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domingo, 12 de setembro de 2021

DOZE LEGIÕES DE ANJOS

DOZE LEGIÕES DE ANJOS
"Ou pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai e que ele não me daria mais de doze legiões de Anjos?"(Mateus, 26:53)


A despeito de ter afirmado que, para evitar a sua prisão e condenação, Ele poderia apelar para Deus e viriam mais de doze legiões de Anjos, a fim de evitar a consumação daquele ato, Jesus não esboçou nenhum gesto de repulsa à sua prisão.

A única reação que houve, segundo o evangelista Mateus (26:51), partiu de um dos apóstolos que, "fazendo uso de uma espada, cortou a orelha de um dos soldados".

É conveniente aqui assumir que a convocação de "doze legiões de Anjos" tem um sentido simbólico, significando que sendo o Ungido de Deus, Jesus era portador de "todo o poder na Terra e no Céu", consoante o que Ele próprio afirmou em Mateus (28:18), o que implica em dizer que poderia, simplesmente pela vontade, fazer com que os acontecimentos tomassem outro rumo, evitando, assim, a sua prisão, flagelação e crucificação, sem que necessitasse da assistência direta ou indireta de legiões de Anjos, o que representaria um acontecimento inusitado e de cunho verdadeiramente miraculoso.

A passagem evangélica em foco enseja-nos vários ensinamentos. O mais importante deles é a demonstração do ato de desprendimento de Jesus que, reconhecendo que havia chegado a sua hora, e a sua prisão e martírio eram importantes para a consagração do seu Messiado na Terra, se conformou com a vontade de Deus, submetendo-se à injusta prisão sem revolta e sem revide. Realmente, se não acontecesse o martírio do Calvário, a missão de Jesus não teria alcançado a penetração que teve, a ponto de, em apenas três séculos, ter causado a derrocada do Paganismo, religião prevalecente no meio do mais opulento e poderoso Império do mundo de então - o Império Romano.

Outro importante ensinamento foi o episódio, quando Cristo, dirigindo-se ao apóstolo Simão, lhe disse: "Quem com ferro fere, com ferro será ferido", Lei de Causa e Efeito, ou de Ação e Reação, lei essa amplamente difundida pelo Espiritismo, como aquela que melhor conduz o homem para Deus, sem a fórmula da "salvação pela graça" tão decantada por algumas religiões e que elas outorgam àqueles que são bons legalistas e seguem os seus princípios dogmáticos sem hesitação, e sem uma análise à luz da razão.

Se todos os homens e mulheres tivessem consciência de que o destino da criatura humana é regido pela Lei de Causa e Efeito, não haveria na Terra tantos assassinatos, estupros, sequestros, roubos e outros desregramentos, pois que tudo o que se pratica, de bem ou de mal tem a sua ressonância nas vidas futuras, reclamando uma recompensa ou penoso resgate, o ser humano mediria melhor os seus atos e procuraria praticar somente o Bem, a fim de fazer jus às recompensas futuras prometidas por Sermão da Montanha.

"Quem com ferro fere, com ferro será ferido", não significa que, aquele que faz uso de uma arma para ferir ou matar o seu próximo, será ferido com o mesmo perecerá da mesma forma. O ladrão que espolia o seu semelhante, tornando-se o proprietário legitimo de determinados bens na vida futura estará sujeito a perder grande parte dos seus bens, restituindo, muitas vezes, ao seu legítimo dono ou a qualquer outro, tudo o que havia extorquido na vida precedente.

O assassino ou estuprador da vida atual, poderá, na vida subsequente, ser também assassinado ou estuprado, da mesma maneira como o fez na vida anterior, ou então ser vítima de um mal doloroso e incurável. Aquele que sequestra alguém, fazendo derramar lágrimas e semeando a dor e a desolação, infalivelmente se defrontará com problemas da mesma natureza no porvir, quando tiver nascido de novo. O suicida experimentará verdadeiras tormentas e poderá nascer em outras vidas, com profundas deficiências nos órgãos mutilados no processo de suicídio.

E a Lei inexorável da Ação e Reação, a qual se aplica ao indivíduo, e, para evitar que esta Lei se cumpra, não existem fórmulas mágicas, miraculosas, nem as absolvições ministradas pelas religiões da Terra. Somente há uma fórmula para eliminar ou suavizar as duras consequências dos resgates e expiações dolorosas: é a preceituada pelo apóstolo: "O amor cobre a multidão de pecados." A prática intensiva do amor apaga muitos débitos no quadro da Justiça Divina, minorando, sensivelmente, as dores que seriam reservadas ao Espírito transgressor.

Assim como não poderiam descer do Céu, "doze legiões de Anjos", para propugnar pela libertação de Jesus, também o ser humano não se livrará da Lei de Ação e Reação, pois esta guarda íntima relação com as leis de Deus, porquanto o Pai deseja, ardentemente, que seus filhos sejam bons e puros, e somente os ligeiros corretivos, aplicados aos transgressores de suas leis, farão com que eles se depurem das imperfeições e se aproximem cada vez mais Dele.

O drama tenebroso do Calvário era um imperativo, por isso, Jesus deixou bem evidenciado, nas páginas dos Evangelhos, que "era chegada a sua hora", que "para isso ele havia descido à Terra". No Horto das Oliveiras, chegou mesmo a fazer ardente prece a Deus, pedindo ao Pai que "se fosse possível passasse dele aquele cálice de amargura".

Em sua prece o Mestre disse: "Pai, seja feita a tua e não a minha vontade". Consequentemente, a vontade de Deus foi cumprida, numa viva demonstração do amor incomensurável do Criador pelas suas criaturas, pois estas necessitavam de um mártir para iluminar as suas veredas.

Logicamente, a vinda das "doze legiões de Anjos" era mero simbolismo, para demonstrar que tudo o que Jesus fazia tinha o beneplácito de Deus, e o Mestre tinha todo o poder "na Terra e no Céu", até mesmo para atrair em seu favor as potestades do Mundo Maior.


Das trevas terríficas do Calvário, brilhou uma luz que passou a iluminar os horizontes sombrios do mundo, encaminhando para um porvir glorioso a Humanidade daquela época e de todo o sempre.

Paulo A. Godoy

segunda-feira, 31 de maio de 2021

CIDADES IMPENITENTES


[...]"O Espiritismo, através de suas obras fundamentais, esclarece que, da mesma forma como os homens são submetidos a resgates por causa dos seus transviamentos, as cidades também pagam alto preço pelas suas transgressões.[...]Os desígnios de Deus são sábios, e as grandes provações, as expiações que à primeira vista parecem aberrantes e ostensivas negações da misericórdia de Deus, são providenciais e eficientes meios de resgate coletivo de Espíritos pecaminosos. As destruições de cidades, os cataclismos, as inundações e outras formas de expiação coletiva são salutares advertências e, de modo geral, apresentam o reajuste de grandes aglomerados humanos que prevaricaram com seus deveres."







