dividir o trabalho humano em duas categorias: o intelectual e o manual, isto é, o da inteligência e o dos músculos.
Os primeiros fazem jus a remunerações desproporcionalmente maiores que os últimos. O trabalho intelectual chega, por vezes, à culminância de um valor meramente estimativo, fora de qualquer princípio de equidade, enquanto que o labor dos músculos, quanto mais rude e mais penoso, tanto menos valia representa. Será justa semelhante maneira de julgar o produto da atividade humana? Por que motivo vale muito o esforço intelectual e vale pouco, quase nada, o esforço muscular? Será, talvez por que se empresta uma certa nobreza ao trabalho intelectual? Mas será, acaso, menos elevado ou menos nobre o trabalho manual?

Parece-nos que aqueles que arroteiam o solo, abrindo leiras para receber a semente no milagre cotidiano da multiplicação dos pães, exercem o mais humano e santo dos labores. Demais, o que cumpre considerarmos é a utilidade do trabalho executado. A significação do vocábulo trabalho, segundo os economistas, é a atividade humana empregada na produção de utilidades. Ora, o trabalho dos músculos é tão necessário à sociedade como o da inteligência. Um não é, em rigor, superior a outro, porque ambos os ramos de atividade preenchem as necessidades da vida humana.

Onde, pois, a razão de tamanha disparidade no cômputo que se faz dos produtos manuais em comparação com os intelectuais? A única explicação está em que são os intelectuais que fazem as leis e regulam a sua aplicação na sociedade. Vivemos sob o despotismo da inteligência. Daí procede a iniquidade. Sim, a iniquidade porquanto o lixeiro ou o cavoucador que despende o seu maior esforço e que, como a viúva pobre, dá tudo quanto tem, merece perceber um salário que lhe proporcione, e à sua família, relativo conforto e bem-estar. Eles têm direito à vida e aos legítimos prazeres que refrigeram e amenizam as asperezas da luta cotidiana.

O que Jesus apreciou na dádiva da viúva foi o supremo esforço que ela empregou, despojando-se de tudo que possuía, para atender às solicitações da sua crença. Por isso, e só por isso, as suas duas moedinhas de cobre valiam mais que os punhados de ouro que os nababos daquela época lançaram na arca do templo. Apliquemos este critério no valor que damos ao trabalho, e cheguemos à conclusão de que muito merece aquele que muito se esforça, aquele que faz o melhor que pode no exercício do mister que exerce, seja este de que natureza for.

Em realidade, todo o trabalho é intelectual. Os músculos são dirigidos pela inteligência. Não há labor puramente manual, pois que o homem não é máquina de função mecânica e monótona. Os que exercem os rudes misteres musculares são aqueles cuja inteligência ainda não foi educada suficientemente para lhes proporcionar um trabalho menos árduo e mais compensador.

Neste mundo, dadas as suas condições de planeta atrasado, de mundo expiatório, os que sabem mais se locupletam dos que sabem menos, sendo esta a razão das formidáveis desproporções no aquilatar-se o valor das várias modalidades de trabalho, e, como consequência, da distribuição da riqueza.

E, assim se explica a advertência do Mestre dirigida aos seus discípulos: Se a vossa justiça não for superior à dos escribas e fariseus, não entrareis no reino de Deus. A justiça que vigora neste mundo é justiça de escribas e fariseus, cujos frutos são a miséria, as rivalidades e as guerras.

Vinícius

Do Livro : Na Escola do Mestre

segunda-feira, 26 de abril de 2021

O DISCURSO DE PEDRO - A PROFECIA DE JOEL

 


Mas Pedro, estando em pé com os onze, levantou a voz e disse-lhes: Homens da Judéia e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e prestai ouvidos às minhas palavras. Pois estes homens não estão embriagados, como vós supondes, visto que é ainda a hora terceira do dia; mas cumpre-se o que dissera o profeta Joel:


"E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos mancebos terão visões; e os vossos velhos sonharão; e também sobre os meus servos e minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão.


E mostrarei prodígios em cima no céu e sinais embaixo na Terra; sangue e fogo, vapor e fumo; o Sol se converterá em trevas e a Lua em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do Senhor. E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo". II - v.v. 14-21.


