- Estimaríamos colher a sua opinião a respeito dos últimos conflitos que colocaram em perigo a Paz Mundial…
Chico Xavier:
- Atentos aos nossos deveres de ordem
doutrinária, já que o Espiritismo é a religião de Jesus, endereçada ao
burilamento e confraternização dos homens, não seria cabível viéssemos a
analisar os conflitos atuais do mundo, sob o ponto de vista político.
Essa tarefa, na opinião de Emmanuel, o dedicado orientador espiritual
que nos dirige as atividades, compete aos mentores encarnados da vida
internacional.
Todos nós, os religiosos de todos os
climas, nos reconhecemos atualmente defrontados por crises de
insatisfação em quase todos os domínios da Humanidade, e, por isso
mesmo, segundo as instruções que recebemos dos benfeitores espirituais, a
nossa melhor atitude é a da prece, em favor dos líderes das nações,
rogando a Deus os ilumine e guie, a fim de que todos eles se unam, no
respeito às leis que o progresso já nos confiou, evitando nova grande
guerra, cujos efeitos calamitosos, não conseguimos prever, nem calcular.
(Do livro No Mundo de Chico Xavier, editado pelo Instituto de Difusão Espírita, de Araras, SP)
- A Doutrina Espírita é acusada de, ao se preocupar somente com a vida no além, ajudar a manter o sistema político vigente, por não se preocupar com o progresso material e político do homem na Terra. O que acha?
Chico Xavier:
- É muito interessante isso, mas não
desejamos abusar, desprestigiar, desprimorar mesmo a figura de Jesus
Cristo. É importante considerar que Jesus cogitou muito da melhora da
criatura em si.
Auxiliou cada companheiro no caminho a
ter mais fé, a amar os seus semelhantes, ensinou os companheiros a se
entre-ajudarem, de modo que nós vimos Jesus sempre preocupado com o
homem, com a alma.
Não nos consta que ele tivesse aberto qualquer processo de subversão com o Império Romano, nem mesmo contra a Palestina ocupada.
Então, o espírita não é propriamente uma
pessoa conformada do ponto de vista negativo. Conformismo em Doutrina
Espírita tem o sinônimo de paciência operosa. Paciência que trabalha
sempre para melhorar as situações e cooperar com aqueles que recebem a
responsabilidade da administração de nossos interesses públicos.
Em nada nos adiantaria dilapidar o
trabalho de um homem público, quando nosso dever é prestigiá-lo e
respeitá-lo tanto quanto possível e também colaborar com ele para que a
missão dele seja cumprida. Porque é sempre mais fácil subverter as
situações e estabelecer críticas violentas ou não em torno de pessoas.
Nós precisamos é da construtividade.
Não que estejamos batendo palmas para
esse ou aquele, mas porque devemos reverenciar o princípio da
autoridade, porque sem disciplina não sei se pode haver trabalho,
progresso, felicidade, paz ou alegria para alguém. Veja a natureza: se o
sol começasse a pedir privilégios e se a Terra exigisse determinadas
vantagens, o que seria de nós com a luz e o pão de cada dia?
(Transcrito do livro Chico Xavier – Mandato de Amor, editado pela União Espírita Mineira)
- De vez em quando aparece alguém que, em virtude de algum problema social mais grave – a violência, por exemplo, – pede a pena de morte. O senhor concorda?
Chico Xavier:
- A pena deveria ser de educação. A
pessoa deveria ser condenada mas é a ler livros, a se educar, a se
internar em colégios ainda que seja, vamos dizer, por ordem policial.
Mas que as nossas casas punitivas, hoje chamadas de casas de reeducação, sejam escolas de trabalho e instrução.
Isto porque toda criatura está sentenciada à morte pelas leis de Deus, porque a morte tem o seu curso natural.
Por isso, acho que a pena de morte é
desumana, porque ao invés de estabelecê-la devíamos coletivamente criar
organismos que incentivassem a cultura, a responsabilidade de viver, o
amor ao trabalho. O problema da periculosidade da criatura, quando ela é
exagerada, esse problema deve ser corrigido com educação e isso há de
se dar no futuro.
Porque nós não podemos corrigir um crime com outro, um crime individual com um crime coletivo.
(Transcrito do livro Chico Xavier – Mandato de Amor, editado pela União Espírita Mineira)
- Chico, estamos diante de uma onda crescente de violência em todo o mundo. A que os espíritos atribuem essa ocorrência? Gostaria que você se detivesse também no problema dessa corrida da população às armas, para a defesa pessoal. Como você vê tudo isso?
