Nascimento da Educação Espírita
Autor: J. Herculano Pires
Cada
fase da evolução histórica é marcada por uma nova concepção do homem e
do mundo. É conhecido o esquema formulado por Augusto Comte mas convém
repeti-lo. A evolução humana se processa em três estados ou três fases
bem caracterizadas: 1o) o estado teológico, representado pelas
civilizações teocráticas e mitológicas da Antigüidade; 2o) o estado
metafísico, simbolizado pela Idade Média; 3o) o estado positivo, a que
corresponde o Positivismo como filosofia científica, representado pela
era das Ciências.
Um leitor da Revista Espírita escreveu a Allan Kardec propondo a esse
esquema, que Comte chamou de lei dos três estados, o acréscimo do estado
psicológico. Kardec publicou a carta na Revista de Abril de 1869 e
considerou acertada a sugestão do leitor. De fato, com o advento do
Espiritismo em 1857 o estado positivo havia sido superado, a Humanidade
entrava em nova fase evolutiva caracterizada pelo predomínio das
pesquisas psicológicas.
O acerto dessa proposição se confirmou no decorrer da Segunda metade do século XIX e na primeira metade do século XX.
As Ciências Psicológicas, tanto no que respeita à Psicologia quanto no
tocante ao Espiritismo e às Ciências Psíquicas por ele geradas,
desenvolveram-se de tal maneira nesse período que acabaram predominando
na cultura do século.
Nesta segunda metade do século XX, em que nos encontramos, o avanço
nesse campo de pesquisas e estudos ultrapassou toda expectativa.
Estamos hoje, inegavelmente, na Era do Espírito. Já passamos além do
estado psicológico, que era apenas o vestíbulo de uma fase decisiva da
evolução humana. Estamos no estado espírita.
Em apenas alguns anos, de 1930 à 1970, demos um gigantesco salto
qualitativo –– da Psicologia animista, reduzida às investigações do
comportamento humano, à Parapsicologia, que rapidamente avançou na
demonstração da realidade do espírito, a partir dos fenômenos
rudimentares de clarividência e telepatia até à pesquisa e comprovação
das comunicações de espíritos (fenômenos theta) e da reencarnação
(memória extrasensorial).
Ao mesmo tempo, a Física, Ditadora das Ciências, como Rhine a chamou,
cujos conceitos e métodos de investigação materialista se impuseram
discricionariamente a todo o campo do conhecimento, saltou
repentinamente além da matéria, descobrindo a antimatéria, reconhecendo a
sua importância fundamental na estrutura do Universo, e logo mais
descobrindo o corpo bioplástico dos vegetais, dos animais e do homem.
Corroborando essas conquistas terrenas houve também o assalto ao Cosmos
pela Astronáutica. Esse mergulho no Infinito trouxe mais uma
possibilidade de confirmação da chamada hipótese espírita, tão
ridicularizada e menosprezada pelos homens positivos, no tocante à
existência de uma escala de mundos.
Pesquisas astrobiológicas revelaram a existência de elementos vitais na
imensidade cósmica e os cientistas mais eminentes já não temem declarar a
sua convicção da possibilidade de vida humana em outros planetas.
Para negar que estamos na Era do Espírito seria preciso negar todos
esses avanços da Ciência, o que evidentemente ninguém pode fazer.
A outra face do real
No mesmo instante em que o homem conseguiu ver, pela primeira vez na
História, a face oculta da Lua, os cientistas soviéticos (logo eles)
conseguiram, em suas pesquisas com a câmara Kirilià, na Universidade de
Alma Ata, nos confins do Kazakistã, próximo à fronteira chinesa (bem
escondidos nas selvas) ver e fotografar o corpo espiritual do homem. E
conseguiram mais, em experiências com moribundos, pesquisando o fenômeno
da morte, constatar que esse fenômeno só ocorre quando o corpo
bioplástico (como o chamaram) se retira do corpo carnal, que então e só
então se cadaveriza.