CIDADES IMPENITENTES

“Digo-vos, porém, que menos rigor haverá para a terra de Sodoma do que para ti.” (Mateus, 11:24)

Da mesma forma como os homens são submetidos a penosos resgates individuais, quando malbaratam o legado precioso que Deus lhes concedeu, as cidades também experimentam quedas e dores quando não dão acolhida aos ensinos que, de um modo ou de outro, são proporcionados à sua população pelos mensageiros dos Céus.

As cidades de Sodoma e Gomorra foram destruídas em conseqüência dos seus
inúmeros transviamentos; no entanto, segundo a própria expressão de Jesus Cristo, menos rigor haverá para elas no julgamento divino, do que para Corazim, Betsaida,Cafarnaum e Jerusalém, onde autênticos sinais foram produzidos pela interferência do Mestre, sem que houvesse ocorrido o devido aproveitamento. 

Jerusalém é o exemplo típico desta assertiva. A antiga capital da Judéia teve a oportunidade de presenciar todos os fatos operados por Jesus Cristo: viu a cura de cegos, de paralíticos, de leprosos, a expulsão de Espíritos inferiores; ouviu a voz do tão esperado Messias; presenciou a apoteótica recepção que a sua população prestou
ao Mestre, quando da sua chegada àquela cidade; no entanto, nada serviu de lição, o que o levou a subir a um monte e exclamar amargurado: Jerusalém, Jerusalém! Que matais os profetas e apedrejais os que vos foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir vossos filhos como a galinha ajunta os do seu próprio ninho debaixo das asas, e vós não o quisestes! Eis que a vossa casa vos ficará deserta. E em verdade vos digo que não mais me vereis até que venhais a dizer — Bendito o que vem em nome do Senhor (Lucas, 13: 34-35).

Por reiteradas vezes o Senhor insistiu para que a cidade e a nação voltassem
atrás em seus desatinos e desvios, abandonando uma vida eivada de vaidade e orgulho. Muitos sábios e profetas desceram do Alto para essa finalidade. O próprio Jesus Cristo ali surgiu para complementar a tarefa dos seus prepostos. Nada disso valeu. Consumou-se, então, no tocante a Israel, a parábola dos lavradores malvados:
Havia um homem, pai de família, que plantou uma vinha. Cercou-a de uma sebe, construiu nela um lagar, edificou-lhe uma torre e arrendou-a a uns lavradores, depois se ausentou do país.
Ao tempo da colheita, enviou seus servos aos lavradores para receber os frutos que lhe tocavam.
E os lavradores, agarrando os servos, espancaram a um, mataram a outro e a outro apedrejaram.
Enviou ainda outros servos em maior número; e trataram-nos do mesmo modo.
E por último enviou-lhes o próprio filho, dizendo: a meu filho respeitarão.
Mas os lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro; ora,matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança.
E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e o mataram.
Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores?
Responderam-lhe: Fará perecer horrivelmente a estes malvados, e arrendará a vinha a outros que lhe remetam os frutos nos seus devidos tempos.
O Senhor da vinha é Deus, os lavradores são os homens, os enviados que foram mortos, expulsos ou apedrejados, foram os profetas e os grandes missionários que vieram à Terra; o filho do senhor da vinha é Jesus Cristo.
Jerusalém apedrejou, expulsou e matou numerosos enviados de Deus; o Pai enviou-lhe o seu próprio Filho, e também este foi morto. Os homens se recusaram a produzir bons frutos e a retribuir a misericórdia infinita do Criador que lhes deu a Terra, com todas as possibilidades de produção.
A cidade de Jerusalém e toda a Judéia foram então tiradas desse povo e entregues a um outro. Os filhos de Israel foram dispersos no ano 70, perdendo sua pátria e praticamente todo o seu patrimônio e, da suntuosidade do seu famoso Templo, não restou pedra sobre pedra. Cumpriu-se, desta forma, o vaticínio de Jesus: “A Casa ficou realmente deserta.” (Lucas, 13:35).

Esta parábola de Jesus, obviamente, não se aplica somente o a Jerusalém, mas a muitas cidades e nações.

Quando o Mestre obtemperou: Ai de ti, Corazim, ai de ti, Betsaida, o seu pensamento era de fazer distinção entre as cidades que recebem a palavra de Deus, e aquelas que não o fazem.

Para ilustração, mencionemos a população da cidade de Nínive, a qual, decidindo-se a ouvir as advertências do profeta Jonas e a se penitenciar dos seus
desregramentos, evitou a sua própria destruição.

A maleabilidade que existe no seio de alguns povos, mais do que em outros, para a assimilação dos ensinamentos vindos do Alto, levou o Mestre a exclamar: Se em Tiro ou em Sidônia se tivessem operado os fatos maravilhosos que se produziram em Corazim, em Betsaida e em Cafarnaum, por certo elas há muito haviam mudado de roteiro.

O Espiritismo, através de suas obras fundamentais, esclarece que, da mesma forma como os homens são submetidos a resgates por causa dos seus transviamentos, as cidades também pagam alto preço pelas suas transgressões.

Quantas cidades e nações opulentas do passado não foram guindadas às posições mais culminantes e, posteriormente, quando o orgulho e a vaidade se haviam constituído em seu apanágio, não foram precipitadas às posições mais ínfimas? Foi o que sucedeu com Cafarnaum, conforme prognosticou Jesus Cristo:
“Serás elevada até ao Céu e depois precipitada até o hades terrível da destruição e da dor”.

A velha Grécia dos filósofos discutidores e falazes se impôs ao mundo como paradigma de luz e poder, e depois caiu no ostracismo. Roma dominou o mundo, avassalando as nações e ostentando o cetro do orgulho e da prepotência, vendo, posteriormente, a sua própria derrocada, vítima dos seus próprios erros.

A velha Cartago não se contentou com a situação de proeminência que Deus lhe concedeu, e seu espírito expansionista ocasionou sua própria destruição.

As tribos de Israel não se limitaram aos territórios que o Pai havia prometido aAbraão. Invadiram terras de outros povos e o cativeiro, sob o tacão dos caldeus, dos babilônicos, dos egípcios e dos romanos, foi o choque de retorno. Suas cidades e suas preciosidades foram destruídas e seu povo submetido a terríveis e prolongados cativeiros.

Quantas cidades são assoladas por cataclismos de toda a espécie: incêndios,
inundações, terremotos, maremotos, erupções de vulcão?

