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sábado, 1 de fevereiro de 2014

EADE: Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita-Livro:1 Módulo:2 'O Cristianismo" Roteiro 23:A IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA E ORTODOXA

MÓDULO II - O CRISTIANISMO
• Retirando-se para Salona, exausto da tarefa governista, ocorre a rebelião militar
que aclama Augusto a Constantino [...]. Junto dele, o Cristianismo ascende à
tarefa do Estado, com o edito de Milão. Emmanuel: A caminho da luz. Cap. 15,
item: Constantino.
• Mas, por volta do ano 381, surge a figura de Teodósio, que declara o Cristianismo
religião oficial do Estado, decretando, simultaneamente, a extinção dos
derradeiros traços do politeísmo romano. Emmanuel: A caminho da luz. Cap.
16, item: Vitórias do Cristianismo.
• A Igreja católica [...], deturpando nos seus objetivos as lições do Evangelho,
se tornou uma organização política em que preponderaram as características
essencialmente mundanas. Emmanuel: Emmanuel. Cap. 3.
• A Igreja Ortodoxa, uma das três grandes divisões do Cristianismo, [...] também
denominada Igreja do Oriente (ou Igreja Ortodoxa do Oriente), designa o grupo
de igrejas que se consideram depositárias da doutrina e do ritual dos padres
apostólicos [guardiões da moral cristã]. Enciclopédia mirador, vol. 11, p.
5969.
IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA E ORTODOXA

Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
1. Igreja Católica Apostólica Romana
Os Anais de Tacitus nos informam que na noite de 18 para 19 de julho do
ano de 64, três quartos da cidade de Roma foram devastados por um incêndio
que só seria dominado seis dias depois. Acusado da autoria do incêndio, o
imperador Nero não só nega como responsabiliza os cristãos pelo atentado.
Assim, na noite de 15 de agosto de 64, vários cristãos são punidos no circo
de Nero — situado no local onde hoje se ergue a basílica de São Pedro —,
reduzidos a tochas vivas que serviram de iluminação à realização dos jogos e
das diversões que se seguiram ao suplício.
A partir desse acontecimento, as perseguições se tornaram corriqueiras
por mais de dois séculos consecutivos, nos governos de Domiciano (81-96) a
Diocleciano (184-302). A despeito dos suplícios e toda a sorte de infelici-dades,
o número de cristãos aumentava, dia após dia, ao longo dos anos. Em meados
do século III, mais de um funcionário do Império é convertido ao Cristianismo.
“Nós enchemos os campos, as cidades, o Fórum, o Senado, o Palácio”, escrevia
o orgulhoso Tertuliano.
É importante considerar que nessa época começou a surgir a palavra
católico associada aos cristãos. O cognitivo católica (ou católico), significando
universal, foi incorporado às ações e aos escritos das igrejas do Ocidente
(romana) e do Oriente (ortodoxa).
O termo “católico’’ foi utilizado antes da era cristã por alguns escritores (Aristóteles,
Zanão, Políbio), com o sentido de universal, oposto a particular. Não aparece na Bíblia
nem no Antigo nem no Novo testamento, embora nela se encontre, como conceito
fundamental, a idéia de universalidade da salvação [...]. Aplicado à Igreja [romana e
ortodoxa], o termo aparece, pela primeira vez, por volta do ano 105 d.C., na carta de
Inácio, bispo de Antioquia, aos erminenses. 6
Os escritores cristãos posteriores passaram a empregar o substantivo
catholica como sinônimo de igreja cristã, associando a essa palavra as idéias
de universalidade geográfica e de unidade de fé. Entretanto, somente com o
concílio ecumênico de Constantinopla (no ano 381) foi, oficialmente, aplicada
às igrejas romana e ortodoxa a designação “católica”. Este qualificativo, considerado
como artigo de fé, assim deve ser entendido e aceito pelos fiéis: Creio
na una, santa, católica e apostólica Igreja. Com a reforma protestante, e pela
determinação do concílio de Trento (em 1571), restringiu-se o significado à
expressão “católica’’, que passou a designar, especialmente, a igreja de Roma.
À denominação “igreja católica’’ acrescentou-se a palavra “romana’’. 6
As primeiras raízes do catolicismo surgem, provavelmente, no governo
do imperador Valeriano (253-260) que promoveu impiedoso ataque contra as
comunidades cristãs, buscando atingir, em especial, os seus líderes religiosos
— bispos, padres e diáconos —, com o propósito de eliminar a fé cristã do
império.
A doutrina cristã, todavia, encontrara nas perseguições os seus melhores recursos de
propaganda e de expansão. Seus princípios generosos encontravam guarida em todos
os corações, seduzindo a consciência de todos os estudiosos de alma livre e sincera.
Observa-se-lhe a influência no segundo século, em quase todos os departamentos da
atividade intelectual, com largos reflexos na legislação e nos costumes. Tertuliano apresenta
a sua apologia do Cristianismo, provocando admiração e respeito gerais. Clemente
de Alexandria e Orígenes surgem com a sua palavra autorizada, defendendo a filosofia
cristã, e com eles levanta-se um verdadeiro exército de vozes que advogam a causa da
verdade e da justiça, da redenção e do amor. 12
O trauma resultante das perseguições impeliu os cristãos a desenvolverem
estratégias que, de certa forma, pudessem neutralizar os constantes ataques de
que eram vítimas. Delineia-se, então, a partir desse período, uma organização
institucional que será conhecida como a monarquia papal. Importa considerar
que a organização da Igreja Católica nos conduz, necessariamente, à organização
da igreja cristã primitiva, em Roma, que, por sua vez, reflete a estrutura
organizacional das sinagogas. Originalmente, a igreja cristã consistia de uma
constelação de igrejas independentes cujos adeptos se «[...] reuniam nas casas
dos membros abastados da comunidade. Cada uma dessas casas contava com
seus próprios líderes, os anciãos ou “presbíteros”. 3
Os membros da igreja eram, na maioria, imigrantes, escravos e pessoas
livres. Essa diversidade cultural favorecia a existência de uma malha de rituais e
de doutrinas confusas e conflitantes, ortodoxas e heréticas (pagãs). Diante desse
panorama – perseguições de um lado, conflitos doutrinários de outro –, foi
natural a aceitação, pelos cristãos de Roma, do “episcopado monárquico”.
Esse episcopado, que antecede a monarquia papal, determinou que a
direção da igreja romana caberia a um bispo, sistema oposto ao existente de
administração da igreja por um colégio de anciãos, comuns nas demais igrejas
cristãs do Império. A administração por parte dos anciãos estava fundamentada
nos preceitos da assembléia (ecklesia), herdados das tradições judaicas. 4
2. O Cristianismo como religião do Estado
No século III, o império Romano estava dilacerado pela guerra civil, pela
epidemia da peste e pela vertiginosa sucessão de imperadores, todos apoiados
num exército esgotado pelos ataques inimigos. A instabilidade política
chegou ao extremo de, em quarenta e sete anos, elevar ao poder vinte e cinco
imperadores.
As forças espirituais que acompanham todos os movimentos do orbe, sob a égide de
Jesus, procuram dispor os alicerces de novos acontecimentos, que devem preparar a
sociedade romana para resgates e para a provação. A invasão dos povos considerados
bárbaros é então entrevista. Uma forte anarquia militar dificulta a solução dos problemas
de ordem coletiva, elevando e abatendo imperadores de um dia para outro. Sentindo a
aproximação de grandes sucessos e antevendo a impossibilidade de manter a unidade
imperial, Diocleciano organiza a Tetrarquia, ou governo de quatro soberanos, com quatro
grandes capitais. Retirando-se para Salona, exausto da tarefa governativa, ocorre a
rebelião militar que aclama Augusto a Constantino [285-337], filho de Constâncio Cloro,
contrariando as disposições dos dois Césares, sucessores de Diocleciano e Maximiano.
A luta se estabelece e Constantino vence Maxêncio às portas de Roma, penetrando a
cidade, vitorioso, para ser recebido em triunfo. Junto dele, o Cristianismo ascende à
tarefa do Estado, com o edito de Milão. 13
A história registra que Constantino foi proclamado imperador na Bretanha,
em 306, enquanto Maxêncio conspirava em Roma. Constantino prosseguiu
com suas campanhas na Gália e entrou em Roma com seu exército em
312, derrotando Maxêncio às margens do rio Tibre. Em 324 fez-se imperador
do Ocidente e do Oriente. Em 330 converteu a cidade grega de Bizâncio em
capital do império, com o nome de Constantinopla (em 1453, sob o domínio
turco, foi rebatizada de Istambul).
Embora não fosse cristão, pois só foi batizado em seu leito de morte, Constantino declarava-
se protetor da Igreja. O Cristianismo foi declarado religião oficial do império.
O Concílio de Nicéia (o primeiro concílio ecumênico) foi convocado pelo imperador e
realizou-se, em 325, numa sala do palácio imperial de veraneio. As conclusões do concílio,
compendiadas no símbolo de fé, foram promulgadas como lei do império. 15
Transformar o Cristianismo em religião foi um ato político do imperador,
amparado por suas percepções psíquicas.
O imperador Constantino era pessoalmente dotado de faculdades mediúnicas e sujeito
à influência dos Espíritos. Os principais sucessos de sua vida [...] assinalam-se por intervenções
ocultas. [...] Quando planejava apoderar-se de Roma, um impulso interior
o induziu a se recomendar a algum poder sobrenatural e invocar a proteção divina,
com apoio das forças humanas. [...] Caiu, então, em absorta meditação das vicissitudes
políticas de que fora testemunha. Reconhece que depositar confiança na “multidão dos
deuses’’ traz infelicidade, ao passo que seu pai Constâncio, secreto adorador do Deus
único, terminara seus dias em paz. Constantino decidiu-se a suplicar ao Deus de seu pai
que prestasse mão forte à sua empresa. A resposta a essa prece foi uma visão maravilhosa,
que ele próprio referia, muitos anos depois, ao historiador Eusébio, afirmando-a
sob juramento e com as seguintes particularidades: “Uma tarde, marchando à frente das
tropas, divisou no céu, acima do sol que já declinava para o ocaso, uma cruz luminosa
com esta inscrição: “Com este sinal vencerás’’. Todo o exército e muitos espectadores, que
o rodeavam viram com ele, estupefatos, esse prodígio. Logo foram chamados ourives e
o imperador lhes deu instruções para que a cruz misteriosa fosse reproduzida em ouro
e pedras preciosas. 2
Foi assim que Constantino, em seu caminho de realizações, consegue
proteger o Cristianismo e os cristãos das perseguições.
Consegue [...] levar a efeito a nova organização administrativa do Império, começada no
governo de Dioclesiano, dividindo-o em quatro Prefeituras, que foram as do Oriente,
da Ilíria, da Itália e das Gálias, que, por sua vez, eram divididas em dioceses dirigidas
respectivamente por prefeitos e vigários. [...] Findo o reinado de Constantino, aparecem
os seus filhos, que lhe não seguem as tradições. [...] Mas, por volta do ano 381, surge a
figura de Teodósio, que declara o Cristianismo religião oficial do Estado, decretando,
simultaneamente, a extinção dos derradeiros traços do politeísmo romano. É então
que todos os povos reconhecem a grande força moral da doutrina do Crucificado, pelo
advento da qual milhares de homens haviam dado a própria vida no campo do martírio
e do sacrifício. 16
3. A monarquia papal
Durante o governo de Constantino os bispos de Roma alcançaram um
prestigio jamais imaginado.
Eles [...] se tornaram celebridades comparáveis aos mais prestigiados senadores da cidade.
Era de se esperar que os bispos de todo o mundo romano assumissem, agora, o papel de
juízes, governadores, enfim, de grandes servidores do Estado. [...] No caso do bispo de
Roma, tais funções se tornavam ainda mais complexas, pois se tratava de liderar a Igreja
numa capital pagã que era o centro simbólico do mundo, o foco do próprio sentido de
identidade do povo romano. Constantino lavou as mãos com relação a Roma, em 324,
e tratou de criar uma capital no Leste. Caberia aos papas criar uma Roma cristã. Eles
deram início a tal empreendimento construindo igrejas, transformando os modestos
tituli (centros eclesiásticos comunitários) em algo mais grandioso e criando edifícios
novos e mais públicos, se bem que a princípio em nada rivalizassem com as grandes
basílicas imperiais de Latrão e de São Pedro [esta mandada construir por Constantino].
Nos cem anos seguintes, as igrejas se espalharam pela cidade [...]. 5
Emmanuel, na obra A caminho da luz, nos esclarece o seguinte:
A [...] indigência dos homens não compreendeu a dádiva do plano espiritual, porque,
logo depois da vitória, os bispos romanos solicitavam prerrogativas injustas sobre os
seus humildes companheiros de episcopado. O mesmo espírito de ambição e de imperialismo,
que de longo tempo trabalhava o organismo Império, dominou igualmente a
igreja de Roma, que se arvorou em suserana e censora de todas as demais do planeta.
Cooperando com o Estado, faz sentir a força das suas determinações arbitrárias. Trezentos
anos lutaram os mensageiros do Cristo, procurando ampará-la no caminho do
amor e da humildade, até que a deixaram enveredar pelas estradas da sombra, para
o esforço de salvação e experiência, e, tão logo a abandonaram ao penoso trabalho de
aperfeiçoar-se a si mesma, eis que o imperador Focas favorece a criação do Papado, no
ano 607. A decisão imperial faculta aos bispos de Roma prerrogativas e direitos até então
jamais justificados. Entronizam-se, mais uma vez, o orgulho e a ambição da cidade dos
Césares. Em 610, Focas [imperador romano que viveu entre 602 e 610] é chamado ao
mundo dos invisíveis, deixando no orbe a consolidação do Papado. 15
4. A tradução da Bíblia para o latim
Aproveitando-se das costumeiras disputas políticas existentes entre as
igrejas do Ocidente e as do Oriente, e desejoso de estabelecer a hegemonia do
Cristianismo, segundo as orientações da igreja de Roma, o papa Dâmaso deter345
mina ao seu secretário que traduza para o latim a Bíblia, pois, no seu entender,
‘’era necessário que a Igreja do Ocidente se tornasse latina’’.
O secretário de Dâmaso era Eusebius Hieronymus Sophronius, embora
fosse mais conhecido na igreja por Jerônimo. Ele foi treinado nos clássicos
em latim e grego e repreendia severamente a si mesmo por sua paixão pelos
autores seculares. Jerônimo já havia se tornado um dos maiores estudiosos na
época em que começou a trabalhar para Dâmaso. Desse modo, Dâmaso sugeriu
que seu secretário produzisse uma tradução latina da Bíblia, que eliminasse as
imprecisões das traduções mais antigas. 5
Em 382 Jerônimo inicia a sua obra, terminando a tradução em 405, não
sendo esta, porém, a única.
Durante aqueles 23 anos, ele também produziu comentários e outros escritos. [...] Jerônimo
começou sua tradução trabalhando a partir da Septuaginta, versão grega do Antigo
Testamento. Porém, logo estabeleceu um precedente para todos os bons tradutores do
Antigo Testamento: passou a trabalhar a partir dos originais em hebraico. Jerônimo
consultou muitos rabinos e procurava com isso atingir um alto grau de perfeição. Jerônimo
ficou surpreso com o fato de as Escrituras hebraicas não incluírem os livros que
chamamos hoje apócrifos. Por terem sido incluídos na Septuaginta, Jerônimo foi compelido
a incluí-los também em sua tradução, mas deixou sua opinião bastante clara: eles
eram liber ecclesiastici (livros da igreja), e não liber canonici (livros canônicos). Embora
os canônicos pudessem ser usados para a edificação, não poderiam ser utilizados para
estabelecer doutrina alguma [...]. 1
A biblioteca divina, termo pelo qual Jerônimo se referia à Bíblia, foi finalmente disponibilizada
em uma versão precisa e muito bem escrita, na linguagem usada comumente
nas igrejas do Ocidente. Ficou conhecida por Vulgata (do latim vulgus, comum). [...]
Ironicamente, a tradução da Bíblia no idioma que toda a igreja ocidental pudesse usar,
provavelmente, fez com que a igreja tivesse um culto de adoração e uma Bíblia que nenhum
leigo podia entender [...]. 15
5. As cruzadas
As Cruzadas, tradicionalmente, são conhecidas como expedições de caráter
militar, mas que foram organizadas pela Igreja, com o objetivo de combaterem
os inimigos do Cristianismo. Esse movimento teve início no final do século XI
e se estendeu até meados do século XIII. Os Espíritos superiores relatam que
esse processo começou, na verdade, em séculos anteriores onde a vaidade e o
orgulho contaminaram os responsáveis pelo catolicismo.
Em todo o século VI, de acordo com as deliberações efetuadas no plano invisível, aparecem
grandes vultos de sabedoria, contratando a vaidade orgulhosa dos bispos católicos,
que em vez de herdarem os tesouros da humildade e amor do Crucificado, reclamam
para si a vida suntuosa, as honrarias e prerrogativas dos imperadores. Os chefes eclesiásticos,
guindados à mais alta preponderância política, não se lembravam da pobreza
e da simplicidade apostólica, nem das palavras do Messias, que afirmara não ser o seu
reino ainda deste mundo. 18
O movimento cristão passa então a contar com uma série de modificações,
fundamentadas nas interpretações pessoais dos padres que procuravam adequar
a religião cristã aos seus interesses.
O Cristianismo [...] não aparecia com aquela mesma humildade de outros tempos. Suas
cruzes e cálices deixavam entrever a cooperação do ouro e das pedrarias, mal lembrando
a madeira tosca, da época gloriosa das virtudes apostólicas. Seus concílios, como os de
Nicéia, Constantinopla, Éfeso e Calcedônia, não eram assembléias que imitassem as
reuniões plácidas e humildes da Galiléia. A união com o Estado era motivo para grandes
espetáculos de riqueza e de vaidade orgulhosa, em contraposição com os ensinos
dAquele que não possuía uma pedra para repousar a cabeça dolorida. As autoridades
eclesiásticas compreendem que é preciso fanatizar o povo, impondo-lhe suas idéias e
suas concepções, e, longe de educarem a alma das massas na sublime lição do Nazareno,
entram em acordo com a sua preferência pelas solenidades exteriores, pelo culto fácil
do mundo externo, tão do gosto dos antigos romanos pouco inclinados às indagações
transcendentes. 17
Dessa forma, com a expansão muçulmana, entre 622-1089, iniciam-se
as cruzadas, guerra religiosa estabelecida para combater, inicialmente, os seguidores
do Islã, mas que atingiu todos os povos não-cristãos, cognominados
infiéis. As cruzadas foram em número de oito.
A primeira, decidida no concílio de Clemont, sob a direção do papa Urano
II, em abril de 1096, foi comandada por Pedro, o Eremita, e Gautier Sans
Avoir, produzindo o massacre dos judeus na Renânia. A segunda, realizada em
14 de dezembro de 1145, por ordem do papa Eugénio III, é coordenada pelo
rei da França Luis VII e pelo imperador alemão Conrado III. Surge a figura
muçulmana de Saladino, que muito trabalho deu aos cruzados. A terceira cruzada
foi organizada em 1188, por Frederico Barba-Roxa, imperador alemão,
Filipe Augusto, rei de França, e Ricardo Coração de Leão, rei da Inglaterra, a
pedido do papa Gregório VIII. A quarta cruzada, proclamada em 1198 pelo
papa Inocêncio III, é dirigida por Bonifácio I de Montferrat e Balduíno IX de
Flandres. A quinta cruzada inicia-se em 1215, após apelo do papa Inocêncio III,
no quarto concílio de Latrão. Foi dirigida por João de Brienne, rei de Jerusalém
e André II, rei da Hungria. A sexta cruzada, sob o domínio do papa Gregório
IX, começa em novembro de 1225, tendo como comandante o imperador
Frederico II, de Hohenstaufen. A sétima cruzada é decidida no concílio de
Lyon, em 1248, e tem o comando do rei francês Luís IX (São Luis). A última
cruzada, iniciada em março de 1270 , também é comandada por Luís IX, mas
o exército cruzado, em três meses, é arrasado pela peste, e o que sobrou, foi
dizimado por uma tempestade. 19
A igreja de Roma, [...] herdando os costumes romanos e suas disposições multisseculares,
procurou um acordo com as doutrinas consideradas pagãs, pela posteridade, modificando
as tradições puramente cristãs, adaptando textos, improvisando novidades injustificáveis
e organizando, finalmente, o Catolicismo sobre os escombros da doutrina deturpada. [...]
É assim que aparecem novos dogmas, novas modalidades doutrinárias, o culto dos ídolos
nas igrejas, as espetaculosas festas do culto externo, copiados quase todos os costumes
da Roma anticristã. 15
6. Igreja Católica Apostólica Ortodoxa
Nos começos do Cristianismo havia cinco Patriarcas. Cada um deles era o cabeça de
um centro de expansão da nova fé, e cada um deles tinha como função expandir o cristianismo
numa certa direção geográfica. Primeiro o Patriarca de Jerusalém, no Centro,
onde Jesus morreu e ressuscitou. Ao norte, o Patriarca de Constantinopla. Ao sul, o
Patriarca de Alexandria, no Egito. Ao Oriente, o Patriarca de Antioquia. E a Ocidente,
o Patriarca de Roma. 20
O Patriarca de Roma, nos séculos posteriores, passou a ser chamado de
Papa. A Igreja Ortodoxa, uma das três grandes divisões do Cristianismo, «[...]
também denominada Igreja do Oriente (ou Igreja Ortodoxa do Oriente), designa
o grupo de igrejas que se consideram depositárias da doutrina e do ritual
dos padres apostólicos [guardiões da moral cristã].» 9 Foram eles: Clemente de
Roma, Inácio de Antioquia, Policarpo de Esmirna, Hermes de Roma e Barnabé
de Alexandria.
Representando a fé histórica da cristandade oriental a Igreja Ortodoxa é mais limitativa
do que as Igrejas orientais, não somente por excluir os cristãos orientais que se reuniram
à Igreja Católica Apostólica Romana uniatas, como também por não compreender as
Igrejas que se separaram no século V por motivos doutrinários (nestorianismo, monofisismo).
Oficialmente chamada Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, ou Igreja grega, em
oposição à Igreja latina, católica e romana. A Igreja Ortodoxa abrange os grupos que
se originaram do grande cisma de 1054 e que dependem historicamente de Bizâncio
(Constantinopla). 9
As igrejas orientais se subdividem, por sua vez, em três grupos: a Ortodoxa
do Oriente, as igrejas nestorianas e as dos monofisistas. As igrejas orientais,
embora se aglutinem em torno da igreja Romana, apresentam diferenças quanto
aos ritos e às normas disciplinares.
As igrejas orientais nestorianas têm como base as interpretações de Nestor
(ou Nestório), patriarca de Constantinopla no ano de 428. Nestor afirmava
que em Jesus havia dois “Eu” ou duas pessoas: uma divina, com a sua natureza
divina, e outra, humana, com a sua natureza humana.
Ele rejeitava a utilização do termo Theotokos, uma palavra muito usada para referir-se
a Maria e que significa literalmente Mãe de Deus. Nestor se opôs ao termo não porque
exaltasse a pessoa da Virgem Maria, mas porque abordava a divindade de Cristo de tal
maneira que poderia ofuscar sua natureza humana. Para solucionar o problema Nestor
sugeriu um novo termo – Cristotokos (Mãe de Cristo), querendo com isso afirmar que
Maria não era progenitora da divindade mas apenas da humanidade de Cristo. A discussão
promoveu intrigas e manobras políticas que terminaram na convocação do terceiro
concílio ecumênico, que ocorreu em Éfeso no dia 7 de junho de 431. A polemica ficou
mais uma vez em torno dos alexandrinos e antiocanos, estes apoiavam Nestor enquanto
os primeiros se opuseram fortemente. O concílio terminou em 433 com parecer favorável
a Alexandria, quando o patriarca de Constantinopla foi exilado e posteriormente
transferido para um oásis no deserto do Líbano onde ficou até o fim de sua vida. O
termo Theotokos, designado a Virgem Maria, se tornou dogma da igreja, como sinal de
ortodoxia, tanto para a igreja do oriente quanto à do ocidente. 21
Os monofisistas representavam uma corrente — ainda relativamente
numerosa nos dias atuais — de teólogos cristãos, dirigida por Dióscoro de
Alexandria, que propôs (século quinto) uma doutrina contrária à de Nestor:
que em Jesus haveria um só Eu divino e uma só natureza divina. A sua tese foi
rejeitada, em 451, pelo Concílio de Calcedônia, que decretou: em Jesus há uma
só Pessoa Divina, ou um só Eu, mas duas naturezas (a divina e a humana). 22
Historicamente, essas igrejas têm origem nas comunidades cristãs de Antioquia,
Alexandria, Corinto e Tessalônica. A cisão, ocorrida definitivamente
no século XI, se deu pelo fato de os cristãos orientais não aceitarem a supremacia
dos bispos de Roma, quando a sede do Império romano foi transferida
para Constantinopla, no ano 330. As divergências se acentuam doutrinária
e politicamente, sobretudo nos séculos V e VI. Após o segundo concílio de
Nicéia (em 787), os orientais não aceitam mais o ecumenismo dos concílios, o
celibato dos padres nem a santíssima trindade. 10
A hierarquia sacerdotal é composta de diáconos, padres, bispos, arcebispos,
metropolitas e patriarcas. O celibato é obrigatório apenas para os bispos, não
para os padres, embora o casamento deva ocorrer antes da ordenação. A Igreja
Ortodoxa tem claustros e monges. Costuma ser chamada de Igreja da Ressurreição,
porque dá ênfase à ressurreição do Cristo, em suas prédicas. Tem sete
sacramentos e acredita no Dia do Juízo Final. Os serviços religiosos atraem a
curiosidades popular pela beleza que oferecem. As igrejas são construídas como
o Templo de Salomão, em Jerusalém: há um vestíbulo com a pia batismal; a
nave, onde a congregação permanece durante o ofício religioso; o santuário,
oculto atrás de um biombo, e que corresponde ao «Santo dos santos» do templo
judaico. Apenas o padre tem permissão de entrar no santuário. Durante o serviço
religioso a congregação pode ver, a distância, o santuário. O biombo que
oculta o santuário se chama iconostas (parede de imagens), porque é coberto
de pinturas religiosas, ou ícones, típicos da Igreja Ortodoxa. 11
350
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
1. CURTIS. A. Kenneth, J. Stephen Lang, Randy Petersen. Os 100 acontecimentos
mais Importantes da história do cristianismo. Tradução de Emirson
Justino. 1 ed. São Paulo: Editora Vida, 2003. Ano 405, p. 51-52.
2. DENIS, Léon. Cristianismo e espiritismo. Tradução de Leopoldo Cirne. 12.
ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Cap. 5 (Relação com os espíritos dos mortos),
p. 63-64.
3. DUFY, Eamon. Santos e pecadores; história dos papas. Tradução de Luiz
Antônio Araújo.São Paulo: Cosac e Naify, 1998. Cap. 1 (Sobre esta pedra),
item 1: de Jerusalém a Roma, p.6.
4. _______. Item 2: Os bispos de Roma, p.9.
5. _______. Item 4: O nascimento da Roma papal, p. 28-29.
6. ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL. São Paulo, 1995. Vol.
5. Itens 1 e 2, p. 2176.
8. ______. Item 11, p. 2178.
9.______. Vol. 11, p 5969.
10.______. p. 5969-5970.
11. HELLEN, V., NOTAKER, H. E GAARDER,J. O livro das religiões. Tradução
de Isa Mara Lando. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, item:a igreja
ortodoxa, p.191-194.
12. XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel.
34. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 15 (A evolução do Cristianismo),
item: Os apologistas, p. 135-136.
13. ______. Item: Constantino, p. 137.
14. ______. Item: o papado, p.138.
15. ______. Cap. 16 (A Igreja e a invasão dos bárbaros), item: vitórias do
Cristianismo, p. 139-140.
16. ______. item: Primórdios do catolicismo, p. 140-141.
17 . ______. Item: A igreja de Roma p.141-142.
18. ______. cap. 17 (A idade medieval), item: Os mensageiros de Jesus, p.
147
19. http://www.arqnet.pt/portal/universal/cruzadas/
20. http://www.eduquenet.net/ritoscristianismo.htm
21. http://pt.wikipedia.org/wiki/Nest%C3%B3rio
22. 18 http://www.veritatis.com.br/artigo.asp?pubid=1670
REFERÊNCIAS

EADE: ESTUDO APROFUNDADO DA DOUTRINA ESPÍRITA-LIVRO:1-MÓDULO 2-ROTEIRO -22 " A IGREJA CRISTÃ PRIMITIVA"

MÓDULO II - O CRISTIANISMO
• De uso especificamente cristão, adotado pelas comunidades cristãs logo no seu
início, o termo “igreja” certamente queria dizer mais do que “reunião”, uma vez
que assinalava a diferença entre os adeptos que viam Jesus como Messias e os
judeus que não o aceitavam. Enciclopédia Mirador, vol. 11, p. 5962.
• Desde a fundação da igreja primitiva, em Jerusalém, percebe-se a existência
de duas correntes religiosas. Ambas aceitavam a aplicação da lei de Israel aos
cristãos de origem judaica, divergindo, no entanto, quanto à sua aplicação aos
gentios, convertidos ao Cristianismo.
• O Evangelho do Divino Mestre ainda encontrará, por algum tempo, a resistência
das trevas. A má-fé, a ignorância, a simonia, o império da força conspirarão
contra ele, mas tempo virá em que a sua ascendência será reconhecida.
Emmanuel: Emmanuel, cap. II.
A IGREJA CRISTÃ PRIMITIVA
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
Introdução
A palavra “igreja” (do grego ekklesia e do latim ecclesia). Significa uma
assembléia que se reúne por força de uma convocação.
De uso especificamente cristão, adotado pelas comunidades cristãs logo no seu início, o
termo “igreja” certamente queria dizer mais do que “reunião”, uma vez que assinalava a
diferença entre os adeptos que viam Jesus como Messias, e os judeus que não o aceitavam.
O vocábulo relacionava-se com expressões do AntigoTestamento, sobretudo com
a palavra hebraica “gahal” (assembléia, congregação, multidão), que a versão grega dos
setenta (a septuaginta) traduz quase sempre para ekklesia. 2
A palavra ekklesia, porém, tem origem no Judaismo.
No Novo Testamento, onde ocorre cerca de 114 vezes (das quais 65 nas epístolas de são
Paulo), mostra a sua correlação histórica e lingüística com o judaísmo; a sua freqüência,
porém, corresponde ao desenvolvimento próprio e original de uma nova instituição —
cujo ponto de referência é agora Jesus de Nazaré, chamado o Cristo —, significa uma
ruptura com uma situação anterior [...]. De modo geral, a ekklesia para o Novo Testamento
foi essencialmente a vivência da fé dos primeiros grupos cristãos. Trata-se, no
início, de expressar a unidade no amor em vista da instauração do reino e do advento
iminente do Senhor. Cada igreja primitiva institucionalizava-se progressivamente em
função de condições concretas, em grande parte de significado local [...]. 2
É nítida a mudança de conceito de igreja nas epístolas de Paulo, indo
desde o significado elementar de assembléia ou reunião, evoluindo para o de
comunidade ou grupo, de forma concreta, até chegar ao sentido teológico de
SUBSÍDIOS
MÓDULO II
Roteiro 22
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 22 - A igreja cristã primitiva
que Cristo é a cabeça do corpo que é a própria Igreja. (Epístola aos Colossenses,
1:18, 24).
Em Mateus, o conceito de uma Igreja estruturada parece evidente e é coerente com a “teologia
do povo” elaborada pelo evangelista. A idéia de ruptura com a oficialidade judaica
está claramente expressa na parábola dos viticultores homicidas. 2 (Mateus, 21:33-45)
Neste aspecto, a expressão o “reino dos céus” é retirado de um povo — o
judeu — e entregue a uma nova humanidade, formada de judeus e gentios.
João utiliza a palavra igreja de maneira diversa em seus escritos (evangelho,
epístolas e apocalipse). Apresenta um significado simbólico, mais espiritualizado,
de união com Jesus. Os cristãos são, para o apóstolo, testemunhas da mensagem
do Cristo. Somente em Atos dos Apóstolos iremos encontrar a palavra
igreja no sentido de um grupo de pessoas que se reúnem e que professam a fé
cristã. (Atos dos Apóstolos, 6:1-6; 15:22)
1. A igreja primitiva
A igreja primitiva começa com a fundação da igreja de Jerusalém, após o
pentecostes; abrange, em seguida, o trabalho realizado pelos doze apóstolos e
seus discípulos na difusão do Cristianismo, inclusive as atividades desenvolvidas
por Paulo; atravessa o período de grandes provações que os cristãos sofreram
durante a perseguição do estado imperial romano e se completa no início da
Idade Média com a constituição da igreja apostólica romana (Ocidental) e a
ortodoxa (Oriental).
A era apostólica é obscura, pois não há muitas informações a respeito. De
concreto, temos as informações de Lucas, inseridas em Atos dos Apóstolos.
A documentação existente sobre a igreja primitiva focaliza dois personagens:
Pedro e Paulo. Inegavelmente, muitas das informações que chegaram até nós
deve-se ao trabalho de Paulo. Percebe-se que, desde a constituição das primeiras
comunidades, as divergências entre os adeptos foram marcantes. Construíram
grupos separados e, muitos deles, rivais.
Logo após o martírio de Estevão a relativa paz dos cristãos foi perturbada por uma cruel
perseguição movida por Herodes Agripa I, em 44 d.C. O apóstolo Tiago foi decapitado,
enquanto Pedro era preso, o que o levou, posteriormente, a afastar-se de Jerusalém [...]. 3
Há fortes evidências de que tanto Pedro quanto Paulo tenham sido mar330
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
tirizados em Roma, na época de Nero, na grande perseguição ocorrida no ano
64. No ano 100 morre o apóstolo João, possivelmente.
Desde a fundação da igreja primitiva, em Jerusalém, percebe-se a existência
de dois partidos religiosos.
Ambos aceitavam a aplicação da lei de Israel aos cristãos de origem judaica, divergindo
quanto à sua aplicação aos conversos do paganismo. Paulo afirmava que os cristãosgentios
deviam gozar de liberdade quanto à lei antiga, uma vez que não estavam a ela
obrigados. Tal problema, que se torna mais agudo com o estabelecimento da Igreja em
Antioquia, em Chipre e na Galácia, provocou a interferência do apóstolo Paulo, que se
reuniu com os líderes da Igreja em Jerusalém, onde se realizou um Concílio, de que não
resultaram possibilidades de acordo. Paulo, favorável a um cristianismo não-legalista,
passa a trabalhar em favor de uma Igreja universal, tornando-se um fundador de uma
teologia cristã. 3
Importa considerar que não existia, nos primeiros tempos do Cristianismo
nascente, uma coesão doutrinária entre os cristãos. As primeiras pregações
caracterizavam-se por depoimentos sobre a pessoa e os ensinamentos do Cristo.
Com a crucificação e ressurreição de Jesus, surge um novo elemento doutrinário:
o espírito santo, manifestado no dia de pentecostes. (Atos dos Apóstolos,
4,8-12) Com o pentecostes, começa, então, a expansão do Cristianismo para
o mundo pagão, a partir do foco inicial de Jerusalém. Os principais eventos
dessa expansão podem ser resumidos em dois:
• Fundação em Antioquia (Síria) de uma nova comunidade que acabou
por se transformar em um centro de divulgação da religião helenista, base da
organização da futura Igreja Católica Ortodoxa (Oriental). Foi nessa igreja que,
pela primeira vez, os galileus (Atos dos Apóstolos, 1:11) ou nazarenos (Atos
dos Apóstolos, 24:5) foram chamados de cristãos.
• Constituição do Cristianismo, em Roma, pelos judeus da diáspora
presentes aos acontecimentos de pentecostes. (Atos dos Apóstolos, 2:10)
No primeiro século da cristandade os conquistadores romanos não
fazem diferença entre cristãos e judeus, porém, quando começam a ter essa
percepção, institucionalizam as perseguições. Desta forma, a vida do cristão
se revelou muito difícil, uma vez que a nova religião era perseguida tanto por
judeus — que viam no Cristianismo uma grande ameaça aos privilégios dos
doutores da lei judaica — quanto pelos romanos, que não conseguiam aceitar
uma religião que pregava a liberdade, o respeito à dignidade do ser humano e

Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
o amor e o perdão como regras de conduta moral.
As classes mais abastadas não podiam tolerar semelhantes princípios de igualdade, quais
os que preconizavam as lições do Nazareno, considerados como postulados de covardia
moral, incompatíveis com a orgulhosa filosofia do Império, e é assim que vemos os cristãos
sofrendo os martírios da primeira perseguição, iniciada no reinado de Nero de tão
dolorosas quão terríveis lembranças. 7
Os cristãos, em conseqüência, passaram a viver longos períodos de tempo
às escondidas, mas preservando a união entre eles. Possuíam um sentimento
de irmandade, caridade e fé, inegavelmente muito maior do que se percebe no
cristão de hoje.
2. Os pais da Igreja
“Pais” ou “padres” foram, na Antigüidade, os guardiões da mensagem
cristã. Mais tarde, a expressão foi substituída por “patriarcas” e, na Idade Média,
por “doutores da Igreja”.
2.1 – Os pais apostólicos
São representados pelos doze apóstolos e por dedicados discípulos de Jesus,
como Paulo e Lucas. Historicamente, abrange os anos do primeiro século
da Era Cristã, de 30 a 100, fechando, possivelmente, com a morte de João, em
Éfeso, o último dos apóstolos a retornar ao mundo espiritual. As principais
características deste período são a difusão do Cristianismo e a construção da
igreja cristã. Além dos apóstolos, destaca-se, no Ocidente, a figura de Clemente
de Roma, e no Oriente, as de Inácio, Policarpo, Barnabé, Papias e Hermas.
Surge o Didaquê, uma espécie de catecismo, com prescrições litúrgicas para
o batismo, preceitos sobre o jejum, a oração e o dia de domingo. A tradição
apostólica de Hipólito, também deste período, trata dos ofícios e ministérios
na comunidade, como eleição e sagração de bispos e ordenação de presbíteros
e diáconos. 6
2.2 - Os apologistas
Compreende o período de 120 a 220 da Era Cristã, segundo e terceiro
séculos, respectivamente. Os apologistas foram pensadores cristãos que se
dedicavam à tarefa de escrever apologias do Cristianismo, com o intuito de
defendê-lo. Era preciso, nessa época, defender a doutrina cristã nascente de três
correntes distintas, que lhe faziam oposição: a religião judaica, o estado romano
332
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita

EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
e a filosofia pagã. Contra os judeus, era necessário afirmar, argumentativamente,
o messianismo de Jesus Cristo. Contra os romanos, era preciso convencer
o imperador quanto ao direito de legalização da prática do Cristianismo dentro
do Império, e contra os filósofos pagãos, a tarefa dos apologistas era a de
apresentar a religião cristã como uma verdade total, ao contrário dos erros ou
verdades parciais presentes, segundo esses autores, na filosofia helenística. Os
apologistas criaram um tipo de literatura denominada apologética, de cunho
científico e filosófico. Tertuliano se destaca, no Ocidente. Justino, o Mártir,
Taciano, Teófilo, Aristides e Atenágoras, no Oriente. 6
2.3 – Os polemistas
Os polemistas defendiam as idéias cristãs contra as várias doutrinas que
marcaram o período compreendido entre os anos 180 e 250 d.C. A principal
doutrina combatida por eles foi o gnosticismo, interpretação filosófica que
tem como base os ensinamentos de filósofos gregos, especialmente os neoplatônicos.
O gnosticismo se desenvolveu em mais de 30 sistemas diferentes,
mas quase todos eles tratam da oposição entre fé e razão, misturando conceitos
da filosofia grega com preceitos da cultura oriental e do Cristianismo. Os
polemistas mais proeminentes pertenciam à Escola de Alexandria, tais como:
Atanásio, Basílio de Cesaréia e Cirilo. 6
2.4 - Os teólogos científicos
Os teólogos científicos aparecem no quarto século (325 - 460) e têm a
intenção de explicar a Bíblia por meio da Ciência. Parece ser a primeira tentativa
de unir a Religião e a Ciência, ou a fé à razão. Os temas Deus, criação
dos seres, dos Espíritos e do universo são estudados de forma racional. São
vultos proeminentes deste grupo: no Ocidente, Jerônimo, Ambrósio e Agostinho.
No Oriente, Crisóstomo e Teodoro. Em Alexandria, Atanásio, Basílio
de Cesaréia e Cirilo. 6
3. Deturpações na mensagem cristã
Se, por um lado a integração do Cristianismo ao Estado livrara os cristãos
das perseguições, por outro obrigava a Igreja Cristã a fazer concessões
políticas que, como sabemos, se responsabilizaram pela desconfiguração da
mensagem cristã.
As fronteiras ideológicas do Cristianismo tornavam-se frágeis e se diluíam em tendências

Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
heterogêneas. Estas, ao se afirmarem, criaram uma confrontação inevitável entre as múltiplas
interpretações doutrinárias e as várias tradições cristãs. Como todas as correntes
reivindicavam a legitimidade apostólica, tratava-se de definir o que estaria de acordo
ou contra a pregação tradicional dos Apóstolos. Essa confrontação veio a caracterizar a
divisão entre elementos ortodoxos e heterodoxos no pensamento cristão elaborado. 6
No final do século I, a própria constituição da Igreja modificara-se substancialmente
e as primeiras formas litúrgicas aparecem, assim como o ascetismo
e o legalismo. Nesse mesmo período, a Igreja estava presente na Ásia Menor,
na Síria, na Macedônia, na Grécia, em Roma e talvez no Egito. Se por um lado
o Cristianismo se expandia geograficamente através da vivência das igrejas
organizadas, por outro perdia em profundidade [...]. 4
O ascetismo, entendido como uma prática filosófica ou religiosa, de desprezo
ao corpo e às sensações corporais, e que tende a assegurar, pelos sofrimentos
físicos, o triunfo do Espírito sobre os instintos e as paixões, revelou-se
como uma forma deprimente de viver o Cristianismo. O ascetismo, surgido
na igreja primitiva, serviu de base para o monasticismo, estabelecido nos
séculos posteriores. «Por trás do movimento monástico, achava-se o zeloso
cristão empenhando-se fervorosamente para conseguir a união de sua alma
com Deus [...].» 5
O ascetismo preconizava, e preconiza, uma vida solitária, de completa
renúncia às atividades existentes no mundo material, e aceitação voluntária
de privações e sofrimentos.
O [...] impulso para o ascetismo e o monasticismo não é peculiar ao Cristianismo [igrejas
cristãs]. Aparece em outras religiões, tanto antes como depois do tempo de Cristo, e entre
alguns indivíduos que não professam qualquer religião. No terceiro e quarto séculos,
outras influências deram acrescida força ao impulso para o ascetismo e o monasticismo
e levaram esses ideais a uma realização prática. Uma delas foi a influência das filosofias
dualistas do gnosticismo e do neoplatonismo [...]. 5
O legalismo é definido como um conjunto de regras ou preceitos rigorosos
que contrariam a vivência pura e simples de qualquer interpretação religiosa,
inclusive a cristã. O legalismo, em qualquer época, representa uma forma de
escravidão, que conduz ao fanatismo, e, sobretudo, afasta o homem da prática
da caridade. A seguinte passagem do Evangelho mostra o que Jesus tinha a
dizer sobre o legalismo judaico: “partindo dali, entrou na sinagoga deles. Ora,
ali estava um homem com a mão atrofiada. Então lhe perguntaram, afim de
acusá-lo: é lícito curar nos sábados?” Jesus respondeu: “quem haverá dentre

Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
vós que, tendo uma ovelha, e caindo ela numa cova em dia de sábado, não vai
apanhá-la e tirá-la dali? Ora, um homem vale muito mais do que uma ovelha!
Logo, é lícito fazer bem aos sábados.” (Mateus 12:9-12)
A hegemonia da Igreja de Roma, em relação à de Constantinopla, concedeu
àquela poder suficiente para se transformar numa monarquia papal. Se
na Idade Antiga os principais acontecimentos da história da Igreja se deram
no Mediterrâneo e no Oriente, na Idade Média os centros mais importantes
localizam-se na Itália, França, Inglaterra e Alemanha. A razão histórica é a
invasão islâmica no mediterrâneo e a adoção do Cristianismo pelos povos
germânicos e eslavos.
Em conseqüência, surgem no campo doutrinário sérias deturpações da
mensagem cristã pela incorporação de rituais pagãos, de preceitos filosóficos
e de deliberações conciliares, de natureza cada vez mais políticas e menos
evangélicas. Os principais desvios ocorridos na igreja primitiva foram:
• Trindade divina: é uma crença de que Deus é formado por uma trindade
representada como o Pai, o Filho e o Espírito Santo, sendo cada uma expressão
da perfeição.
• A natureza divina e humana de Jesus: como homem, Jesus era filho de
uma virgem e padeceu os martírios da crucificação. Como Deus, ofereceu-se
em sacrifício para redimir os homens dos seus pecados.
• Fora da Igreja não há salvação: todos os cristãos são membros de uma só
Igreja, que está sob a guarda divina. Revela nítido conflito com o ensinamento
de Jesus, fielmente interpretado por Paulo: “fora da caridade não há salvação.”
(ICoríntios, 13:1-7,13)
Enquanto a máxima — Fora da caridade não há salvação — assenta num princípio
universal e abre a todos os filhos de Deus acesso à suprema felicidade, o dogma — Fora
da Igreja não há salvação — se estriba, não na fé fundamental em Deus e na imortalidade
da alma, fé comum a todas as religiões, porém “numa fé especial”, em “dogmas
particulares”; é exclusivo e absoluto. Longe de unir os filhos de Deus, separa-os; em vez
de incitá-los ao amor de seus irmãos, alimenta e sanciona a irritação entre sectários dos
diferentes cultos [...]. 1
Emmanuel conclui, destacando o sublime consolo que a Humanidade
encontra no Evangelho de Jesus.

Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
O Evangelho do Divino Mestre ainda encontrará, por algum tempo, a resistência das
trevas. A má-fé, a ignorância, a simonia, o império da força conspirarão contra ele, mas
tempo virá em que a sua ascendência será reconhecida. Nos dias de flagelo e de provações
coletivas, é para a sua luz eterna que a Humanidade se voltará, tomada de esperança.
Então, novamente se ouvirão as palavras benditas do Sermão da Montanha e, através das
planícies, dos montes e dos vales, o homem conhecerá o caminho, a verdade e a vida. 8
336
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
1. KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Tradução de Guillon
Ribeiro. 125. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 15, item 8, p. 270-280.
2. ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL. Enccyclopaedia Britannica
do Brasil Publicações Ltda. São Paulo, 1995. Vol. 11, p.5961.
3. ______. p. 5962.
4. ______. p. 5963.
5. http://www.espirito.org.br/portal/artigos/geae/historia-do-cristianismo-08.
html
6. http://www.igrejahttp://www.sepoangol.org/biogra-p.htm
7. XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel.
32, ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 15 (A evolução do cristianismo),
item: Os mártires, p.134.
8. ______. Emmanuel. Pelo Espírito Emmanuel. 25. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2005. Cap. 2 (A ascendência do evangelho), item: o Evangelho e o futuro,
p. 28.
REFERÊNCIAS
EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João

sábado, 19 de outubro de 2013

EADE-ESTUDO APROFUNDADO DA DOUTRINA ESPÍRITA-LIVRO 1 -MÓDULO2- ROTEIRO 21- O APOCALIPSE DE JOÃO



ROTEIRO
21
Objetivos
Analisar, sob a ótica da Doutrina Espírita, o Apocalipse de
João.
IDÉIAS PRINCIPAIS
CRISTIANISMO E ESPIRITISMO
MÓDULO II - O CRISTIANISMO
O Divino Mestre chama aos Espaços o Espírito João [...] e o Apóstolo, atônito
e aflito, lê a linguagem simbólica invisível. [...] Todos os fatos posteriores à
existência de João estão ali previstos. É verdade que freqüentemente a descrição
apostólica penetra o terreno mais obscuro; vê-se que a sua expressão humana não
pôde copiar fielmente a expressão divina das suas visões de palpitante interesse
para a história da Humanidade. Emmanuel: A caminho da luz. Cap. 14.
O autor do apocalipse abre seu livro apresentando-o como uma revelação de
Jesus Cristo sobre as coisas que haviam de acontecer, inclusive a futura vinda do
Mestre à terra, em Espírito, e cercado da glória de seus anjos. Cairbar Schutel:
Interpretação sintética do apocalipse, p.16.
O APOCALIPSE DE JOÃO
314
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
Introdução
Os textos apocalípticos, nos dois séculos que precederam a vinda do Cristo,
tiveram muito êxito em alguns ambientes judaicos. Tendo sido anteriormente
elaborados pelas visões dos profetas como Esequiel e Zacarias, esse gênero de
escritura desenvolveu-se também no livro de Daniel. Apenas um apocalipse
ficou registrado no Novo Testamento. Seu autor é o apóstolo João, autor do
quarto Evangelho, escrevendo-o quando de seu exílio na ilha de Patmos.
No fim do Novo Testamento está a Revelação de João, que, assim como o Livro de
Daniel, é um apocalipse, um tipo de literatura conhecido na época. O Apocalipse se
compõe de uma série de visões que evocam imagens de uma dramática cena final.
Distingue-se do Livro de Daniel, que é seu equivalente apocalíptico judaico, de duas
maneiras importantes. Em primeiro lugar, é um livro cristão, no qual Cristo irá assumir
definitivamente o controle e vencer o mal; em segundo lugar, no Apocalipse o fim do
mundo [fim do mal] já começou. Não se trata de algo que ocorrerá num futuro distante.
Depois da obra de Jesus pela salvação, já teve início a batalha decisiva entre o bem e o
mal. O Apocalipse de João é, pois, mais que uma escritura profética. Redigido durante
as perseguições contra os cristãos travadas no reinado do (81-96), do imperador Domiciano,
descreve a situação dos cristãos da época, constantemente ameaçados de martírio.
Acima de tudo, portanto, é uma escritura consoladora destinada aos cristãos que viviam
naquele período atribulado. Nela, o Estado romano é chamado de a ‘‘besta’’, ‘‘o dragão’’
ou ‘‘a grande prostituta’’. Mas, no embate final Cristo, o Cordeiro, vencerá as forças da
escuridão. O livro chega então ao final com uma visão de ‘‘um novo céu e uma nova
terra’’. Com suas imagens nascidas de uma necessidade histórica, o Apocalipse é pouco
familiar aos leitores modernos e já recebeu variadas interpretações através dos tempos.
Pode-se dizer que nenhum outro livro da Bíblia tem sido tão mal empregado. Com sua
SUBSÍDIOS
MÓDULO II
Roteiro 21
315
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
fé em Deus claramente expressa, levando a uma vitória final do bem sobre o mal, ele é,
mesmo assim, uma conclusão apropriada para a maneira como a Bíblia descreve a grave
situação do mundo. 8
1. Orientações para o estudo do apocalipse
A linguagem simbólica do Apocalipse de João desestimula, em geral, a sua
leitura. É possível, porém, torná-la compreensível, observando-se alguns pontos
importantes: o entendimento do significado de apocalipse, quanto à etimologia
e ao conceito; a visualização do contexto histórico da Igreja nascente, e a razão
do advento do Apocalipse.
1.1 - Significado de apocalipse
O termo ‘‘apocalipse’’ é a transcrição duma palavra grega que significa revelação; todo
apocalipse supõe, pois, uma revelação que Deus fez aos homens, revelação de coisas ocultas
e só por Ele conhecidas, especialmente de coisas referentes ao futuro. É difícil definir
exatamente a fronteira que separa o gênero apocalíptico do profético, do qual, de certa
forma, ele não é mais que prolongamento; mas enquanto os antigos profetas ouviam as
revelações divinas e as transmitiam, oralmente, o autor de um apocalipse recebia suas
revelações em forma de visões, que consignava em livro. Por outro lado, tais visões não
têm valor por si mesmas, mas pelo simbolismo que encerram, pois em apocalipse tudo
ou quase tudo tem valor simbólico: os números, as coisas, as partes do corpo e até os
personagens que entram em cena. Ao descrever a visão, o vidente traduz em símbolos as
idéias que Deus lhe sugere, procedendo então por acumulação de coisas, cores, números
simbólicos, sem se preocupar com a incoerência dos efeitos obtidos. Para entendê-lo,
devemos, por isso, apreender a sua técnica e retraduzir em idéias os símbolos que ele
propõe, sob pena de falsificar o sentido de sua mensagem. 4
No Livro Como ler o apocalipse, o autor explica o estilo e a forma de escritura
do apocalipse.
O apocalipse foi [...] um modo de escrever muito popular nos dois séculos antes de Cristo
e nos dois séculos depois dele. [...] O mais importante escritor apocalíptico do Antigo
Testamento é o autor do Livro de Daniel. Ele viveu na época da dominação selêucida
na Palestina, mas especificamente no tempo de Antíoco Epifanes IV (175-162 a.C.).
Esse rei impôs, pela força, a cultura e a religião dos gregos. Esse fato provocou a revolta
dos Macabeus. A função do Livro de Daniel era apoiar e incentivar a resistência dos
Macabeus contra a dominação estrangeira. [...] Ninguém podia dizer as coisas às claras.
Era necessário usar uma linguagem camuflada, incentivando a resistência e driblando a
marcação do poder opressor. 6
316
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
Foi assim que surgiu a literatura apocalíptica.
1.2 - O contexto histórico da Igreja nascente
É indispensável inserir o Apocalipse no seu ambiente histórico para
compreendê-lo um pouco mais.
É [...] indispensável [...] reinserí-lo no ambiente histórico que lhe deu origem: um período
de perturbações e de violentas perseguições contra a Igreja nascente. Pois, do mesmo modo
que os apocalipses que o precederam (especialmente o de Daniel) e nos quais manifestamente
se inspira, é escrito de circunstância, destinado a reerguer e a robustecer o ânimo dos cristãos,
escandalizados, sem dúvida, pelo fato de que perseguição tão violenta se tenha desencadeado
contra a Igreja daquele que afirmara: ‘‘Não temais, eu venci o mundo’’ (João, 16:33). 4
No momento em que João escreve o seu livro de visões, a igreja primitiva
sofre terrível perseguição de Roma e dos cidadãos do Império Romano (a
‘‘Besta’’), por instigação de ‘‘Satanás’’ (o adversário, por excelência, do Cristo
– ou anticristo). 5 O próprio João se encontrava prisioneiro na Ilha de Patmos,
quando escreveu o seu Apocalipse, na época (81-96) do imperador Domiciano.
Solidário com os companheiros submetidos aos martírios das perseguições, o
Apocalipse de João nos apresenta três conteúdos básicos: o protesto contra as
injustiças sociais, o sofrimento que aguardam os perseguidores e a vitória do
bem, manifestada no amor do Cristo pela Humanidade.
1.3 - A razão do advento do Apocalipse de João
Alguns anos antes de terminar o primeiro século, após o advento da nova doutrina, já
as forças espirituais operam uma análise da situação amargurosa do mundo, em face
do porvir. Sob a égide de Jesus, estabelecem novas linhas de progresso para a civilização,
assinalando os traços iniciais dos países europeus dos tempos modernos. Roma
já não representa, então, para o plano invisível, senão um foco infeccioso que é preciso
neutralizar ou remover. Todas as dádivas do Alto haviam sido desprezadas pela cidade
imperial, transformada num vesúvio de paixões e de esgotamentos.
O Divino Mestre chama aos Espaços o Espírito João, que ainda se encontrava preso nos
liames da Terra, e o Apóstolo, atônito e aflito, lê a linguagem simbólica do invisível.
Recomenda-lhe o Senhor que entregue os seus conhecimentos ao planeta como advertência
a todas as nações e a todos os povos da Terra, e o velho Apóstolo de Patmos
transmite aos seus discípulos as advertências extraordinárias do Apocalipse.
Todos os fatos posteriores à existência de João estão ali previstos. É verdade que freqüentemente
a descrição apostólica penetra o terreno mais obscuro; vê-se que a sua expres317
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
são humana não pôde copiar fielmente a expressão divina das suas visões de palpitante
interesse para a história da Humanidade. As guerras, as nações futuras, os tormentos
porvindouros, o comercialismo, as lutas ideológicas da civilização ocidental, estão ali
pormenorizadamente entrevistos. E a figura mais dolorosa, ali relacionada, que ainda
hoje se oferece à visão do mundo moderno, é bem aquela da igreja transviada de Roma,
simbolizada na besta vestida de púrpura e embriagada com o sangue dos santos. 17
2. Plano geral da obra
O apocalipse de João é constituído de um prólogo, de duas partes e de
um epílogo:
2.1 - Prólogo
No prólogo (1:1-3), João faz a abertura do seu livro, apresentando-o como
uma revelação de Jesus Cristo sobre ‘‘as coisas que devem acontecer’’ (1:1, 3).
Indica quem são os destinatários: ‘‘os servos de Jesus Cristo’’ (1:1); a forma
como a revelação divina se deu: ‘‘Ele a manifestou com sinais por meio do seu
Anjo, ao seu servo João’’ (1:1); fornece uma dimensão temporal — ainda que
imprecisa — sobre a concretização dos fatos revelados: ‘‘o tempo está próximo’’
(1:3).
2.2 - Primeira parte (capítulos: 1, 2 e 3)
A primeira parte do Apocalipse está escrita na forma de diálogo. Apresenta
três subdivisões: a) saudação às comunidades (1:4-8); b) confiança na ressurreição
do Cristo (1:9-20) e c) cartas às sete igrejas da Ásia (2:1-22; 3:1-22).
Revela uma ação pastoral do apóstolo para com os cristãos — representados
simbolicamente pelas ‘‘sete igrejas da Ásia’’ (1:4) —, e expressa uma mensagem
de apoio aos que sofrem perseguições em nome do Cristo.
O propósito da mensagem [...] é encorajar a comunidade cristã que passa por uma
terrível provação: após o magnífico desenvolvimento na época de sua fundação, agora
a Igreja parece seriamente ameaçada na unidade de sua fé (movimentos heréticos), na
pureza dos costumes (relaxamento da vida religiosa, diminuição da caridade). Devido
as perseguições, João pretende sustentar a coragem dos cristãos ‘‘até a morte’’ (2:14),
garantindo-lhes a presença divina do Cristo, que vencerá o Dragão. 20
João narra como ocorreu a sua percepção mediúnica.
As [...] palavras que ouviu ‘‘como a voz de trombeta’’ (1:10), e a recomendação que teve
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Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
de se dirigir às ‘‘sete igrejas’’, representadas por ‘‘sete candeeiros’’, assistidas por ‘‘sete
espíritos’’ (1:10-20). 11
Cada carta é específica e contém elogios e críticas, advertências e incentivos, como convinha.
Mas o plural ‘‘igrejas’’ no final de cada carta mostra que se pretendia que fosse
lida por todas as igrejas. 8
«Nessa visão salienta-se ‘‘espada de dois gumes’’ que sai da boca do excelso
Espírito (Jesus).» 11
2.3 - Segunda parte (capítulos: 4 a 21)
Representa a essência da obra, tem um caráter profético-escatológico
(previsões sobre o fim do mundo) e abrange duas visões paralelas: a primeira
(4,18; 11,1) diz respeito aos destinos do mundo; a segunda (11: 9; 21:5) informa
sobre o futuro da Igreja. 20
Podemos considerar cinco subdivisões (ou seções) nessa parte: a) introdutória
(4:1-5;14) – fala sobre o trono, o Cordeiro e sobre o livro com sete selos;
b) seção dos selos (6:1-7, 17) – são pontos importantes sobre a abertura dos
quatro primeiros selos, sobre o clamor dos mártires (quinto selo) e a resposta
de Deus ao clamor (sexto selo); c) seção das trombetas (8:1-11;14) – o toque da
trombeta anuncia o julgamento de Deus; d) seção dos três sinais (11;15;16:16) –
são sinais que marcam acontecimentos: o sinal da mulher, o sinal dos dragãos
e o sinal dos anjos com pragas; e) sessão conclusiva (16;17;2:5) – mostra que o
Cristo julga e vence o mal.
No capítulo IV, o autor continua escrevendo sobre a sua visão, cheia de quadros que
se desdobram às suas vistas e que representam as letras com que se escrevem as ‘‘coisas
espirituais’’, que as palavras humanas não podem traduzir. A linguagem espiritual se
manifesta por meio de símbolos que ferem a imaginação e dão uma idéia relativa das
coisas que existem. Entretanto, não podem ser percebidas pelos nossos sentidos materiais,
grosseiros. 13
Revela a existência de uma comunidade de Espíritos de puros, representados
por ‘‘vinte e quatro anciãos’’, os ‘‘Espíritos de Deus’’, indicados por ‘‘sete
lâmpadas de fogo’’.
O seguinte resumo fornece informações gerais sobre a segunda parte do
Apocalipse:
A primeira visão começa com a apresentação do trono de Deus (4,1-11) e do Cordeiro
vitorioso (5,1-14) e concentra-se em dois motivos: a abertura dos 7 selos (6,1; 8,1), símbolo
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Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
da preparação no céu dos flagelos que recairão sobre o mundo (dos primeiros 4 selos sairão
os famosos 4 cavalos), e o som das 7 trombetas (8,2; 11,18) que significam a execução
daqueles flagelos na terra. A segunda visão começa com um duplo acontecimento: no céu,
a luta do dragão (satanás) contra a mulher (que representa o povo eleito) (12,1-18); na
terra, as duas bestas (que simbolizam o Império Romano e os falsos profetas) (13,1-18).
A esta dupla cena contrapõe-se a aparição do Cordeiro no monte Sião* seguido da multidão
de fiéis (14,1-5). O juízo escatológico é expresso por meio de várias representações:
os 7 flagelos e as 7 taças (15-16), acompanhados da ‘‘condenação da grande prostituta’’
(Roma também chamada Babilônia ou nova Babilônia) (17-18), depois a vitória sobre
as bestas (19,11-21) e sobre o Dragão com que se inaugura o reinado ‘‘de mil anos’’ de
Cristo (20,1-10) e por fim a vitória definitiva sobre o mal (20,11-25). 20
2.4 - O epílogo (22:16-21)
No epílogo há uma recomendação severa, uma proibição categórica àqueles
que lerem o livro, ou que o reimprimirem, de alterar qualquer coisa do que
nele se acha escrito. O apóstolo previa as mistificações sectárias, os enxertos, as
mutilações que havia de sofrer a Árvore da Vida, pelos papas e pelos concílios,
e ameaçou, severamente, àqueles que modificassem o seu Apocalipse. 16
3. Análise espírita do apocalipse
3.1 - As sete igrejas – são as comunidades cristãs cujas caracte-rísticas
indicam os diferentes tipos de cristãos: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes,
Filadélfia, Laodicéia.
A igreja de Éfeso, que fora fundada por Paulo, e continuou sendo por muitos séculos
um dos principais centros da Igreja Oriental, era zelosa em guardar-se contra a heresia,
mas carecia de amor cristão. A igreja de Esmirna parece ter resistido bem à importunação
(perseguição) e, por vezes, prisão dos seus membros. Pérgamo era um centro
religioso importante, com um famoso santuário de Zeus, um templo de Asclépio com
uma renomada escola de medicina, e um templo de Augusto; ‘‘o trono de Satã’’ pode
designar qualquer um desses, mas provavelmente refere-se ao culto do imperador. [...]
A igreja de Tiatira abundava em amor e fé, serviço e resignação paciente, mas tolerava
os ensinamento malignos de uma profetisa, Jesabel. A igreja de Sardes estava florescendo
externamente, mas não sem sério dano para a sua vida espiritual. Filadélfia, por outro
lado, era uma cidade em que os cristãos estavam isolados do restante da comunidade,
mas a igreja permanecera fiel. Em Laodicéia a igreja parecia estar florescendo, mas era
espiritualmente pobre. 9
_____________
* Sião: outro nome de Jerusalém.
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EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
O conjunto formado pelas sete igrejas, simbolicamente representadas pela
luz dos sete candelabros, revela a imagem da Igreja do Cristo, «[...] com suas
heresias, disputas, e fé débil, mas também com sua fé, esperança e amor». 10
3.2 - A besta apocalíptica – refere-se tanto ao Império Romano (o poder
constituído que fere, persegue e maltrata) quanto aos falsos profetas — também
chamados de ‘‘dragão’’ —, mistificadores que deturpam a mensagem do
Evangelho. Emmanuel nos esclarece a respeito do assunto.
A [...] besta poderia dizer grandezas e blasfêmias por 42 meses, acrescentando
que o seu número era o 666 (Apoc. XIII, 5 e 18). Examinando-se a
importância dos símbolos naquela época e seguindo o rumo certo das interpretações,
podemos tomar cada mês como sendo de 30 anos, em vez de 30
dias, obtendo, desse modo, um período de 1260 anos comuns, justamente o
período compreendido entre 610 e 1870, da nossa era, quando o Papado se
consolidava, após o seu surgimento, com o imperador Focas, em 607, e o decreto
da infalibilidade papal com Pio IX, em 1870, que assinalou a decadência e
a ausência de autoridade do Vaticano, em face da evolução científica, filosófica
e religiosa da Humanidade.
Quanto ao número 666, sem nos referirmos às interpretações com os
números gregos, em seus valores, devemos recorrer aos algarismos romanos,
em sua significação, por serem mais divulgados e conhecidos, explicando que
é o Sumo-Pontífice da igreja romana quem usa os títulos de vicarivs generalis
dei in terris, vicarivs filii dei e dvx cleri que significam vigário-geral de Deus
na Terra, vigário do Filho de Deus e príncipe do clero.