O Cristianismo havia conseguido a conversão do mundo. O Espiritismo está
conseguindo a conversão da Ciência. A visão nova dos cristãos modificou
as relações humanas, mesmo nas áreas não dominadas pelo Cristianismo, e
criou uma nova cultura.
A visão novíssima do Espiritismo deu novas dimensões à visão cristã e
está criando uma nova civilização. Segundo a conceituação de
Kerchensteiner a cultura se divide em objetiva e subjetiva. A cultura
objetiva se constitui dos bens concretos que formam a civilização, a
cultura subjetiva representa o acervo de conhecimentos abstratos que
formam o saber de cada civilização.
A cultura, tanto objetiva como subjetiva, da Era do Espírito, não pode
ser transmitida às novas gerações através dos limitados recursos da
Educação Cristã ou da Educação Leiga, ambas irremediavelmente superadas.
O conflito materialismo versus espiritualismo, que gerou essas duas
formas de educação, não tem mais possibilidade de sobreviver na cultura
atual. A nova concepção do homem e do mundo que marca o nosso tempo
exige uma nova educação de dimensões cósmicas e espirituais. Porque a
Era do Espírito é também a Era Cósmica.
E só o Espiritismo tem condições para atender a essa exigência do nosso
tempo, através da Educação Espírita, que já se desenvolve
espontaneamente aos nossos olhos e por sua vez exige a sua formulação
pedagógica. A descoberta do espírito
Em 1854 o Prof. Denizard Rivail começou a investigar os fenômenos
psíquicos que haviam nove anos antes, abalado os Estados Unidos e
repercutido intensamente na Europa.
Discípulo de Pestalozzi, o grande pedagogo da época, e ele também
pedagogo, interessava-se por todos os fenômenos que pudessem dar-lhe um
conhecimento mais profundo da natureza humana.
Partia do princípio de que o objeto da Educação é o homem e por isso o
pedagogo tinha por dever aprofundar o conhecimento deste.
Em 1857 lançava em Paris O Livro dos Espíritos como primeiro fruto de
suas pesquisas. Havia descoberto o espírito, determinado a sua forma, a
sua estrutura, as leis naturais (e não sobrenaturais) que regem as sua
relações com a matéria.
Podia afirmar, baseado em provas, que a natureza do homem é espiritual e
não material, que ele sobrevive à morte, que possui um corpo energético
e se submete ao processo biológico da reencarnação para evoluir como
Ser, despertando em sucessivas existências as suas potencialidades
ônticas.
Se Jesus ensinara essas coisas, na medida do possível, nos limites
culturais do seu tempo, Denizard Rivail, que para tanto adotava o nome
de Allan Kardec, passava então a ensiná-las de maneira mais ampla e com
maiores recursos culturais. Tornou-se o professor de Espiritismo, como
passaram a chamá-lo os que aceitaram a sua verdade.
Para isso lançou uma revista especializada, a Revue Spirite, e passou a
fazer conferências e publicar livros e folhetos em linguagem didática,
bem acessível ao povo. Estava iniciada a Educação Espírita.
Para bem configurarmos o nascimento da Educação Espírita convém lembrar
que Amélie Boudet, esposa de Kardec, era também professora. Sabemos como
ela colaborou na obra do marido e como, após o passamento deste,
emprenhou-se em honrar-lhe a memória. O casal não teve filhos. A
Educação Espírita foi assim a sua única filha. Essa filha mimada,
extremamente querida, esteve junto ao seu coração até o fim de sua
existência. O Prof. Rivail serviu-se dela para educar e instruir o seu
tempo, não só no tocante à França, mas a todo o mundo.
André Moreil, em sua Vida e Obra de Allan Kardec, mostra-nos que o Prof.
Rivail não foi apenas discípulo de Pestalozzi, mas o continuador da
obra educacional do mestre: "É interessante notar que a impressão das
obras completas de Pestalozzi termina exatamente no ano em que Rivail
publicou a sua primeira obra, em 1824. Esta coincidência que uma tocha
foi passada de mão para mão. Rivail iria trabalhar durante trinta anos
para educação da juventude francesa, antes de se consagrar, nos seu
últimos quinze anos, aos princípios do Espíritismo".