Os desígnios de Deus são sábios, e as grandes provações e expiações coletivas,que à primeira vista parecem aberrante e ostensiva negação da misericórdia de Deus, são providenciais e eficientes meios de resgate coletivo de Espíritos pecaminosos. 

As destruições de cidades, os cataclismos, as inundações e outras formas de expiação coletiva são salutares advertências e de um modo geral representam o reajuste de grandes aglomerados humanos que prevaricaram com seus deveres.

PAULO ALVES DE GODOY

CASOS CONTROVERTIDOS DO EVANGELHO

terça-feira, 25 de maio de 2021

SOCIEDADE

fragmentos do texto:

[...]A sociedade humana pode ser comparada a imensa floresta de criações mentais[...]s corações que hoje oprimem o próximo, a se prevalecerem da galeria social em que se acastelam, na ilusória supremacia do ouro, voltam amanhã ao terreno torturado da carência e do infortúnio[...]Sociedades que ontem escravizaram o braço humano são hoje obrigadas a afagar, por filhos do próprio seio, aqueles que elas furtaram à terra em que se lhes situava o degrau evolutivo. [...]Agrupamentos separatistas, que humilham irmãos de cor, voltam na pigmentação que detestam[...]Em todas as épocas, a sociedade humana é o filtro gigantesco do espírito, em que as almas, nos fios da experiência, na abastança ou na miséria, na direção ou na subalternidade, colhem os frutos da plantação



Sociedade


A sociedade humana pode ser comparada a imensa floresta de criações mentais, onde cada espírito, em processo de evolução e acrisolamento, encontra os reflexos de si mesmo.
Aí dentro os princípios de ação e reação funcionam exatos.

As pátrias, grandes matrizes do progresso, constituem notáveis fulcros da civilização ou expressivos redutos de trabalho, em que vastos grupos de almas se demoram no serviço de auto-educação, mediante o serviço à comunidade, emigrando, muita vez, de um país para outro, conforme se lhes faça precisa essa ou aquela aquisição nas linhas da experiência.

O lar coletivo, definindo afinidades raciais e interesses do clã, é o conjunto das emoções e dos pensamentos daqueles que o povoam.

Entre as fronteiras vibratórias que o definem, por intermédio dos breves aprendizados “berço-túmulo”, que denominamos existências terrestres, transfere-se a alma de posição a posição, conforme os reflexos que haja lançado de si mesma e conforme aqueles que haja assimilado do ambiente em que estagiou.

Atingida a época de aferição dos próprios valores, quando a morte física determina a extinção da força vital corpórea, emprestada ao espírito para a sua excursão de desenvolvimento e serviço, reajuste ou elevação, na esfera da carne, colhemos os resultados de nossa conduta e, bastas vezes, é preciso recomeçar o trabalho para regenerar atitudes e purificar sentimentos, na reconstrução de nossos destinos.

Dessa forma, os corações que hoje oprimem o próximo, a se prevalecerem da galeria social em que se acastelam, na ilusória supremacia do ouro, voltam amanhã ao terreno torturado da carência e do infortúnio, recolhendo, em impactos diretos, os raios de sofrimento que semearam no solo das necessidades alheias. 

E se as vítimas e os verdugos não souberem exercer largamente o perdão recíproco, encontramos no mundo social verdadeiro círculo vicioso em que se entrechocam, constantemente, as ondas da vingança e do ódio, da dissensão e do crime, assegurando clima favorável aos processos da delinquência.

Sociedades que ontem escravizaram o braço humano são hoje obrigadas a afagar, por filhos do próprio seio, aqueles que elas furtaram à terra em que se lhes situava o degrau evolutivo. 

Hordas invasoras que talam os campos de povos humildes e inermes, neles renascem como rebentos do chão conquistado, garantindo o refazimento das instituições que feriram ou depredaram. 

Agrupamentos separatistas, que humilham irmãos de cor, voltam na pigmentação que detestam, arrecadando a compensação das próprias obras. 

Citadinos aristocratas, insensíveis aos problemas da classe obscura, depois de respirarem o conforto de avenidas suntuosas costumam renascer em bairros atormentados e anônimos, bebendo no cálice do pauperismo os reflexos da crueldade risonha com que assistiram, noutro tempo, à dor e à dificuldade dos filhos do sofrimento.

Em todas as épocas, a sociedade humana é o filtro gigantesco do espírito, em que as almas, nos fios da experiência, na abastança ou na miséria, na direção ou na subalternidade, colhem os frutos da plantação que lhes é própria, retardando o passo na planície vulgar ou acelerando-o para os cimos da vida, em obediência aos ditames da evolução.

Emmanuel;
Psicografia: Francisco Cândido Xavier;
Do livro: Pensamento e Vida.

quinta-feira, 6 de maio de 2021

ESCÂNDALOS "As alegorias do Mestre demonstram a Sua profunda sabedoria de esconder na letra que mata, o espírito que vivifica, porque os Seus eram ensinamentos para todos os períodos e tempos da Humanidade, não somente para uma fase do processo evolutivo do ser humano e do planeta terrestre.



"Aí do mundo por causa dos escândalos." - Mateus, (cap.XVIII, v. 7)

Tudo aquilo quanto violente o equilíbrio, o estabelecido, constitui um escândalo, uma irreverência atentatória contra a ordem. Como consequência, os efeitos do ato danoso produzem ressonância, desarmonizandoo indivíduo e, com ele, o grupo social, no qual se encontra situado.

Por constituir um desequilíbrio daquele que o pratica, o escândalo, sob o ponto de vista da psicologia profunda, é manifestação da sombra que permanece em vertiginosa expansão no ser humano, gerando vícios e hábitos mórbidos que levam a desaires profundamente perturbadores, já que terminam por afetar aqueles que lhe compartem a convivência, a afetividade.
Invariavelmente, nesse caso, é de natureza íntima e ninguém toma conhecimento, porque permanece agindo no lado escuro da personalidade, fomentando distúrbios emocionais e comportamentais de variado porte, que se transformam em conflitos de consciência quando defrontados com o ético, o social e o espiritual.

Quase sempre o indivíduo mergulhado na sombra, de que tem dificuldade de se libertar, disfarça as imperfeições projetando a imagem irreal de um comportamento que está longe de possuir, mas que se torna, não raro, severo para com os demais e muito tolerante para com os próprios erros.

Estabelecida essa transferência psicológica de conduta, passa a viver em torvelinho de paixões e tormento aflições que procura disfarçar com habilidade.