O discurso de Pedro não termina nestes versículos. Continua até o versículo 36. Para não tomar espaço deixamos de transcrever a última parte, recomendando-a à atenção dos leitores , pois em qualquer "Novo Testamento" com facilidade encontrá-la-ão. Nessa parte o Apóstolo lembra aos Israelitas os grandes poderes de Jesus, os prodígios por Ele operados e os sinais que Deus fez por meio d'Ele, bem como o seu crucificamento por mãos de iníquos, a sua ressurreição, a incorruptibilidade de seu corpo, as antigas profecias avisando tudo o que ia suceder, etc.


Pedro foi um dos primeiros discípulos que Jesus escolheu.


Se lermos atentamente os Evangelhos, veremos que esse homem era um excelente médium, intuitivo e inspirado. Já anteriormente ele tomara a palavra e falara inspirado pelo Espírito, em nome dos Doze.


No cap. XVI de Mateus, v.v. 15 e 16, os leitores verão que perguntando o Mestre aos seus discípulos quem diziam eles ser o Filho do Homem, foi Pedro quem falou em nome dos Doze, e falou inspirado pelo Espírito, transmitindo a REVELAÇÃO, sobre a qual Jesus disse que edificaria sua igreja.


Pedro começou o seu discurso citando a profecia de Joel, profecia esta inserta no "Antigo Testamento" e que anuncia os acontecimentos que se realizariam não só naquela época, como, com mais precisão ainda, na em que nos achamos e num futuro próximo.


Essa profecia é bem clara e se verificou no Cenáculo com a produção de línguas estrangeiras, pelos médiuns poliglotas, que em número de cento e vinte ali se achavam. Mancebos tiveram visões, pois viram "as chamas como que línguas de fogo" repousando sobre todos.


Não consta, entretanto, dos "Atos", que os "velhos tivessem sonhos", o que quer dizer que a profecia não foi realizada em sua totalidade.


Mas depois, conforme veremos no decorrer dos nossos estudos, outras manifestações, como curas, etc., foram verificadas, até que chegada à Era Nova, em que nos achamos, têm-se dado manifestações de todo o gênero, como as que temos observado, segundo os relatos transmitidos pelos sábios e experimentadores que, com o auxílio de poderosos médiuns, tão poderosos como os Apóstolos, e talvez mais ainda, têm prestado todo o seu serviço para desmoronar o "templo do materialismo", erguendo sobre a grande pirâmide do Amor, o belo farol da Imortalidade.


Nós cremos, entretanto, que, por ocasião do Cristianismo nascente, muitos médiuns (quantidade inumerável, mesmo) se desenvolveram e foram desenvolvidos, o que levou Paulo a estabelecer regras para o bom sucesso das reuniões que se efetuavam naquela época.


Na Epístola aos Romanos, cap. XII, 4, diz Paulo:


"Pois assim como temos muitos membros em um só corpo, e todos os membros não têm a mesma função; assim nós, sendo muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros. E tendo dons diferentes, segundo a graça que nos foi dada: se é profecia, profetizemos, segundo a proporção da nossa fé; se é ministério, dediquemo-nos ao nosso ministério; ou o que ensina, dedique-se ao que ensina; ou o que exorta, à sua exortação; o que reparte, faça-o com simplicidade; o que preside, com zelo; o que usa de misericórdia, com alegria".


É bastante este trecho para nos deixar ver qual era a vida dos Discípulos e seus atos. Tarefa toda espiritual que não poderia dispensar o auxílio dos Espíritos encarregados de fazer reviver neles as Palavras de Jesus e guiá-los em todas as suas ações. Aí está bem clara a missão do profeta, que deve salientar a profecia.


O Apóstolo da Luz, comparando a diversidade de membros do nosso corpo, cada qual com sua serventia e seu mister, fez ver a diversidade de dons, de faculdades psíquicas, faculdades essas que devem ser orientadas pelos Preceitos do Cristo, que é a cabeça (o Chefe), assim como todos os nossos membros sujeitos estão à cabeça.


Na 1ª aos Coríntios, XII, 4 - 31, o Doutor dos Gentios é ainda mais explícito, mostrando que todas as manifestações são orientadas, ou para melhor dizer, permitidas por Deus. Todos os rios de água viva, aos quais o Mestre se referiu, que manariam do ventre daquele que n'Ele cresse, fazendo alusão ao Espírito que haviam de receber, tinham uma só Fonte que é Deus.