Poderiam perguntar porque motivo Kardec não nos deixou nenhuma obra
específica de Educação Espírita. A resposta é evidente: porque ainda era
cedo para isso e porque faltou-lhe tempo para se dedicar a assunto tão
complexo.
A codificação do Espíritismo, a Revista, as obras subsidiárias, os
trabalhos de observação e pesquisa, a refutação incessante dos ataques
feitos à doutrina consumiam-lhe o tempo. E os espíritos recomendavam-lhe
a todo momento poupar energias, para não deixar de concluir sua missão
de implantar a nova doutrina entre os homens.
A obra pedagógica e didática do Prof. Rivail é enorme e foi adotada pela
Universidade de França. Mas o Tratado de Pedagogia com que ele sonhara
não pode ser escrito. Sua missão espírita era demasiado absorvente, e
ele estava só, terrivelmente só. A esposa o auxiliava e havia muitos
colaboradores sinceros, mas só ele percebia o alcance real do
Espiritismo. Assim, os grandes trabalhos não podiam ser feitos por mais
ninguém.
Mas se não conseguiu fazer o necessário no tocante à Educação Espírita, a
verdade é que deixou a sua obra doutrinária impregnada do ideal
educacional. O Espiritismo, diziam-lhe os Espíritos, tem por missão
modificar o mundo inteiro. E Kardec afirmaria em O Livro dos Espíritos,
de acordo com a sua orientação anterior de pedagogo: "A educação é a
chave do progresso moral".
Encarando o problema da evolução do mundo, Kardec adverte em sua obra
fundamental: "O Espírito só pode avançar gradualmente. Não pode transpor
de um salto a distância que separa a barbárie da civilização" (perg.
271). A importância da Educação Espírita ressalta deste trecho:
"Encarnando-se com o fim de se aperfeiçoar, o Espírito é mais acessível
na infância às impressões que recebe e podem ajudar o seu adiantamento,
para o qual devem contribuir os que estão encarregados da sua educação"
(perg. 383).
A Educação Espírita aparece em Kardec também no seu aspecto
transcendente. Não é apenas a educação do homem pelo homem. É também a
educação ministrada pelos Espíritos Superiores.
Que bela visão desse processo educativo ele nos oferece neste trecho: "A
verdadeira doutrina espírita está no ensino dos Espíritos. Os
conhecimentos que esse ensino encerra são demasiado sérios para serem
adquiridos sem um estudo profundo e continuado, feito no silêncio e no
recolhimento".
O ensino espírita
O que Kardec entendia por estudo profundo e continuado não era apenas
autodidatismo, segundo parece sugerir a expressão: no silêncio e no
recolhimento. Alguns espíritas desavisados escudam-se nessa expressão
para condenar os cursos doutrinários.
E o fazem em nome do pedagogo e professor que passou a sua vida dando
cursos e nos deixou, no Projeto de 1886, este conselho que é ao mesmo
tempo uma advertência:
Um curso regular de espiritismo seria dado com o fim de desenvolver os
princípios da Ciência Espírita e propagar o gosto pelos estudos sérios.
Esse curso terá a vantagem de criar a unidade de princípios, de obter
adeptos esclarecidos, capazes de difundir as idéias espíritas e de
desenvolver grande número de médiuns.
Encaro este curso como capaz de exercer influência capital no futuro do Espiritismo e em suas conseqüências.
Hoje, mais do que nunca, diante da expansão do Espiritismo em nosso país
e de sua repercussão no mundo, o problema do ensino espírita se acentua
como necessidade imperiosa. O Espiritismo é uma ciência, como ensinava
Kardec, da qual resultam naturalmente uma filosofia e uma religião.