O lamento do Homem-Jesus sobre o escândalo é portador de uma invulgar energia nos Seus discursos, convidando a atitudes que seriam absurdas se consideradas na letra neotestamentária, que conclama à eliminação do órgão por intermédio do qual se processa o escândalo, antes que despertar na Vida além do corpo com o seu modelo perispiritual degenerado. Isto porque, todas as construções mentais do Espírito, antes de atingirem o corpo e o induzirem à ação de qualquer procedência, são decodificadas pelo agente intermediário, que se encarrega de impulsionar a forma física na execução do propósito psíquico.

Assim sendo, compreensivelmente a matéria não é responsável pelas ações a que vai induzida. Razão porque fortaleza e fraqueza de caráter, de vontade, de ação, pertencem ao Espírito e não ao corpo, que sempre reflete a origem de onde procedem. É inevitável a ocorrência de fenômenos perturbadores e infelizes, considerando-se o estágio em que se demoram as criaturas humanas, a sua anterioridade de conduta, os hábitos a que se encontram vinculadas. Todavia, quando alguém se ergue para censurar e condenar sem autoridade moral para o fato, também produz escândalo, por esconder a deficiência e desforçar-se naquele em quem projeta a inferioridade que gostaria de eliminar.

Nessa proposta encontra-se embutido também o dever que a todos cumpre, que é respeitar as decisões e ações do seu próximo, porquanto, quem se levanta para impedir o processo de desenvolvimento de outrem, seja por qual motivo for, realiza um escândalo de agressão ao seu livre arbítrio, envolvendo-o na sua sombra, de que não se consegue libertar. Esse é o sentido revolucionário da palavra de Jesus, em torno da necessidade de auto-iluminação para se arrancar o órgão escandaloso: língua, braço, mão, pé...

Erradicar na sua origem a onda vibratória que vai acionar o órgão, eis o esforço que deve ser empreendido, de forma que seja eliminada a causa geradora da futura ação malévola, de modo que o indivíduo se harmonize, mudando a linha direcional das aspirações e dos compromissos aos quais se vincula. Inevitavelmente se tornam necessários os escândalos no mundo, porque constituem advertências para a observância dos bons princípios, porquanto se assim não fora, dificilmente se poderia aquilatar os males que produzem os instintos agressivos, os comportamentos destrutivos, invitando às mais audaciosas conquistas morais.

Para que os escândalos se tornem conhecidos, as criaturas se lhes tornam intermediárias, e é a essas que Jesus lamenta com severidade, porquanto estão escrevendo o capítulo obscuro do seu porvir, no qual defrontarão os frutos apodrecidos das atitudes anteriores que ora lhes exigem recuperação. Como é sempre mais difícil reeducar, reparar e refazer, o discurso de advertência tem cabida, ajudando o indivíduo a poupar-se, mesmo que com austeridade, de muitos prazeres que são de natureza primária e perversa, do que os fruir e passar a viver sob o açodar da consciência intranqüila e do coração angustiado.

Quando o indivíduo escandaliza, prescreve para si mesmo consequências lamentáveis, sendo conduzido a percorrer o caminho de volta com aqueles a quem feriu, ou enfrentando os acidentes morais que foram deixados no transcurso dos seus atos. E' necessário, por enquanto, a ocorrência do escândalo e das suas sequelas morais e espirituais, porque, dessa maneira, as criaturas passam a considerar a profundidade do significado existencial, que é todo elaborado em compromissos de dignificação e de engrandecimento moral.

Um campo não lavrado se torna pasto de miasmas ou de morte, área desértica, selvagem ou pantanosa, aguardando o arado e o dreno, conforme for o espaço de que se disponha para semear e cultivar. As afeições agressivas e conflituosas no lar ou fora dele resultam das ações escandalosas do passado, ora de retorno, a fim de que se reabilitem aqueles que geraram as dificuldades, provando o pão amargo do seu vício e da sua insensatez.

A única maneira de construir-se o futuro ditoso é extirpar dos sentimentos o egoísmo, esse grande responsável pelos males que se multiplicam em toda parte, substituindo-o pelo seu antagonista, que é o altruísmo, gerador de bênçãos e estimulante para o crescimento moral daquele que o cultiva.

Na conduta de sombra espessa do passado, muitos místicos, atormentados pelo masoquismo, levaram a severa proposta de Jesus ao pé da letra, procurando amputar os órgãos que provocaram anteriormente danos ao próximo, esquecidos de que esses prejuízos são sempre de natureza moral, permanecendo insculpidos naqueles que os operam.

Essa necessidade de sofrimento, de castração, de amputação, está superada pela razão, pelo discernimento, que demonstram as excelentes oportunidades que se podem fruir utilizando-os de forma positiva e edificante, face às necessidades de toda natureza que são encontradas amiúde aguardando socorro e orientação.

Qual a utilidade de amputar-se a mão que esbofeteou, quando ela não pode recuperar moralmente aquele que foi ultrajado? E como amputar o pensamento vil, senão através da disciplina que cultiva aspirações enobrecedoras e induz a condutas de liberdade? Os vícios, que são heranças do primarismo ancestral do ser, necessitam de correção mediante o esforço empreendido para a aquisição de novos costumes, aqueles que são saudáveis e contribuem para o bem-estar.

Seria um absurdo, num homem de excelente lucidez, arrancar-se um olho porque é instrumento da inveja daquilo que observa, sendo que é no Espírito que se encontra a mazela, a inferioridade moral, a ambição desmedida de possuir o que noutrem percebe. Extirpar o órgão, de forma alguma altera o sentido mental do comportamento, enquanto que necessário é corrigir a óptica emocional para tudo visualizar com alegria e gratidão a Deus, eis a forma mais exequível para a superação das dificuldades enraizadas no ego discriminador.

As alegorias do Mestre demonstram a Sua profunda sabedoria de esconder na letra que mata, o espírito que vivifica, porque os Seus eram ensinamentos para todos os períodos e tempos da Humanidade, não somente para uma fase do processo evolutivo do ser humano e do planeta terrestre. Penetrando nos arcanos do futuro, Ele podia perscrutar a sua essencialidade e cultura, deixando desde então exarados os códigos de respeito pela vida e de integração na Consciência Cósmica.

A visão da unicidade das existências, em uma psicologia superficial, torna absurda a lição do Mestre a respeito dos escândalos, bem como outras de notável atualidade, se confrontadas com a doutrina dos renascimentos corporais, que contém a sementeira dos atos e a sua colheita, a realização em uma etapa e o seu reencontro em outra, constituindo o método educativo e salutar para o desenvolvimento de todos os valores éticos que jazem adormecidos no ser profundo, aguardando os fatores propiciatórios ao seu desenvolvimento.

Enquanto o ser humano não se liberta dos prejuízos morais a que se entrega, cabe o lamento do Mestre: -Ai do mundo por causa dos escândalos, face aos infelizes efeitos que deles decorrem.

