Caros amigos leitores , gostaríamos, na medida do possível ,contar com a interação de todos ,através de comentários , tornando se seguidores deste blog divulgando para seus conhecidos ,para que assim possamos estudar e aprendermos juntos , solidários e fraternos. Inscrevam-se no blog!

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

A Origem dos Vícios

Por Carlos Campetti

A questão da origem dos vícios é muito complexa e exige acurada pesquisa, análise e meditação. Em função
dessa mesma complexidade e da pobreza de nossa capacidade atual de sondar nossas próprias origens,
não há possibilidade de se esgotar o assunto. Dessa forma, faremos apenas algumas considerações como
tentativa de entender um pouco mais tão intrincada problemática.
Para dirigir nossa análise, vamos examinar a questão do interesse pessoal e sua relação com os vícios
do indivíduo.
Curiosamente, ao apresentar o significado da palavra interesse em seu dicionário, Aurélio Buarque
de Holanda Ferreira, em certo momento, liga o verbete à expressão “vantagem pessoal”.
Vejamos:
“Interesse [...] S.m. 1. Lucro material
ou pecuniário; ganho. 2. Parte
ou participação que alguém tem
nalguma coisa: Qual o seu interesse
na firma? 3.Vantagem, proveito; benefício:
Só age em seu próprio interesse.
4. Aquilo que convém, que importa, seja em que domínio for.
5. Sentimento de cobiça; avidez.
6. Procura de vantagem pessoal, de proveito.
7. Sentimento de zelo, simpatia, preocupação ou curiosidade por alguém ou alguma coisa: Demonstra interesse pela menina;
Tem interesse por assuntos científicos.
8. Empenho: Não tenho interesse na resolução do caso.
[...]” Como se evidencia, apesar da conotação tendente ao negativo, o problema não está propriamente
no interesse, que pode apresentar aspectos positivos. Afinal, para fazer o bem ao próximo é necessário
interessar-se positivamente por ele. Allan Kardec e os Espíritos Superiores dizem que o egoísmo fundamenta- se no sentimento do interesse pessoal na questão 914 de O Livro dos Espíritos; e, na 917, afirmam que “[...] o egoísmo assenta na importância da personalidade [...]”.O interesse pessoal se qualifica como sendo exclusivo, exclusivista. O indivíduo não estaria propriamente dedicado à sua evolução espiritual,
mas interessado em superar os demais, em ganhos, quaisquer que sejam, que não pretenderia, não desejaria, não teria interesse em compartilhar com outros. Ele se julgaria o mais importante, com direitos exclusivos e merecedor de privilégios em relação aos demais.Nessa situação, ainda que tivesse interesse em
compartilhar algo, teria a preocupação de reservar a melhor parte para si, de garantir primeiro o seu
lado, depois pensaria nos outros em um âmbito restrito.
Mas essa atitude não é a que caracteriza o mais forte, o mais apto a sobreviver pela lei da seleção natural?
Não faria parte do instinto de sobrevivência, pelo menos entre os seres mais inferiores da Natureza?
O ser humano não teria herdado parte desses instintos no processo de evolução?
O que diferencia a espécie animal da humana?
As duas possuem inteligência, mas só a última tem capacidade moral. O homem é dotado de instintos e estes são mais fortes quanto menos evoluído ele é. Precisa trabalhar para o seu desenvolvimento, de forma
que a razão sobrepuje os instintos e ele deixe de ser governado pelas leis mecânicas que regem a vida
dos seres menos evoluídos, destinadas a garantir sua sobrevivência e dar as condições necessárias ao
seu desenvolvimento nos primeiros estágios de evolução.
Cabe ao ser humano desenvolver a capacidade de governar o próprio destino, sendo responsável pelo
uso do livre-arbítrio, da razão, na busca cada vez mais ampla da compreensão do significado da vida,
que, para ser plena, implica a concretização de uma existência ética – no sentido de reguladora das relações
com os demais seres. Porém, mais do que isso, a concretização de uma conduta moral, inspiradora e
norteadora do desenvolvimento integral do ser para o cumprimento do objetivo de sua existência,
cuja meta é o uso pleno da razão a caminho da conquista da intuição.
Quanto mais evoluído, menos interesse em relação à personalidade, menos apego ao que é pessoal,
maior submissão à vontade de Deus, mais dedicação ao bem do próximo, maior luz interior. Quanto
mais interesse pessoal, mais restrito está o ser ao mundo do ego, mais preocupado em defender seus
pontos de vista, seu mundo, seus objetivos particulares. Quanto mais livre do interesse pessoal, mais o
indivíduo se dedica ao próximo, pois sabe que o seu interesse está resguardado pela Justiça Divina.
Quanto mais desinteressado de si mesmo, mais cresce, pois se liberta da jaula do ego para conhecer o
universo do eu profundo que se identifica com as potências superiores
da alma.
O Espiritismo não incentiva o interesse pessoal, ainda que a pretexto da busca de evolução, pois, ao
contrário, o interesse pessoal dificulta o processo evolutivo do ser.
Quem quer que racionalize dessa forma equivocada pode estar interpretando mal o pensamento da
Doutrina, ou não consegue entender o sentido profundo do ensinamento.
É possível, ainda, que, ao ouvir os expositores que abordam o tema, esteja restringindo o conceito
à sua própria capacidade de entendimento. O Espiritismo incentiva o interesse pelo bem, que
precisa ser construído dentro de cada um, fato que possibilitará a sintonia com o bem externo. Mas
se o indivíduo tem desejo pessoal na conquista do bem que está fora dele dificilmente o alcançará, pois
o bem não pode ser somente dele: é de todos. O que ele precisa conquistar é a si mesmo, submetendo o
interesse pessoal, o culto à personalidade, e permitindo o surgimento do amor.Assim, o bem passa a existir
nele, da mesma forma que está nos demais e em todo o Universo.
Desse modo, pode-se afirmar que a raiz do problema está no interesse pessoal, pois é nele que se fundamentam o egoísmo e todos os demais vícios, inclusive a insegurança, que é falta de confiança
na Providência Divina e em si mesmo. O egoísta é profundamente
inseguro. Não confia em ninguém, nem mesmo em Deus, porque desconfia de si, da própria capacidade de compartilhar com os demais. Como possui interesse pessoal, conclui que todos também o possuem e
age, doentiamente, para garantir sua primazia em relação a tudo. A raiz do problema está, desse modo, no interesse pessoal, porque ele é a antítese da caridade, da suprema capacidade de renúncia pessoal em favor de outrem.
Deus não nos deu o interesse pessoal. Deu-nos as condições de caminhar para Ele, para aprender
com Ele e com os que cresceram antes que nós, no compartilhar da vida. Quando, por interesse pessoal,
nos recusamos, querendo a vida só para nós, morremos (filosoficamente) no engano, para renascer posteriormente, quando entendermos o profundo significado da caridade, no exercício da qual
não há espaço para o interesse pessoal, por mínimo que seja.A partir daí, todo aperfeiçoamento individual
é buscado como forma de melhor servir à grande obra da vida,
gerida pelo Criador.
O tema é complexo, difícil, pois, de esgotá-lo.Vale aguardar o futuro. O estudo e a experiência levam naturalmente a mais profundas análises e melhores conclusões sob a inspiração de nossos Benfeitores espirituais.
Setembro 2006 • Reformador

Nenhum comentário:

Postar um comentário