Vamos aproveitar a palavra de tão ilustre Doutor:


"Ora, há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito; e há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor; e há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito para proveito. Porque a um pelo Espírito é dada a palavra de sabedoria; a outro, a palavra de ciência, segundo o mesmo Espírito; a outro, fé, no mesmo Espírito; a outro, dons de curar, em um só Espírito; a outro, operações de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a outro, diversidade de línguas, e a outro a interpretação de línguas; mas todas estas coisas opera um só e o mesmo Espírito, distribuindo a cada um particularmente o que lhe apraz".


O "Dom do Espírito Santo", como dizem as Igrejas, vê-se bem claro que é o dom da mediunidade e comunicação dos Espíritos. Cada médium tem a sua missão: sabedoria, ciência, fé, curas, maravilhas, profecia, línguas, etc., etc. Mas é preciso não esquecer que existem também os que têm o dom de discernimento dos Espíritos. Ora, se existem indivíduos encarregados do discernimento dos Espíritos, e se este dom foi enumerado por Paulo, parece claro e lógico que não é só um Espírito que produz tudo, não é sempre o mesmo Espírito que produz maravilhas, curas, profecias, etc., etc., mas sim, muitos, sendo que há adiantados e atrasados, senão não haveria necessidade de discernimento. Quis Paulo dizer que todos os Espíritos são provenientes de Deus, e não como julgavam os judeus, que os havia por parte do diabo.


Na conclusão do capítulo, Paulo trata da necessidade da unidade espiritual da congregação, repetindo o que havia dito aos Romanos e acrescentando várias considerações elucidativas, muito ao alcance de todos e da compreensão dos que nos lêem.


Depois, porém, de terminado o discurso de Pedro, a multidão que o ouvia perguntou a Pedro e aos Apóstolos, o que se deveria fazer para se tornar cristão. Eles responderam:


"Arrependei-vos e cada um seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão do pecado e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois, para vós é a promessa e para os vossos filhos e para todos os que estão longe e a quantos chamar o Senhor nosso Deus. E os exortava: Salvai-vos desta geração perversa. E os que receberam a palavra foram batizados e foram admitidas naquele dia quase três mil pessoas; e perseveraram na doutrina dos Apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor e muitos prodígios e milagres eram feitos pelos Apóstolos. E todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum e vendiam as suas propriedades e bens e os repartiam por todos, conforme a necessidade de cada um".


Este trecho caracteriza perfeitamente a conversão positiva daquela gente simples e humilde que foi incluída nas fileiras da Nova Doutrina, de abnegação, de humildade, de bondade, de desapego, de amor, que o Cristo havia anunciado, e pela qual não temeu nem recuou à morte afrontosa da cruz.


O batismo de que fala os Atos é o batismo de adoção da Nova Fé. Não se julgue este batismo, nem se o compare com os batismos das Igrejas que desnaturam o Cristianismo, estabelecendo cultos e sacramentos exóticos, que não falam à alma, nem ao coração e só têm servido para produzir incrédulos e fanáticos.


O batismo dos Apóstolos era um sinal que deveria imediatamente produzir outro sinal visível de demonstração de Fé, tornando o indivíduo uma nova criatura, no seu falar, no seu proceder, na sua palavra, nas suas ações e até nos seus pensamentos. Não passava de um sinal, sinal invisível, porque era feito com água que não deixa marca, mas que servia tão somente no indivíduo para dar uma impressão de que tinha necessidade de produzir sinais visíveis da sua regeneração, da sua conversão. A água nenhum valor tinha. Mera exterioridade para satisfazer exigências pessoais, ela não podia representar o batismo de Jesus, ou do Espírito, recomendado por João Batista.


E isto se conclui com toda lógica, lendo-se com atenção o cap. II, v. v. 43 e seguintes, que assinalam o modo de vida dos conversos: "E em cada alma havia temor, e muitos prodígios e milagres eram feitos pelos Apóstolos. E todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum, e vendiam as suas propriedades e bens e os repartiam por todos, conforme a necessidade de cada um".


O batismo produziu neles este sinal visível e os fazia queridos de todos.


Cairbar Schutel