Joanna de Ângelis/Divaldo Franco
Do Livro: Jesus e o Evangelho

sábado, 20 de fevereiro de 2021

O ESCÂNDALO E SEUS INSTRUMENTOS: "Os homens se assemelham a certos reservatórios dágua. Olhando-se esta, superficialmente, decantada como está, parece límpida, cristalina e pura; mas, tomando-se uma vara e revolvendo o fundo do tanque, eis que se turva, escurece[...] O indivíduo que se estuda e se analisa, procurando sondar os arcanos profundos do seu ser, fica conhecendo as tendências e as inclinações viciosas que lhe são próprias. De posse desse importante dado, o homem, vigiando e orando, como recomenda o Condutor por excelência da Humanidade, pode perfeitamente afastar de si as possibilidades de provocar escândalo. É de grande sabedoria o prolóquio que diz: É melhor prevenir que remediar"".


         





           O ESCÃNDALO E SEUS INSTRUMENTOS





Comecemos por trasladar, a propósito deste tema de grande interesse para todos nós, o texto evangélico de Mateus, Cap. XVII, v. 7 a 9.


"Ai do mundo por causa dos escândalos ! porque é necessário que haja escândalos; mas aí daquele homem por quem vem o escândalo! Portanto, se a tua mão, ou o teu pé, te escandaliza, ou te serve de tropeço, corta-o e lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida manco ou aleijado do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno. Se o teu olho te serve de pedra de tropeço, arranca-o e lança-o fora de ti; é preferível entrares na vida com um olho só do que, tendo dois, seres lançado na Geena de fogo".


Só mesmo que conhece a fundo as fraquezas e as mazelas humanas pode nos proporcionar um ensinamento tão eloquente e de tanta relevância.


Aí do mundo por causa dos escândalos ! Porque é necessário que haja escândalos; mas, ai daquele homem por quem vem o escândalo!


O Mestre quer dizer com estas palavras que o mundo está na contingência de ser, como realmente é, teatro de escândalos. Habitada por Espíritos atrasados, tanto na esfera dos encarnados, como no seu ambiente exterior, onde pululam as almas daquela mesma categoria, aguardando o ensejo de vestirem a libré da carne, a Terra tem sido, e ainda é, cenário de lutas fratricidas, de rivalidades soezes, de inveja com seu cortejo de perfídias; de orgulho, sempre melindrado, assumindo aspectos, ora de ferocidade, ora de ridicularia, ora, ainda, de estupidez; de ambições desaçaimadas, provocando a ruína de uns para gáudio de outros, a pobreza e a miséria para o enriquecimento de poucos; finalmente, da hipocrisia e da filáucia dos intrujões de baixo e alto coturnos, agindo por conta própria, ou como representantes de instituições poderosas e, porque poderosas, privilegiadas.


Assim, pois, como orbe expiatório, não admira que os escândalos se sucedam, sem solução de continuidade, em seu seio. O escândalo, como é sabido, se caracteriza nos atos indecorosos, nas atitudes impudicas e até mesmo na conduta ou procedimento que destoa do uso e das convenções adotadas pela maioria. Pondo de parte esta última modalidade, a qual nada tem que afete a moral, o escândalo nada mais é que a exteriorização das sujidades morais ocultas no interior dos homens.


É do coração, diz o Evangelho, em sua linguagem simples e concisa, que vem o roubo, o adultério, o homicídio, a inveja, o dolo e as loucuras. O escândalo, portanto, é a manifestação daquilo que jazia oculto nos meandros dos corações, nas profundezas da alma humana. Uma circunstância qualquer, um momento azado, um choque inesperado se incumbe de pôr a descoberto o que se achava encoberto, tornando do domínio público o que estava em segredo. O escândalo, pois, é a revelação de um mal existente no indivíduo, revelação provocada pelos atritos da vida de relação, pelos entrechoques de interesses e vaidades, ou por simples circunstâncias ocasionais.


Daí a sábia observação do Instrutor da Humanidade: É preciso que haja escândalos, mas ai daquele por quem o escândalo vem! Sim, é necessário que os homens se revelem, que mostrem o que realmente são, que se venha a saber e conhecer as suas intenções e pensamentos reservados. Provocando o escândalo e suportando as consequências que do mesmo decorrem, o homem acaba corrigindo-se, mudando de atitude e de proceder. Este fato justifica plenamente a moralidade da sentença: É necessário que haja escândalos.


Os homens se assemelham a certos reservatórios dágua. Olhando-se esta, superficialmente, decantada como está, parece límpida, cristalina e pura; mas, tomando-se uma vara e revolvendo o fundo do tanque, eis que se turva, escurece, assumindo aparência desagradável e até repugnante. Por quê? Simplesmente porque veio à tona a imundície que se achava acamada nas paredes do reservatório. Este é o meio e o processo de limpá-los: não existe outro. É o que sucede com as nossas almas. Sua purificação se processa, agitando-se, pondo em suspensão as espurcícias que ela traz escondida em seus escaninhos mais íntimos.


As impurezas do Espírito são ainda comparáveis àquelas de que a lues impregna o sangue, originando enfermidades várias, chagas e tumores que se localizam nesta ou naquela região do corpo. Esses tumores devem ser abertos e drenados para que o pus escoe até a derradeira gota, embora escandalize a vista e o olfato dos circunstantes.


S. Paulo, no seu zelo pelas igrejas que fundava, dirigiu à de Corinto uma epístola da qual extratamos o seguinte trecho, que muito se relaciona com o assunto em apreço: Sei que há contendas e dissídios em vossa igreja... Pois é necessário mesmo que haja divisões e até heresias entre vós, para que os aprovados fiquem manifestos. (Aos Coríntios, 11-18 e 19). Aqui se trata do escândalo no seio de uma comunidade. Paulo não estranha o caso. Reputa como acontecimento natural, mostrando seu prisma favorável, através da seleção que determina, separando os aprovados daqueles que o não são. Esse método seletivo é benéfico às instituições que colimam ideais nobres e elevados, escoimados dos elementos inconvenientes e irredutíveis que perturbam e embaraçam a sua marcha.


É assim que o ânimo varonil de Paulo não se abatia diante dos escândalos verificados nas igrejas que ia organizando, no desempenho de sua missão evangelizadora. Ele via nesses escândalos um processo salutar de expurgo, contribuindo para desenvolvimento e progresso das comunidades cristãs.


No decurso dos três anos de seu messianato, Jesus teve ocasião de constatar, entre os apóstolos, alguns escândalos que certamente repercutiram dolorosamente sobre ele. Tal foi o proceder de Pedro, negando-o por três vezes, abertamente. Dessa culpa, o velho Pescador se penitenciou depois, amargamente, tornando-se firme e vigilante durante o resto de sua existência. Colheu, portanto, um proveito da própria queda, do mesmo ato de pusilanimidade em que incorreu.