Seria possível a divulgação de uma doutrina assim complexa, que toca em
todos os ramos do saber, segundo o próprio Kardec afirmou, sem a criação
de cursos regulares, dados por professores competentes? Quem negar isso
deve estar seriamente afetado por uma doença muito grave, que nos vem
da Idade da Pedra: a alergia à cultura. O Prof. Ramy Chauvin, da Escola de Altos Estudos de Paris, declarou há
pouco tempo que existe entre os cientistas uma doença semelhante, e que
deu o nome de alergia ao futuro.
No meio espírita constatamos hoje a existência, em forma aguda e até
mesmo delirante, de uma conjugação dessas duas formas de alergia.
Os espíritas anti-culturais não querem os cursos (alergia à cultura)
porque temem as modificações salutares que eles produzirão na rotina das
igrejinhas espiritóides (alergia ao futuro). Querem continuar dormindo
nas suas ilusões, balançando-se na rede de suas idéias fragmentárias e
seus conhecimentos superficiais da Doutrina Espírita.
Podem escrever muito e falar demais, mas basta um ligeiro exame das suas idéias para que a doença grave se revele na análise.
O ensino espírita, como todo e qualquer ensino, requer sistematização
escolar. A fase sem escolas da Educação Espírita, como a de qualquer
outra forma educacional, pertence aos primórdios do movimento espírita. E
isso não se precisa demonstrar por argumentos, pois os fatos o estão
demonstrando aos nossos olhos. Onde os fatos falam por si mesmos os
argumentos ficam sobrando.
A rede escolar espírita é hoje uma realidade concreta e se estende desde
o grau mínimo ao grau máximo do ensino, desde o pré-primário até o
universitário.
Além dessa propagação, que vai num crescendo irreversível, da escola
espírita em todos os graus de ensino, temos os cursos de preparação
doutrinárias nas Federações, nos Centros, nos Grupos, nos Hospitais e
assim por diante.
Temos ainda os Institutos de Cultura Espírita, que realizam cursos
regulares e estão se multiplicando pelo país. A escola espírita não é
mais um sonho, uma hipótese, uma utopia –– é uma realidade concreta,
social e cultural, que avança para um futuro esplendente.
Alguns observadores menos avisados (seria bom que estivessem avisados da
inutilidade da luta contra o progresso) estranham o que chamam de
mistura de matérias escolares com princípios espíritas. Esse é mais um
grave sintoma de misoneísmo. Revelam assim uma concepção muito estreita
do Espiritismo, esquecendo-se de que o próprio Kardec afirmou em A
Gênese, respondendo aos que perguntavam porque o Espiritismo veio tão
tarde, que isso aconteceu porque ele toca em todos os ramos da Ciências e
era preciso que estas se desenvolvessem para que ele surgisse.
A tragédia espírita tem sido essa, desde o tempo do Codificador. Há
sempre em nosso meio um certo número de pessoas ilustradas que se
revelam incapazes de abranger no seu entendimento as dimensões da
doutrina. Empacaram no meio do caminho e não querem avançar nem permitir
que os outros avancem. Talvez seja um fenômeno de apego afetivo, com
fundas raízes no egoísmo. Querem o Espiritismo somente para elas ou para
um reduzido número de eleitos entre os quais figuram. Mas desde que
Eurípedes Barsanulfo fundou e dirigiu, com admirável proveito, o Colégio
Allan Kardec em Sacramento, lá pelos idos de 1909, ninguém mais
conseguiu nem conseguirá deter a marcha da escola espírita. Porque ela
corresponde a uma necessidade vital desta fase de transição da vida
terrena. É uma exigência da evolução da Humanidade, do progresso da
Terra.
Por isso mesmo a Educação é hoje o tema mais importante da atualidade
doutrinária. Todos querem progredir, esclarecer-se, orientar seus
filhos. E todos sentem, todos sabem que a escola espírita é a única
realmente capaz de preparar as novas gerações para a nova era que está
surgindo. Só os alérgicos resmungam contra essa maravilhosa vitória do
Espiritismo no mundo, contra essa manifestação incontrolável do poder
das idéias espíritas –– que tudo arrastam em direção ao futuro. Felizes
as novas gerações brasileiras, que dentro em breve poderão formar-se
inteiramente nas escolas espíritas, recebendo a educação integral que só
elas podem dar, –– sem as deturpações dogmáticas do sectarismo
religiosa e sem as deformações pretensiosas do academismo materialista.