Chico Xavier:
- Temos debatido esse problema com
diversos amigos, inclusive com nossos benfeitores espirituais e eles são
unânimes em afirmar que a solidão gera o egocentrismo e esse
egocentrismo exagerado reclama um espírito de autodefesa muito avançado
em que as criaturas, às vezes, se perdem em verdadeiras alucinações.
Então a violência é uma conseqüência do
desamor que temos vivido em nossos tempos, conforto talvez excessivo que
a era tecnológica nos proporciona. A criatura vai se apaixonando por
facilidades materiais e se esquece de que nós precisamos de amor,
paciência, compreensão e carinho. A ausência desses valores espirituais
vai criando essa agressividade exagerada no relacionamento entre as
pessoas ou entre muitas das pessoas no nosso tempo.
De modo que precisaríamos mesmo de uma
campanha de evangelização, de retorno ao Cristianismo em sua feição mais
simples para que venhamos a compreender que não podemos pedir
assistência espiritual a um trator de esteira, não podemos pedir socorro
a determinados engenhos que hoje nos servem como recursos de pesquisas
em pleno firmamento, nós precisamos desses valores de uns para com os
outros.
Quando nos voltarmos para o sentimento,
para o coração, acreditamos que tanto a violência, como a corrida às
armas para defesa pessoal decrescerão ao ponto mínimo e vamos
extinguindo isso, pouco a pouco, à medida que crescemos em manifestações
de amor, reciprocamente.
(Transcrito no livro de sua autoria “Lições de Sabedoria – Chico Xavier)
- Suas palavras de solidariedade sempre giram em torno da missão que cada ser humano tem. Qual é a sua missão?
Chico Xavier:
- Um capim tem uma missão, alimentar o
boi. Minha missão é como a do capim ou de qualquer outra plantinha sem
nome que exista por aí. Precisamos viver honradamente e fazer tudo o que
pudermos para ajudar o próximo a superar suas dificuldades.
(publicado na revista Contigo/Superstar, São Paulo, SP, n. 443, 19/3/1984, transcrita no ANUÁRIO ESPÍRITA 1985)
- Chico, como é que você vê a onda de violência que aumenta a cada dia?
Chico Xavier:
- A violência é qual se fosse a nossa
agressividade exagerada trazida ao nosso consciente, quando estamos em
carência de amor. Ela lava, por isso, o desamor coletivo da atualidade.
Se doarmos mais um tanto, se repartirmos
um tanto mais, se houver um entendimento maior, estaremos contribuindo
para a diminuição desta onda crescente de agressividade.
À medida que a riqueza material aumenta, o
conforto e a aquisição de bens também cresce, com isso retornaremos à
autodefesa exagerada, isolando-nos das criaturas humanas. A vacina é o
amor de uns pelos outros, programa que Jesus nos deixou há dois mil
anos.
Numa entrevista coletiva perante as câmeras da Rede Globo, comandada por Augusto César Vanucci, em julho de 1980.
(Consta do livro “Lições de Sabedoria – Chico Xavier)
- Qual o melhor antídoto contra a falta de confiança em nós mesmos?
Chico Xavier:
- Os amigos da Vida Maior nos ensinam que
na prática da humildade, na prestação de serviços aos nossos irmãos da
Humanidade, adquiriremos esse antídoto contra a falta de confiança em
nós próprios, de vez que aprenderemos, na humildade, que o bem
verdadeiro, de que possamos ser intérprete, em favor de nossos
semelhantes, procede de Deus e não de nós.
(Em entrevista publicada no jornal “O Espírita Mineiro”, de Belo Horizonte, MG, fevereiro/abril de 1977).
- Na sua opinião, para onde caminha a Humanidade? Haverá responsabilidade de, em breve, atingirmos um grau de igualdade e fraternidade entre os homens?
Chico Xavier:
- Creio que mesmo que isto nos custe muitos sofrimentos coletivos, nós chegaremos até a confraternização mundial.
As circunstâncias da vida na Terra nos induzirão a isso e nos conduzirão para essa vitória de solidariedade humana.
Não é para outra coisa que o
Cristianismo, nas suas diversas interpretações, dentro das quais está a
nossa faixa de doutrina espírita militante, terá nascido, não é? Eu
creio que acima de nossas governanças, todas elas veneráveis, temos o
Governo de poderes maiores que nos inspira e que, naturalmente, nos
enviará recursos para que essa vitória da fraternidade universal se
verifique.
(Transcrito do livro Chico Xavier – Mandato de Amor, editado pela União Espírita Mineira )
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