Escândalo maior, de larga repercussão, cujos rumores atravessaram os séculos, perdurando ainda, foi por certo o de Judas Iscariotes, entregando o seu Mestre aos esbirros romanos, mediante o preço de 30 dinheiros, recebido dos sacerdotes judeus. Esse grave delito produziu consequências dolorosíssimas, determinando em Judas, arrependido, tamanho remorso, que o arrastou ao suicídio. Sua razão, então confusa e atrabiliária, conturbada e aflita, entendeu de punir aquele crime com a pena de morte, aplicando-a em si mesmo.


No paroxismo da mais veemente contrição, Judas se fez juiz em causa própria, reconhecendo a gravidade de sua culpa e contra ela lavrando e executando a pena máxima. De um transe tão penoso e amargurado resultou, como é natural, o aniquilamento do homem velho, com suas paixões inconfessáveis, ressurgindo uma criatura nova, purificada no cadinho da dor, redimida pelo batismo de fogo e reintegrada no desempenho da missão para a qual fora escolhida pelo próprio Cristo de Deus. De um grande mal resultou um grande bem.


E assim se justificam estas sábias palavras do inigualável Pedagogo, do incomparável Sociólogo e Psicólogo — Jesus de Nazaré: É necessário que haja escândalos, mais ai daqueles por quem o escândalo vem!


É conveniente deixarmos bem assinalados estes esclarecimentos: pois não estamos fazendo apologia, mas estudo dos escândalos e suas consequências. O escândalo é um mal, porém um mal necessário, como as cadeias, os presídios, o divórcio, etc., dadas as condições dos Espíritos que se encarnam neste planeta de provas e expiação. Assim pensando, disse o poeta espírita, Alarico Cunha: Que importa a intemperança, a orgia, a bebedeira, Se for para solver a taça derradeira!


Quem realiza o Amor, embora seja rude, Reconhece no Vício a sombra da virtude.


Que importa a luta armada, a monstruosa guerra, Se for para trazer a Paz à Terra!


Que importa a inclinação que temos para errar, Se o erro nos ensina a regra de acertar!


Se Paulo não persegue o exército cristão, Talvez não lhe sorrisse a Santa Conversão: Tão sublime, tão grande e cheia de heroísmo, Que o seu nome fundiu-se ao do Cristianismo. E eis porque Jesus, por muito nos amar. Vedou-nos o direito e o voto de julgar.


Prosseguindo na dissecação do texto evangélico, meditemos ainda sobre a seguinte alegoria que faz parte dele: "Se a tua mão, ou o teu pé, te serve de escândalo, corta-o e lança-o fora de ti; pois é preferível entrar na vida manco ou aleijado do que, tendo dois pés e duas mãos, ser lançado no fogo. Se o teu olho te serve de escândalo, arranca-o e lança-o fora de ti, porque é melhor possuir a vida com um só olho, do que tendo dois, ser lançado na Geena".


A figura acima nos ensina que devemos empregar todos os meios ao nosso alcance, mesmo aqueles mais rígidos e penosos, a fim de não nos tornarmos motivos ou instrumentos de escândalo. É possível, por certo, evitar o escândalo. O sábio Educador não prescreve aos seus educandos doutrinas e preceitos inexequíveis. Para fugirmos do escândalo, é bastante alcançarmos a condição expressa no velho aforismo socrático: Conhece-te a ti mesmo.


O indivíduo que se estuda e se analisa, procurando sondar os arcanos profundos do seu ser, fica conhecendo as tendências e as inclinações viciosas que lhe são próprias. De posse desse importante dado, o homem, vigiando e orando, como recomenda o Condutor por excelência da Humanidade, pode perfeitamente afastar de si as possibilidades de provocar escândalo. É de grande sabedoria o prolóquio que diz: É melhor prevenir que remediar.


O já citado Paulo, escrevendo aos núcleos de crentes, assim os aconselhava: Examine-se, pois, cada um a si mesmo. Se nós nos examinássemos a nós próprios, por certo não seríamos condenados. (l.a Coríntios, XI - 28 e 31). Quem se conhece, porque analisa e controla o seu interior, percebe e sente em si mesmo as fraquezas da carne, os impulsos das paixões e os arrastamentos da animalidade ainda não dominada pelas forças do Espírito. É nessa íntima confissão de inferioridade, inerente ao nosso estado evolutivo atual, que se assentam a segurança e a consolidação do bom terreno já conquistado, e de futuros surtos de progresso a conquistar.


Naturalmente, meditando nesta contingência, extensiva a todos os homens, é que o inspirado converso de Damasco se exprime desta maneira: Quando me sinto fraco, aí sou forte. A minha fortaleza se aperfeiçoa na fraqueza. Quando esse gigante da fé confessa peremptoriamente a precariedade de sua humana condição, que diremos nós, míseros calcetas, cumprindo, na penitenciária da carne, a nossa expiação? O citado apóstolo das gentes foi ainda mais longe na exposição sincera do seu estado de alma, dizendo: Que infeliz homem que eu sou: aquilo que quero não faço: aquilo que não quero, isso faço!


É com humildade de Espírito que havemos de vencer as nossas imperfeições, as nossas misérias morais, palmilhando, sem vacilações, com passo firme, a senda infinita da evolução em obediência ao profundo imperativo de Jesus: Sede perfeitos como vosso pai celestial é perfeito. Aquele célebre — vigiai e orai — de que Ele nos fala, encerra um conselho que só poderia ser dado por quem nos conhece em nossas mais íntimas particularidades e nas minúcias mais secretas do nosso coração. Quem vigia desconfia; e quem ora confia. Confiar em Deus, na sua justiça entrosada em sua misericórdia, e desconfiar de nós mesmos, do nosso pseudo valor, do nosso presumido saber e poderio — tal o programa evangélico, tal o critério preconizado pelo Espiritismo.


Não é fácil a vitória, sabemos disso. O que muito vale muito há de custar. A nossa redenção encerra o supremo Bem; portanto custará o supremo esforço. Por isso aconselha o Mestre e Senhor que eliminemos as mãos e os pés, se estes forem causa de escândalo. Que arranquemos os olhos de suas órbitas, se se tornarem motivo de tropeço.


A posse da vida eterna, dessa vida isenta das contingências que se verificam com o nascimento e a morte, compensa todos só esforços, justifica todos os sacrifícios. Tal aquisição importa na vitória do último inimigo a vencer, que é a morte, integrando-nos na imortalidade, em sua acepção positiva e concreta. O doente permite que se lhe ampute a mão, o pé, a perna ou o braço, desde que dessa intervenção cirúrgica resulte a conservação da sua vida corpórea. Consente e se sujeita à ablação de órgãos internos, uma vez que tal medida extrema possa advir probabilidade de cura dos males físicos de que seja acometido. Assim, pois, cumpre também que, no plano espiritual, se empregue o mesmo processo, a fim de evitar as quedas desastrosas das quais o homem venha a ser vítima.


