O
IRMÃO DO FILHO PRÓDIGO
"E
o seu filho mais velho estava no campo; e quando veio, e chegou perto da casa,
ouviu músicas e danças." (Lucas 15:25)
A
Parábola do Filho Pródigo, narrada no capítulo 15, versículos
11 a 32, do Evangelho segundo Lucas, é indubitavelmente uma das mais
belas páginas do Livro da Vida. Ela objetiva pulverizar a teoria das
penas eternas e colocar em situação de suma relevância a
infinita misericórdia de Deus.
No
desenvolvimento da parábola, deparamos com a afirmativa de ter o Filho
Pródigo saído de sua casa acumulado de bens, entretanto, malbaratando
aquilo que recebera, dentro em pouco nada possuía e, após muita
luta, corroído pelo remorso e pela fome, viu-se na dura contingência
de regressar ao lar paterno, onde foi recebido com intenso júbilo e com
as mais vivas demonstrações de amor.
A
parábola encerra, no entanto, uma última parte. Descreve o irmão
do Filho Pródigo, o qual, voltando do campo e vendo a festa que o pai
mandara fazer, em regozijo pela volta do seu filho que estava perdido e foi
achado, que estava morto e reviveu, encheu-se de ciúmes e assediado por
um sentimento egoístico, verberou acerbamente o procedimento do pai,
ao qual qualificou de injusto.
O
seu argumento, dirigindo-se ao pai, foi o seguinte: - Eis que te sirvo há
tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito
para alegrar-me com os meus amigos. Vindo porém, este teu filho, que
desperdiçou a tua fazenda com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado.
É
óbvio, na narrativa evangélica, que o Fiho Pródigo representa
aquele que Deus coloca nos caminhos da vida, para o aprendizado comum e que,
por uma razão ou outra, vem a falhar no desempenho das tarefas peculiares
ao seu processos evolutivo.
Em
outras palavras, o Filho Pródigo da Parábola simboliza a parcela
de criaturas humanas que é cumulada de bens para o desempenho satisfatório
de determinada tarefa e que, por invigilância, prevaricação
ou qualquer outro fator, vem a fracassar, retornando ao mundo espiritual sem
ter praticado atos meritórios, mas como um morto que reviveu, dotado
de experiência suficiente para poder prosseguir em sua tarefa ascensional
rumo ao Criador, em vidas futuras, na Terra ou em outras moradas da Casa do
Pai. Tudo isso confirmando o dizer evangélico de que há mais alegria
nos Céus por um pecador que se regenera, do que por noventa e nove justos
que não precisam de arrependimento.
O
irmão do Filho Pródigo, por outro lado, representa a outra parcela
de seres humanos: aqueles que se encastelam nas muralhas dos dogmas, julgando-se
os únicos herdeiros das coisas celestes e os monopolizadores da verdade,
arrogando-se o qualificativo de eleitos ou escolhidos, não tolerando
jamais que os seus irmãos, que eles qualificam de hereges venham a ser
um dia recebidos na Casa do Pai, com o mesmo amor e carinho a eles dispensados.
Esses
homens avocam a si o título de herdeiros do reino de Deus, fazendo-o
simplesmente pelo fato de se assentarem nos bancos das igrejas e templos da
Terra, cumprindo exteriormente as ordenações que suas religiões
prescrevem, revoltando-se intimamente pelo fato de cobrir Deus com o seu infinito
amor todos aqueles que estiveram sobrecarregados nos caminhos da vida, mas que
uma experiência tardia levou de volta ao caminho do bem.
Foi
a atitude egoísta de homens que pensam desse modo que levou o Cristo
a proclamar: "Muitos virão do oriente e do ocidente e assentar-se-ão
ao lado de Abraão, lsaac e Jacó, no Reino dos Céus."
Foi
a demonstração de completa ausência de amor expressada por
esses homens que levou o Cristo a exclamar: - Os publicanos e as meretrizes
entrarão no Reino dos Céus adiante de vós !
Quando
do advento de Jesus Cristo, muitos dos seus contemporâneos se arroganm
o qualificativo de fllhos de Abraão, julgando que isso era o bastante
para lhes garantir pronto acesso aos planos espirituais superiores que eles
acreditavam ser a morada dos antigos profetas e patriarcas, entre eles Abraão,
lsaac e Jacó. No entanto, João Batista, como precursor do advento
de Jesus, disse-lhes, peremptoriamente: Não presumais de vós mesmos,
dizendo: Temos por pai a Abraão, porque eu vos digo que mesmo destas
pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão.
Mesmo
a uma pessoa com o coração empedernido, no decorrrer de muitas
reencarnações Deus faz com que se transmude em Espírito
apto a habitar as moradas reservadas àqueles que souberam realmente seguir
as pegadas dos profetas e dos grandes missionários que já vieram
à Terra.
O
fato de uma pessoa pertencer a esta ou àquela escola religiosa, ser deste
ou daquele pensamento filosófico, desta ou daquela corrente científica,
não é o bastante para que ela se enquadre nas recomendações
de Jesus Cristo atinentes à observância e vivência dos seus
ensinos. É imperioso, acima de tudo, o desprendimento das coisas da Terra,
o abandono dos vícios e, mais do que tudo, a conquista da reforma íntima,
sinônimo de conquista do Reino dos Céus, o que se faz unicamente
pela prática do amor sem limitações.
Paulo
A. Godoy
Livro: O Evangelho Pede Licença
Livro: O Evangelho Pede Licença
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