Neste Natal devemos agradecer a Jesus a concessão que nos fez,
permitindo ao Brasil a graça de ser o país pioneiro da Educação Espírita
na Terra. A Argentina já nos acompanha com entusiasmo. No Congresso de
Mar Del Prata, no ano passado, o tema central de estudos e debates foi a
Educação Espírita, que empolgou as delegações da Confederação Espírita
Pan-americana, revelando a unidade continental dos espíritas a respeito.
O Congresso, num dos itens das suas conclusões, reconheceu a existência
da Educação Espírita em forma institucionalizada. Esse reconhecimento
foi feito em face da situação escolar espírita no Brasil e graças à
revista Educação Espírita, que leva hoje para o mundo a boa nova das
nossas realizações educacionais.
Testemunho de Kardec
Kardec não foi apenas o iniciador da Educação Espírita. Foi também a
primeira testemunha da eficácia dessa nova forma de educar. Na Revista
Espírita de Fevereiro de 1864, no editorial intitulado Primeiras lições
de moral na infância (página 37 da edição brasileira) analisa com
exemplos algumas contribuições do Espiritismo para modificar a educação
vigente. E afirma: "Ele já prova a sua eficácia pela maneira mais
racional por que são educadas as crianças nas famílias verdadeiramente
espíritas".
Esse testemunho de Kardec é dos mais significativos por mostrar como
toda forma nova de educação é inerente a uma nova concepção do mundo.
Esse é um princípio pacífico em filosofia educacional, mas os leigos no
assunto não o conhecem. Por isso, muitas pessoas que falam e escrevem no
meio espírita, podendo ser ilustradas em outros setores, chegam a
estranhar que se fale em educação espírita, coisa que lhes parece
estranha e descabida.
Um pouco de observação lhes mostraria que, sendo a educação o meio de
transmissão da cultura, toda alteração fundamental no conhecimento, no
saber, terá forçosamente de repercutir na educação.
Por outro lado, esse testemunho de Kardec nos mostra que a Educação
Espírita começou bem cedo, na forma tradicional de educação familiar.
Nas famílias espíritas da França de então as crianças já eram iniciadas
na maneira nova de ver o mundo que o Espiritismo oferece. O pedagogo e o
educador que era Kardec não podia deixar de observar esse fato com
alegria. Porque esse fato confirmava, ao mesmo tempo, o valor e a
legitimidade da Filosofia Espírita –– pois toda Filosofia, como nos
ensinam os mestres, desemboca fatalmente numa Moral, que por sua vez
exige uma Educação para transmitir-se às novas gerações.
Formação do novo homem
A tarefa da Educação Espírita é a formação de um homem novo. A Educação
Clássica greco-romana formou o cidadão, o homem vinculado à cidade e
suas leis, servidor do Império; a Educação Medieval formou o cristão, o
homem submisso a Cristo e sujeito à Igreja, à autoridade desta e aos
regulamentos eclesiásticos; a Educação Renascentista formou o
gentil-homem, sujeito às etiquetas e normas sociais, apegado à cultura
mundana; a Educação Moderna formou o homem esclarecido, amante das
Ciências e das Artes, céptico em matéria religiosa, vagamente deísta em
fase de transição para o materialismo; a Educação Nova formou o homem
psicológico do nosso tempo, ansioso por se libertar das angústias e
traumas psíquicos do passado, substituindo o confessionário pelo
consultório psiquiátrico e psicanalítico, reduzindo a religião a mera
convenção pragmática.
Nesse rápido esquema temos uma visão do desenvolvimento do processo
educacional e de suas conseqüências. Não pretendemos que seja uma visão
perfeita e completa. É apenas um esboço destinado a nos orientar na
compreensão do assunto. E vemos que ele pode nos dar uma idéia negativa
da Educação, mas se refletirmos a respeito veremos o contrário.