Corta-se virtualmente a mão, deixando de apoderar-se do alheio, deixando de lesar o próximo e afastando as oportunidades de o fazer, desde que percebamos em nós as fascinações ou os pendores que nos poderiam arrastar à prática de atos desonestos; deixando, outrossim, de empregar as mãos para magoai ou agredir o nosso próximo, empunhando armas fratricidas.


O dia em que os homens cortarem as mãos, neste sentido, não haverá mais guerras cruentas e devastadoras, como essa que ora ensanguenta o Velho Mundo. Aliás, as conflagrações deflagradas entre os povos são, a seu turno, explosão monstro de escândalo cujos fatores, acumulados no seio das nações, irrompem, em dado momento, semelhantemente aos vulcões, quando entram em atividade. As lavas da ambição e da cobiça, e mais o fumo negro de ódios recalcados começam então a ser vomitados pela cratera do canhão e pelo bojo dos aviões, que do alto semeiam a morte e a ruína sobre a terra. Amputa-se o pé ou mesmo a perna, não frequentando os meios corruptos, as sociedades dissolutas, as casas de tolerância, os lupanares, ou mesmo as reuniões cujas finalidades seja equívocas e indefensáveis.


Arrancam-se os olhos, evitando as leituras licenciosas, as literaturas enervantes, eivadas de descrições indecorosas; arrancam-se os olhos, não assistindo aos espetáculos e filmes onde se desenrolam cenas impudicas, indecentes e livres, arrancam-se, enfim, os olhos, deixando de utilizá-los na concupiscência, na cobiça da mulher e dos bens de outrem e na maliciosa interpretação de tudo que cai sob o seu domínio. Nesta mesma ordem de considerações, podemos acrescentar, mantendo-se dentro do pensamento do Divino Mestre, mais o seguinte: Se os teus ouvidos te servem de escândalo, rompe, desde logo, os seus tímpanos, pois é melhor ser surdo que ouvir blasfêmias, heresias, contos imorais e pilhérias obscenas, visto como as más conversações corrompem os bons costumes.


Se a tua língua te serve de escândalo, arranca-a e atira para longe de ti, pois é preferível ser mudo, a usar a palavra para caluniar ou denegrir a reputação alheia, para ofender o próximo, para espalhar a mentira e os boatos difamatórios; para ilaquear a boa fé dos simples e dos pequeninos; para iludir, fascinar e confundir a mente do povo, visando a objetivos dolosos; finalmente, para adulterar os próprios pensamentos, dizendo o que não sente, simulando e dissimulando, fingindo e disfarçando os mesmos sentimentos do seu coração, agindo, portanto, em completo desacordo com a seguinte regra áurea, preconizada por Aquele que é a imagem viva da Verdade: Seja o teu falar — sim, sim, não, não, pois tudo o que passa disto tem procedência maligna.


São assim os ensinamentos do incomparável Mestre e único condutor de homens digno de confiança: claros, concisos, isentos de subterfúgios e ambiguidades — fundados todos eles no pleno conhecimento das nossas necessidades. Os fatos se incumbem de dar testemunho, dentro de cada um de nós, da veracidade incontestável da palavra autorizada e sempre oportuna do Verbo Divino.


Não precisamos de intermediários ou intérpretes para essa palavra. A todos Deus concede as faculdades e os meios de perceber e sentir as verdades eternas reveladas do céu. Basta que o homem tenha boa vontade, seja sincero e deseje recebê-las, para que a fonte da água viva, derrame a cristalina linfa, inundando o seu coração, convertendo-o, por sua vez, em manancial, fluindo para a vida imortal, nos paramos celestes.


A lição do escândalo e seus instrumentos, que estudamos, é de grande alcance e importância. Consideremos, para finalizar, um dos seus aspectos mais eloquentes e de impressionante gravidade, ao qual ora nos vamos reportar e cuja evidência temos diante dos olhos, no meio em que vivemos.


Se nós não atendermos à sábia advertência de Jesus, mutilando-nos figuradamente, como Ele aconselha, essas mutilações podem se concretizar um dia, desde que assim determine a justiça imanente na exigência do resgate de culpas e crimes que tenhamos cometido. E assim se explicam os dolorosos casos de anomalia e de aleijões, infelizmente mais ou menos comuns neste mundo.


A cegueira de nascimento, a surdez e a mudez congênitas, a falta de membros inferiores ou superiores, e outras tantas deformidades com que nascem muitas crianças; a imbecilidade e a idiotia que acompanham certos rebentos do berço ao túmulo, que representam se não defeitos ou manifestações exteriores de causas íntimas, isto é, de delitos anteriormente praticados, cuja remissão é solicitada pelos próprios culpados?


A ciência explica essas anomalias como produto de hereditariedade, provenientes da lues, do alcoolismo, etc. Tem razão a Patologia médica em sua parte denominada Teratologia, naquela explicação. Todavia, a ciência se limita à matéria, às deformidades físicas. Quanto, porém, aos motivos por que determinados Espíritos se encarnam em corpos doentes, ela não cogita. A ciência não entra em tal indagação. A nós, porém, como deístas e espíritas, cumpre indagar a perquirir a questão através do prisma religioso do Espiritismo, visto como esta doutrina conjuga a ciência com a religião, aliando a razão à fé.


Deus, em sua justiça, não podia consentir que uma alma sã, isenta de culpas, viesse habitar um corpo enfermo ou deformado. Não concebemos a Divindade divorciada dos seus atributos de justiça e de misericórdia. Portanto, concluímos lógica e racionalmente, que os Espíritos encarnados em matéria impura e virulenta são aqueles que vêm expiar culpas outrora cometidas, pois que um só fio de cabelo não cai das nossas cabeças, se não pela vontade de Deus, conforme ensina o Mestre por excelência, cuja doutrina e cujos preceitos a Terceira Revelação vai revivendo em verdade, e em espírito. Esta particularidade, aliás, é confirmada pela comunicação das almas sofredoras que, arrependidas, reconhecem e confessam o seu passado culposo, respondendo pelos padecimentos da última encarnação que tiveram na terra.


Vinícius


sábado, 1 de março de 2014

Renascimentos Libertadores

Renascimentos Libertadores (*) 
 
As anêmonas em flor padeciam a constrição do calor  e murchavam, deixando
manchas coloridas sobre o verde desbotado das ramagens ressequidas.
 
 O dia amanhecera morno e a tórrida Judéia de solo calcionado, como o coração dosseus habitantes, prenunciava calor sufocante.
 
Eles haviam chegado da Galiléia, em marcha tranqüila, passando pela povoações e casarios esquecidos dos administradores, nos quais paravam para adquirir alimentos e conversar com os aldeões. 
 
Para aquelas gentes simples e sofridas das regiões remotas das cidades grandiosas,o contato com Jesus significava uma primavera formosa explodindo luz e harmoniana acústica das suas almas. Ademais, por onde Ele passava, mesmo que não se fizessem necessárias as curas ostensivas, ou que não ocorressem de forma pujante, permaneciam suaves aragens de paz e todos se sentiam reconfortados, tocados no recessos do ser. 
 
Quem era Aquele homem que sensibilizava as multidões atraindo crianças
ingênuas ao regaço, anciãos ao acolhimento, enfermos à misericórdia, loucos e
obsessos à paz e as próprias condições difíceis da Natureza a uma alteração
perceptível para melhor? 
 
-Interrogavam-se todos quantos lhe sentiam a aura ir radiante de amor.
Inevitavelmente permaneciam atraídos e mesmo quando não O podiam seguir, em
razão das circunstâncias do momento, jamais O esqueciam, aguardando que Ele
voltasse entre hinos de júbilo interno e esperanças renovadoras. 
 
A Sua palavra cálida adquiria musicalidade especial de acordo com as ocasiões e
ocorrências, tendo modulações próprias para cada momento, penetrando na
acústica da alma de forma inesquecível.
É muito difícil conceber-se, na atualidade tumultua da da sociedade, o significado
da presença de Jesus e o convívio com Ele, em razão dos novos padrões
comportamentais e dos interesses em jogo de paixões agressivas e asselvajadas. 
 
Entretanto, numa pausa para reflexão, numa silenciosa busca interior, num
tranqüilo de espera, pode-se ter uma idéia do grandioso significado da convivência pessoal com Ele.
Isto porque, as motivações sociais e econômicas do momento terrestre são muito
tormentosas e as conquistas parecem sem sentido após conseguidas, não
preenchendo os vazios do coração , que prosseguem inquieto, aguardando. 
 
Aqueles eram diferentes, sim. Não obstante, as criaturas eram muito semelhantes
às atuais, em razão das suas necessidades espirituais que se apresentavam como angústias para imediato atendimento, face ao desconhecimento das Leis soberanas da vida, que estavam restritas aos impositivos da intolerância e às descabidas exigências políticas.O ser humano sentia-se relativamente feliz quando podia desfrutar dos jogos da ilusória ribalta dos prestígios econômicos, sociais epolíticos, cujas vantagens sempre deixavam um gosto azinhavrado dedecomposição. 
 
Sem uma visão profunda do significado da existência, sem uma psicologia pessoal
mais lúcida, após as mentirosas vitórias sentia-se frustrado, atirando-se nos fossos
da promiscuidade moral ou nas rampas da perversidade guerreira, quando
esmagava outros e consumia nas chamas da crueldade seus bens, seus animais,
seus descendentes, que eram reduzidos à ínfima condição de escravos. 
 
A esperança de um libertador pairava em todas as pessoas de Israel, que desejava,
por outro lado, tornar-se uma Nação escravizadora, em revanche contra todos
aqueles outros povos que a afligiram. Não era um anseio justo e nobre para a
conquista da liberdade, mas uma ambição de vingança.
Surge Jesus e os olhos ansiosos das massas voltam-se para Ele com variados anelos
que se diversificam desde as necessidades orgânicas, às ambições guerreiras, às
alucinadas questões de supremacia de raça e de religião, esses pensamentos
permanentes adversários do processo de evolução do espírito humano. 
 
A Sua, no entretanto, era outra missão: libertar o indivíduo de si mesmo, da
inferioridade que lhe predomina no caráter e nos sentimentos. É natural, portanto,
que não fosse compreendido, sequer por aqueles que estavam ao Seu lado, já que
os interesses em pauta eram tão divergentes. 
 
A harmonia das Suas lições iam cantando uma sinfonia de esperança nos corações
e a música do seu conteúdo lentamente fixava-se na memória dos companheiros de
ministério, que ainda não haviam dado conta da magnitude do empreendimento. As
revelações faziam-se lentamente, e como suave calor amadurece os frutos, assim
Ele necessitava preparar os seres para o entendimento. 
 
Desse modo, após o formidando fenômeno da multiplicação dos pães e dos peixes,
e após orar, interrogou os amigos que estavam a Seu lado, sem a presença de estranhos no convívio íntimo:
- Quem dizem as multidões que sou?
Tomados de surpresa com o inesperado da interrogação, Ele, que jamais indagava,
por conhecer a profundeza dos sentimentos humanos e a época em que estava,
responderam-lhe, quase em uníssono, vários deles:-João Batista - ; outros, - Elias
 - ; outros, - um dos antigos profetas ressuscitados.
Houve um silêncio quebrado levemente pela harmonias ambientais. Após alguns
instantes, Ele indagou sem rebuços:
-E vós, quem dizeis que eu sou?
A pergunta pairava no ar, quando Simão Pedro, tomando de súbita inspiração
respondeu, emocionado:
-O Messias de Deus. 
O dia avançava e, substituindo o perfume das flores que emurcheciam, o ar parado
aumentando de temperatura impunha a necessidade de avançarem, margeando os
caminhos ásperos nos quais algumas árvores frondosas, sicômoros, figueiras,
tamareiras exuberantes ofereciam abrigo ao Sol inclemente.
O processo da reencarnação é o único que se coaduna com  a justiça de Deus,
oferecendo a todos as mesmas oportunidades de evolução, mediante as quais,
enriquece os Espíritos com as conquistas nobres do pensamento e da emoção,
depurando-se dos atavismos infelizes que neles predominam como decorrência das
experiências primitivas.
Graças a essa lei de causa e efeito , cada um é responsável pelas ocorrências do seu
deambular, tendo a liberdade de agir e a responsabilidade pelas conseqüências da
sua escolha.
O Filho do Homem, porém, iria sofrer sem nenhuma necessidade ou impositivo de
evolução, exclusivamente para dar testemunho de que a dor não tem caráter
punitivo, mas também funciona nos culpados, culpado que Ele não era, como
recurso de autopurificação.
A Sua, era, portanto, uma dadivosa lição do amor e de encorajamento para todos
quantos atravessariam os portais da existência planetária tentando a conquista do
infinito.
______________
(*) Lucas: 9 - 18 a 21.
Nota da autora espiritual.
 
Livro : Até O Fim dos Tempos-
Amélia Rodrigues