Bastará ao estudioso um pequeno jogo de paciência, somando os algarismos
romanos encontrados em cada titulo papal a fim de encontrar a mesma
equação de 666, em cada um deles. Vê-se, pois, que o Apocalipse de João tem
singular importância para os destinos da Humanidade terrestre. 18
3.3 - A espada de dois gumes - É o símbolo do poder e da justiça. É a palavra
divina, que no dizer de são Paulo, é poderosa arma, com a qual será restabelecida o reinado do
Cristo na Terra. É, finalmente, o Evangelho, o Verbo, essa espada que vibra golpes arrojados
matando a hipocrisia, aniquilando o erro e defendendo os espíritos de boa vontade na luta
terrível das ‘‘trevas’’ contra a ‘‘luz’’. 12
321
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
3.4 - A obra divina – o céu está representado pelo mar: ‘‘um mar de vidro
semelhante ao cristal’’ (4:6). O poder, a criação, a sabedoria e a eternidade são
simbolizados, respectivamente, por quatro criaturas viventes: ‘‘o leão, o novilho,
o homem e a águia voando’’ (4:7-8). 13
3.5 - O livro dos selos – é entendido como:
O [...] ‘‘livro do futuro’’, que, fechado para todos, só podia ser aberto pelo ‘‘Cordeiro’’,
Jesus, o Cristo, que ‘‘venceu ao romper os 7 selos’’. (5:5) Então, aparece, a João, o ‘‘Cordeiro
com sete chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados a toda a Terra’’.
O número sete simboliza a perfeição, é o número completo, dá idéia do desenvolvimento
integral do espírito. Vemos sete virtudes, que encarnam a perfeição; as sete cores, os sete
sons, as sete formas (cone, triângulo, círculo, elipse, parábola, hipérbole, trapézio); os
sete dias etc. O chifre, na velha poesia hebraica, é o símbolo da força. 14
3.6 - A abertura dos selos – está escrito assim: ‘‘e vi quando o Cordeiro
abriu um dos sete selos, e ouvi uma das quatro criaturas viventes dizendo, como
em voz de trovão: Vem! Olhei, e eis um cavalo branco, e o que estava montado
sobre ele tinha um arco; e foi-lhe dada uma coroa, e ele saiu vencendo e para vencer’’
(6:1-2). Existem inúmeras interpretações para essas palavras de João: umas
mais seguras, outras nem tanto. Não é fácil encontrar um consenso. Podemos,
no entanto, dizer que todo o sentido teológico do Apocalipse fundamenta-se
em três pilares: Deus, Cristo e a Igreja. Deus é ‘‘o Alfa e o Ômega, o Princípio
e o Fim’’ (1:8); é ‘‘Aquele que vive nos séculos dos séculos’’ (10:5); é o ‘‘Senhor
do Universo’’ (1:8). Jesus Cristo é o tema central do Apocalipse, que é, verdadeiramente,
a sua ‘‘revelação’’; ele é o Filho do homem, é o Cordeiro imolado
que redimiu os homens ‘‘de todas as tribos, línguas e povos’’ (5; 9), ao mesmo
tempo é o vitorioso sobre os inimigos debelados (19:11-16). Cristo é o ‘‘Logos de
Deus’’ (19:13), que está junto de Deus. Os animais citados nos textos, sobretudo
os cavalos, ora são interpretados como forças positivas atuando na sociedade,
ora são forças negativas, dependendo da interpretação que se lhes dê. 7 Por
exemplo: há quem suponha que o cavalo branco e o cavaleiro, portando um
arco, citados na abertura do primeiro selo, sejam alusões à ganância — sempre
presente na história humana — e, também, aos partos, povo que usava o arco
como arma de guerra, criava cavalos brancos e era inimigo dos romanos. 7 Por
outro lado, Cairbar Schutel afirma que a abertura do primeiro selo representa
a vinda do Espiritismo e que o cavaleiro com o arco teria sido Allan Kardec. 15
Há, porém, um consenso de que o cavalo vermelho do segundo selo simboliza
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Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
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a guerra (6:3); o cavalo negro do terceiro selo representa a fome e a carestia
que a guerra acarreta (6:5); o quarto cavalo, o esverdeado, retrata a peste e a
morte (6:7). O quinto selo reapresenta os mártires pedindo a Deus justiça para
a terra, ou o fim da desordem que campeia no mundo.
Reproduzem o clamor dos justos de todos os tempos, ansiosos de que
termine a inversão dos valores na história da humanidade.
3.7 - A prostituta - na segunda parte do apocalipse aparece, em diferentes
capítulos, a figura de duas mulheres, sendo que uma delas está vestida de
púrpura escarlate, usa pérolas, tem na mão um cálice cheio de abominações,
e em sua testa está escrito: ‘‘mistério’’, ‘‘a grande babilônia’’; ‘‘a prostituta’’; ‘‘a
grande prostituta’’. Supõe-se que seja uma alusão à Igreja Católica Romana, em
razão de esta ter dado as costas à Lei de Deus e ter incorporado, à mensagem
cristã, práticas dos povos pagãos. A propósito, esclarece Emmanuel.
A Igreja Católica [...], que tomou a si o papel de zeladora das idéias e das realizações cristãs,
pouco após o regresso do Divino Mestre às regiões da Luz, falhou lamentavelmente
aos seus compromissos sagrados. Desde o concílio ecumênico de Nicéia, o Cristianismo
vem sendo deturpado pela influenciação dos sacerdotes dessa Igreja, deslumbrados
com a visão dos poderes temporais sobre o mundo. Não valeu a missão sacrossanta do
iluminado da Úmbria [Francisco de Assis], tentando restabelecer a verdade e a doutrina
de piedade e de amor do Crucificado para que se solucionasse o problema milenar da
felicidade humana.
As castas, as seitas, as classes religiosas, a intolerância de clericalismo constituíram
enormes barreiras a abafarem a voz da realidades cristãs. A moral católica falhou aos
seus deveres e às suas finalidades. 19
3.8 - O juízo final – a doutrina religiosa que trata das ‘‘últimas coisas’’
é conhecida como escatologia. Todas as religiões cristãs, à exceção do Espiritismo,
acreditam, pregam e divulgam a idéia do ‘‘Juízo ou Julgamento Final’’,
do ‘‘Fim do mundo ou dos Tempos’‘. São interpretações literais do Velho e do
Novo Testamentos . Neste último, a parábola dos bodes e das ovelhas (Mateus,
25:31-46) é uma das mais citadas.
A doutrina de um juízo final, único e universal, pondo fim para sempre à Humanidade,
repugna à razão, por implicar a inatividade de Deus, durante a eternidade que precedeu
à criação da Terra e durante a eternidade que se seguirá à sua destruição. 1
Moralmente, um juízo definitivo e sem apelação não se concilia com a bondade infinita
do Criador, que Jesus nos apresenta de contínuo como um bom Pai, que deixa sempre
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Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
aberta uma senda para o arrependimento, e que está pronto sempre a estender os braços
ao filho pródigo. 2
3.9 - A humanidade nova - o capítulo 21 nos fala de uma “Jerusalém
celeste’’ ou ‘‘Jerusalém libertada’’, símbolo da Humanidade regenerada. Durante
milênios, a civilização humana amargou dolorosas provações em razão
dos erros cometidos contra a Lei de Deus. Uma geração nova surge, afinal, na
Terra. «Nestes tempos, porém, não se trata de uma mudança parcial, de uma
renovação limitada a certa região, ou a um povo, a uma raça. Trata-se de um
movimento universal, a operar-se no sentido do progresso moral». 3
324
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
1. KARDEC, Allan. A gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 46. ed. Rio de
Janeiro: FEB, 2005. Cap. 17, item 64, p.398.
2. ______. Item 66, p.399.
3. ______. Cap. 18, item 6, p. 404.
4. BIBLIA DE JERUSALÉM. Diversos tradutores. Nova edição, revista e ampliada.
São Paulo: Editora Paulus, 2002, p. 2139.
5. ______. p. 2140.
6. BORTOLINI, José. Como ler o apocalipse. 63. ed. São Paulo: editora Paulus,
2003. Introdução, p. 8.
7. ______. Segunda parte, cap. 3, p.58.
8. HELLEN, V., NOTAKER, H. E GAARDER,J. O livro das religiões. Tradução
de Isa Mara Lando. São Paulo: Companhia das Letra, 2000, item: O apocalipse
(ou Revelação), p.223-224.
9. DICIONÁRIO DA BÍBLIA. Vol. 1: as pessoas e os lugares. Organizado por
Bruce M. Metzger, Michael D. Coogan. Tradução de Maria Luiza X. De A.
Borges. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 2002, p. 295-296 (As sete igrejas).
10. ______.p. 296.
11. SCHUTEL, Cairbar. Interpretação sintética do apocalipse. 6. ed. Matão
[SP]:2004. Introdução ao Apocalipse, p. 16.
12. ______. p. 16-17.
13. ______. p. 17.
14. ______. O livro dos sete selos, p. 19.
15. ______. O primeiro selo p. 21.
16. ______.Conclusão, p. 105.
17. XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel.
32. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 14 (A edificação cristã), item: O
Apocalipse de João, p.126-127.
18. ______. Item: A besta do apocalipse, p. 128.
19. ______. Emmanuel. Pelo Espírito Emmanuel. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2004. Cap. 6 (Pela revivescência do cristianismo), item: A falha da igreja
romana, p 44-45.
20. http://www2.uol.com.br/jubilaeum/historia_linha.htm
21. http://www.veritatis.com.br/artigo.asp?pubid=1436
REFERÊNCIAS
EADE - Roteiro 21 - O apocalipse de João
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Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
Fazer uma explanação inicial sobre o apocalipse
de João, sua organização e finalidades. Sugerir
a formação de grupos para estudar e apresentar
conclusões dos conteúdos existentes nos itens 2 e
3 dos subsídios deste Roteiro.