Do homem submisso ao Estado ou a Deus, preso a leis, regras e convenções
que o amoldam e desfiguram, avançamos para o homem livre do futuro,
responsável por si mesmo, que chega a se revoltar contra o próprio Deus
no seu profundo anseio de liberdade, mas sempre em busca da sua
afirmação como Ser.
Essa afirmação é a que nos traz o Espiritismo com as provas científicas
da sobrevivência e a perspectiva da imortalidade, com a desmitização da
morte, com a racionalização do nebuloso conceito de Deus e de suas
relações com o homem, com o esclarecimento decisivo do destino do homem e
da razão de ser da vida e suas peripécias.
Cabe, portanto, à Educação Espírita formar o homem consciente do futuro,
que já começa a aparecer na Terra, senhor de si, responsável direto e
único pelos seus atos, mas ao mesmo tempo reverente a Deus, no qual
reconhece a Inteligência suprema do Universo, causa primária de todas as
coisas.
Não é mais possível educar as gerações novas segundo nenhum dos tipos
anteriores de Educação. Daí a rebeldia que vemos nas escolas, a
inquietação da juventude, insatisfeita com a ordem social e cultural,
ambas obsoletas, em que se encontram.
A Educação Espírita se impõe como exigência dos tempos. Só ela poderá
orientar os espíritos para a formação do homem novo, consciente de sua
natureza e de seu destino, bem como de pertencer à Humanidade Cósmica e
não aos exíguos limites da humanidade terrena.
Só ela pode nos dar, nesse homem novo, a síntese de todas as fases da
evolução anterior, numa formulação superior. Porque o homem espírita ––
ou o homem consciente –– que essa nova Educação nos dará, será ao mesmo
tempo o cidadão, o cristão, o gentil-homem, o homem esclarecido e o
homem psicológico, mas na conjugação de todos esses elementos numa
dimensão espiritual e cósmica.
Com isso não queremos dizer que toda a Humanidade se converta ao
Espiritismo, mas tão somente que os princípios fundamentais do
Espiritismo serão as coordenadas do futuro, marcando o âmbito conceptual
e ético da nova formação educacional.
Não foi necessário que toda a Humanidade se convertesse ao Cristianismo
para que os princípios deste remodelassem o mundo. O mesmo acontecerá
com o Espiritismo.
A função da Educação Espírita é portanto a de abrir perspectivas novas
ao processo educacional, adaptando-o às necessidades novas que surgiram
com o desenvolvimento cultural e espiritual do homem. As escolas
espíritas –– como as escolas cristãs o fizeram –– serão os centros
dinamizadores da renovação. E a Pedagogia Espírita –– como o fez a
Pedagogia Cristã –– orientará a nova concepção educacional que está
nascendo em nossos dias.
Por outro lado, correntes avançadas da Pedagogia Contemporânea, como
especialmente a do néo-kantismo, representada por Kerchensteiner na
Alemanha e René Hubert na França, darão sua contribuição para o
desenvolvimento dessa profunda revolução educacional em marcha.
Seria bom, por sinal, que os educadores espíritas procurassem
aprofundar-se no estudo do Traité de Pédagogie Générale, de Hubert, que
nos parece um verdadeiro monumento de renovação educacional dentro das
coordenadas espíritas.
Como vemos, o nascimento da Educação Espírita ainda não se completou.
Começando com Kardec, há mais de um século, ainda está se processando em
nossos dias. Por isso mesmo, somos todos convocados a participar desse
acontecimento espiritual, contribuindo cada qual da maneira que puder
para que ele se complete o quanto antes.
Do livro: Pedagogia Espírita
Caros amigos leitores , gostaríamos, na medida do possível ,contar com a interação de todos ,através de comentários , tornando se seguidores deste blog divulgando para seus conhecidos ,para que assim possamos estudar e aprendermos juntos , solidários e fraternos. Inscrevam-se no blog!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário