AS
PRETENSÕES CATÓLICAS
Emmanuel
Achai possível e, sobretudo, conveniente
que a Igreja volte a sagrar o chefe do Estado no Brasil?
Em caso afirmativo, qual a Igreja caberia
essa função?
Deverá o poder da República receber a
sagração de todos os cultos?
As perguntas acima revelam o assunto
palpitante dos interesses inferiores da Igreja de Roma na América do Sul,
mormente no Brasil, segundo as nossas considerações em anterior
comunicado.
Motivam-nas algumas declarações feitas
ultimamente por um padre católico, considerando a “origem divina do poder
sobre a Terra”, tentando reconduzir o Estado às antigas bases absolutistas
e teocráticas.
Decididamente, a igreja não esconde o seu
propósito de escravizar ainda as consciências humanas e, com os seus
continuados pruridos de hege.monia sobre todos os outros cultos, revela
suas fundas saudades do Santo Ofício, para algemar o pensamento dos homens
às enxovias dos seus interesses.
Em pleno século XX, fala-se na necessidade
de se delatarem os crimes dos pais, dos esposos, dos irmãos; preconiza-se
a devassa das instituições, dos lares e das consciências. Não será
surpresa para ninguém, se os padres católicos exumarem amanhã, das cinzas
da Idade Média para os dias que correm, o célebre Livro das Taxas, do
tempo de Leão X, em que todos os preços do perdão para os crimes humanos
estão estipulados.
O CULTO RELIGIOSO E O ESTADO
A evolução dos códigos políticos da América
do Sul deveria merecer mais respeito por parte dos elementos que se acham
sob as ordens do Vaticano.
Falar-se em sagração do chefe do Estado pela
Igreja Romana, aliando o direito divino às obrigações políticas, depois de
tantas conquistas sociais da República, seria quase infantilidade, se isso
não representasse algo de perigoso para os próprios códigos de natureza
política do país.
Nenhum culto, que se prenda a Deus pela
devoção e por determinados deveres religiosos, tem o direito de interferir
nos movimentos transitórios do Estado, como este último não tem o direito
de interferir na vida privada da personalidade, em matéria de gosto, de
sentimento e de consciência, segundo as velhas fórmulas do liberalismo. Há
muito tempo, os fenômenos do progresso político dos povos proscrevem essas
nefastas influências religiosas sobre a política administrativa das
coletividades.
SEMPRE COM CÉSAR
Já o próprio Cristo asseverava nas suas
divinas lições; - “A César o que é de César e a Deus o que é de Deus.”
Mas, a Igreja Católica Romana jamais ocultou
sua preferência pela amizade de César.
Os tempos apostólicos, que ainda iluminam o
coração da Humanidade sofredora, até os tempos modernos, pela sua união
com o Evangelho, foram muito curtos. Não tardou que a organização dos
bispos romanos preponderasse sobre todos os núcleos do verdadeiro
Cristianismo, sufocando-os com as suas forças temporais.
Inventaram-se todas as novidades para o
ideal de simplicidade e pureza de Jesus e, desde épocas remotas, o
Catolicismo é bem retrato do farisaísmo dos tempos judaicos, que conduziu
o Divino Mestre á crucificação. Amiga dos poderosos, em todos os tempos,
bastilha do pensamento livre da Humanidade que tentou a civilização
cristã, é talvez, por esse motivo, que a Igreja, pela voz dos seus
teólogos mais eminentes, procurou sempre revestir o poder transitório dos
felizes da Terra com um caráter de divindade. Batida pela demagogia
céptica de todos os filósofos e cientistas que seguiram no luminoso
caminho das concepções liberais, retirada da sua posição de opressora para
se transformar em instrumento humilde de outros opressores das criaturas
humanas, a Igreja, na sua assombrosa capacidade de adaptação, esperou
pacientemente outras oportunidades para reaquisição dos seus poderes e de
suas tiranias e as encontrou dentro da mística do Estado totalitário.
Que Preocupam a Humanidade", " - Chico Xavier/Emmanuel..
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