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segunda-feira, 19 de julho de 2021

ELES VIVERÃO

 

"Quem quiser vir a mim carregue a própria cruz…Jamais amaldiçoes...A quem pratica o mal, chega o horror do remorso… … Nunca te vingues, Pedro, porque os maus viverão e basta-lhes viver para se alçarem à dor da sentença cruel que lavram contra eles mesmos.."


ELES VIVERÃO


Onze anos após a crucificação do Mestre, Tiago, o pregador, filho de Zebedeu, foi violentamente arrebatado por esbirros do Sinédrio, em Jerusalém, a fim de responder a processo infamante.


Arrancado ao pouso simples, depois de ordem sumária, ei-lo posto em algemas, sob o Sol causticante.


Avançando ao pé do grande templo, na mesma praça enorme em que Estêvão achara o extremo sacrifício, imensa multidão entrava-lhe a jornada.


Tiago, brando e mudo, padece, escarnecido.


Declaram-no embusteiro, malfeitor e ladrão.


Há quem lhe cuspa no rosto e lhe estraçalhe a veste.


- “A morte! à morte!…”


Centenas de vozes gritam inesperada condenação, e Pedro, que de longe o segue, estarrecido, fita o irmão desditoso, a entregar-se humilhado.


O antigo pescador e aprendiz de Jesus é atado a grande poste e, ali mesmo, sob a alegação de que Herodes lhe decretara a pena, legionários do povo passam-no pela espada, enquanto a turba estranha lhe apedreja os despojos.


Simão chora, sozinho, ao contemplar-lhe os restos, voltando, logo após, para o seu humilde refúgio.


Depois de algumas horas, veio a noite envolvente acalentar-lhe o pranto.


De rústica janela, o condutor da casa inquire o céu imenso, orando com fervor.


Porque a tempestade? porque a infâmia soez? O pobre amigo morto era justo e leal…


Incapaz de banir a ideia de vingança, Pedro lembra os algozes em revolta suprema.


Como desejaria ouvir o Mestre agora!… que diria Jesus do terrível sucesso?!…


Neste instante, levanta os olhos lacrimosos, e observa que o Cristo lhe surge, doce, à frente.


É o mesmo companheiro de semblante divino.


Ajoelha-se Pedro e grita-lhe:


- Senhor! somos todos contados entre os vermes do mundo!… porque tanta miséria a desfazer-se em lama? Nosso nome é pisado e o nosso sangue verte em homicídio impune… A calúnia feroz espia-nos o passo…


E talvez porque o mísero soluçasse de angústia, o Mestre aproximou-se e disse com carinho, a afagar-lhe os cabelos:


- Esqueceste, Simão? Quem quiser vir a mim carregue a própria cruz…


- Senhor! - retrucou, em lágrimas, o apóstolo abatido - não renego o madeiro, mas clamo contra os maus… Que fazer de Joreb, o falsário infeliz, que mentiu sobre nós, de modo a enriquecer-se? que castigo terá esse inimigo atroz da verdade divina?


E Jesus respondeu, sereno, como outrora:


- Jamais amaldiçoes… Joreb vai viver…


- E Amenab, Senhor? que punição a dele, se armou escuro laço, tramando-nos a perda?


- Esqueçâmo-lo em prece, porque o pobre Amenab vai viver igualmente…


E Joachim ben Mad? não foi ele, talvez, o inspirador do crime? o carrasco sem fé que a todos atraiçoa? Com que horrenda aflição pagará seus delitos?


- Foge de condenar, Joachim vai viver…


- E Amós, o falso Amós, que ganhou por vender-nos?


- Olvidemos Amós, porque Amós vai viver…


- E Herodes, o rei vil, que nos condena à morte, fingindo ignorar que servimos a Deus?


Mas Jesus, sem turvar os olhos generosos, explicou simplesmente:


- Repito-te, outra vez que, quem fere, ante a lei será também ferido… A quem pratica o mal, chega o horror do remorso… E o remorso voraz possui bastante fel para amargar a vida… Nunca te vingues, Pedro, porque os maus viverão e basta-lhes viver para se alçarem à dor da sentença cruel que lavram contra eles mesmos..


Simão baixou a face banhada de pranto, mas ergueu-a em seguida, para nova indagação…


O Senhor, entretanto, já não mais ali estava. Na laje do chão só havia o silêncio que o luar renascente adornava de luz…


Fonte: Contos Desta e de Outra Vida.
IrmãoX/Francisco Cândido Xavier

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